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MARCELO S. DA SILVA1
Porto Alegre/RS/Brasil
marcelao_rs@yahoo.com.br
Breve introdução
Formação Profissional em Educação Física: este é o tema sobre o qual desenvolvemos
algumas reflexões neste texto. Ainda que o título proposto seja bastante abrangente não
pretende se traçar aqui previsões sobre o futuro da Educação Física, mas sim, levantar
algumas contribuições para o debate das condições atuais e os possíveis rumos da Formação
Profissional, tendo em vista o momento político-social em que vivemos, o surgimento de novas
tendências e o fortalecimento de antigas, no campo da Educação Física (EF).
Atualmente no Brasil vivemos um momento de significativas definições e
transformações no campo da formação profissional em Educação Física, principalmente pela
consolidação das novas Diretrizes para formação de professores (Resolução CNE/CP 02 de 19
de fevereiro de 2002), aprovação das Diretrizes para os Cursos de Graduação em Educação
Física (Parecer CNE/CES n. 0058 aprovado em 18 de fevereiro de 2004 e Resolução
CNE/CES n. 07 de 31 de março de 2004) e também pela implementação do sistema
CONFEF/CREF e a Regulamentação da Profissão de Educação Física. Não pretendemos
entrar no mérito de alguns debates já bastante desgastados sobre os caminhos e descaminhos
que estes processos possam ter tomado ao longo de sua constituição, nos referimos a própria
regulamentação e os debates sobre as diretrizes já aprovadas, nosso objetivo é sim trazer
algumas contribuições aos debates que estão ocorrendo por todo o país para definição dos
novos currículos dos cursos de formação, pois corroboramos com as preocupações de NOZAKI
(1998) em relação aos possíveis rumos que a Formação em Educação Física poderá tomar.
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A práxis é “...a concepção que integra em uma unidade dinâmica e dialética a prática social e sua pertinente
análise e compreensão teórica, a relação entre a prática, a ação e luta transformadoras e a teoria que orienta e
ajuda a conduzir à ação. É a unidade entre pensamento e ação que permite assumir conscientemente o papel
histórico que cada homem está chamado a exercer” (HURTADO, 1992, p. 45).
Profissão, Profissão Liberal e Semi-profissão
Dentre as diversas análises sociológicas sobre as profissões e os grupos profissionais,
utilizamos aqui a conceituação de ENGUITA (1990), que afirma podermos classificar as
Profissões em três categorias: Profissões Liberais, Profissões e Semi-profissões.
Para analisar o conceito de Profissão, ENGUITA (1990) traça cinco características:
competência, vocação, licença, independência e auto regulação. A seguir faremos um rápido
comentário sobres essas características.
Podemos dizer que uma profissão só existe quando possui um saber próprio, e quando
este conhecimento é reconhecido como privilégio de um determinado grupo profissional - é o
que chamamos de Competência e Vocação. Por Licença pode-se entender também este
reconhecimento público acrescido do reconhecimento e regulamentação legal para o exercício
da profissão. Independência e Auto regulação são as características relativas à autonomia do
grupo frente ao seu público - clientela - e às organizações privadas e públicas, além da sua
capacidade de auto regular seus membros, através de um código ético, e sua capacidade de
resolver conflitos internos.
Quanto mais fortes estas características dentro de um grupo profissional, maior será
sua autonomia, seu prestígio e reconhecimento público e, conseqüentemente, maior seu poder
de reivindicação frente ao Estado. As profissões que apresentam tais características são
classificadas de Profissões Liberais.
No magistério, já há algum tempo, sofremos um processo que podemos chamar de
proletarização da profissão. Cada vez mais os professores perdem seu prestígio, sua
autonomia. Suas condições de trabalho são cada vez piores e sua competência contestada.
A partir dessa perspectiva poderíamos dizer que a categoria do magistério encontra-se
então na condição de Semi-profissão, por necessitar do aparato social para desenvolver suas
atividades e por não possuir um conhecimento legitimado, ou reconhecidamente importante e
forte, ao contrário de outras categorias.
Apesar deste quadro depreciativo da carreira docente, é importante salientar que a
assimilação do ideário da profissionalização, ou seja, a busca por uma aproximação da
categoria dos professores ao nível de uma categoria de profissionais liberais, representa
também a identificação de valores e construções históricas que não parecem estar presentes
na atividade docente, mas ao mesmo tempo nos instiga a exigir para a categoria dos
professores uma maior autonomia, integridade e responsabilidade.
Quanto à carreira de Graduado em Educação Física, esta ainda é um vir a ser, cabe as
instituições formadoras e aos futuros graduados definirem os caminhos necessários para sua
consolidação como profissão, algo que se dá no processo histórico, nos enfrentamentos legais
e sócias com diferentes grupos e a partir do reconhecimento público.
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