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CENTRO DE ESTUDOS DE MEDICINA

TRADICIONAL E CULTURA CHINESA


ACUPUNTURA

FÁSCIA: ESTUDO FÍSICO-ENERGÉTICO

Felipe Rondini de Mattos

Monografia apresentada como


exigência parcial para
Formação em Acupuntura.

SÃO PAULO
2010
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 03

2. DA FORMAÇÃO Á FUNÇÃO FÍSICA DA FÁSCIA 04


2.1. Embriologia 04
2.2. Citologia 06
2.3. Histologia 11
2.4. Anatomia 14
2.5. Biomecânica 16

CONCEITOS BÁSICOS EM MEDICINA


3. 21
TRADICIONAL CHINESA
3.1. Yin Yang 21
3.2. Substâncias Básicas 22
3.2.1. Jing 22
3.2.2. Chi 23
3.2.3. Xue 25
3.2.4. Jinye 25
3.2.4.1. Água 26
3.2.5. Relação entre as Substâncias Básicas 26
3.3. Zhang 27

4. A ENERGIA NA FÁSCIA 29
4.1 Meridianos 29
4.2. Respiração 30
4.3. Chi Gong 32
4.4. Artes Marciais 33
4.5. Huang Di Nei Ching 35

5. PESQUISAS LABORATORIAIS 39

A IMPORTÂNCIA DA INTEGRIDADE FÍSICA-


6. 40
ENERGÉTICA DA FÁSCIA

7. CONCLUSÃO 43

8. BIBLIOGRAFIA 45

2
1. INTRODUÇÃO

A proposta deste foi tentar explicar, através da biologia humana,


pesquisas científicas e conceitos da medicina chinesa, a importância
energética da fáscia.
Como veremos, o tecido conjuntivo ou conectivo facial, ou simplesmente
fáscia, não possui o plural “fáscias”, pois se encontra no corpo como uma rede
contínua de comunicação, sem interrupção do topo da cabeça até a ponta dos
dedos do pé – é uma entidade funcional do corpo humano; envolvem apóia,
protege e se entrelaça com todos os outros tecidos, envolvendo até mesmo,
cada célula do corpo humano. (45,46,58)
Desde 1913 anatomistas estudam a fáscia já pela constatação de seus
parcos relatos na bibliografia, relatam que a dificuldade de seu estudo reside
na fragilidade do mesmo durante as dissecações. Em 2007, a fisioterapeuta e
anatomista Mirkin, realizou uma pesquisa bibliográfica para uma melhor
definição do termo “fáscia” e concluiu que existe uma escassez histórica no
interesse em compreender a definição da fáscia. Isso dificulta o estudo e
conseqüente aprendizado e pesquisas. Hoje, os estudos da fáscia estão muito
mais voltados para o in vivo do que para o in vitro, uma vez que ela só tem
importância quando o organismo é animado; em relação a isso, Burget, em
2008, relata que “a magia da fáscia acaba” quando ela é estudada em
cadáveres. (43,44,47)
O estudo da fáscia é recente, e hoje existem laboratórios específicos
para a pesquisa deste tecido, como o Fascia Research Lab, da Universidade
de Ulm, Alemanha. Ele possui desde agosto de 2003 o Fascia Research
Project, liderado pelo Dr. Frank Lehmann-Horn; e grupos de pesquisa da
Universidade de Melbourne, liderado pela Priscila Barker, e da Universidade de
Harvard, liderado Myron Spector. Em 2007, na cidade de Boston, foi
inaugurado o I Fascia Research Congress, com o objetivo de atualizar os
pesquisadores sobre a fáscia; em 31 de Outubro de 2009, em Amsterdam,
ocorrerá a segunda versão do congresso. (62)

3
2. DA FORMAÇÃO Á FUNÇÃO FÍSICA DA FÁSCIA

Embriologia

Para alguns autores “a embriologia é o estudo das etapas e dos


mecanismos de formação do embrião, abrangendo o período que vai desde a
segmentação da célula-ovo até o nascimento do novo indivíduo”, outros
relatam que é “um processo de crescimento e de aumento crescente da
complexidade estrutural e funcional” envolvendo o envelhecimento e a
morte.(4,27,29)
O processo embriológico inicia-se na fusão de um óvulo e de um
espermatozóide. Na vida intra-uterina, o embrião aumentará 130 vezes seu
comprimento e 8000 vezes seu peso, o que representa um desenvolvimento
com um ritmo intenso e extraordinário. (30)
O zigoto passa a existir a partir de duas células após a fecundação, em
seguida entram os processos de clivagens, onde este passa a sofrer
sucessivas mitoses. Já na primeira divisão celular é secretado o gel de
glicosaminoglicanas – a matriz celular – agindo como cola para manter as
células unidas. (31,32)
Essas células são chamadas de blastômeros e tornam-se menores a
cada clivagem. Depois de 3 divisões, os blastômeros se tornam compactos,
tornando-se uma bola fortemente aderida e dispostas em duas camadas,
interna e externa. O próximo passo é se dividirem até uma mórula, onde
existem 16 a 50 ou 60 células, dependendo do autor. No útero, após 3 a 4 dias
da fertilização, surge uma cavidade, denominada blastocisto. (31,33)
Por volta do sétimo dia depois da fecundação, observa-se um
amontoado de células envolvidas por uma membrana translúcida, formando o
endoderma e o ectoderma – os dois primeiros tecidos celulares – dos quais
derivarão todos os outros tecidos. (34)
Na segunda semana, ocorre uma compactação, e surgirá o embrioblasto,
que é a massa celular interna, formando o embrião propriamente dito, e o
trofoblasto, derivado da massa celular interna. Ao final desta semana, formar-
se-á o saco vitelino primitivo, onde o mesoderma – terceiro tecido fundamental
– surge do endoderma deste saco. O mesoderma se desenvolve quando a

4
linha primitiva foi estabelecida. Autores divergem sobre o aparecimento da
linha primitiva, relatando que surgem entre o final da segunda ou terceira
semana. Esta linha é formada pela condensação das camadas em uma única
linha. (4,29,31)
É principalmente do mesoderma que surge o mesênquima, sendo este
um tecido embrionário constituído por células alongadas, núcleo oval,
cromatina fina e nucléolo proeminente, possuem numerosos prolongamentos
citoplasmáticos e estão imersos em uma matriz extracelular abundante e
viscosa pobre em fibras. O ectoderma e o mesoderma formarão, entre outras
estruturas como as células e os vasos sangüíneos, os tecidos conjuntivos do
sistema nervoso periférico e do restante do corpo, respectivamente. A fáscia é
formada por tecido conjuntivo, logo, derivada do mesoderma. (5,6,8,9,36)
Em 1977, a criadora da técnica “Rolfing”, Ida Rolf, já dizia que a posição
no espaço físico tridimensional ocupado pelo corpo humano é determinada por
elementos derivados do mesênquima, sendo estes, ossos, músculos,
ligamentos, tendão, e a fáscia. (37)
Os somitos são 42 a 44 blocos derivados da segmentação do
mesoderma, fato que ocorre no fim do primeiro mês de desenvolvimento. Sua
formação ocorre crânio-caudal e se diferenciam em três partes: (32)
 Esclerótomo: originam as vértebras e costelas e parte de suas
células de diferenciam em células mesenquimais, originando os tecidos
conjuntivos, incluindo ossos e cartilagens;
 Miótomo: origina a maior parte da musculatura estriada do corpo;
 Dermátomo: origina a derme.
A terceira semana da gestação é considerada o “período dos três”, pois
é onde ocorre o desenvolvimento dos três folhetos embrionários. Compreende
uma fase de desenvolvimento rápido do embrião devido à sua captação de
nutrientes da placenta e representa a ausência da primeira menstruação
esperada, sendo este o primeiro sinal de gravidez. A gastrulação é o processo
responsável pela formação dos três folhetos embrionários (ectoderma,
mesoderma e endoderma) e pela cavidade amniótica, que dará origem à bolsa
bilaminar. (5,6,8,31,35)

5
Nesta fase surge uma teia de reticulina fina feita por células
especializadas do mesoderma, sendo esta uma primeira versão fibrosa, origem
da conexão facial.(32)
Antes de o óvulo ser expelido pelo folículo ovariano, é cercado por uma
bolsa bilaminar da teça interna e externa. Após isso, assim como todas as
células do nosso corpo, o óvulo é rodeado por uma membrana bilaminar como
uma bolsa dupla envolvendo o conteúdo celular. Os órgãos e músculos
também são duplamente envolvidos, onde o saco mais interno envolve os osso
(periósteo) e cartilagens (cápsula articular) e o mais externo envolve os
músculos, sendo a fáscia muscular. Assim sendo, as inserções musculares
seriam partes do saco externo se unindo ao saco interno. (32,35)

Citologia

A fáscia é um tecido conjuntivo e sabe-se que setenta por cento da


constituição dos tecidos do corpo humano são formados por tecido conjuntivo;
indiferente da mudança de nomenclatura, sua estrutura básica é a mesma:
células conjuntivas, fibras colágenas e elásticas e substância fundamental ou
matriz extracelular. (2,13)
De acordo com sua localização e função as células conjuntivas,
chamadas de blastos, possuem nomes diferentes: (2,38,39)
 Fibroblastos: contêm prolongamentos citoplasmáticos irregulares,
núcleos com cromatina pouco densa e nucléolo evidente, possui o citoplasma
rico em retículo endoplasmático rugoso e o aparelho de Golgi bastante
desenvolvido. Possuem a função de sintetizar as fibras colágenas, reticulares,
elásticas, e as proteoglicanas, participando efetivamente da formação da matriz
extracelular.
 Macrófagos: possuem grande mobilidade devido aos seus
movimentos amebóides, possuindo, assim, uma morfologia variável de acordo
com seu estado funcional e localização. Possui a função de fagocitose de
bactérias, estruturas que penetram no organismo, células tumorais e proteínas
livres de restos celulares e também participam da resposta imunológica.

6
 Linfócitos: contém o núcleo esférico e heterocromático, e uma
pequena quantidade de citoplasma. Estão em pequena quantidade no tecido
conjuntivo, porém, quando há um sinal de processo inflamatório, por lesão por
corpos estranhos, microorganismos, estímulos mecânicos e/ou químicos, seu
número aumenta grandemente. Possuem duas categorias, basicamente, os
grupo T, envolvido na resposta imunológica, e o grupo B, com função de
produzir anticorpos.
 Plasmócitos: derivados dos linfócitos B, possuem formato ovóide,
citoplasma basófilo, rica em retículo endoplasmático rugoso, e com conteúdo
esférico. Quando há um antígeno, sintetiza e secreta anticorpos específicos
que irão associar-se à membrana dos mastócitos, diminuindo ou extinguindo a
ação patogênica, induz a cascata da resposta inflamatória local através dos
macrófagos e de substâncias inflamatórias liberadas pelos mastócitos.
 Mastócitos: célula globosa, com sua superfície cheia de
receptores específicos para imunoglobulina E liberada pelos plasmócitos, e
com grande quantidade de grânulos citoplasmáticos contendo mediadores
químicos (heparina, histamina, serotonina e leucotrienos), participando assim,
dos processos inflamatório e alérgico.
 Células adiposas: células arredondadas com a capacidade de
armazenar grande quantidade de moléculas de triglicerídeos em seu
citoplasma e com a função de liberar ácidos graxos de acordo com a
necessidade do organismo mediada pelos sistemas nervoso e endócrino.
 Eosinófilos, monócitos e neutrófilos: Células que compõem o
sistema imunológico e que migram da corrente sangüínea para o tecido
conjuntivo, normalmente, em resposta à uma inflamação aguda.
As fibras do tecido conjuntivo são basicamente duas, colágenas e
elásticas, e será o tipo e a necessidade de determinado tecido que fará com
que ele tenha mais ou menos fibras. Elas são:
 Colágenas: são as fibras que predominam no tecido fascial.
Apresentam-se fortemente agrupadas em feixes colagenosos por um elemento
mucóide, este é responsável por fixar substâncias que fazem a especialização
dos diferentes tecidos conjuntivos; esses feixes são formados por fibrilas
constituídas por moléculas de colágeno, isso gera sinuosidades, dando um

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aspecto estriado, que permite uma pequena elasticidade, pois a fibra em si não
se alonga. O tensionamento dos feixes colagenosos é o fator excitante para
sua secreção, porém, cada tipo de tensionamento provoca um tipo de secreção
e conseqüente rearranjo de seus feixes; se a tensão for contínua e prolongada,
as moléculas de colágeno ficam em série e as fibras colágenas alongam-se,
representando o alongamento do tecido; se a tensão for curta e repetida, as
mesmas moléculas se posicionam em paralelo (se sobreporem), tornando-se
um tecido mais compacto e mais resistente, sendo que a elasticidade do tecido
conjuntivo depende unicamente de sua maior ou menor densificação.
Dependendo do autor, são conhecidas aproximadamente 12 a 20 tipos de
moléculas de colágeno, de acordo com o seu arranjo forma-se uma fibra
colágena diferente, refletindo diversas funções dos tecidos; a fibra colágena
mais abundante no corpo humano é a tipo I (90% do total), encontrando-a nos
ossos, tendões, ligamentos, cápsulas articulares, derme e anéis fibrosos dos
discos intervertebrais; já a do tipo III recebe o nome de fibras reticulares,
encontradas no tecido conjuntivo frouxo associado aos epitélios, pequenos
vasos sangüíneos, nervos, células musculares, baço, medula óssea e
linfonodos, estão mais presentes no embrião, sendo substituídas no adulto pela
fibra tipo I. No geral, as fibras colágenas são menos estáveis e de curta
duração, ou seja, estão sempre se modificando. (2,35,38,39,50,51)
 Elásticas: são mais delgadas e estáveis, ou seja, de longa
duração e se arranjam uma mais ou menos longe da outra formando um malha,
uma forma irregular e retorcida - é justamente aqui onde reside o potencial
elástico do tecido – permitindo o tecido sofrer deformações e retornarem ao
seu comprimento original após o cessar do stress mecânico. Seu fator secretor
é desconhecido, mas sabe-se que a quantidade de elastina, sua principal
molécula, encontrada no tecido reflete a quantidade de stress mecânico
imposto à este e a solicitação de deformação reversível. (2,35,38,39,40)
Essas fibras estão mergulhadas na matriz extracelular, sendo ela a
principal constituinte do tecido conjuntivo, uma vez que os outros tecidos
fundamentais são constituídos apenas por células. A matriz extracelular acaba
por ser a substância fundamental e é formada pelos feixes colagenosos, pela
rede de elastina e pelo líquido lacunar. Ela é um complexo viscoso e altamente
hidrofílico de macromoléculas aniônicas (glicosaminoglicanos e proteoglicanos)

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e glicoporteínas multiadesivas (laminina, fibronectina, etc) que se ligam a
proteínas receptoras (integrinas) localizadas na superfície das células e de
outros componentes da matriz; estas últimas estabelecem uma ação
coordenada entre matriz/célula em resposta a estímulos externos através da
matriz extracelular; autores descrevem que “as integrinas são
mecanorreceptores, que transmitem informações de tensão e compressão dos
arredores de uma célula para o interior da célula, inclusive para o núcleo” e
“quando aumentamos o stress aplicado às integrinas, as células respondem
tornando-se cada vez mais rígidas, e vice-versa. Além disso, as células vivas
podem tornar-se rígidas ou flexíveis, variando o stress prévio do citoesqueleto.”
O ácido hialurônico – o líquido articular – é um tipo de glicosaminoglicano.
Assim, a matriz extracelular regula a atividade de suas próprias células,
determina a forma dos tecidos conjuntivos e distribui as tensões de movimento
e gravidade. (2,9,35,38,39,41)

Desenho do tecido conjuntivo visto pelo microscópio

Este líquido lacunar ocupa todo o espaço entre os feixes colagenosos, a


malha de elastina e as células conjuntivas, como já dito, possui uma imensa
quantidade de água e de capilares linfáticos que irão retirar todo o conteúdo do
local para formar a linfa (fluído vital), passando a ser também denominado de
linfa intersticial. Por possuir muitas células nutritivas e mais ainda de células
macrófagas, esta linfa intersticial é considerada um grande laboratório, pois sua
atividade metabólica é grande, detendo o primeiro local nas funções de
nutrição e eliminação. (2,9,39)

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O líqüor, ou líquido cefalorraquidiano é a junção de linfa e plasma no
sistema nervoso. (11)
A fisiologia denomina a nossa circulação vital de “circulação dos fluídos”
ou “circulação de água associada”; ela age no nosso corpo através de dois
mecanismos: a circulação canalizada ou sangüínea e a circulação lacunar,
onde, por inúmeras vezes é esquecida. (2)
O sangue carrega com si os glóbulos vermelhos e brancos,
respectivamente: os fatores de nutrição e de imunidade ou defesa. Ao sair do
coração, o sangue percorre por dentro das artérias que vão se ramificando e
sua luz diminuindo até chegar aos capilares fenestrados, uma imensa e
complexa rede canalizada. Os capilares fenestrados permitem que parte do
sangue extravase para o interstício (lacunas entre as células), formando o
plasma sanguíneo. A circulação canalizada acaba nos capilares fenestrados e
o plasma no interstício inicia a circulação lacunar. Devido à mobilidade dos
tecidos, o plasma se espalha. É neste momento que ocorre a osmose, onde as
células dos diversos tecidos retiram aquilo que necessitam. A nutrição celular é
a uma das principais funções da linfa intersticial. (2)
Os resíduos da nutrição celular que são expelidos para o interstício são
fagocitados pelos macrófagos e são eliminados nos capilares linfáticos. O
plasma somado com toda essa decomposição transforma este líquido lacunar
em linfa intersticial e no sistema linfático. Este sistema, juntamente com o
venoso, leva nossos líquidos para o coração e pulmão, concluindo um ciclo que
se reinicia constantemente. (2)
A “circulação de água livre” é uma circulação rápida, formada pelos
feixes colagenosos devido às mucinas hidrófilas e de acordo com as alterações
de densidade do meio, permite o processo osmótico, ou seja, a circulação de
água livre está contida na circulação de água associada. É uma circulação que
se renova constantemente, mas que possui um fluxo maior que a canalizada. (2)
Estas circulações ocorrem no tecido conjuntivo frouxo, como por
exemplo, a fáscia superficial, pois recobre o corpo logo abaixo da pele, a
aponeurose superficial, que se localiza entre as vísceras, as mucosas e reveste
o tecido epitelial e lhe garante a sua nutrição, etc. (2)

10
Como principal agente da circulação dos fluidos corporais temos que
pensar também na proliferação e propagação de processos infecciosos e
inflamatórios. (2)

Histologia

O tecido conjuntivo é um dos quatro tecidos fundamentais, a saber,


tecidos nervoso, epitelial e muscular. Basicamente, todos os outros tecidos que
não são nervoso, epitelial ou muscular é tecido conjuntivo em sua ampla
diversidade. (7)
Suas variações dependem da quantidade de matriz extracelular, do tipo
e quantidade de células e conseqüente fibras secretadas, a disposição destas
fibras e a presença de outros elementos. É dividido de acordo com seu
componente predominante ou a organização estrutural do tecido. (2,7,9)
A fáscia possui as funções de suporte mecânico, transporte de fluidos,
migração de células, controle do processo metabólico em outros tecidos, auxilio
na reparação tecidual, sustentação, estrutura e preenchimento de espaços,
armazenamento de gordura, barreira imunológica e funções tróficas e
morfogenéticas, organizando e influenciando o crescimento e a diferenciação
dos tecidos circunvizinhos. Assim, o tecido passa de tecido de nutrição e
defesa para um tecido de revestimento, manutenção, sustentação, divisão e
transmissão, e vice-versa. Isso evidencia a notável diversidade estrutural,
funcional e patológica do tecido conjuntivo. (2,7,9,38,40,55)

Corpo humano visto de costas sem as


primeiras camadas de pele, ilustrando a
musculatura (vermelho) e as fáscias
musculares (branca)

Representação do corpo
humano ilustrando os
diversos tecido que o
constitui.

11
O tecido conjuntivo de propriedades especiais incluem os tecidos
cartilaginoso, ósseo, adiposo, elástico, reticular e mucoso; o tecido conjuntivo
propriamente dito é assim chamado, pois é menos diferenciado e mais
genérico, do qual a fáscia pertence; dividimo-lo em dois grandes grupos:
(2,7,9,38,39)

 Frouxo: também chamado de laxo, irregularmente disposto ou


areolar, pelos numerosos espaços entre as células e fibras. Possui uma pouca
quantidade de fibras e estas são delgadas, e sua substância fundamental é
abundante adquirindo uma consistência de gel, facilitando a difusão vasos
sangüíneos/matriz/células. Está disposto em todo o organismo, tendo as
funções de barreira física e imunológica em infecções localizadas, nos
processos cicatriciais e de preenchimento, auxiliando no volume tecidual.
(2,7,9,38,39)

 Denso: ou fibroso. Possui uma maior quantidade de fibras


colágenas e uma menor quantidade de células que o conjuntivo frouxo,
conferindo-lhe a característica de o tecido ser mais resistente a deformações
mecânicas e menor flexibilidade; possui também uma imensa quantidade de
receptores, sendo peça fundamental da propriocepção 1 . Este tecido é
subdivido em dois tipos, e sua classificação é dependente da distribuição das
fibras colágenas. (2,7,38,39,50)
a) Não modelado: possui uma disposição aleatória das fibras,
formando uma trama tridimensional que lhe permite sustentar uma certa
resistência em qualquer direção, que é o caso da derme. As fibras estão em
grande quantidade em sua matriz, permitindo pouco espaço aos fibroblastos.
(2,7,38,39)

b) Modelado: a disposição das fibras são uniforme em uma única


direção, permitindo ao tecido que suporte uma grande resistência no sentido de
seus feixes, mas pouco em sua transversal. Está localizado em tendões,
ligamentos, aponeuroses, cápsulas articulares e fáscias musculares. (2,7,38,39)

1
Integração sensório-motora que através de estímulos aferentes e eferentes do e ao sistema
neuromioarticular, geram a modulação necessária para a manutenção da postura, estabilização articular e
conseqüentes movimentos do corpo no espaço.

12
Início de uma escara de pressão, onde os primeiros
tecido são perdidos, evidenciando a fáscia (branco)

Em um procedimento cirúrgico do joelho a fáscia


(branco) é vista e, posteriormente, seccionada.
Vemos a camada de derme, o tecido adiposo e sua
rica vascularização superficial.

Profundamente a derme é formada por uma lâmina densa de fibras


colágenas e elásticas. Ela é a responsável pelo tônus e pela resistência da pele,
pelo aparecimento de rugas tanto em decorrência do envelhecimento como das
pregas fisiológicas e pelas linhas de tensão (de clivagem ou de Langer). Essa
lâmina fibrosa pode ser danificada por ferimentos – onde formará a cicatriz - ou
por excessiva dilatação, como no caso da gravidez e em indivíduos obesos,
retornando quando se resolve essa dilatação, mas nunca retraem totalmente se
não estimuladas. (4)
Na fáscia profunda existem numerosas camadas paralelas de feixes de
fibras colágenas em camadas de diferentes orientações, sendo separadas por
uma fina camada de gordura. É nela que encontram uma enorme quantidade
de terminações nervosas livres (basicamente para dor) e encapsuladas
(principalmente de Ruffini e Paccini), o que nos mostra que a propriocepção
está intimamente ligada com a fáscia. (50)
Numerosos vasos sangüíneos e pequenas ramificações nervosas em
volta destes vasos são encontrados acompanhando o tortuoso caminho dos
feixes colagenosos e fibrosos das fáscias musculares. (50)
As fibras dos tendões respondem à direção de tração do ventre
muscular, indo em direção à sua inserção óssea. Os tendões são bem
interessantes, formam-se a partir da soma das diversas fáscias musculares do
ventre muscular do qual pertence. Conforme o ventre muscular se aproxima do
seu fim, ocorre uma inversão gradual de tecidos muscular e conjuntivo, este

13
último torna-se mais denso e entrelaça em si para formar o tendão, e este fixa-
se no osso, onde ocorre novamente uma inversão gradual de tecidos. As
aponeuroses são tendões, mas a disposição das fibras é bem diferente, elas se
organizam em planos que se sobrepõem e se cruzam. As fibras longitudinais
permitem a elasticidade e as transversais absorvem as tensões volumétricas
do músculo. (2)
Basicamente, o tecido conjuntivo frouxo possui grande quantidade de
linfa intersticial e no conjuntivo fibroso quase nada ou a ausência desta linfa. (2)
A fáscia ainda possui as propriedades de plasticidade e contratilidade.
O termo “plasticidade” se refere há idéia de adaptação.
Etimologicamente, “plástico” vem do grego “plastos”, significando “moldado”. É
a habilidade de passar por mudança na forma, é a resposta aos estímulos e a
facilidade de adaptação às condições do meio. Para a fáscia, plasticidade
refere-se à habilidade de adaptação ao stress físico ao qual é submetida, que
pode ocorrer de duas maneiras: à curo e à longo prazo; descrevê-los não é a
intenção deste trabalho, mas é importante saber que tais regulações estão,
supostamente, diretamente envolvidas com o sistema nervoso central. (56,57,58)
A contratilidade da fáscia é um termo usado quando foi achado,
histologicamente, proteínas contráteis (miosina e actina) na fáscia, mais
precisamente nas fáscias tóracolombar, plantar, palmar, lata e do ombro, ou
seja, em áreas de maior atividade física. Essas proteínas são consideradas
musculatura lisa, onde apenas o sistema nervoso central tem controle.
Receberam o nome de miofibroblastos, estão mais presentes no perimísio, logo,
possuindo uma maior ligação com os músculos tônicos ou posturais. Existem
pesquisas que verificam a contração da fáscia através de medicamentos e/ou
eletroestimulação. (59,49,42,35,60,61,47,48)

Anatomia

A fáscia é designada anatomicamente como uma membrana de tecido


conjuntivo fibroso de proteção para um órgão ou para um conjunto orgânico e
também para designar os tecidos conjuntivos de nutrição, por vezes também é

14
chamado de esqueleto fibroso. A fáscia profunda reveste as estruturas mais
internas e é uma lâmina fibrosa densa de tecido conjuntivo organizado. (2,4)
Porém, os osteopatas classificaram-na melhor, mostrando que a “fáscia”
não representa uma unidade fisiológica, mas sim, um conjunto membranoso,
bastante extenso, onde tudo (órgãos, vísceras, músculos, nervos, vasos, etc)
está ligado, formando uma única unidade funcional, como vimos com a teoria
da bolsa bilaminar. Ela é dividida basicamente em superficial e profunda. (2,12,54)
A fáscia superficial recobre quase por completo o corpo humano. De
superficial para profundo, o corpo humano é constituído de: pele, tecido
adiposo variável, fáscia superficial, tecido subcutâneo e suas ramificações e
aponeurose superficial. No tecido subcutâneo estão os nervos e vasos. Ela
aumenta a elasticidade da pele, é um isolante térmico e uma armazenadora de
energia para uso metabólico; está ausente na face, no quarto superior dos
músculos esternocleidomatóideos, na nuca, sobre o esterno, nas nádegas, na
depressão entre os músculos vasto externo e cabeça curta do bíceps femoral,
na região súpero externa posteriormente à coxa e na porção inferior na face
externa da fíbula, ou seja, nas regiões que desenvolvem escaras; nesses locais
ela é substituída diretamente pela aponeurose superficial, pelo tecido adiposo
ou pela musculatura da região, que se insere diretamente sob a pele. O risco
das queimaduras extensas está justamente na destruição dessa fáscia. (2,10,13,54)

Ilustração esquemática da coxa, onde pode-se


ver os seus diversos compartimentos.

15
A aponeurose superficial recobre todo o corpo, apresenta espessuras e
texturas variáveis, é a reunião de todas as aponeuroses possuindo a maioria
de suas inserções, em ossos móveis (clavícula e ulna superiormente e tíbia e
fíbula inferiormente) e todas as aponeuroses dos músculos se originam dela a
partir de suas ramificações. Insere-se na coluna, cabeça, esterno, linha alba e
púbis. As sobreposições de fáscia de diversos locais formam a aponeurose
superficial, logo, ela comanda todas as outras. (2,13)
A movimentação da fáscia é a responsável para que ambas as
circulações, de água livre e associada, percorram todo o corpo, permitindo a
noção de globalidade que existe no pensamento oriental e que está sendo
cada vez mais discutida hoje no lado ocidental. (2)

Ilustração esquemática da medula, atente


para a localização das meninges

É útil atentar que as meninges são membranas conjuntivas que


protegem o sistema nervoso central e que entre a pia-máter e a aracnóide
percorre o líquido cefalorraquidiano (líqüor). (2)

Biomecânica

O aparelho locomotor é constituído por um esqueleto passivo e rígido,


formado pelos ossos e unidos por articulações que permitem que nos
desloquemos no espaço, e um esqueleto ativo e flexível, formado pelo tecido
conjuntivo fibroso, incluindo os músculos motores. As fáscias de diferentes

16
músculos se interligam, criando a idéia de cadeia muscular, o sistema
miofascial. A função global biomecânica da fáscia se encontra aqui. (2,38)
Esta harmonia entre os sistemas ósseo e muscular, unidos pela fáscia,
começou a ser estudada geometricamente por Galileu e Platão e recebeu o
nome de tesengridade, derivada da expressão “tension integrity”, inventada
pelo desing Buckminster Fuller. O que exclui a teoria de músculos agirem
isoladamente. A teoria da tesengridade explica que ao corpo receber ou gerar
uma tensão ela será dissipada por todo a estrutura física, e que se essa tensão
for maior que esta estrutura possa resistir ou que não consiga dissipar, gerará
uma lesão local e/ou à distância. (33,35,53)
Neste contexto o sistema ósseo “flutua” entre as tensões produzidas
pelos tecidos moles. E aprofundando mais o raciocínio, estudos concluíram que
a tesengridade existe a nível celular, onde as integrinas unem as células à
matriz extracelular. (33,35)
Quando se aprende sobre os músculos, normalmente referem que o
tecido conjuntivo (e as diversas divisões da fáscia) está para o tecido muscular,
quando na verdade é o oposto, quem oferta todo o suporte para que o tecido
muscular aja é a fáscia. O retorno venoso auxiliado pelas contrações
musculares, principalmente nos membros inferiores só é possível, pois o
músculo está contido pela fáscia (formando uma bomba musculovenosa) e,
aqui entra uma das principais funções da fáscia: o sistema vascular e nervoso
é protegido por ela, logo, o fluxo sanguíneo recebe influência considerável da
mobilidade dos tecidos. (2,4,10,12)

Ilustração esquemática das divisões intra-


musculares com suas divisões fasciais
correspondentes

Para melhor entender o que foi descrito acima voltemos rapidamente à


anatomia: a unidade funcional do músculo é o sarcômero, um número

17
especifico desses residem dentro de cada célula, ou fibra, muscular; um
montante dessas formam o feixe muscular, que por sua vez, a soma de alguns
feixes formam o fascículo muscular e da mesma maneira formam o ventre
muscular. A fáscia muscular envolve o ventre, o epimísio envolve o fascículo, o
perimísio envolve o feixe e o endomísio envolve as fibras musculares; existe
uma lâmina basal que é formada pelas fibras reticulares (colágenos tipo III) do
endomísio, entre a lâmina basal e a fibra muscular, onde se encontram as
células satélites responsáveis pela plasticidade muscular. Nos nervos
periféricos: o epineuro envolve vários fascículos que são envolvidos por
perineuro, cada fascículo é formado por várias fibras nervosas que são
envoltas pelo endoneuro cada uma, e a fibra nervosa é formada pela bainha de
mielina que envolve o axônio; o epineuro, o perineuro e o endoneuro são feixes
conjuntivos derivados da fáscia do local. (7,4)

Ilustração esquemática da divisão do nervo e


suas devidas divisões fasciais

Os órgãos, vísceras e tecidos periféricos respondem de maneira idêntica,


gerando uma bomba tóraco-abdominal onde possui papel mais importante que
o conjunto das contrações musculares para o ato de respirar. Neste ponto a
respiração recebe mais uma função além da oxigenação: a de realizar uma
bomba que mobilizam as circulações de água livre e associada, ainda mais se
lembrarmos que a movimentação do gradeado costal movimenta a fáscia
superficial. (2,12)
O peritônio, um saco hermético onde os órgãos e vísceras se interligam
estreitamente, é comparado à fáscia superficial na função de fáscia
laboratório.(2)

18
A fáscia serve de proteção, tanto a nível celular quanto tecidual,
principalmente para os músculos, onde suas aponeuroses limitam e fornecem
um sentido útil para as contrações, evitando lesões. (2)
As aponeuroses de separação (tabiques ou septos) dividem e envolvem
as estruturas de acordo com as necessidades de transmissão motora; estas
são ricas em proprioceptores. Quando se pensa no sistema muscular, devemos
lembrar que funcionalmente eles não são individualizados, isso ocorre apenas
anatomicamente. Praticamente todos os músculos possuem inserções na face
profunda da aponeurose. Esses dados explicam melhor a propriocepção e a
influência de um músculo ou grupo muscular à distância. No tronco cerebral e
na medula existe o Gerador Central de Esquemas Motores (GCEM), que
seriam os responsáveis por todos os nossos gestos motores, e controlados
pela massa cinzenta central e tálamo – o sistema extrapiramidal, já o sistema
piramidal seria responsável pelo movimento fino (movimentos precisos e
sutis).(2)
A deambulação e a preensão estão para os cíngulos escapular e pélvico,
e estes estão ligados por sistemas cruzados, por exemplo, quando damos um
passo o membro superior oposto reage de maneira oposta e com força igual e
vice-versa (lei das compensações). Esses sistemas fazem com que
permaneçamos quadrúpedes funcionalmente, é uma prova da nossa evolução
e que somos mamíferos endireitados. Logo, esses sistemas são a base de
todos os nossos gestos. (2)
Para a classificação desses sistemas cruzados, foi necessário
anteriormente o estudo das linhas miofasciais. Essas linhas ou meridianos
miofasciais seguem algumas regras básicas, além de serem formadas por
conexões diretas ou indiretas, e são anatomicamente divididas e
cansavelmente subdivididas para explicar desde os gestos costumeiros aos
movimentos mais complexos exigidos pelas atividades físicas de alto nível.
Existe a hipótese de que essas linhas são formadas pela passagem de elétrons
ao longo da membrana fascial, neurologicamente com os músculos envolvidos,
e biomecanicamente através da fáscia. (35,36)
Esses sistemas se desenvolvem no corpo devido aos músculos
torcionais, guiados pelas fáscias, representando uma única cadeia. O sistema
cruzado anterior é formado bilateralmente pelos músculos rombóides, serráril

19
anterior, obliquo externo e obliquo interno do lado oposto. O sistema cruzado
posterior é formado pelo glúteo maior, aponeurose lombar e latíssimo do dorso
oposto. Enquanto o primeiro enrola, rota e flete, o segundo desenrola, desrrota
e estende. Um movimento da cabeça inicia a cadeia anterior que por sua vez
tenciona o glúteo máximo e este inicia a cadeia posterior. Todos os
movimentos do corpo iniciam a partir de um movimento do tronco, mais
especificamente do quadril, onde os seus músculos são chamados de diretores,
pois dirigem os membros para um objetivo a ser atingido e é aqui que a função
fásica se une com o tônus direcional.(2)

Ilustração mostrando algumas cadeias musculares em movimentos do corpo humano

Desta forma, os movimentos dos membros inferiores são guiados pelo


cíngulo pélvico, e o dos membros superiores pelo cíngulo escapular, tendo
como apoio a coluna, o cíngulo pélvico e os membros inferiores. (2)
A idéia de cadeia muscular surge com a compreensão da fáscia, através
da teoria da tesengridade, e ela atinge um patamar superior quando
entendermos que cada gesto é uma cadeia de coordenação motora
única.(2,35,38)

20
3. CONCEITOS BÁSICOS EM MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Através do olhar Oriental, o corpo humano (microcosmo) é uma réplica


reduzida do Universo (macrocosmo), estando sujeito às mesmas leis que o
regem. Assim, o corpo humano não contém apenas energia, ele é energia
densa viva. A fáscia é a sustentação onde ocorre a transmutação de energia
sutil em energia densa. (3,24)
Para compreendermos a estrutura energética da fáscia, ou seja, a visão
2
da Medicina Tradicional Chinesa sobre este tecido, é necessário o
entendimento de alguns conceitos, já comumente disseminados, porém com
um maior aprofundamento.

Yin Yang

São pólos opostos e completares, um depende do outro para existir. O


modo Oriental de se pensar nesta dualidade como uma unidade é
representada no poema de Lao Tse: (22,24,25)
“O Caminho gera o um
O um gera o dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres.”
Lao Tse (26)
Onde “Caminho” é o Tao, Deus; “um” equivale a Chi; “dois” é Yin e
Yang”; “três” são o céu, terra e homem; e os “dez mil seres”, também traduzido
como “as dez mil coisas” representa tudo no mundo.
Quando um atinge seu apogeu, transforma-se no outro; a essência de
um está contida no outro e vice-versa. Isso representa que algo não é
totalmente Yin ou totalmente Yang, logo, Yin e Yang não são conceitos
absolutos, o universo não é absoluto, mas no Ocidental estamos acostumados
a pesar através de conceitos absolutos – ou isto ou aquilo, enquanto que isto
pode ser também aquilo. (22,23,24,25)

2
A Medicina Tradicional Chinesa nasceu nos ventres do Taoísmo e do Budismo, através da meditação e
estudos meticulosos de Alquimia Interna.

21
Tudo no Universo e, conseqüentemente, no organismo pode ser
classificado em Yin e Yang; para se ter alguns exemplos:
 Yin é preto, matéria, força centrípeta, sólido, escuro, noite, frio,
lua, inverno, feminino, quietude, lento, receber, sangue, encolher, depressivo,
introvertido, instinto, calmo, crônico, pálido, para dentro, voz baixa, fraco,
profundo, físico, etc. (22,24)
 Yang é branco, imaterial, força centrífuga, expansão, claro, luz,
dia, calor, sol, verão, masculino, movimento, rápido, dar, energia, esticar,
eufórico, extrovertido, inteligência, agitado, agudo, vermelhidão, para fora, voz
alta, forte, superficial, espírito, etc. (22,24)

Formação do Tai Chi, este representa a eterna transformação ou Yin Yang

A flutuação entre Yin e Yang gera equilíbrio, harmonia, em diversos


níveis do ser. (22,23,24,25)

Substâncias básicas

Segundo a MTC, as substâncias básicas do corpo e a base material


para as atividades fisiológicas dos órgãos e vísceras, tecidos e demais
estruturas são: Jing, Chi, Xue e Jinye. (17)

Jing
É a essência, a matéria fundamental necessária para as atividades
funcionais do corpo e para sua formação. Dividi-se em duas partes: congênito,
através dos pais, e adquirido, através das matérias essências dos alimentos.
Um é dependente do outro, pois o Jing congênito mantém as funções do Jing

22
adquirido antes do nascimento, e este proporciona a nutrição para que o Jing
congênito complete o desenvolvimento das funções pós-natal. A MTC possui
um cuidado maior com os Rins, pois tanto o Jing como a fonte do Yin e do
Yang do corpo todo estão armazenados neste par de órgãos, também
chamado de “órgãos de Água e Fogo” e considerados a Base Anterior da Vida.
(17,19)

Possui as funções de crescimento e desenvolvimento do corpo.


Enriquece-se a partir da menarca para as mulheres e da emissão seminal para
os homens, e declina gradativamente na idade avançada e dependendo do
estilo de vida que se tem, debilitando as funções sexuais, a capacidade de
reprodução e ocorre o envelhecimento. Estando bem nutrido, os ossos serão
fortes e robustos, assim como seus dentes, a pessoa será inteligente, ágil e
enérgica (no sentido de ter muita energia, seu fluxo ser desimpedido). (17,19,22)

Chi
O ideograma 氣 representa “Chi” (lê-se “tchi”). Ele mostra o vapor
subindo do arroz cozinhando. Temos que traduzir isso como uma força
imaterial que se desprende da água material, a mudança de uma energia
latente em atividade; o Chi pode ser tanto o arroz quanto o vapor. (16,19,20,23)
O Dr. Jonh Mann e Larry Short em seu livro The Body of Light (O Corpo
de Luz) compilaram 49 culturas pelo mundo que possuem alguma palavra para
descrever Chi. Outros autores também descrevem de diversas maneiras o Chi.
No ocidente usamos a palavra Energia, e seus correlatos, como baixa energia
ou sentir-se com energia ou energizado, mas ignoramos esta parte importante
do nosso corpo. (1,13,19,20,22, 23)
Energia vem do grego en-ergon que significa “em atividade”. Os
dicionários não nos ofertam noção completa de energia quando nos referimos
ao Chi. O Chi pode vir dos corpos celestes, da terra, dos alimentos, bebidas e
ar do meio ambiente; tudo que percebemos no Universo pelos sentidos e pela
consciência é resultado de um agrupamento e dispersão de chi em vários
graus de materialização, sofrendo constantes influências internas e externas. A
melhor maneira de compreender “chi” é observar a própria manifestação da
vida. (1,16,17,19,20,22,24,25)

23
A teoria da relatividade de Einstein demonstrou que matéria e energia
não são distintas forças. Com a atual física quântica, descobriu-se a menor
unidade indivisível – quantum – unidade fundamental da manifestação de
energia, manifestada através do fóton, elétron ou graviton. Chi é a flutuação
eletromagnética ou a manifestação das partículas. (19,20)
De acordo com a medicina chinesa, existe uma energia física que circula
constantemente o Universo e através de todas as células do corpo. (1,3,13,24,25)
O crescimento e o desenvolvimento físico do corpo, dos Zang-Fu, dos
tecido e demais órgãos, as funções fisiológicas dos Canais e Colaterais, a
circulação de Xue e a distribuição dos Jinye dependem do estímulo e impulso
do Chi. (17,19,25)
O chi se divide basicamente em 4 tipos: Yuan, Zhong, Yong e Wei.
 Yuan Chi é a força motriz das atividades vitais do corpo, possui a
função de estimular e impulsionar as atividades funcionais de todos os tecido
do corpo, sendo considerado o mais importante. É constituído por 3 fontes de
Chi: do essencial inato, dos alimentos pela função do Estômago e do Baço-
Pâncreas e do ar límpido do meio pela função do Pulmão; (17,19)
 Zhong Chi tem o papel de produzir a força motora que promove a
respiração pela ação do Pulmão e a da circulação do Sangue pela ação do
Coração. É esta derivação do Chi que determinará a voz e a respiração,
estrutura forte ou fraca, a manutenção da temperatura e a capacidade de
movimento do corpo, é considerado de Grande Chi pela quantidade de funções
que determina. É produzido pelo Chi dos alimentos e da água pela ação do
Estômago e do Baço-Pâncreas; (17,19)
 Yong Chi circula dentro dos vasos sangüíneos possuindo a única
função de nutrição. Assim como o Zhong Chi, é produzido pelo Chi dos
alimentos e da água, porém a sua parte mais substancial, mais material; (17,19)
 Wei Chi é o Chi de defesa, também chamado de Weiyang, pois
faz parte da energia Yang do corpo. Representa a parte mais forte e ágil do Chi
e circula fora dos vasos sanguíneos, internamente percorre o tórax, abdome e
Zang-Fu, externamente pele, pelos e músculos. Suas funções são de proteger
a superfície, abrir e fechar os poros cutâneos, regular a temperatura, aquecer
os Zang-Fu, umedecer e dar brilho à pele e aos pelos – possuindo desta
maneira uma relação muito íntima com o Pulmão, levando o nome de Feiwei.

24
Em vários trechos do Huang Di Nei Ching, existe a referencia à “energia
estomacal”, referindo-se à energia Yang e conseqüente à Wei Chi, também
porque sua formação se dá pelos alimentos processados pelas funções do
Estômago e Baço-Pâncreas; estas vísceras também recebem bastante atenção
na MTC, pois são consideradas a Base Posterior da Vida. No mesmo Tratado,
em Ling Shu, capítulo 71, está: “A energia Wei tem a característica de ser
ousada e rápida, se movimenta através da musculatura e da pele sem cessar”.
(16,17,19)

Não existe uma correspondência na Medicina Ocidental para designar


Chi, podemos perceber sua presença apenas pelas atividades funcionais que
ele designa. Um dos mais evidentes e poderosos tipos de energia bioelétrica é
o ching-chi – a energia sexual; sentimo-la quando ficamos excitados. (13,19)

Xue
Lê-se “xiê” e significa sangue, responsável pela nutrição e manter úmido
os Zang-Fu e os demais tecidos do corpo. Antes do nascimento é produzido
pelas Essências inatas, posteriormente, produzido principalmente pelas
matérias substanciais da água e dos alimentos de Yong Chi, processados
pelas funções do Estômago e Baço-Pâncreas. Percorre todo o corpo, nutrindo
os Zang-Fu, pele, músculos, cabelos, ossos e tendões. Sua função mais
importante é nutrição da Mente. (17,19)

Jinye
Traduz-se por líquidos corporais normais: suor, lágrima, saliva, muco,
urina, líqüor e líquido sinovial, compreende também toda a parte hormonal e
linfática até ao nível de partículas atômicas. É um constituinte importante do
sangue, possuindo as mesmas funções: umedecimento e nutrição, porém, fora
dos vasos sanguíneos e dentro dos Zang-Fu. Sua fração Jin é Yang (mais
rarefeita, sutil) e age à distância, sua fração Ye é Yin (mais densa, material)
agindo localmente. (17,19)
Novamente, forma-se da água e dos alimentos através do Estômago e
Baço-Pâncreas, sobe para o Pulmão onde é difundido, circula as vias do Triplo

25
Aquecedor3 para a pele e para os Zang-Fu, onde são filtrados, ou seja, o Triplo
Aquecedor é o responsável pela distribuição de Jinye. (17,19) No Huang Di Nei
Ching (Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo), em Ling Shu, está:
“o Aquecedor Superior é como a névoa; o Aquecedor Médio é como embeber
as coisas em água para causar sua decomposição e dissolução; o Aquecedor
Inferior é como um aqueduto”. (16)

3.2.4.1. Água
É importante destacar a importância da água, pois esta é o principal
veículo da transformação de energia.
Setenta a oitenta por cento da nossa constituição é formada por água,
ela é a base dos líquidos do nosso corpo, é o veículo para os compostos
essenciais para as funções orgânicas. (1,2)
Na água encontram-se metais, como: ferro, manganês, magnésio, sódio,
potássio e até prata e ouro, eles conduzem a eletricidade no corpo, criando o
que os cientistas chamam de energia bioelétrica.(1,2)
Cada local que passa o líquido recebe nomes diferentes por agregar-se
a elementos do meio. (1,2)
No próprio metabolismo todas as células produzem água: a quebra da
molécula de glicose (C6H12O6) resulta em água (H2O) e gás carbônico (CO2)
com liberação de ATP (catalisador) e energia biológica (Ergs ou Joules). Esta
água é a mais pura e se torna uma condutora para a energia bioelétrica interna.
O rearranjo necessário nas ligações de hidrogênio torna a água com maior
poder condutor de íons e outras energias.(1)
Janke afirma que a ponte físico-energético do nosso corpo é feita pela
água.(1)

Relação entre as Substâncias Básicas


Jing, Chi, Xue, Jinye são derivados diversos da água e dos alimentos,
processados pela função de transformação do Estômago e pelo transporte do

3
Triplo Aquecedor é considerado uma Víscera para a Medicina Chinesa. Divide-se em Superior, Médio e
Inferior. Suas regiões específicas variam de acordo com a literatura, mas basicamente o Triplo Aquecedor
tem a função de distribuir o chi nas três partes do corpo, sendo que o Médio compreende os membros
superiores e o Inferior os membros inferiores. Não existe uma estrutura anatômica que faça sua função,
pois antigamente não se fazia necropsia. (1,3,17,18).

26
Baço-Pâncreas, depois, cada um seguirá uma direção própria de sua função.
Isto leva o nome de Chi Adquirido e os referidos Órgãos são considerados a
Base Posterior da Vida. (17)
Um se relaciona com o outro para manter uma harmonia, podendo um
converter-se no outro, como no quadro abaixo. (17)

Jing

Chi Xue

Jinye
Esquema das possibilidades da transformação das substâncias básicas

Quando se tem a deficiência de um, os demais se transformarão neste;


já quando se tem o excesso de um, este se transformará em outro para que o
equilíbrio seja mantido. (17)

Zhang

“Zhang” significa “órgãos” ou “órgãos sólidos”, que são: Fígado, Coração,


Baço-Pâncreas, Pulmões e Rins e estão diretamente relacionado com a Teoria
dos Cinco Movimentos ou Elementos. (3,5,16,19,22,24,25,65)
Assim, cada zhang, ou elemento, possui seus correspondentes na
natureza, no emocional, no sabor, no estado de espírito, no corpo, no ponto
cardeal, na cor, no desenvolvimento, na fase da vida, etc. . (3,5,16,19,22,24,25,65)
Compreender a Teoria do Zhang segundo a medicina tradicional chinesa
nos mostra uma anatomia, fisiologia e fisiopatologia por vezes muito diferente
da visão ocidental. Por ora, estudar brevemente a função energética de cada
órgão e seu correspondente emocional é o suficiente. . (3,5,16,19,22,24,25,65)
 Fígado: armazenar sangue, controlar a dispersão, a drenagem e
determinar as condições dos tendões e dos ligamentos. Sua emoção é a
raiva/ira.
 Coração: controlar o sangue nos vasos sangüíneos e as
atividades mentais. Sua emoção é a Alegria

27
 Baço-Pâncreas: controle do transporte e da transformação dos
nutrientes, do sangue, dos músculos e dos membros. Sua emoção é a
preocupação.
 Pulmão: controlar o chi e a respiração, comunicar e regular as
vias dos líquidos e controlar a difusão e decida do chi. Sua emoção é a tristeza.
 Rins: armazenar o jing, controlar os líquidos, receber o chi,
controlar os ossos, gerar a medula e chegar ao cérebro. Sua emoção é o
pânico/medo.

Os cinco movimentos ou elementos

O chi é transportado para os zhang pelos “fu” ou “órgãos ocos”: vesícula


biliar, pericárdio e intestino delgado, estômago, intestino grosso e bexiga;
acumula-se e gera os meridianos, controlando todo o corpo. Logo, uma
harmonia em cada um e entre si gera um corpo, um ser mais harmônico, mais
centrado; um órgão desequilibrado por fatores internos e/ou externos causará
alterações em suas correspondentes física e emocional, e por ventura, no
sistema todo, gerando doenças graves e talvez, incuráveis pelo grau da
lesão.(3,5,16,19,22,24,25,65)
Segundo um pesquisa de um hospital da China, mostrado em vídeo nas
aulas de Acupuntura do Mestre Liu Chih Ming, 98% das doenças tratadas pelo
hospital em um determinado período são devido aos fatores Yin ou internos,
apenas 2% são devido à acidentes e picadas.

28
4. A ENERGIA NA FÁSCIA

Meridianos

Os meridianos são circuitos bem demarcados por onde o chi percorre.


Existem 5 classes de meridianos, os mais importantes, ou os mais conhecidos
são os 12 ordinários e os 2 extraordinários. Eles se unem através dos seus
colaterais, formando uma rede que faz a circulação de chi. Os pontos de
acupuntura são áreas de influência no chi dos meridianos, localizados na
superfície do corpo. (1,13,16,17,19,20,22,24,25)
O ideograma para “meridiano” significa “rio”, “caminho”, “trilha” e também
“vaso sangüíneo”. Onde existe sangue há chi; enquanto o sangue percorre os
vasos, o chi percorre gretas e canais finíssimos formada pela
fáscia.(1,2,3,13,16,17,19,22)

Meridiano do Coração, a linha


contínua representa a parte externa, e a linha Matriz do Chi
pontilhada a parte interna canal de energia

Os meridianos e seus colaterais – jing luo – possuem a função de prover


chi de seus órgãos de origem aos outros órgãos e tecidos, unindo o interno
com o externo, em cima e em baixo, atrás e na frente. Esta rede é chamada de
Matriz do Chi. (1,3,16,17,19,22,24,25)

29
Chiji traduz-se por circulação de chi, e é isso que manifesta a vida.
Devido à um desequilíbrio interno entre Yin e Yang, ocorrerá uma alteração
nesta circulação, afetando as atividades normais dos Zang-Fu, sendo este o
primeiro estágio do que o Ocidente chama de “doença”. Ocorrendo um
bloqueio desta circulação em algum ponto ou área, à frente dela (seguindo o
fluxo de chi) desenvolverá a deficiência, e atrás aparecerá o excesso. Quando
a circulação de chi começa a ficar fraco e a estagnar ocorre uma maior
condensação, tornando-se cada vez mais denso a ponto de poder se tornar
uma unidade material, normalmente em tumores e massas. No instante que a
circulação de chi cessa por completo, existe o fenômeno da
(16,17,19,20,22,24,25)
morte.

Esquema ilustrando um meridiano com alteração de chiji devido à um bloqueio.

Respiração

Por muitos anos os chineses taoístas dedicaram-se a estudar e


aprimorar a respiração, tanto em seu ato mecânico (tornando-a mais profunda
e lenta), quanto no trabalho de captar o chi existente no ar (exercícios
específicos), ou seja, as partes material e não-material, o Yin e Yang do ar,
respectivamente. (1,18)
Tal conhecimento era passado de mestre aos seus discípulos, não
sabendo sua origem, mas acredita-se que surgiu com os taoístas.
Aproximadamente no século IV a.C., em uma obra taoísta intitulada Zhuangzi,
os chineses descreveram métodos sobre “rejeitar o velho e absorver o novo”
(tu gu na xin), referindo-se ao trabalho da respiração; desta originou a
expressão “técnicas de rejeição e absorção”, sobre exercícios de respiração no

30
geral; hoje se utiliza o termo “chi gong”, que se traduz por “treino/trabalho do
chi”, referindo-se não somente aos exercícios respiratórios como também ao
trabalho sobre a energia. (18)
A respiração correta é efetuada pelo abdome e não pela caixa torácica.
O diafragma se abaixa na inspiração, inflando o abdome, e volta à sua posição
de tenda de circo na expiração. Quanto mais se utiliza o abdome, cada vez
mais a respiração torna-se lenta e profunda, e a caixa torácica mobiliza menos.
Essa respiração massageia os órgãos abdominais e acelera as secreções
internas (circulações de água livre e associada), facilitando a digestão e a
circulação. Tanto as fases inspiratórias quanto as expiratórias são realizadas
pelo nariz, sendo que a fase principal é a expiração, onde as células realizam
as trocas osmóticas. Para se reaprender a respirar com o diafragma basta
observar um bebê respirando, a expansão e contração do abdome são rítmicas
e completas; no início deve-se prestar bastante atenção à respiração e com a
prática, tornar-se-á natural novamente. (2,4,18,22,23,24)

A respiração correta ativa todo o sistema energético do corpo e preserva o chi

Energeticamente no abdome se localiza o dantian (“Mar de Energia” –


chihai – ou “Oceano de Sopro”), centro inferior de acúmulo de energia,
relacionado com o Aquecedor Inferior do Triplo Aquecedor, teria uma função
próxima de um reservatório. Está localizado a alguns centímetros (três dedos)
para baixo do centro do umbigo. Segundo a literatura, seriam locais de

31
transmutação de chi4. O seu corresponde fisiológico é a Cisterna do Quilo do
sistema linfático, local onde existe uma grande quantidade de líquidos, ou jinye,
e também das mais de 120 variações da fáscia, é no abdômen que está a
maior concentração delas. Quanto maior for o relaxamento e menor as
resistências do corpo, em especial da cintura (cíngulo pélvico), mais facilmente
o chi chegará e concentrar-se-á com o tempo nesta região, preservando o Jing
– essência. (2,3,4,18,19,20,22)
Na dinastia Zhou (1112 a 249 a.C.) existe um texto que explica o
caminho do ar no corpo através do chi gong e pode ser sintetizado na frase: “o
sopro absorvido na respiração circula por todo o corpo”. O sopro é o chi da
respiração que percorre os meridianos, se une ao jinye produzido pela digestão,
transformando-se em vapor e circula no interstício. (18)

Chi Gong

São métodos de treino de captação de chi do céu, da terra e de tudo que


vive entre estes dois mundos, e a mobilização destas energias através dos
meridianos, com o princípio de cultivar, ou recuperar, a saúde e prolongar a
vida. São técnicas que combinam meditação, respiração e atividade física.
(1,23,63)

O objetivo é abrir a Matriz do Chi e maximizar as interações internas e


externas. Com a sua prática, a resistência interior diminui, criando um fluxo
cada vez mais próximo do ideal, beneficiando corpo e espírito. Didaticamente,
os antigos taoístas desenvolveram uma fórmula para compreender a
importância da prática de exercícios: (1)

Prática + intenção = harmonia interior = fluxo de chi = saúde e longevidade

Cultivar o Chi nos mantém mais alertas, animados, dispostos, produtivos,


tolerantes, sensuais, criativos, o pensamento torna-se mais claro, o corpo mais

4
Em uma visão Taoísta, após acumulado uma certa quantidade de chi no corpo, o Aquecedor Inferior
transforma o Jing em Chi que sobe para o Aquecedor Médio transformando-o em Shen (energia
espiritual), subindo para o Aquecedor Superior que refina-a e a reintegra na vacuidade. Ou seja, com o
treino (meditação, chi gong, tai chi, etc.) existe um refinamento da energia, fazendo com que a energia
flua livremente beneficiando todo o corpo, acalme o espírito (que reside no coração) e amplie a
consciência, reintegrando o ser ao Tao.

32
flexível, saudável, mais resistente às tensões do dia a dia, menos vulnerável às
situações negativas. É um remédio gratuito para todos os males que nos
acometem, tanto físico quanto mental. (1)

Gráfico exemplificando os níveis quanti-qualitativos de energia

Existem diversas modalidades de chi gong, desde as mais Yin até as


mais Yang, Lien Chi, Ba Duan Jin, Transformação dos Tendões, Tai Chi Chi
Gong, Camisa de Ferro, Palma de Ferro, Zhang Zhuang, Seis Sons, etc. (23,63)
Com o desenvolvimento do chi gong, originaram-se as artes marciais
internas e a própria Yoga (popularmente diz-se que esta é irmã do Tai Chi).

Ilustração de um determinado exercício de chi gong, a bola laranja


não é visível e pode servir de intenção para e do praticante

Artes Marciais

Deste conhecimento acumulado de muitos anos, desenvolveram-se as


artes marciais internas, onde o Tai Chi é o mais difundido no Ocidente. O
trabalho inicial do praticante de artes marciais internas é a atenção à sua
respiração, para torná-la abdominal, e ao seu quadril, para relaxá-lo. Com a
prática, o indivíduo torna seu corpo mais resistente, ágil, flexível, potencializa
sua respiração e recupera, mantém ou aumenta a sua saúde (1,18,19,63)

33
As artes marciais internas foram desenvolvidas com o intuído de
movimentar este chi através do corpo com maior destreza, aumentando seu
poder de movimentação, ofertando ao praticante a capacidade de movimentar
o chi para onde quiser, dentro e fora do corpo. (1,3,16,17,18,19,20,63)

Ilustraçãos de movimentos de Tai Chi ou Pa Kuá, ambas artes


marciais internas, e a aplicação em um oponente

A diferença das artes marciais internas das externas é que a primeira


trabalha de dentro para fora, e a segunda, de fora para dentro, ou seja,
relaxamento e força. Com o passar de anos de treino sincero, ambos os tipos
de artes marciais tornam-se muito parecidas; é onde o Yin e Yang tornam-se
um, unidos pelo Tao, o terceiro fator, a expansão da consciência, gerando
harmonia.(1,18,21)
A respiração aqui usada é a mesma de como se estivesse realizando chi
gong, a atenção das artes marciais internas está na região pélvica, justamente
por causa disso; relaxando a cintura e o abdômen a respiração fica mais livre.
(18,63)

Deve-se sempre praticar de forma relaxada, com respiração profunda,


postura ereta, mas não tensa, e sem pressa – ou como diz um Mestre de Tai
Chi: “com preguiça”. Nunca pode produzir dor ou desconforto. Com o seu
desenvolvimento, as articulações, músculos, ossos e órgãos tornar-se-ão cada
vez mais fortes, mantendo um estado vital superior. (63)
O uso de armas, como: espada, leque, sabre, ton-fá, lança, etc, são
opcionais, mas sempre muito útil para desenvolver outros aspectos energéticos
e mentais.
Extraído do “Canto das Treze Posturas” de Wu Yuxiang: “Não se
esqueçam do propósito principal (da arte marcial), que é o prolongamento da
vida e o não-envelhecimento”. (18)

34
4.5. Huang Di Nei Ching

Huang Di (黃帝), ou Imperador Amarelo, foi um dos Cinco Imperadores,


reis lendários sábios e moralmente perfeitos que teriam governado a China
após o período de milênios regidos pelos também lendários Três Soberanos.
Huang Di teria reinado de 2698 AC a 2599 AC. e considerado o ancestral de
todos os chineses da etnia Han.(28)

Huang Di
(Imperado Amarelo)

Segundo a tradição, Huang Di era dotado de uma inteligência fora do


comum, era perspicaz, estabelecia raciocínios avançados muito além do
normal para a sua idade e sobre vários temas.O Imperador se interessou pela
saúde e pela condição humana e como reza a tradição, ele que desenvolveu a
Medicina para o povo Chinês. (28)
O Huang Di Nei Ching (黃帝内經), ou Tratado de Medicina Interna do
Imperador Amarelo se apresenta no formato atual, através de uma compilação
de textos espalhados pela China, organizado por Bing Wang em 762 AC da
Dinastia Tang (618-907 AC). O livro é dividido em duas partes com 81 capítulos
cada, dos quais dois capítulos (72º e 73º) da primeira parte foram perdidos: (28)
 Su Wen (Questões Simples)
 Ling Shu (Eixo Espiritual)
O Cânone de desenrola através de diálogos entre o Imperador e seus
ministros. A seguir estão trechos onde, além de outros conceitos, é
apresentado aonde o chi percorre (fato este que podemos correlacionar com o
presente estudo), onde o chi se localiza gerando determinadas afecções, a
geração e transformação de chi dentro do corpo: (16)

35
Em Su Wen,
Capítulo 56:
“Os colaterais, que pertencem ao Yang, se encarregam do exterior, e os
canais, que pertencem ao Yin, se encarregam do interior”.
“Quando a energia perversa nos colaterais estiver superabundante, irá
penetrar seu canal”.
“Quando a energia perversa invadir o canal, irá penetrar no tendão por
meio dos colaterais; se não invadir o canal, irá invadir o osso através dos
vasos“.
“Assim, todas as doenças principiam definitivamente, em primeiro lugar a
partir de parte da pele. Quando o mal ataca a pele, as estrias se conservarão
abertas e a energia perversa irá invadir os colaterais; ... Quando o mal invade a
pele, a pessoa irá tremer de frio com os finos cabelos da pele em pé e as
estrias abertas. Quando a energia invade os colaterais, estes ficarão cheios, e
a cor da compleição do paciente irá mudar”.
“A pele é o local onde os colaterais de espalham; quando a energia
perversa invade a pele, as estrias se abrirão; quando as estrias se abrirem, a
energia perversa irá invadir os colaterais; quando o colateral estiver repleto de
energia perversa, este penetrará no canal; quando o canal estiver repleto ela
irá mais adiante e penetrará nas vísceras”.
Capítulo 58
“Os cinqüenta e oito pontos para tratar a síndrome de retenção de
líquidos, estão nos espaços entre os feixes musculares e os cinqüenta e nove
pontos para tratar as síndromes de calor perverso, estão nas interseções dos
diversos canais”.
“Disse o Imperador Amarelo: ‘Agora conheço as posições dos acupontos
para se aplicar as agulhas, e desejo conhecer mais acerca dos colaterais
imediatos, juntas e vales e reentrâncias entre os feixes de músculos
correspondentes’ ”.
“A função dos colaterais imediatos é remover a energia perversa.
Quando a energia perversa invade o corpo, gera estagnação das energias
Zong e Wei, respiração áspera e turva, coagulação do sangue, febre interna e

36
respiração curta externa; ... sempre que for vista a condição acima, deve-se
aplicar a terapia de purgação ao picar, ...”.
“... as energia Zong e Wei podem passar livremente no espaço ente os
feixes de músculos, e a energia perversa pode se instalar. Quando a energia
perversa invade e se instala nos vales e na reentrância, a energia saudável
ficará estagnada, causando calor no sangue e deterioração muscular; as
energias Zong e Wei serão incapazes de prosseguir e o músculo ficará inchado;
nesse caso, a medula será destruída por dentro e a protuberância do músculo
se quebrará por fora. Se a energia perversa ficar retida entre o osso e o
músculo, ocorrerá uma corrupção pela doença. Quando a energia perversa for
retida por muito tempo, as energias Zong e Wei não serão capazes de circular
normalmente e o tendão se encolherá e será incapaz de se esticar, ... Os vales
e reentrâncias se ligam aos trezentos e sessenta e cinco pontos e também
correspondem ao número de dias do ano. Se um ligeiro frio for retido por muito
tempo, pode se acumular e tornar maior, e também pode circular ao longo do
vaso causando a doença”.
“A diferença do vaso do colateral imediato e do canal, é que o vaso do
colateral imediato pode despejar o sangue quando estiver abundante”.
Em Ling Shu,
Capítulo 10:
“Quando os cinco cereais entram no estômago, aí se produzem as
substâncias refinadas que fazem com que os vasos fiquem desimpedidos,
gerando as operações incessantes de sangue e energia”.
Capítulo 12:
“Quando os doze canais do homem são vistos de fora, eles são como
doze correntes de água; quando vistos de dentro, eles conectam os cinco
órgãos sólidos e os seis órgãos ocos”.
Capítulo 30:
“..., quando o fluido fino de uma pessoa está astênico, isso fará com que
as juntas ósseas deixem de se dobrar e esticar normalmente, sua compleição
não terá brilho, sua medula cerebral não será plena e suas pernas estarão
doloridas; ...”.

37
Capítulo 36:
“Os fluidos corporais transformados a partir dos líquidos e dos cereais se
espalham individualmente por trajetos determinados. A energia Wei
proveniente do aquecedor superior que umedece os músculos e mantém a pele,
se chama fluido fino, e a que é mantida imóvel se chama fluido”.
“Quando o vento perverso fica retido entre o limite dos músculos, o fluido
corporal fica condensado como uma espuma e ocorre dor”.
Capítulo 52:
“A energia que flutua no exterior do canal e que não acompanha o trajeto
do mesmo se chama energia Wei; a energia refinada que corre dentro do canal
se chama Ying. O Yin e o Yang seguem um outro, e o interno e o externo se
comunicam um com o outro como um anel que não tem começo nem fim.
Quem poderia esgotar a essência desta energia interminável?”. ](16)

38
5. PESQUISAS LABORATORIAIS

O ganhador do Prêmio Nobel de 1937 pelo descobrimento da Vitamina C,


Albert Szentz-Györgyi, descobriu que um sistema interativo de condutância de
água interna e uma grade cristalina de proteínas (fáscia) formava um “contínuo
de transmissão de energia”. (1)
O Dr. Bjorn Nordenstrom, da Noruega, em 1983, provou que correntes
de íons percorrem caminhos preferenciais de condutância iônica (PICPs -
preferential íon condutance pathways), que chamou de circuito vascular-intersticial
(VICC - vascular-interstitial close circuit), dos quais são semelhantes aos canais
de energia (meridianos). No VICC a energia flui pelos fluidos carregados de
minerais dos vasos sanguíneos (vascular), do tecido conjuntivo (fáscia) e do
interstício. (1)
Em 1991, o Dr. Robert Becker, autor de The Body Electric, descobriu um
sistema perineural de controle de corrente contínua onde regiões de alta
condutância do corpo correspondem aos pontos dos meridianos. (1)
Estudos concluíram que se estimulando um ponto do meridiano da
bexiga no dedo mínimo do pé, a região cerebral associada à visão é também
estimulada, correspondendo à teoria dos meridianos. Porém, este estímulo
chega mais rapidamente do que seria possível via o conjunto de circuitos
neurológicos conhecidos, confirmando as descobertas de Nordenstrom e
Becker. (1)
Os órgãos possuem inervações vegetativas no tecido conjuntivo, mais
precisamente na denominada fáscia superficial; órgãos localizados à esquerda
ou à direita, possuem inervação do mesmo lado, órgãos pares possuem em
ambos. Ocorrendo transtornos funcionais e enfermidades destes órgãos,
formar-se-á zonas de tecido conjuntivo do lado respectivo. Estas zonas se
apresentam como um engrossamento do tecido conjuntivo que sua origem
parece advir de um processo de infiltração e drenagem do líquido, esta de
origem nervosa-relfexa. (15)

39
6. A IMPORTÂNCIA DA INTEGRIDADE FÍSICA-ENERGÉTICA DA
FÁSCIA

Para a Medicina Tradicional Chinesa a fáscia é a estrutura física para o


chi, é por onde estão localizados os canais energéticos ou meridianos – a
correspondente fisiológica da Matriz do Chi. Ela deve ser úmida e flexível para
que haja um fluxo livre de chi; se ela for seca, rígida e quebradiça, o fluxo será
debilitado e as doenças irão aparecer. Um fluxo livre de chi significa
flexibilidade, integridade estrutural e boa energia no corpo. (1,3)
Em condições normais, a fáscia deve ser flexível e deslizante. As
restrições e aderências na fáscia e entre os tecidos adjacentes, como no caso
de traumatismos, stress, processos inflamatórios, cirurgias, más posturas, etc,
torna-a mais sólida e encurtada, criando pressões em áreas sensíveis, levando
à dor, restrições de movimento e mau funcionamento dos órgãos, ou seja, do
corpo como um todo. (12,13)
Edemas que surgem pela imobilização, manchas na pele, espinhas,
furúnculos, vermelhidão, são exemplos de estase do líquido lacunar; dores
agudas sem gravidade, dores que se irradiam ou ‘queimam’, a retração e o
encurtamento muscular, são bloqueios da fáscia; a osteoartrose (densificação,
calcificação e degeneração da cartilagem) ocorre pelo mal funcionamento da
bomba articular causada pela perda da elasticidade cápsulo-ligamentar -
comum no processo de envelhecimento e pela ociosidade do homem
moderno.(12,14)
Pessoas com grande tensão emocional, agitação mental, desgaste,
irritação, emoções desagradáveis, cansaço excessivo, também levam ao
tensionamento maléfico da fáscia, que acarretam outras patologias ou
incômodos como a torcicolo ou a insônia. (12)
O próprio processo de envelhecimento do homem é a densificação
progressiva do tecido conjuntivo (a osteoartrose é um exemplo comum),
reduzindo o volume dos espaços lacunares e a circulação dos fluídos, o que na
MTC chama-se de Jinye.5 (2,13)

5
Líquidos corporais ou orgânicos normais: compreende todos os líquidos derivados da água.

40
Ou seja, todo acometimento na fáscia causa uma estase desse líquido,
conseqüentemente, acarretando em alguma doença. E tais alterações podem e
irão se manifestar também em outras regiões diferentes do local da dor, do
desajuste somato visceral ou somato emocional. (2,12,13,15)
Para simplificar, a premissa da fáscia é que o menor tensionamento,
interno ou externo, passivo ou ativo, repercute em todo o corpo humano,
unindo todos os sistemas. Autores comparam o corpo humano a uma
marionete onde as cordas que dão vida são as fáscias. (2)
Os exames por imagem mais modernos que possuímos ainda não
evidenciam as restrições fasciais, causando confusão ou erro em diagnósticos
e por vezes conseqüente(s) terapêutica(s) inadequada(s). (12)
A fáscia serve de proteção, agindo como lâminas flexíveis de um escudo
feito com material fino e forte. Chi Gong específicos fazem com que o chi se
acumule na fáscia, protegendo o corpo contra agressões físicas e energéticas
externas, exemplos desses exercícios são os chi gong da camisa de ferro e o
da palma de ferro. A idéia destes é captar, acumular e densificar o chi nos
espaços existentes entre uma lâmina fascial e outra até os espaços
intersticiais.(3)
Marcel Bienfait, em seu livro “Fáscia e Pompage”, supõe que é na
circulação de água livre que ocorre os efeitos da acupuntura, pois lembra que
os primeiros acupunturistas falavam em circulação de sangue e que o conceito
de chi surgiu muito depois. (2)
A fáscia torna-se, assim, uma matriz viva de água e tecido que forma a
estrutura adequada para que ocorra a transmissão da eletricidade,
internamente, para a função adequada do corpo, incluindo os meridianos, e
externamente, formando os campos magnéticos ou áuricos. (1)
Todos os pontos da acupuntura quando estimulados produzem
alterações no fluxo dos fluidos vitais, localmente ou à distância. (24)
Janke afirma que “quando arrumamos a postura para mais ereta e
relaxada, realizamos movimentos de maneira mais suave e aprofundamos a
respiração, fazemos com que essa água interna, dentro dos grandes rios e
oceanos formados pela fáscia, seja impulsionada e circule livremente, nutrindo
todos os tecidos”. Tal frase é extremamente verdadeira e resume a
importância de adquirirmos uma postura biomecanicamente mais correta; o

41
trabalho consciente de realizarmos movimentos mais suaves, não-bruscos, ou
seja, o trabalho proprioceptivo; e reeducarmos a nossa respiração para mais
abdominal, e quem sabe, mais ventral. Tudo isso é explicado na Medicina
Ocidental pelos osteopatas através das fáscias. (1,2,3)
A base da Medicina Tradicional Chinesa está na habilidade que a
pessoa tem em manter uma circulação apropriada de energia bioelétrica
através do corpo. Esta energia é uma forma de como conseguimos identificar o
chi. (13)

Ilustração do campo bioelétrico com


os 7 chakras principais, os pontos da
acupuntura são chakras bem
pequenos

Manipulação do próprio
campo bioelétrico das mãos, através
da prática e treino da sensibilidade

42
7. CONCLUSÃO

No início os homens aprenderam a aquietar-se,


E sua consciência navegou pelos rios internos,
Sabiam o que comer e o que beber.
Aprenderam a potencializar sua respiração,
E a fazê-la caminhar para os diversos locais do corpo.
Depois, aprenderam a exteriorizar o que foi acumulado,
Possibilitando o crescimento do seu discernimento,
Pois agora podiam escolher entre machucar e curar,
E assim se tornarem livres.

O estado anímico ou emocional atua diretamente sobre o corpo. Cada


vez o estudo do conjunto mente-corpo e a influência de um sobre o outro é
cada vez maior e abrangente, como a psicossomática e a
psiconeuroimunologia, sobre os efeitos da meditação e da oração em doentes
e saudáveis. (63)
Este conceito já permeia a mente oriental há muitos anos. Na Medicina
Chinesa temos as Cinco Bases para a Saúde 6 , onde a primeira e mais
importante é o fator emocional; ele mostra que o seu estado emocional, os
seus pensamentos, seu modo de agir às situações é padrão ouro para a saúde,
pois mente e corpo é a mesma coisa, é a mente Yin e o corpo Yang. (7)
O trabalho e desenvolvimento do corpo liberam a fáscia e conseqüente
movimentação do chi. Com isso seu corpo torna-se naturalmente mais flexível,
suas articulações menos rígidas, seus músculos mais dinâmicos, a mente mais
ágil e seu espírito mais em paz.
Tendo uma estrutura fisiologia de sustentação para a circulação de chi,
torna-se mais fácil o entendimento de mecanismos da Medicina Tradicional
Chinesa, valida e amplia e enriquece muito mais as pesquisas, os trabalhos e
as terapias corporais. Os terapeutas e, principalmente, os pacientes somente
têm a ganhar como estudo mais apurado da fáscia.

6
Cinco Bases da Saúde: estado mental, Estilo de vida, Alimentação, Atividade física e Tratamentos

43
Assim como a melhor forma de compreender o chi é observando a
manifestação da vida, compreender a fáscia requer consciência corporal – e
para isso é necessário aliar concentração e movimentos corporais.
Concluo que a fáscia é um elemento constituinte do corpo que necessita
de mais compreensão principalmente por parte dos terapeutas devido ao seu
relacionamento com o corpo-mente-espírito. Fato esse que, do meu ponto de
vista, deve ter início na Graduação da área da Saúde e do Esporte. Concordo
com o que um terapeuta Português expôs: “a fáscia está em todo o lugar no
corpo humano, logo, deveríamos dar-lhe a atenção devida, mas, justamente
por estar em todo o lugar, ninguém lhe dá importância”. Portanto, sugiro mais
pesquisas e divulgação, uma vez que o material científico ainda é muito
escasso.
Apesar de o trabalho cumprir com o seu objetivo, aconselho a leitura,
além dos livros expostos na bibliografia, das obras do Dr. Robert Becker sobre
a bioeletricidade e suas aplicações clínicas, do Dr. Yang Jwing Ming sobre a
energia nos tecidos humano, do Dr. Masaru Emoto sobre as reações da água
em diversos ambientes e situações, do Dr. Teruyoshi Hoga sobre acupuntura
de contato e o livro “Chi Kung da Camisa de Ferro” de Mantak Chia, que, por
falta de tempo hábil, infelizmente não foram incluídas neste. Sugiro ainda a
revisão e ampliação deste.

“Disse o Imperador Amarelo: ‘A duração da vida é diferente nas diversas


pessoas;... Desejo saber o motivo disso’. Disse Qibo: ‘A estrutura dos cinco
órgãos sólidos deve ser firme, os canais devem ser bem constituídos e
harmoniosos, os músculos devem ser maleáveis e úmidos, a pele deve ser fina
e compacta, o fluir da energia Ying (nutrição - Yin) e da energia Wei (energia
Yang) não devem se afastar de sua condição normal, a respiração deve se sutil
e lenta, a energia deve fluir de forma moderada e na velocidade adequada, os
seis órgãos ocos devem transformar os cereais e os líquidos do corpo devem
se espalhar pelos diversos orifícios; quando todos os aspectos acima estiverem
normais, a vida terá longa duração.7’ ”16
Extraído do Huang Di Nei Jing, Ling Shu, Cap. 54.

7
O conceito chinês de “longevidade” está relacionado tanto com “idade avançada” como com “viver com
saúde”, “qualidade de vida”.

44
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