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I - Turismo
Samuel Pegge foi o responsável pela introdução do novo vocábulo “tour-ist” em 1800
e a “England´s Sporting Magazine” introduz, em 1811, a palavra “tour-ism” (Smith,
1989; 17).
Leiper (in Khan Mohmood et al.,1992; 539) afirma que “tour” significa um tipo de
viagem que deriva de “tower”, significando castelo, e referindo-se originalmente a
viagens de lazer, associadas a descanso e a circuitos realizados nos parapeitos das
fortalezas.
Leiper (1979; 391) refere ainda que a palavra turismo, foi utilizada pela primeira vez
em Inglaterra, para descrever os jovens aristocratas ingleses do sexto masculino, que
foram educados para carreiras de política, governo e diplomacia. De forma a
alcançarem os seus estudos, eles embarcavam numa “grand tour” com duração de três
anos no continente europeu, regressando a casa, quando a sua educação cultural
estivesse completa.
Podemos definir turismo como sendo a soma de todos os fenómenos e relações que
resultam da interacção dos turistas, dos fornecedores dos bens e serviços, dos governos
e das comunidades locais no processo de atracção e alojamento destes turistas e de
outros visitantes. Mas esta definição é um pouco vaga, permitindo interpretações
diferentes conforme o resultado a que se quer chegar.
Uma vez que o turismo depende das viagens, interessa também definir o que se
entende por viagem, ou mais importante, o que são viajantes. Assim, podemos dizer
que um viajante é qualquer pessoa numa deslocação entre dois ou mais países, ou entre
dois ou mais locais dentro do seu país de residência habitual. Todos os viajantes que
estejam a fazer turismo são chamados visitantes.
A OMT entendeu que esta definição de viajantes deveria ser clarificada, pois constitui
a base de todo o sistema de estatísticas do turismo. No entanto, a classificação
apresentada é uma classificação técnica, o que não invalida a existência e validade de
outras classificações.
Classificação dos Viajantes
Viajantes
Visitantes
Turistas Excursionistas
nacionais membros de
passageiros de visitantes
não residentes residentes no tripulações não tripulações
cruzeiros diários
estrangeiro residentes
Um visitante é uma pessoa que viaja para um local fora da sua área de residência
habitual por um período que não exceda os 12 meses e cujo principal objectivo é outro
que não o exercício de uma actividade remunerada no local visitado.
Turistas são os visitantes que permanecem no local visitado mais de 24 horas (ou pelo
menos uma noite) e cujo objectivo da visita possa ser considerado de lazer (férias,
saúde, desporto, religião, etc.).
Excursionistas são os visitantes que ficam menos de 24 horas no local visitado (ou não
passam a noite). Por exemplo, os passageiros de um cruzeiro podem ser considerados
excursionistas, mas os viajantes em trânsito já não podem.
Na tabela n.º 1 podemos ver como tem evoluído o volume de viagens turísticas
internacionais, segundo os dados estatísticos da Organização Mundial de Turismo
(OMT).
Podemos ver que estão previstas cerca de 660 milhões de chegadas para o ano 2000, o
que representa um aumento de 45% em relação a 1990, ou de cerca de 2500% em
relação ao ano de 1950.
Portugal desceu da 17ª para a 18ª posição no ranking mundial das entradas de turistas,
e não consta da lista dos “Top 20” em receitas turísticas, conforme indica a tabela n.º 3.
Sabe-se já que em 1998 Portugal subiu para o 15º lugar, com a DGT a estimar a visita
de 11,2 milhões de turistas, graças à EXPO’98.
Tabela n.º 3 - Receitas Turísticas Mundiais
País Receitas de 97 Quota de mercado do
(milhões de dólares) total mundial (%)
Estados Unidos 75.056 16,74
Itália 30.000 6,69
Espanha 28.147 6,28
França 27.947 6,23
Reino Unido 19.875 4,43
Alemanha 18.989 4,24
Áustria 12.393 2,76
China 12.074 2,69
China e Hong Kong 9.635 2,15
Suíça 9.015 2,01
Polónia 9.000 2,01
Austrália 8.900 1,99
Canadá 8.825 1,97
Tailândia 8.700 1,94
Singapura 7.950 1,77
Federação Russa 7.318 1,63
México 7.307 1,63
Turquia 7.000 1,56
Holanda 6.597 1,47
Bélgica 5.997 1,34
Total 320.725 71,55
Total Mundial 448.265 100,00
Fonte: OMT (1998)
Estes dados dizem respeito apenas ao turismo internacional, aquele que é praticado
entre dois ou mais países. A OMT calcula que o volume do turismo interno, praticado
dentro de cada país, seja dez vezes superior ao do turismo internacional, mas é
impossível controlar e quantificar este tipo de turismo, pois os turistas não são
obrigados a passar por nenhum posto de turismo, ou por qualquer outro local onde
possam ser contabilizados estatisticamente. Mas apesar do volume deste tipo de
turismo ser dez vezes superior, as receitas não atingem uma dimensão tão elevada, pois
os custos do turismo interno são substancialmente mais baixos que os custos do
turismo internacional, basta pensarmos na importância relativa dos transportes.
Como se pode ver pelo seguinte quadro, prevê-se um crescimento contínuo das
chegadas turísticas internacionais a todo o mundo. No entanto, quando analisamos cada
uma das regiões do mundo em particular, verificamos que se prevê uma importante
diminuição da quota de mercado da Europa, e um grande aumento da quota dos países
da Ásia de Leste e do Pacífico.
A tabela n.º 5 apresenta a variação prevista nos fluxos turísticos entre as seis regiões do
mundo. Pode-se ver que as chegadas à Europa de qualquer parte do mundo vão
diminuir, enquanto que as chegadas à Ásia de qualquer parte do mundo vão aumentar.
Quanto às partidas, as da Ásia e de África têm tendência para aumentar, contrariamente
às da Europa, com tendência para diminuir. Estes dados confirmam os valores
observados no quadro anterior.
As estatísticas servem para fazer balanços e previsões, sendo essenciais para o gestor
de qualquer empresa. No que respeita ao turismo, são empregues, com maior ou menor
sucesso, diversas técnicas e métodos, referentes aos fluxos físicos de pessoas e aos
fluxos monetários.
Por outro lado, nos países mais evoluídos assiste-se a modificações rápidas do próprio
turismo, o que torna a sua medição e quantificação mais difíceis. As razões destas
modificações têm a ver com o facto do turista ter cada vez maior liberdade de
movimentos.
Através dos inquéritos feitos ao turista é possível ainda recolher elementos que
permitem estudar convenientemente o mercado turístico. Assim, é possível obter dados
relativos:
• às nacionalidades dos turistas que nos visitam;
• às características desses turistas como sejam: idade, sexo, profissão e posição social;
• aos países que estes visitaram anteriormente;
• às características da viagem efectuada: excursão, família, individual, grupo, etc.;
• às regiões visitadas no nosso país;
• às qualidades mais apreciadas e principais inconvenientes do nosso país.
A estatística deste sector serve para estudar os sinais mais duráveis e as anomalias do
comportamento da actividade turística ao longo do tempo. Este estudo permitirá
descrever os fenómenos, ajudar a estabelecer previsões e orientar as decisões
estratégicas mais apropriadas.
As limitações deste método, que se torna pouco adequado se houver muitos visitantes a
atravessar a mesma fronteira na mesma época, levaram à utilização de inquéritos
(observações parciais) para obter a mesma informação com uma margem de erro
controlada.
É certo que ao nível social existiu, para determinados temas e em certos períodos, um
interesse mais marcante, o que resultou numa grande propensão para o seu estudo. A
partir de 1975, por exemplo, prestou-se mais atenção ao impacto social e físico do
Turismo no meio envolvente, tendo daí resultado os estudos do impacto turístico. Isto
condiciona de algum modo, todo o tipo de informação disponível bem como o campo
de conhecimentos que se dispõe sobre um fenómeno. Em alguns casos, chega-se a
acentuar certos aspectos específicos do aparelho estatístico, criando lacunas
informativas, que por vezes são graves.
Devemos entender que todo o sistema estatístico representa um custo para a sociedade,
o do valor dos recursos humanos e financeiros necessários para a sua execução ou
manutenção, e que nem todos os países são capazes, na sua globalidade, de o tomar a
seu cargo.
A inexistência de uma definição do sector (o turismo não tem uma definição como
sector, na classificação uniforme internacional da actividade económica industrial), a
natureza do produto turístico (é essencialmente um serviço), a amplitude geográfica do
fenómeno, a sua constante evolução, etc., são outras tantas limitações que constrangem
a medição estatística.
5. Os instrumentos estatísticos
Cada país utiliza uma ou outra, e até mesmo duas destas técnicas conjuntamente.
Com as suas diversas formalidades, o registo nas fronteiras utiliza o controlo aduaneiro
à entrada e à saída de um país. Originalmente eram efectuadas com um objectivo
meramente turístico.
A contagem faz-se deste modo nas fronteiras (isto é, em todos os pontos de entrada e
saída do território, quer eles se situem nas estradas, nas vias fluviais, nos aeroportos,
nos lagos, nos cais marítimos, etc.).
Praticam este método, países como a Argélia, Canadá, EUA, Grécia, etc.
Um número crescente de países utiliza este método. Para a sua utilização é necessário
ter actualizada a lista dos estabelecimentos hoteleiros, incluindo a dos alojamentos
complementares (campismo, apartamentos e aldeamentos turísticos, casas do turismo
no espaço rural, pousadas de juventude, etc.). Reconhece-se, no entanto, que este
último ponto é difícil e árduo de obter. Geralmente, faz-se apenas o recenseamento nos
hotéis e em alguns meios para-hoteleiros mais fáceis de controlar.
Finalmente, estas formalidades são muitas vezes consideradas incómodas, quer pelo
cliente quer pelo prestador de serviços, pois constituem-se como uma obrigação
impertinente, mesmo indiscreta, provocando não só a má vontade como omissões de
um lado e do outro.
Os países que utilizam o método acima descrito são a Alemanha, Áustria, Holanda e
Suíça.
Esta técnica é aplicada no Reino Unido, na França (em complemento da contagem nas
fronteiras), na Bélgica (em complemento do recenseamento hoteleiro) e em Portugal
(conjugando ambas).
Na maior parte dos países, este segundo aspecto é descurado, porque é difícil de
calcular estatisticamente.
KHAN, M., Olsen, M., Var, T., VNR`S Encyclopedia of Hospitality and Tourism, Van
Nostrand Reinhold, New York, 1992.