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HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA E A

RESOLUÇÃO N. 09 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ANTÔNIO PEREIRA GAIO JÚNIOR

• Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra – PT

• Doutor em Direito pela Universidade Gama Filho

• Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho

• Pós-Graduado em Direito Processual pela Universidade Gama Filho

• Professor e Coordenador de Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito

• Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP

• Membro Efetivo das Comissões Permanentes de Direito Processual Civil e Direito da


Integração do Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB

• Advogado, Consultor Jurídico e Parecerista

www.gaiojr.adv.br

1. Breves noções em tema de Homologação de Sentença

Em sintonia com os conteúdos já por nós enfrentados em nosso Direito


Processual Civil. Vol. 3, isto quando da análise dos novos endereços
jurisdicionais e o papel da soberania estatal frente ao movimento transformador
ou mesmo, flexibilizador da clássica construção conceitual da função judicante
do Estado1, a Jurisdição, seja ela poder, função ou mesmo atividade estatal2 é
ato de soberania estatal e, neste sentido, restringe-se, em princípio, aos seus
limites territoriais.

1
Ver mais precisamente, o Capítulo 3 do nosso Direito Processual Civil. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2009.
2
NEVES, Celso. Estrutura Fundamental do Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p.3. No
mesmo sentido, confira o Capítulo 3 de nossa supracitada obra.
Importantes princípios de cooperação internacional3 recomendam que
decisões proferidas em tribunais alienígenas possam produzir efeitos em uma
variedade de países. O fenômeno é deveras interessante, pois que avança na
idéia segundo a qual determinado magistrado nacional poderá recepcionar a
decisão proferida por outro sistema jurisdicional.
Trata-se, portanto, da denominada Homologação4 de Sentença
Estrangeira, tendo-se como homologação o ato que torna uma sentença
estrangeira exeqüível na ordem jurídica interna, ou seja, permissão para que se
efetive em um país a execução de determinada sentença proveniente de órgão
judiciário de outro.
Por outro lado, cabe pontuar que o sistema de recepção de sentenças
estrangeiras não conhece uma regra universalmente harmônica, existindo, por
isso, países que não atribuem valor às decisões decorrentes de Cortes
estrangeiras, outros praticam a denominada reciprocidade pura sem
formalidades, tem-se ainda aqueles que emprestam caráter meramente
probatório aos provimentos estrangeiros e, por fim, os que reconhecem na
sentença estrangeira a mesma eficácia da decisão nacional mediante um
prévio juízo de delibação,5 por meio do qual se verifica o cumprimento de
3
Em se tratando, especificamente, do Processo Civil Internacional, tema que muito deve se ocupar o
processualista hodierno, comprometido com seu tempo, sobretudo pelo que se tem com viva realidade em
nossos tempos aquilo bem expressado por BOBBIO como uma real “mundialização” e “multiplicação”
dos direitos (BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos.Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 68 e ss.) e a
sempre necessária instrumentalização do processo como instrumento de realização do direito material,seja
em nível interno ou mesmo externo ao nacional de qualquer Estado.
EDUARDO VESCOVI (Derecho Procesal Civil Internacional. Montevidéu: Idea, 2000, p. 17 e segs.),
afinado com dito contexto jurídico, mas também e como se espera, não se desgrudando de aspectos
políticos, econômicos e sociais, aponta 5 princípios que devem nortear as relações que envolvem a
solução de controvérsias em mais de uma jurisdição: (i) A jurisdição razoável;(ii) o acesso à justiça;(iii) a
não-discriminação do litigante;(iv) a cooperação interjurisdicional; e (v) a circulação internacional das
decisões estrangeiras.
4
Sobre a designação da palavra homologação, cabe anotar, conforme já o fizemos alhures, que a palavra
exequatur, expressão latina, forma verbal, que significa execute-se, cumpra-se, se faz empregada no
Brasil para a admissão de carta rogatória. No entanto, a doutrina alienígena, de um modo geral, designam-
na para a aceitação de sentença, o que, em princípio, não ocorre entre os doutrinadores e legisladores
brasileiros, que optam por referir-se à homologação ou ao reconhecimento como o caminho para a
exeqüibilidade da sentença estrangeira. Quatro expressões - homologação, exequatur, reconhecimento e
delibação, nessa ordem - são, por vezes, empregadas para indicar a aceitação, pelo sistema jurídico
brasileiro, da sentença estrangeira, ressaltando-se ser mais técnico e mais usado o termo
homologação.Ver, entre muitos, DE’OLMO, Florisbal de Souza. Direito Internacional Privado. 6 ed. Rio
de Janeiro: Forense,2006, p.71-72.
5
O sistema de “delibação” advém do Direito italiano, cuja designação se originou de delibare, verbo
latino que significa colher um pouco, tocar de leve, examinar (SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo
Diccionario Latino-Portuguez. 3ed. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro Editor, S/D, p.350).
O giudizio de delibazione surgiu em 1865, no Codice di Procedura Civile italiano, destinando-se a
analisar a sentença estrangeira apenas em sua forma, portanto, sem tocar no conteúdo meritório da
mesma.
requisitos necessários à nacionalização do pronunciamento judicial para
posterior reconhecimento e concessão de eficácia executivo-judicial.
O Brasil adota esse último sistema, ao qual não se enfrenta o mérito da
demanda julgada em tribunal alienígena, mas, fundamentalmente, questões de
ordem formal que, verdadeiramente refletem no devido processo legal para o
reconhecimento homologatório do ato sentencial estrangeiro tais como a
competência, a observância do contraditório e a adaptação do julgado à nossa
ordem pública, aos bons costumes e à soberania nacional. 6
O órgão jurisdicional competente para examinar e, por conseguinte,
homologar a sentença estrangeira no Brasil é o Superior Tribunal de Justiça
(art.105, I,alínea “i” da CF/88),7 concentrando-se, portanto, o nosso sistema
jurídico tal atribuição a um único órgão jurisdicional e, por isso, favorecendo a
produção de uma jurisprudência harmônica e daí uma qualificada possibilidade
de certeza de direito (Rechtssicherheit).
Sendo jurisdicional a natureza do processo de homologação de sentença
estrangeira, ao interessado que provoca a atividade jurisdicional para tal intento
estará ele propondo, verdadeiramente, uma ação, esta de natureza
homologatória e com rito especial perante o Superior Tribunal de Justiça.
Importante ressaltar que no processo de homologação de sentença
estrangeira a função judiciária do STJ limitar-se-á observância da consonância
do julgado proferido no exterior com os princípios basilares do ordenamento
jurídico vigente no Brasil. 8

2. Resolução n. 9 do STJ e Procedimento de Homologação de Sentença


Estrangeira – caso brasileiro.

Sobre o giudizio de delibazione bem como a delibazione della sentenza straniera no âmbito do sistema
jurídico e justiça italiana, ver por todos, FAZZALARI, Elio. La Giustizia Civile nei Paesi Comunitari.
Padova: CEDAM,1994, p.283.
6
No mesmo sentido, FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.963.
7
Anteriormente à edição da Emenda Constitucional n.45, de 2004, o órgão competente para tal era o
Supremo Tribunal Federal.
8
Além disso, o direito pátrio não exige do Estado estrangeiro tratamento recíproco com relação ao
reconhecimento de sentenças brasileiras em seu território para que uma sentença originária de sua
jurisdição possa ser homologada no Brasil. Ver, entre muitos, RECHSTEINER,Beat Walter. Direito
Internacional Privado. 11ed. São Paulo: Saraiva,2008, p.301.
De início, insta esclarecer que a Resolução n.9 do STJ, de 4 de maio de
20059, cujo o conteúdo dispõe sobre a competência acrescida ao Superior
Tribunal de Justiça pela Emenda Constitucional nº 45/2004, é que regula a
forma procedimental pela qual será homologada a sentença alienígena em
território brasileiro, cabendo à Constituição Federal (art.105, l,”i”), ao CPC (arts.
483 e 484) bem como à LICC (art.15) disporem acerca de questões relativas à
competência jurisdicional bem como exigências homologatórias para a certeira
validade da mesma no sistema jurídico nacional.
Conforme determina o art. 5º da supracitada Resolução, será executada no
Brasil a sentença que reúna os seguintes requisitos:
“I - haver sido proferida por autoridade competente;
II - terem sido as partes citadas 10 ou haver-se legalmente verificado a
revelia.;
III - ter transitado em julgado; e
IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por
tradutor oficial ou juramentado no Brasil.” Nisto, restando preenchidos
em sua completude todos os requisitos, o STJ homologará a sentença
estrangeira para que essa possa ser executada no Brasil, conforme art.
105, I, “i”, CF/
Cabe afirmar aqui que se, eventualmente, as sentenças estrangeiras
dispuserem sobre conteúdos nos quais as autoridades brasileiras exerçam
competência absoluta para apreciação, ex vi daqueles listados no art. 90 do
CPC, não serão homologadas pelo STJ, conforme dicção do art. 12, §1º da Lei
de Introdução ao Código Civil (LICC). Nestes casos, há de se entender que
9
A presente Resolução n.9 do STJ entrou em vigor na data de sua publicação,06 de maio de 2005,
revogando aí a Resolução n.22, de 31 de dezembro de 2004, e o Ato n.15, de 16 de fevereiro de 2005
10
Fundamental consignar, mais de uma vez, as relevâncias dogmáticas e práticas da necessária citação
regular da parte domiciliada no Brasil, para que, mediante um processo instaurado no exterior, possa este
estar cravado de validade em âmbito interno.
Assim, em situações as quais o réu estiver domiciliado em território brasileiro e este for certo e sabido, o
sistema jurídico pátrio somente admitirá a citação mediante carta rogatória com o respectivo exequatur
regularmente concedido pelo STJ, pois que, caso contrário, restará violada a ordem jurídica
brasileira.STJ, SE contestada 969 – Corte Especial, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 19-9-2007, DJU,
8-11-2007, p. 155; STJ, SE contestada 861-EX – Corte Especial, rel. Ari Pargendler, j.4-5-2005, DJU, 1-
8-2005, p. 297.
Cumpre, por outro lado, destacar que determinados tratados internacionais podem, verdadeiramente,
facilitar a tramitação das cartas rogatórias ou até mesmo eliminá-las, otimizando respectivos contatos
diretos entre judiciários de Estados diversos. Isto acontece, p. ex., com os Estados aderidos juridicamente
à Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, de 30 de janeiro de 1975, vigorando certeiramente
hoje, dado que o próprio Estado brasileiro promulgou, mediante decreto presidencial, a referida
convenção, isto através do Decreto n.1900, de 20-5-1996, com publicação no DOU de 21-5-1996.
ditas sentenças violam, fundamentalmente, a ordem pública brasileira (art. 6º
da Resolução n. 9)11, visto a não observância da competência absoluta do juiz
pátrio .
A homologação será requerida pela parte interessada, devendo a
petição inicial conter as indicações previstas nos art.282 do CPC, sendo
instruída com a certidão ou cópia autêntica do texto integral da sentença
estrangeira bem como com demais documentos indispensáveis, devidamente
traduzidos e autenticados, conforme aponta o art. 3º da Resolução n.9.
Prevê o art.8º da Resolução que a parte interessada será citada para, no
prazo de 15 (quinze) dias, contestar o pedido de homologação de sentença
estrangeira, cabendo ressaltar que esta deverá se ater em sua defesa somente
à matéria que verse sobre a autenticidade dos documentos, inteligência da
decisão e respeitabilidade no que se refere aos requisitos necessários para a
homologação (ex vi do art.9º).
Nestes termos, havendo contestação à homologação de sentença
estrangeira, de acordo com o § 1º do art. 9º da Resolução n. 9, o processo será
distribuído para julgamento pela Corte Especial, cabendo ao Relator os demais
atos relativos ao andamento bem como a instrução do processo.
Por outro lado, sendo revel ou incapaz o requerido, ser-lhe-á nomeado
curador especial, este que será pessoalmente notificado (§3º do art. 9º).
O Ministério Público terá vista aos autos nas homologações de
sentenças estrangeiras pelo prazo de 10 (dez) dias, podendo, inclusive,
impugná-las(art.10).
Por derradeiro, cabe frisar que, conforme sustenta o art. 11 da
Resolução n. 9, das decisões do Presidente na homologação de sentença
estrangeira caberá o recurso do agravo regimental.

3. Algumas “Questões Processuais Relevantes” acerca do Tema

Em tema de homologação de sentença estrangeira, alguns pontos


importantes ainda merecem aqui realce especial, dada as nuances que o
instituto oferece.

11
“Art. 6º Não será homologada sentença estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que
ofendam a soberania ou a ordem pública.”
a) Sentenças auto-suficientes ou não - Dependendo do direito
pretendido na sentença estrangeira, poderá ela necessitar ou não de
cumprimento, ou seja, ser auto suficiente ou não para atingir o seu desiderato.
Assim, muito bem nota Marinoni e Mitidiero: “Sendo declaratória ou
constitutiva, a simples homologação é suficiente para outorgar tutela ao direito
do demandante (sentença declaratória e sentença constitutiva são sentenças
auto-suficientes).Do contrário, tendo natureza condenatória, mandamental ou
executiva não basta mera homologação - a tutela do direito só será prestada
ao demandante depois de cumprida a sentença (art.475 – I, CPC).A sentença,
nesse caso, é não auto-suficiente. Sendo o caso de sentença não auto-
suficiente, o cumprimento da sentença far-se-á perante a Justiça Federal (art.
109, X ,CRFB). Se a sentença impõe um fazer ou não - fazer, o cumprimento
dar-se-á de acordo com o art. 461, CPC; se reconhece direito à coisa ou direito
à prestação de declaração de vontade, em conformidade com os arts. 461-A e
466-A, CPC.se condena ao pagamento de quantia certa, em consonância com
o art. 475-J.”12

E continuam: “O cumprimento da sentença não-auto-suficiente far-se-á


por carta de sentença extraída dos autos do processo de homologação (art. 12,
Resolução 09 de 2005, STJ). O procedimento que deve ser observado no juízo
federal de primeiro grau para cumprimento é aquele constante do Código de
Processo Civil para cumprimento da sentença nacional da mesma natureza
(art. 483, parágrafo único, CPC)”.13

b) Medidas Cautelares - As decisões estrangeiras em processo


cautelares são equiparadas às sentenças proferidas por juiz estrangeiro de
modo que necessitam de prévia homologação do STJ14 para que possam ser
efetivamente cumpridas no Brasil.15
12
MARINONI, Luiz Guilherme, MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil Comentado artigo por
artigo. São Paulo: RT, 2008, p.490-491.
Mais especificamente, com relação às vias satisfativas e seu devido emprego, tudo decorrente da
modalidade obrigacional contida no título (pagar quantia certa, fazer, não fazer e entregar coisa) bem
como da natureza, quer judicial ou extrajudicial, da qual o título executivo se origina, ver o nosso Direito
Processual Civil. Vol. II, mais precisamente, em seu Capítulo II.
13
Idem, p.491.
14
Ver, dentre muitos, STJ, EDcl na SE contestada – Corte Especial, rel. Min, Gilson Dipp, j. 6-12-2006,
RT, 860:187-94;SE contestada 802-EX – Corte Especial, rel. Min. José Delgado, j.17-8-2005, DJU, 19-9-
2005, p. 175.
15
Importante aqui observar que com o Protocolo de Medidas Cautelares para o Mercosul,este assinado
pelos países-membros no dia 16 de dezembro de 1994 em Ouro Preto-MG,em vigor atualmente em todos
É de se notar que o regime jurídico das medidas cautelares, perante o
direito processual civil internacional é, de regra, examinado de forma
separada das demais sentenças.16 Confirma-se, para tanto, a Conferência
Especializada Interamericana de Direito Internacional Privado, onde se teve
como elaborada a Convenção Interamericana sobre a Eficácia Extraterritorial
das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros, esta datada de 8 de maio de
1979 bem como e em mesma data, a Convenção Interamericana sobre o
Cumprimento de Medidas Cautelares.
c) Tutelas de Urgência - Observa-se que, de acordo com o §3º do art.
4º da Resolução n.9 do STJ, é admissível no âmbito dos procedimentos de
homologação de sentença estrangeira a concessão de tutela de urgência17,
justificando a preocupação do próprio Tribunal Superior com possíveis
situações que, decorrentes de elástico lapso temporal e mesmo pelo caráter
de urgência na prestação jurisdicional à qual exige o direito reclamado, possa
vir a agredir direito subjetivo objeto da sentença homologanda, decorrendo
daí danos de difícil reparação ao interessado.
d) Litispendência internacional - Conforme explícito no art. 90 do Código
de Processo Civil: "A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência, nem obsta que a autoridade judiciária brasileira conheça da
mesma causa e das que lhe são conexas."

Justificam-se, portanto, os questionamentos diante da possibilidade de


coexistência de sentença estrangeira em fase de homologação no Brasil e
demanda em andamento na Justiça brasileira sobre o mesmo objeto.
Pela mesma razão, a existência de sentença proferida em outro país,
em fase de homologação, não produz litispendência, podendo prosseguir
os países do bloco mercosulino, pretendendo modificar esta sistemática, ditou que não seria mais
necessária a homologação das medidas cautelares para fins de execução em território brasileiro, sendo
exigida apenas a solicitação de cumprimento da medida por carta rogatória.
A autoridade judiciária requerida, no entanto, pode apreciar o conteúdo da carta no que se refere à
ofensa da ordem pública e daí recusando o cumprimento da medida. Ainda assim, o cumprimento da
medida não implica, necessariamente, no reconhecimento da possibilidade de execução de futura sentença
proferida em sede de processo principal.
Ocorre que, a despeito da própria a promulgação no Brasil por meio do Decreto n. 2626/1998, não resta
ainda pacificada a forma como suas disposições serão aplicadas no Brasil, frente às disposições
constitucionais que exigem a homologação de sentença pelo STJ e ainda de jurisprudência vacilante.
16
Sobre o assunto, ver, dentre outros, WALTER, Gerhard. Internationales Zivilprozessrechts in Italien.
Zeitschrift für Zivilprozess (ZZP), 109: 3-28, 1996, p.322-3.
17
Ver, dentre outros julgados: STF, SE contestada 5.378-1, República Francesa, TP, rel. Min. Maurício
Correa, j. 3-2-2000, DJU, 25-2-2000, RT, 778:193-6-2000; SE contestada 5.847, Reino Unido da Grã-
Bretanha e da Irlanda do Norte, TP, RTJ, 172:868-82.
ambos os processos.
Daí, tão logo ocorra homologação de decisão alienígena, a lide em
andamento no judiciário pátrio deverá ser extinta, pois que passa aí então a
operar a coisa julgada. A homologação pelo Superior Tribunal de Justiça terá
tornado executável a decisão sobre a lide, não mais havendo, perante nossa
ordem jurídica, o que ser submetido a julgamento, ocorrendo, nos mesmos
termos, em relação à coisa julgada proveniente do processo que no judiciário
brasileiro operou-se, primeiramente, a coisa julgada.
Assim, se no decurso do processo de homologação do julgado
estrangeiro transitar em julgado a sentença proferida sobre a demanda que
correu diante de juiz brasileiro, não poderá o STJ prosseguir na homologação
daquela sentença forasteira, devendo, por isso, extingui-la sem resolução de
mérito.18
e) Convenção da ONU sobre prestação de alimentos no estrangeiro
O frequente volume de sentenças acerca da prestação de alimentos,
proferidas em um Estado com o fito de serem executadas em outro,
impulsionou, certeiramente, a elaboração e concretude no âmbito da
Organização das Nações Unidas (ONU) da Convenção sobre a Prestação de
Alimentos no Estrangeiro, cuja assinatura se deu em 1956, sendo propriamente
promulgada no Brasil em 1965.
Nisto, cumpre anotar que, em sede da aludida Convenção, cada Estado
designará uma autoridade administrativa ou judiciária para nele exercer as
funções de Autoridade Remetente, bem como um organismo público ou
particular para as funções de Instituição Intermediária, encarregando-se esses,
especificamente, do envio da sentença proferida em determinado Estado e da
recepção do ato sentencial decorrente de outro Judiciário. Ambas as tarefas,
no Brasil, estão a cargo da Procuradoria Geral da República, respectivamente.

18
Ver, dentre outros: STJ, SE, contestada 832-EX – Corte Especial, rel. Min. Barros Monteiro, j. 15-6-
2005, DJU, 1º-8-2005, RT, 839:184-6, 2005; STJ, SE contestada 841- EX - Corte Especial, rel. Min. José
Reinaldo da Fonseca, j. 15.6.2005, DJU, 29-8-2005, p. 134; STJ, SE contestada 1039-EX- Corte Especial,
rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 29-6-2005, DJU, 5-9-2005, p. 195.

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