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Qualidade do Leite
M ÓDULO 7
1. Introdução
Certamente o leite é um dos produtos primários que apresenta maior
complexidade no que diz respeito ao sistema de pagamento da matéria-prima,
apesar do produto ter característica de commodity agrícola. Essa complexidade se
expressa pela falta de uniformidade e consenso no que diz respeito às formas de
pagamento do produto ao produtor, com grande variação na forma e método de
acerto financeiro nos diferentes países do mundo e mesmo entre diferentes regiões
de um mesmo país.
No Brasil, a situação não é diferente, pois especialmente após a liberação
do controle de leite pelo governo, a partir de 1991, o preço tem variado de forma
significativa nas diferentes regiões do país e mesmo dentro de micro-regiões.
Esta variação é afetada por distintos fatores de mercado, a princípio
totalmente desregulamentado, e é motivo de grandes discussões entre os
diferentes elos que compõe a cadeia agroindustrial do leite. Na maior parte do país,
o preço pago ao produtor é definido pela indústria, de forma unilateral, pois há
pouco poder de barganha dos produtores. Na maioria dos casos, há um preço
padrão estabelecido mensalmente e que é extensivo a todos os produtores. No
entanto, na última década, com o amadurecimento do mercado no setor de lácteos,
agora não mais engessado pela intervenção estatal, com a necessidade de
aumento de eficiência e competitividade por parte das indústrias e com uma
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2. Critérios
proporcionar alimentos com baixos teores de lipídeos e calorias, tais como queijos,
requeijões, sorvetes e até mesmo leite condensado e creme de leite “light” ou
“diet”, levou a uma menor valorização do teor de gordura do leite, ao mesmo tempo
em que desencadeou uma valorização do teor de proteína.
Apesar de toda essa forte tendência observada no mercado e na indústria
alimentícia, ainda assim, na maioria dos países, o teor de gordura é utilizado como
critério para pagamento diferenciado da matéria-prima.
No levantamento realizado pela IDF, dos 20 países analisados, 19
apontaram a utilização do teor de gordura como critério de pagamento do leite.
Cabe ressaltar duas particularidades no que diz respeito à gordura do leite.
Primeiro que este é o componente que sofre maior variação dentre todos o
compostos do leite e que mais facilmente pode ser manipulado, especialmente pela
nutrição do rebanho. Em segundo lugar este é um composto fácil de ser medido na
indústria, não exigindo técnicas nem equipamentos sofisticados. Dessa forma, a
antiga técnica de Gerber, que exige apenas um butirômetro, ácido e uma
centrífuga, ainda é largamente utilizada em vários países do mundo. Isso sem
dúvida favorece a utilização desse parâmetro por parte de algumas indústrias
menos tecnificadas.
Com relação ao teor de proteína, que vem crescendo em importância nos
sistemas de pagamento diferenciado do leite no mundo todo, basicamente pode-se
atribuir essa valorização em grande parte ao crescente aumento no consumo de
queijos, uma vez que o teor de proteína da matéria-prima (leite) é um dos fatores
que apresenta maior correlação com o rendimento industrial para fabricação de
queijos.
No estudo do IDF mencionado anteriormente, dos 20 países analisados, 15
utilizavam o teor de proteína para efeito de definição do valor a ser pago pelo leite.
especial, captar leite junto a produtores que forneçam grandes volumes diários de
leite e que apresentem baixa variação sazonal da produção. A captação de leite
em grandes volumes significa diluição nos custos operacionais e de transporte
além de melhor logística para recolhimento do produto. Já a pequena variação
sazonal proporciona melhor planejamento por parte da indústria e a minimização
da ociosidade do parque industrial em determinadas épocas do ano. Desta forma,
os grandes produtores são disputados pelas indústrias que procuram atraí-los com
uma bonificação extra. Além disso, tal estratégia serve como estímulo para o
aumento de escala dos pequenos produtores.
Também a sazonalidade da produção é um critério antigo e tradicional
utilizado na definição do preço do leite para o produtor. É justamente este fator que
embasa o sistema de leite cota e extra-cota no Brasil por exemplo. Neste sistema,
os laticínios definem o volume de cota de seus fornecedores, que nada mais é do
que a média de produção do leite entregue à usina no período de formação de cota
(entressafra). Uma vez definida a cota, a produção de leite que ultrapassar este
valor no período da safra recebe uma cotação significativamente mais baixa e
recebe o nome de leite extra -cota.
Este tipo de procedimento funciona como um estímulo à profissionalização
do produtor e como uma valorização dos produtores mais tecnificados, que em
função do planejamento da dieta e do manejo do rebanho conseguem manter a
produção ou até mesmo aumentá-la durante as épocas mais críticas do ano.
preços a qualquer momento. Por outro lado o produtor sente-se livre para mudar de
empresa ao sabor do preço pago ou comodidade. Esses fatores levam a um
cenário de baixa fidelidade indústria-produtor, que não é benéfico para um trabalho
de longo prazo em prol da melhoria da qualidade do leite.
Preço básico
+
Fatores de composição (gordura, proteína, sólidos totais)
+/-
Parâmetros de qualidade higiênica (CCS, CBT)
+/-
Ajustes de preço em função de sazonalidade/volume de produção
Parâmetros desclassificatórios (Rejeição do leite):
*Presença de inibidores/ antibióticos/ contaminantes
*Crioscopia (aguagem do leite)
6. Referências bibliográficas
IDF. Payment Systems for exfarm milk .Bulletin of the IDF 331 pg 6-25.
1998
ALVES, A. P. Como funciona o sistema de pagamento do leite no Brasil?.
Boletim do Leite, ano 6, No.60, Mar/1999.
PONCE, C.P. Programa integral para la mejora de la calidad de la leche y la reduccion de la
mastitis. mimeo 1998.
Classificação do leite
Para continuar o entendimento do mecanismo de definição do preço do leite
nos EUA é fundamental defiir que existem, legalmente, 4 classificações ou classes
de leite naquele país, de acordo com o destino a ser dado ao produto:
- Leite Classe I: leite fluido (integral, 2% e 1% de gordura, desnatado e
flavorizado)
- Leite Classe II: Produtos lácteos “soft” (sorvete, iogurte, requeijão,
creme de leite)
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Para consolidar esse cálculo, peguemos uma fazenda com CCS média do
mês de 100.000 e um valor do preço do queijo de ($ 1.1094/libra). Assim teremos:
Em resumo, isso significa que quanto maior for a utilização de leite fluído
numa determinada região maior será o adicional do preço do leite. O objetivo deste
programa é garantir o abastecimento do produto básico para a população, ou seja,
leite fluído. É exatamente essa lógica que determina os preços mais altos de leite
dos EUA no estado da Florida, onde cerca de 90% do leite é destinado para Classe
I (leite fluído), além logicamente, deste estado ter um “differential ” mais alto em
função da grande distância em relação a MN-WI.
Como se pode ver, há uma total regulamentação do preço por parte do
governo, e cabe ressaltar que o preço final calculado, também chamado de “Preço
Média Ponderada” (Weighted Average Price ou Blend Price) é o menor valor que
pode ser pago por qualquer comprador de leite nos EUA, ou seja, é proibido por lei
pagar um valor inferior ao definido pela fórmula do governo.
Por outro lado, em várias regiões do país há o pagamento de bônus pelo
leite de alta qualidade. Mas isso já foge totalmente da regulamentação do governo.
Desta forma, se uma determinada indústria que fabrica queijo, por exemplo, decide
pagar uma bonificação pela qualidade do leite baseada na CCS e Contagem
Bacteriana ou teor de proteína, isso é totalmente permitido, mas passa a ser um
contrato direto entre cada indústria e seus fornecedores. Assim, em muitas regiões
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os produtores recebem um valor acima daquele definido pelo governo desde que
tenham leite de alta qualidade.