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ISSN 1982-0178
Resumo: Habermas elabora sua teoria do agir co- da teoria da ação comunicativa, o papel desempe-
municativo, contida na obra Direito e democracia: nhado pelo sistema jurídico.
entre facticidade e validade, para analisar as institui- A partir dai o direito passa a ser responsável
ções jurídicas e propor um modelo onde se interpe- pela integração social entre o mundo da vida e os
netram justiça, razão comunicativa e modernidade. sistemas sociais na medida em que permite aos ci-
Ao se referir à facticidade e à validade, Habermas dadãos tanto o uso da racionalidade estratégica (a-
intenta compreender a dualidade do Direito moderno. ção orientada para o êxito), quando o agente obede-
Assim, de um lado, o Direito é facticidade quando se ce à lei por temor da coerção segundo um cálculo
realiza sob os desígnios de um legislador político e é custo/benefício em que avalia se o benefício auferido
cumprido e executado socialmente sob a ameaça de pela transgressão da lei compensa o custo que pode
sanções fundadas no monopólio estatal da força. De advir das sanções previstas na lei, por um lado,
outro lado, o Direito é validade quando suas normas quanto pela racionalidade comunicativa (ação é ori-
se fundam em argumentos racionais ou aceitáveis entada para o entendimento recíproco), quando o
por seus destinatários. Habermas diz que o direito só agente age motivado pelo respeito à lei, convencido
pode ser compreendido a partir da noção de uma de sua legitimidade.
"tensão entre facticidade e validade1". "Facticidade"
Habermas explica que, para realizar a função
seria o plano dos fatos, das coisas como elas são e
de integração social na sociedade complexa, o direito
funcionam, a dimensão do êxito real, cega para ques-
moderno desenvolveu uma tensão entre faticidade e
tões de certo/errado. "Validade" seria o plano dos
validade, porque permite aos sujeitos, usando a ra-
ideais, das normas que se reconhecem como corre-
cionalidade estratégica, considerarem o direito como
tas e que justificam as ações, dos valores que se
um fato social dotado de vigência quando agem ori-
reconhecem como importantes e que justificam as
entados pelo êxito na medida em que comparam os
escolhas, das utopias que se reconhecem como ins- custos e benefícios da ação a partir da coação das
piradoras e justificam as instituições existentes. sanções previstas na lei, bem como possibilita àque-
les que agem orientados para o entendimento recí-
proco segundo a racionalidade comunicativa, busca-
Palavras-chave: Facticidade, Validade, Direito
rem um consenso racionalmente motivado através
Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Filo- do reconhecimento da validade da lei.
sofia Política Contemporânea – CNPq.
1. INTRODUÇÃO
duz em seu bojo a idéia de que as normas jurídicas ração social desfrutem de consensos não problemá-
são emanações do povo. ticos.
Dessa forma, o verdadeiro lugar do direito é
entre os planos da facticidade e da validade, como
uma ponte entre os dois, tornando a facticidade váli- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
da o bastante para ser obrigatória e aceitável, e a
validade factual para ser viável e concretizável ao Dessa forma, infere-se que, em primeiro lu-
longo do tempo. gar, que a "tensão entre facticidade e validade" deve
Além disso, para que se convença alguém de ser entendida, em primeiro lugar, como uma teoria
seu próprio ponto de vista, é necessário que se este- sobre o modo como o direito é percebido pelos sujei-
ja bem informado sobre o assunto a ser deliberado e tos: o direito é percebido ao mesmo tempo como fato
que se tenha argumentos suficientes para que se (algo que está posto como ato de poder e que deve
prove porque aquela é a melhor escolha. Isso faz ser obedecido sob ameaça de sanção) e como nor-
com que os concidadãos de uma sociedade civil ma (algo que pode ser reconhecido e obedecido vo-
queiram conhecer o mundo ao seu redor e questio- luntariamente por um agente racional). Essa concep-
nar o que antes aceitavam como verdade absoluta. ção se baseia na idéia de que o direito moderno é
Fazendo, assim, com que as diferenças entre uns e produzido democraticamente, motivo por que as
outros tornem-se irrisórias ante a discussão. normas que se tornam obrigatórias ao fim do proce-
dimento legislativo carregam consigo a presunção de
serem esclarecidas e corretas. Essa idéia depende
3. NÍVEIS DE TENSÃO diretamente da concepção habermasiana sobre a
democracia deliberativa.
Neste tópico discorro acerca da proposta da Em segundo lugar, como uma teoria sobre
Habermas de situar a legitimidade do Direito não no as características de normas jurídicas bem sucedi-
plano metafísico, mas no plano discursivo e procedi- das: as normas devem poder ser obedecidas tanto
mental, lançando mão da sua teoria do agir comuni- em vista os interesses do agente, quanto em vista de
cativo, na qual a linguagem supera a dimensão sintá- seu conteúdo.
tica e semântica, constituindo o medium de integra-
ção social, isto é, o mecanismo pelo qual os agentes E deve ser entendida, em terceiro lugar, co-
sociais interagem e fundamentam racionalmente pre- mo uma teoria sobre as razões do êxito do direito
tensões de validade discursivas aceitas por todos. enquanto estrutura de integração entre os indivíduos
e grupos na sociedade: mesmo estes indivíduos e
Para Habermas, o Direito legítimo, nas soci- grupos tendo interesses conflitantes e orientações
edades atuais pós-metafísicas, depende do exercício éticas diversas, são integrados pelo direito na medida
constante do poder comunicativo. Para que não se em que este oferece iguais oportunidades de êxito
esgote a fonte da justiça, é mister que um poder co- para os interesses de um lado e do outro segundo
municativo jurígeno esteja na base do poder adminis- regras imparciais e corretas e não estende sua força
trativo do Estado. Mesmo assumindo a perspectiva obrigatória para além do plano moral, quer dizer, do
de que o ordenamento jurídico emana das diretrizes plano daquelas regras e deveres que podem ser uni-
dos discursos públicos e da vontade democrática dos versalmente reconhecidos como corretos e necessá-
cidadãos, institucionalizadas juridicamente, obser- rios, não exigindo, portanto, renúncias injustificadas
vando a correição parcial, há sempre a possibilidade nem fazendo ingerências indevidas nos ideais éticos
de que a normatividade seja injusta, abrindo-se as- de cada qual.
sim para dois caminhos: o primeiro, a permanecer
injusta, passa a constituir-se arbítrio; o segundo, a
tornar-se arbítrio, surge a falibilidade e, com isso, a
presunção de que seja revogada ou revista.
AGRADECIMENTOS
Ainda, para Habermas, a resolução dos con-
flitos será tanto mais facilmente alcançada quanto
maior for a capacidade dos membros da comunidade Agradeço à Pontifícia Universidade Católica de Cam-
em restringir os esforços comunicativos e pretensões pinas pela disponibilização dos recursos para o de-
de validade discursivas consideradas problemáticas, senvolvimento das atividades de iniciação científica.
deixando como pano de fundo o conjunto de verda-
des compartilhadas e estabilizadoras do conjunto da
sociedade, possibilitando que grandes áreas da inte-
Anais do XIV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 29 e 30 de setembro de 2009
ISSN 1982-0178