You are on page 1of 10

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA DE INVESTIGAÇÃO ANTROPOLÓGICA
PROFESSORA ZULMIRA NEWLANDS BORGES

PROJETO DE PESQUISA

INTERNET E MUSICAL
PRODUÇÃO, CRIAÇÃO E COMUNICAÇÃO

CRISTIANO PINHEIRO CORRÊA

SANTA MARIA, RS, BRASIL

2009
SUMÁRIO

Introdução............................................................................................................................03
1. Problema.......................................................................................................................04
2. Justificativa...................................................................................................................05
3. Objetivos.......................................................................................................................05
3.1 Objetivo geral..........................................................................................................05
3.2 Objetivos específicos.............................................................................................05
4. Metodologia..................................................................................................................05
4.1 Investigação antropológicas..................................................................................06
4.2 diretrizes éticas do trabalho...................................................................................07
5. Considerações Teórica................................................................................................08
6. Cronograma..................................................................................................................08
7. Referências Bibliográficas..........................................................................................09

2
INTRODUÇÃO

Talvez em nenhum outro momento da história, se tenha reunido um mosaico tão


grande de ritmos e gêneros musicais em um mesmo ambiente, o ciberespaço, onde é possível
encontrar os hits do momento, os sucessos das décadas passadas e as criações de um grupo
da vizinhança.
Neste projeto, estão dispostas algumas das balizas que nortearam este trabalho, no
intuito de interagir com músicos e produtores musicais, a fim de visualizar suas perspectivas
com relação à introdução da Internet em seus trabalhos. As abordagens serão realizadas via
Web, comunicação eletrônica, em tempo real ou não, direcionadas para artistas de diferentes
Unidades da Federação Brasileira e também através de entrevistas com músicos do Município
de Santa Maria. O início das atividades está prevista para o ano de 2009. As relações teóricas
serão auxiliadas pelos conceitos de, indústria cultural, cultura de massa, relacionados com os
conceitos de democracia e cibercultura, tendo como ferramentas entrevistas em profundidades,
técnicas descritivas com influencias etnográficas. Esta temática expressa o desejo de verificar
os processos contemporâneos da cultura popular a da ameaça às estruturas dominantes do
mercado de bens culturais, juntamente com as possibilidades de criação e acesso.
Certamente a música possui um “papel” dentro de cada sociedade, podendo ser desde
sua estrutura estética um fator de expressão de movimentos sociais, fator comum de um grupo
que utiliza este meio, capaz de atingir um grande número de pessoas, para transmitir suas
reivindicações ou simplesmente torná-las públicas.
Desde o fonógrafo de Thomas Edison (1877), talvez a gênese do mercado fonográfico,
que a relação música, tecnologia e mercado, estão imbricados e atrelados aos processos
criativos da produção musical. No Brasil a produção e distribuição de discos, iniciaram com a
Casa Edison no Rio de Janeiro, fundada por Fred Figner, um tcheco naturalizado americano
em 1902.
As mudanças tecnológicas alteraram profundamente os moldes e as aspirações na
produção musical. Quando a gravação eletrônica substituiu a mecânica, isto causou uma
mudança de paradigma. Devido à qualidade da audição que se poderia registrar, proporcionou
o registro de sons mais suaves e fieis, abrindo espaço para cantores de “vozes aveludadas” e
introdução de orquestras nas gravações. Uma mudança que alterou a criação e apreciação,
para se ter um a idéia há menos diferença entre o LP e CD do que entre o disco mecânico e o
elétrico.
(Fonte. http://www.construindoosom.com.br)
A difusão das gravações provocou, na música popular, fenômenos de padronização,
comparáveis aos que a impressão teve sobre as línguas (Levy, 1999). Desde então a
produção musical alterou-se, em momentos expressando as transformações sociais, ou
influenciando grupos a transformarem a ordem estabelecida. A música POP, mais
especificamente o rock’n roll, desde os beatniks, (Termo usado para descrever um grupo de
escritores americanos, que vieram a se tornar conhecidos no final da década de 1950 e no
começo da década de 1960), influenciou a contracultura, servindo de trilha sonora às grandes
transformações sociais celebradas pelos jovens dos anos 60. Esta efervescência foi analisada
e debatida por Edgar Morim, autor cuja alguns conceitos serão debatidos neste trabalho. Na
virada da década de 70, para a de 80, o movimento punk introduziu uma nova relação dos
jovens com a música, isto é com o processo de criação, gravação e veiculação. O lema “do it
yourself” (“faça você mesmo”) trouxe a tona, a idéia de um processo no qual o artista deveria
se apropriar de todas as etapas inerentes ao seu trabalho. Neste sentido, o marco inicial da
produção independente no Brasil foi o disco de sugestivo nome Feito em Casa, do músico
Antônio Adolfo, Lançado em 1977.
(Fonte. http://www.antonioadolfo.com.br/)
Com a criação do formato compactado MP3, e a facilidade de sua manipulação,
tanto no ciberespaço quanto nos equipamentos eletrônicos contemporâneos, a produção de
áudio entrou em uma nova fase, o da Cibercultura, no sistema técnico-informacional. A
burocratização do acesso flexibilizou-se possibilitando aos indivíduos, apropriar-se das criações
colocando a disposição uma infinidade de obras e informações. Nesta nova configuração
estamos trabalhando com o virtual, com arquivos que perpassam as fronteiras geográficas em
tempo real. Este novo processo está evidenciando alguns fenômenos como produção
independente em larga escala e a facilidade de obtenção e divulgação de áudios pela rede.

3
1. PROBLEMA
A introdução da Internet na vida quotidiana está modificando as relações entre grupos e
indivíduos. Interações hierarquizadas e distantes são aproximadas pela rede mundial de
computadores. Hoje é possível buscar informações diretas da fonte produtora sem os
tradicionais intermediários comerciais e comunicacionais. No que tange à produção musical, o
ciberespaço emergiu potencialidades e algumas incógnitas, latentes talvez durante toda a
existência do mercado fonográfico. A questão da música comercial, o que pode ser considera
interessante, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo mercado. Artistas com uma série de
atributos, como beleza, flexibilidade para moldar-se aos anseios do mercado, boa voz,
genialidade, criatividade, enfim o que é criado ou construído e transmitido como opção de
escolha para aos ouvintes. Esta arte que serve de entretenimento e expressão de sentimentos,
recebida e percebida por outros, até que certo ponto apenas reproduz o que a indústria cultural
engendra? Adorno um dos responsáveis pelo debate sobre Indústria cultural, questionou o
caráter individual e subjetivo do gosto musical. Ao fazer tal questionamento, nos convida e
refletir sobre a questão da coisificação dos bens culturais, sua transformação em mercadoria e
sua massificação, que coloca os receptores como meros consumidores alienados de uma
cultura artificialmente produzida. Portanto seria a Internet uma ferramenta capaz de alterar este
processo. Na percepção de autores como Pierre Levy, a Internet é espaço com características
mais democráticas, oferecendo suportes e ferramentas para produção e divulgação de bens
culturais sem a influencia maciça do mercado, “dando voz a minorias marginalizadas do
processo”.
A construção de uma obra musical sofre a influencia direta do contexto em que é
produzida, assim como de outras produções a que os artistas têm acesso. Uma grande parte
das obras musicais populares encontra-se hoje digitalizadas e disponíveis, sendo possível
adquiri-las e compartilhá-las por todo o mundo, através de programas que baixam arquivos
gratuitamente da rede. Este é um ponto chave para relacionar as variáveis, democratização do
acesso, direitos autorais, comercio ilegal de obras, lucratividade dos músicos, e comunicação.
Na configuração tradicional do mercado fonográfico, o artista grava seu trabalho, dentro
de uma demanda construída ou não, e há um monopólio sobre o mecanismo de divulgação,
seja via rádio, TV ou mídias impressas. Se a comunicação mediada pela Internet assumir um
papel central na publicação dos trabalhos, isto significa também que basta produzir uma obra e
fazer parte de uma rede de relacionamentos para divulgá-la, por outro lado há uma certa
“justiça” em proporcionar possibilidades de qualquer um mostrar seus trabalhos. O mercado
fonográfico tem sua principal condição de existência econômica no comércio das obras dos
artistas que fazem parte do catálogo das gravadoras. Quanto aos músicos a maior parte de
seus recursos são oriundos das apresentações públicas, da interação direta com o público
ouvinte e dos direitos autorais sobre suas criações. No ciberespaço os artistas alternativos, do
dito underground, colocam-se em pé de igualdade com o mainstream, causando uma alteração
no processo de divulgação e reprodução musical. Com a popularização da Internet torna-se
possível acessar, conhecer, apropriar-se e manipular os procedimentos técnicos de gravação
além de poder divulgar as produções sem seguir o modelo do mercado estabelecido. O artista
pode divulgar apenas uma música sem ter que compor um disco inteiro, como ocorre no
modelo tradicional, além de poder divulgá-la em tempo real. Este modelo secundariza alguns
aspectos da obra como um todo, como a arte das capas tão cultuada nos LP’s e os discos
temáticos conceituais, como o Dark Side of the Moon (Disco da banda Pink Floid de 1973).
O problema social é saber como o desfecho deste processo irá interferir no trabalho
dos agentes envolvidos com música dentro da sociedade, quais suas inquietações profissionais
e econômicas. O problema sociológico emerge da intimidação que a cibercultura projeta sobre
as estruturas estabelecidas e dominantes das produções culturais e dos espaços de interação
e divulgação. Os estereótipos e as receitas de sucesso podem estar perdendo terreno para
criações mais originais, proxêmicas, sendo compartilhadas de maneira democrática. Serão as
estruturas dominantes da sociedade do consumo capazes de se reengenhar, embasando-se
em seus aparatos tecnológicos e seu catálogo de músicos geniais que constroem em estúdio
verdadeiras obras de arte.
Algumas instituições conectadas à produção digital, realizam concursos de bandas,
seleção de toques para celular, promovem eventos, enfim já existem grupos sintonizados neste
meio, talvez com o intuito de tentar controlar, ou apenas migrando seus “tentáculos”. Um
exemplo é o My Space Music que combina livre demanda on-line de músicas, com a opção de
downloads compráveis, toques para celular, vídeos e outros conteúdos, e planeja em breve
oferecer serviço de venda de ingressos para shows.

4
2. JUSTIFICATIVA
“De fato, a música no Brasil é um campo fértil para diferentes tipos de estudos. Por meio
dela têm sido explorados temas como o da identidade nacional, as relações de gênero, a ética
do trabalho e o ethos da malandragem, as relações entre cultura e política, a formação do
gosto, a indústria cultural e a cultura popular, a especificidade da cultura produzida pelas
transformações da vida urbana”.
A configuração do ambiente contemporâneo passa pelos processos gerados pela
revolução da informação, por isso cabe também aos analistas da sociedade, reconhecer e
transcrever estas mudanças que relacionam tantas variáveis como arte, mercado, classe
social, tecnologias, contexto político, etc... A introdução de Internet nas relações sociais
colocou à margem uma parcela de analfabetos digitais e proporcionou uma gama de
possibilidades aos grupos e indivíduos inseridos e atuantes na rede. O computador assumiu
uma posição central em nosso tempo no que diz respeito ao processamento do conhecimento
humano. A informação nunca esteve tanto em evidência, tornando-se uma valiosa mercadoria
no seio das sociedades contemporâneas.
As redes de comunicação de âmbito planetário são uma realidade, mediadas por
computadores conectados a linhas telefônicas, cabos e fibra ótica, elas são responsáveis por
uma revolução nos padrões de comunicação. Se, sem a Internet, a televisão interativa, a
multimídia, a digitalização de informações e dados, já nos convidavam a refletir sobre suas
transformações, com o advento da era telemática somos quase que obrigados a redimensionar
conceitos, teorias e análises, debruçando-nos sobre estes novos espectros de sociabilidade e
da socialidade. As novas formas de interação provenientes das novas tecnologias aplicadas à
comunicação imprimem um caráter singular à esfera da cultura. Pela primeira vez na história
dos meios de comunicação sociais, vislumbramos possibilidades que colocam em xeque a
estrutura tradicional “emissor-receptor” dos media (LÉVY, 1999), possibilitando a influência,
manipulação e alteração dos conteúdos, desde sua criação.
Neste trabalho, me proponho a analisar sobre uma perspectiva sociológica, como
músicos amadores e profissionais e produtores musicais, estão reagindo às potencialidades e
mudanças que a Internet trouxe aos seus trabalhos. Para isso é necessário reconhecer os
agentes, seus contextos de produção, juntamente com suas pretensões e objetivos. Á música é
um indicador social que une pelo sentimento pela ideologia do contexto social de sua produção,
portanto é possível verificar através dela, as relações de consumo, democracia, cultura e
monopólio dos meios de produção e publicação. É imprescindível acompanhar e analisar se
estamos em vias de abalar as estruturas construídas pela indústria cultural ao longo do século
XX. Estamos diante de um meio de comunicação conectado ao mundo, onde tornar algo
público é muito rápido e fácil.

3. OBJETIVO

3.1 OBJETIVO GERAL


Verificar sob a ótica de músicos e produtores musicais, as conseqüências que a Internet
trouxe para seus trabalhos, através de uma perspectiva sociológica da indústria cultural e da
democratização do acesso a informações.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Investigar que potencialidades estão sendo incorporadas pelos agentes e como eles se
apropriam delas nos seus trabalhos.
Com a possibilidade de um contato direto entre compositor e público, como isso poderá
influenciar no processo de criação.
Questionar suas percepções sobre a qualidade técnica das produções expostas na
rede, em ambientes como o My Space, por exemplo.
A concorrência entre artistas conhecidos do grande público com outros menos
conhecidos, possível no Ciberespaço, significa o que para os agentes.

4. METODOLOGIA
A proposta é verificar este processo contemporâneo, sob a ótica de músicos e
produtores musicais, a fim de visualizar suas perspectivas com relação à entrada da Internet na
vida quotidiana e os reflexos que isso representa para seus trabalhos. As abordagens em sua
maioria, devido também à natureza do objeto, dar-se-ão via Web através de e-mail, MSN,

5
Myspace, etc... O universo pesquisado abrangerá um numero de aproximadamente três artistas
pertencentes aos catálogos de gravadoras renomadas como Sony BMG, três músicos
independentes, dois produtores vinculados a gravadoras e dois produtores alternativos,
residentes em diferentes Unidades da Federação do Brasil.
No Município de Santa Maria, serão realizadas quatro entrevistas com músicos locais, de
gêneros e atuações musicais variadas. (O numero de entrevistados foi estipulado devido ao
critério de acesso aos entrevistados). Alguns dos profissionais que farão parte da pesquisa
possuem mais de 40 anos de experiência no mercado fonográfico, cujo contato foi previamente
estabelecido. Para as entrevistas. Será utilizada a técnica de entrevistas em profundidade,
baseada no conceito de Martin Bauer. Na elaboração das questões que serão exploradas, será
utilizado o conceito de trajetória embasado em Pierre Bourdieu, tentando visualizar a relação
que os pesquisados estabelecem com a música em suas carreiras, tanto profissional ou
amadores. As entrevistas serão transcritas e analisadas dentro das perspectivas teóricos
estabelecidas no trabalho. O início desta atividade esta prevista para o ano de 2009, no
período compreendido entre Março e Dezembro.
Para o debate teórico, Inicialmente será feita uma breve ilustração histórica da relação
entre produção musical e demanda tecnológica, na perspectiva de André Lemos e Pierre Lévy.
Os debates teóricos correspondentes à construção do objeto sociológico partiram da
concepção de indústria cultural, conceito construído pelos pensadores de Frankfurt.
Especificamente neste trabalho serão utilizadas as proposições de Adorno, Benjamin e
Horkheimer, e seus conceitos de homogeneização da cultura, bens culturais, massificação das
produções, e a influencia no processo de criação. O debate será enriquecido por Edgar Morin
através de sua discussão sobre a dialética entre criação e produção e também suas
considerações sobre a raiz das criações e sua ligação com Underground, demonstrando como
a gênese da cultura comercial e das mass mídia está na genialidade das “periferias” comerciais
de criação. Morin assim com Bourdieu não partilham da mesma percepção que Adorno e
Horkheimer, a respeito da uniformização e homogeneização do consumo de bens culturais.
Será utilizada a teoria de Bourdieu sobre as posições sociais e suas influencias na criação do
gosto.
Para a relação destas percepções com o Ciberespaço será relacionado o conceito de
Cibercultura de Pierre Levy, sua visão otimista da utilização da Internet como veículo de
criação, interação e comunicação, seu conceito de universal sem totalidades. Neste sentido
serão trabalhados os conceitos de democracia de Boa Ventura de Souza Santos, para
relacionar as visões de democratização do acesso, encontrada nas obras de Morim, Adorno e
Levy, explorando suas visões, no que tange as questões de relações sociais atreladas à
criação, produção e mercado das obras musicais. Será também utilizado o conceito de rede de
Castells, fundamentais para entender a configuração das possibilidades de comunicação
mediadas pela telemática.

41 INVESTIGAÇÃO ANTROPOLÓGICA
Como diria Evans-Pritchard, que um levantamento de dados pode ser realizado por
qualquer pessoa, porém o que acrescentaria à ciência. Pois também segundo ele em uma
pesquisa só se acha o que procura. Antes de ir a campo é necessário um amplo envolvimento
com o tema, ou seja, uma profunda revisão de pressupostos, pois não há como buscar algo
que não se sabe. (Evans-Pritchard. 1978). Já Gilberto Velho, referindo-se a como observar o
familiar sob uma ótica científica, orienta para que o pesquisador veja com olhos imparciais a
realidade evitando envolvimento que possam obscurecer ou deformar seus julgamentos e
conclusões. O envolvimento com o objeto de estudo torna-se inevitável no sentido que, a
observação participante a entrevista aberta, o contato direto irá aproximar e juntamente com o
tempo de permanência de contato acentuar a proximidade. (Velho. 1978). Segundo Evans-
Pritchard para que a observação participante tenha validade, o pesquisador deve viver a vida
do povo, no caso deste trabalho, do grupo pesquisado. O contato direto proporciona a captação
das experiências mais profundas, que envolve o distanciamento social e psicológico, pois o fato
dos indivíduos pertencerem à mesma sociedade não significa que estejam mais próximos do
que se fossem de sociedades diferentes, porém aproximados por referencias, gosto,
idiossincrasias. Esse conceito que Gilberto Velho coloca é de grande importância para este
trabalho uma vez que, trata-se de uma pesquisa social com grupos familiares, onde é preciso
cumprir o que Roberto Da Matta diz, “o que sempre vemos e encontramos pode ser familiar
mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico
mas, até certo ponto, conhecido”. É o fato de se discutir experiências mais ou menos comuns.

6
As noções de distancia e objetividade que permeiam as pesquisas, de um lado nos torna mais
modestos quanto à construção do nosso conhecimento em geral, por outro lado permite-nos
observar o familiar e estuda-lo sem paranóias sobre a impossibilidade de resultados imparciais
neutros.
O trabalho de Whyte, Sociedade de Esquina, é um exemplo magistral de como uma
pesquisa antropológica realizada em um ambiente urbano, pode obter êxito. Whyte no seu
trabalho Sociedade de Esquina (Whyte. 2005), transita com muita propriedade entre a
sociologia e antropologia. Evans-Pritchard com seus trabalhas antropológicos em sociedades,
digamos “exótica”, isto é, pesquisa antropológica mais tradicional, afirma que as técnicas de
pesquisa sociológica, como questionários, amostragens, entrevistas, estatísticas, não devem
ser empregadas, por exemplo, com um grupo que desconheça seus significados.
Estudando o que está próximo, o pesquisador expõe-se com maior ou menor intensidade,
a um confronto com outros especialistas, com leigos e até, em certos casos como afirma
(Velho. 1978), com representantes dos universos investigados.
Em uma pesquisa que trabalhe com agentes tão próximos, os métodos de história de vida
e historia oral tornam-se interessantes. Guita Debert ao tratar destes métodos de análises
qualitativo, observa que uma de suas principais vantagens é a coleta de relatos orais. Estas
oralidades geram interações entre entrevistador e entrevistado, possibilitando alterações nos
pressupostos e hipótese da pesquisa, pressupostos estes que segundo, (Evans-Pritchard.
1978), são imprescindíveis no pré-campo, pois é preciso debater teoricamente e apropriar-se
dos trabalhos anteriormente produzidos para compor alguma bagagem teórica. Debert cita que
em uma pesquisa onde se faça uso das técnicas de relato oral, um questionário talvez não seja
apropriado, pelo fato de trazer em seu conteúdo, visões pré-concebidas do pesquisador e
impostas ao entrevistado, (Debert. 1986).
Thiolent apresenta a entrevista não diretiva como um método capaz de superar alguns
inconvenientes e limitações de um questionário tradicional. Segundo ele os indivíduos não têm
a mesma desenvoltura quando expostos a uma situações de pesquisa onde tenham que
explanar suas vivencias ou situações. As categorias de classe e sóciopolíticos estão presentes
e podem tendenciosamente influencias as respostas dos entrevistados, há uma articulação
entre social e psicológico, que deve ser captada sociologicamente. O pesquisador não deve
realizar entrevistas não-diretivas na base da intuição, nem do bom senso, pois o levaria a
captar o vazio da fala ordinária. (Thiolent. 1982). O indivíduo é considerado como portador de
cultura (ou sub-cultura) que a entrevista não-diretiva pode explorar a partir das verbalizações,
inclusive as de conteúdo afetivo, sempre tendo o cuidado de diminuir as imposições
hierárquicas implícitas em um processo de pesquisa.
Neste trabalho serão utilizadas técnicas de entrevistas como, entrevistas em profundidade,
história de vida, observações participante, é um trabalho que envolve um grupo familiar. Se
este grupo se entende com uma identidade em relação ao seu universo, é uma questão a ser
observada, não tenho dados elaborados ainda para introduzir no trabalho, mas já foram
realizadas algumas observações que estão ainda “cruas”.

42 DIRETRIZES ÉTICAS DO TRABALHO


Todos os trabalhos que envolvam seres humanos, que não estejam consagrados na
literatura, são considerados pesquisas, e sua construções deve obedecer às diretrizes de um
Comitê de Ética de Pesquisa CEP, um colegiado interdisciplinar e independente, legitimado éla
Resolução 196/96. Antes de ir a campo o pesquisador deve submeter seu projeto a revisão e
aprovação do colegiado. O pesquisador deve recorrer ao CEP para apresentar e buscar
soluções em questões polêmicas de cunho moral, criminal de direitos humanos, imagens etc;
às quais não tenha autonomia para prosseguir. Os contatos com instituições e a busca de
recursos para pesquisas, também precisam ser mediados pelo comitê. Geração de
conhecimento, relevância, exeqüibilidade e respeito à pessoa são alguns dos critérios
avaliados por um Comitê de Ética em Pesquisa.
Este projeto está sendo construído com o intuito de se enquadrar nas diretrizes do CEP, e
será enviado ao comitê assim que estiver em condições metodológicas e padrões científicos
aceitáveis.

7
5. CONSIDERAÇÕES TEÓRICA
Tudo que é inovador sempre se opõe às normas dominantes da cultura. (Morin, 1977).
A Internet altera o modo de fazer e experimentar a cultura. O caráter hiper-midiático da Web
promoveu a “virtualização da música” de um modo muito especial, amparada na sua
digitalização. Isto significa dizer que qualquer obra musical é passível de produção,
compactação e difusão à maneira de um arquivo de texto ou imagem digital. A “cibercultura” –
isto é, a sinergia entre a esfera tecnológica das redes de comunicação e a sociocultural –
imprimiu um redimensionamento ao mundo da música advindas das técnicas de compressão
em arquivos de áudio. (LEVY. 1999).
Este tipo de apropriação social das novas tecnologias de informação deve ser ressaltado, pois
assistimos a uma reconfiguração sem precedentes das relações entre produtores musicais e
seu público. Segundo Pierre Lévy, trata-se da instauração de “uma nova pragmática da criação
e da audição musicais” (LEVY. 2003).
Esta é uma visão, otimista do panorama trazido pela Internet ao processo da produção
cultural, que se opõe à estrutura vigente. “Se perguntar a alguém se ”gosta” de uma música de
sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e não
gostar já não correspondem ao estado real” (Adorno, 1993, p.165). Bourdieu discorrendo sobre
a apreciação de gêneros e ritmos, coloca que o gosto musical é entre outras preferências, parte
do habitus, ou estilo de vida, que informa um julgamento, aceita sem discussões, de referência
e aversão, que é coletivamente partilhado pelo grupo social. (Bourdieu 1984). Já Bauer
colocando a música como um indicando social diz que, indicadores culturais mensuram
elementos da vida cultural que refletem nossos valores e nosso mundo vivencial; eles mudam
lentamente através de longos períodos e estão sujeitos apenas até certo ponto à manipulação
externa. (Bauer; 2000).
É para o lucro que se desenvolvem as novas tecnologias. Não há dúvida de que, sem o
impulso do espírito capitalista, essas invenções não teriam conhecido um desenvolvimento tão
radical e maciçamente orientado. (Morin, 1977).
O princípio do “estrelato” tornou-se totalitário. As reações dos ouvintes parecem
desvincular-se da relação com o consumo da música e dirigir-se diretamente ao sucesso
acumulado, o qual, por sua vez, não pode ser suficientemente explicado pela espontaneidade
da audição mas, antes, parece comandado pelos editores, magnatas do cinema e senhores do
rádio. (ADORNO, 1993). A partir de agora músicos poderão controlar o conjunto da cadeia de
produção da música e eventualmente colocar na rede os produtos de sua criatividade sem
passar pelos intermediários que haviam sido introduzidos pelos sistemas de notação e de
gravação (editor, interpretes, grandes estúdios, lojas). Em certo sentido, retornamos dessa
forma à simplicidade e à apropriação pessoal da produção musical que eram próprias da
tradição oral. (Levy, 1999. p141).
Conceito de democracia.
A orientação consumidora destrói a autonomia e a hierarquia estética própria das cultura
cultivada. “Na cultura de massa não há descontinuidade entre a arte e a vida”. (Morin, 1977).
“As categorias de arte autônoma, procurada e cultivada em virtude de seu próprio valor
intrínseco, já não tem valor para a apreciação musical de hoje” (ADORNO, 1993).
6. CRONOGRAMA

Atividade Análise de Transcrever Contatos Envio ao Produção


Entrevistas
Período Bibliografia entrevistas Internet CEP Escrita

Março à Maio X X

Junho à Agosto X X X X X

Setembro à Novembro X X

Dezembro X

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

8
ADORNO, T. W. O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição. Em: Os pensadores, São
Paulo: Editor Vitor Civita, 1983.

ADORNO, Theodoro e HORKHEIMER, Max. A indústria Cultural: o iluminismo como


mistificação de massa. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1976.

BANDEIRA, M.G. Música e cibercultura do fonógrafo ao mp3. Digitalização e difusão de áudio


através da Internet e a repercussão na indústria fonográfica.

BAUER, M.W. E GASKELL, G. (ed.) ; tradução. GUARESCHI, P.A. Pesquisa qualitativa com
texto, imagem e som um manual pratico. 5. ed Petrópolis: Vozes, 2000.

BOURDIEU, Pierre. O Mercado dos Bens Simbólicos. In: A Economia das trocas simbólicas. 2ª
edição. São Paulo, Perspectiva, 1982. p. 99-181

BOURDIEU, Pierre. Pierre Bourdieu: sociologia. Org. e int. Renato Ortiz. Sao Paulo: Editor.
Atica 1983.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em Redes. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

DEBERT, Guita. Problemas relativos a utilização de história de vida e história oral.CARDOSO,


Ruth (org). A Aventura Antropológica. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1986.

EVANS-PRITCHARD, EE. “Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo”


bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de janeiro: Zahar editores, 1978.

FOOT-WHITE, Wiliam. Sociedade de esquina. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.


Apresentação, introdução, Corneville e sua gente, Anexo A.

GASKELL, George. Entrevista individual e grupais. In: Bauer, Martin; GASKELL, George.
Pesquísa Qualitativa com textos, imagens e som. Petrópolis: Vozes, 2002

GEETZ, Cliford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.

JUNIOR, J.J. Música popular massiva e comunicação: um universo partícula.

MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: O Espírito de Tempo – I. Rio de Janeiro:
Editor Forense Universitária, 1977.
LEMOS, André. As estruturas antropológicas do ciberespaço. In: TEXTOS, n.
35, Facom/UFBA, 1996.
LEMOS, A. 2002. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto
Alegre.Sulina.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1999.

LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência (Carlos Irineu da Costa, Trans.). Rio de Janeiro:


Editora 34. (1993).
MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas
sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.
MCLUHAN, Marshall. Guerra e paz na aldeia global. São Paulo: Record, 1971.
SANTINI, R.M. Admirável Chip novo: a música na era da Internet. Rio de Janeiro: Epapers,
2005.
SANTINI, R.M. e LIMA, C.R.M. Difusão de música na era de Internet.

_______________ . O underground na era digital: A música nas trincheiras do ciberespaço

9
SANTOS, Boaventura de Souza. Pelas mãos de alice: o social e a política na pós-
modernidade. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de
Janeiro: civilização brasileira: 2003. p.39-82.
SHUKER, Roy. Vocabulário de música pop. São Paulo: Hedra, 1999.

THIOLENT, Michel. O processo de entrevista. In: THIOLENT, Michel. Critica Metodológica,


investigação social e enquet operária, São Paulo, Pollis, 1982.

VELHO, Gilberto. “observando o familiar”. In: NUNES, Edson de Oliveira (Organizador). A


aventura sociológica: objetividade, paixão, improviso e metodo na pesquisa social. Rio de
Janeiro, Zahar, 1978. p 33 a 110.

WEBER, Max (1997). Conceitos Sociológicos Fundamentais, Edições 70: Lisboa.

REFERÊNCIAS SECUNDÁRIAS
(Fonte. http://www.antonioadolfo.com.br/)
(Fonte. http://www.construindoosom.com.br)

10

You might also like