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O MERGULHO AUTÔNOMO

É chamado de mergulho autônomo aquele que permite ao mergulhador transportar, em cilindros ou


ampolas, todo o suprimento da mistura gasosa que será utilizada na sua respiração, enquanto permanecer
submerso.
1. Classificação:
Dentro da classificação dos equipamentos de mergulho autônomo, segundo o princípio
de funcionamento, há três categorias:
a) circuito fechado;
b) circuito semifechado; e
c) circuito aberto.
• 1.1 Circuito fechado e semifechado
Muito utilizados em operações militares por excelência, onde os requisitos de discrição, tamanho
reduzido e razão de profundidade aliada à duração do mergulho são essenciais; esses equipamentos
apresentam como característica principal a utilização de misturas respiratórias artificiais, como
oxigênio a 100% ou nitrogênio/oxigênio em proporções diferentes das do ar. No circuito fechado a
mistura gasosa circula continuadamente entre o mergulhador e o equipamento, não havendo qualquer
descarga de gases para o ambiente. No circuito semifechado, parte da mistura respiratória recircula e
parte é descarregada. São conhecidos desde o final do século XIX, mas foi recentemente que
evoluíram muito, existindo até equipamentos fechados e semifechados que utilizam misturas de
hélio/oxigênio próprios para mergulhos profundos.
• 1.2 Circuito aberto
Por concepção, é aquele que o ar exalado pelo mergulhador é liberado para o ambiente; também
chamado de “aqualung”, foi desenvolvido no início da década de 40 pelo Capitão Jacques Ives
Cousteau, oceanógrafo francês, e pouco mudou desde então, sendo basicamente um reservatório de
ar a alta pressão, ligado ao mergulhador por meio de uma válvula redutora de pressão e reguladora
de demanda.
• 1.3 Considerações técnicas do equipamento autônomo
De forma geral, todos os equipamentos autônomos possuem uma série de características que lhes
proporcionam vantagens e desvantagens quando comparados a equipamentos dependentes; neste
particular, o “aqualung”, apesar da extrema facilidade de operação, não se presta a todo tipo de trabalho
submerso, mas é convenientemente adequado para pequenas tarefas como procuras, reparos leves,
vistorias e inspeções, realizados a pouca profundidade. Compare na tabela abaixo a performance do
equipamento autônomo na atividade profissional:
VANTAGENS DESVANTAGENS
tempo reduzido na suprimento
preparação limitado de ar
excelente limite de
mobilidade profundidade
pequena estrutura pouca proteção física
de apoio ao mergulhador
bom para penetração não é adequado para
em locais confinados trabalhos penosos
permite o deslocamento limitado a correntada
pela superfície máxima de 1 nó
fácil oferece certa
transporte resistência à respiração
2. O equipamento autônomo de circuito aberto:
O conjunto dos equipamentos autônomos abrange os já citados na categoria de mergulho
livre, acrescido dos específicos, que seguem:
2.1 Cilindro de ar comprimido:
É fundamental no rol dos equipamentos autônomos, formando, juntamente com
a válvula reguladora, o conjunto de respiração. É conhecido também por outras
denominações como garrafa, tanque, ampola de mergulho, etc.; o nome técnico, contudo,
aprovado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é “cilindro para gases
a alta pressão”. Os cilindros são fabricados em ligas de metais, normalmente de aço-
carbono ou aço-liga, o que os obriga a receberem um tratamento anti-corrosivo, e assim é
cada vez maior o número de cilindros feitos em alumínio; de qualquer forma, não devem
possuir costuras ou emendas, seguindo as normas vigentes. A corrosão é o maior
problema que afeta os cilindros, sejam de aço ou de alumínio; o ferro combinado com o
oxigênio resulta numa substância avermelhada chamada óxido de ferro (ferrugem); o
alumínio, por sua vez, também reage com o oxigênio formando um pó esbranquiçado, o
óxido de alumínio. A oxidação é um processo progressivo e responsável pela redução das
paredes do cilindro ao longo do tempo.
2.2 Válvula reguladora:
Também chamada de regulador de demanda ou simplesmente por regulador
de ar, tem a finalidade de reduzir a pressão do ar que sai do cilindro e conduzi-lo ao
mergulhador para ser respirado na pressão adequada à profundidade do mergulho.
Podemos dizer que existem dois tipos de reguladores: os de mangueira única e os de
mangueira dupla ou de traquéias; os reguladores de mangueira dupla foram muito
utilizados até a década de 70, ocasião em que começou a fabricação dos modelos de
mangueira única. Por razões específicas, os reguladores de traquéias ainda são usados por
alguns mergulhadores; a condição de não soltar bolhas, à frente do rosto, tem contribuído
para a sua escolha por fotógrafos submarinos, por exemplo; contudo, esse regulador está
em franco processo de desuso, sendo cada vez mais difícil de ser encontrado.
2.3 Colete equilibrador:
Também conhecido como compensador, é um item fundamental para o
mergulhador; é também conhecido por BC (do inglês – Buoyancy
Compensator) e foi definitivamente adotado para a atividade de mergulho autônomo no
final dos anos 70. Podemos destacar duas atividades básicas do BC: manter a flutuação
positiva do mergulhador na superfície, e controlar a flutuação, quando no fundo. O colete
equilibrador nada mais é do que uma bexiga inflável, capaz de assumir diversas formas,
tamanhos, cores e padrões; o mais comumente encontrado é o tipo “jacket”, que
incorpora o arreio do cilindro, tornando colete e suporte do cilindro uma só peça. Não
muito freqüentes, mas ainda encontrados, os coletes tipo colar ou babador, são vestidos
pela cabeça e poderiam sêr apontados como pioneiros, e por isso, já em desuso.
2.4 Suporte anatômico:
Também conhecido como arreio ou “back pack” (do termo inglês – mochila),
destina-se a prender o cilindro ao corpo do mergulhador; é encontrado sob
diversas formas, desde simples selins de plástico com tirantes, até os que são
acoplados aos coletes equilibradores tipo “jacket”.
2.5 Instrumentos de medição:

2.5.1 relógio:
Muito mais do que apenas fornecer a hora certa, o relógio na atividade de
mergulho é visto como mais um item de segurança e não pode ser deixado de
lado; o controle do tempo no fundo, bem como o das paradas de descompressão, entre
outras coisas, seria impossíveis sem o relógio apropriado. Alguns relógios mais
sofisticados são dotados de alarmes que indicam quando a subida do mergulhador está
sendo muito rápida, memória que permite programar até 30 mergulhos ou retransmitir os
dados para um computador.
2.5.2 profundímetro:
São manômetros graduados em metros ou pés, destinados a registrar a
profundidade durante o mergulho; é requisito para cada dupla de
mergulhadores, pelo menos um profundímetro no rol dos equipamentos durante
o mergulho. Existem dois tipos de profundímetros: os de coluna d’água, que não são os
mais precisos, principalmente em profundidades superiores a 20 metros, mas com a
vantagem de apresentarem baixo custo, e os de tubo de Bourdon, que têm maior precisão,
além do fato de possuírem ponteiros que indicam a maior profundidade atingida.
2.5.3 manômetro:
Destinado a registrar a pressão do ar do cilindro. Existem os de tipo
submersível, que está conectado diretamente a uma saída de alta pressão do
primeiro estágio do regulador, e o de superfície, que aplica-se diretamente na
torneira do cilindro, antes de se acoplar a válvula reguladora, fornecendo a
pressão somente no início do mergulho.
2.5.4 consoles:
Destinados a integrar um número determinado de instrumentos, são conectados
à saída de alta pressão da válvula reguladora, quando dispõe de manômetro;
facilitam muito o controle de tempo de fundo, ar no cilindro, orientação através
de bússola, etc.

2.6 Linha de vida:


É um cabo constituído de fibras sintéticas, maleável, resistente à abrasão, com diâmetro
entre 12 a 14 mm, destinado a conectar o mergulhador à superfície; deve ser preso à
cintura do homem, através de nós de soltura rápida (nó de escafandro) e seu
comprimento apropriado à profundidade de trabalho, possibilitando uma lazeira que
permita ser acondicionado e removido na superfície sem molestar o trabalho do
mergulhador submerso. Tem como finalidade servir de meio de comunicação com a
superfície, e localização e resgate do mergulhador em casos de emergência; tem como
vantagem a utilização em mergulhos em água de pouca visibilidade e em locais internos,
como grutas, cascos, estruturas, etc., e como desvantagem a possibilidade de enrosco do
mergulhador.
2.7 Computadores de mergulho:
Em 1953 um Comitê da Marinha Americana já apontava como melhoria
necessária para equipamentos nas operações anfíbias o emprego de
computadores de mergulho, contudo, seu uso efetivo foi a partir da década de 70,
principalmente devido à popularização do mergulho como atividade recreativa.
Inicialmente seu princípio de funcionamento era físico, baseando-se nas leis de Boyle e
Mariotte. Os registros de profundidade e tempo de fundo eram feitos automaticamente,
instante a instante, de forma a indicar no mostrador quais as paradas de descompressão a
serem realizadas pelo mergulhador durante a subida; a constatação de casos de doença
descompressiva apesar da obediência às tabelas de descompressão fornecidas pelos
computadores, trouxe grande polêmica a respeito de seu uso. Com a evolução técnica
proporcionada pelo desenvolvimento de microprocessadores, os aparelhos se tornaram
menores, mas não mais seguros. Os computadores atuais utilizam modelos que
representam os vários tecidos do corpo (gordura, músculos, ossos, etc) classificando-os
em compartimentos que absorvem ou eliminam nitrogênio em uma velocidade diferente;
o problema é exatamente este, pois cada fabricante adota uma sistemática para classificar
esses compartimentos, produzindo equipamentos que apresentam respostas diferentes
para dados semelhantes.
Equipamento completo

3. As equipes de mergulho:
Levando-se em conta que a segurança nos trabalhos subaquáticos
sempre será a preocupação maior, é necessário o emprego de uma
equipe básica para o mergulho com ar comprimido, dimensionada de tal forma a possuir
a quantidade suficiente de mergulhadores (incluindo os reservas), os equipamentos
indispensáveis, bem como todo o apoio de superfície.
Um método eficiente para se determinar a equipe mínima para o mergulho é o critério da
profundidade; dessa forma poderemos estabelecer duas faixas de trabalho: trabalhos em
até 50 pés e trabalhos entre 50 e 130 pés de profundidade.
• 3.1 Trabalhos em até 50 pés de profundidade
A equipe mínima será composta por três mergulhadores, com as seguintes funções:
- mergulhador base: aquele que irá executar o trabalho;
- mergulhador reserva: deverá permanecer na superfície, equipado e pronto para atuar imediatamente
em caso de emergência. Além disso, é sua obrigação manter contato com o “base”, através da linha
de vida, comunicando-se pelos sinais padrão de mergulho;
- mergulhador auxiliar: permanece na superfície, desequipado, efetuando todas as anotações,
registros e controle do mergulho. Se estiverem embarcados, é o responsável pelo controle da
embarcação.
Como os três componentes da equipe são mergulhadores, poderá ocorrer um revezamento das
funções, com o objetivo de evitar a sobrecarga de mergulhos para um só indivíduo.
• 3.2 Trabalhos entre 50 e 130 pés de profundidade
Além do efetivo mínimo estipulado para o item anterior, farão parte desta equipe mais dois componentes:
- supervisor do mergulho: deverá ser o mergulhador mais experiente ou mergulhador qualificado e
designado pelo Comandante (chefe) imediato para supervisionar a operação de mergulho;
- mergulhador auxiliar: deverá assumir a incumbência de contato com o “base”, através da linha de vida,
liberando o mergulhador reserva dessa função. Além disso poderá ser remanejado para outros afazeres, a
critério do supervisor.

Observações:
1) Em qualquer operação de mergulho em que, para a realização do trabalho, for previsto o emprego
simultâneo de 2 ou mais mergulhadores na água, deverá existir, no mínimo 1 mergulhador de reserva
para 2 mergulhadores submersos.
2) O mergulho com equipamento autônomo a ar comprimido está limitado à profundidade de 40 metros
ou 130 pés.
Veja Também:

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HIPERVENTILAÇÃO E MERGULHO EM APNÉIA


O mergulho em apnéia precedido por uma hiperventilação, promoverá um prolongamento considerável do
bloqueio da respiração e um sentimento de prazer muito grande, acarretando um perigo muito maior para o
mergulhador.

O que leva o mergulhador sofrer um apagamento é o aumento da PCO2 arterial.


O apagamento se dá da seguinte forma: O mergulhador hiperventila, aumentando a Po2 e diminuindo
consideravelmente a PCO2, antes de iniciar o mergulho (isso ocorre também na apnéia estática e na dinâmica,
mas é mais perigosa no mergulho profundo), quando é iniciada a descida o pulmão começa ser comprimido (lei de
Boyle), o O2 alveolar penetra continuamente na corrente sangüínea para ser utilizado como combustível. Por
causa da hiperventilação, a PCO2 arterial continua baixa o mergulhador ainda não tem necessidade de respirar.

Enquanto o mergulhador continua descendo, a pressão externa exercida pela água vai comprimindo o tórax. Desta
forma a pressão mantém uma PO2 relativamente alta dentro dos alvéolos, apesar da quantidade de oxigênio ser
reduzido, porque penetra continuamente na corrente sangüínea.

Essa pressão externa que comprime o tórax, mantém a PO2 adequada para saturar a hemoglobina enquanto o
mergulhador continua descendo.

No retorno à superfície, ocorre uma inversão brusca nas duas pressões, aumentando a PCO2 e diminuindo aPO2,
(lei de Boyle, quanto menor a pressão maior o volume), o volume pulmonar se expande e a PO2 cai violentamente
não proporcionando condições de saturar a hemoglobina, o O2 volta para dentro dos alvéolos, como a PCO2
aumentou da mesma forma que a PO2 abaixou, o mergulhador pode perder a consciência, o SNC desliga
literalmente o mergulhador antes de chegar à superfície.

Segundo McArdle,
“Outros dois aspectos fisiológicos devem ser considerados ao determinar os riscos da hiperventilação”:
a) Uma quantidade normal de dióxido de carbono arterial é necessária para manter o equilíbrio ácido-básico do
sangue. Isso é mediado pela liberação de H+ (íons de hidrogênio) quando o ácido carbônico é formado por
dióxido de carbono e água. Ao reduzir o dióxido de carbono do sangue pela hiperventilação, a concentração de
H+ diminui, acarretando um desvio do Ph do sangue na direção de uma maior alcalinidade.
b) A manutenção de um nível menor da PCO2 arterial proporciona um estímulo contínuo para a dilatação das
pequenas artérias cerebrais. A redução significativa do dióxido de carbono arterial durante a hiperventilação pode
reduzir o fluxo sangüíneo cerebral e causar vertigem ou até mesmo a perda da consciência, criando assim uma
situação perigosa na água.
Autor: Christian Dequeker - profissional de Educação Física e Apneísta

Veja Também:

MEDICINA E FISIOLOGIA DO MERGULHO


1. Condições do ambiente subaquático
• O ser humano vive, por assim dizer, no fundo de um mar gasoso e na superfície de um mar líquido.
Suporta nessa superfície uma pressão atmosférica de 1,033 Kg/cm2 e a cada 10 metros de
profundidade na água é como se outra pressão atmosférica se juntasse às preexistentes.
• Aventurando-se nas incursões submarinas, o homem enfrenta condições adversas, para as quais sua
fisiologia não está preparada; sua inteligência possibilita-o vencê-las pelo uso de equipamentos por ele
construídos. Alguns destes o mantém, mesmo nas profundidades oceânicas; outros preparam-no para
adaptar-se a reagir favoravelmente a grandes aumentos de pressão; mesmo assim, o ser humano continua
a sofrer os problemas que vamos agora comentar.
2. Efeitos da pressão no organismo humano
• Os efeitos podem sêr diretos ou indiretos. Os diretos ou primários são aqueles que resultam da ação
mecânica da pressão sobre as células e espaços corporais. Suas conseqüências são o barotrauma e a
embolia traumática pelo ar.
• Os efeitos indiretos ou secundários são assim chamados devido às alterações fisiológicas, produzidas em
decorrência das pressões parciais dos gases absorvidos pelo organismo.
DIRETOS INDIRETOS
BAROTRAUMAS BIOQUÍMICOS
barotrauma de ouvido médio narcose pelo nitrogênio
barotrauma de ouvido externo intoxicação pelo oxigênio
barotrauma dos seios da face intoxicação pelo gás carbônico
barotrauma dos pulmões intoxicação por outros gases
barotrauma total apagamento
barotrauma facial ou de máscara BIOFÍSICOS
barotrauma de roupa doença descompressiva
barotrauma dental
EMBOLIA TRAUMÁTICA PELO AR
• 2.1 Barotraumas
Do grego “baros”, cujo significado é pressão; barotrauma é o traumatismo causado pela pressão; é a
lesão que sobrevêm da incapacidade do mergulhador de equilibrar as pressões entre um espaço aéreo
e a pressão do meio ambiente; no estudo do mergulho são denominados em função do modo como
ocorrem.
• 2.1.1 barotrauma do ouvido médio
A característica deste acidente é que ocorre sempre na fase de descida do mergulhador, sendo a
doença mais leve e freqüente nos mergulhos. À medida que aumenta a pressão exterior durante a
descida, a membrana do tímpano sofre o efeito direto desse aumento, abaulando-se para dentro,
podendo inclusive romper-se, se o mergulhador não conseguir equilibrar as pressões por meio do
envio forçado de ar através da tuba auditiva. Quando o tímpano se rompe, o ouvido médio é invadido
pela água, e se a temperatura desta for baixa, o mergulhador poderá apresentar, por irritação dos
canais semicirculares, náuseas e vômitos, sendo acometido pela Síndrome da Desorientação
Espacial; esse fenômeno é de curta duração e tão logo a temperatura da água se eleve, os sintomas
desaparecem. A ruptura da membrana timpânica requer tratamento médico especializado; na grande
maioria das casos, o médico toma cuidados gerais para evitar uma infecção e assegurar a
permeabilidade das trompas, e apenas observa a cicatrização espontânea que se dá, normalmente
dentro de uma a três semanas. Este acidente pode não deixar seqüelas, mas pode também causar
diminuição da audição para determinadas freqüências, devido a cicatriz que se forma no tímpano.
• 2.1.2 barotrauma do ouvido externo
Ocorre pelo uso de tampões de orelha, rolha de cerúmem, ou o uso de gorros de neoprene muito
justos, que acabam criando uma câmara fechada no ouvido externo. Nesse caso a membrana
timpânica abaula-se para fora, surgindo edemas e lesões hemorrágicas no conduto auditivo; esse
acidente tanto pode ocorrer na descida do mergulhador quanto na subida.
• 2.1.3 barotrauma dos seios da face
Como os seios faciais comunicam-se com a faringe por estreitas passagens, a obstrução de um desses
circuitos por um processo inflamatório qualquer ou má formação anatômica, impede o equilíbrio das
pressões, criando uma região de baixa pressão no interior das cavidades ocas, produzindo uma
sucção nas mucosas que as revestem. A repetição deste acidente pode tornar-se em sinusite crônica.
• 2.1.4 barotrauma dos pulmões ou torácico
Segundo a Lei de Boyle, a pressão e o volume são valores inversamente proporcionais, isto é,
quando um aumenta o outro diminui. Dessa forma, à medida que o mergulhador vai descendo, a
pressão aumenta consideravelmente e, por conseqüência, os pulmões vão-se comprimindo, reduzindo
seu volume. A partir de um determinado ponto (quando se atinge o limite do volume residual), a
flexibilidade da caixa torácica impede aos pulmões continuarem reduzindo seu volume e se o
mergulhador prosseguir, haverá uma congestão e passagem de transudato (líquido que extravasa de
uma membrana ou vaso sanguíneo) para o interior dos alvéolos, e finalmente edema agudo de
pulmão.
• 2.1.5 barotrauma total
Só ocorre quando são utilizados equipamentos dependentes, rígidos e que formam espaços
preenchidos com ar. Se a pressão no interior da roupa cair bruscamente (aumento brusco da
profundidade ou interrupção no fornecimento de ar) a pressão exterior aumentada atua no corpo do
mergulhador, podendo em casos extremos comprimi-lo em direção aos espaços internos do
equipamento.
• 2.1.6 barotrauma facial ou de máscara
A pressão no interior da máscara facial deverá ser mantida em equilíbrio com a pressão exterior. A
não equalização entre essas pressões ou a queda da pressão no interior fará com que a máscara se
transforme em uma ventosa de sucção, atingindo a face propriamente dita e os tecidos moles, como
globos oculares e capilares nasais. O mergulhador acusa a sensação de sucção durante o mergulho;
na superfície geralmente são constatados edemas, equimoses faciais, sangramento nasal, hemorragia
do globo ocular (casos graves) e nas conjuntivas.
• 2.1.7 barotrauma de roupa
Dobras na roupa de neoprene mal ajustadas ao corpo podem transformar-se em câmaras aéreas sem
possibilidade de se equilibrar as pressões. Nesses casos podem ocorrer equimoses, sem maiores
conseqüências.
• 2.1.8 barotrauma dental
Obturações mal feitas, sem o devido preenchimento total do canal podem levar à formação de
espaços aéreos impossíveis de se equilibrar as pressões; dor muito forte ocorrerá durante a descida e
o tempo todo em que o mergulhador permanecer sob pressão. O problema será resolvido após
consulta a um especialista.
• 2.1.9 bloqueio reverso
Embora não conste na tabela apresentada anteriormente, o bloqueio reverso é também considerado
um barotrauma do ouvido médio; ocorre na subida do mergulhador e é provocado pelo uso de
descongestionantes, cujo efeito venha a terminar, gradativamente, durante o mergulho. Nesse caso, a
redução da pressão que ocorre à medida da subida do mergulhador não pode ser equalizada devido à
obstruções do conduto auditivo, por secreções, provocando o abauluamento do tímpano para fora.
• 2.2 Embolia traumática pelo ar
Também chamada de ETA, ocorre quando o mergulhador, tendo inspirado ar em um equipamento
qualquer no fundo, volta à superfície sem o exalar durante a subida. Esse efeito é provocado pela Lei
de Boyle, pois à medida que a pressão externa diminui, o volume de ar no interior dos pulmões
aumenta. Como os pulmões tem uma elasticidade limitada, poderá haver uma hiperdistenção
alveolar e, em casos extremos, poderão romper-se, criando bolhas de ar na corrente sanguínea.
Após o surgimento da hiperdistenção podemos ter o choque reflexo (sem ruptura), pneumotórax sem
embolia, e finalmente a embolia pelo ar, cujo quadro é o mais grave.
Assim como todos os tipos de barotraumas, A ETA pode ocorrer com uma variação pequena de
pressão (baixas profundidades), principalmente se estivermos próximos da superfície, havendo
registros deste tipo de acidente com variações de menos de três metros; é de evolução rápida e deve
ser atendido prontamente.
Outra característica importante é que esse acidente não ocorre no mergulho livre, pois os pulmões do
mergulhador ao iniciar a subida em direção à superfície não poderão conter o volume de ar superior
ao que tinham ao iniciar o mergulho; a exceção fica para o caso do mergulhador que executa o
mergulho livre e, quando no fundo, respira ar de uma fonte qualquer (cilindro de ar, mangueira de ar,
sino de mergulho, etc.). Ao voltar à superfície, se não exalar totalmente o ar de seus pulmões, a
embolia fatalmente irá se manifestar.
• 2.3 Narcose pelo nitrogênio
Similar à embriaguez alcoólica, e por isso também chamada de “embriaguez das profundezas”, a narcose
pelo nitrogênio é um tipo de acidente de mergulho provocado pelo aumento da pressão parcial dos gases
componentes de uma mistura gasosa, em especial o nitrogênio, impregnando o sistema nervoso central.
As alterações comportamentais provocadas são tão intensas, que o mergulhador perde a capacidade de
cumprir tarefas e despreocupa-se totalmente com os perigos que o cercam, podendo caminhar, de
persistirem suas atitudes incoerentes, para uma provável morte por afogamento.
De modo geral, os sintomas começam a aparecer após os 30 metros de profundidade, e agravam-se à
medida que a pressão aumenta, conforme demonstra o quadro abaixo:
PROFUNDIDADE SINAIS E SINTOMAS
( metros )
30 a 60 Alterações da destreza manual, euforia, cabeça leve.
60 a 90 Reflexos diminuídos, alterações na associação de idéias e
na discriminação auditiva.
90 a 120 Alucinações visuais e auditivas, estado depressivo perda
da memória.
Acima dos 120 Inconsciência.
• 2.4 Intoxicação pelo oxigênio
O oxigênio, gás indispensável para a vida, se respirado a 100% e a pressões parciais elevadas, pode trazer
uma série de conseqüências danosas e mesmo fatais para o homem. Sua atuação, nessas condições, afeta
o Sistema Nervoso Central e o aparelho respiratório. No SNC, produz uma série de desordens
neurológicas e no nível respiratório, provoca uma “queimadura química” nos alvéolos pulmonares.
Podemos dividir esse item nos dois níveis de manifestação do problema: no SNC e no aparelho
respiratório, como é demonstrado na tabela abaixo
SISTEMA NERVOSO CENTRAL APARELHO RESPIRATÓRIO
Visão alterada: distúrbios conhecidos Tosse descontrolada
como visão de túnel
Audição: zumbidos e surdez Sensação de falta de ar
progressiva
Náuseas Ardência ou queimação no peito
Tonturas: sensação de cabeça vazia, Escarros sanguinolentos
oca
Irritabilidade: estado ansioso ou Parada respiratória, em casos
excitação incomum extremos
Tremor muscular: lábios e músculos
da face
• 2.5 Intoxicação pelo gás carbônico
O gás carbônico, CO2 ou dióxido de carbono, está presente no ar atmosférico na porcentagem de 0,04%.
No processo respiratório do homem, é resultado da metabolização do oxigênio nos tecidos, e pode
aparecer ainda em porcentagens maiores, como elemento adicional presente na mistura gasosa.
Através do processo respiratório, os tecidos são supridos do oxigênio que necessitam e o gás carbônico é
eliminado para o ar atmosférico. Na realidade esses dois gases estão em constante equilíbrio, isto é, ora
um aumenta e o outro diminui e vice e versa. Esse mecanismo funciona simplificadamente da seguinte
maneira: quando o teor de CO2 se eleva no sangue, este se torna ácido e atua no centro respiratório
existente no bulbo (na base do cérebro), que provocará uma necessidade de respirar, restabelecendo os
valores adequados.
Quando por qualquer motivo a taxa de CO2 aumentar, podem ocorrer graves conseqüências para o
mergulhador:
Aumento Os sintomas são mínimos ou imperceptíveis
de até 2%
2 a 5% O mergulhador sente “sede de ar” e respiração cansativa
5 a 10% Perda da consciência e risco de afogamento
10 a 15% Espasmos musculares, convulsões e morte
• 2.6 Intoxicação por outros gases
O ar que respiramos nos cilindros de mergulho é uma mistura gasosa composta por vários gases. Nas
porcentagens certas não precisamos nos preocupar muito com eles; a ressalva a ser feita diz respeito
às condições anormais de recargas de cilindros, onde por diversas razões, a mistura gasosa acaba
tornando-se contaminada.
O monóxido de carbono (CO) é o resultado da combustão incompleta e pode aparecer facilmente na
mistura respiratória devido à falta de cuidado na recarga dos cilindros ou operações com
compressores. Este gás é incolor, inodoro e reage com a hemoglobina do sangue, impedindo-o de
cumprir sua função normal de carregar o oxigênio para os tecidos; seus principais sintomas são:
tonturas, dor de cabeça, sensação de pressão interna no crânio, têmporas latejantes e pele, unhas e
lábios com tendência a apresentarem tonalidade avermelhada.
O gás sulfídrico (H2S) é o resultado de forte atuação de bactérias anaeróbicas (decomposição
orgânica). Em baixas concentrações cheira a ovo podre, mas em concentrações maiores, é inodoro e
incolor; assim como o CO, também reage com a hemoglobina do sangue. É encontrado em
compartimentos fechados de naufrágios, ou qualquer bolsão com ar represado e não renovado, como
cavernas subaquáticas; nunca se deve respirar sem o regulador no interior de naufrágios ou cavernas,
a não ser que tenha a certeza da boa qualidade do ar.
• 2.7 Apagamento
Conhecido também como “blackout”, o termo apagamento refere-se a possibilidade da perda de
consciência durante o mergulho, transformando-se num dos maiores perigos na prática do mergulho
livre. Decorre basicamente da hipóxia cerebral que se segue à drástica queda da pressão parcial do
oxigênio durante a subida. Como é um efeito que não apresenta sintomas prévios, o mergulhador não
de dá conta do perigo e simplesmente “apaga”; caso esteja mergulhando sozinho ou sem
acompanhamento, o final é sempre trágico e a morte por afogamento é inevitável. O apagamento é o
grande responsável por inúmeros acidentes fatais envolvendo praticantes de caça submarina.
Embora com menos freqüência, pode ocorrer também na prática do mergulho autônomo; nesse caso
está relacionado ao equipamento respiratório e/ou padrão respiratório do mergulhador. Há casos
relatados de perda de consciência por respirações curtas devidas à tensão ou estresse do mergulho,
tentativas de economizar ar do cilindro ou à baixa temperatura da água; de qualquer forma, o risco
de afogamento é o mesmo.
• 2.8 Doença descompressiva
Conhecida desde o meio do século XIX, ganhou fama aterrorizante e uma série de apelidos entre os
mergulhadores. Os primeiros relatos da enfermidade surgiram por volta de 1870, atingindo trabalhadores
de minas que utilizavam caixas pressurizadas para permitir que trabalhassem secos em leitos de rios,
tanto é que foi chamada por algum tempo de “mal dos caixões”.
Já no início do século XX, o fisiologista escocês John Scott Haldane criava as primeiras tabelas de
mergulho, permitindo que integrantes da marinha inglesa fizessem incursões de até 60 metros de
profundidade sem conseqüências descompressivas.
Por definição, a doença descompressiva ou DD é um quadro de múltiplas manifestações, devido à
formação de bolhas no sistema circulatório e em alguns tecidos, ocasionado pela descompressão após a
exposição a pressões barométricas acima do normal
Podemos dividir os fatores predisponentes para a ocorrência dA DD, naqueles relacionados com à saúde e
estado físico do mergulhador, e nos proporcionados por condutas inadequadas ou má utilização de
equipamentos:
SAÚDE E ESTADO FÍSICO DO CONDUTAS INADEQUADAS DO
MERGULHADOR MERGULHADOR
Trauma ou contusão anterior Ressaca alcoólica
ao mergulho
Estado de sonolência Mergulhos executados nos limites
das tabelas
Fadiga ou tensão exagerada Velocidade de subida exagerada
Estado gripal infeccioso ou Desrespeito às regras de vôos
convalescência dele após os mergulhos
Má hidratação, anterior e Alimentação gordurosa antes do
posterior ao mergulho mergulho
• Considerado por alguns pesquisadores como fator predisponente, a obesidade não aumenta o risco de DD,
mas, potencialmente, pode influir de modo negativo o aparecimento de manifestações mais graves da
doença, quando atinge o sistema nervoso central.
Outros fatores a serem considerados:
• a medida que envelhecemos, nossa circulação e hidratação dos tecidos é menor, bem como aumenta a
proporção de gordura na coluna vertebral;
• o tabagismo deve ser evitado, pois eleva o nível de gorduras do sangue;
• o frio durante o mergulho, além de torná-lo desconfortável, causa uma vasoconstrição na pele,
diminuindo a circulação nesta área, o que irá retardar a eliminação do nitrogênio; e
• drogas e medicamentos que alteram a função respiratória e circulatória devem sêr evitados.
Quanto à gravidade, a DD pode ser classificada em:
• Tipo I (DD I):
Chamada também de leve ou bends, a DD I é caracterizada basicamente por dores (articulares e/ou
musculares), por prurido ou sensação “estranha” na pele e por inchaço de gânglio linfático;
• Tipo II (DD II):
Mais grave que a anterior, freqüentemente produz seqüelas. Pode ser subdividida em dois ramos:
• 1) cardiorespiratórios:
Devido à embolia gasosa da artéria pulmonar, se manifestam por uma sensação aguda de sufocação
(chokes), falta de ar, dificuldade respiratória, sudorese abundante, respiração superficial, dor
torácica, “batedeira” no peito e, com evolução do quadro, cianose, arritmia cardíaca e choque;
• 2) neurológicos:
Decorrem do comprometimento do sistema nervoso central, no nível cerebral e/ou espinhal. Manifestam-
se por formigamento, perda da sensibilidade, impotência funcional de extremidades, perda da força
muscular, paralisia de membros inferiores, ou sensação “estranha de moleza nas pernas”. Quando
atingem o nível cerebral podem se manifestar como dor de cabeça, tonturas, alterações do
comportamento, convulsões e perda da consciência. As vertigens podem sêr acompanhadas de vômitos,
zumbidos e dores provocadas por sons comuns.
Estudos indicam que 65% das vítimas de DD que receberam oxigênio no atendimento emergencial,
acabavam sem sintomas e muitas vezes sem tratamento em câmara hiperbárica.
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MERGULHO LIVRE
Uma vez que o homem é um ser bípede terrestre, a adaptação eficiente ao mundo subaquático requer uma
série de equipamentos acoplados ao nosso corpo, formando um só conjunto. Esses equipamentos podem
variar muito em formas, modelos e sobretudo em função do tipo de mergulho a ser executado. A seguir
serão apresentados os equipamentos básicos para o mergulho livre.
1. O equipamento básico de mergulho:
1.1 Máscara semi-facial:
Sendo nossos olhos adaptados à visão no ar atmosférico, quando estão abertos
debaixo d’água, vemos as imagens distorcidas devido ao fenômeno físico da
refração da luz. Para corrigir tal deficiência criamos uma camada de ar à frente dos olhos
proporcionada pela armação da máscara, permitindo-nos enxergar quando submersos e
ainda conferindo proteção aos olhos do mergulhador; contudo, este espaço adicional está
sujeito à pressão externa da água, que deve ser igual à interna. Por esta razão, o nariz é
envolto de modo a permitir que o ar seja exalado para dentro, igualando assim as
pressões durante o mergulho. A curvatura do olho funciona como uma lente convergente
de maneira que os raios na atmosfera incidem sobre a retina; já na água não ocorre a
mesma coisa devido à refração, ou seja, os raios de luz não sofrem o mesmo desvio. As
imagens são formadas depois da retina, e nossos olhos têm uma visão hipermétrope, não
enxergando co nitidez os objetos. Ocorre também devido à refração da luz um aumento
aparente no tamanho dos objetos, ou seja, eles parecem sêr maiores e estarem mais
próximos de que os vê, aproximadamente um quarto ou 25%.
1.2 Respirador:
O respirador ou “snorkel” é um tubo curvado similar à letra “J”, cuja
extremidade menor ou bocal encaixa-se na boca do mergulhador e a outra passa
pelo lado da cabeça, indo até a superfície, de modo a permitir a retirada, por
sucção, do ar necessário à respiração. Permite ao mergulhador respirar enquanto nada na
superfície sem erguer a boca para fora da água, possibilitando o deslocamento com maior
desenvoltura e facilidade. No mergulho autônomo, durante o deslocamento na superfície,
auxilia o mergulhador a economizar ar do cilindro até o ponto de imersão, ou saindo
deste de retorno ao barco ou margem.
1.3 Nadadeiras:
As nadadeiras são equipamentos em forma de barbatanas que os mergulha dores
adaptam aos pés para auxiliar o movimento sobre a superfície da água ou
embaixo dela. Na realidade, elas aumentam artificialmente a área do pé,
permitindo que este impulsione uma quantidade maior de água para trás. A utilização da
nadadeira visa proporcionar o máximo de rendimento com o mínimo de esforço; para
tanto, o mergulhador estando em deslocamento na superfície, deverá evitar que as
nadadeiras saiam fora da água, pois assim estará prejudicando o rendimento.
1.4 Cinto de lastro:
A tendência da maioria das pessoas é ter flutuabilidade positiva, ou seja,
mantêr-se na superfície da água, flutuando; somando-se a este fato, os demais
equipamentos de mergulho contribuem ainda mais para essa condição, principalmente o
uso de roupas isotérmicas. Para vencer esta deficiência, o mergulhador necessitará de
grande esforço para nadar para o fundo, e lá permanecer, consumindo assim a energia
que deveria ser utilizada no trabalho propriamente dito. O uso de lastros, dimensionados
para a flutuabilidade de todo o conjunto ( mergulhador e equipamentos), é, então,
condição essencial para execução racional do mergulho. O lastreamento deve ser
graduado de maneira a tornar o mergulhador com uma leve flutuação positiva para
garantir que, estando o corpo abandonado (sem movimento) na profundidade de trabalho,
suba lentamente à superfície. Existem muitos modelos de cintos de lastro no mercado; as
principais recomendações feitas como medidas de segurança são: a de que possua um
fecho de desengate rápido, essencial em caso de emergência para subidas rápidas e a de
que, na sequência de equipagem seja colocado por último e por sobre eventuais outras
cintas e arreios.
1.5 Faca:
O tempo em que a faca de mergulho era vista como arma para defesa contra
seres marinhos já passou; hoje é sabido que tal instrumento tem a função de
ferramenta e seu uso está relacionado com os fatores de segurança do mergulhador.
Como instrumento de uso geral, podemos destacar os seguintes empregos: cavar, cortar,
alavancar, bater, medir, etc.
1.6 Roupas isotérmicas:
Têm a função principal de reduzir a perda de calor corporal para a água.
Secundariamente, acabam também protegendo o mergulhador contra ferimentos
leves como arranhões e arestas de pedras, cracas ou corais. Podem sêr divididas
em:
1.6.1. roupas molhadas:
É assim chamada por permitir a entrada de água, aprisionando-a em sua parte
interna, que é aquecida pelo corpo do mergulhador e reduzindo as perdas caloríferas. É
constituída de um tecido de borracha chamado “neoprene”, impregnado de pequenas
células ou bolhas que aumentam a capacidade isolante da borracha, conferindo também
grande flutuabilidade ao material.
1.6.2. roupas secas:
Foram concebidas para isolar totalmente o mergulhador do contato com a água, sendo
recomendadas para mergulhos em águas extremamente frias ou muito poluídas. Sua
fabricação evita a entrada de água, sendo possível até usar agasalhos de lã sob ela;
também são confeccionadas em neoprene, apresentando vedação de borracha em volta do
pescoço, punhos e tornozelos. Possuem um inflador na altura do peito para ajuste de
flutuação; o isolamento térmico é feito pela camada de ar entre a pele e a roupa.
TEMPERATURA DA ÁGUA ROUPA APROPRIADA
0° a 10° C roupa seca
10° a 15° C neoprene de 5 a 7 mm
15° a 22° C neoprene de 3 a 5 mm
22° a 25° C roupa de lycra ou de surfe
Acima de 25° C desnecessário o uso
No litoral brasileiro, a temperatura da água é de 22º a 25º
1.7 Acessórios:
Como o próprio nome diz, são equipamentos acessórios aqueles que, embora não sejam
essenciais, tornam a atividade de mergulho mais agradável, facilitando determinadas
tarefas; podemos tomar como exemplo luvas, botas, capuz de neoprene, lanternas e
sacola molhada (destina-se a guarda e transporte dos equipamentos de mergulho, sendo
constituída de material resistente e grande o suficiente para acomodar todo o material).
2. Mergulho livre ou mergulho em apnéia:
O mergulho livre é aquele em que o mergulhador realiza em apnéia, isto é, prendendo a
respiração, utilizando tão somente o ar contido nos pulmões e um rol limitado de
equipamentos.
Apnéia é a suspensão temporária da atividade respiratória, podendo ser voluntária (caso
da imersão subaquática sem equipamento de ar), ou involuntária, sendo neste caso de
natureza patológica.
Muitas pessoas podem reter a respiração por um curto espaço de tempo, mas em geral,
em algum momento durante a tentativa de segurar a respiração, o desejo de respirar virá,
e se tornará tão intenso que não haverá possibilidade de prolongamento. Essa demanda é
assinalada pelo centro respiratório, respondendo ao aumento dos níveis de dióxido de
carbono e ácidos no sangue, provocados pela correspondente queda do teor de oxigênio
em função do consumo de tecidos.
A técnica empregada para a imersão em apnéia consiste basicamente na prática de
movimentos respiratórios amplos e lentos, no fim dos quais, após uma inspiração
profunda, o indivíduo mergulha, terminando a apnéia com o retorno à superfície.
O efeito da expiração profunda é duplo e assim apresentado:
a) consiste basicamente no armazenamento de oxigênio em uma certa quantidade;
b) manter na corrente sanguínea um certo volume de difusão alveolar de anidrido
carbônico, aumentando assim o período de duração da apnéia.
A inspiração profunda permite também aumentar a profundidade máxima de imersão,
sem o perigo da exposição do mergulhador a um barotrauma pulmonar. Ao término da
apnéia, o mergulhador deverá executar atos respiratórios amplos e lentos, procurando
expirar profundamente para remover o ar saturado dos alvéolos, de modo a restituir aos
pulmões volume e percentuais normais, seja de oxigênio, ou de gás carbônico que vinha
sendo acumulado durante a suspensão da respiração.
A duração do tempo da apnéia é extremamente variável de indivíduo para indivíduo, mas
de modo geral podemos afirmar que atinge de alguns segundos a dois minutos
aproximadamente, e depende de numerosos fatores, sendo os principais os seguintes:
- composição inicial do ar alveolar, dependendo da condição momentânea do indivíduo
(esforço recente, ventilação pulmonar correta);
- consumo de O2 (oxigênio) e produção de CO2 (gás carbônico) em resposta à
combustão celular que é aumentada por fatores externos, como frio, trabalho executado,
condição emocional do mergulhador, etc.;
- resistência do centro nervoso respiratório aos estímulos induzidos pela alteração do pH
do sangue, provocado pelo aumento da taxa de CO2;
- outros fatores representados pela constituição individual, pela posição do corpo, pela
alimentação, etc.
Todos esses fatores agem determinando diferenças individuais na duração da apnéia
voluntária e também diferenças substanciais no mesmo indivíduo dia para dia, e até
mesmo, de hora para hora.
Acompanhe no quadro abaixo, como os valores de apnéia podem variar de acordo com
cada situação:
INDIVÍDUO SEM INDIVÍDUO COM
TREINAMENTO TREINAMENTO
ATIVIDADE TEMPO ATIVIDADE TEMPO
EXECUTADA (S) EXECUTADA (S)
depois de expiração forçada 15 depois de inspiração forçada 110
depois de expiração normal 20 com exercício físico 60
depois de inspiração normal 35 com a cabeça submersa 80
depois de inspiração forçada 60 em imersão total em repouso 100
depois de hiperventilação 110 em imersão total com 70
exercício
Como se pode observar, a atividade muscular diminui a duração do tempo de apnéia,
devido ao aumento do consumo de O2 e uma produção maior de CO2. Para compensar
isso, é natural que o mergulhador menos experiente use o artifício da hiperventilação; no
entanto, a intensidade dela não deve ultrapassar 30 segundos, sendo que uma sensação de
“formigamento” nas extremidades ou tonturas são sinais evidentes que houve excessiva
hiperventilação e essa condição pode propiciar o surgimento do acidente “apagamento”.

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