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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 738.628 - SP (2005/0051401-4)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA


RECORRENTE : MUNICÍPIO DE DIADEMA
PROCURADOR : PEDRO TAVARES MALUF E OUTROS
RECORRIDO : RENATA OLESEN E OUTRO
ADVOGADO : ANTÔNIO PARAGUASSU LOPES
RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Em ação declaratória, o


Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo firmou o entendimento, resumido na seguinte
ementa:

"AÇÃO DECLARATÓRIA - Nulidade de lançamento tributário - Imposto


predial e territorial urbano do Município de Diadema - Imóvel que tem destinação rural -
Condição comprovada documentalmente - Incidência do ITR - Ação declaratória
julgada procedente - Sentença mantida - Reexame necessário e recurso voluntário
improvidos. (voto nº 3.304)" - fl. 201 -.

Com fulcro na alínea "a" do permissivo constitucional, o Município de Diadema interpôs


recurso especial, sob a alegação de que o acórdão negou vigência aos artigos 32, § 1º, do Código
Tributário Nacional, 12 da Lei nº 5.868/72 e 1º da Lei nº 9.393/96, no tocante à definição de zona rural e
sobre a competência para arrecadação do imposto em imóveis situados em zona rural.

As contra-razões foram apresentadas às fls. 212-215.

O recurso especial não logrou ser admitido na origem, contudo, os autos subiram a esta
Corte em razão do provimento dado ao agravo de instrumento.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 738.628 - SP (2005/0051401-4)

EMENTA

TRIBUTÁRIO. IPTU. ITR. IMÓVEL. EXPLORAÇÃO EXTRATIVA


VEGETAL. ART. 32 DO CTN, 15 DO DECRETO-LEI Nº 57/66.
1. O artigo 15 do Decreto-Lei nº 57/66 exclui da incidência do IPTU os imóveis cuja
destinação seja, comprovadamente a de exploração agrícola, pecuária ou industrial, sobre os
quais incide o Imposto Territorial Rural-ITR, de competência da União.
2. Tratando-se de imóvel cuja finalidade é a exploração extrativa vegetal, ilegítima é
a cobrança, pelo Município, do IPTU, cujo fato gerador se dá em razão da localização do
imóvel e não da destinação econômica. Precedente.
3. Recurso especial improvido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de ação


declaratória de nulidade de exigibilidade de débito fiscal, na qual se objetiva a declaração de
inexigibilidade de cobrança do IPTU, por tratar-se de imóvel rural.

Inicialmente, cabe reconhecer que os artigos 12 da Lei nº 5.868/72 e 1º da Lei nº 9.393/96


não foram objeto de análise na Instância a quo. Ausente assim o requisito essencial do
prequestionamento, viabilizador do exame do recurso especial. Incidem, portanto, o teor das Súmulas
282 e 356 da Suprema Corte.

Assim, conheço do recurso especial somente quanto à suscitada ofensa ao artigo 32 do


Código Tributário Nacional, objeto de análise pelo acórdão recorrido.

O artigo 32, § 1º, do Código Tributário Nacional conceitua os imóveis localizados em área
urbana, passíveis da cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano-IPTU, cuja competência é dos
Municípios, como se pode verificar:

"Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade


predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a
posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil,
localizado na zona urbana do Município.
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida
em lei municipal, observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos
indicados em pelo menos dois dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder
Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública com ou sem posteamento para distribuição
domiciliar;

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V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três)
quilômetros do imóvel considerado."

O Tribunal a quo, apoiado nos elementos constantes dos autos,. negou provimento ao
recurso de apelação, pelos seguintes fundamentos:

"Verificado o disposto nos arts. 29 e 32 do Cód. Tributário Nacional, como no


art. 15 do Decreto-lei nº 57/66, recebido como lei de natureza complementar pela
Constituição Federal de 1967 e pela Emenda Complementar nº 1/69, tem-se que aos
municípios se confere o direito de arrecadar o imposto de sua competência dos imóveis
situados na zona urbana, definida em lei municipal, qualquer que seja sua destinação,
ressalvados aqueles utilizados em exploração extrativa vegetal, agrícola, pecuária ou
agro-industrial, sobre os quais incide o Imposto Territorial Rural.
É o caso dos autos, onde se verifica que o imóvel tributado é explorado
economicamente como propriedade rural, pagando o Imposto Territorial Rural,
conforme demonstrado pela documentação acostada pelas recorridas, sendo certo que
esta condição não foi contrariada pela Municipalidade. Antes em requerimento
administrativo chegou mesmo a admitir esse fato com relação aos anos de 1994 a 1996"
(fls. 201-202).

Aquela Corte concluiu, o imóvel "é explorado economicamente como propriedade rural,
pagando o Imposto Territorial Urbano", fato não contestado pelo ora recorrente, ou seja, há nos autos
provas concludentes de que o imóvel tem como finalidade a exploração extrativa vegetal.

O artigo 15 do Decreto-Lei nº 57/66 exclui da incidência do IPTU os imóveis cuja


destinação seja, comprovadamente a de exploração agrícola, pecuária ou industrial, sobre os quais
incide o Imposto Territorial Rural-ITR, de competência da União. Confira-se:

"Art 15. O disposto no art. 32 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não


abrange o imóvel de que, comprovadamente, seja utilizado em exploração extrativa
vegetal, agrícola, pecuária ou agro-industrial, incidindo assim, sobre o mesmo, o ITR e
demais tributos com o mesmo cobrados."

Da leitura do dispositivo legal, pode-se concluir que, tratando-se de imóvel cuja finalidade é
a exploração extrativa vegetal, ilegítima é a cobrança, pelo Município, do IPTU, cujo fato gerador se dá
em razão da localização do imóvel e não da destinação econômica.

Nesse sentido, esta Corte tem precedentes, dos quais destaco:

"TRIBUTÁRIO. IPTU E ITR. INCIDÊNCIA. IMÓVEL URBANO.


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IMÓVEL RURAL. CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS. LOCALIZAÇÃO E
DESTINAÇÃO. DECRETO-LEI N. 57/66. VIGÊNCIA.
1. Não se conhece do recurso especial quanto a questão federal não
prequestionada no acórdão recorrido (Súmulas n. 282 e 356/STF).
2. Ao disciplinar o fato gerador do imposto sobre a propriedade imóvel e definir
competências, optou o legislador federal, num primeiro momento, pelo estabelecimento
de critério topográfico, de sorte que, localizado o imóvel na área urbana do município,
incidiria o IPTU, imposto de competência municipal; estando fora dela, seria o caso do
ITR, de competência da União.
3. O Decreto-Lei n. 57/66, recebido pela Constituição de 1967 como lei
complementar, por versar normas gerais de direito tributário, particularmente sobre o
ITR, abrandou o princípio da localização do imóvel, consolidando a prevalência do
critério da destinação econômica. O referido diploma legal permanece em vigor,
sobretudo porque, alçado à condição de lei complementar, não poderia ser atingido pela
revogação prescrita na forma do art. 12 da Lei n. 5.868/72.
4. O ITR não incide somente sobre os imóveis localizados na zona rural do
município, mas também sobre aqueles que, situados na área urbana, são
comprovadamente utilizados em exploração extrativa, vegetal, pecuária ou
agroindustrial.
5. Recurso especial a que se nega provimento" (REsp 472.628/RS, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, DJU de 27.09.04).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

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