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Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Medicina
Doenças Infecto Parasitárias e Dermatologia
Dermatologia – Seminário 10

Aluna: Kássia Rita Lourenceti de Menezes

CBC – Carcinoma Basocelular

Introdução

O estudo das neoplasias de pele é muito importante, sem a menor sombra de


dúvidas, especialmente se levarmos em conta que 2 em cada 3 novos casos de câncer,
correspondem a cânceres de pele.
Estes são divididos em 2 grandes grupos, os melanomas e os não-melanomas, a
este segundo grupo pertencem os carcinomas basocelulares (CBCs), que são hoje o
câncer de maior incidência mundial, correspondendo de 65 a 75% dos cânceres de pele.
Apesar de ser o câncer de mais alta incidência mundial, o CBC tem altos índices
de cura. Normalmente acomete regiões do corpo com exposição ao Sol, recebendo
diagnóstico precoce, todavia, pode acometer também áreas cobertas, o que dificulta o
diagnóstico, o tratamento e, consequentemente, aumenta o numero de complicações.

Conceito

Como já foi dito, o CBC é uma neoplasia do tipo não-melanoma. Que deriva das
camadas não queratinizadas da pele, ou seja, é comum que surja na camada basal da
epiderme ou dos apêndices cutâneos, como o complexo cutâneo pilo-sebáceo, sendo
constituído por células semelhantes às células basais da epiderme.
O CBC dificilmente entra em metástase, apenas formas muito graves e
resistentes cursam com essa modalidade. Sua morbidade está relacionada a invasão
tecidual que pode destruir tecidos adjacentes à pele. O CBC invade esses tecidos
contíguos por expansões digitiformes irregulares. Podendo a lesão estender-se
superficialmente ou em profundidade, chegando a destruir tecidos contíguos.
Ao exame histológico, podemos notar células basalóides atípicas formando
arranjos periféricos em paliçada, e invasões digitiformes.
Epidemiologia

Sua prevalência é maior a partir da quarta década de vida, com pico na sexta
década em ambos os sexos. Tem distribuição semelhante entre homens e mulheres, mas
é um pouco mais comum no sexo masculino. O número de casos novos de câncer de
pele não melanoma estimados para o Brasil em 2008 é de 55.890 casos em homens e
de 59.120 em mulheres, de acordo com a Estimativa de Incidência de Câncer publicada
pelo INCA. Estes valores correspondem a um risco estimado de 62 casos novos a cada
100 mil homens e 60 para cada 100 mil mulheres, ou seja, mais de 80 mil casos de
CBC.
Os fatores de risco para o CBC são radiação ultravioleta B (exposição solar
intensa e prolongada aumenta o risco desta neoplasia); exposição prévia ao arsênico;
radioterapia; e síndromes genéticas, como xeroderma pigmentoso e a síndrome do nevo
basocelular. A população de risco para o CBC é constituída principalmente por pessoas
de pele e olhos claros, loiros ou ruivos, que apresentam efélides, com dificuldade para
adquirir “bronzeamento” e predisposição para queimaduras solares.
A síndrome do nevo basocelular ou Síndrome de Gorlin é uma doença
hereditária de transmissão autossômica dominante. Com prevalência estimada de
1/57.000 a 1/256.000 pessoas, com uma relação homem:mulher de 1:1. É caracterizada
por carcinomas basocelulares, múltiplos queratocistos odontogênicos e anormalidades
esqueléticas.
Indivíduos que apresentaram ou apresentaram uma lesão de CBC tem maior
risco de desenvolver lesões de CBC em outros locais (35 a 50% dos acometidos
desenvolvem duas ou mais lesões).
O risco de recidiva leva em conta o tamanho e localização das lesões, sendo
divididos em fatores prognósticos de baixo risco e alto risco para recidiva (Tabela 1 -
Retirada de: TOVO, LFR et al. Projeto Diretrizes - Carcinoma Basocelular, 2002).
Estes critérios permitem ao médico escolher a forma de tratamento mais apropriada.
Áreas:
“A” (alto risco para recidiva) - região centromédio facial, palpebral, sobrancelhas, periorbital, nasal,
labial (cutâneo-mucosa), mentoniana, mandibular, pré e retro-auricular, sulcos nasogenianos, epicanto
medial, temporal, pavilhão auricular, genitais, pés e mãos.
“M” (risco médio para recidiva) – região médio-facial, frontal, pescoço, couro cabeludo.
“B” (baixo risco de recidiva) – tronco e membros.

Apresentação Clínica

O tipo clínico mais comum é o epitelioma basocelular nódulo-ulcerativo, que


inicialmente apresenta-se como pápula rósea perlácea crescendo progressivamente a
nódulo, com posterior ulceração central, recoberta de crosta, podendo sangrar de forma
episódica; as bordas são geralmente cilíndricas, translúcidas, mostrando formações
perláceas e eventualmente finas teleangiectasias.
A progressão pode ser por extensão em superfície, às vezes com cicatrização
central (forma planocicatricial), ou em profundidade, com invasão e destruição de
tecidos (músculo, cartilagem, osso), ou outras estruturas (forma terebrante).
A forma vegetante apresenta proliferação central. A esclerosante caracteriza-se
por placa branco amarelada, escleroatrófica, dura, lisa e eventualmente teleangiectásica,
com bordas mal definidas, geralmente evolui sem ulceração.
O tipo superficial ou pagetóide consiste de lesões múltiplas, eritêmato-
escamosas, discretamente infiltradas, emolduradas por bordas irregulares e ligeiramente
elevadas, com localização preferencial no tronco.
O CBC pigmentado pode apresentar-se em forma nódulo-ulcerativa ou
superficial com pigmentação melânica.
Diagnóstico

O diagnóstico deve se basear na investigação clínica, todavia, em muitos casos


ele não é o suficiente para encerrar o diagnóstico, especialmente porque o CBC se
apresenta em diferentes formas.
O exame anatomopatológico é que confirma o diagnóstico do CBC. Segundo
alguns autores ele deve preceder a metodologia de tratamento, deve ser feita biópsia
parcial (por “punch” ou “shaving”), entretanto há outros autores que acreditam que deve
ser feita excisão total do material, que deve ser enviado para biópsia, após análise, com
confirmação do diagnóstico e definição se as margens estão ou não livres de neoplasias,
o procedimento deve ser finalizado.
Por se tratarem de lesões variáveis, vários diagnósticos diferenciais devem ser
levados em conta. Doenças que se apresentam como morféias (Hanseníase e
Esclerodermia) devem ser diagnósticos diferenciais a forma esclerosante.
Algumas apresentações de CBC esclerosante-nodular também apresentam-se
muito semelhantes a Carcinoma Espinocelular (CEC).
O tipo superficial ou pagetóide com bordas irregulares e ligeiramente elevadas,
com localização preferencial no tronco, lembra eczema seborréico, psoríase, lúpus
eritematoso, doença de Bowen ou de Paget, devendo essas possibilidades ser
pesquisadas.
Já o CBC pigmentado deve ter investigação para melanoma, tendo em vista a
semelhança de suas apresentações.

Tratamento

• Curetagem e eletro-cirurgia (C&E): O tratamento consiste na remoção da


massa friável tumoral até o limite de pele normal através da curetagem e posteriormente
formaçãode margem adicional através da destruição eletrocautério, o procedimento
pode ser repetido (uma vez ou duas) para conferir maior segurança no tratamento. Esta
técnica também é utilizada associada à criocirurgia, ou precedendo outra técnica de
tratamento.
C&E está melhor indicada para o tratamento de lesões de baixo risco (pequenas,
primárias, bem delimitadas, com padrão histológico não agressivo e em locais de baixo
risco), nestas circunstâncias os índices de cura chegam a 97%. A C&E não é
recomendada para o tratamento de tumores recidivados, esclerodermiformes e tumores
em locais de alto risco na face como: região nasal, sulco nasogeniano e ao redor dos
olhos (peri-orbital)
• Criocirurgia: Congelamento do tumor e morte das células tumorais pelo uso de
spray de nitrogênio líquido. Esta técnica é amplamente utilizada no tratamento de lesões
isoladas ou múltiplas de CBC. Não se indica o uso de crioterapia para o tratamento do
CBC de alto risco ou recidivado. Entretanto, é indicada no tratamento de alguns casos
de CBC no pavilhão auricular, pela resistência tecidual da cartilagem ao congelamento,
e na região periocular, mas podem ocorrer defeitos de pele nas pálpebras. O uso C&E
precedendo de forma imediata a criocirurgia pode aumentar os índices de cura para o
CBC.
• Laser (dióxido de carbono): Consiste na vaporização de tecido neoplásico. Não
é usada de forma freqüente. Indicado para lesões de baixo risco. Quando combinado
com a curetagem, pode ser útil no tratamento de lesões de CBC superficial (extensas ou
múltiplas) e pode também ser usado como instrumento de corte para cirurgia excisional
e hemostasia.
• Excisão: Tem por objetivo a remoção completa do tumor com margens livres
de comprometimento neoplásico.
1. CBC primário (sem tratamento prévio): A excisão cirúrgica é altamente efetiva no
tratamento do CBC primário. O tecido retirado pode ser examinado
histologicamente permitindo a avaliação das margens laterais e profundas. Os
resultados cosméticos são bons, de uma maneira geral. A curetagem prévia à excisão
do CBC primário pode ajudar na definição das margens afetadas pelo tumor,
aumentando os índices de cura.
2. CBC recidivado (com tratamento prévio): Os índices de cura para o CBC recidivado
são menores que para o primário. CBC recidivado requer margens periféricas
maiores que os primários, com ou sem controle por biópsia de congelação
convencional. Foram sugeridas margens de 5-10mm.
3. CBC com margens comprometidas (histologicamente positivas): O manejo do CBC
com margens de ressecção comprometidas é controverso. Alguns trabalhos sugerem
que quase dois terços de casos de CBC com margens comprometidas e não tratados
novamente não recidivaram.
• Radioterapia: Encontra raras indicações para o tratamento do CBC e seu uso é
controverso. Apesar de o CBC ser radio-sensível, é difícil a definição precisa de
margens tumorais.
• Terapêutica tópica: As drogas disponíveis para tratamento tópico são o 5-
Fluoracil e mais recentemente o Imiquimod. O 5-Fluoracil tem sua utilidade no
tratamento de lesões extra-faciais de baixo risco, mas não pode ser indicado para o
tratamento de CBCs invasivos ou com envolvimento folicular; útil no tratamento de
lesões múltiplas de CBC no tronco e membros inferiores. O Imiquimod, em fase
experimental, tem resultados favoráveis em estudos iniciais.
• Terapia fotodinâmica: Em fase de pesquisa para o CBC. Um estudo com 151
casos de CBC tratados pela terapia fotodinâmica mostrou 88% de resposta completa ao
tratamento, porém sem seguimento de longo termo. Estudos prospectivos de longa
duração são necessários para uma melhor avaliação desta técnica.
• Quimioterapia: Utilizada na abordagem de doença localizada não responsiva a
tratamento (não controladas) e para CBCs metastáticos; estas são formas extremamente
raras e letais.
• Tratamento paliativo e/ou observação: Quando o estado geral do paciente não
permite a aplicação dos recursos terapêuticos mencionados. A relação risco/benefício
deve ser avaliada sempre.
• Retinóides: O uso de retinóides por via oral pode prevenir ou postergar o
desenvolvimento de novos casos de CBC. Tem sido mais utilizada em pacientes com
síndrome do nevo basocelular e parece ter um efeito menor na redução parcial de CBC
preexistente.
• Seguimento: O seguimento por um longo período é indicado pela possibilidade
de recidiva e/ou desenvolvimento de novas lesões. Indivíduos que já tiveram um câncer
cutâneo apresentam maior chance de desenvolver outra lesão, quando comparado à
população normal. A freqüência e a duração do seguimento depende das circunstâncias
individuais de cada caso.

Prevenção

Embora apresente altos índices de cura, os CBCs tem alta incidência, e merecem
nossa atenção. A exposição ao sol deve ser evitada no período das 10h às 16h, tendo em
vista que a alta exposição à luz solar é considerada o maior fator de risco ao
desenvolvimento da neoplasia. Deve-se utilizar sempre proteção adequada contra o Sol:
chapéu, guarda-sol, óculos escuros e filtros solares com fator de proteção igual ou
superior a 15. Os filtros solares não têm o objetivo de prolongar o tempo de exposição
solar, portanto, mesmo com filtro solar, deve-se evitar o Sol entre as 10 e as 16 horas, e
o filtro deve ser repassados a cada 30 minutos de exposição.

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