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A Importância da Estatística para a Consolidação

do Corpo do Conhecimento do Turismo


Manuel Salgado Pedro Cravo

I - Turismo

1. Definições de turismo e de turista

Samuel Pegge foi o responsável pela introdução do novo vocábulo “tour-ist” em 1800
e a “England´s Sporting Magazine” introduz, em 1811, a palavra “tour-ism” (Smith,
1989; 17).

Leiper (in Khan Mohmood et al.,1992; 539) afirma que “tour” significa um tipo de
viagem que deriva de “tower”, significando castelo, e referindo-se originalmente a
viagens de lazer, associadas a descanso e a circuitos realizados nos parapeitos das
fortalezas.

Leiper (1979; 391) refere ainda que a palavra turismo, foi utilizada pela primeira vez
em Inglaterra, para descrever os jovens aristocratas ingleses do sexto masculino, que
foram educados para carreiras de política, governo e diplomacia. De forma a
alcançarem os seus estudos, eles embarcavam numa “grand tour” com duração de três
anos no continente europeu, regressando a casa, quando a sua educação cultural
estivesse completa.

Podemos definir turismo como sendo a soma de todos os fenómenos e relações que
resultam da interacção dos turistas, dos fornecedores dos bens e serviços, dos governos
e das comunidades locais no processo de atracção e alojamento destes turistas e de
outros visitantes. Mas esta definição é um pouco vaga, permitindo interpretações
diferentes conforme o resultado a que se quer chegar.

Em 1991, a OMT (Organização Mundial de Turismo) chegou a uma definição de


turismo que, sendo actualmente a mais aceite, veio trazer algumas alterações às
definições de turismo, turista e viajante, utilizadas até então. Assim, a definição oficial
de turismo da OMT passou a ser a seguinte: “O turismo compreende as actividades de
viagens de pessoas e alojamento em locais fora do seu ambiente usual durante não
mais do que um ano consecutivo, por lazer, negócios e outros motivos”. O ambiente
usual é considerado não só a área de residência da pessoa, mas também locais para
onde a pessoa se desloque regularmente, como seja o local de trabalho, quando este
não coincide com a área de residência, ou outras viagens de carácter rotineiro.

A OMT classifica as seguintes formas e tipos de turismo:


• turismo internacional - feito pelos nacionais de um país fora do próprio país. Este
tipo de turismo pode ser dividido em:
• inbound tourism (turismo de importação) - feito pelos estrangeiros num dado
país;
• outbound tourism (turismo de exportação) - feito pelos nacionais de um dado
país no estrangeiro;
• turismo interno, feito pelos nacionais de um país dentro do próprio país;
• turismo doméstico, todo o turismo praticado dentro de um país (turismo interno +
inbound tourism);
• turismo nacional, todo o turismo praticado pelos nacionais de um país (turismo
interno + outbound tourism).

Uma vez que o turismo depende das viagens, interessa também definir o que se
entende por viagem, ou mais importante, o que são viajantes. Assim, podemos dizer
que um viajante é qualquer pessoa numa deslocação entre dois ou mais países, ou entre
dois ou mais locais dentro do seu país de residência habitual. Todos os viajantes que
estejam a fazer turismo são chamados visitantes.

A OMT entendeu que esta definição de viajantes deveria ser clarificada, pois constitui
a base de todo o sistema de estatísticas do turismo. No entanto, a classificação
apresentada é uma classificação técnica, o que não invalida a existência e validade de
outras classificações.
Classificação dos Viajantes

Viajantes

incluídos nas não incluídos


estatísticas do nas estatísticas
turismo do turismo

Visitantes

Turistas Excursionistas

nacionais membros de
passageiros de visitantes
não residentes residentes no tripulações não tripulações
cruzeiros diários
estrangeiro residentes

Um visitante é uma pessoa que viaja para um local fora da sua área de residência
habitual por um período que não exceda os 12 meses e cujo principal objectivo é outro
que não o exercício de uma actividade remunerada no local visitado.

Turistas são os visitantes que permanecem no local visitado mais de 24 horas (ou pelo
menos uma noite) e cujo objectivo da visita possa ser considerado de lazer (férias,
saúde, desporto, religião, etc.).

Excursionistas são os visitantes que ficam menos de 24 horas no local visitado (ou não
passam a noite). Por exemplo, os passageiros de um cruzeiro podem ser considerados
excursionistas, mas os viajantes em trânsito já não podem.

2. A importância da indústria turística no mundo

Hoje em dia o turismo tem uma grande importância económica. É já considerada a


maior indústria mundial, ultrapassando mesmo indústrias como a automóvel, a
electrónica e a petrolífera.
Em 1994 o sector do turismo empregava cerca de 204 milhões de pessoas em todo o
mundo, o que corresponde aproximadamente a um em cada nove trabalhadores. Nesse
ano, o sector gerou 655.000 milhões de dólares em impostos e cerca de 1.700.000
milhões de dólares em salários, 10,3% de todos os salários pagos a nível mundial.

À medida que o turismo se foi desenvolvendo e crescendo, deixou de estar acessível


apenas aos mais ricos e passou a estar ao alcance das massas.

Na tabela n.º 1 podemos ver como tem evoluído o volume de viagens turísticas
internacionais, segundo os dados estatísticos da Organização Mundial de Turismo
(OMT).

Podemos ver que estão previstas cerca de 660 milhões de chegadas para o ano 2000, o
que representa um aumento de 45% em relação a 1990, ou de cerca de 2500% em
relação ao ano de 1950.

Tabela n.º 1 - Chegadas Turísticas Internacionais


Chegadas Taxa de
Ano (milhões) Crescimento
1950 25,3 ---
1960 69,3 173,9 %
1970 165,8 139,2 %
1980 287,8 73,6 %
1981 289,9 0,7 %
1982 289,2 - 0,2 %
1983 292,7 1,2 %
1984 320,1 9,4 %
1985 329,6 3,0 %
1986 340,8 3,4 %
1987 366,8 7,6 %
1988 393,9 7,4 %
1989 427,9 8,6 %
1990 455,6 6,5
1991 455.1 - 0,1 %
1992 475,6 4,5 %
1996 594,1 24,9 %
1997 616,6 3,8 %
2000 661 (*) ---
2010 937 (*) ---
Fonte: OMT (*) - estimativa
Na tabela n.º 2 podemos ver o ranking dos principais destinos turísticos mundiais.

Tabela n.º 2 – Chegadas de Turistas Internacionais


Chegadas em 97 Quota de mercado do
País (milhares de turistas) total mundial (%)
França 66.800 10,83
Estados Unidos 48.977 7,94
Espanha 43.403 7,04
Itália 34.087 5,53
Reino Unido 26.052 4,22
China 23.770 3,85
México 22.700 3,68
Polónia 19.560 3,17
Hungria 19.478 3,16
Canadá 17.556 2,85
República Checa 17.400 2,82
Áustria 16.575 2,69
Alemanha 15.828 2,57
Federação Russa 15.000 2,43
Suíça 11.077 1,80
China e Hong Kong 10.534 1,71
Grécia 10.126 1,64
Portugal 10.100 1,64
Turquia 9.040 1,47
Tailândia 7.263 1,18
Total 445.326 72,22
Total Mundial 616.635 100,00
Fonte: OMT (1998)

Portugal desceu da 17ª para a 18ª posição no ranking mundial das entradas de turistas,
e não consta da lista dos “Top 20” em receitas turísticas, conforme indica a tabela n.º 3.
Sabe-se já que em 1998 Portugal subiu para o 15º lugar, com a DGT a estimar a visita
de 11,2 milhões de turistas, graças à EXPO’98.
Tabela n.º 3 - Receitas Turísticas Mundiais
País Receitas de 97 Quota de mercado do
(milhões de dólares) total mundial (%)
Estados Unidos 75.056 16,74
Itália 30.000 6,69
Espanha 28.147 6,28
França 27.947 6,23
Reino Unido 19.875 4,43
Alemanha 18.989 4,24
Áustria 12.393 2,76
China 12.074 2,69
China e Hong Kong 9.635 2,15
Suíça 9.015 2,01
Polónia 9.000 2,01
Austrália 8.900 1,99
Canadá 8.825 1,97
Tailândia 8.700 1,94
Singapura 7.950 1,77
Federação Russa 7.318 1,63
México 7.307 1,63
Turquia 7.000 1,56
Holanda 6.597 1,47
Bélgica 5.997 1,34
Total 320.725 71,55
Total Mundial 448.265 100,00
Fonte: OMT (1998)

Estes dados dizem respeito apenas ao turismo internacional, aquele que é praticado
entre dois ou mais países. A OMT calcula que o volume do turismo interno, praticado
dentro de cada país, seja dez vezes superior ao do turismo internacional, mas é
impossível controlar e quantificar este tipo de turismo, pois os turistas não são
obrigados a passar por nenhum posto de turismo, ou por qualquer outro local onde
possam ser contabilizados estatisticamente. Mas apesar do volume deste tipo de
turismo ser dez vezes superior, as receitas não atingem uma dimensão tão elevada, pois
os custos do turismo interno são substancialmente mais baixos que os custos do
turismo internacional, basta pensarmos na importância relativa dos transportes.

3. Perspectivas de evolução do turismo a nível mundial

Como se pode ver pelo seguinte quadro, prevê-se um crescimento contínuo das
chegadas turísticas internacionais a todo o mundo. No entanto, quando analisamos cada
uma das regiões do mundo em particular, verificamos que se prevê uma importante
diminuição da quota de mercado da Europa, e um grande aumento da quota dos países
da Ásia de Leste e do Pacífico.

Tabela n.º 4 - Chegadas Turísticas Internacionais


1990 % 1996 1997 2000 % 2010 %
África 15.000 3% 21.534 23.188 24.000 4% 36.000 4%
Américas 94.000 21% 116.481 122.766 147.000 22% 207.000 22%
Ásia de L. e P. 52.000 11% 87.463 88.334 101.000 15% 190.000 20%
Europa 284.000 62% 350.243 362.917 372.000 56% 476.000 51%
Médio Oriente 7.000 2% 14.087 14.947 11.000 2% 18.000 2%
Ásia de Sul 3.000 1% 4.332 4.553 6.000 1% 10.000 1%
Mundo 456.000 100% 594.140 616.635 661.000 100% 937.000 100%
Fonte: OMT (milhares de turistas)

A tabela n.º 5 apresenta a variação prevista nos fluxos turísticos entre as seis regiões do
mundo. Pode-se ver que as chegadas à Europa de qualquer parte do mundo vão
diminuir, enquanto que as chegadas à Ásia de qualquer parte do mundo vão aumentar.
Quanto às partidas, as da Ásia e de África têm tendência para aumentar, contrariamente
às da Europa, com tendência para diminuir. Estes dados confirmam os valores
observados no quadro anterior.

Tabela n.º 5 - Fluxo Turístico Internacional


P C Europa Américas Ásia L. P. Ásia Sul M. Oriente África Mundo
Europa ↓ ↑↑ ↑↑ ↑↑ → → ↓
Américas ↓ ↓ → → → ↑↑ →
Ásia L. P. → ↑↑ ↑↑ ↑↑ → ↑↑ ↑↑
Ásia Sul → → ↑↑ ↑↑ ↑↑ → ↑↑
M. Oriente ↓ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ ↑↑ →
África ↓ ↓ ↑↑ ↑↑ → ↑↑ ↑↑
Mundo ↓ → ↑↑ ↑↑ → → →
Fonte: OMT ↑↑ - acima da média → - valor médio ↓ - abaixo da média

4. O Corpo do conhecimento do turismo

O papel da educação em turismo espera ainda por confirmação categórica, acerca da


sua importância estratégica e do seu reconhecimento, como disciplina académica de
direito adquirido. Apesar desta realidade, o turismo caminha no sentido de firmar o seu
corpo de conhecimento próprio, substanciado em actividade crescente de investigação
sobre a temática, pelo número crescente de jornais académicos, da publicação de livros
e manuais acerca do turismo, da criação de sociedades profissionais de turismo e do
estabelecimento de um corpo próprio de informações de natureza estatística.

4.1. A actividade de investigação

Sem investigação no presente, o ensino do futuro estará comprometido. Esta afirmação


pretende reafirmar a importância estratégica do processo de investigação, na
qualificação do processo de ensino do turismo e na aquisição das competências
necessárias, por parte dos investigadores/docentes do ensino superior em turismo, no
sentido de permitir o avanço do processo de consolidação do seu corpo de
conhecimento.

A investigação em turismo tem ajudado também, na afirmação do turismo como


disciplina. A maturação rápida da investigação num corpo de conhecimento
sistemático e cumulativo, tem ajudado ao seu desenvolvimento. A primitiva
investigação em turismo, está a tornar-se cada vez mais sofisticada, tendo-se passado
da simples observação dos factos ao uso de complexos modelos matemáticos.

A investigação é também requerida no sentido de conferir qualidade e comparabilidade


às estatísticas do turismo, de forma a transformarem-se em informação válida para a
indústria e para as autoridades em turismo, permitindo-lhes basear as suas decisões
estratégicas, e para os educadores basearem o seu ensino, facilitando ainda a
comparação da informação recolhida em vários anos, no mesmo país e entre diferentes
países.

4.2. Os jornais científicos

O número de jornais disponíveis para a publicação de resultados de investigação em


turismo, tem registado um aumento constante. Eles constituem um instrumento
fundamental para a afirmação do turismo como disciplina, validam ainda a educação
em turismo e permitem o avanço dos estudos turísticos.
4.3. As associações profissionais

A comunidade académica que reflecte sobre o turismo é ainda restrita, no entanto as


perspectivas de crescimento são justificadas pelas tendências de crescimento na
provisão de educação em turismo. Neste sentido, têm-se desenvolvido sociedades
profissionais com objectivos claros do estabelecimento de fóruns de debate, e de
permuta de ideias e experiências.

4.4. Realização de seminários e conferências

O aumento do número de seminários e conferências sob o objecto do turismo, vem


providenciando um importante fórum de debate, facilitando a comunicação entre os
educadores e a indústria, no sentido de partilharem experiências, de identificarem as
falhas do corpo do conhecimento e de, sobretudo, estabelecerem as parcerias para a
investigação conjunta.

O turismo necessita da investigação estatística no sentido de desenvolver o seu corpo


de conhecimento, e de assim se afirmar, inequivocamente, como uma disciplina
académica de pleno direito.
II - Estatística e Turismo

As estatísticas servem para fazer balanços e previsões, sendo essenciais para o gestor
de qualquer empresa. No que respeita ao turismo, são empregues, com maior ou menor
sucesso, diversas técnicas e métodos, referentes aos fluxos físicos de pessoas e aos
fluxos monetários.

As estatísticas do turismo são coligidas e publicadas por vários organismos, com


finalidades diversas, tendo como principais funções: a pesquisa e a análise; a
planificação; as comparações no tempo e no espaço; o estabelecimento de “séries”
estatísticas, que permitem clarificar melhor os objectivos anteriores.

A reunião, tratamento e publicação de dados estatísticos é feita a três níveis: local,


nacional e internacional.

1. Principais organismos fornecedores de estatísticas turísticas

Relativamente às estatísticas internacionais, são publicadas edições anuais, pelos


seguintes organismos:
• Organização Mundial do Turismo (OMT): “Statistiques du Tourisme Mondial”;
• Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): “Politique
du Tourisme et Tourisme International dans les Pays Membres”;
• Bureau International du Travail (BIT): Estatísticas de Emprego e Formação.

Quanto às estatísticas nacionais, e no caso de Portugal, dois organismos publicam


dados relativos ao turismo:
• Instituto Nacional de Estatística (INE): “Estatísticas do Turismo”;
• Direcção Geral de Turismo (DGT): “Turismo em 19...”, “Inquérito ao Turismo
Estrangeiro em 19...” e “Férias dos Portugueses em 19...”.

Também existem estatísticas profissionais especializadas (nacionais e internacionais),


que podem ser elaboradas por:
• organizações, sindicatos e associações profissionais: FUAAV (Agências de Viagens),
AIH (Hotelaria), IATA (transporte aéreo), etc.;
• consultores especializados no sector do turismo: Laventrol e Horwath, Harris Kerr
Forster & Companhia, Deloite & Touche, etc..

2. As principais dificuldades das estatísticas do turismo

Para além da completa ausência de informações sobre o sector em alguns países, na


maior parte das vezes as difíceis comparações do mercado turístico internacional ficam
a dever-se fundamentalmente a:
• diferentes definições de turismo utilizadas, consoante os países;
• técnicas de recenseamento diferentes, para identificar os fluxos físicos ou correntes
turísticas;
• carência de cálculos que avaliem o valor do consumo e a produção turística.

Por outro lado, nos países mais evoluídos assiste-se a modificações rápidas do próprio
turismo, o que torna a sua medição e quantificação mais difíceis. As razões destas
modificações têm a ver com o facto do turista ter cada vez maior liberdade de
movimentos.

A grande mobilidade dos turistas, as suas diversas motivações e a heterogeneidade dos


tipos de turismo, são características que fazem do turismo um objecto estatístico
particularmente trabalhoso e ingrato, tanto na medição como na sua definição.

Apesar destas dificuldades, o economista e o técnico de turismo não podem prescindir


de organizar estatísticas, o mais completas e exactas possível, pois é necessário medir
os fluxos ou correntes turísticas, as suas trajectórias, a sua composição e preferências,
as suas despesas por nacionalidade, etc..

As várias técnicas utilizadas, complementares entre si, são as seguintes:


• a estatística das entradas é elaborada nas fronteiras aéreas, terrestres e marítimas.
Permite-nos obter o movimento de estrangeiros, a sua distribuição ao longo dos
meses, o tipo de transporte utilizado, a duração da estadia, a nacionalidade dos
turistas e o tipo de documento de identificação utilizado (passaporte, BI, etc.);
• censo ou estatística das dormidas baseia-se no número de permanências ou dormidas
do turista, através dos registos que se verificam em todas as formas de alojamento
turístico;
• os inquéritos por amostragem são, por excelência, a melhor técnica de informação
estatística no campo do turismo, permitindo nomeadamente:
• a análise do turismo dos nacionais, quer se desloquem no interior do seu país,
quer nas suas viagens ao estrangeiro;
• e a análise do turismo dos estrangeiros num país determinado, através de
inquéritos que procuram conhecer elementos como nacionalidade, profissão,
agregado familiar, duração da estadia, tipo de alojamento, despesas totais,
quilometragem, etc.

3. A estrutura estatística das correntes turísticas

A composição dos fluxos turísticos de um país é complexa e para a estudar baseamo-


nos em dados estatísticos. Esses dados são fundamentalmente, relativos a: transporte,
alojamento e emprego.

As estatísticas dos transportes permitem-nos obter dados sobre o tráfego em carreiras


regulares rodoviárias e em expressos rodoviários e ainda em relação a circuitos
rodoviários. Igualmente o caminho de ferro, o tráfego marítimo e aéreo e, ainda, a
circulação de veículos automóveis em cada distrito, são elementos essenciais ao
planeamento e descongestionamento das vias e eixos de circulação. Relativamente às
estatísticas de alojamento, existem dados referentes a distritos e localidades, por
categorias de estabelecimentos, distribuídos por meses e nacionalidades. Quanto ao
emprego as estatísticas existentes fornecem dados relativos aos diversos sectores da
indústria turística (hotéis, restaurantes, bares, agências de viagens, etc.).

Os dados fornecidos pela indústria turística permitem estudar um mercado turístico


através dos seguintes elementos:
• consumo turístico, com base nas dormidas e nas entradas de turistas;
• cálculo da produção turística relativamente ao transporte, alojamento e serviços
complementares;
• factores de produção turística (capital investido, investimentos anuais e trabalho);
• preços turísticos (índice de preços);
• circulação turística (contagens de estrada).

Através dos inquéritos feitos ao turista é possível ainda recolher elementos que
permitem estudar convenientemente o mercado turístico. Assim, é possível obter dados
relativos:
• às nacionalidades dos turistas que nos visitam;
• às características desses turistas como sejam: idade, sexo, profissão e posição social;
• aos países que estes visitaram anteriormente;
• às características da viagem efectuada: excursão, família, individual, grupo, etc.;
• às regiões visitadas no nosso país;
• às qualidades mais apreciadas e principais inconvenientes do nosso país.

Com estes dados, conseguidos através de inquéritos estatísticos, podem-se obter as


bases essenciais do planeamento turístico, as quais conjugadas com outros elementos
de estudo podem:
• fornecer dados sobre a decomposição das despesas dos turistas por tipos de
alojamento, restauração, espectáculos, compras, etc.;
• dar orientação quanto a empreendimentos turísticos, indicando a localização dos
hotéis de acordo com a procura turística, as características das instalações e propor
melhoramentos de eixos viários, áreas de animação, etc.;
• servir de base aos estudos de promoção turística, indicando o tipo de publicidade que
deverá ser feita junto das camadas de clientela que se deseja influenciar, e qual o
papel do turismo social, das agências de viagens, das representações internacionais
do turismo oficial no estrangeiro, etc.

Perante o que se disse, podemos inferir que é da maior importância existirem


estatísticas comparáveis, pois estas permitirão os estudos comparativos das correntes
turísticas dos vários países.
4. Métodos da Estatística no Turismo

O método estatístico é a forma científica do estudo do comportamento de uma


população, procurando as características gerais de um dado conjunto, o sector turístico,
no nosso caso.

A estatística deste sector serve para estudar os sinais mais duráveis e as anomalias do
comportamento da actividade turística ao longo do tempo. Este estudo permitirá
descrever os fenómenos, ajudar a estabelecer previsões e orientar as decisões
estratégicas mais apropriadas.

Os elementos da realidade a observar podem dividir-se em dois grupos:


• elementos quantitativos, que permitem descrever a intensidade de cada um dos sinais
do conjunto: número de chegadas de turistas, receitas, número de empregos, etc.;
• elementos qualitativos ou atributos, que servem para exprimir os sinais da situação: a
nacionalidade dos turistas, as motivações, etc..

Os instrumentos de base do estudo turístico são as observações de determinados


fenómenos turísticos, que se obtêm através de recenseamentos ou de observações
parciais (amostra), seleccionando-se a escala mais adequada, de acordo com o conjunto
no seu todo, isto é o universo estatístico.

Como exemplos de observações completas (recenseamentos) podemos referir a


contagem do número de entradas num país em cada um dos seus postos fronteiriços,
obtendo-se assim o número total de visitantes e algumas das suas características
(nacionalidade, meio de transporte utilizado, mês de chegada, etc.)

As limitações deste método, que se torna pouco adequado se houver muitos visitantes a
atravessar a mesma fronteira na mesma época, levaram à utilização de inquéritos
(observações parciais) para obter a mesma informação com uma margem de erro
controlada.

Como em todas as ciências sociais, podemos encontrar compromissos para a


orientação da recolha de informação e pesquisa, para o estudo objectivo da realidade
turística. Apesar disso, esta objectividade tarda a ser alcançada, uma vez que toda a
acção de pesquisa é, em geral, envolvida por parâmetros de interesses disciplinares, de
recursos (materiais e humanos), etc., que a orientam para um determinado aspecto ou
numa determinada direcção específica.

É certo que ao nível social existiu, para determinados temas e em certos períodos, um
interesse mais marcante, o que resultou numa grande propensão para o seu estudo. A
partir de 1975, por exemplo, prestou-se mais atenção ao impacto social e físico do
Turismo no meio envolvente, tendo daí resultado os estudos do impacto turístico. Isto
condiciona de algum modo, todo o tipo de informação disponível bem como o campo
de conhecimentos que se dispõe sobre um fenómeno. Em alguns casos, chega-se a
acentuar certos aspectos específicos do aparelho estatístico, criando lacunas
informativas, que por vezes são graves.

Devemos entender que todo o sistema estatístico representa um custo para a sociedade,
o do valor dos recursos humanos e financeiros necessários para a sua execução ou
manutenção, e que nem todos os países são capazes, na sua globalidade, de o tomar a
seu cargo.

No caso específico do Turismo, devemos acrescentar a dificuldade intrínseca de


procurar observar um fenómeno de natureza dinâmica, isto é, onde o movimento ou
mobilidade é o sinal que mais o caracteriza (sem viagem não existe turismo).

A inexistência de uma definição do sector (o turismo não tem uma definição como
sector, na classificação uniforme internacional da actividade económica industrial), a
natureza do produto turístico (é essencialmente um serviço), a amplitude geográfica do
fenómeno, a sua constante evolução, etc., são outras tantas limitações que constrangem
a medição estatística.

5. Os instrumentos estatísticos

Três técnicas são essencialmente utilizadas:


• a contagem nas fronteiras (durante a viagem);
• recenseamento nos vários meios de alojamento (durante a estadia);
• os inquéritos por sondagem (geralmente no domicilio do turista).

Cada país utiliza uma ou outra, e até mesmo duas destas técnicas conjuntamente.

5.1. A contagem nas fronteiras (“Border Check)

Com as suas diversas formalidades, o registo nas fronteiras utiliza o controlo aduaneiro
à entrada e à saída de um país. Originalmente eram efectuadas com um objectivo
meramente turístico.

O Organismo Nacional de Turismo (a DGT em Portugal), coopera com os Serviços


Fronteiriços (em Portugal, a Direcção Geral das Alfândegas e a Guarda Fiscal -
Serviço de Estrangeiros), para obter as informações que interessam ao sector turístico.

A contagem faz-se deste modo nas fronteiras (isto é, em todos os pontos de entrada e
saída do território, quer eles se situem nas estradas, nas vias fluviais, nos aeroportos,
nos lagos, nos cais marítimos, etc.).

Esta contagem assume duas formas:


• contagem exacta;
• contagem por "amostragem".

As informações obtidas são geralmente:


• tipo de transporte e mês de entrada;
• a nacionalidade (ou o país de residência, noção esta preferível para o turismo);
• eventualmente a motivação (lazer, negócios, saúde, etc.)

Os inconvenientes resultantes deste método são:


• obtenção do número de visitas e não de visitantes (alguns podem realizar várias
visitas e serem portanto contabilizados várias vezes);
• além dos turistas e dos excursionistas, os trabalhadores fronteiriços ou raianos são
igualmente contabilizados;
• os turistas nacionais são, pelo contrário, excluídos destas contagens;
• não dá a indicação sobre o destino nem a duração da estadia.

Praticam este método, países como a Argélia, Canadá, EUA, Grécia, etc.

5.2. O recenseamento nos vários meios de alojamento (“Accommodation Records)

Um número crescente de países utiliza este método. Para a sua utilização é necessário
ter actualizada a lista dos estabelecimentos hoteleiros, incluindo a dos alojamentos
complementares (campismo, apartamentos e aldeamentos turísticos, casas do turismo
no espaço rural, pousadas de juventude, etc.). Reconhece-se, no entanto, que este
último ponto é difícil e árduo de obter. Geralmente, faz-se apenas o recenseamento nos
hotéis e em alguns meios para-hoteleiros mais fáceis de controlar.

A contagem é feita através de fichas preenchidas pelo hoteleiro ou pelo cliente, de


acordo com o bilhete de identidade ou o passaporte. As informações assim obtidas são
frequentemente, as seguintes:
• número de chegadas;
• a nacionalidade ou o país de residência;
• período de chegada;
• número de noites no estabelecimento.

Esta última informação permite controlar, directamente, a utilização da capacidade de


alojamento (taxa de ocupação) quer por turistas estrangeiros quer nacionais.

Todavia, uma parte dos meios de alojamento não é geralmente recenseada


(nomeadamente o alojamento em "casa de familiares e amigos"), não havendo
indicação directa sobre o número de turistas (os grupos são por vezes subestimados),
salvo se uma pergunta o determine na ficha acima referida.

Finalmente, estas formalidades são muitas vezes consideradas incómodas, quer pelo
cliente quer pelo prestador de serviços, pois constituem-se como uma obrigação
impertinente, mesmo indiscreta, provocando não só a má vontade como omissões de
um lado e do outro.

Os países que utilizam o método acima descrito são a Alemanha, Áustria, Holanda e
Suíça.

5.3. O inquérito por sondagem

Serve de complemento às anteriores técnicas e produz, entre outras coisas, informações


preciosas sobre as motivações, as despesas turísticas e as utilizações de alojamentos
complementares. Numerosos países recorrem a estes inquéritos e publicam estatísticas
anuais sobre as férias neles realizadas.

Esta técnica é aplicada no Reino Unido, na França (em complemento da contagem nas
fronteiras), na Bélgica (em complemento do recenseamento hoteleiro) e em Portugal
(conjugando ambas).

6. A medição dos fluxos monetários

A avaliação das receitas e despesas turísticas permite medir a incidência económica do


turismo. Necessitamos em primeiro lugar de distinguir os fluxos monetários
internacionais, provenientes das trocas turísticas com o estrangeiro, dos fluxos
monetários internos, produzidos pelo turismo nacional.

Na maior parte dos países, este segundo aspecto é descurado, porque é difícil de
calcular estatisticamente.

Em compensação, os fluxos de divisas resultantes do turismo internacional são objecto


de avaliações sérias e regulares, embora bastante controversas. Assim, segundo as
estatísticas internacionais temos:
• as receitas turísticas internacionais, provenientes dos pagamentos de mercadorias e
serviços efectuados por visitantes estrangeiros no interior do país visitado;
• as despesas turísticas internacionais, referentes aos pagamentos de bens e serviços
efectuados pelas pessoas do país considerado, quando viajam ao estrangeiro.

São tidos em linha de conta os seguintes domínios:


• alojamento;
• os transportes locais e excursões;
• as visitas a vilas e regiões;
• as compras e lembranças;
• os divertimentos e lazeres.

São utilizados essencialmente dois métodos:


• do Banco Central (igualmente chamado de método dos fluxos financeiros ou método
directo). As instituições financeiras (bancos e casas de câmbio autorizadas) enviam
ao Banco Central (Banco de Portugal, no nosso País) relações sobre todas as
operações suportadas pela compra ou venda de divisas, consideradas como sendo
destinadas a fins turísticos. Este método normalmente empregue, conhece no entanto,
certas limitações e dificuldades:
• a dificuldade em atribuir a um determinado sector económico (no caso do
Turismo) certas das operações efectuadas;
• a existência, em alguns países, de um mercado paralelo de divisas ("mercado
negro") e a existência de câmbios em ligação com o Banco Central (por exemplo:
o efectuado por comerciantes e pessoal do hotel) que realizam igualmente
operações que escapam ao controle bancário;
• a diminuição artificial das transacções efectivas sobre os câmbios, como no caso
dos acordos de compensação pelos quais não são senão cambiados os saldos
entre dois operadores: "clearing". É o caso nomeadamente das empresas
multinacionais do turismo, operadores turísticos, companhias aéreas e agências
de viagens;
• em certos países, são apenas registadas as transacções que ultrapassam um
determinado "plafond", muitas vezes superior ao que despende um turista médio
durante a sua estadia;
• a aquisição pelos turistas, no seu país de origem, da moeda do país que vão
visitar;
• a regulamentação cada vez mais frequente das despesas turísticas pagas por
cartões de crédito.
• método dos inquéritos (igualmente chamado de método dos fluxos físicos ou método
indirecto). Este método consiste em multiplicar o número de noites dos turistas,
obtido pelos métodos de avaliação dos fluxos físicos, pela média das despesas diárias
efectuadas pelos turistas. Para obter esta última informação, procede-se quer através
de inquéritos directos aos turistas, quer aos prestadores de serviços relacionados com
os turistas. Também este método apresenta limitações resultantes:
• da impossibilidade já referida, de avaliar com exactidão as dormidas;
• do risco derivado da operação de multiplicação, pois o erro mais simples regista-
se ao nível da avaliação das despesas diárias médias, podendo conduzir a um
resultado bastante longe da realidade;
• da dificuldade em adoptar uma média ponderada, bastante representativa, das
despesas quotidianas de um turista tipo;
• da instabilidade dos preços;
• das dificuldades ligadas ao método de inquérito (idioma, erros de apreciação
consciente ou inconsciente por parte do turista ou do prestador de serviços).

Encontramos estes mesmos problemas quando avaliamos o valor do turismo nacional,


tendo como base os inquéritos por sondagem.

Tudo isto limita o verdadeiro alcance da avaliação dos fluxos turísticos.

Contudo, apesar dos limites e imprecisões apontados, as estatísticas do turismo têm


pelo menos o mérito de existir e permitir, ao nível macro-económico, numerosas
verificações.
Bibliografia consultada:

KHAN, M., Olsen, M., Var, T., VNR`S Encyclopedia of Hospitality and Tourism, Van
Nostrand Reinhold, New York, 1992.

LEIPER, N., The Framework of Tourism: Towards a Definition of Tourism, Tourist,


and the Tourism Industry, Annals of Tourism Research, 6 (4), 1979.

SMITH, S. L. J., Tourism Analysis: A Handbook, Longman, Harlow, 1989.

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