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“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição. (Art. 1º, parágrafo único, Constituição Federal)”
Não cansarei de dizer, como corolário do que disse acima, que ao STF, cabia
estritamente, neste julgamento, ser tão-somente o guardião dos princípios e preceitos
fundamentais que ela, a Nação, definiu no texto constitucional originário, sem ir além, aquém
ou fora dos parâmetros valorativos estabelecidos. A Suprema Corte precisa entender que, ao
decidir sobre questões que envolvem o complexo ideário moral e sociocultural da nação, não
pode fazê-lo com implicações de ordem legiferante e mutacional ou de construção e
desconstrução “legislativa”. Neste sentido, duas coisas me chocam: uma, é o uso arbitrário e
inapropriado da técnica de “Interpretação Conforme”, como expliquei no artigo que citei
acima; a outra, é a incoerência dos ensinamentos do Profº Carlos Ayres Britto que não se
cansava de nos dizer na UFS: “Os poderes constituídos da República Federativa do Brasil não
podem dispor sobre o Poder que sobre eles dispõe: a Soberania do Povo”. Mas não foi isso que
ele mesmo fez e, assim, como Ministro, além de violar a vontade soberana do Povo, usurpou a
própria função do Poder Legislativo, tornando-se, assim, no dizer do jurista italiano Mauro
Cappelletti, um ilegítimo Juiz-Legislador. Para mim, fica claro que o “sábio” sergipano não foi
mais sábio que os Sages da Corte Constitucional Francesa que, julgando caso semelhante,
respeitaram a vontade soberana da Nação Francesa e disseram sem rodeios: “Não cabe ao
Conselho Constitucional substituir seu parecer pelo do legislador” (Décision n° 2010-92 QPC)”.
Além disso, dizer que o sexo do ser humano é um simples “plus”, além de invectivo a Deus, é
de uma insipiência absurda. Vossa excelência só é o que é, Ministro Ayres Britto, porque o sexo
dos seus pais foram ratio essendi de sua existência.
Felizmente no Congresso Nacional já há um movimento para sustar a grave
violação da competência legislativo-constitucional realizada pelo STF. Assim, o Deputado João
Campos do PSDB, junto com outros parlamentares, protocolou o Projeto de Decreto
Legislativo nº 224/2011 que “Susta a aplicação da decisão do STF (...)”, com base nos artigos
2º (independência dos poderes), 22 inciso I (competência privativa do Congresso Nacional para
legislar sobre Direito Civil) e 49, incisos V e XI da Constituição Federal que, assim, preceitua:
“Art. 49. É da Competência Exclusiva do Congresso Nacional: (...) V – Sustar os atos do Poder
Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa; (...) XI
– zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos
outros Poderes”. Se o Congresso Nacional assim o fizer e Sustar a inconstitucional e ilegítima
decisão do STF, a Democracia representativa brasileira sairá fortalecida.
Por fim, para a reflexão daqueles que acreditam que o Poder Legislativo é um
estorvo num Estado Democrático de Direito, deixo a seguinte citação do juiz inglês, Lord Devlin
(In “Chorley Lecture”, 1974), a propósito desta “antecipação de consenso legislativo” e desse
“ativismo autoritário” que imperam no nosso Poder Judiciário – a pretexto de “salvar o mundo
através do direito julgado”:
O STF não pode dispor sobre o Poder que sobre ele dispõe: a soberania popular.