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Como evitar conflitos no trabalho, se destacar durante a crise e crescer quando ela
passar
Por MURILO OHL E RENATA AVEDIANI
A pesar de engraçado, o desenho que ilustra a página ao lado mais se assemelha a uma representação
do inferno corporativo. É o chefe tentando puxar o tapete do colega de equipe; o gerente que quer dar um
murro nas fuças da diretora, por não conseguir alinhar com ela as metas para o trimestre; o analista que,
observando todo esse caos, não vê a hora de a sexta-feira chegar, para descer a serra rumo à praia; e a
assistente que, diante de tudo isso, só pensa em procurar um emprego novo. Pois é, o desenho é um
esboço do que pode vir a ser o seu dia-a-dia este ano. Estamos diante de uma das maiores crises
econômicas da história. O impacto dela sobre as empresas ainda é incerto. Já o seu efeito sobre os
nervos das pessoas é imediato. “A crise desperta o medo de perder o emprego e isso leva os
profissionais a adotar atitudes defensivas”, diz o professor Joel Dutra, coordenador do Programa em
Gestão de Pessoas, da Fundação Instituto de Administração, de São Paulo.
Mas não é só isso. Mudaram também as regras do jogo e aumentou a pressão sobre os altos executivos
— vice-presidentes e diretores. Isso torna a cobrança maior nos níveis abaixo dos cartolas. As avaliações
de desempenho, antes feitas de forma descontraída e até displicente, visto que os resultados eram quase
sempre garantidos, agora ficam bem mais sérias. Daqui pra frente, é bom ser muito específico ao justificar
uma meta não atingida. Diante desse quadro, os conflitos emergem com mais facilidade. “Perde-se a
descontração e o escritório pode virar um barril de pólvora”, diz o professor Joel. Se deixar contaminar
pela tensão que está no ar, pode ser uma terrível armadilha para a sua carreira.
Por isso, mapeamos as situações mais críticas que podem aparecer nesse cenário em que tudo está de
pernas para o ar. A reportagem de Você S/A ouviu 23 executivos, especialistas do mercado, acadêmicos,
consultores e headhunters para entender qual o impacto dos fatores externos sobre o ambiente de
trabalho e de que forma as pessoas reagem em momentos de incerteza. Cruzamos o resultado dessas
entrevistas com as histórias que os internautas nos enviaram ao longo do último mês, relatando como a
crise está afetando o cotidiano nas empresas em que eles trabalham. Assim chegamos às 20 situações
mais desafiadoras nesse cenário (confira na coluna abaixo). A partir delas, apresentamos — junto com os
especialistas ouvidos pela reportagem — 56 atitudes que farão você atravessar bem este período de
incertezas, superando os dramas e saindo ainda mais forte quando a poeira baixar. Vire a página e boa
leitura.
14 PERGUNTE-SE COMO
Questione no dia-a-dia de sua área como economizar. Como reduzir o desperdício de papel? Dá para
adiar investimentos, como? Com que fornecedores posso renegociar valores? E pense em alternativas.
15 NÃO SE PRECIPITE
Sob pressão, as pessoas tendem a agir pior do que em condições normais. Isso vale para chefes e
colegas. Evite fazer julgamentos precipitados. Avalie as diferenças na forma como uma pessoa se
relaciona com chefes e subordinados — principalmente se ela trata esses últimos com respeito. Quando a
poeira baixar, você vai saber separar alhos de bugalhos.
17 PRATIQUE A AUTOMOTIVAÇÃO
Alguns artifícios podem manter a sua motivação em alta. Confira:
• Converse com muita gente > A troca de experiências vai ajudá-lo a perceber que as incertezas da crise
afetam os outros. É, o problema não é só seu.
• Busque o simples > Retome aquelas pequenas coisas, que por vezes ficam de lado, mas que melhoram
(e muito!) o astral fora do trabalho. Por exemplo, ir a academia.
• Estabeleça pequenas metas > Combine com seu chefe metas informais intermediárias. Cumpri-las vai
lhe dar forças para buscar o objetivo principal.
19 MEÇA AS PALAVRAS
Durante a crise é preciso ter mais sensibilidade para dar opiniões. Você pode ter um estilo pessoal, mas
tente variar o jeito de falar conforme o interlocutor. Por exemplo, você acha que um comentário crítico vai
colaborar com o trabalho da sua equipe? Antes de fazê-lo, verifique se, no lugar de ajudar, você não
criará um transtorno maior. Resumindo: calcule bem os efeitos do que você diz.
21 RESPIRE FUNDO
Sabe aquela promoção que o chefe havia prometido? E aquela bolsa para o MBA? Não se surpreenda se
planos desse tipo forem congelados. As empresas estão cortando investimentos novos. “É preciso estar
preparado para frustrações, porque elas vão ocorrer com frequência”, diz Patrícia Molino, da KPMG.
Encare possíveis adiamentos como algo temporário e baixe as expectativas. Assim, diminuem as chances
de você se desmotivar.
22 AGUENTE O TRANCO
A sobrecarga de trabalho é uma das principais reclamações de profissionais e uma fonte permanente de
conflitos no trabalho. Neste ano, com demissões e equipes enxutas, a coisa tende a piorar. Para dar
conta de tudo, fique atento às prioridades. “Se tentar atender todas as demandas, você não fará nenhuma
bem feita”, diz José Augusto Minarelli, presidente da consultoria Lens & Minarelli Associados, de São
Paulo. Portanto, organize-se:
• liste tarefas e solicitações;
• separe o importante do urgente;
• comunique os envolvidos;
• se um deles chiar — mesmo que seja o chefe —, mostre seus critérios de priorização e a importância
disso para o bom desempenho do trabalho.
24 DESCARTE A RÁDIO-PEÃO
Na crise, a fofoca aumenta. Esse é um sério risco à sua produtividade. Tome muito cuidado para não se
enrolar com a boataria. Se o assunto for sobre a empresa, a melhor solução é esclarecer com o chefe.
Como isso nem sempre é possível , observe o ambiente atentamente e tire suas próprias conclusões.
Repercutir fofocas, nem pensar. Além de ser perda de tempo, faz mal à sua imagem. “Aos fofoqueiros
não é confiada a liderança de grupos ou participações em projetos estratégicos”, diz Patrícia Molino, da
KPMG.
25 PÉ NO ACELERADOR
Aumente o empenho com que realiza suas tarefas. A pressão por resultados é uma realidade no mundo
corporativo, mas em momentos como este — com algumas equipes reduzidas, financiamentos mais
demorados e regras mais rígidas —, para atingir o mesmo resultado às vezes é preciso de uma dose
extra de sacrifício. Encare como uma fase e tenha claro aonde quer chegar (uma promoção,
reconhecimento, aprendizado). Assim, fica mais fácil aguentar as dificuldades!
30 APRENDA TRABALHANDO
As empresas vão investir menos no desenvolvimento de funcionários este ano. Se você não quer bancar
cursos caros agora, aproveite para aprender enquanto trabalha. Segundo dados da Fundação Instituto de
Administração (FIA), de São Paulo, 85% do desenvolvimento das pessoas ocorre na prática. Por isso,
aceite tarefas desafiadoras, peça ajuda, procure conhecer os dilemas de outras áreas e as soluções que
encontraram e encare as situações como inéditas. “Admitir a sua incapacidade para lidar com certas
situações é o primeiro passo para aprender”, diz Cláudio Garcia, da consultoria DBM.
34 ESCOLHA OS MELHORES
A perda de um talento produz efeitos graves. “A saída de um profissional-chave da empresa pode ser
onerosa e significar até a perda de negócios importantes”, diz Henri Vahdat, da Deloitte. Se você é gestor,
identifique quem são as pessoas imprescindíveis e cuide bem delas.
46 RESULTADOS JÁ!
Este ano os resultados terão de aparecer rapidamente. De maneira geral, as empresas estão mais
preocupadas em salvar o trimestre do que em planejar o futuro. “Elas precisam de profissionais que deem
passos curtos e precisos”, diz Elaine Saad, da Right Management. Avalie bem os riscos antes de tomar
decisões.
48 É CHATO? EU TOPO
“Em 2009 as tarefas podem não ser desafiadoras, mas é preciso fazer concessões”, diz Patrícia Molino,
da KPMG. Traduzindo: prepare-se para aceitar tarefas chatas. E gostar.
49 VÁ DIRETO AO PONTO
Seja objetivo. Este ano, ninguém tem tempo a perder e:
• pense por que aquela informação interessa ao interlocutor;
• liste os pontos mais relevantes;
• para cada tópico, estruture começo, meio e ? m para o discurso;
• escolha um bom momento para falar;
• fale de forma direta e simples;
• procure identificar o estilo de comunicação de cada pessoa.
55 EU DISCUTIA DEMAIS
Rogério Cabral, 36 anos, diretor comercial da empresa de previdência privada Previna, acabou com a
fama de brigão em seu emprego anterior por insistir em apresentar clientes que estavam fora do perfil da
empresa. “A cada cliente negado, eu batia o pé e discutia”, diz. Demorou seis meses para sacar que a
cultura da empresa era diferente. A partir daí, reformulou suas atitudes e melhorou seu desempenho.
ATITUDE: Antes de apresentar um novo cliente, Rogério passou a caprichar nos relatórios, com
argumentos mais consistentes e informações mais completas.
56 ENGAJE-SE
Evite assumir uma atitude individualista. Satisfazer-se apenas em cumprir suas tarefas e assegurar
somente o seu bônus são comportamentos que acabam por aliená-lo do que ocorre na empresa.
“Demonstre interesse pelo negócio”, sugere Cláudio Garcia, presidente da DBM. Essa atitude vai
melhorar sua empregabilidade. “Os profissionais preocupados apenas em segurar o cargo são
identificados e logo são mandados embora.”