“ CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO “

A Valorização da Identidade Local no Caso do Moinho Colognese em Ilópolis/RS

Área Temática: A Arquitetura como fato cultural

Silmara Dias Feiber

Arquiteta e Urbanista
Mestre em Geografia e aluna do Programa de Pós-graduação em Geografia – Doutorado – UFPR
Professora Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz
e-mail: silmaradias@fag.edu.br

Moacir José Dalmina Junior

Arquiteto e Urbanista, Especialista – UNIPAR/PR
Professor Titular da Faculdade Mater Dei – Pato Branco/PR
Professor Titular da Faculdade Assis Gurgacz – Cascave/PR
moa.dalmina@hotmail.com
 “ CONSTRUIR NO CONSTRUÍDO “
A Valorização da Identidade Local no Caso do Moinho Colognese em Ilópolis/RS

O presente artigo pretende trazer como contribuição, como incorporar arquiteturas autóctones no atual
desenvolvimento das cidades contemporâneas e utiliza o termo “construir no construído” como uma das
metodologias de reciclagem de patrimônios culturais. Esta ação de reciclagem visa ofertar um novo uso ao
patrimônio local respeitando suas características específicas de autenticidade e sua inserção na paisagem. Por
meio do estudo de caso da intervenção no Moinho Colognese em Ilópolis/RS demonstra a importância de se
resgatar a história aliando a preservação de patrimônios arquitetônicos com o desenvolvimento econômico e
fortalecimento da identidade dos atores locais em relação ao espaço que ocupam. Estes elementos
arquitetônicos considerados patrimônios culturais moldam a paisagem e se tornam importantes referenciais
identitários cumprindo seu papel social na construção da história do lugar. Este lugar entendido neste artigo
como “espaço significado” é o campo da atuação do arquiteto e perpassa as ações do que Lerner (2005)
denomina de “Acupuntura Urbana”, pois suas propostas projetuais diante de uma obra considerada patrimônio
cultural devem ser pontuais e estar embasada em princípios definidos. Ao aplicar mudanças no espaço físico
das cidades interfere-se diretamente no cotidiano urbano e por consequência no modo de ser e de viver dos
indivíduos. Ressalta-se que é neste cotidiano, nesta sedimentação diária de apreciação do espaço que os
indivíduos vão, aos poucos, inserindo valores às obras e espaços tornando-os espaços vividos. Assim passam
a criar laços de identidade com o meio em que vivem onde a presença dos patrimônios arquitetônicos reaviva a
cada momento a memória coletiva.

Esta preocupação em se definir estratégias e mecanismos de gestão que assegurem a salvaguarda dos
monumentos arquitetônicos é motivo de preocupação tanto das esferas públicas como das comunidades
autóctones. O processo de globalização embora possa ser entendido como uma ameaça às produções com
significados culturais, em contraponto, passa a valorizar os espaços que se matem íntegros em sua natureza
física. Este fato decorre da valorização de identidades locais para que este se torne um lugar global. A
diferenciação da paisagem traz a possibilidade de se mostrar ao mundo de maneira significativa, pois ao
valorizar as diferenças é que se agrega valor ao lugar integrando-o e dando oportunidade de divulgação no
contexto global. Esta é uma discussão que se vê presente em diversos encontros nacionais e internacionais
diante da problemática que abrange os processos de preservação e de desenvolvimento local. No âmbito
nacional a Carta de Brasília de 1995, conhecida como “Documento Regional do Cone Sul sobre autenticidade”,
delibera diretrizes aos procedimentos de conservação e restauro de bens culturais dando foco na autenticidade
baseada na realidade latino-americana que difere da realidade dos demais países europeus e asiáticos. O
documento ressalta a particularidade da identidade desenvolvida nos países do Cone-sul onde é possível se
diferenciar várias heranças culturais que se mesclam e manifestam-se de maneira particular. Desta forma, o
arquiteto ao ser chamado a intervir em obras consideradas patrimônios locais necessita fazer uma leitura prévia
do contexto urbano em que se insere. Conhecer seus espaços e representações fazendo uma leitura crítica das
informações subjetivas é fundamental para atuar na configuração de uma paisagem que possui um significado
particular. Na realidade brasileira as expressões populares advindas de culturas européias manifestam-se a
partir de releituras e de adaptações devido ao clima diferenciado e às condições locais de materiais disponíveis
e a própria mão-de-obra muitas vezes sem qualificação.

Neste contexto insere-se como estudo de caso a modelagem do espaço urbano a partir da imigração
italiana para a serra gaúcha na década de 1875. Este processo imigratório na região denominada de Alto
Taquari foi o que fez surgir no interior do estado do Rio Grande do Sul os Moinhos Coloniais. Estas
manifestações culturais realizadas com a técnica construtiva em madeira, material abundante na região,
fomentaram no início dos anos 2000 a criação por parte de esforços aliados entre o poder público e privado
juntamente com o apoio da comunidade local o itinerário turístico denominado de Caminho dos Moinhos. Como
passo inicial desta ação empreendedora foi desenvolvido uma proposta de restauro para o Moinho Colognese
(1930) localizado na cidade de Ilópolis/RS. A partir de então não só o moinho foi restaurado como se inseriu,
anexo à obra, o espaço que cede o lugar ao Museu do Pão e a Oficina de Panificação inaugurados em 2008.
Estas ações realizadas por meio de parcerias e com o apoio da população é que permitiram a materialização de
uma proposta de preservação aliada ao desenvolvimento turístico local. Envolveu-se não só a materialidade de
um patrimônio arquitetônico, mas também renovou os laços identitários dos pioneiros italianos da região. Este
foi só o início da construção do Caminho dos Moinhos, além do Moinho Colognese mais cinco moinhos fazem
parte do itinerário delineado e que estão em processo de projeto e captação de recursos.
 O “construir no construído”, como o caso da reciclagem do Moinho Colognese, passa a ser uma nova
frente de ação e discussão no âmbito das políticas de salvaguarda e preservação de patrimônios culturais.
Segundo Murta (2002) estes patrimônios edificados se definem como “atrações âncora” que acabam passando
por processos de reciclagem onde, a partir da alteração de seu uso original se alcança o objetivo de mante-los
atuais e possibilitam a geração de efeitos sociais e econômicos relevantes para a sustentabilidade da região. A
construção do itinerário turístico “Caminho dos Moinhos” a partir do restauro do Moinho Colognese, da inserção
da obra que abriga o Museu do Pão e a Oficina de Panificação é um exemplo de que o novo e o antigo ,
considerados bens não renováveis, podem interagir de forma positiva na paisagem urbana contemporânea.

Palavras-chave: Reciclagem, Patrimônio cultural, Caminho dos Moinhos.

REFERÊNCIAS

FERRAZ, J. G. Museu do Pão: Caminho dos Moinhos. Ilópolis, RS: Associação dos Amigos dos Moinhos do
Vale Taquari, 2008.

LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. Rio de Janeiro: Editora Record,2005

MURTA. S. M. Turismo histórico-cultural: parques temáticos, roteiros e atrações âncora. In: MURTA, S. M.;
ALBANO, C. (org.) Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Território
Brasilis, 2002.
 “BUILD ON BUILT “
The recovery of Local Identity in the Case of the Mill Colognese Ilópolis / RS

The hereby article means to bring as contribution how to incorporate autochthonal architecture into the
current development of contemporary cities, and employs the term “build on built” as one of the methods of
recycling the cultural heritage. This action of recycling aim to offer up a new use to the local heritage respecting
its specific features of authenticity and inset at the landscape. By the case study of the intervention in Mill
Colognese Ilópolis/RS demonstrates the importance of recovering the history combining the preservation of
architectural heritage with economic development and strengthening of the identity of local operatives in relation
with their occupying space. These architectural elements considered culturals heritages shape the scenery and
become an important identity references fulfilling their role in building the history of the place. This place
understood in this article as ‘meaning place’ is the field of the architect and span the actions of what Lerner
(2005) title “Urban Acupuncture”, because his projecting proposals towards a work considered cultural heritage
must be timely and be based on decisive principles. Applying changes in the physical space of the city interfere
directly with the urban routine and consequenses in the way of being and living of individuals. It is emphasized
that it’s in this cotidie, this daily assessment of space that individuals gradually set value to works and places
making them lived places. Therefore begin to create identities bonds with the places they live and where the
presence of architectural heritages and rekindle every moment collective memory.

This concern in developing strategies and ways of managements that ensure the safeguard of
architecture monuments is purpose to preocupation both the public spheres and autochthonal communities.
Although the globalization process can be understood as a threat to cultural productions, in contrast, values the
places wich remain intact in its physical nature. This fact stems from the appreciation of local identity, so it
becomes a global place. The differentiation of the landscape brings the opportunity to apper to the world
significantly, because the differences valorization adds value to the place, integrate it and giving opportunity of
advertisement on a global context. This is a topic of discussion in various national and international meetings on
the issue that comprehend the processes of conservation and local development. At the national level the
Brasilia Declaration of 1995, known as "Regional Document of the Southern Cone of authenticity", act guidelines
on procedures for conservation and restoration of cultural assets giving focus on authenticity based on the Latin
American reality that differs from other European and Asian countries. The document emphasizes the
particularity of identity developed in the countries of Southern Cone where it’s possible to differentiate many
cultural heritages that blend and manifest themselves in a particular way. Thus when called to intervene in works
considered local heritages the architect needs to make a prior reading of the urban context in which it’s inset.
Know your spaces and representations making a critical reading of the subjective information is essential to work
in a landscape setting that has a particular meaning. In Brazil, the popular expressions arising from european
cultures manifest themselves from readings and adjustments due to different weather conditions and local
materials available and own work force often unqualified.

In this context, we have inset as case study modeling the urban space from the Italian immigration to Rio
Grande do Sul in the decade of 1875. This process of immigrants in the region called Alto Taquari was what
gave rise Colonial Mills in Rio Grande do Sul..
These cultural events carried out with the construction techniques in wood, abundant material in the region,
fostered in the early 2000s the establishment by the efforts of allies among the public and private sectors
together with the support of the local community, the tourist route called the Way of the Mills. As an initial step of
entrepreneurial action, was developed a proposal to restore the Mill Colognese (1930), located in the city of
Ilópolis / RS. Since then not only the mill has been restored as was inserted, attached to the work, the space that
gives way to the Bread Museum and the Bakery Workshop opened in 2008. These actions carried out through
partnerships and with the support of the population, have permitted the realization of a proposal for prevention
coupled with the local tourism development. Involved not only the materiality of an architectural heritage, but
also renewed bonds identity of the Italian pioneers of the region. This was only the beginning of construction of
the Way of the Mills, not only the Mill Colognese as five other mills are part of the itinerarie and are in the
process of design and fundraising.

The "build on built”, as the recycling of Mill Colognese, becomes a new front for action and discussion
within the policies of conservation and preservation of cultural heritage. According Murta (2002) these built
heritages are defined as “attractions anchors” that end up going through recycling processes where, from the
change to its original use reach the goal of keeping them current and enable the creation of social and economic
effects relevant to the sustainability of the region. The construction of the tourist route "Way of the Mills" from the
restoration work of the Mill Colognese, adding the work that houses the Museum of Bread and Bakery Workshop
is an example of the new and old, deemed non-renewable assets, may interact positively in the contemporary
urban landscape.

Keywords: Recycling, Cultural Heritage, Way of the Mills.