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engenharia

F U N D A Ç Õ E S

Estacas hélice
contínua e ômega:
aspectos executivos

A
INTRODUÇÃO nha, de onde se espalhou para o resto
engenharia de fundações da Europa e Japão (Penna et. al., 1999).
vem evoluindo constante- As estacas hélice contínua tiveram
mente em busca de novos um grande desenvolvimento a partir da
elementos de fundação, que década de 1980 nos Estados Unidos,
possuam alta produtivida- Japão e Europa, inicialmente com equi-
de, ausência de vibrações e ruídos na pamentos adaptados para a sua exe-
execução, elevada capacidade de carga cução e, posteriormente, com equipa-
e controle de qualidade durante a exe- mentos apropriados e específicos para
cução da estaca, entre outros aspectos. a execução destas estacas.
Dentro deste propósito surgiram no No Brasil, as estacas hélice contí-
mercado de trabalho recentemente e ti- nua foram introduzidas por volta de
veram um grande desenvolvimento nos 1987. Só a partir de 1993, houve um
últimos anos, as estacas hélice contí- grande progresso e desenvolvimento
nua, sendo hoje uma estaca de enorme do uso destas estacas no Brasil. Isto
interesse comercial nos grandes cen- começou com a importação de equipa-
tros urbanos do país. Mais recentemen- mentos específicos para executar esta-
te, ainda com pouco uso, comparando- cas hélice contínua. A partir de então,
se com a hélice contínua, surgiram as com equipamentos importados com
estacas ômega, que podem também se maior força de arranque e com torques
transformar em estacas de uso tão in- de até 85 KN.m, possibilitou-se a exe-
tenso quanto à própria hélice contínua. cução de estacas de até 800 mm de diâ-
metro e comprimento máximo de 24
HISTÓRICO metros. Hoje em dia, é possível execu-
Estacas hélice contínua tar estacas com 1.200 mm de diâmetro
O emprego de estacas executadas e 32 metros de comprimento. E com a
com trado hélice contínua, surgiu na evolução crescente dos equipamentos,
década de 1950 nos Estados Unidos. Os a gama de opções de diâmetros e pro-
equipamentos eram constituídos por fundidades tende a aumentar.
guindastes de torre acoplada, dotados
de mesa perfuradora que executavam Estacas ômega
estacas com diâmetros de 27,5 cm, 30 As estacas ômega são recentes no
cm e 40 cm. No início da década de 1970, mercado, sendo consideradas estacas de
esse sistema, foi introduzido na Alema- última geração. Assim como a ômega,
as estacas Atlas, De Waal e Spire são
JOSÉ ALBUQUERQUE DE ALMEIDA NETO
MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL PELA ESCOLA POLI-
consideradas screw piles (estacas apara-
TÉCNICA DA USP. E-mail: albuquerquenet@bol.com.br fusadas) de nova geração (Bustamante
ROBERTO KOCHEN & Gianeselli, 1998). As screw piles são
PROFESSOR DOUTOR, ESCOLA POLITÉCNICA DA USP,
DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE estacas em que a perfuração é feita por
CONSTRUÇÕES CIVIS DO INSTITUTO DE ENGENHA- um trado de forma cônica, que perfura o
RIA E DIRETOR-TÉCNICO DA GEOCOMPANY TECNO-
LOGIA, ENGENHARIA & MEIO AMBIENTE. E-mail: solo como um parafuso, com desloca-
kochen@geocompany.com.br mento lateral de solo.
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No fim do ano de 1993, o pro- 0,56. O abatimento (slump) do con-


fessor Van Impe desenvolveu pes- creto situa-se entre 200 e 240 mm.
quisas em estacas Atlas, com o in- Assim como a perfuração, a con-
tuito de otimizar a taxa de penetra- cretagem deve ocorrer de forma
bilidade, a energia utilizada e um contínua e ininterrupta, mantendo
melhor controle do deslocamento as paredes onde se formará a esta-
de solo durante a execução das es- ca, sempre suportadas (acima da
tacas Atlas. Para atingir seus obje- ponta do trado, pelo solo encon-
tivos, Van Impe alterou o formato trado entre as pás da hélice, e abai-
da ponta (cabeça) da estaca Atlas xo, pelo concreto que é injetado).
(figura 1), criando aberturas de pou- Durante a extração da hélice, a
cos centímetros na flange da hélice limpeza do solo contido entre as
Atlas. Partindo dos resultados des- pás, é feita manualmente ou com um
ta pesquisa e do formato desta es- limpador de acionamento hidráu-
taca Atlas alterado (figura 1), sur- Figura 1 – Ponta da estaca hélice Atlas normal (a) lico ou mecânico acoplado ao equi-
giram os princípios tecnológicos e e a ponta alterada para pesquisas por Van Impe (b) pamento, que remove este material,
o formato hélice parafuso da ponta (Van Impe, 1994) sendo este, removido para fora da
da estaca ômega. região do estaqueamento com o uso
Comercialmente, as estacas ômega de solo ou água na haste tubular, existe de pá carregadeira de pequeno porte.
foram introduzidas no mercado euro- na face inferior da hélice uma tampa Colocação da armadura - As estacas hé-
peu no ano de 1995, primeiramente na metálica provisória que é expulsa na lice contínua têm suas armaduras ins-
Bélgica pela empresa Socofonda. Em concretagem. Esta tampa geralmente é taladas somente após a concretagem,
1996, foram introduzidas na França pela recuperável. isto pode ser um fator limitante do com-
Sols & Foundation. No Brasil, estas es- Concretagem - Atingida a profundida- primento da armadura e, também, pode
tacas, surgiram em 1997. Devido às suas de desejada, inicia-se a concretagem impossibilitar o uso destas estacas quan-
características, provavelmente seu uso da estaca, por bombeamento do con- do sujeitas a esforços de tração ou quan-
se disseminará pelo país e se tornará creto pelo interior da haste tubular. do utilizadas como elemento de conten-
bem mais popular do que é hoje em dia. Devido a pressão do concreto, a tam- ção. As armaduras podem ser instala-
pa provisória é expulsa. A hélice pas- das por gravidade, por compressão de
PROCESSO EXECUTIVO sa a ser extraída pelo equipamento, um pilão ou por vibração – sendo esta
Estacas hélice contínua sem girar ou, no caso de terrenos are- última a recomendada na literatura in-
A execução das estacas hélice con- nosos, girando muito lentamente no ternacional. No Brasil, entretanto, a co-
tínua pode ser dividida em três etapas: sentido da perfuração. locação da armadura por golpes de um
perfuração, concretagem simultânea a O concreto é injetado sob pressão pilão tem sido a mais utilizada na práti-
extração da hélice do terreno, e coloca- positiva. A pressão positiva visa garan- ca. A utilização de pilão permitiu execu-
ção da armadura. tir a continuidade e a integridade do tar estacas com armadura de 19 metros
Perfuração - A perfuração é executada fuste da estaca, e, para isto, é necessá- de comprimento, na garagem subterrâ-
por cravação da hélice no terreno por rio que se observe dois aspectos execu- nea do Hospital das Clínicas em São
rotação, com um torque apropriado tivos. O primeiro é garantir que a ponta Paulo, e de mais de 17 metros na Esta-
para que a hélice vença a resistência do trado, durante a perfuração, tenha ção da Luz, CPTM (valas da Rua Mauá
do solo, alcançando a profundidade atingido um solo que permita a forma- e Pinacoteca do Estado).
determinada em projeto. A perfuração ção da bucha, para que o concreto inje-
é executada sem que em nenhum mo- tado se mantenha abaixo da ponta da Estacas ômega
mento a hélice seja retirada do furo. O estaca, evitando que o mesmo suba pela A ponta parafuso ômega - A ponta da hé-
torque é aplicado por meio de uma mesa interface solo-trado. O segundo aspec- lice ômega consiste de um longo parafu-
rotativa situada no topo da hélice. to é o controle da velocidade de retira- so de aço de diâmetro incrementado
A haste de perfuração é constituída da do trado, de forma que sempre haja descontinuamente no topo, com variados
da hélice espiral, responsável pela reti- um sobreconsumo de concreto. graus de inclinação, para cada diâmetro
rada de solo, e um tubo central solida- O concreto normalmente utilizado diferente (Bottiau & Cortvrindt, 1994). Na
rizado a esta hélice. A hélice é dotada apresenta resistência característica figura 2 apresenta-se um detalhamento
de dentes em sua extremidade inferior (fck) de 20 MPa, é bombeável, e com- da ponta do parafuso hélice ômega.
que auxiliam a sua penetração no solo. posto de areia e pedrisco. O consumo A forma do parafuso foi desenvol-
Em terrenos mais resistentes, esses de cimento é elevado, entre 400 a 450 vida de tal maneira que o volume de
dentes podem ser substituídos por Kg/m3. O uso de aditivos plastificantes solo transportado entre as pás da héli-
pontas de vídia. Para que não haja, tem sido muito usado. O fator água-ci- ce ômega pode ser armazenado em cada
durante a fase de perfuração, entrada mento é geralmente em torno de 0,53 a nível para as diferentes seções da héli-
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ce parafuso. Por exemplo, o volu- cesso de aparafusamento


me entre as pás da seção VI - VI da hélice ômega no solo,
da figura 3 é igual ao volume en- podendo ser empregada a
tre as pás da seção V - V. Este solo mesma máquina utilizada
é deslocado até atingir o nível do para as estacas hélice con-
diâmetro nominal, sendo então tínua, com um torque apro-
compactado à lateral do furo. priado, para que o parafu-
Acima do diâmetro nominal, so vença a resistência do
há mais quatro pás, cada uma se solo, alcançando a pro-
estendendo por aproximadamen- fundidade determinada
te 225 graus em torno do eixo da em projeto. O torque é apli-
hélice ômega, sobrepondo-se por, cado por meio de uma
aproximadamente, 45° uma so- mesa rotativa, situada no
bre a outra (detalhe 3 da figura 2). topo da hélice parafuso.
Todo material que, eventualmente, Assim como para a
desmorona do furo da estaca so- hélice contínua, a ponta
bre a parte superior do parafuso, é recuperada com solda Figura 2 - Detalhes da ponta hélice ômega (Fundesp, 2002)
é transportado pelas pás superi- dura apropriada após
ores em sentido à ponta, sendo desgaste e existe na face inferior da hé- nal do material de descarte. Assim sen-
posteriormente, compactado late- lice, uma tampa metálica provisória re- do, também não haverá o problema de
ralmente até atingir o nível do di- cuperável, que é expulsa na fase de con- subida de concreto pelas pás.
âmetro nominal. cretagem. Colocação da armadura - A colocação
Para a figura 2 a seguinte le- Concretagem - O processo de concre- da armadura nestas estacas pode ser
genda se aplica: 1) seção vazada tagem é muito similar ao da hélice feita após a concretagem, como para a
do tubo por onde desce o concreto; contínua. Na extração do trado, o giro hélice contínua, ou concomitante à con-
2) tubo de aço; 3) pá da hélice su- é mantido lento e no mesmo sentido cretagem. No Brasil, usualmente, a ar-
perior (no total a parte superior é da perfuração, garantindo o desloca- madura está sendo instalada posteri-
composta de 4 pás); 4) abas ou mento do solo. ormente a concretagem.
aletas metálica; 5) seccionamento O concreto utilizado possui as mes-
do diâmetro; 6) diâmetro nominal; mas características e propriedades do MONITORAMENTO
7) pá da hélice ômega; 8) ângulo utilizado para a hélice contínua e já E CONTROLE DE EXECUÇÃO
de transição (marca a mudança abordado aqui. Como não possui hélice As estacas hélice contínua e esta-
de diâmetro); 9) tampa metálica com pás, e não retira solo durante a sua cas ômega são monitoradas na execu-
provisória. execução, esta estaca dispensa o limpa- ção por meio de um sistema computa-
Van Impe (1994) afirma que a dor mecânico para as pás da hélice. Não dorizado específico. O equipamento
combinação do passo e diâme- é necessária a retirada e disposição fi- utilizado para a monitoração destas
tro crescente na ponta do pa- estacas é o mesmo. O equipamento
rafuso, associados à forma da mais comum usado no Brasil é o apa-
parte superior do parafuso, ga- relho chamado Taracord, lembran-
rante melhor deslocamento la- do-se que existem outros. Estes equi-
teral de solo e maior penetra- pamentos permitem a obtenção dos
bilidade à hélice parafuso da seguintes dados: profundidade, tem-
ômega, sem qualquer parcela po, inclinação da torre, velocidade
de solo transportado. de penetração do trado, velocidade
de rotação do trado, torque, veloci-
Metodologia Executiva dade de retirada (extração) da héli-
A metodologia executiva da ce, volume de concreto lançado, e
estaca ômega é similar à da héli- pressão do concreto.
ce contínua. Ambas são executa- Após executada a estaca, o equi-
das em três etapas (perfuração, pamento produz uma folha de con-
concretagem e armação), diferenci- trole com os referidos dados. Esta
ando-se basicamente na etapa de folha de controle pode ser impressa
perfuração. no local, com o uso de uma impres-
Perfuração - A perfuração é executa- sora de campo ligada ao equipamen-
da por cravação do parafuso da ômega Figura 3 - Seqüência executiva de estacas ômega to por meio de interface paralela ou
no terreno por rotação, como um pro- (Bottiau et. al., 1998) armazenada em cartão de memória
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e instalações. Também, de acessibilida- início ou reinício da concretagem, ao tér-


de e deslocamentos da perfuratriz den- mino do concreto de um caminhão e iní-
tro das instalações da própria obra, e cio do bombeamento de concreto de um
de capacidade de suporte do terreno novo caminhão. Pode haver uma subida
mediante o equipamento. demasiadamente rápida da perfuratriz.
Hélice ômega preparada para iniciar a A programação de fornecimento do Pressão de injeção - A pressão de inje-
perfuração na estação Vila das Belezas concreto deve ser previamente estuda- ção do concreto influi na homogenei-
da, definida e concretizada de forma a dade e integridade da estaca. A pres-
e depois transferido os dados para um evitar-se quaisquer atrasos e conse- são normalmente utilizada é de 1 a 2
computador no escritório. qüentes interrupções ou impedimentos bar, sendo zero para os casos de execu-
Apesar da monitoração nos fornecer à condução otimizada dos trabalhos. ção em camadas de argilas moles ou
o valor do sobreconsumo de concreto e Controle da concretagem - Este talvez solos muito fracos.
a variação da seção ao longo da profun- seja o item mais importante para a ga- Face o seu processo executivo, as
didade, a precisão e a confiabilidade rantia de qualidade da estaca. Ao mes- estacas ômega normalmente necessi-
destes pode ser discutida. Imprecisões e mo tempo é o fator que tem causado os tam de uma maior pressão na injeção
erros nos dados fornecidos pela moni- maiores problemas em estacas hélice na do concreto. Albuquerque (2001), obte-
toração podem ocorrer, por diversos prática, não só por dificuldades de se ve uma pressão de injeção do concreto
motivos. Entre eles, citamos: sistema de obter um concreto de qualidade devido de 74% a 134% maior para a estaca
monitoração não calibrado de forma ao processo executivo, mas também, em ômega, em comparação com a hélice
correta ou apresentando algum dano, razão do concreto não ser de responsa- contínua. Isto pode ser um fator limi-
danos nos sensores, bombas com muito bilidade da empresa executora da esta- tante ao processo em solos resistentes e
uso ou sem manutenção (o que causa ca, e sim da concreteira (fornecedora de rochas brandas
menor eficiência, conduzindo fatalmen- concreto), que é normalmente contrata- A pressão de injeção do concreto,
te a erros de medida de volume de con- da pela construtora da obra, e não pela pode influir na capacidade de carga
creto e por conseqüência de pressão de empresa executora das fundações. das estacas. Possivelmente, maior pres-
injeção), medidores mal ou não calibra- A substituição do pedrisco por pó de são de injeção leva a um maior confi-
dos e defeito nos cabos de transmissão pedra, por exemplo, pode causar perda namento lateral no fuste da estaca e a
de dados, entre outros. de resistência da estaca e efeito bucha um maior atrito lateral na mesma. Van
A precisão no valor de sobreconsu- no concreto durante a concretagem ou Impe et. al. (1998) realizaram estudos
mo ou subconsumo de concreto depen- até mesmo entupimento da mangueira. do comportamento de estacas ômega,
de da precisão do volume medido. O Um outro aspecto que pode causar instrumentando-as com tell-tales e mo-
volume de concreto é fornecido por um perda de desempenho em estacas hélice dificando os parâmetros de execução,
transdutor de pressão que informa o contínua e estacas ômega é na etapa de o que refletiu na forma da curva carga
volume de concreto por bombeada, ou x recalque e na capacidade de carga.
seja, a cada pico de pressão. A medida As estacas executadas com maior pres-
correta do volume de concreto é muito são de injeção e que tiveram fuste e base
importante, pois a partir dela, por meio alargadas obtiveram melhor comporta-
de correlações, determina-se se o fuste mento quanto à capacidade de carga.
da estaca esta íntegro, ou se esta ha- A pressão de concreto tratada até
vendo seccionamento do mesmo. aqui abordados referia-se a pressão no
topo da hélice dada por picos de pres-
ASPECTOS são, dada por um transdutor de pres-
RELEVANTES DA EXECUÇÃO são. A pressão real aplicada no contato
Entre outros diversos aspectos que ponta da hélice-solo, não é este valor
influem na correta execução das esta- exato e será influenciada pela pressão
cas hélice contínua e estacas ômega, do solo nos arredores da ponta da per-
pode-se destacar, os que seguem: furatriz.
Procedimentos prévios à execução das Segundo Brons & Kool (1988), para
estacas - Previamente ao início da exe- estacas hélice contínua, há uma frágil
cução das estacas existem alguns pro- correlação entre a pressão medida no
cedimentos importantes que cabe aqui topo e a pressão aplicada na ponta da
relatar. Em função do tamanho e porte hélice. Estes valores podem apresentar
dos maquinários necessários para a uma grande dispersão, tanto para esta-
execução destas estacas, há necessida- Pilão utilizado para execução de estacas cas hélice contínua como para estacas
de de avaliação de possíveis trajetos e hélice contínua na estação da Luz, próxi- ômega, pois esta dispersão de valores
itinerários para acesso ao local da obra ma aos prédios da rua Mauá. se dará em razão da diferença na
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plasticidade do concreto ao longo


do tubo de concretagem, rugosi-
dade do tubo, diâmetro da estaca,
velocidade de extração da perfu-
ratriz, propriedades do concreto,
fator água-cimento e outros. Estes
fatores somados serão responsá-
veis pela pressão na ponta da hé- Figura 4 - Pressão medida no topo da hélice em comparação com a pres-
lice contínua ou parafuso ômega. são abaixo da ponta (Brons & Kool, 1988)
Em muitos casos, a pressão na
ponta da perfuratriz não será a creto (bomba, mangueira etc.), esteja em ASPECTOS GEOTÉCNICOS
soma da pressão aplicada no perfeito estado de funcionamento. Lem- Solos muito resistentes - A execução
topo mais a coluna de concreto bramos que, todos estes aspectos trata- neste tipo de terreno merece do execu-
dentro do tubo de concretagem. dos aqui com relação ao sistema de in- tor de estacas hélice contínua, um cui-
Verifica-se isto, através da figura 4, jeção de concreto, são válidos para am- dado especial, pois com o intuito de se
donde constatamos que a maioria bas as estacas, já que o sistema utiliza- garantir o comprimento mínimo da
dos pontos se situam à direita da do é o mesmo para estes dois tipos de estaca, é necessário algumas vezes,
reta a 450 que parte da origem, o estacas. “aliviar” a perfuração, ou seja, girar o
que representa que a pressão logo Quanto ao sistema de injeção, outro trado parado para quebrar o atrito e
abaixo da ponta da hélice contí- aspecto que merece consideração é a possibilitar o avanço. Tal procedimen-
nua, é maior que a pressão apli- chamada limpeza de rede (limpeza do to, na medida em que transporta o
cada no topo e fornecida pela mo- sistema de injeção de concreto). Como solo, provoca desconfinamento do ter-
nitoração. No entanto, está lon- descrito por Velloso & Alonso (2000), ao reno e, assim, redução da capacidade
ge de ser a soma da pressão apli- final de um dia de trabalho, o cocho é de carga. Este alívio, também pode ser
cada no topo mais a coluna de con- limpo com aplicação de óleo. Antes de necessário, em algumas vezes na ex-
creto, que neste caso está represen- se começar a primeira estaca do dia se- tração da hélice.
tada pela segunda linha que sai guinte a rede precisa ser lubrificada para No caso de estacas ômega, a maior
do ponto 4,0 bar para pressão permitir uma fluência do concreto. Para dificuldade que este tipo de terreno
logo abaixo da ponta da estaca e 0 esta lubrificação costuma-se misturar apresenta à sua execução é a força ne-
bar de pressão no topo da hélice, e dois sacos de cimento (de 50 Kg) em cer- cessária para a perfuração, já que esta
no desenho está indicada pela ex- ca de 200 litros de água (calda de lubri- estaca necessita de mais torque que a
pressão no friction. ficação) dentro do cocho. Então, a calda hélice, e em solos resistentes isto difi-
Sistema de injeção do concreto - é lançada por meio de bombeamento do culta em muito a sua execução. Além
Para que a estaca seja corretamente concreto, como se a estaca estivesse sen- de que para a ômega, não há o recurso
executada, e atinja requisitos de do concretada. Quando toda a calda ti- de “aliviar” o solo para auxiliar na
qualidade e desempenho, para a ver sido lançada fora e se estiver garan- perfuração, como é feito para a hélice
qual foi projetada, é importante tido de que toda a rede já está com con- contínua.
que o sistema de injeção de con- creto, interrompe-se o lançamento do Camada de argila mole confinada - A
mesmo, tampa-se o trado e inicia-se a execução em camadas de argilas moles
perfuração da estaca. confinadas é problemática em relação
O não cumprimento de tal medida a um elevado sobreconsumo de concre-
pode comprometer o desempenho da to e à ruptura do solo em razão da pres-
estaca. Velloso & Alonso (2000), na são do concreto.
mesma publicação, mostram o compor- Na concretagem, tem que haver
tamento de duas estacas hélice contí- um controle rigoroso da subida do
nua de pequeno diâmetro (25cm e 12m trado, para garantir o sobreconsumo,
de comprimento), distantes entre si de e assim, a integridade da estaca.
1,40 m e executadas, uma sem limpeza Como o solo é frágil e o concreto é
e a outra com limpeza de rede. A estaca injetado sob pressão, o sobreconsu-
executada com limpeza de rede teve, mo deverá ser grande, por ruptura
durante a prova de carga estática, um do solo desta camada. Normalmen-
comportamento normal, enquanto que te por estes motivos, concreta-se sob
Proximidade do equipamento e da ar- a executada sem limpeza, sofreu um pressão nula nesta camada. Há re-
madura na sua colocação com os prédi- recalque brusco ao atingir 350 KN, só gistros, com sucesso, de obras em que
os antigos da rua Mauá, estacas hélice retomando a carga após um recalque a camada mole tinha 6,00 metros de
contínua executadas na estação da Luz de 36,15 mm. espessura.
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Camada de argila mole superficial - Nes-


te caso, o maior problema pode ser o peso REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, P. J. R. (2001) - Esta-
do equipamento que pode ser excessivo
cas escavadas, hélice contínua e ômega:
para a capacidade de suporte do terre- estudo do comportamento à compres-
no, como descrito no item procedimen- são em solo residual de diabásio, através
tos prévios a execução das estacas. Em de provas de carga instrumentadas em
profundidade. 260 p. Tese (Doutorado)
alguns casos, pode ser necessária a es-
- Escola Politécnica, Universidade de São
cavação da camada superficial até se Paulo.
atingir uma camada de maior capaci- ALMEIDA NETO, J. A. (2002) - Análise
dade de carga para suporte do equipa- do desempenho de estacas hélice contí-
nua e ômega – Aspectos executivos. 187
mento de execução da estaca. Com rela- Vala com estacas hélice contínua e esta- p. Dissertação (Mestrado) - Escola Poli-
ção à execução da estaca, a concretagem cas hélice contínua atirantadas já esca- técnica, Universidade de São Paulo.
deve ser feita até se atingir a cota do ter- vada e estroncada na estação da Luz BOTTIAU, M.; CORTDVRINDT, G.
reno, pois, caso contrário, pode haver (1994) - Recent experience with the omega-
pile. In: INTERNATIONAL CONFEREN-
desmoronamento de solo que pode con- CONSIDERAÇÕES FINAIS
CE AND EXHIBITION ON PILING AND
taminar o concreto da cabeça da estaca. O desempenho destas estacas, pri- DEEP FOUNDATIONS, 5th, Bruges. Pro-
Por falta de capacidade de suporte mordialmente da hélice contínua, será ceedings. Bruges: DFI, p. 3.11.1 - 3.11.7.
do solo, a concretagem não pode ser severamente influenciado pela perícia BOTTIAU, M.; et. al. (1998) - Load testing
at feluy test site: introducing the Omega
feita também com pressão, normalmen- e experiência do operador do equipa- B+ pile. In: INTERNATIONAL GEOTE-
te a pressão de concretagem para este mento de execução da estaca. Na práti- CHINICAL SEMINAR ON DEEP FOUN-
tipo de solo é zero. Por isso, recomen- ca têm-se verificado maiores problemas DATIONS ON BORED AND AUGER
da-se armar a estaca ao longo de toda em relação ao controle e garantia de um PILES, 3rd, Ghent-Belgium. Proceedings.
Rotterdam: A. A. Balkema, p. 187-199.
camada mole. concreto de características tais, que per- BRONS, K. F.; KOOL, A. F. (1988) -
Cita-se ainda a possibilidade, do mita a colocação da armadura, e alcan- Methods to improve the quality of auger
trado hélice contínuo, puxar o equipa- ce o desempenho previsto para a esta- piles. In: INTERNATIONAL GEOTECHI-
mento de execução para baixo, com a ca. O problema de exsudação é freqüen- NICAL SEMINAR ON DEEP FOUNDA-
TIONS ON BORED AND AUGER PI-
hélice ficando instável ou até mesmo te nestes tipos de estacas. LES, 1 st , Ghent-Belgium. Proceedings.
tombar antes da perfuração. A monitoração é uma ferramenta Rotterdam: A. A. Balkema. p. 269-272.
E, finalmente, deve-se tomar cuida- valiosa de controle do processo de exe- BUSTAMANTE, M.; GIANESELLI, L.
do, para garantir que o topo do trado cução, porém não é perfeita, e está su- (1998) - Installation parameters and
capacity of screwed piles. In: INTERNA-
sempre esteja acima da cota superior jeita a imprecisões de medidas, devi- TIONAL GEOTECHINICAL SEMINAR
da argila mole, evitando-se que a pro- do a correlações utilizadas para me- ON DEEP FOUNDATIONS ON BORED
longa (região sem trado) atinja esta ca- dições de pressão de injeção, por AND AUGER PILES, 3 rd , Ghent-Bel-
mada, e devido a ausência de trado sem exemplo, e a erros devidos a danos no gium. Proceedings. Rotterdam: A. A.
Balkema. p. 95 -108.
solo, crie um alívio. sistema de monitoração, calibração FUNDESP (2002) - Comunicação pes-
Camadas de areias puras na região da não adequada do sistema, danos nos soal.
ponta - Em estacas hélice contínua, nes- sensores, bombas com muito uso ou PENNA, A. S. D. et. al. (1999) - A esta-
te tipo de terreno, deve-se ter cuidado sem manutenção, defeitos nos cabos ca hélice contínua - a experiência atual.
1 a. ed. São Paulo: FALCONI, F. F. &
para garantir a resistência de ponta. de transmissão de dados, entre outros. MARZIONNA, J. D. (Ed.). ABMS/
Para isto, deve-se iniciar a concretagem Portanto, não deve ser desprezado um ABEF/IE. 162p.
com giro lento do trado, no sentido da controle rigoroso da execução, por VAN IMPE, W. F. (1994) - Influence of
introdução do trado, de modo a criar parte de um engenheiro de fundações screw pile installation parameters on the
overall behaviour. Workshop “Piled
um componente ascendente e evitar a que conheça muito bem os aspectos foundations: full scale investigations,
queda de grãos de areia. Esse giro deve relacionados ao processo executivo analysis and design”. Napels, dez. 1994.
ser lento para minimizar o efeito de destas estacas. VAN IMPE, W. F. et. al. (1998) - Load
transporte, evitando, assim, o descon- A folha de controle obtida na moni- settlement behaviour versus distinctive -
pile execution parameters. In: INTERNA-
finamento do solo. toração eletrônica destas estacas pode TIONAL GEOTECHINICAL SEMINAR
Em areias, pode ocorrer grande mo- tornar-se uma importante ferramenta ON DEEP FOUNDATIONS ON BORED
bilização de tensões, o que implicará de controle dos parâmetros de projeto, AND AUGER PILES, 3 rd , Ghent-Bel-
em elevado torque necessário para a desde que, pesquisas futuras permitam gium. Proceedings. Rotterdam: A. A.
Balkema. p. 355-366.
execução de estacas hélice contínua correlacionar estes com os dados for- VELLOSO, D. A. ; ALONSO, U. R.
(Van Impe, 1994). Neste tipo de terreno, necidos pela monitoração. Maiores de- (2000) - Previsão, controle e desempenho
para estaca ômega, não foi verificado talhes executivos e outros aspectos que de fundações. In: NEGRO Jr. et. al. pre-
visão de desempenho x comportamento
até o momento comportamento anôma- influenciarão no desempenho destas
real. São Paulo: ABMS/NRSP. p. 95-139,
lo ou dificuldades extras à sua execu- estacas podem ser obtidos no trabalho nov. 2000.
ção que sejam relacionadas ao terreno. de Almeida Neto (2002).
ENGENHARIA/2003
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