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1. Introdução
A Constituição Federal de 1988 procurou institucionalizar a participação da sociedade civil organizada
na gestão das políticas públicas, através de formas colegiadas, em especial os conselhos comunitários,
nas áreas de educação, saúde, assistência social, orçamento e planejamento urbano, dentre outras.
Ainda não tão difundidas, mas que vêm ganhando peso, são as iniciativas de gestão social que têm
escopo mais amplo, transcendendo o nível de um setor, programa ou projeto específico.
Uma dessas experiências foi o Comunidade Ativa, programa do governo federal que tem como objetivo
combater a pobreza, via desenvolvimento local integrado e sustentável (DLIS), que estimulou a criação
de fóruns locais. No âmbito deste programa, foi lançado o projeto de Capacitação de Comunidades para
o Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. No caso do Estado do Rio de Janeiro, o projeto foi
implementado pela Escola Brasileira de Administração Pública, da Fundação Getulio Vargas,
atendendo 5 municípios. Em seguida, objetivando estender o trabalho a outras localidades do Estado, o
SEBRAE/RJ, em parceria com a EBAP/FGV, promoveu mais 19 fóruns, totalizando 24 localidades.
O trabalho consistiu na formação de redes sociais em que os participantes são estimulados a cooperar
na construção de agendas de trabalho, na articulação e convergência de ações e na efetividade das
parcerias Estado/Sociedade. Através da integração entre os vários setores de atuação, estes fóruns
visam, entre outras coisas, elaborar propostas no sentido de contribuir para o desenvolvimento da
localidade, que são reunidas em um Plano de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável.
A primeira etapa baseou-se na mobilização dos diversos segmentos e setores da sociedade local, tais
como prefeitura, empresários locais, igrejas, sindicatos, associações, conselhos setoriais, etc., para a
importância do trabalho a ser desenvolvido. Posteriormente, em seminário aberto à população, onde a
noção de desenvolvimento local integrado e sustentável foi explicitada, bem como o desenvolvimento
do trabalho, foram constituídos os fóruns de desenvolvimento local, a partir da escolha de seus
membros por todos os que estavam presentes. A partir daí, foram realizados encontros periódicos com
a finalidade de estimular a discussão entre os presentes acerca dos problemas e potencialidades locais,
bem como de contribuir com conhecimento necessário para a elaboração, gestão e avaliação de projetos
e consequentemente desenvolver um plano de desenvolvimento local.
2. DLIS – O CONCEITO
1
Atualmente assistimos ao questionamento desse modelo de desenvolvimento, principalmente devido ao
esgotamento do modelo de industrialização e a emergência das sociedades pós-industriais. Além disso,
os benefícios do crescimento econômico não têm favorecido a humanidade em todas as partes do
mundo e como agravante, têm em muito contribuído para a degradação ambiental (Neves & Marinho,
1999).
Nesse sentido, o conceito de desenvolvimento local pressupõe o processo social que reúne crescimento
econômico - enquanto produção de riquezas que ocorre em determinada sociedade, num determinado
espaço de tempo - com redistribuição e melhoria da qualidade de vida da comunidade a que se refere -
entendida como aumento e distribuição eqüitativa da riqueza e graus crescentes de bem-estar da
população, através do acesso à saúde, educação, infra-estrutura, casa/terra e crédito bem como outros
elementos que variam de acordo com cada comunidade (Buss & Leitão, 2000).
Este conceito, em permanente construção e validação, pode ser considerado ainda novo e, portanto,
aberto e dinâmico, o que torna a tentativa de defini-lo extremamente complexa (Neves & Marinho,
1999).
A globalização tem contribuído para o aumento da desigualdade entre os ricos e pobres, bem como pela
alta instabilidade no cenário econômico internacional. Outra questão decorrente dessa crise, é que a
massificação tem como contraponto o reforço da importância do local. Ou seja, da “necessidade dos
indivíduos preservarem determinados laços afetivos, que reforçam o sentimento de pertencimento e
identificação com grupos e espaços menores” (Neves & Marinho, 1999:25).
Falar de desenvolvimento local não é falar de desenvolvimento à escala local, mas sim de um processo
único, próprio de um território determinado e de um grupo humano bem preciso. A noção de ‘local’
refere-se a um âmbito espacial delimitado, mas também possui o sentido de espaço de relações sociais,
indicando interação de grupos sociais que se articulam e se opõem em torno de interesses comuns.
Deste modo, nos remete ao estudo do poder enquanto relação de forças, por meio das quais se
processam as alianças e os confrontos entre atores sociais, bem como à formação de identidades e
práticas políticas específicas (Fischer, 1993:10-1).
A cena local pode ser considerada um âmbito privilegiado para observar os processos de geração de
atores sociais, de construção de suas capacidades e potencialidades “em termos de iniciativa, de gestão
2
de políticas em nível local e nacional e também da criação e inovação de formas de articulação e
negociação público-privado” (Marsiglia, 1996:64).
A dimensão local do desenvolvimento refere-se ao espaço em permanente construção, a partir da
dinâmica social entre sujeitos sociais colocados na arena política (Buss & Leitão, 2000).
Os atores locais, por sua vez, são todos aqueles agentes que no campo político, econômico, social e
cultural são portadores de propostas que tendem a capitalizar melhor as potencialidade locais, ou seja,
buscar um maior aproveitamento dos recursos, destacando a qualidade dos processos em termos de
equilíbrios naturais e sociais. Para isso, o ator deve formar parte da sociedade local e reconhecer-se em
sua história e em seu sistema de normas e valores. O ator local forma parte de uma história, mas
também é portador de uma alternativa. Por sua inserção em uma comunidade territorial, pertence a um
espaço carregado de sinais e de códigos que alimentarão sua ação e por seu caráter de ator deverá
apresentar propostas alternativas em um campo social determinado que visem transformar os sistemas
de representações e vencer os conformismos. (Arocena, 1988:14).
A dimensão integrada do desenvolvimento está voltada tanto para uma nova dinâmica socioeconômica,
a partir do encontro de ações do estado e da sociedade, quanto para as parcerias interinstitucionais que
podem ser celebradas e pela convergência e integração das políticas e dos programas setoriais para um
escopo mais amplo (Buss & Leitão, 2000).
Está ligada ao caráter interinstitucional do desenvolvimento, voltado para recompor a dimensão local,
desagregada pelo centralismo histórico. Para isso, é essencial uma mobilização interinstitucional e
inter-categorial, tendente a superar as eventuais oposições entre diferentes racionalidades. Ao menos
sobre certos temas de capital importância, se tratará de obter um amplo consenso de atores pertencentes
a distintas instituições (públicas e privadas) e a diferentes categorias sociais, o que não significa o
desaparecimento de racionalidades e interesses divergentes, mas sim de uma posição comum para
alcançar um determinado objetivo. Cada qual mantém seus próprios interesses, sua lógica de ação e
seus objetivos específicos. A cada instante, durante a ação institucional, as diferenças podem aparecer,
os conflitos podem manifestar-se em relações de negociação permanentes (Arocena, 1989).
Frente à necessidade de encontrar soluções a problemas urgentes e vitais para a comunidade, se criam
estruturas locais que reúnem organizações sociais territoriais, empresários locais, a instituição
municipal, partidos políticos, organizações sindicais. Esta forma de ação interinstitucional tem a
virtude de tratar um problema, buscando solucioná-lo mediante propostas de um variado conjunto de
atores locais (Arocena, 1989:54).
Não se trata, porém, de multisetorialidade, constituída na mera justaposição de um ou mais setores, sem
integração, mas sim de intersetorialidade, cuja questão fundamental é a ruptura das barreiras de
comunicação “que impedem o diálogo entre diferentes setores, através de um código comunicacional
comum” (Buss & Leitão, 2000).
A dimensão da sustentabilidade, por sua vez, está relacionada a vários aspectos, dentre eles o
ambiental, o econômico, o político e o cultural. O desenvolvimento ambientalmente sustentável está
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ligado à conservação dos recursos naturais e da qualidade do ambiente para uma vida saudável das
futuras gerações. O aspecto econômico, por sua vez, busca apoiar mais crescimento e inclusão dos
grupos excluídos, a partir de uma distribuição mais eqüitativa da riqueza e a superação da pobreza e da
exclusão. O nível da sustentabilidade política implica o crescimento do apoio ao modelo e seus
promotores. E finalmente a sustentabilidade cultural implica no reconhecimento e preservação da
diversidade de concepções de vida, formas de pensar e agir, como enriquecedoras das soluções para o
desenvolvimento local (Buss & Leitão, 2000).
De acordo com a agenda 21, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, o desenvolvimento sustentável visa combater a
miséria sem prejudicar a natureza ou desconsiderar as especificidades locais. Introduz o objetivo de um
crescimento econômico e social duradouro, pensado com equidade e que não perturbe os equilíbrios
ecológicos.
Isto implica diferentes padrões nas relações humanas dentro das organizações e um perfil de liderança
distinto, caracterizado para o envolvimento e a participação das pessoas nos diversos projetos e
programas. Um objetivo central e estratégico desses líderes será a consecução de uma participação
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efetiva dos diferentes grupos de interesse e comunidades nas decisões. Isto requer uma
contextualização cultural do processo decisório de maneira que, além da abertura para a participação
democrática dos diversos atores sociais, esse processo possibilite um fluxo de informações em todos os
sentidos, permitindo que todos esses setores recebam as informações e participem da elaboração dos
planos de ação a serem implementados (Rattner, 1992:39).
Deste modo, podemos sintetizar esta idéia de desenvolvimento como algo que refere-se ao que está
próximo, ao espaço limitado de uma região, município ou mesmo de uma parte dele; que lembra
também as relações que se estabelecem entre os que aí moram e seus interesses comuns - a
comunidade; que estimula a organização e a participação da comunidade e potencializa a dimensão
local para que esta não seja marginalizada pelo mercado globalizado, com vistas a compensar a
exclusão provocada pela globalização; que promove a integração entre as várias dimensões do
desenvolvimento, bem como entre os níveis governamentais e atores sociais; que reúne os esforços de
todos os interessados no desenvolvimento local - o governo, as empresas e a comunidade, aumentando
a colaboração entre eles; e que não se esgota numa arrancada de crescimento nem compromete o
desenvolvimento futuro, porque prepara as pessoas para assumirem o comando de seu próprio destino e
preservarem o bem estar das gerações futuras.
1. METODOLOGIA
Nesse momento em que os municípios brasileiros sofrem dificuldades, devido à crise econômica e a
situação de extrema competitividade, é importante falarmos da idéia de desenvolvimento local
integrado e sustentável, que visa contribuir para melhorar as condições de vida de várias comunidades e
fazer com que os municípios realmente se desenvolvam.
O DLIS - Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável, é um outro tipo de desenvolvimento que não
está voltado apenas para o crescimento econômico. Além de criar oportunidades de emprego e renda,
busca a promoção social e a preservação do meio ambiente, sempre apoiado na participação e na
cooperação entre o governo e a sociedade.
Segundo Augusto de Franco, o DLIS, mais do que um conceito é uma metodologia para desencadear o
processo de promoção do desenvolvimento (Lustosa, 2000), uma estratégia inovadora, e, portanto, uma
alternativa para a melhoria da qualidade de vida das populações e para a conquista de modos de vida
mais sustentáveis. Por isso exige uma nova análise sobre a economia e a realidade social. Está voltado
para descobrir e despertar vocações locais e desenvolver as potencialidades dessas localidades. Tal
metodologia deve contemplar a capacitação para a gestão local; a criação de uma nova
institucionalidade participativa, com caráter multisetorial; diagnóstico e planejamento participativos;
articulação da oferta estatal e não-estatal de programas e ações com a demanda pública da localidade;
fortalecimento da sociedade civil; fomento ao empreendorismo; e instalação de sistemas de
monitoramento e avaliação (Lustosa, 2000)
O DLIS como metodologia surgiu a partir da implantação da Comunidade Ativa, que é uma estratégia
de indução a essa concepção de desenvolvimento. Está apoiada na idéia de que embora o crescimento
econômico contribua muito para o desenvolvimento, ele por si só não leva o desenvolvimento humano
e social, sendo necessário dinamizar o crescimento econômico com o crescimento do capital humano e
5
do capital social, bem como com o desenvolvimento sustentável. Portanto, requer o crescimento das
habilidades e competências da população local (capital humano), crescimento dos níveis de
organização e de empoderamento da população local, dando voz inclusive a grupos que não estão
organizados formalmente (capital social) e uso sustentável dos recursos naturais renováveis (capital
nacional). Ou seja, busca melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, das que vivem hoje e as de
amanhã.
As características do DLIS fazem parte de tal estratégia: parceria entre Estado, Mercado e Sociedade;
protagonismo local; mobilização de recursos endógenos; convergência e integração dos recursos
exógenos; capacitação permanente para a gestão local, diversificação econômica e integração das
atividades econômicas em cadeias produtivas com maior competitividade. Portanto a Comunidade
Ativa busca cumprir as seguintes exigências para o alcance do DLIS: capacitação para a gestão local,
transformação das demandas privadas, pontuais e desarticuladas em demandas públicas locais,
compartilhadas e vinculadas às efetivas vocações e potencialidades da localidade, e articulação da
oferta de programas estatais e não estatais com as demandas públicas locais.
É muito importante a integração e articulação entre os vários atores, grupos e segmentos da sociedade,
tanto no nível público quanto privado, do governo e da comunidade, dos recursos da própria localidade,
quanto daqueles que se pode conseguir, através de financiamentos externos, parcerias com as esferas
estadual e federal, etc.
Portanto, podemos dizer que o DLIS está apoiado em algumas propostas fundamentais. Uma delas é
idéia de parceria, através da formação de alianças estratégicas entre instituições, grupos e pessoas. Isto
permite a formação de redes de solidariedade social e potencializa as ações públicas e privadas. Outra
característica extremamente importante é a participação, através da influência da comunidade nas
decisões de interesse público. É também um fator de sucesso de qualquer iniciativa voltada para a
promoção do desenvolvimento sustentável.
Com o objetivo de congregar as lideranças comunitárias em torno da discussão dos seus problemas e
potencialidades, é constituído um fórum que busca se constituir em um espaço aberto, democrático e
institucionalizado de formação e renovação de lideranças, construção de soluções participativas e
potencialização de ações públicas e privadas.
Como liderança podemos considerar qualquer pessoa que represente os interesses de determinado
grupo ou segmento da sociedade e que este grupo a reconheça como seu representante. Também existe
o tipo de líder que “atua como formador de opinião junto aos membros da comunidade, afetando seu
posicionamento político” (Lustosa, 2000:167).
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Para que se inicie o trabalho em direção ao DLIS, é necessário antes de tudo que haja a aceitação e
incorporação da proposta de DLIS pela comunidade. Após este momento, é de extrema importância o
conhecimento e a discussão das potencialidades e problemas, oportunidades e ameaças. Isso contribui
para a organização da comunidade e para pensar uma estratégia de desenvolvimento, além de se
preparar para a negociação com os diversos níveis de governo e da sociedade.
Além disso, é muito importante para atingir o DLIS que haja envolvimento e cooperação entre as partes
interessadas, aglutinando os interesses público, privado e comunitário. Isso significa que além de
lideranças comprometidas com o envolvimento e a participação das pessoas na elaboração e na
execução dos diversos projetos e programas, deve ocorrer a mobilização de recursos internos e externos
e de capacidades existente na própria comunidade.
As pessoas envolvidas no processo de DLIS são várias e devem trabalhar em conjunto e articuladas. É
importante a presença dos diversos setores políticos e sociais, dos conselhos setoriais de políticas e
programas – federais, estaduais ou municipais – presentes na localidade e de representantes do
Governo Municipal. Além disso, o DLIS conta com o apoio do Gestor Local do PRODER ou outro
agente deste programa do SEBRAE, da Equipe Interlocutora Estadual e da Instituição Capacitadora. A
Instituição capacitadora busca contribuir para estimular a discussão entre os membros do fórum bem
como prepará-los para elaborar sua estratégia de desenvolvimento e negociá-la com os diversos atores
envolvidos.
Podemos identificar como principal objetivo do DLIS, a articulação das lideranças comunitárias em
torno da discussão dos seus problemas e potencialidades, em um espaço aberto, democrático e
institucionalizado de formação e renovação de lideranças, construção de soluções participativas e
potencialização de ações públicas e privadas.
Além disso, a identificação dos problemas, o conhecimento das potencialidades e as decisões devem
ser articulados em propostas concretas e consistentes para orientar as ações do governo, da comunidade
e das empresas. A reunião e integração dessas propostas ou projetos, para atingir metas mais amplas,
constituem o Plano de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável.
A mobilização e o uso racional dos recursos materiais, financeiros e humanos para a implementação
das ações planejadas. Deve ser partilhada com a comunidade, mas, para ser eficaz, requer a clara
identificação de responsabilidades.
Ou seja, é muito importante que como conseqüência do processo de DLIS, os objetivos de gerar renda,
multiplicar os número de proprietários produtivos, elevar o nível de escolaridade da população e
aumentar o número de organizações da sociedade civil consigam ser atendidos, o que significa,
aumentar a produção e democratizar o acesso à riqueza, ao conhecimento e ao poder.
Para articular essas dimensões, são constituídos fóruns locais, constituídos de representantes do
governo, da sociedade civil e das empresas, criteriosamente escolhidos pela comunidade, visando
representá-la. Após a constituição dos fóruns, busca-se promover a integração e capacitação de
membros, com o objetivo de que, a partir da descoberta de suas vocações específicas, a comunidade
elabore e execute, de maneira participativa, planos de desenvolvimento.
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Além de elaborar o Plano de Desenvolvimento Local com o auxílio da Instituição Capacitadora, e
integrar a oferta de programas e ações governamentais – federais, estaduais e municipais - e não
governamentais, de modo a atender a demanda pública, o papel do fórum consiste em mobilizar a
sociedade local e manter a população permanentemente informada das ações do Fórum na localidade.
O DLIS, portanto, pode ser considerado uma proposta de desenvolvimento negociada e pactuada entre
diversos atores, programas articulados em redes, para a superação da pobreza.
3.2 A CAPACITAÇÃO
Como já foi dito anteriormente, o produto proposto tanto no estabelecimento da parceria Comunidade
Ativa/FGV quanto SEBRAE/FGV é o Plano de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
(PDLIS). Ao longo dos encontros realizados com os fóruns, os capacitadores procuraram facilitar o
desenvolvimento de conceitos, técnicas e ferramentas necessários à formulação de um plano de
desenvolvimento.
Para tanto, foram discutidas questões relativas tanto ao processo de planejamento quanto para a
organização para a gestão. Assim, o planejamento visa a racionalização de decisões, processos e ações.
A identificação dos problemas, o conhecimento das potencialidades e as decisões devem ser articulados
em propostas concretas e consistentes para orientar as ações do governo, da comunidade e das
empresas. Essas propostas, definidas de acordo com a idéia do DLIS, são os projetos. Sua reunião e
integração para atingir metas mais amplas constitui o Plano de Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável.
Trabalhar com o fórum sua organização para a gestão do plano e dos projetos procura contribuir para a
mobilização e o uso racional dos recursos materiais, financeiros e humanos para a implementação das
ações planejadas. Deve ser partilhada com a comunidade, mas, para ser eficaz, requer a clara
identificação de responsabilidades.
1
OLIVEIRA, Maria O. A R. Oliveira. Gerenciamento de Projeto. Versão Preliminar preparada para o Curso de Gestão Social. Mar, 1997.
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Não se trata de realizar somente cursos e seminários, pois estes não podem ser considerados suficientes
para capacitar as pessoas. Trata-se de conduzir um processo educativo, que contribua para a formação
de organizações próprias da sociedade civil, sendo isto compreendido como parte da metodologia.
Portanto, a partir desse entendimento, pertence ao processo de capacitação a própria formulação e
negociação dos diversos atores envolvidos com a elaboração do plano de ação, considerando que vão
surgir conflitos, que deverão ser negociados.
A participação faz parte da proposta pedagógica e metodológica - desde a concepção até a conclusão -
envolvendo os membros nas atividades em níveis - diferenciados - de intensidade e responsabilidade,
tornando-os partícipes dos rumos do processo.
Parte da idéia do capacitador que ajuda, com a maior transparência possível, a articular palavras e
gestos. Este deve estruturar e conduzir os trabalhos do grupo para facilitar o intercâmbio de idéias e
experiências pessoais, fazendo com que o grupo gerencie seus próprios conflitos, orientando-o na busca
de suas próprias soluções e no processo decisório. Também discute as “regras do jogo”, fazendo com
que as mesmas sejam cumpridas, assegurando autonomia ao grupo. Deve fazer com que a participação
de todos seja equilibrada.
3.2.1. Sensibilização
A sensibilização dos fóruns abrange a apresentação da estratégia Comunidade Ativa (no caso dos 5
primeiros municípios), do Programa de Emprego e Renda (PRODER), a cargo do SEBRAE, e da
proposta da EBAP/FGV. Nesse momento também é feita a primeira abordagem dos conceitos
relacionados ao Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável, além de um conjunto de dinâmicas
capazes de favorecer o trabalho em equipe. Somente após a compreensão da natureza, dos objetivos e
da estratégia do Projeto, por parte dos fóruns, terá início o trabalho efetivo.
Uma vez reunido o grupo acima, a Instituição Capacitadora começou a Sensibilização para o processo
de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Esta etapa teve os seguintes objetivos:
2
- Distribuição de cartilhas-convites, contendo os principais conceitos relacionados ao curso de capacitação em
planejamento, com linguagem simples.
- Divulgação por rádio e jornal local.
- Cartazes e folhetos distribuídos em padarias, vendas, mercearias .
- O modo de divulgação do curso de capacitação adotado tem como objetivo convocar três categorias de possíveis
participantes: líderes institucionais, líderes comunitários e pessoas com potencial para liderança.
- Outro parceiro considerado fundamental são as escolas municipais.
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Apresentar elementos inovadores para se pensar um modelo de desenvolvimento que conjugue
os anseios da população local com a melhoria da sua qualidade de vida.
Estimular os participantes a constituírem um Conselho ou Fórum de DLIS com uma ampla
participação de todos os setores da localidade.
Discutir o papel do Conselho ou Fórum como coordenador do processo de desenvolvimento
local e que deverá continuar existindo de modo autônomo e permanente.
Familiarizar o participante com o processo de trabalho que irá ser adotado e sensibilizar as
lideranças locais para a importância dos elementos que dão sustentação e promovem o
Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável.
Propiciar aos participantes momentos de reflexão sobre temas que lhes permitam uma tomada
de decisão consciente sobre por que e como participar do processo.
Adesão da localidade à Comunidade Ativa;
Compreensão das lideranças locais do seu papel como agentes promotores do DLIS em sua
localidade.
Criação do Conselho ou Fórum de DLIS.
Tomada de consciência das lideranças locais de que só há desenvolvimento local se a própria
comunidade tomar para si a responsabilidade de promover este processo.
Os temas propostos para a Sensibilização trazem à tona as concepções que o grupo tem sobre
desenvolvimento, participação e sustentabilidade. Portanto, é importante que sejam destacados os
seguintes temas:
Nos municípios onde houve o Diagnóstico Participativo Local, a Equipe gestora coletou informações
acerca de vários setores do município, inclusive com o auxílio de demais membros do Fórum e discutiu
com o mesmo os dados coletados. Após a sistematização pela ELO das informações coletadas, o
Diagnóstico foi apresentado e submetido à validação em assembléia do Fórum.
• Caracterização física
• Características fundiárias
• Caracteristicas ambientais
• Dinâmica demográfica
• Infra-estrutura
• Dinâmica econômica
• Situação social
• Organização sócio-política
• Finanças municipais
Tanto para a elaboração do diagnóstico pelo fórum quanto para a análise do diagnóstico do Data-UFF,
foi de extrema importância estimular o diálogo com os participantes do encontro, a fim de identificar as
principais atividades econômicas da região. Para isso, é míster o incentivo, pelo capacitador, do relato
dos participantes sobre sua história de vida e suas atividades, mostrando que as atividades que
desenvolvem podem ser vistas como potencialidades locais, ou seja, tratam-se de indicadores
importantes para a elaboração/análise do diagnóstico.
Num primeiro momento, o capacitador abordou conceitos e técnicas relativos à elaboração de planos e
projetos, apresentando, ao fim da discussão, a proposta de roteiro para o plano.
A partir daí, o fórum realizou uma discussão sobre os principais problemas do município, tendo em
vista o diagnóstico local. Essa discussão conduziu à definição dos objetivos prioritários e das
alternativas de solução dos problemas da região. A técnica utilizada pelo capacitador, durante esta
etapa, foi a elaboração da Árvore de Problemas 3 , a Árvore de Objetivos 4 e a Árvore de Alternativas 5
3
A árvore de problemas tem um tronco, raízes e uma copa. O tronco é o problema central, as raízes são as suas causas e a
copa os seus efeitos. Cada problema é conseqüência de outros que aparecem abaixo no gráfico e, por sua vez, provoca
problemas que aparecem na parte de cima do mesmo gráfico. Num primeiro momento, o capacitador abordou conceitos e
técnicas relativos à elaboração de planos e projetos, apresentando, ao fim da discussão, a proposta de roteiro para o plano.
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(as alternativas definidas na árvore devem passar por uma seleção baseada numa análise de viabilidade,
as alternativas selecionadas subsidiarão a definição das estratégias e dos projetos do plano). O produto
desta dinâmica foi registrado e constituiu uma parte do plano.
Após a definição dos problemas, objetivos e alternativas, teve início a elaboração dos itens posteriores
do plano: metas, estratégias, projetos, sistema de monitoramento e avaliação. Nesta etapa, o fórum foi
dividido em grupos temáticos; cada um ficando responsável pela definição de metas, estratégias e
projetos relacionados a um determinado objetivo. Entretanto, os trabalhos realizados por cada grupo
foram apresentados ao fórum para validação.
2. Considerações Finais
O desafio do desenvolvimento humano requer atenção a uma variedade de questões setoriais e a uma
combinação de processos sociais e econômicos (SEN, Amartya, 199...).
Por isso, a necessidade de ampliar o marco no qual a democracia é pensada, de modo que possamos
conceber a transição de um sistema de competição democrático-elitista instável para um sistema
democrático mais institucionalizado e mais participativo, no qual a sociedade civil e os atores políticos
democráticos estejam plenamente integrados (AVRITZER, Leonardo).
A partir dessas experiências, buscamos responder as seguintes questões: a participação deve ser
induzida? Quais as condições que facilitam ou obstaculizam as experiências participativas? A
participação contribui para o desenvolvimento local? É eficaz?
O argumento em favor da participação está, deste modo, apoiado nas seguintes vertentes (BANDEIRA,
1999):
4
A árvore de objetivos é elaborada a partir da árvore de problemas e do diagnóstico, onde o tronco é o objetivo prioritário,
as raízes são os meios para atingir o objetivo e a copa os fins. Ela é a base para a definição das alternativas de intervenção
do projeto.
5
A partir da árvore de objetivos são identificados os possíveis canais de ação, sempre levando em consideração as
realidades e limitações existentes.
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Deste modo, a participação pode ser entendida como uma necessidade baseada nos seguintes aspectos:
enquanto elemento essencial da idéia de democracia, e como forma para articulação de atores e
viabilização de processos de capacitação e de aprendizado coletivo, já que diminui o sentimento de
impotência dos indivíduos isolados diante de problemas cuja solução exige a cooperação de muitos;
aumenta a propensão no sentido de trabalhar em ações de natureza pública; e dispõe as pessoas a
confiarem na cooperação de seus semelhantes, ao invés de acreditarem que eles tenderão a comportar-
se de forma oportunista (BANDEIRA, 1999).
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