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Marlos Nobre e a crise na OSB: Carta Aberta a

Roberto Minczuk
Roberto, estou angustiado ao escrever esta carta, ao ver um regente como
você envolvido nesta situação constrangedora e triste.

Você, Roberto, não teve ninguém perto de você para lhe abrir os olhos ante a
imensa tolice que foi toda esta situação criada na Orquestra Sinfônica
Brasileira?

Eu lhe escrevo como um Maestro e compositor que conheceu um Roberto


ainda nos seus 10 a 12 anos de idade, participando do Concurso de Jovens
Instrumentistas que organizei em 1974 nos “Concertos para a Juventude” na
Rede Globo e Radio MEC. Nele, você se destacou como jovem talento,
promissor o bastante para que eu lhe desse de presente uma trompa novinha
em folha (a sua, na época era impraticável). Lembro de, anos depois, no seu
concerto de estréia como regente da OSB no Rio, ter sido procurado pelo seu
velho e honrado pai, com lágrimas nos olhos, me dizendo que aquela trompa
estava guardada em um invólucro de vidro, emoldurando a sala de estar da sua
casa paterna. Foi extremamente comovente então, ver seu pai visivelmente
feliz vendo sua estreia como regente titular da grande e prestigiosa Orquestra
Sinfônica Brasileira. Entre outras obras você então dirigiu a Sinfonia “Eroica” de
Beethoven. E a nossa OSB respondeu à altura aos seus gestos, dando na
ocasião uma intepretação memorável da obra.

São estes mesmos músicos que agora sofrem com a implacável perseguição e
ira absolutamente incompreensíveis de você, como diretor da OSB.

Pois bem, Roberto, assim como seu pai, um velho e honrado músico, eu
aprendi que não é possível fazer música senão com o espírito leve, aberto,
ligado apenas no dever maior de intérprete que é o de revelar a grande
mensagem de amor, compreensão universal e respeito mútuo que emanam de
toda grande obra musical. Não é possível aos músicos renderem o máximo de
suas qualidades, frente à arrogância, à falta de respeito, à imposição, à
desumanidade, à inépcia humana de quem está a lhes impor e não a lhes dar
condições de criar a maravilhosa mensagem da Música.

Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior
decepção que jamais tive em minha vida. Uma decepão profunda e irreversível.
Você, e somente você, é o responsável por uma situação inédita na música
sinfônica do Brasil, ao submeter uma orquestra inteira a um vexame público
demitindo com requintes de crueldade e desrespeito pelo passado deles, mais
da metade de seus componentes através de pretextos os mais inaceitáveis
possíveis. Nem o pretexto de maior qualidade musical seriam justificação para
um tal elevado grau de agressividade humana, artística e pessoal de que são
vitimas nossos músicos da OSB. Você não respeita idade, serviços prestados,
idealismo nem humanidade. Todos estes valores essenciais nas relações
humanas e artísticas vão para o ar em suas mãos, neste momento triste da
história da música no Brasil.
A destruição dos ideais que sempre foram a grande força da Orquestra
Sinfônica Brasileira, Roberto, você não conseguirá. Aliás, vejo com tristeza que
você está conseguindo se destruir de uma maneira tão perfeita, tão definitiva,
tão veemente como jamais o maior inimigo seu seria capaz, nem teria tal grau
de imaginação destrutiva.

Sua autodestruição me choca pois me parece que você, Roberto, entrou em tal
processo negativo sem volta nem retorno, pois sequer se dá conta que, não só
no Brasil, mas em qualquer país do mundo onde você entrar no palco, para
dirigir uma orquestra, terá como resposta o desprezo e a desaprovação do
público e do mundo musical.

Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada
por este remedo de Orquestra Sinfônica (que me recuso a chamar de OSB pois
esta foi destruída irresponsavelmente por você), dirigida por você.

Não autorizo nenhuma obra minha tocada senão pela verdadeira


ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA que aprendemos a amar, a
reverenciar e a proteger, de desmandos de eventuais passageiros da
desesperança, da agressão moral e do desrespeito.

MARLOS NOBRE – 9 de abril de 2011

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