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O presente artigo tem por objetivo analisar como as alianças estratégicas
contribuem para que as empresas obtenham vantagens competitivas sustentáveis ao longo do
tempo, além de discorrer sobre sua lógica de criação de valor. Inicialmente é apresentada uma
retrospectiva histórica que permeia a evolução do conceito de aliança até os dias atuais. Em
seguida, na secção 1, a questão da vantagem competitiva é discutida sob o enfoque da teoria
de Michael Porter. A secção 2, por sua vez, trata da criação de valor pelas alianças a partir da
concepção teórica de Yves Doz e Gary Hamel, professores, respectivamente, do @
± INSEAD ± e da
. Por fim,
apresenta-se na conclusão um resumo analítico das duas abordagens e seus aspectos
convergentes.
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Alianças estratégicas, vantagem competitiva, criação de valor.
The objective of this article is to analyze how strategic alliances contribute for long
term sustainable competitive advantages for enterprises, besides broadly debating its logic and
value creation. Initially, historic background is presented from the alliance concept evolution
until nowadays. Following, in section 1, the competitive advantage issue is discussed using
Michael Porter¶s theory. In section 2, on the other hand, deals with the alliance value creation
concept from Yves Doz & Gary Hamel´s theoric background. They are respectively
professors of the European Institute of Business Administration (INSEAD) and the London
Business School. Finally, in the conclusion, an analytic resume about both approaches is
presented as well as its convergent aspects.
1
- Mestre em Administração de Empresas ± Professor da Faculdade 7 de Setembro ± luiz.oliveira@fa7.edu.br
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ligações formadas entre duas ± ou mais ± empresas independentes que optam por
executar conjuntamente um projeto ou atividade específica, coordenando as
habilidades e recursos necessários, ao invés de:
_? executar o projeto ou atividade por conta própria, assumindo todos os riscos e
enfrentando a concorrência sozinho;
_? fundir suas operações ou adquirir e se desfazer de unidades de negócios inteiras.
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? Empresa ³A Empresa ³B
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específicos de ³A específicos de ³B
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Objetivos comuns limitados
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Fonte: DUSSAUGE e GARRETTE (1999, p. 03)
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A teoria desenvolvida por PORTER (1986, 1990) se reporta à análise dos padrões de
concorrência empresarial e às estratégias adotadas pelas empresas para atuação no mercado e
para obtenção de vantagem competitiva. Para PORTER (1986), a estrutura industrial é
regulada por cinco forças competitivas, a saber: ameaça dos fornecedores, ameaça dos
compradores, grau de rivalidade dos concorrentes existentes, ameaça dos concorrentes
potenciais e dos produtos substitutos.
Os % podem influenciar uma indústria3 na medida em que detenham poder
de negociação suficiente para, através de uma elevação no nível de preços ou redução da
qualidade dos bens e serviços fornecidos, afetar negativamente a rentabilidade da referida
indústria. As condições que determinam o poder de pressão de um grupo de fornecedores são
o grau de concentração e oligopolização, presença ou não de produtos substitutos na venda
para a indústria, grau de importância do produto fornecido para o negócio do comprador; grau
de diferenciação ou de custos de mudança dos produtos fornecidos, e ameaça de integração
para frente por parte dos fornecedores.
Os
, por sua vez, exercem pressão sobre a indústria ao forçar uma redução
dos preços, ao exigir melhor qualidade e ao instigar os concorrentes uns contra os outros.
Entretanto, o poder de um grupo de compradores depende diretamente do grau de
concentração ou do volume adquirido em relação às vendas do vendedor, da facilidade de
troca de fornecedor, da ameaça de integração para trás por parte dos compradores, do grau de
conhecimento das condições de mercado por parte dos compradores e do baixo nível de
influência do produto da indústria na qualidade dos produtos ou serviços do comprador.
Os & alteram a estrutura industrial ao competirem por uma
posição mais privilegiada no mercado. A rivalidade é tanto maior quanto seja a percepção que
os concorrentes têm sobre a oportunidade de melhorar a sua posição. O grau de rivalidade da
concorrência existente está diretamente relacionado com a quantidade de concorrentes, com
custos fixos ou de armazenamento altos; com barreiras de saída elevadas e com a ausência de
diferenciação ou custos de mudança.
Os
modificam a estrutura industrial porque, ao tentar entrar no
mercado, podem forçar uma redução dos preços ou um aumento dos custos dos participantes.
Segundo PORTER (1986, p. 25), ³a ameaça de entrada em uma indústria depende das
existentes, em conjunto com a que o novo concorrente pode
esperar por parte dos concorrentes já existentes. Assim, barreiras altas implicam uma intensa
retaliação por parte dos concorrentes estabelecidos.
Os , por sua vez, influenciam a indústria oferecendoo uma
alternativa de preço-desempenho capaz de afetar o nível de lucratividade das empresas
participantes. Assim, ³quanto mais atrativa a alternativa de preço-desempenho oferecida pelos
produtos substitutos, mais firme será a pressão sobre os lucros da indústria. (PORTER, 1986,
p. 39).
Ao lidar com as cinco forças competitivas, uma empresa pode escolher entre três
estratégias genéricas:
, %
e %'.
Ao adotar a estratégia de liderança em custo, a empresa objetiva minimizar seus custos,
seja através do aumento substancial da escala de produção, seja por meio de um forte controle
de custos e despesas gerais ou mesmo através da redução de custos em áreas como P&D,
assistência, força de vendas, publicidade.
A estratégia de diferenciação, por sua vez, visa ³...diferenciar o produto ou o serviço
oferecido pela empresa, criando algo que seja considerado único ao âmbito de toda a
indústria. (PORTER, 1986, p. 51). Assim, as fontes de diferenciação para uma empresa e
seus produtos e serviços podem ser a marca, a tecnologia empregada, os serviços
personalizados, a rede de fornecedores.
Com a estratégia de enfoque a empresa opta por atuar em um ambiente competitivo
estreito dentro de uma indústria, como um segmento específico de clientes ou um
determinado mercado geográfico, por exemplo. Ao fazê-lo, a empresa pode adotar um
enfoque nos custos ou na diferenciação.
É importante ressaltar que, para PORTER (2000, p. 24), as coalizões (alianças) entre
empresas ± antes de serem estratégias competitivas ± são, na verdade, ³boas
ferramentas para ajudar a empresa a defini-las. Ademais, PORTER (1990, p. 51) argumenta
que as ³inter-relações entre unidades empresariais podem ter uma influência poderosa sobre a
vantagem competitiva, reduzindo o custo ou acentuando a diferenciação.
Diante das estratégias acima mencionadas e da visão que tem sobre as alianças,
PORTER (1990, p. 52) considera que:
É bem verdade que esse autor aborda o tema das alianças estratégicas sob a ótica da
inter-relação entre unidades empresariais controladas por um mesmo grupo empresarial,
sejam elas pertencentes a uma mesma indústria ou a indústrias relacionadas. Entretanto, é
possível ± sem prejuízo de inconsistência teórica ± extrapolar essa abordagem para as inter-
relações entre empresas independentes entre si que atuam em uma determinada indústria ou
em indústrias relacionadas4. Portanto, a análise que se segue destaca os conceitos centrais da
teoria de PORTER (1986, 1990) e os relaciona com a realização de alianças como forma de se
criar uma vantagem competitiva para as empresas envolvidas nesses tipos de arranjo
organizacional.
Segundo PORTER (1990, p. 52), ³as coalizões são acordos de longo prazo entre
empresas que extrapolam transações de mercado normais, mas que não chegam a ser fusões
totais. Sob essa ótica, o autor considera coalizões as licenças de tecnologia, acordos de
fornecimento, acordos de
e sociedades em cota de participação, por exemplo.
PORTER (1990) observa que as coalizões se prestam bem à ampliação do
5 sem que haja necessidade de ampliar ± concretamente ± sua presença no mercado.
Assim, são considerados pelo autor dois tipos de coalizões: as coalizões verticais e as
coalizões horizontais. Como exemplos desses dois tipos básicos de coalizões têm-se,
respectivamente, um acordo de fornecimento e uma parceria com outra empresa da mesma
indústria para realização de
conjunto.
? Infra-estrutura da empresa
ATIVIDADES DE
MARGEM
? Gerência de recursos humanos
APOIO
? Desenvolvimento de tecnologia
Aquisição
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MARGEM
Logística Operações Logística Marketing Serviços
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Fonte: DOZ e HAMEL (1998 p. 36)
Cabe destacar, aqui, alguns pontos que permitem compreender melhor as três lógicas de
criação de valor através das alianças.
A
desempenha dois importantes papéis de acordo com o contexto em que se
desenrola a competição empresarial. Na perspectiva da competição global, a cooptação vem a
ser uma estratégia de criação de massa crítica, tão necessária àquelas empresas que se
pretendam competidores de classe mundial. À medida que a competição empresarial sai do
âmbito regional e passa a ter um caráter mundial, o número de concorrentes se torna muito
maior, o que demanda uma certa estrutura de recursos humanos, físicos e financeiros para
enfrentá-los (DOZ e HAMEL, 1998, p. 39).
Por outro lado, diante de um cenário de criação de novos mercados intensivos em
tecnologia, a cooptação se torna fundamental na construção de posições de liderança nesses
mercados, através de coalizões competitivas, principalmente naquelas indústrias onde
vigoram altos índices de padronização tecnológica. Em indústrias dessa natureza, uma rede de
aliados permite a criação de sólidas vantagens competitivas para aquelas empresas que se
posicionam primeiro frente ao mercado. A construção de uma posição de liderança no
mercado implica, no mais das vezes, (DOZ e HAMEL, 1998, p. 40):
1.? explorar novas oportunidades e aglutinar recursos de natureza tão diferenciada que uma
empresa sozinha não poderia fazê-lo;
2.? cooptar empresas concorrentes e empresas complementares, de maneira que possam
contribuir com suas competências e recursos, além de ser uma forma de evitar que elas
integrem uma coalizão rival;
3.? assumir, rapidamente, uma posição de liderança na aliança, principalmente quando a
vantagem competitiva das empresas que se posicionam rápido é significativa.
Com efeito, a análise que se delineia, aqui, sobre a obtenção de vantagem competitiva a
partir das alianças estratégicas, representa uma extrapolação da teoria de Porter sobre as inter-
relações entre unidades empresariais corporativas7 (PORTER, 1990), uma vez que o ele não
aborda diretamente a questão das alianças estratégicas entre empresas independentes ±
provavelmente devido à cultura individualista do empresariado norte-americano, o qual, em
última instância, constitui o objeto de estudo desse autor. Entretanto, sua análise de alianças
estratégicas no âmbito dos
de negócios das grandes corporações é bastante
representativa da importância desta ferramenta gerencial para a competitividade empresarial.
A Europa abriga a ênfase da civilização ocidental no indivíduo, mas não chega aos
extremos dos EUA. A coordenação da Europa freqüentemente vem de cima para
baixo, de uma multiplicidade de nações, principados, cidades-estados e grupos
étnicos, todos de pequenas proporções. A Comunidade Econômica Européia
constitui um dos grandes experimentos do planeta em termos de rede planejada para
beneficiar todos os seus participantes, nacionais e individuais. No tocante a
empresas de pequeno porte, a Europa apresenta lições de redes empresariais
flexíveis; para empresas de grande porte, exemplos como o dos mercados internos
da ABB constituem avançadas inovações administrativas.
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1
Entre 1987 e 1992, mais de 20 mil alianças estratégicas foram formadas, comparadas com cerca de 5 mil, no
período de 1980 a 1986 e 750 durante a década de 70 (Palestra do Sr. Henrique Neves, Vice ± Presidente da
Shell Brasil, no CONARH-97);
2
Respectivamente, Instituto Europeu de Administração de Empresas e Escola de Administração de Londres;
3
PORTER (1986: 24) define uma indústria como ³... o grupo de empresas fabricantes de produtos que são
substitutos bastante aproximados ente si.;
4
Esta extrapolação teórica é feita pelo próprio PORTER (1985) em seu livro ³
O
, onde ele aborda as alianças formadas por empresas multinacionais sob a ótica da estratégia global;
5
Por escopo da empresa entenda-se o limite entre as atividad es que uma empresa executa internamente e as que
ela obtém em transações de mercado (PORTER, 1990: 56);
6
³Uma competência essencial é um conjunto de habilidades e tecnologias que permitem a uma empresa oferecer
um determinado benefício aos clientes. (HAMEL, 1995: 299);
7
Por µunidades empresariais corporativas¶ entendam-se aquelas empresas pertencentes a um mesmo grupo
empresarial ou ;
8
Um detalhamento das estratégias relacionais pode ser encontrado no livro ³Strategor: strategie, structure,
décision, identité. Politique générale d¶entreprise, por InterEditions, Paris, 1988;
9
O termo
deriva da contração das palavras
(cooperação) e
(competição).