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PREFÁCIO
Fala-se muito, hoje em dia, sobre a pequena importância dada à
igreja. Grande número de observadores do cenário religioso é de
opinião que a igreja se tornou como que o "bode expiatório" para a
maioria dos males que há no mundo.
Tudo depende, naturalmente, da definição de "Igreja". Em "A
Igreja — Corpo Vivo de Cristo", Ray C. Stedman usa a própria força
propulsora da Palavra de Deus para no trazer de volta ao real sentido
da igreja e de sua missão. Com argumentos fortes e convincentes, ele
revela os pontos' fracos da igreja institucional, chamando claramente a
nossa atenção para a força inerente ao corpo de Cristo — a verdadeira
Igreja.
Este livro não é só teoria e semântica. No décimo - segundo
capítulo, o autor relata como a sua interpretação da Igreja superou a
prova de fogo, que é a experiência prática. Ele nos convence de que a
definição neotestamentária da Igreja é um resultado da atuação de
Cristo Jesus através do seu Corpo coletivo.
A igreja em que ele trabalha, a "Península Bible Church" (Igreja
Bíblica da Península), começou com apenas cinco leigos, que
sentiram a necessidade de um testemunho cristão mais rico de
significado e efeito, além de uma "koinonia" mais completa do que
aquilo a que, antes, estavam acostumados. Essas cinco pessoas,
convencidas de que a igreja se acomodava com demasiada freqüência
entre as suas paredes, levaram essa mesma igreja a trabalhar
efetivamente em favor do povo do seu bairro, com sinceridade,
dedicação e eficiência. Hoje, ela se constitui num dos grupos mais
dinâmicos de evangélicos do litoral oeste dos Estados Unidos.
Ray C. Stedman, ansioso por compartilhar as bênçãos da
"Península Bible Church" com outros grupos, escreveu-nos "A Igreja
— Corpo Vivo de Cristo", um livro que mostra como a igreja pode se
relacionar com a vida de sua cidade, de um modo ricamente
significativo, completo e redentivo.
BILLY GRAHAM
SOMOS UM
Noite de domingo.
Alguns minutos antes das sete.
Uma jovem, trajando calças compridas verdes, blusa branca e
sandálias marrons, pára o seu Volkswagen na área de estacionamento
já quase lotada da "Península Bible Church", em Paio Alto,
Califórnia, nos Estados Unidos. Ela pega a sua Bíblia e se dirige para
o edifício de linhas sóbrias da igreja, onde o culto chamado do "Corpo
Vivo", está prestes a se iniciar.
Um jovem soldado, de farda, entra com o seu jipe no espaço ao
lado do "Volkswagen". No pára-choque está escrito: "Se você ama a
Jesus — buzine!". Ouvem-se várias buzinas. Ele salta do carro e acena
enquanto anda em direção à igreja.
Uma mulher grisalha estaciona cuidadosamente o seu
"Cadillac", tranca-o, e caminha com elegância em direção ao templo.
Alguma coisa atrai para esse culto pessoas de todos os tipos.
Mais de novecentas pessoas de todas as procedências afluem para a
Península Bible Church (PBC), a fim de participar do Culto do Corpo
Vivo.
À entrada, um jovem recepcionista dá à mulher grisalha uma
folha de papel contendo "Necessidades do Corpo Vivo è Pedidos de
Orações" Ela toma lugar ao lado de um estudante de barba e cabelos
longos e volta os olhos para a folha onde lê: "Uma moça precisa de
condução para a cidade de São José. Um rapaz pede orações pelo pai.
Outra pessoa oferece móveis, doando-os a quem precisar, etc..."
Lá na frente, um rapaz começa a tocar violão e cantar: "Jesus
Pastor Amado, juntos eis-nos aqui. Concede que sejamos um Corpo só
em Ti..." As novecentas pessoas do auditório erguem juntas as suas
vozes. Um sentimento de unidade e comunhão permeia o ambiente.
Depois dos cânticos de mais alguns hinos, um dos cinco
pastores da igreja dirige um breve estudo bíblico. O soldado enche de
anotações em vermelho as margens de algumas páginas da sua Bíblia.
Chega, então, a hora de compartilhar. Qualquer pessoa da
família pode levantar-se e mencionar uma necessidade sua ou pedir
orações. É a mesma "koinonia" da igreja primitiva, quando os cristãos
se reuniam com uma família, para compartilhar os fardos uns dos
outros, e animar-se mutuamente na fé.
A mulher grisalha se levanta. Um rapaz lhe traz um microfone.
Ela tosse, limpando a garganta: "Meu filho", ela diz, "Meu filho está
de volta, depois de oito anos longe de casa. Ele voltou viciado em
drogas e homossexual. Nós o levamos aos médicos psiquiatras e já
tentamos de tudo! Agora, queremos entregar esse assunto a Deus."
Ela se assenta, enquanto um murmúrio de interesse pelo seu
caso se faz ouvir por toda a família.
"Alguém quer fazer a oração pelo filho dessa senhora?"
pergunta o dirigente. Um jovem, que antes fora viciado em heroína,
faz uma oração em palavras muito simples em favor do filho daquela
mulher.
Em seguida, o microfone vai para um homem de meia idade,
que conta, como algumas pessoas da PBC o foram encontrar em seu
apartamento no bairro de Los Altos. "Caí numa bebedeira durante
dezesseis dias, e por causa disso, perdi o emprego. Foi quando esses
dois jovens entraram e disseram-me que calçasse os sapatos para
irmos à igreja. A princípio, recusei-me, mas, no fundo, eu sabia que
aquela era a minha última oportunidade. No caminho para a igreja,
aceitei a Jesus como meu salvador pessoal, e desde então, senti-me
liberto do alcoolismo."
Murmúrios de apoio e algumas exclamações discretas de
"Louvado seja Deus!" ouvem-se pela igreja.
Em seguida, uma missionária de Hong Kong, de visita à igreja,
faz um breve relatório do seu trabalho. "Quero agradecer a todos
vocês", diz ela, "por toda a ajuda e pelo dinheiro que nos têm enviado.
Nosso trabalho de educação cristã vai indo bem."
Logo que a missionária se assenta, todos cantam o hino
"Maravilhosa Graça de Jesus". Toda a família sente que o culto está
sendo dirigido por outras mãos que não as humanas.
É, então, anunciada a coleta. "Dê a sua oferta em proporção às
bênçãos recebidas. Ou, se precisar de dinheiro, retire-o da salva
quando ela passar por você. Se precisar de mais de dez dólares, venha
ao escritório da igreja para ser atendido."
Três estagiários se dirigem, então, para a frente. Estão prestes a
deixar a PBC. (Os estagiários são jovens crentes de grau universitário
que vêm para a PBC oriundos de ambientes e lugares os mais
diferentes, a fim de serem treinados para o ministério cristão prático.
Eles aprendem a confiar no poder da Ressurreição, o poder de um
Cristo ressurreto que neles se manifesta, não só para aprender os dons
espirituais que operam no Corpo de Cristo bem como para reconhecer
a relação que deve existir entre a igreja e a sociedade ao seu redor,
cheia de necessidades.
Os três estagiários ajoelham-se. Um deles será pastor no
Canadá. Outro desempenhará o seu ministério numa universidade. O
terceiro, voltará para o seminário.
O culto termina suavemente. O povo sai com calma pelas alas
entre os bancos. Algumas pessoas permanecem no recinto
compartilhando suas experiências.
A jovem de calças compridas verdes, dobra a sua Folha de
Necessidades e Orações e volta para o seu Volkswagen. O soldado, já
sentado no jipe, medita sobre o culto recém-terminado. Sente-se
confortado e encorajado. Não consegue definir, mas ele sente que algo
estranho está se passando no seu íntimo. Janice, sua irmã caçula,
insistiu com ele para que fosse ao culto. E quando a gente constata
com os próprios olhos a transformação da irmã, é bom procurar
conhecer a causa!
Três mocinhas atravessam a rua conversando: "Não foi
maravilhoso?", exclama a primeira, uma ginasiana. "Pois é, diz a
outra, lá estávamos nós naquela cidadezinha, para falar sobre Jesus!"
"Bem, é melhor nos apressarmos", acrescenta a terceira, "pois a
mamãe já deve estar preocupada, esperando."
A PBC mantém um ministério ativo exercido pelos jovens que
vão às áreas rurais do norte da Califórnia. Literalmente, centenas de
estudantes de ginásio e de colégio dessas pequenas comunidades
descobrem o Senhor Jesus, como resultado do ministério pessoal dos
jovens da PBC.
Numa época em que muitas igrejas se preocupam com o número
de membros, que é cada vez menor, a PBC continua crescendo. Este
corpo de crentes está vivo, porque o poder do Senhor ressurreto se
evidencia ali. A experiência feita pela PBC revela que, neste século
XX, qualquer igreja pode se avivar e se encher de entusiasmo.
Nota do Editor
Joyce Dueker associou-se há pouco tempo ao corpo de crentes
da PBC. A pedido do editor, escreveu esta visão introdutória de A
Igreja — Corpo Vivo de Cristo, a fim de nos transmitir aquilo que ela
observou e experimentou na comunhão desta igreja de Paio Alto.
Capítulo Um
Capítulo Dois
PRIORIDADE MÁXIMA
Estamos numa era revolucionária. A ventania tempestuosa da
transformação está soprando por todos os cantos O problema racial
provoca inquietação e revolta desordenada. As nações se defrontam
com problemas estonteantes de injustiça social, corrupção moral e
crueldade humana. Que devem fazer os cristãos, numa hora dessas?
Que posição a igreja deve tomar, diante de problemas tão complicados
e profundos? Estas são perguntas que muitos estão fazendo hoje
Quando Paulo escreveu aos cristãos na cidade de Éfeso, na
província romana da Ásia, eles estavam se defrontando com
problemas surpreendentemente idênticos. Metade da população do
Império era composta de escravos, rebaixados a uma servidão tão
completa, que eram negociados e vendidos como se fossem gado.
Com exceção de uma pequena classe de aristocratas e patrícios ricos,
a outra metade da população consistia de comerciantes e trabalhadores
que, a muito custo, levavam uma vida precária, não muito longe da
pobreza. A corrupção moral de Éfeso era legendária. Lá estava o
centro do culto à deusa do sexo, a Diana dos Efésios. E quanto à
crueldade, as legiões romanas estavam prontas para marchar a
qualquer lugar, a fim de suprimir, sem dó nem piedade, qualquer sinal
de revolta contra a autoridade do imperador. E este imperador era
Nero, cuja vida sórdida e selvagem já constituía assunto de conversa
em todo o império.
Ao escrever, Paulo se encontrava em Roma, como prisioneiro de
César, esperando a hora de ser apresentado a
Nero. Tinha permissão de viver em sua própria casa alugada,
mas não podia andar livremente pela cidade. Dia e noite, ele estava
acorrentado a um soldado. Vendo ao seu redor a vida decadente da
cidade, e sabendo das condições que prevaleciam na distante Éfeso,
que é que o apóstolo, ao lhes escrever, haveria de aconselhar aos
cristãos? A resposta é surpreendente e oportuna:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de
modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em
amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do
Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:1-3).
O que diz o apóstolo à igreja em Éfeso, em face das
desesperadas exigências criadas pela necessidade humana? Qual é a
sua resposta aos cidadãos oprimidos, que clamam por justiça e
conforto, a quem ele escreve? Simplesmente isso: .Cumpri a vossa
vocação! Não vos desvieis da estratégia divina. Obedecei às ordens
que tendes recebido. Segui o vosso Cabeça!
Nesta admoestação, o apóstolo reconhece claramente a
verdadeira natureza e função da igreja. Ela não é uma instituição-
humana. Não deve projetar a sua própria estratégia e estabelecer suas
próprias metas. Não é uma organização independente, que existe pela
força de seus números. Ela é, isto sim, um corpo chamado para um
relacionamento todo especial com Deus. Nesta carta aos Efésios, o
apóstola usa uma série de figuras, que descrevem este relacionamento.
A igreja, diz ele, é um corpo sob a direção de sua cabeça. Que
tragédia não seria, se esse corpo se negasse a seguir as instruções de
sua cabeça! A igreja também é um templo destinado à habitação e uso
exclusivo de uma Pessoa que mora dentro dele e tem o direito de fazer
o que quiser com esse templo. A igreja é um exército sob o comando
de um rei. Um exército que não obedece a seu chefe, não serve como
força de combate. Por isso, diz Paulo à igreja, obedecei às ordens e
segui vosso Cabeça.
O próprio Paulo é um exemplo para eles. Depois de ficar
definhando por dois anos como prisioneiro na Palestina (Cesaréia), ele
foi mandado para Roma numa viagem marítima muito perigosa, que
acabou em naufrágio na ilha de Malta. Mas, afinal, ele chegou a
Roma. Foi prisioneiro pessoal de Nero, mas nenhuma vez em sua
carta ele faz referência a si mesmo como sendo "o prisioneiro de
César". Ele sempre diz, como aqui, "um prisioneiro no Senhor", ou "o
prisioneiro do Senhor". Ele não se lamenta por estar na prisão,
acorrentado e confinado. Leia sua carta aos Filipenses, escrita também
nesta prisão, e achá-la-á cheia de alegria, triunfo e de confiança em
que tudo está bem. Para Paulo, atrás de César está Cristo. Ele não se
considera um prisioneiro de César, porque, além das correntes, do
guarda e dos processos imperiais de justiça, vê a mão de Jesus,
dirigindo.
Em sua carta aos Coríntios, Paulo diz: "não atentando nós nas
cousas que se vêem, mas nas que se não vêem" (II Coríntios 4:18). Por
quê? É que lá se acham as respostas últimas. Lá se acha a verdade
última e o poder último. O próprio Jesus refletiu esta atitude, ao ser
colocado perante Pôncio Pilatos. Este lhe disse: "Não sabes que tenho
autoridade... para te crucificar?" Jesus replicou de imediato:
"Nenhuma autoridade teria sobre mim, se de cima não te fosse dada"
(João 19:10-11).
Boa parte da explicação para a confusão tão difundida na igreja
de hoje, é o fato de que os cristãos têm olhado para as coisas visíveis,
em vez de olharem para as que não podem ser vistas. Vemos um
mundo que sofre, com necessidades humanas óbvias em toda parte.
Ódio e fanatismo abundam; a injustiça predomina, e a miséria está
presente para onde quer que nos voltemos. A solução óbvia parece se
coordenar todos os recursos humanos a fim de enfrentar estas
necessidades, Vamos trabalhar e fazer alguma coisa — e logo! Parece
tão lógico, tão conseqüente e prático. Mas isto é porque nosso
pensamento humano é limitado e superficial. Somente vemos as
coisas visíveis. Nossa preocupação superficial com aspectos externos
nos leva a tratar sintomas, e não causas. Aplicamos remédios via
externa, que só funcionam no momento, se é que funcionam, e depois
a situação é pior que antes.
Precisamos hoje, desesperadamente, dessa admoestação prática
do apóstolo: "Andai de modo digno da vocação a que fostes
chamados" (Efésios 4:1). Aquele que nos chamou, vê a vida de modo
muito mais claro do que nós Preparou uma estratégia, que de fato
removerá a causa das trevas e miséria humanas. Não perde seu tempo,
tratando câncer com esparadrapo. Vai direto à raiz. Quando a igreja se
mantém fiel à sua vocação, ela se torna um fator terapêutico na
sociedade, capaz de levantar toda uma nação ou império a um nível
superior da vida sadia. Em sua monumental história do mundo, A
História da Civilização, Will Durant compara as influências de César
e de Cristo. Diz ele, de Jesus:
"A revolução que Ele procurou foi uma muito mais profunda,
sem a qual as reformas só poderiam ser superficiais e transitórias. Se
Ele pudesse limpar o coração humano do desejo egoísta, da crueldade
e da luxúria, a utopia viria por si mesma, e todas aquelas instituições
que provém da ambição e violência humanas além de conseqüente
necessidade de leis, desapareceriam. Já que isto seria a mais profunda
de todas as revoluções ao lado da qual todas as outras seriam meros
golpes de estado, de uma classe desalojando a outra e explorando-a
por seu turno, Cristo foi, neste sentido espiritual, o maior
revolucionário da história." l
A verdadeira igreja está aqui, para levar a efeito aquela
revolução; a falsa igreja está aqui, para se lhe opor. Mas, cristãos
verdadeiros estão de fato promovendo a causa do cristianismo falso,
quando por ignorância ou zelo equivocado, se desviam da estratégia
de Deus e não obedecem à sua vocação divina. Nós, simples seres
humanos, não podemos aperfeiçoar o programa divino. E nós também
não fomos entregues à dúvida quanto à natureza dessa vocação. Os
primeiros três capítulos de Efésios são dedicados à sua descrição; e
ela se encontra em muitas outras passagens do Novo Testamento. Se
os cristãos querem obedecer com inteligência ao seu Senhor, devem
colocar a prioridade máxima em compreender o que é que Ele quer
que sejam e façam. Esta vocação divina está baseada sobre realidades
fundamentais e últimas.
Esta é a glória do cristianismo: mostrar as coisas como
realmente são. A característica das epístolas neotestamentárias é que
elas começam com a verdade, que é o que nós chamamos de doutrina.
Então, baseando-se no fundamento subjacente da verdade, o escritor
prossegue, sugerindo certas aplicações práticas. Quão tolo é começar
com outra coisa, a não ser com a verdade! Há uma certa gente hoje em
dia nos dizendo que deveríamos começar com algum tipo de sonho ou
esperança idealizada. Construindo sobre essa ilusão, elaboraríamos
soluções práticas para nossos problemas. Mas os apóstolos nunca
fazem isso. Cada um começa seu escrito com a verdade, a verdade
como realmente é, com as coisas como de fato se apresentam. Estes
escritores nos chamam de volta à realidade.
Nos capítulos iniciais de Efésios, Paulo faz uma série de
afirmações sobre o propósito da igreja: não apenas o seu propósito
para a eternidade algum dia, mas o seu propósito para o tempo
presente. Já que os cristãos têm em Cristo muito mais do que tinham
em sua condição anterior, sob as trevas e as frustrações do reino de
Satanás, é de bom augúrio saber para que finalidade e sentido tudo
isso está designado. Observemos algumas dessas afirmações acerca da
natureza e sentido da igreja:
Ele nos escolheu nele [Cristo] antes da fundação do mundo [a
igreja não é fruto de nenhuma reflexão posterior de Deus. Ela foi
planejada muito antes de o mundo ser criado], para sermos santos e
irrepreensíveis perante Ele (Efésios 1:4).
A primeira preocupação de Deus não é o que a igreja faz, mas
sim o que ela é. O ser sempre precede o fazer, pois o que fazemos
sempre será determinado por aquilo que somos. Compreender o
caráter moral do povo de Deus é um ponto essencial, a fim de
entendermos a natureza da igreja. Como cristãos, devemos ser um
exemplo moral para o mundo, refletindo o caráter de Jesus Cristo.
Recentemente, estive lendo sobre dois americanos que estavam
andando de trem, na Inglaterra. (Os trens ingleses têm
compartimentos em que se podem sentar até seis pessoas.) No mesmo
compartimento destes dois homens, estava sentado um senhor de
aspecto muito distinto. Em voz baixa, os dois americanos estavam
discutindo acerca deste senhor. Um deles disse bem baixinho:
"Quanto quer apostar que ele é o Arcebispo de Cantuária?"
Replicou o outro: "Pois eu acho que não. Eu topo a parada."
O primeiro se dirigiu ao cavalheiro e disse: "Com licença, o
senhor se importaria em nos dizer se é o Arcebispo de Cantuária?"
O homem respondeu imediatamente: "Vá cuidar de sua própria
vida. Que é que vocês têm a ver com isso?"
Então um dos americanos se voltou para o outro e disse:
"Acabou-se a aposta! Não há jeito de descobrir!"
Essa estória apenas quer sugerir que os cristãos deveriam ser
facilmente identificáveis pelo seu modo de falar e de viver, de agir e
reagir. Nós, cristãos, somos chamados a ser "santos e irrepreensíveis
perante ele". Este é um dos propósitos da igreja.
Paulo nos dá uma outra finalidade da igreja, no primeiro
capítulo de Efésios:
Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por
meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para
louvor da glória de sua graça (V. 4-6a).
Nós, os que de antemão esperamos em Cristo, somos para
louvor da sua glória (V. 12).
Pense nisso, um pouco! "Nós, que de antemão esperamos em
Cristo", significa: nós, que somos cristãos, como sendo destinados e
designados (aqui está novamente a nossa vocação) a viver para o
louvor de sua glória. A primeira tarefa da igreja não é o bem-estar dos
homens, por mais importante que isto seja, e mesmo considerando que
este ponto decididamente entre no quadro. Mas não é a primeira tarefa
da igreja. O primeiro objetivo é viver para o louvor e a glória de Deus.
Como o declara uma outra tradução: "Nós deveríamos fazer com que
sua glória fosse louvada".
Que é a glória de Deus? É o próprio Deus, a revelação do que
Deus é e faz. O problema deste mundo é que ele não conhece Deus.
Não tem compreensão alguma d'Ele. Em todas as suas procuras e suas
divagações, em seus esforços por descobrir a verdade, ele não sabe
nada de Deus. Mas a glória de Deus é revelar-se a si mesmo, mostrar-
se como é. Encontramos outro auxílio para compreender isso em II
Coríntios:
Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz —, ele
mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus na face de Cristo (II Coríntios 4:6).
Os homens podem ver a glória de Deus na face de Cristo, em
seu caráter, em seu ser. E essa glória se acha, como diz Paulo, em
"nossos corações". A vocação da igreja é revelar ao mundo a glória do
caráter de Deus, como se acha na face de Jesus Cristo. Isto se encontra
novamente no primeiro capítulo de Efésios:
E pôs toda as cousas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça
sobre todas as cousas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a
plenitude daquele que a tudo enche em todas as cousas (Efésios 1:22-
23).
Esta é uma tremenda afirmação. Declara que tudo que Jesus
Cristo é (sua plenitude) pode ser visto em seu corpo, que é a igreja. O
segredo da igreja é que Cristo vive nela, e a mensagem da igreja para
o mundo é declará-lo, é falar de Jesus Cristo. Paulo descreve este
segredo da igreja verdadeira, novamente, no segundo capítulo.
Assim já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos
dos santos, e sois da família de Deus; edificados sobre o fundamento
dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário
dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo
edificados para habitação de Deus no Espírito (Efésios 2:19-22).
Aí está o mistério sagrado da igreja: ela é a morada de Deus. Ele
vive em seu povo. Esta é a grande vocação da igreja: tornar visível o
Cristo invisível. Paulo, como um cristão-modelo, descreve seu próprio
ministério nos seguintes termos:
Manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os
séculos oculto em Deus, que criou todas as cousas, para que, pela
igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos
principados e potestades nos lugares celestiais (Efésios 3:9-10).
Aí está, de modo bem claro: a tarefa da igreja é "tornar
conhecida a multiforme sabedoria de Deus", torná-la conhecida não
somente aos homens, mas também aos anjos, que estão observando a
igreja. Estes são "os principados e potestades nos lugares celestiais".
Há outros, além dos homens, que estão observando a igreja e com ela
aprendendo.
Sem dúvida os versos acima são suficientes para deixar uma
coisa perfeitamente clara: a vocação da igreja está em declarar pela
palavra e demonstrar em atitude e ação o caráter de Jesus Cristo, que
vive dentro de seu povo. Devemos declarar a realidade de um
encontro que muda a vida de um cristão e demonstrar esta mudança
através de uma vida altruísta e cheia de amor. Até que o tenhamos
feito, não há nada que possamos fazer, que possa ser benéfico. Esta é
a vocação da igreja, à qual Paulo se refere ao dizer: Rogo-vos que
andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados.
Observe como o próprio Senhor Jesus confirma isso, no capítulo
de abertura do livro de Atos. Logo antes de ascender para o seu Pai,
Ele disse a seus discípulos:
"Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a
Judéia e Somaria, e até aos confins da terra" (Atos 1:8).
A vocação por excelência da igreja é ser testemunha de Cristo.
Uma testemunha é alguém que declara e demonstra. O apóstolo Pedro
diz uma palavra magnífica sobre isso, em sua primeira carta:
"Vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (I
Pedro 2:9).
Observe o esquema "Vós sois... a fim de". Essa é a tarefa
primordial do cristão. Jesus mora nele, a fim de que possa demonstrar
a vida e o caráter do que vive dentro dele. Todo cristão verdadeiro tem
a responsabilidade de realizar esta vocação da igreja. Todos são
chamados; em todos habita o Espírito Santo, e se espera de todos que
realizem sua vocação diante do mundo. Esta é a nota clara que o
apóstolo faz soar através de toda a carta aos Efésios. A expressão do
testemunho da igreja, às vezes, pode ter um caráter global, mas a
responsabilidade de o fazer é sempre individual.
Mas, aqui, surge novamente o problema de uma possível
falsificação. É fácil para a igreja (ou para o cristão, individualmente)
falar sobre a demonstração do caráter de Cristo e ter grandes
pretensões de fazê-lo. No entanto — como o sabe todo pagão
inteligente, que tem observado cristãos de perto — a imagem que
realmente transparece não é sempre a mesma do Jesus dos
Evangelhos. Este é o motivo pelo qual o apóstolo Paulo é muito
meticuloso ao descrever esse caráter em termos mais específicos.
...Com toda humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos
diligentemente por preservar o unidade do Espírito no vinculo da paz
(Efésios 4:2-3).
Humildade, paciência, amor, unidade e paz — estas são as
características reais de Jesus. Cristãos não devem testemunhar com
arrogância e rudeza, nem com presunção de "sou-mais-santo-que-
você", nem com a soberba de um santarrão, e com certeza, também
não sobre o fundo de torpes brigas de igreja nem de asperezas entre si.
A igreja não deve falar sobre si mesma. Ela deve ter uma mentalidade
modesta, não se gabando orgulhosamente de seu poder ou procurando
aumentar o seu prestígio. A igreja não pode salvar o mundo; mas o
Senhor da igreja, pode. Não é pela igreja que os cristãos devem
trabalhar e empenhar suas vidas, mas pelo Senhor desta igreja. A
igreja não pode exaltar seu Senhor,, procurando exaltar-se a si mesma.
A verdadeira igreja não procura ganhar poder aos olhos do mundo.
Ela já tem todo o poder de que precisa, do Senhor que nela mora.
Ainda mais, a igreja deve ser paciente e indulgente, sabendo que
as sementes da verdade levam tempo para germinar, crescer e
amadurecer. A igreja não deve fazer exigências estridentes à
sociedade, de mudanças repentinas e violentas de estruturas sociais,
que se estabeleceram há muito tempo. Antes, a igreja deve evitar
decididamente a prática de males sociais em- seu próprio meio,
implantando assim na sociedade sementes de verdade que, em última
instância, hão de germinar.
Um dos livros mais famosos de todos os tempos é O Declínio e
Queda do Império Romano, de Edward Gibbon. Ele mostra o que
aconteceu àquele poderoso império e como ele se desintegrou,
primeiro, internamente. No livro há uma passagem que Sir Winston
Churchill decorou, porque a considerou admiravelmente característica
e acurada. Ela fala da igreja dentro do império:
"Enquanto o enorme Império romano foi invadido pela violência
aberta e minado por uma lenta decadência, uma religião pura e
modesta se insinuou gentilmente nas mentes dos homens, cresceu
obscura e silenciosamente, extraiu da oposição sofrida um novo vigor,
erigindo finalmente a bandeira triunfante da Cruz sobre as ruínas do
Capitólio." 1
O maior sinal da vida de Jesus Cristo, dentro do cristão, é
naturalmente, o amor. Amor, que aceita os outros como eles são; que
é compassivo, que perdoa, e procura evitar que mal-entendidos e
diferenças de opinião dividam os cristãos entre si. Jesus disse: Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros. (João 13:35). O amor nunca se manifesta pela rivalidade,
ambição, ostentação, indiferença ou preconceitos. Ele é exatamente o
oposto de insultos, calúnias e divisões, devido a pontos de vista
inflexíveis. O amor se preocupa em manter a unidade, não em criá-la.
A igreja nunca pode criar unidade, mas pode mantê-la. Examinaremos
esse assunto mais de perto, no próximo capítulo.
Mas tudo isso não nos ajuda a responder à grande questão: Com
que finalidade a igreja está aqui no mundo? Onde é que vamos
começar com a tarefa de influenciar e mudar o mundo? Onde
devemos colocar nossa principal ênfase? O Novo Testamento fala
muito pouco sobre a participação do crente na política; sobre
problemas de habitação; sobre direitos civis, ou sobre disputas entre
empregados e empregadores. Isto não significa que os cristãos devam
ignorar essas questões. É óbvio que não podemos ter um coração
cheio de amor por seres humanos, nossos irmãos, sem nos
preocuparmos com essas coisas. Mas o Novo Testamento diz
relativamente pouco sobre elas, porque Deus sabe que o único modo
de enfrentar esses problemas é a introdução de uma nova dinâmica na
vida humana, a dinâmica da vida de Jesus Cristo. É disso que os
1
Edward Gibbon, O Declínio e Queda do Império Romano, vol. I.
homens precisam. A correção do mal se seguirá inevitavelmente à
introdução dessa vida. Certamente precisamos começar lá, porque esta
é a vocação a que a igreja é chamada.
A "nova esquerda", e os assim chamados cristãos radicais,
evidentemente não compreendem o radicalismo espiritual do Novo
Testamento. O evangelho germinou num ambiente social, sob vários
aspectos, muito semelhante ao nosso. Os primeiros cristãos se
defrontaram com uma instituição que estava lutando por sua
sobrevivência. Injustiça, opressão e discriminação eram amplamente
difundidas.
Mas aqueles que procuram textos básicos, que justifiquem
passeatas,, greves ou boicotes, têm problemas. Estes tentam
solucionar os males da sociedade, lavando o copo pelo lado de fora,
como disse Jesus. Uma verdadeira revolução cristã transforma as
pessoas internamente. É aí que tantas igrejas se perdem. Cristo disse
que, somente quando as pessoas são transformadas, recebem um novo
coração, um novo espírito e uma nova orientação, haverá uma nova
sociedade. É necessário que morram o ego e o egoísmo; que haja uma
radical mudança de direção, e um novo nascimento ou uma
ressurreição. A palavra que o Senhor dirige a essas pessoas é:
Abençoai aos que vos perseguem. ... Tende o mesmo sentimento uns
para com os outros. ... Não torneis a ninguém mal por mal. ... Não te
deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem. (Romanos 12:14-
21).
A igreja deverá, nesta hora turbulenta da história, abandonar a
mais notável mensagem revolucionária de que o mundo já ouviu falar,
uma mensagem que lhe foi especificamente confiada? Ela deverá, em
vez disso, contentar-se em fazer algo que qualquer organização
mundana pode fazer? Ela deverá tornar-se nada mais do que outro
grupo de ação política? Ela deverá sucumbir diante do sofisma de que
a mudança, qualquer tipo de mudança, signifique progresso? O que o
apóstolo Paulo deseja é que atendamos ao nosso chamado de nos
tornar responsáveis em contar à A sociedade, essa boa nova sobre
Jesus Cristo, que é radical, \J revolucionária e capaz de transformar
vidas. A igreja precisa invadir novamente a vida comercial e
industrial, a educação e o aprendizado, as artes e a vida da família, a
moral e o governo com essa mensagem tremenda e inigualável. Um
Senhor Jesus Cristo ressurreto está à disposição dos homens em todas
as partes, para plantar dentro deles sua própria vida, transformando-os
assim em pessoas que amam, se interessam pelos outros e nelas
confiam, pessoas capazes de enfrentar quaisquer problemas que a vida
lhes possa apresentar. Esta é a vocação da igreja.
Capítulo Três
UNIÃO, NÃO — UNIDADE!
Em nossos dias há um grupo de vozes que dizem: "Você está
bem certo acerca da necessidade da igreja, de cumprir a sua vocação.
Mas, fundamental para essa vocação, é a união de todos os cristãos.
Dificilmente podemos esperar que consigamos atingir o mundo,
enquanto os cristãos estiverem tão fragmentados, tão divididos. Em
nossa desunião, real-mente nada temos a dizer ao mundo; e, por essa
razão, a igreja vive sem poder, e é desprezada pela sociedade. Por
isso, precisamos, antes de tudo, unir-nos. Nos números há poder, e, se
conseguirmos reunir um número suficiente de cristãos, poderemos
influenciar a sociedade conforme a igreja estava destinada a fazê-lo."
Esta filosofia fez surgir o movimento ecumênico da última parte
do século vinte. Ecumênico quer dizer "universal", e é a esperança e o
sonho de muitos, hoje em dia, apagar as diferenças entre os cristãos,
representados nas variadas denominações, a fim de se conseguir uma
igreja realmente ecumênica ou universal. Certos homens se devotaram
tanto a esse ideal, que têm sido chamados de "ecumaníacos",
enquanto que outros desdenhosamente sugerem que o problema da
igreja é que ela está passando por sua "idade crítica"
As palavras do apóstolo Paulo, que estamos examinando, de fato
parecem enfatizar a necessidade de unidade entre os cristãos. Ele
exorta os cristãos de Éfeso a esforçar-se diligentemente por preservar
a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 3:4). Há outras
escrituras que sublinham a necessidade de um acordo cristão. Os
ecumenistas dizem que quando as igrejas se unirem em uma única
organização, cumprir-se-á a oração de Jesus: A fim de que todos sejam
um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em
nós; para que o mundo creia que tu me enviaste (João 17:21). Eles
dizem: "Por que não apoiar estes recentes esforços em prol dessa
unidade? Com certeza, a união de todos os cristãos só poderá
fortalecer e ajudar a causa de Cristo!"
Que faremos, dessa exortação de Paulo à unidade? Uma coisa
nela está bem evidente: ela reconhece a existência de atritos entre os
cristãos. Ele não instaria junto aos cristãos, que mantivessem a
unidade do Espírito, se não existissem dissensões entre eles. Aqui na
igreja primitiva, obviamente, havia forças agindo no sentido de dividir
o corpo cristão; entre eles havia pressões, que ameaçavam cindi-lo em
grupos menores. Em reação a essas pressões, o apóstolo insiste em
que eles procurem manter a unidade. A palavra "procurar" é um pouco
fraca, aqui. Procurar implica apenas numa disposição, mas a palavra
original no grego significa disposição da vontade e atividade —
portanto, fazer alguma coisa.
Não há dúvida de que é irreal fazer de conta que não há
divergências entre eles. Não há no mundo outro grupo tão
gloriosamente heterogêneo como a igreja. É notável o fato que ela se
compõe de diferentes tipos de pessoas. Na verdadeira igreja de Cristo,
ricos e pobres se reúnem em pé de igualdade, sem distinção e
certamente sem favoritismo algum. Judeus ou gentios, homens ou
mulheres, negros, vermelhos, brancos ou amarelos — não faz
diferença. É verdade que esta não tem sido sempre a característica da
igreja, mas esta era a intenção original e ela pode ser assim. A igreja
atravessa todas as linhas divisórias erigidas pelos homens, bem como
todas as distinções naturais, reunindo todos os povos, sem exceção,
em um só corpo. Não há outro corpo no mundo que tente unir pessoas
de origens e procedências tão amplamente variadas.
Mas não é fácil ignorar essas linhas divisórias. Atritos surgem
freqüentemente, por causa delas. A existência de atritos nas
comunidades cristãs do primeiro século, se evidencia em diversas
passagens da Escritura. Havia grande divergência em torno da relação
dos gentios com os judeus — uma questão que levou ao grande
concilio descrito em Atos 15. Na carta de Paulo aos Filipenses, são
mencionadas duas senhoras que tinham dificuldade em se entender.
Seus nomes eram Evódia e Síntique. Pontos de vista divergentes e
personalidades diferentes são algumas das mesmas causas de atrito
existentes igualmente na igreja do século vinte.
Lá em cima vivamos, com santos que amamos,
Isto sim é que é glória.
Mas embaixo vivemos, com santos que vemos;
Bem, é outra estória!
Além das diferenças de pontos de vista e de personalidades, há
as diferenças de talento dentro do corpo de Cristo. Todo cristão tem a
tendência de depreciar os talentos dos outros e de exaltar os próprios.
Todos achamos que a nossa contribuição é muito mais importante e
valiosa do que aquilo que outros estão fazendo. (I Coríntios 3 revela a
divisão da igreja de Corinto devido à tendência humana de se
identificar com um mestre, opondo-se a um outro.) Deste modo se vê
que o chão é fértil, para atritos que surgem a partir de divergências e
distinções dentro da igreja.
Mas um segundo fato também é visível na exortação do
apóstolo. Sob todas as diferenças entre os primeiros cristãos, está
também o fato de uma unidade básica. O apóstolo não manda esses
cristãos se esforçarem em produzir unidade, mas em conservar aquilo
que já existe. Nunca se manda à igreja que criou unidade. Uma
unidade já existe, por força da pura e simples existência da igreja. Não
há necessidade de criá-la; para dizer a verdade, os homens são
incapazes de produzir a unidade, que é essencial para a vida da igreja.
Ela só pode ser produzida pelo Espírito de Deus; mas uma vez
produzida, é responsabilidade dos cristãos preservá-la.
Este é o problema do moderno movimento ecumênico. Aqueles
que procuram alcançar a união dos cristãos, estão ignorando a unidade
que já existe, tentando criar uma outra. Para que ninguém entenda mal
a natureza da unidade a que o apóstolo se refere, ele prossegue,
descrevendo-a claramente:
Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes
chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor,
uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre
todos, age por meio de todos e está em todos (Efésios 4:4-6).
Aqui está a verdadeira unidade do corpo de Cristo. Observe que
ela gira em torno das três Pessoas da Trindade: Espírito, Filho e Pai.
Ela é um corpo habitado pelo Deus Triúno. Isto é claramente a
resposta à oração de Jesus: A fim de que todos sejam um; e como és
tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós (João 17:21).
A igreja não deve ser um conglomerado de indivíduos que por acaso
concordam em certas idéias. Ela está ligada como um organismo
numa unidade corporal. É verdade que um corpo é uma organização,
mas é muito mais que uma organização. A essência de um corpo está
em que ele consiste de milhares de células, que compartilham
mutuamente de uma vida...
Ao contrário do que diz o conto popular, não se produz um
corpo ajuntando-se componentes anatômicos, o osso do dedão ao osso
do tornozelo, este ao do pé, e o osso do pé ao osso do joelho etc. Um
corpo é formado pela extensão de uma célula original que cresce até
se tornar um corpo maduro, em que cada célula faz parte da vida
original. Este é o segredo de um corpo: todas as suas partes
compartilham da mesma vida.
É o compartilhar da vida que diferencia um corpo de uma
organização. Uma organização deriva seu poder da associação de
indivíduos, mas um corpo deriva seu poder compartilhando a vida.
Diz o Dr. Bernard Ramm:
"Quando os modernistas negam... uma conexão sobrenatural de
todos os crentes através da união mística do Espírito Santo, destróem
a compreensão cristã histórica e ortodoxa da Igreja... A Igreja se torna
uma sociedade, uma comunidade religiosa natural, humana e não
sobrenatural. Ela está ligada por laços puramente naturais, tais como
uma herança em comum na Bíblia, uma crença em comum numa
espécie de exclusividade de Jesus, uma crença em comum na
continuidade histórica dos cristãos e uma ética de amor em comum.
Agora a igreja é uma sociedade. •Mas isso é secundário, diante do fato
de ela ser o corpo sobrenatural de Cristo."2
Qualquer um que teve o privilégio de entrar em contato com
2
Bernard Ramm, "The Continental Divide in Contemporary Theology", ("Christianity
Today", 8 de outubro de 1965).
cristãos, em algum lugar distante ao redor da terra, logo reconhece
essa unidade fundamental, que já existe. Apesar das diferenças
denominacionais e das posições teológicas amplamente variáveis em
muitos pontos, sempre que houver uma vida em comum em Cristo
isso logo se torna evidente. Há um sentimento de se pertencer um ao
outro. Essa unidade é reconhecível, até quando ela é oficialmente
negada.
Faz alguns anos eu me encontrei com um bispo católico-romano
no México, e passei uma ou duas horas conversando com ele sobre
Cristo. Eu era protestante; ele, católico, e se nós tivéssemos entrado
em questões doutrinárias, teríamos nos deparado com muitas
diferenças de perspectiva. Mas, particularmente com esse bispo, eu
senti logo uma unidade da qual tomávamos parte em Cristo. Como eu,
ele conhecia a realidade de um Senhor vivo. Conversamos sobre Ele.
Nossas organizações não eram uma, mas nós éramos um, porque
experimentáramos a unidade do Espírito.
Isso nos leva ao próximo elemento, na descrição que Paulo faz
da igreja: um Espírito. Este é a grande, eterna e invisível Pessoa, que é
o verdadeiro poder da igreja. A força da igreja nunca provém de seus
números. Os ecumenistas procuram criar uma unidade da carne, uma
unidade organizacional, que deduz seu poder do número de corpos
que podem ser ajuntados, bem à parte de convicções e concordância
espiritual. Alguém descreveu tal união, como uma tentativa de
enterrar todos os cadáveres em um só cemitério, preparando-os assim
para a ressurreição. Mas isso não vai funcionar. O propósito da igreja
é ser um instrumento para a vida, e ajuntar corpos mortos não produz
vida. O poder da igreja em influenciar a sociedade não está em se
ajuntar um numero suficiente de cristãos, a fim de se conquistar votos
suficientes para controlar uma legislatura.
O profeta Zacarias se viu uma vez confrontado com uma
enorme montanha, da qual Deus disse que se tornaria uma campina.
Quando Zacarias começou a olhar em volta para ver como isso se
daria, de onde viria o poder para aplainar aquela montanha e fazer
dela uma campina, a palavra do Senhor veio a ele, dizendo: Não por
força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos
Exércitos. (Zacarias 4:6). Tarefas sobre-humanas requerem poder
sobre-humano. Já que o cumprimento do papel da igreja está muito
além dos poderes do homem, torna-se essencial que ela confie no
único poder adequado que lhe é acessível. O Espírito é o verdadeiro
poder da igreja. Só há um Espírito. Ele é o mesmo em toda parte,
tanto faz onde a igreja esteja: em todos os lugares e em todas as
épocas. O Espírito não muda, e é por isso que a verdade permanece
imutável — o passar dos tempos não a afeta. Este também é o motivo
pelo qual a igreja não depende de muitos ou de poucos, ou da
sabedoria de seus membros. Ela deve depender apenas de uma coisa:
do Espírito de Deus. À medida em que nos aprofundamos nas palavras
do apóstolo, aprendemos mais sobre o funcionamento desse poder
surpreendente.
Paulo associa com o Espírito aquela uma só esperança da vossa
vocação (Efésios 4:4). Estes três primeiros fatores estão associados
(um corpo, um Espírito, uma esperança), porque é o Espírito que
forma o corpo para sua meta final e última. Que esperança é essa? Ela
é expressa dezenas de vezes através das Escrituras. Trata-se da
esperança da volta de Jesus Cristo à terra e suas conseqüências sobre a
igreja e o mundo. Sua expressão mais curta talvez se ache em
Colossenses: Cristo em vós, a esperança da glória (Colossenses
1:27). Glória é a esperança da igreja. Como o formula João, sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
havemos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele
tem esta esperança, assim como ele é puro (I João 3:2-3).
Por onde quer que eu tenha viajado no mundo, sempre observei
que esta era a esperança dos cristãos. Seja qual for sua denominação,
sua origem, sua raça ou sua cor, a esperança é sempre esta: que algum
dia eles serão como Cristo. Há muitas diferenças na compreensão de
como isso se dará. Alguns são pré-milenistas (que crêem que Jesus
virá antes do milênio, que é o reinado de mil anos de Cristo na terra);
outros são pós-milenistas (que dizem que Cristo voltará após o
milênio), ao passo que outros não acreditam em milênio algum. Mas
há somente uma expectativa final dos cristãos, em toda parte: a de que
eles terão parte na, glória de Cristo.
Em seguida, o apóstolo Paulo reúne outros três elementos de
unidade, em torno da segunda Pessoa da Trindade: o Senhor único.
Ele não diz um Salvador, mas, em toda a Escritura, somente quando
as pessoas reconhecem Jesus como Senhor, é que Ele se torna seu
Salvador. O tema fundamental em que Paulo se concentra é que Jesus
Cristo é. Senhor. Ao escrever aos coríntios, ele diz que ninguém pode
dizer "Jesus é Senhor", a não ser pelo Espírito Santo.
"Senhor" significa autoridade máxima. Chamar Jesus de Senhor
quer dizer reconhecer que Ele é a pessoa suprema em todo o universo.
Não há e nunca haverá outro Senhor. Pedro declara-o, sem rodeios,
em Atos 4:12: ...abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado
entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. É por isso que
os primeiros cristãos não podiam dizer "César é Senhor", como seus
perseguidores queriam forçá-los a dizer. É por isso que cristãos
modernos não podem dizer "Buda é Senhor" ou que qualquer outra
pessoa seja Senhor, senão Jesus. O mistério e a maravilha de sua
pessoa é que o homem Jesus Cristo, que viveu, andou, amou,
trabalhou e morreu entre os homens, cuja vida nos é relatada nos
Evangelhos, é também Senhor do universo, o Ente Supremo, Senhor
de todas as coisas, o Deus-homem. O apóstolo João, em sua primeira
carta, diz que todo aquele que nega isso não é um cristão, mas tem o
espírito do anticristo (I João 2:22). E Paulo declara: Pelo que também
Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de
todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus,
na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai (Filipenses 2:9-11).
Associado a este está o próximo elemento, uma fé Isto é um
pouco mais difícil, mas parece claro que Paulo não se refere à fé de
um modo geral, isto é, a capacidade de crer, pois todos os homens a
têm. Às vezes, as pessoas dizem: "Não posso acreditar." Mas isso
claramente não é verdade, pois os homens estão acreditando o tempo
todo. Toda ação vem de uma crença. Um ateu age a partir de uma
crença, da mesma maneira que um cristão. Ambos acreditam em
alguma coisa e agem de acordo com ela.
Paulo também não quer dizer o ato de conversão, quando uma
pessoa se declara de fora a fora para Cristo, que é o passo inicial de
acreditar e confiar nele, conhecido nos livros como "fé salvadora".
Mas, aqui, Paulo não está falando desses tipos de fé. Ele tem em vista
aquilo que é crido, isto é, o corpo da verdade de que foi revelado. Só
há uma fé. A ela, Judas se refere em sua carta ao exortai1 os cristãos a
batalharem diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue
aos santos (Judas 1:3).
Esta uma fé está associada com Jesus, o Senhor. Ela é a verdade
sobre Ele. Novamente pode haver divergências quanto aos detalhes e
ao significado entre os cristãos, mas em toda parte há concordância
plena entre os verdadeiros cristãos, em torno da afirmação de que só
há um corpo da verdade sobre Jesus Cristo. Somente há um conjunto
de fatos, uma fé. Este corpo da verdade é a Escritura. Não há uma fé
para os judeus e um outro conjunto de fatos para os gentios; há apenas
uma fé para todos os homens, em toda parte. Deus falou através dos
videntes, dos profetas e dos apóstolos, mas tudo forma um quadro
total, que se articula e explica a si mesmo. Não há, por isso, um Deus
do Velho Testamento contra um Deus do Novo Testamento, como às
vezes ouvimos. Não podemos dizer, também, como alguns o fazem:
"Bem, eu tenho o meu Cristo e você tem o seu." Não; há somente um
Cristo. Há apenas um Jesus histórico. Só há uma fé.
O elemento seguinte de unidade é um batismo. Unidade em
torno do batismo? Nada poderia parecer "mais distante da realidade.
Os diversos grupos de batistas dizem: "Esse um batismo certamente se
refere ao batismo pela água, que é só por imersão." Os presbiterianos
dizem: "Não, os batistas são todos uns ensopados; a aspersão é a única
maneira certa." Outros grupos insistem em que o batismo é apenas
para crianças, enquanto que outros dizem que ele deve ser ministrado
apenas a adultos responsáveis. Parece haver tudo, menos unidade em
torno da questão do batismo.
Mas, apesar dessa divergência óbvia sobre o símbolo, há um
batismo reconhecido em toda parte e aceito pela igreja. Trata-se do
batismo do Espírito, o batismo real, do qual o batismo com água é um
símbolo. Através dele, todo verdadeiro crente em Jesus Cristo é
incluído em seu corpo vivo, a igreja (I Coríntios 12:13). Esse batismo
aqui está ligado a Jesus" Cristo, o Senhor, porque é um batismo de
inclusão em seu corpo. Romanos 6:3, coloca-o da seguinte maneira:
todos... fomos batizados na sua morte. A idéia central é de que cada
crente, individualmente, é feito um com Jesus Cristo, unido a ele em
todo o valor de sua morte e ressurreição.
O apóstolo nos dá agora o último dos sete elementos da unidade:
Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de
todos e está em todos (Efésios 4:6). Aqui está o alvo de todos os
outros. Todo o restante existe, na formulação de Pedro, para
conduzir-vos a Deus (I Pedro 3:18). Ele é a meta e o objetivo.
O sinal de que o achamos é que o reconhecemos como Pai, e
sentimos seu coração de Pai. Conhecemos a declaração de Paulo em
Romanos 8: Recebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai (Romanos 8:15). Em sua primeira carta, João
escreve que a característica infalível do recém-nascido na família de
Deus é que ele imediatamente conhece seu pai e o chama de Pai (I
João 2:13).
Isto é bem diferente dos conceitos de Deus que andam hoje por
aí. Ele é chamado de Fundamento do Ser, a Última Causa, A Mente
Infinita etc. É verdade que Deus é todas essas coisas. Elas não estão
erradas, mas são muito inadequadas. Paulo também concorda em que
Deus é tudo em todos (Colossenses 3:11). Ele é o fim e o começo; ele
é o começo e o fim. Todas as coisas existem por sua causa, e todas as
coisas tendem para Ele. Linguagem maravilhosa essa, e tudo é
verdade. Mas quando de fato se O conhece, só se pode chamá-lo
adequadamente de Pai. Nenhum outro nome poderá expressar a união
íntima que um verdadeiro cristão sente em relação a Deus. É por isso
que Jesus ensinou a seus discípulos a dizer: "Pai nosso, que está no
céu."
Nestes sete elementos se acha a natureza da unidade cristã. Não
uma união a ser alcançada, mas urna unidade que já existe. Eles não
são, por isso, artigos de concordância teológica. Eles nunca deveriam
ser incluídos num credo, como se a sua aceitação por parte de uma
pessoa, fizesse dela um cristão. Não, o tornar-se cristão é que leva a
pessoa à aceitação desses pontos. Eles são áreas de experiência em
comum. Eles são verdade experimentada, que se apropria de nós, e
não verdades das quais devemos nos apropriar. Eles não podem ser
debatidos. Se alguém os põe em dúvida ou deles discorda, está
simplesmente manifestando o fato de que ainda não é um cristão.
Quando se tornar um cristão, sentirá e por isso compreenderá essas
coisas. Ele talvez não seja capaz de formulá-las claramente, mas as
reconhecerá quando forem descritas, pois elas são uma experiência
imediata de todos os que estão em Cristo. Por isso, a maneira de criar
unidade é simplesmente essa: levar homens e mulheres a Cristo, e a
unidade do Espirito neles se produzirá através do próprio Espírito. É
impossível conseguir-se qualquer união significativa e que faça
sentido, à parte dessa unidade produzida pelo Espírito.
Em outras palavras, existem dois tipos de unidade:juma unidade
externa, sem concordância interior, e uma unidade interna que
ocasionalmente manifesta um desacordo externo. Ao primeiro,
estamos chamando de união. Por sua própria natureza, controle e
direção, na cúpula desse tipo de grupo repousa um pequeno número
de pessoas. Seu poder se mede pelo sucesso com que estão
conseguindo fazer-se acompanhar pelo conglomerado.
Lembro-me perfeitamente da primeira vez que eu me defrontei
com o segundo tipo de unidade, a interior. Quando menino, eu tinha
dois amigos que eram irmãos, havendo entre eles, apenas um ano de
diferença. Um dia, estávamos brincando ao ar livre, quando os dois
começaram a brigar. Achei que um deles foi um pouco sarcástico e
desleal, de modo que intervim em favor do prejudicado. Para minha
surpresa, este não gostou de minha ajuda e voltou-se contra mim; seu
irmão se associou a ele, e ambos pularam para cima de mim. Descobri
que tinha feito um julgamento muito superficial. Eu achava que as
divergências que estavam manifestando, representavam um desacordo
fundamental entre eles, mas me enganei! Sob a superfície, havia uma
unidade fundamental; e, no momento em que eu ataquei um deles, ela
se manifestou, e os dois se voltaram contra mim. Isso ilustra a unidade
da igreja: uma unidade interna, acompanhada de um eventual
desacordo exterior.
Agora, há certas conclusões práticas, que derivam de uma
passagem como Efésios 4:4-6. Ao aplicarmos essa grande verdade
central da unidade cristã às áreas externas de nossas vidas,
especialmente no confronto dos problemas da existência moderna, há
certas coisas que logo se tornam evidentes. Em primeiro lugar, está
claro que os cristãos devem dirigir seus esforços não no sentido de
alcançar uma união exterior, mas de manter a paz dentro do corpo. É
isso que Paulo diz claramente: esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:3). É
extremamente importante que os cristãos parem com as contendas,
brigas, concorrência mútua, além do forte ressentimento e do ódio.
Uma igreja em que existem tais atitudes é um corpo totalmente
ineficaz dentro de sua comunidade. Uma igreja em que existe esse
tipo de agitação, não pode dizer coisa alguma que desperte a atenção
do mundo.
É importante que, quando os cristãos se reúnem, reconheçam
que são chamados a se entenderem mutuamente. Devem tolerar-se
reciprocamente, orar uns pelos outros, perdoar-se mutuamente, ser
benevolentes e de bom coração, sem guardar rancor, amargura,
ressentimento ou ódio entre si. Este é o alvo do Espírito, quando ele
entra em nosso meio. Ele age no sentido de sanar antigos rancores,
profundos ressentimentos e ásperas hostilidades.
Os cristãos precisam fazer aquilo que o apóstolo diz: manter a
unidade do Espírito. A unidade já existe, ela só precisa fazer-se
evidente. Precisamos entrar sob a superfície, atrás das diferenças por
demais visíveis, e então a unidade fundamental se tornará evidente. Se
é que houve atuação da graça, a maravilhosa unidade fundamental
subjacente despontará, deixando de lado todas as divergências,
expressando-se pelo Espírito de Jesus Cristo, no amor concedido até
aos que não são amáveis.
Uma segunda conclusão a que nos leva essa passagem é a de
que não podemos classificar os cristãos segundo organizações. Não
podemos dizer que todos os católicos são cristãos ou que todos os
batistas o sejam. Não podemos sustentar que todos os que pertencem
às Igrejas Fundamentalistas Independentes são cristãos, enquanto que
aqueles que fazem parte do Conselho Mundial de Igrejas não o são. O
Espírito de Deus sempre ultrapassará divisões humanas. A unidade do
Espírito será encontrada em pessoas de muitos grupos diferentes, e
nós temos que aceitar esse fato. Encontraremos verdadeiros cristãos
por toda parte, e é nossa responsabilidade manter a unidade do
Espírito com eles no vínculo da paz, onde quer que estejam. Como o
diz Paulo, em Romanos 14: Acolhei ao que é débil na fé, não, porém,
para discutir opiniões (Romanos 14:1). Não devemos expulsá-lo, mas
recebê-lo. Recebê-lo, mesmo que ele não enxergue tão bem como nós,
e talvez não tenha se formado na escola correta. Apesar disso, vamos
recebê-lo. Vamos reconhecê-lo como irmão, se ele manifesta amor
por Jesus Cristo, seja qual for o seu rótulo.
Uma terceira conclusão prática desse estudo é a de que os
cristãos verdadeiros podem usar o fato da unidade interna básica, para
determinar a área e o tipo de cooperação em que podem entrar com
outros, sejam cristãos ou não-cristãos. Afinal de contas, mesmo se não
formos um com todos os outros, como membros do corpo de Cristo,
somos um, compartilhando da vida humana. Podemos nos associar a
qualquer um, na assistência ao sofrimento humano; no
estabelecimento de um governo forte e justo; no trabalho da educação,
e em muitos outros empreendimentos da vida. Não devemos nos
fechar a outros seres humanos, só porque eles não têm parte na mesma
vida em Cristo.
Mas há uma arearem que podemos cooperar com alguns cristãos
que compartilham da vida de Jesus Cristo, mas em que não nos
podemos juntar a outros. Esta área é a proclamação da grande e
transformadora mensagem da igreja, ao evangelizar o mundo. A razão
disso é que muitos que se consideram cristãos compreendem o
evangelho de maneira bem diferente da nossa. Aquilo que eles estão
tentando fazer entre os homens é completamente diferente daquilo que
procuramos realizar. Seguimos direções opostas. É impossível, claro,
montar em dois cavalos que vão em direções opostas — seria
sobrecarregar nossa anatomia. Essa mesma verdade foi ensinada aos
antigos israelitas, com a determinação de não juntar boi e jumento sob
o mesmo jugo (Deuteronômio 22:10). Por que não? Porque eles
andam em velocidades diferentes e tem altura diferente. Eles apenas
se esfolariam mutuamente o tempo todo. Juntá-los seria uma
crueldade. Esta é a maneira simbólica pela qual Deus ensina que há
diferenças fundamentais de passo e de direção entre as pessoas, e que
dois não podem andar juntos, se não estiverem de acordo (Amos 3:3).
Mas, alguém poderia perguntar: "Podemos nós cultuar junto
com outros, que não têm parte na vida em Jesus Cristo?" A resposta
da Bíblia é clara: Sim. Deus manda que todos os homens em toda
parte lhe prestem culto (Salmo 65:2; Filipenses 2:10-11). Onde quer
que haja alguém prestando culto a Deus como supremo, e não com
algum conceito inferior d'Ele (como um ídolo), os cristãos podem
associar-se a esse culto. O caminho mais elementar para a
aproximação de alguém a Deus é apontado em Hebreus 11:6: ...é
necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e
que se torna galardoador dos que o buscam. Cornélio, o centurião
romano de Atos 10, é um exemplo.
Após dizer estas coisas, não nos esqueçamos do apelo que o
apóstolo faz à igreja, de permanecer fiel a sua vocação. A igreja não
tem o direito de delinear seu próprio curso. Seu propósito e seu
objetivo já foram traçados, e até sua função já foi determinada por seu
Senhor. No próximo trecho de Efésios 4, o apóstolo se volta para uma
descrição detalhada do equipamento providenciado pelo Senhor, para
que seu corpo funcione no mundo conforme a sua intenção.
Capítulo Quatro
NADA DE EXCEÇÕES
O programa que Deus fez para alcançar e transformar um
mundo despedaçado, sempre envolveu a encarnação. Quando Deus
resolveu visitar esta terra para mostrar à humanidade o novo tipo de
vida que Ele estava oferecendo, fê-lo através de sua encarnação. Deus
se fez carne e habitou entre nós. Jesus Cristo foi a encarnação de
Deus: Deus em carne humana, aparecendo aos homens. Mas, este foi
apenas o início do processo de encarnação. Cometeríamos um grande
engano, se pensássemos que a encarnação terminou com a vida
terrena de Jesus. A encarnação ainda continua. A vida de Jesus
continua manifesta entre os homens', mas agora não mais através de
um corpo físico individual limitado a um lugar na terra, mas através
de um corpo complexo e orgânico, chamado a igreja.
Abra-se o livro de Atos no Novo Testamento e se verá que o Dr.
Lucas, seu autor, diz a um certo moço, chamado Teófilo, que ele tinha
anotado em seu primeiro relato (o Evangelho segundo Lucas) "todas
as cousas que Jesus começou a fazer e a ensinar". Em seu segundo
relato (o livro de Atos), o Dr. Lucas continua a descrever a atuação de
Jesus entre a humanidade, mas desta vez através de seu novo corpo, a
igreja. Por isso, quando a igreja vive em e através do Espírito, ela não
deve ser nada mais nada menos do que a extensão da vida de Jesus a
todo o mundo, em qualquer época.
Esta é uma concepção de enorme importância. Aquilo que
aconteceu em pequena escala na Judéia e na Galiléia, mil e
novecentos anos atrás, está designado a acontecer hoje, em larga
escala, em todo o mundo, permeando todos os níveis da sociedade e
todos os aspectos da vida humana. Na medida em que os cristãos
descobrem que isso é uma possibilidade real, hoje, suas vidas se
tornam interessantes e poderosamente eficazes. É provocante e
estimulante a redescoberta do esquema delineado por Deus, pelo qual
sua igreja deveria influenciar o mundo. Por outro lado, não há nada
mais patético e ilusório do que uma igreja que não compreende este
fascinante programa, em que opera o corpo de Cristo, substituindo-o
por métodos de trabalho, processos organizacionais e pressão política
como meios de influenciar a sociedade.
Vejamos então este interessante esquema de operação, descrito
pelo apóstolo Paulo, como a maneira pela qual o corpo de Jesus Cristo
toca e transforma o mundo. Paulo agora deixa a descrição da natureza
da igreja, para se voltar à providência tomada pelo Espírito Santo para
a sua operação. Ele diz: E a graça foi concedida a cada um de nós
segundo a proporção do dom de Cristo (Efésios 4:7).
Esta frase tão curta faz referência a duas coisas tremendas: o
dom do Espírito Santo para o ministério, concedido a todo cristão
verdadeiro, sem exceção e o novo e notável poder através do qual esse
dom pode ser posto em prática. Precisamos observar cuidadosamente
ambas as coisas' na devida ordem, mas comecemos com o dom do
Espírito, que Paulo aqui chama uma "graça".
A palavra em sua língua original é charis, da qual é derivado o
adjetivo "carismático", no português. Esta "graça" é uma capacidade
de servir dada a todo verdadeiro cristão sem exceção e que ninguém
possui antes de se tornar cristão. O próprio Paulo, no capítulo 3,
versículo 8 desta mesma carta, faz referência a um dos dons que ele
possuía: A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça.
Que graça era esta? A de pregar aos gentios o evangelho das
insondáveis riquezas de Cristo. Um dos seus dons era claramente o de
pregação, ou como é chamado em outras passagens, o dom da
profecia. Quando Paulo escreve a seu jovem filho na fé, Timóteo, ele
usa uma palavra muito semelhante, ao dizer-lhe: Por esta razão, pois,
te admoesto que reavives o dom (charisma) de Deus que há em ti (II
Timóteo 1:6).
Parece que há pouca dúvida que era aqui onde a igreja primitiva
começava com novos convertidos. Sempre que alguém, através da fé
em Jesus Cristo, passava do reino e do poder de Satanás para o reino
do amor de Deus, ele era ensinado imediatamente que o Espírito Santo
de Deus não só lhe tinha comunicado a vida de Jesus Cristo, mas
também o dotara com um dom ou dons espirituais, os quais ele tinha a
responsabilidade de descobrir e pôr em prática. O apóstolo Pedro
escreve da seguinte maneira a certos cristãos (I Pedro 4:10): Servi uns
aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus. Em I Coríntios 12:7 Paulo
também escreve: A manifestação do Espírito é concedida a cada um,
visando um fim proveitoso. É muito significativo que em todas as
passagens que descrevem os dons do Espírito, a ênfase é colocada
sobre o fato de que cada cristão tem pelo menos um dom. Este pode
estar adormecido, incipiente ou fora de uso. Ele talvez seja
desconhecido, mas está aí; pois o Espírito Santo não faz exceções
quanto a esse equipamento básico de todo crente. É essencial que se
descubra o dom ou os dons que se possui, pois o valor da vida de um
cristão é determinado pelo uso que ele faz daquilo que Deus lhe deu.
A passagem que fala mais detalhadamente dos dons do Espírito
é I Coríntios 12. Há uma outra lista mais resumida em Romanos 12 e
outra ainda mais breve em I Pedro 4. Nestas passagens alguns dons
têm mais de um nome. Comparando-as, parece evidente que há
dezesseis ou dezessete dons básicos e que estes podem ser
encontrados em variadas combinações dentro do mesmo indivíduo,
sendo que todo conjunto de dons abre uma porta para um ministério
amplo e variado.
Talvez a melhor maneira de se ficar conhecendo esses dons seja
deixarmos o apóstolo Paulo nos ensiná-los, a partir da grande
explicação que ele dá à igreja em Corinto:
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também
há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há
diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo
em todos (I Coríntios 12:4-6).
Observe as três divisões do tema dos dons espirituais. Há os
dons, os ministérios (chamados aqui de "serviços") e as realizações
(ou atuações). Os dons estão ligados ao Espírito, os ministérios ao
Senhor Jesus, e as realizações estão ligadas a Deus, o Pai. Assim, em
Efésios 4, Deus é visto morando dentro de seu corpo, a igreja, com o
fim específico de ministrar a um mundo despedaçado (Efésios 4:3-6).
O dom, como nós já observamos, é uma capacidade ou função
específica. O ministério é a esfera em que um dom é exercido, dentro
de um certo grupo de pessoas ou numa certa área geográfica. É uma
prerrogativa do Senhor Jesus designar uma esfera de serviço para cada
membro de seu corpo. Pode-se vê-lo exercendo esse direito no
capítulo 21 do Evangelho de João. Após sua ressurreição, ele aparece
a Pedro e lhe ordena três vezes: "Apascente as minhas ovelhas." Este
devia ser o ministério de Pedro. Ele devia ser um pastor (ou ancião)
que alimentasse o rebanho de Deus. (Pedro faz referência a si mesmo
nessa capacidade, no quinto capítulo de sua primeira carta.) Quando
Pedro expressa curiosidade sobre o que o Senhor mandaria João fazer,
o Senhor lhe respondeu: Que te importa? Quanto a ti, segue-me!
(João 21:15-23). O Senhor ainda está exercendo esse direito hoje. A
alguns ele dá a tarefa de ensinar aos cristãos, outros ele envia para
ministrar aos pagãos. A alguns ele dá a tarefa de treinar jovens, a
outros o ministério junto aos velhos. Alguns trabalham com mulheres,
outros com homens; uns se dirigem aos judeus, outros aos gentios.
Pedro foi enviado aos circuncisos (os judeus), ao passo que Paulo foi
enviado aos incircuncisos (os gentios).
Ambos tinham o mesmo dom, mas seu ministério era diferente.
Há então as realizações, ou atuações. Estas são da
responsabilidade do Pai. O termo se refere ao grau de poder em que
um dom se manifesta ou é ministrado numa ocasião específica. Há
diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo
em todos (I Coríntios 12:6). Toda prática de um dom espiritual não
produz o mesmo resultado de cada vez. A mesma mensagem dada em
circunstâncias diferentes não produzirá o mesmo efeito. Qual é a
diferença? A escolha é de Deus. Ele não tenciona produzir os mesmos
resultados de cada vez. Ele poderia, mas ele nem sempre deseja fazê-
lo. Ele é quem determina o quanto se consegue em cada ministério de
um dom. As Escrituras observam que João Batista não fez milagre
algum em todo o curso de seu ministério. Mesmo assim, foi um
grande profeta de Deus, e Jesus dele afirmou que dentre os nascidos
de mulher não apareceu homem algum maior que ele (Mateus 11:11).
Existem hoje aqueles que sugerem que se não conseguimos fazer
milagres, isso é um sinal de fraqueza de fé e de baixo poder espiritual.
Mas João não fez milagres. Por que não? Porque existe diversidade de
realizações e não aprouve ao Pai agir desta maneira por intermédio de
João.
Em I Coríntios 12, chegamos à lista de dons espirituais
específicos:
A um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a
outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento... (V.
8).
Aqui temos um par de dons: os dons da sabedoria e do
conhecimento. Eles freqüentemente aparecem juntos no mesmo
indivíduo, pois eles estão relacionados com a mesma função, ou seja a
manifestação, ou como está no original, a palavra. A dádiva da
sabedoria é a capacidade de perceber e sistematizar os grandes fatos
que Deus encerra em sua palavra. Uma pessoa que pratica esse dom é
capaz de reconhecer, como um resultado de investigação, a chave e os
fatos importantes da Escritura. O dom da sabedoria, por sua vez é a
capacidade de aplicar essas conclusões a uma situação específica. É a
sabedoria que é capaz de põr o conhecimento a funcionar. Repare no
que acontece numa reunião em que é discutido um problema, que não
parece ter solução – ninguém parece saber o que fazer ou qual seja a
resposta. . Então esta é a dádiva da sabedoria sendo aplicada.
Este dons gêmeos de sabedoria e conhecimento também estão
relacionados ao dom de ensinar, mencionado no fim do capítulo 12. O
ensino lida com a comunicação. É a habilidade de transmitir fatos e
conclusões descobertos pelos dons da sabedoria e do conhecimento,
de passá-los adiante para outros numa forma assimilável. O homem
ou mulher que possuir todos esses três dons é uma pessoa realmente
de grande valor para uma comunidade.
Paulo então menciona o dom da Fé . Essa fé é novamente
diferente daquilo que discutimos no terceiro capítulo. O que Paulo
quer dizer aqui é em essência o que chamamos de visão. É a
capacidade de ver algo que precisa ser feito e crer que Deus , o fará ,
mesmo se parecer impossível. Confiando nesse tipo de fé, uma pessoa
que tem esse dom se põe em ação e realiza o que é necessário em
nome de Deus. Todo grande empreendimento cristão foi iniciado por
um homem ou uma mulher que possuía o dom da fé. Faz alguns anos
na ilha de Taiwan, conheci uma mulher notável chamada Lilian
Dickson. Ela tem clara e indiscultivelmente o dom da fé. Ao ver uma
necessidade, ela vê ou não um suprimento adequado de fundos ou
recursos. Interessou-se por certos meninos pobres nas ruas de Taipé,
que não tinham casas. Eles são órfãos ou largados ao léu por suas
famílias. Seu coração se condoeu deles, por causa das circunstancias
que os forçam a uma vida criminosa. Porque ela tinha o dom da fé ,
fez algo por eles. Começou uma organização de socorro a esses
meninos, e pessoas de todo o mundo lhe enviam dinheiro para esse e
outros projetos que ela supervisiona. Este é o dom da fé em ação.
O apóstolo menciona então "dons de curar", concedidos pelo
mesmo Espírito. No original grego a palavra se acha no plural:
"curas". Eu entendo isso como cura em todos os níveis da necessidade
humana: corpo, emoções e espírito. Na igreja primitiva havia alguns
que a praticavam no nível corporal. No registro da história da igreja
surgem ocasionalmente alguns que tinham o dom de curar
fisicamente; mas hoje este é um dom raro, dificilmente concedido. Eu
pessoalmente nunca encontrei alguém que tivesse hoje. É improvável
que alguma das assim chamadas "curas pela fé" de hoje provenham de
tal dom. Minhas investigações neste campo mostram isto claramente.
Eles não têm a capacidade de impor as mãos sobre as pessoas e curá-
las.'(Eles registram os casos em que aparentemente houve uma ajuda,
mas não anotam os milhares que são despedidos sem qualquer
melhora, desiludidos.
Se alguém pergunta: "Por que é que esse dom é tão raramente
concedido hoje em dia?", a resposta é dada no versículo 11 de I
Coríntios 12: Um só e o mesmo Espírito realiza todas estas cousas,
distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. O dom
espiritual da cura física não é visto com tanta freqüência hoje, porque
não é da vontade do Espírito concedê-lo agora tão amplamente como
acontecia na igreja primitiva.
O dom de curar, entretanto, é freqüentemente concedido hoje
nos planos emocional e espiritual. Muitos cristãos, tanto leigos como
ministros profissionais, são equipados pelo Espírito para ajudar
pessoas com problemas emocionais ou espirituais, que estão doentes
ou perturbadas nessas áreas. Eles são excelentes conselheiros, porque
são capazes de praticar a paciência e a compaixão necessárias para
ajudar essas almas feridas.
Nessa mesma linha se encontra o dom de milagres. Este consta
da habilidade de se atalhar os processos da natureza através de uma
atividade sobrenatural, como o fez o Senhor ao transformar água em
vinho ou ao multiplicar pães e peixes. Alguns talvez ainda tenham
esse dom hoje. Não duvido que ele possa ser dado; mas, mais uma
vez, nunca encontrei ninguém que tivesse o dom de milagres, se bem
que talvez alguns o tenham praticado às vezes na história da igreja.
Os dons da cura física, de milagres e línguas são dados para a
edificação inicial da fé, como uma ponte que conduza os cristãos da
dependência de coisas que eles podem ver,-para uma fé em um Deus
que pode agir e realizar muitas coisas quando nada parece estar
acontecendo. A história das missões pode evidenciar isso. Deus quer
que andemos por fé, não por vista.
O apóstolo continua mencionando o dom da profecia. Este é o
maior de todos os dons, como o demonstra Paulo ao dedicar todo um
capítulo (I Coríntios 14) para a exaltação desse dom. Nós
examinaremos o dom da profecia mais detalhadamente quando
voltarmos a Efésios 4 e ao ministério do profeta. Mas aqui no
versículo 3 de I Coríntios 14 o apóstolo diz desta dádiva: Mas o que
profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. Este
é o efeito da dádiva da profecia. Quando um homem ou uma mulher
tem este dom, ele edifica, estimula e encoraja aos outros. Este não é
um dom dos pregadores apenas. Todos os dons são concedidos sem
que importe a formação da pessoa. Muitos leigos têm o dom da
profecia e o deviam estar praticando.
Há então o dom do discernimento de espíritos. Esta é a
capacidade de distinguir entre o espírito do erro e o espírito da
verdade, antes que a diferença seja manifesta a todos através dos
resultados. Trata-se da habilidade de reconhecer um mentiroso antes
que a sua mentira se torne evidente. Quando Ananias e Safira vieram
a Pedro, trazendo aquilo que eles diziam ser o preço integral de uma
terra que tinham vendido, mas realmente reservaram uma parte para si
mesmos, Pedro exerceu o dom do discernimento ao dizer: Por que
entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Não mentiste
aos homens, mas a Deus. (Atos 5:9 e 4). Aqueles que têm esse dom
podem ler um livro e perceber nele a sutileza de um erro ou ouvir uma
mensagem e apontar para aquilo que nela pode estar errado. É de
grande valor exercer este dom dentro da igreja.
Outro par de dons está relacionado em seguida: línguas e sua
interpretação. Hoje há muitos que anunciam que este dom está sendo
amplamente concedido, mas a pergunta que sempre precisa ser
levantada ao investigarmos tais pretensões é se o fenômeno observado
é o mesmo que o dom de falar em línguas do Novo Testamento. Até
hoje alguns garantem que se trata do mesmo dom, sem procurar
comparar esse fenômeno atual com o dom bíblico.
O dom bíblico tinha quatro sinais característicos, claramente
descritos no Novo Testamento. Em primeiro lugar tratava-se de uma
língua conhecida, falada em algum lugar na terra. A formulação
"língua desconhecida" apresentada pela versão inglesa "King James"
não tem apoio no texto original. As línguas do Novo Testamento não
são uma torrente de sílabas ao acaso, mas têm estrutura e sintaxe,
como qualquer língua terrena.
Em segundo lugar o dom bíblico constava de louvor e
agradecimento dirigidos a Deus. Paulo diz: Quem fala em outra
língua, não fala a homens, senão a Deus (I Coríntios 14:2). O dom
das línguas geralmente não é um meio de pregar o evangelho ou de
transmitir mensagens a grupos ou a indivíduos; como no dia de
Pentecoste, ele é, isto sim, um meio de louvar a Deus por seus feitos
magníficos.
A terceira característica é de que este dom era exercido
publicamente e não se destinava para o uso particular. É-nos dito que
todos os dons do Espírito são para o bem comum, e não para o
benefício pessoal. Todas as ocasiões com que as línguas estavam
relacionadas no Novo Testamento eram reuniões públicas. Isto é
essencial em vista do fim especial para o qual era concedido o dom de
línguas, o qual constitui a quarta característica desse dom.
Esta era de que o dom das línguas servia como sinal para os
descrentes e não se destinava de maneira alguma aos crentes. Paulo é
muito preciso nesse ponto. Ele cita o profeta Isaías como tendo
predito a finalidade das línguas: Na lei está escrito: "Falarei a este
povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e
nem assim me ouvirão, diz o Senhor." De sorte que as línguas
constituem um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos;
mas a profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que crêem (I
Coríntios 14:21-22). O surgimento dessa dádiva marcava o fato de
que Deus estava julgando a nação de Israel e deixando-a para se voltar
aos gentios. Este é o motivo pelo qual Pedro disse aos judeus no dia
de Pentecoste: Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos
(judeus), e para todos os que ainda estão longe (gentios), isto é, para
quantos o Senhor nosso Deus chamar (Atos 2:39).
Uma vez que o dom de línguas era tencionado como um sinal
para os descrentes, ele não era concedido para ser praticado dentro da
igreja. Paulo não proíbe o seu uso aqui, pois, numa reunião de igreja,
descrentes podem muito bem estar presentes, mas ele o regula
rigorosamente e insiste em que ele não tem valor na igreja enquanto
não for interpretado. Já que o dom das línguas é o mais fácil de se
imitar, ele também o foi, por muitas vezes através dos séculos. A
autenticidade dessas manifestações só pode ser verificada se as
conferirmos com as características bíblicas.
No final de I Coríntios 12 há outra lista de dons espirituais,
alguns dos quais são repetições dos já discutidos:
A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em
segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores
de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas (v. 28).
Nós consideraremos os apóstolos, profetas e mestres num
capítulo posterior, pois estes têm um tipo especial de dom. Os dons de
milagres e de curas, já examinamos; mas um dom é mencionado aqui
pela primeira vez. Trata-se do dom de socorros. De um certo modo
este é um dos maiores dons, e certamente o mais difundido. É a
capacidade de se ajudar sempre que há necessidade, mas de tal
maneira que fortaleça e encoraje os outros espiritualmente. Na igreja
ele freqüentemente se manifesta naqueles que servem como
atendentes à porta da igreja, como tesoureiros, naqueles que preparam
a mesa para a Santa Ceia, fazem o arranjo das flores ou servem o
jantar. A maior parte das pessoas talvez não note isso, mas o exercício
desse dom é que possibilita o ministério de outros dons, mais
evidentes. Toda igreja tem uma grande dívida para com aqueles que
exercem o dom da ajuda.
O capítulo 12 de Romanos contém outro tratamento parcial dos
dons espirituais, nos versículos 6-8:
Tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi
dada; se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério,3
dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina, esmere-se no fazê-lo;
ou o que exorta, faça-o com dedicação; o que contribui, com
3
Para "ministério", que é o termo empregado na Edição Revista e Atualizada no Brasil; a
versão inglesa utilizada pelo autor apresenta a palavra "service", ou seja, "serviço"; daí se
explica a interpretação que se segue, a qual parece mais levar em consideração a
diferenciação específica que o autor efetuou anteriormente entre dons, ministérios e
realizações. Cf. p. . . . (Nota do Tradutor).
liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce
misericórdia, com alegria.
Já nos referimos brevemente ao dom da profecia e
continuaremos a estudá-lo quando voltarmos a Efésios 4. O dom do
ministério parece ser idêntico com o de socorros, que acabamos de
examinar. A palavra grega para "ministério" é aquela donde deriva o
termo "diácono". Um diácono então seria qualquer um que usa seu
dom de ajuda para executar um serviço em prol ou em nome da igreja.
O dom dos mestres, de ensinar, já consideramos como
relacionado com a comunicação da verdade. O próximo dom nesta
lista é o da exortação. Esta é uma palavra que quer dizer encorajar ou
dar conforto aos outros. Sua raiz grega significa "chamar para o lado"
e nos dá a imagem de alguém chamando o outro para vir para o lado, a
fim de fortalecê-lo e restabelecer sua confiança. É a mesma raiz da
qual se deriva um nome do Espírito Santo: o Consolador, ou conforme
a "Revised Standard Version" inglesa, o Conselheiro. Aqueles que
possuem esse dom são capazes de inspirar outros à ação, despertar
novo interesse espiritual ou reafirmar os que estão em dúvida ou
desgraça.
Outro dom mencionado aqui pela primeira vez é o de contribuir
ou doar. Fundamentalmente o que é visado aqui é o dinheiro, e por
isso a exortação vai no sentido de que se dê com generosidade. Pode
ser surpreendente saber que o Espírito Santo concede um dom como
este, mas muitos cristãos o possuem, tanto ricos como pobres. Trata-
se da habilidade de ganhar dinheiro e dá-lo para a promoção do
trabalho de Deus, e isso com tal sabedoria e alegria, que os
recebedores se vejam imensamente fortalecidos e abençoados pela
transação. Tenho encontrado homens agraciados com esse dom, que
vieram ao meu encontro e se ofereceram para financiar um ministério
que lhes custou bastante. Os resultados obtidos obviamente lhes dão
alegria e satisfação.
O dom mencionado em seguida tem sido freqüentemente mal-
entendido, por ser mal traduzido.4 A "Revised Standard Version" diz
que aquele que "dá ajuda"5 deve fazê-lo com zelo. A Versão Phillips
está mais próxima do original: "o homem que exerce autoridade pense
em sua responsabilidade"6, e a "New English Version" está na mesma
4
O Autor se refere, naturalmente, às traduções inglesas. As luso-brasileiras não
apresentam essa distorção. (Nota do Tradutor).
5
"gives aid".
6
"let the man who wields authority think of his responsibility".
linha: "Se és um líder, empenha-te em liderar." 7 Este poderia ser
melhor identificado como o dom de liderança. A palavra grega
significa literalmente "alguém que está em pé na frente". Ele se
evidencia no dirigir reuniões, conduzir painéis, presidir organizações
etc, mas isto especialmente quando é feito de tal maneira que ajude os
outros espiritualmente.
O último dom mencionado em Romanos 12 é o de fazer atos de
misericórdia. Sua distinção é indicada pela palavra "misericórdia".
Misericórdia é auxílio não merecido, ajuda dada àqueles que
freqüentemente provocam repulsa — os deformados, os mal-
cheirosos, os desagradáveis. À diferença do dom dos socorros, ela se
dirige aos indignos, sejam quais forem suas condições. Conheço uma
jovem mulher que tem esse dom e desenvolveu um notável ministério
de auxílio e conforto a crianças retardadas. É maravilhoso ver-se o
amor e a paciência que ela lhes dedica.
Aqui estão, então, as "graças" que são distribuídas pelo Espírito
Santo a cada membro do corpo de Cristo, conforme a vontade do
Espírito. Não há exceções, ninguém é deixado de lado. Esta é a
provisão fundamental do Senhor para a operação de sua igreja. Assim
como o corpo humano físico consiste de numerosas células que
exercem funções variadas, também o corpo de Cristo é constituído de
muitos membros, cada um dotado de uma função específica que é
absolutamente essencial para o funcionamento adequado deste corpo.
É óbvio que não pode haver esperança de a igreja jamais
funcionar conforme a intenção original, enquanto cada membro
individualmente não reconhece e comece a exercer o dom ou dons
espirituais recebidos. Isto é de importância tão fundamental, que nós
ainda usaremos todo um capítulo especialmente para examinar os
dons de um ponto de vista mais amplo, e dar alguns conselhos
práticos quanto ao modo de reconhecê-lo em si mesmo e pô-los em
prática.
7
"If you are a leader, exert yourself to lead."
Capítulo Cinco
10
Parênteses do tradutor.
Capítulo Oito
Capítulo Nove
A OBRA DO MINISTÉRIO
Muitos hoje estão perguntando: "Onde é que Jesus está
operando em nosso mundo? Como é que Ele atinge-os problemas da
sociedade deste século vinte?" A resposta é que Ele está atuando
exatamente como atuava durante a sua vida terrena, fazendo
precisamente a mesma coisa. Nos dias de sua encarnação, Ele
executou o seu trabalho através de um corpo terreno, individual e
físico. Ele continua a mesma obra agora, através de um corpo
complexo e orgânico, que engloba o mundo inteiro e permeia e
penetra todos os níveis da sociedade. Ele é chamado de Igreja, o corpo
de Cristo, mas o seu ministério se dirige à mesma raça a quem Jesus
ministrava, sob as mesmas condições básicas, enfrentando as mesmas
atitudes e problemas.
Vimos que Ele dotou seu corpo organizado com todo um arranjo
de dons espirituais, capazes de muitas combinações e incumbidos de
estabelecer e melhorar o relacionamento entre qualquer indivíduo e
Deus. Ele também legou aos membros de seu corpo uma nova espécie
de poder, o poder da ressurreição, que atua silenciosa mas
poderosamente, em conseqüência da vida de Cristo dentro de todo
crente. Somente quando um cristão usa seus dons espirituais no poder
da ressurreição, é que sua vida se torna uma extensão da vida
encarnada de Jesus. Em todas as outras ocasiões, a sua atividade é
apenas a de uma pessoa "natural", sem efeito ou poder espiritual.
Ao focalizar os dons do Espírito e o poder em que eles atuam,
não devemos perder de vista a dupla razão da manifestação desses
dons. Ela é citada claramente: (1) para o trabalho do ministério; e (2)
para a edificação do corpo de Cristo. Os dons são concedidos a fim de
serem usados nestes dois campos: o mundo e a igreja. Nós precisamos
nos lembrar continuamente de que o ministério se dirige ao mundo. A
igreja existe como instrumento de Deus para alcançar o mundo.
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito... (João 3:16).
A clara intenção de Deus é que através da igreja verdadeira o
mundo possa ver Jesus Cristo em ação. O mundo necessita
desesperadamente do seu ministério, mas o propósito nunca foi de que
as pessoas do mundo viessem à igreja para encontrar a Cristo. A igreja
deveria estar dentro do mundo. Somente assim o mundo
compreenderá que Cristo não está morto, nem ausente nem inativo.
Jesus Cristo não está fora, em algum recanto escondido e remoto do
universo (céu), nem deixou seu povo aqui para lutar e fazer o melhor
que possa até que Ele volte. Esta nunca foi a intenção divina nem é o
esquema do Novo Testamento. Cristo está vivo e atuando na
sociedade humana durante vinte séculos, como Ele disse que faria: Eis
que estou convosco todos os dias até à consumação do século
(Mateus 28:20).
Especificamente qual é o ministério do corpo de Cristo?
Ouçamos a resposta de seus próprios lábios. Ela se acha numa das
cenas mais dramáticas do Novo Testamento, documentada no quarto
capítulo do Evangelho de Lucas. É o próprio Senhor que descreve o
ministério que Ele veio realizar na terra, seja em seu corpo físico de
carne ou em seu corpo orgânico (não menos físico) da igreja.
Nos versículos 16-17 de seu quarto capítulo, Lucas nos conta:
Indo para Nazaré onde fora criado, entrou, num sábado, na
sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então lhe
deram o livro do profeta Isaías.
Jesus iniciou seu ministério nas cidades ao redor do Mar da
Galiléia, morando, porém, em Cafarnaum. Ele então fez uma longa
viagem a Jerusalém e à Judéia, onde realizou muitos milagres. Em
breve sua fama se espalhou pela região, como sendo um benfeitor e
fazedor de milagres. A notícia das coisas notáveis e estranhas que esse
jovem estava fazendo chegou a Nazaré, sua cidade. Agora, Ele voltou
e todo mundo está sabendo que Ele estará na sinagoga no dia de
sábado. Todos vão lá para ouvi-lo, pois esperam ansiosamente que Ele
faça entre eles alguns dos milagres realizados em outras cidades. Mas,
na sinagoga, Ele pede o rolo do profeta Isaías, e abrindo-o no lugar
adequado (no nosso Velho Testamento, o capítulo 65 de Isaías), lê a
seguinte passagem, como Lucas nos relata:
Abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: "O Espírito
do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos
pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos,
e apregoar o ano aceitável do Senhor." Tendo fechado o livro,
devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os
olhos fitos nele. Então passou Jesus a dizer-lhes: Hoje se cumpriu a
Escritura que acabais de ouvir (Lucas 4:17-21).
Deve ter havido muitos olhares perplexos neste ponto, por parte
dos moradores de Nazaré. Eles devem ter dito a si mesmos: "Que é
que ele quer dizer? Como pode ele achar que esta Escritura se
cumpriu entre nós, se ele não fez nenhum milagre em Nazaré?"
Sabendo que este era o pensamento de seus corações, Jesus continuou
dizendo-lhes:
Sem dúvida citar-me-eis este provérbio: Médico, cura-te a ti
mesmo; tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafarnaum; faze-o
também aqui na terra (Lucas 4:23).
Ele então continuou, fazendo-os lembrar de que na história de
Israel aconteceu muitas vezes que quando um profeta voltava à sua
própria terra, seu povo não o recebia. Ele citou os dois exemplos de
Elias e Eliseu, que fizeram milagres de bênção para os gentios, mas
não fizeram o mesmo pára nenhum israelita.
Portanto, em que sentido quis Ele dizer que a grande profecia de
Isaías sobre o Messias se tinha cumprido em Nazaré? Sem dúvida, Ele
lhe quis dar a entender que o cumprimento físico dessas predições
(abrindo olhos cegos, curando os paralíticos etc.) não era a única
intenção da Escritura. O Messias realmente começaria nesta área para
despertar a atenção e inspirar a confiança em si, mas Ele também
haveria de cumprir as predições num plano mais profundo e
importante, o do espírito humano. A cura das dores do espírito do
homem é que Deus de fato está procurando, e é neste sentido que a
profecia de Isaías se tinha cumprido em Nazaré.
Mas a maioria das pessoas em Nazaré tinha colocado suas
expectativas no campo físico, apenas. Queriam ver milagres físicos.
Negavam-se a aceitar essa insinuação de que o cumprimento último
estava na cura do espírito do homem. Ficaram furiosos e planejaram
um linchamento, procurando empurrá-lo de cima do precipício sobre o
qual se situava Nazaré.
Muitas vezes já se chamou a atenção para o fato de que os
milagres que Jesus fez também são parábolas, destinadas a ilustrar no
plano físico aquilo que Cristo se oferece a fazer no plano mais
profundo do espírito. O erro que os judeus cometeram, durante o
ministério de nosso Senhor, foi que não aceitavam isso, mas insistiam
continuamente em que Ele lhes desse um sinal exterior. Paulo diz que
este continuou sendo o desejo dos judeus, mesmo após a crucificação,
e que eles não creriam no evangelho sem alguma espécie de sinal (I
Coríntios 1:22).
Aqueles que têm fome e sede de milagres físicos, hoje, estão
repetindo esse erro de Israel. Procuram constantemente algo visível,
alguma coisa obviamente sobrenatural, algo de sensacional. Como se
um feito realizado no centro da vida de uma pessoa fosse menos
sobrenatural do que algo efetuado no corpo. Jesus deixou claro ao
povo de Nazaré que o ministério predito do Messias já se tinha
cumprido em seu meio através da sua presença entre eles.
Conservando isso em mente, tomemos esta grande declaração de
Isaías e a examinemos mais detalhadamente, pois ela descreve não
apenas o cumprimento físico ocorrido nos dias da presença carnal de
Jesus, mas também o cumprimento que ocorrerá através de você,
como um cristão no século vinte. Lembre-se que Jesus afirmou sobre
os seus discípulos: Aquele que crê em mim, fará também as obras que
eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (João
14:12). Que são essas "obras maiores"? Qualquer coisa feita no
âmbito do espírito é maior do que aquela feita ao corpo. Todos os
milagres corporais realizados por Jesus foram apenas curas
temporárias, que terminavam quando morria o indivíduo beneficiado.
Mas tudo o que Ele fez ao espírito dos homens naqueles dias, é eterno,
rendendo um mundo de bênçãos sem fim.
Quando Jesus foi para junto do Pai, enviou de volta o Espírito
Santo, que reproduziria a vida de Jesus dentro do crente. Assim,
através dos tempos, a igreja pode realizar feitos maiores de que os
executados pelo Filho de Deus nos dias de sua encarnação, pois não é
realmente a igreja (ou o cristão individualmente) que os realiza, e sim
um Senhor ressurreto e elevado, através do Espírito Santo.
Há cinco divisões neste trabalho do ministério. Em primeiro
lugar, temos a frase: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que
me ungiu... (Lucas 4:18). O que se segue deve ser então a descrição de
um ministério cheio do Espírito. Como Jesus foi ungido pelo Espírito
para o seu ministério terreno, assim todo crente precisa ser cheio com
o Espírito para a obra que deve realizar. Como é que se pode notar
que o Espírito de Deus está agindo na vida de alguém? Será pela
manifestação de algum fenômeno estranho ou de algum milagre? Não,
o ministério com a plenitude do Espírito será do tipo descrito por
Isaías. Ele abrirá olhos espiritualmente cegos, fará andar os paralíticos
do espírito, libertará os espiritualmente cativos etc. Esta é a finalidade
de uma vida cheia do Espírito. Em segundo lugar, a obra do ministério
é evangelizar.
O Espírito me ungiu para evangelizar aos pobres (Lucas 4:18).
Esta é a primeira divisão no trabalho do ministério — que os santos
(cristãos comuns) declarem a boa nova dos atos históricos de Deus
entre os homens. Isto é evangelização. A boa nova é que Deus não nos
quer deixar mais lutar desesperadamente, em frustração,
desorientação, monotonia, miséria e escuridão. Deus tomou uma
iniciativa contra isso. Ele agiu de modo a livrar os homens por
intermédio de seu Filho, Jesus Cristo. O próprio Deus subiu à cruz e
carregou os pecados do homem. Ele agiu, e não apenas falou. Através
da Ressurreição, Ele deu aos homens a sua própria vida, capacitando-
os assim a viver. Contar isso aos homens é pregar a boa nova.
A quem é que isso deve ser pregado? Bem, não aos ricos, e sim
aos pobres! Que significa isso? Com certeza, isso não quer dizer
apenas aqueles que são pobres física e materialmente. Por acaso os
ricos e abastados não precisam ouvir a boa nova? É óbvio que a
profecia transcende novamente o aspecto físico e se refere à pobreza
espiritual dos homens. Lembra-se das primeiras palavras do Sermão
da Montanha, talvez a mensagem mais esplêndida já ouvida por
ouvidos humanos? Ele começa com uma notável receita para a
felicidade, as Bem-Aventuranças. Bem-aventurados (felizes) os
humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Quer dizer, feliz
é o homem que não tem mais recursos em seu espírito, e ele o sabe.
Feliz o homem que não tem posição alguma diante de Deus, que não
tem uma longa conta de boas obras em que se fiar, criando assim uma
atitude de autojustificação, mas bem-aventurado é o homem que vem
a Deus e diz: Tem misericórdia de mim, pecador. Deus então é capaz
de dar o reino dos céus a esse homem. Jesus nunca desperdiçou muito
tempo com os que se auto-justificavam e com os auto-suficientes. Ele
pregou aos pobres em espírito. Não perca seu tempo, falando a
pessoas que acham que têm tudo de que precisam. Procure aqueles
que nada têm, mas não se deixe desorientar pelo fato de alguns
fazerem de conta que têm tudo, enquanto que sob a superfície se
encontra um coração faminto e em busca de algo. Procure descobrir
isto. Pregue a boa nova aos pobres.
A tarefa seguinte dentro do trabalho do ministério consiste em
dois fatores: proclamar libertação aos cativos e restauração da vista
aos cegos (Lucas 4:18). Soltura e recuperação da vista. Liberdade e
luz. Você conhece cativos, quaisquer pessoas que estejam presas pela
sua aparência e suas atitudes que as seguram em perpétuo cativeiro?
Você não conhece alguém que esteja se batendo para se livrar de
hábitos prejudiciais, que os escravizam como um vício e frustram
todos os seus esforços por se libertar? Você não conhece ninguém que
esteja trancado num círculo vicioso de ódio, inveja amarga ou
ambição possessiva aparentemente insuperável? Você mesmo, por
acaso, é um desses? Então, nós temos boas notícias! Jesus Cristo é
capaz de libertar. Ele o fez com milhões de pessoas, e ele pode fazê-lo
com você.
Existem pessoas hoje que estão cegas? Existem homens e
mulheres que pensam estar fazendo a coisa certa e que desejam fazer a
coisa certa, mas de alguma maneira ela sempre sai errada? Eles estão
cegos, e não conseguem enxergar o fim da trilha que estão seguindo.
Com freqüência, são pessoas perfeitamente honestas e sinceras, que
esperam estar agindo acertadamente e se esforçam o melhor que
podem, mas nada funciona, e elas acabam tropeçando cegamente, de
um episódio para outro, em dificuldades cada vez maiores. Não estão
cegas estas pessoas? Elas precisam de um ministério que proclame a
recuperação da visão dos cegos.
Este ministério libertador e restaurador é resultado do
ensinamento da verdade. Jesus disse: Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará (João 8:32). É isso que liberta cativos e restaura
a visão: dizer a verdade aos homens. Não dizer aos homens o que eles
desejam ouvir, mas dizer-lhes o que eles precisam ouvir. Jesus
também disse: Quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário,
terá a luz da vida (João 8:12). Esta também é a função do ensino:
fazer dos homens discípulos, mostrar-lhes como seguir a Jesus. Não
apenas vir à igreja e cantar sobre Jesus ou recitar um credo, mas
obedecê-lo, mesmo quando cada fibra do seu ser grita por querer
desobedecer. É óbvio que esta obra do ensino atinge aquilo que
estamos fazendo em cada dia de nossas vidas. Ela nos envolve em
nosso trabalho, em nosso lar, na escola, na loja, na hora de diversão,
quando estamos acordados, onde quer que estejamos. Uma parte do
trabalho do ministério é ensinar a homens e mulheres, rapazes e
moças, como assimilar o poder que solta do cativeiro e como seguir e
obedecer àquele que abre os olhos dos homens, de modo que não
precisem caminhar na escuridão.
O próximo elemento de um ministério cheio de Espírito é pôr
em liberdade os oprimidos (Lucas 4:18). À primeira vista, isso se
parece com a proclamação da soltura dos cativos. Está certo que o
resultado final é o mesmo: liberdade. Mas o problema da opressão é
muito mais profundo e mais sério do que a simples prisão. A opressão
contém um certo elemento demoníaco dentro de si. Ela é mais do que
simples tirania; envolve também uma terrível crueldade. Dá-se uma
sensação de se estar carregando um fardo, de abatimento e depressão
associados com desespero.
Certa vez, um homem viajou de carro mais de mil quilômetros
para me contar de uma pesada carga que o estava oprimindo. Já fazia
mais de um ano que ele estava terrivelmente tomado por uma atitude
de ódio, em relação a um homem que lhe tinha feito uma grande
injustiça. Ele não conseguia se livrar de sua amargura e de seu rancor.
Isto começou a perturbá-lo a ponto de não mais conseguir comer ou
dormir direito. Em duas ou três ocasiões ele, a muito custo, se conteve
para não cometer um homicídio. Isto o estava dilacerando, destruindo
sua família e pondo em perigo a sua própria vida. Era perseguido por
constante depressão e desespero.
Conversamos, e eu lhe mostrei a verdade da Escritura sobre seu
espírito irreconciliável. Delicadamente, eu lhe expliquei que ele estava
envenenando a própria vida com o seu ódio e que não poderia haver
libertação enquanto ele não perdoasse o homem que o tinha ofendido.
Ele concordou em pedir a Deus a graça de fazê-lo, e nós oramos
juntos. Enquanto orávamos, eu observei o rosto dele, e um milagre
tomou lugar diante dos meus olhos. Eu vi um homem curado, aliviado
de um peso, liberto da opressão. Eu vi o veneno do ódio escorrendo
do coração daquele homem e o amor de Jesus Cristo inundando-o.
Toda a sua atitude se transformou visivelmente. Logo ele voltou para
casa com uma expressão diferente no rosto e outra atitude em seu
coração.
Tal é o ministério de aconselhamento e oração, que dá liberdade
aos oprimidos. Para isso não é necessário que haja um pastor; isso
pode ser feito por qualquer cristão que conheça a verdade da palavra e
tenha fé para orar. Não deveria ter sido assim, que esse homem fosse
obrigado a viajar mil quilômetros para achar alguém que o ajudasse.
Mas infelizmente esse ministério de prece-aconselhamento ficou
relegado ao conselheiro profissional, e problemas que poderiam ter
sido facilmente solucionados quando ainda no início, complicaram-se
em nós terrivelmente entrelaçados, que nem mesmo os profissionais
sempre os conseguem desmanchar. A oração é particularmente
eficiente em problemas desse tipo. Jesus disse uma vez de um rapaz,
tomado pelo demônio: Esta casta não pode sair senão por meio de
oração (Marcos 9:29).
O último elemento da obra do corpo de Cristo no mundo hoje é:
apregoar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4:19). Esta é uma das
mais notáveis afirmações da Bíblia. Se você verificar a passagem
original em Isaías, lida por Jesus, notará que há um "e" após a palavra
"Senhor". Pois a sentença não termina neste ponto. No original ela
continua dizendo: e o dia da vingança do nosso Deus (Isaías 61:1-2).
0 Senhor Jesus não leu esta parte da Escritura. Na altura do "e", Ele
fechou o livro e o devolveu dizendo: Hoje se cumpriu a Escritura que
acabais de ouvir (Lucas 4:21). Com isso Ele deu a entender que
naquele momento o resto ainda não se tinha cumprido. "O dia da
vingança do nosso Deus" se dará com a segunda vinda de Jesus
Cristo. Mesmo assim a época presente é "o ano aceitável do Senhor".
Salvação ainda é possível.
Proclamar este fato magnífico é explicar aquilo que está
acontecendo em nosso mundo. É aliviar o gélido aperto do medo que
convulsiona os corações de milhares que se levantam todas as
manhãs, temendo o que vai acontecer com um mundo que parece estar
enlouquecendo. Eles têm medo de que a história se tenha
descontrolado, que Deus tenha perdido o comando sobre os
acontecimentos humanos, se é que ele alguma vez o possuiu. Eles se
sentem perdidos, desamparados, vítimas de forças inexoráveis que
ultrapassam o domínio humano.
Eles precisam de alguém que lhes proclame o ano aceitável do
Senhor. Precisam aprender das Escrituras que Deus sabe o que está
fazendo em nossos dias em nossa época; que Ele está refreando as
forças do mal para permitir que o evangelho saia, mas deixando
suficiente demonstração do mal dentro do homem a fim de que eles
mesmos o vejam e reconheçam sua própria e desesperada necessidade.
Deus está governando os acontecimentos humanos de acordo com
seus próprios objetivos e seu próprio plano de ação. O ano aceitável
do Senhor continuará apenas enquanto o Senhor o decretar, mas até
que ele termine, nenhum homem pode ultrapassar os limites por Ele
colocados diante do mal.
Não conheço nada que seja mais difundido no mundo de hoje do
que o medo. Ele é que está por trás de tantas agitações estudantis dos
nossos dias. Sua revolta é essencialmente um protesto contra o medo,
um medo de algo tão abstrato que ninguém consegue definir ou
apontá-lo, e por isso os estudantes estão frustrados e desnorteados.
Sua frustração os leva a fazer algo desesperado: entrar em greve,
protestar, desafiar as forças invisíveis e silenciosas que ameaçam a
sua paz. Eles precisam desesperadamente de alguém que lhes
proclame o ano aceitável do Senhor.
Eis aí o trabalho do ministério: evangelizar, ensinar, orar,
interpretar a época. Esta é -â tarefa da igreja no mundo. É ela de
algum modo relevante? Não é algo de que as pessoas necessitam?
Elas não estão morrendo por consegui-lo, procurando-o
desesperadamente? Eu deixo a resposta para você, mas se você
consegue enxergar estas coisas como eu, reconhecerá que não há nada
que possa ser mais excitante e que dê mais realização do que estar
engajado num ministério semelhante. Se você é um cristão, então este
é o seu ministério. Para isso você foi equipado ao receber certos dons
espirituais, e é para este fim que você tem dentro de si o poder de um
Senhor ressurreto, do qual você se nutre. 0 pastor e o evangelista, bem
como os apóstolos e os profetas, estão aí apenas para ajudar-lhe neste
ministério. Eles não o podem realizar sozinhos. Eles estão aí para
ajudar-lhe, e não você para ajudar a eles.
Talvez você diga: "Mas quando é que eu posso fazer isso?
Afinal de contas, tenho que ganhar a vida e não tenho tempo para
andar pregando e ensinando." A resposta para isso é fácil. Faça-o no
trabalho. Faça-o em sua casa. Este ministério é uma parte tão natural e
normal de sua vida como qualquer outra coisa que você fizer.
Obviamente, a maioria dos cristãos passa seu tempo fazendo o
trabalho do mundo, e é assim mesmo que deve ser. Não são todos que
são chamados a ser um pastor ou evangelista ou mesmo um professor.
A principal preocupação na vida de qualquer um é o exercício diário
de sua profissão. Mas se Jesus Cristo não tiver nenhuma participação
nisso, ele será Senhor das franjas de sua vida, do tempo livre, das
sobras.
Você já notou alguma vez que os personagens realmente
importantes do Novo Testamento não são os sacerdotes nem os
monges? Eles são os ovelheiros, pescadores, coletores de impostos, os
soldados, políticos, fazedores de tendas, médicos e carpinteiros. Eles é
que ocupam o centro do palco. Assim é que deve ser novamente hoje.
Você pode contar a boa nova de Deus no trabalho, se for dada a
ocasião, junto ao bebedouro do escritório, ou então na hora do lanche.
Você pode curar um coração aflito, dentro do carro, quando estiver
indo de carro para casa. Você pode ensinar a verdade libertadora na
hora do cafezinho, ou numa conversa na cozinha, ou orar uma prece
de libertação com um doente acamado. Você pode inspirar atitudes
cristãs em transações comerciais ou em problemas governamentais, e
elas podem até significar a diferença entre acordo e conflito, entre
céus e inferno.
Um homem cristão me contou recentemente que ele é membro
de uma comissão de renovação urbana em São Francisco, responsável
pelo desfavelamento de certas áreas daquela cidade. Em uma de suas
reuniões, a junta estava discutindo um novo projeto habitacional a ser
executado numa área já cheia de cortiços e prédios velhos. Surgiu o
problema do que se deveria fazer com as pessoas, que seriam
deslocadas até que o novo projeto estivesse pronto. Houve uma
"atitude geral de que isto seria problema deles; eles que o
resolvessem. Mas este homem disse: "Não, isto não é problema deles;
o problema é nosso. Nós não temos o direito de executar um projeto
habitacional, a não ser que assumamos a responsabilidade de ajudar a
essas pessoas a acharem outro lugar para morar. A solidariedade cristã
não nos permitirá fazer nada menos do que isso!" Defendeu seu ponto
de vista, e por ter se manifestado num momento crítico, levou a
comissão a enfrentar sua responsabilidade, de modo que
eventualmente a solução foi encontrada.
Nestes tempos apocalípticos, é fácil achar uma ocasião para
proclamar o ano aceitável do Senhor. É quase impossível evitá-lo!
Quase que em qualquer situação você pode acalmar os temerosos com
uma palavra positiva de esperança. Tudo que você precisa é uma
manchete de jornal ou um comentário de televisão, e você tem uma
porta aberta para contar aos homens daquilo que Deus está fazendo na
história e onde Ele diz que tudo terminará.
Nós nunca devemos nos esquecer da estória que Jesus nos conta
das ovelhas e cabritos, e da base do seu julgamento. O detalhe da
estória é que os cristãos não devem fugir às atividades que os
envolvem com o sofrimento do mundo. Os famintos precisam ser
alimentados; os nus, vestidos; os doentes, visitados, e os presos,
encorajados. Precisamos pôr em ação os nossos dons, os nossos
talentos. Não ousemos escondê-los sob o chão, como o fez aquele
servo negligente, em uma das parábolas do Senhor, pois algum dia
teremos que nos encontrar com Ele para acertar as contas.
Capítulo Dez
Capítulo Onze
A META É A MATURIDADE
Agora, precisamos examinar em conjunto a grande declaração
de Paulo sobre o objetivo e a meta de todo esse grandioso e vasto
empreendimento de Deus entre os homens. Que é que Deus está
fazendo através da igreja? Que está Ele procurando? Qual é a
finalidade de tudo isso? Paulo diz que é:
IMPACTO
O que acontece, quando uma igreja no século vinte começa a
operar com base nesses princípios? Será que hoje eles funcionarão tão
bem como na igreja primitiva? A resposta é um retumbante Sim!
Quando Jesus disse: Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mateus 16:18), Ele
tinha em vista todos os séculos até a sua volta. Dr. E. M. Blaiklock,
professor de Línguas Clássicas na Universidade de Auckland na Nova
Zelândia, disse uma vez: "O século vinte é, de todos os séculos, o que
mais se parece com o primeiro." Mais uma vez os cristãos são uma
pequena minoria no meio de um mundo pagão em desespero, e se
defrontam por todos os lados com violência, hostilidades, ignorância,
imoralidade difundida e desespero existencial. Eles foram, portanto,
lançados de volta ao exato ambiente do primeiro século, em que
ocorreram os eventos e triunfos do Livro de Atos.
Como vimos, o cristianismo do Livro de Atos não é um
cristianismo incomum — ele é normal, costumeiro e típico como
estava designado a ser. O cristianismo estéril, formal e doutrinário da
nossa época, este, sim, é a distorção com sua frieza, sua rigidez
estreita, seus rituais mecânicos e seu cômodo conformismo. Cada
século tem suas formas distorcidas de cristianismo, mas cada século
também conheceu pelo menos alguma coisa da força vital e
transformadora de Jesus Cristo, atuando através do seu corpo. Este
poder se tem manifestado também no século vinte, com muito vigor
em certas épocas e lugares, e muito mais fraco em outros lugares,
dependendo de quanto as igrejas, cada uma por sua vez, deliberada ou
involuntariamente se dispuseram conforme o esquema bíblico de
operação que vimos descobrindo.
Talvez seja conveniente resumirmos este esquema em um ou
dois parágrafos, de modo que ele esteja claramente diante de nossos
olhos. A igreja está aqui na terra, não para fazer aquilo que outros
grupos podem fazer, mas para fazer aquilo que nenhum outro grupo
de seres humanos é capaz de realizar. Ela está aqui para manifestar a
vida e o poder de Jesus Cristo, em cumprimento do ministério que foi
dado a Ele pelo Pai, como ele mesmo o disse na sinagoga de Nazaré:
O Espírito do Senhor está sobre mim... para evangelizar aos pobres...
para proclamar libertação aos cativos e restauração de vista aos
cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano
aceitável do Senhor (Lucas 4:18-19).
Este ministério redentor deve ser executado pela atividade de
muitos, e não apenas de uns poucos. É preciso toda a igreja para
executar o trabalho da igreja. Para este fim, todo cristão é dotado de
certos dons que foram prometidos pelo Cristo ressurreto, quando ele
subiu ao trono do Pai e tomou as rédeas de todo o universo. O
objetivo supremo da vida de cada cristão é descobrir esse dom e pô-lo
a funcionar. Se um, que seja, não o fizer, todo o corpo sofrerá.
O poder através do qual estes dons devem operar é o de uma
confiança constante na vida recebida de um Senhor ressurreto e que
mora dentro de nós. No mais, foram tomadas todas as providências
para a descoberta, desenvolvimento e operação desses dons espirituais
no poder da ressurreição, através do ministério diretivo dos apóstolos,
profetas (que colocaram os fundamentos da fé), evangelistas e
pastores-mestres (que utilizam a palavra de Deus para motivar, limpar
e fortalecer as pessoas em suas tarefas). Ao fazer tudo isso, a igreja
estará operando como sal e luz em meio a um mundo de corrupção e
escuridão, e ao mesmo tempo ela mesma estará crescendo em direção
a uma manifestação sempre mais nítida da perfeição e beleza do
caráter humano de Jesus Cristo. Este é todo o programa.
Com muita hesitação, eu me volto agora à experiência feita
numa igreja em particular, a fim de demonstrar, a partir da vida real,
como estes princípios de fato funcionam bem neste mundo moderno.
A igreja que me refiro é aquela em que eu tenho tido o privilégio de
ser um pastor-mestre por mais de vinte anos (desde 1950). Trata-se da
"Península Bible Church", localizada na península de São Francisco
em Paio Alto, na Califórnia. Estou bem consciente de que existem
muitas outras igrejas no mundo que serviriam de ilustração para os
princípios que estudamos, e, sem dúvida, algumas delas seriam
exemplos muito mais claros e melhores do que a "Península Bible
Church". Mas minha experiência limitada me força a escrever
somente sobre a igreja que melhor conheço, identificada
familiarmente por seus membros como PBC.
Preciso também deixar claro, desde o início, que a PBC não é de
modo algum uma igreja perfeita. Cometemos muitos erros através dos
anos, e alguns deles foram realmente graves. Ainda somos aprendizes
em alto grau, orientados pelo Espírito Santo para visões
constantemente novas e para uma compreensão mais clara dos
princípios que procuramos seguir. Aprendemos muito da experiência
e do ensino de outros e nos sentimos profundamente endividados para
com membros do corpo em outros lugares, por seu ministério a nós
dirigido e altamente necessitado. Em comparação com muitas outras
igrejas ao redor, encontramos o que muitos chamam de uma invejável
plataforma para o sucesso; mas em comparação com as comunidades
do Novo Testamento, freqüentemente ficamos muito aquém; e talvez
podemos ser melhor descritos com a palavra dirigida por Jesus à
igreja em Filadélfia, na Ásia Menor: Eis que tenho posto diante de ti
uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar — (eu sei) que tens
pouca força, entretanto guardaste a minha palavra, e não negaste o
meu nome (Apocalipse 3:8).
A PBC foi iniciada por cinco homens de negócio em 1948, os
quais sentiam com suas famílias a necessidade de uma ocasião mais
viva para a comunhão informal e para o estudo bíblico, do que
estavam recebendo nas igrejas que então freqüentavam. Não tinham
qualquer intenção de começar uma nova igreja, mas apenas desejavam
complementar a dieta espiritual que estavam recebendo. Para isso,
alugaram uma pequena sala no Centro Comunitário de Paio Alto e
começaram" a se reunir domingos à noite, enquanto continuavam a
freqüentar as suas próprias igrejas na parte da manhã. Agora é
possível olhar-se para trás e verificar que, do que eles estavam
sentindo falta, era de koinonia, a vida do corpo da igreja primitiva.
Isto eles alcançaram em grau considerável, e as reuniões eram tão
acolhedoras e interessantes, que elas atraíram muitos outros que
apareciam regularmente para o ensino bíblico (freqüentemente
dirigido por pastores visitantes), para os cultos musicados e para
aproveitar a atmosfera informal.
Este ministério foi tão aceitável, que ao fim de um ano algumas
pessoas se dirigiram aos cinco líderes com o pedido de que houvesse
Escola Dominical aos domingos de manhã, além da reunião da noite,
já que também as crianças precisavam da mesma instrução bíblica que
os pais estavam recebendo à noite. Isto foi feito, e no outono de 195(1
o número de freqüentadores regulares, adultos e crianças somados,
estava em torno de 100 por semana. Isto exigia demais dos cinco
líderes, pois o tempo que tinham à disposição era muito limitado, e
assim, em setembro de 1950, por uma providência bastante óbvia do
Senhor, eu tive o privilégio de vir a este grupo como seu primeiro
pastor de tempo integral.
De todos os princípios que discutimos neste livro, o único que
estava claro para mim, na época da minha chegada, era a profunda
convicção, derivada de Efésios 4, de que o trabalho do ministério
pertencia aos leigos, e não ao pastor. Minha idéia sobre este ministério
era bastante vaga, mas desde o início eu senti que a minha tarefa como
pastor era desdobrar a palavra de Deus em sua plenitude e da melhor
maneira possível, deixando aos leigos a responsabilidade maior de
visitar os doentes, presidir e dirigir os cultos e evangelizar o mundo.
De saída nós fixamos a orientação de que não faríamos evangelização
direta nos cultos normais ou dentro do edifício da igreja, e sim toda a
evangelização seria realizada nos lares, terrenos, salões alugados ou
outros locais públicos de reunião.
Uma das nossas realizações mais características dos primeiros
anos era o ministério de Estudo Bíblico nas casas. Estes não tinham o
objetivo de ensinar a cristãos, mas de interessar não-cristãos nos
grandes temas do evangelho. A sua abordagem era feita de propósito
num nível bastante simples, sem qualquer atividade que tivesse gosto
de igreja, como cantar hinos, oração de abertura, filas de cadeiras ou
estante de leitura etc. O casal anfitrião eram pessoas-chave, recebendo
em sua casa amigos e visitantes a quem faziam sentir-se à vontade,
como se se tratasse de uma ocasião puramente social. Um professor
leigo ensinava sobre a Bíblia, procurando captar conceitos bíblicos e
expressá-los em linguagem atual, convidando-se então à discussão
completamente livre. Todos estavam livres para pôr em dúvida o que
foi apresentado, se quisessem, e suas dúvidas eram ouvidas
atentamente e com cortesia, procurando-se então uma resposta a partir
das próprias Escrituras,
Estas reuniões se tornaram um sucesso instantâneo e eram tão
populares, que as discussões às vezes envolviam dezenas e até
centenas de pessoas (nós tínhamos algumas casas muito grandes à
nossa disposição) e se estendiam às vezes até alta madrugada. Nunca
se mencionava a PBC nestas reuniões, pois estas eram consideradas
como o ministério pessoal dos cristãos que nelas se engajavam. Em
breve houve muitos novos convertidos provenientes destas reuniões,
os quais eram então estimulados a se tornarem ativos numa igreja
local, de preferência alguma da sua vizinhança. Assim todo o corpo de
Cristo em nossa área começou a ser beneficiado com essas reuniões, e
naturalmente muitos dos novos convertidos iam parar na PBC.
Olhando para trás, podemos ver que estas reuniões alcançaram
três importantes objetivos. Em primeiro lugar, elas se mostraram
como um instrumento altamente eficaz em atingir as pessoas do
mundo exatamente onde elas estão e em confrontá-las direta e
pessoalmente com o Senhor da glória, que veio ao mundo para chamar
os perdidos e não os justos ao arrependimento. Por outro lado, elas
serviram de demonstração visível para o nosso povo cristão, de que o
evangelho ainda tem o poder de transformar vidas e que ele pode ser
tremendamente atraente a não-cristãos quando apresentado sem
aquele aparato religioso de um culto na igreja. E em terceiro lugar,
esta foi uma oportunidade para muitos cristãos se tornarem
pessoalmente o canal do Espírito de Deus em ação, enchendo-os
assim de entusiasmo e de ousadas esperanças. Suas vidas antes
desligadas se tornaram agora uma faísca para os outros, e aos poucos
o entusiasmo de um cristianismo cheio de vida começou a se espalhar.
Nestas três maneiras o ministério dos Estudos Bíblicos nas casas
superou o que chamamos de "síndrome de amontoamento" entre os
cristãos, isto é, a tendência de se agrupar na presença de não-cristãos
ou de evitar todo contato* a não ser o mais superficial com pessoas do
mundo, especialmente amizade íntima e demais hospitalidade.
Quando os cristãos recuperaram sua confiança no poder do evangelho,
eles perderam o medo do mundo, e esta atitude permeou a igreja
inteira a ponto de não mais precisarmos tanto da abordagem de grupo
para o testemunho, come antes, e a maior parte deste testemunho e da
evangelização agora é feita numa base pessoal através de
evangelismo, de amizade e de hospitalidade.
Um dos cinco homens de negócios que fundaram a igreja, se
tornou tão hábil em desenvolver seus dons espirituais de ensino,
discernimento e liderança, que os outros presbíteros o convidaram a se
tornar um pastor de tempo integral, e assim o Sr. Robert W. Smith
começou seu ministério rico e diversificado com a PBC como pastor
colaborador, sem o benefício do costumeiro treinamento de seminário,
geralmente tido como essencial. Mais tarde o Sr. David Roper se
tornou um pastor colaborador com a responsabilidade de utilizar os
mesmos princípios esboçados em Efésios 4 dentro da comunidade
universitária. Ele os tem aplicado com tanto sucesso, que o
testemunho cristão no campus universitário da Universidade de
Stanford, vizinha a nós, é no meu entender o mais eficaz que conheço
de qualquer campus no mundo.
O mesmo esquema de abordagem se revelou altamente eficaz no
nível de colégio, e a entrada do Sr. Ronald Ritchie no corpo de
pastores em 1969 correspondeu com a eclosão do "Movimento de
Jesus" na Costa Ocidental dos Estados Unidos, dando-nos uma-
oportunidade de aplicar estes princípios com resultados tão extensos
que literalmente centenas de jovens estudantes de colégio têm sido
batizados como novos convertidos a Jesus Cristo nos últimos dois
anos, e seu interesse e engajamento cristão é tão vivo que eles têm
saído por todo o norte da Califórnia e mais além, para compartilhar
sua crescente maturidade e estabilidade em Cristo.
Pode surpreender a muitos que esses mesmos princípios
funcionem com cristãos de qualquer idade ou de qualquer procedência
familiar, mesmo com crianças. O Sr. William Dempster se tornou
pastor colaborador com a responsabilidade sobre as crianças, em
1968. Ele tem verificado que crianças do ginásio e até do primário são
capazes de descobrir e exercer seus dons espirituais, bem como
aprender a confiar no poder da ressurreição para as fazer eficientes.
Como conseqüência disso, jovens ginasianos estão ajudando a ensinar
as crianças mais novas com ótimos resultados, e a cada verão equipes
de jovens são enviadas com a orientação de adultos, para organizarem
retiros de uma semana para crianças em cidades longínquas dos
Estados da Califórnia, Oregon e Nevada. Ao lados dos frutos que este
ministério traz para a vida das numerosas crianças, espiritualmente
negligenciadas nestas pequenas cidades, está o efeito que o ministério
tem sobre as próprias vidas dos que são enviados. Eles aprendem
grandes lições sobre a confiança e fidelidade de Deus, pois eles é que
fazem todo o planejamento e dirigem as reuniões.
É difícil descrever em um curto capítulo todos os variados
ministérios que se desenvolveram nos últimos anos, na medida em
que cristãos individualmente em nossa congregação assimilaram o
esquema bíblico do funcionamento do Espírito. Três outros precisam
ser mencionados, já que eles ilustram tão bem a característica
inovadora da orientação do Espírito, fazendo surgir abordagens e
técnicas nunca antes experimentadas ou que nunca foram planejadas
ou esperadas. A diversificação é inevitável quando está em ação um
Espírito criativo.
Há, por exemplo, o programa interno de treinamento da PBC
que agora funciona sob a designação de Centro de Descobertas. Este
foi iniciado quando o colégio pastoral começou a se preocupar com a
falta de ministério prático para estudantes de seminário nas férias de
verão. As pressões acadêmicas e o ambiente do seminário
dificultavam jovens que estudavam para o ministério a pôr em ação
alguns dos princípios que estavam aprendendo; por isso a PBC
começou a engajar dois seminaristas por verão no ministério de sair
ao mundo para atingir os não-cristãos. Logo se verificou que estes
jovens tinham grande falta de vivência em três áreas principais da
compreensão da Escritura: o progresso espiritual de um indivíduo em
confiar no poder da ressurreição; a compreensão dos dons espirituais e
do funcionamento do corpo de Cristo, e a posição e o poder da igreja
em relação à sociedade e aos problemas sociais.
Verão após verão estes conceitos eram ensinados a jovens
seminaristas, tendo a PBC arcado com as despesas do seu ministério,
isto é, um salário mensal de 250 dólares para estudantes solteiros e
300 para casados. Q, número variava de dois a um máximo de doze
estudantes por verão. Então, há dois anos atrás começaram a vir
jovens a nós, dizendo: "Nós ouvimos falar do seu programa de
treinamento e gostaríamos de ingressar nele. Participaremos por mais
ou menos um ano e pagaremos nossas próprias despesas, se vocês nos
deixarem entrar neste programa." Primeiramente nós desencorajamos
tais iniciativas, achando que isso sobrecarregaria o colégio pastoral,
mas vários foram tão persistentes, que nós nos aventuramos a aceitar
dois jovens por um ano. Quando isto se tornou conhecido, fomos
inundados com candidatos e finalmente forçados, ou a tomar as
providências necessárias, ou abandonar completamente a experiência.
Tocamos para frente, confiando na orientação de Deus, e agora, em
1971, temos vinte e cinco internos em tempo integral, que estão
conosco por ao menos um ano, havendo a possibilidade de ficarem
mais outro ano, se as circunstâncias o permitirem. O programa
também tem servido como uma orientação no estágio de candidatos a
missionários e de missionários que voltaram de Cruzadas
Transatlânticas, que têm seus quartéis generais internacionais em Paio
Alto e ajudaram a levar um antigo estagiário, Sr. Ray Benson, à
direção do Centro de Descobertas. Estes estagiários todos trabalham
em estreita conexão com um dos nossos pastores. Eles passam mais
ou menos metade de seu tempo estudando e discutindo com o colégio
de pastores, e na outra metade estão em contato com não-cristãos e
cristãos jovens, alguns em um ministério bastante duro e que muito
exige da pessoa. Outro projeto que nunca foi planejado ou promovido,
mas cresceu a partir de inícios modestos, é o de Publicações
Descobertas. Estas começaram com o interesse de um estudante,
formando de geologia na Universidade de Stanford, Sr. Peter Irish,
que viu seus olhos abertos para realidades fundamentais através de
uma série de sermões sobre Efésios 6, intitulada "A Arte da Guerra
Espiritual". Ele se propôs a colocá-los à disposição sob forma
impressa, para que outros os pudessem aproveitar, e sozinho
organizou um grupo de voluntários para copiar as mensagens
gravadas em fitas, editá-las, batê-las em estêncil para mimeografá-las.
A aceitação foi tão grande que ele se viu animado a copiar outras
séries de sermões da mesma maneira, e eventualmente achou
necessário dedicar todo o seu tempo a este trabalho. A propaganda
para estas mensagens foi feita oralmente, e aos poucos se constituiu
uma enorme lista de endereços, e agora mais de 2.000 cópias de cada
mensagem são enviadas mensalmente a todo o mundo, fora aquelas
que estão à disposição diretamente na congregação. Elas agora são
impressas, em vez de mimeografadas, existindo um catálogo de
mensagens em estoque, que cobrem amplos trechos das Escrituras,
bem como muitos estudos temáticos de grande importância prática,
como estudos sobre sexo, casamento, relações familiares, guerra,
ocultismo etc.
A terceira área que teve um desenvolvimento singular é a do
Culto do Corpo Vivo de domingos à noite. Este tem chamado tanto a
atenção, que diversas revistas cristãs já o mencionaram, e uma delas,
Christianity Today, publicou uma coluna especial, descrevendo esta
reunião, em sua edição de 21 de maio de 1971. Com permissão
especial da revista, concluímos este capítulo com a sua descrição.
Acontece todos os domingos à noite. Oitocentas pessoas ou
mais lotam um auditório de igreja destinado a acomodar apenas 750.
Setenta por cento têm menos de vinte e cinco anos, mas adultos de
todas as idades, mesmo octogenários, estão misturados com os jovens,
e pessoas de procedência cultural muito variada sentam-se, cantam e
oram juntas.
Um líder se põe de pé na frente, microfone pendurado no
pescoço. "Esta é a família", diz ele, "Este é o corpo de Cristo. Nós
precisamos um do outro. Vocês têm dons espirituais de que eu
preciso, e eu tenho alguns de que vocês precisam. Vamos
compartilhá-los". Quando uma mão se levanta lá atrás na seção
central, um rapaz ruivo se movimenta, corredor abaixo, com um
microfone sem fio, que é passado pelo banco para o jovem que se pôs
de pé para falar. "Puxa, eu nem sei como começar", diz ele, enquanto
seu cabelo que dá até os ombros rebrilha ao se voltar a um e a outro
lado. "O que eu sei é que eu tentei o sexo, drogas e todo o resto, mas
eu nada encontrava em lugar algum. Mas na última semana, fui na de
Jesus — eu acho que devia dizer que Ele é que me encontrou — e,
puxa vida, quanto amor! Isto não me entra na cabeça. Eu sou
simplesmente um novo cristão, mas pôxa, é aqui que está o negócio!"
Uma onda de prazer varre o auditório, e todos batem palmas e sorriem
quando o líder diz: "Bem-vindo à família. Como você se chama?"
Outras mãos estão abanando para serem reconhecidas. O líder
aponta para uma mulher bonita e bem penteada, de uns trinta e cinco
anos. "Eu só queria contar para vocês a providência que o Senhor
tomou em meu favor na semana passada", diz ela ao microfone. Ela é
divorciada e tem crianças pequenas. Sua renda se tinha minguado a tal
ponto que ela só tinha três cruzeiros com que comprar comida para
aquela semana. Mas alimento não solicitado tinha chegado. A família
tinha o suficiente para comer, e ela quer compartilhar o seu
agradecimento. Outra onda entusiástica de aplausos.
Então, levanta-se uma garota com um rosto que mostra grande
sensibilidade, cabelos até a cintura: "Eu só quero que a família ore
comigo. Meu irmão está virando a cabeça com LSD, e eu estou
morrendo só de vê-lo se desintegrar, mas nós não conseguimos fazê-lo
parar."
"Felipe, vá para o lado dela e nos dirija a todos na oração por
esta grande necessidade", pede o dirigente. "Você estava em LSD e
sabe como é isso". Um jovem alto e esguio, de barba hirsuta, vai para
junto da garota e toma o microfone. "Ó Pai", ora ele, "tu sabes como
Ana se sente e sabes como se sente o irmão dela. Mostra-lhe a saída
deste caminho através de Jesus, e mostra-lhe que tu o amas assim
como ele é". Ele continua, numa prece eloqüente e de uma seriedade
simples, todo o auditório ouvindo em silêncio, de cabeça baixa.
Depois, um universitário de boa aparência se põe de pé, com a
Bíblia na mão. "Eu só quero compartilhar uma coisa com vocês que o
Senhor me mostrou esta semana". Por uns cinco minutos ele dá a
explicação de um versículo da primeira carta de João, e a multidão ri
prazerosamente quando ouve a sua aplicação prática.
Outras necessidades são compartilhadas. Um jovem louro pede
uma oração para que ele possa comprar um carro barato, de modo que
não precise depender de caronas para chegar em tempo às aulas na
universidade. Quando termina a prece, uma dona de casa de meia
idade se levanta lá nos fundos e diz: "Eu não sei como isso foi
acontecer, mas exatamente esta semana o Senhor me deu um carro de
que não preciso. Se o Ernesto o quiser, aqui estão as chaves". Ela
mostra um molho de chaves e a multidão aplaude alegremente,
enquanto o rapaz louro corre para apanhar as chaves.
Então é anunciada uma oferta. O dirigente explica que todos
podem dar na medida de suas possibilidades, mas se alguém tem uma
necessidade imediata, ele pode retirar do prato até dez dólares para
enfrentar esta necessidade. Se ele precisa mais de dez, está
cordialmente convidado a vir ao escritório da igreja na manhã
seguinte, para explicar a sua situação; lá, ele poderia receber mais
dinheiro. Enquanto, os auxiliares do culto vão passando o prato, um
rapaz canta ao violão uma canção popular, que pergunta: "Já viu
Jesus, meu Senhor? Ele é fácil de ver. Preste atenção, dê uma olhada,
nós o mostramos a você."
Após a canção, alguém pede que se cante certo hino, e todos se
levantam para cantá-lo em conjunto. Então, o mestre da noite assume
a direção. Ouve-se um farfalhar de páginas de centenas de Bíblias. 0
professor fala por uns vinte e cinco minutos, medindo a plataforma
com os passos, de Bíblia na mão. Ele usa ilustrações simples de
incidentes com as pessoas, alguns cômicos, outros mais sóbrios. A
multidão está com ele o tempo todo, verificando referências,
sublinhando palavras, escrevendo nas margens. Algumas mãos são
erguidas para perguntas sobre o estudo. O professor responde
brevemente ou passa a pergunta adiante para um presbítero ou pastor
na congregação. No final, todos se levantam para uma oração de
encerramento. Eles se dão as mãos através das fileiras de bancos e
cantam suavemente: "Somos um no Espírito, somos um no Senhor."
Ao término da reunião, poucos saem. Surgem grupos
espontâneos: alguns orando, outros debatem sobre uma passagem
bíblica, outros cantando baixinho ao violão, e outros apenas
conversando e compartilhando. Aos poucos a multidão se torna mais
esparsa, mas se passa uma hora ou mais até que todos tenham ido
embora, e as luzes são apagadas.
Esta reunião é chamada de Culto do Corpo Vivo, uma hora em
que os membros do corpo de Cristo podem cumprir a sua função de se
edificarem mutuamente em amor. Ela foi iniciada em janeiro de 1970,
quando o colégio pastoral da "Península Bible Church" se reuniu para
discutir o nível espiritual da igreja. Expressou-se preocupação em
torno do culto de domingos à noite, que naquela época seguia o
esquema convencional de hinos, anúncios, Escritura, música especial
e pregação. A freqüência era bastante esparsa, girando em torno de
150 a 200 pessoas, com apenas um punhado de jovens presentes. A
preocupação maior estava na questão se estávamos seguindo a
admoestação da Escritura de "levar as cargas uns dos outros, e assim
cumprir a lei de Cristo". Outros textos nos perseguiam, como
"Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros,
para serdes' curados, admoestando entre vós com salmos... com hinos
e cânticos espirituais". Onde é que isto ocorria em nosso povo? Onde
poderia ocorrer?
Resolvemos dar lugar a este ministério, eliminando a estrutura
tradicional do culto noturno e usando aquela hora para convidar a um
compartilhamento, de necessidades e dons das pessoas. Começamos
com a pergunta: "Em que ponto você está sofrendo? Não o sofrimento
de há dez anos atrás, mas agora, onde você se encontra?"
Como era de se prever, o início foi muito vagaroso, mas em
breve um clima de realismo honesto começou a prevalecer. Quando
isto se propalou, a juventude começou a aparecer sem qualquer
convite — muitos cabeludos, descalços e vestidos exoticamente.
Nossos santos de classe média engoliram em seco, primeiro, mas
estavam resolvidos a ser genuinamente cristãos. Eles receberam bem
os jovens, deram-lhes ouvidos, oraram com eles e abriram seus
corações. O mesmo fizeram os moços.
A freqüência subiu aos trancos e barrancos. Por mais de um ano,
agora, o culto tem prosseguido sem qualquer sinal de interrupção.
Cada um deles é diferente. Amor, alegria e um sentimento de
aceitação dominam com tanto vigor, que visitantes admirados muitas
vezes falam de uma atmosfera espiritual que quase conseguem
apalpar. Chegou a koinonia 14
Isto é parte do impacto de uma igreja que começou a operar
sobre os princípios de ministério encontrados em Efésios 4. Outras
igrejas em outras partes estão experimentando uma bênção
semelhante, se bem que a ênfase varia de lugar para lugar, devido às
diferenças regionais e culturais. Onde quer que uma igreja estiver
disposta a levar a sério Efésios 4, I Coríntios 12 e Romanos 12, o
Senhor da Igreja está pronto a curar e a abençoar.
14
Ray C. Stedman, "The Minister's Workshop", (A Oficina do Pastor), Christianity
Today, Vol. XV, 21 de maio de 1971.
ALGUNS PROBLEMAS ENCONTRADOS
Sem dúvida, muitas perguntas serão levantadas com este estudo.
Ao me encontrar com pastores e com leigos interessados, em todos os
lugares eles fizeram muitas perguntas inteligentes e práticas sobre a
maneira com que esses princípios da Escritura poderiam ser aplicados
em alguma igreja local, sob condições diversas. As perguntas
levantadas por muitos e as respostas que dei são reproduzidas em
seguida, na esperança de que possam ajudar a muitos que leram este
livro.
P. "Em uma igreja que tem seguido um sistema mais
convencional por muitos anos, onde deveria um pastor começar a
executar esses princípios?"
R. O ponto adequado para se começar é uma exposição das
Escrituras no púlpito por um certo período, a fim de ajudar a igreja a
compreender que a Bíblia de fato ensina essas coisas, e que eles são
apoiados por todo o peso da autoridade bíblica. Nisto o pastor precisa
ser cortês e amável, não atacando a sua comunidade, mas levando-a
gentilmente a uma posição em que ela estará disposta a mudar.
P. "O que podem fazer os leigos quando um pastor se opõe a
aceitar esses princípios da Escritura e se recusa a levá-los em
consideração?"
R. Esta situação é delicada, mas infelizmente é muito freqüente.
Talvez a diretoria da comunidade pode enviar seu pastor a uma
conferência em que sejam ensinados esses princípios ou pedir-lhe que
se encontre com outros pastores que já tenham experiência na
operação desses conceitos; ou talvez um exemplar deste livro possa
ajudá-lo. Uma abordagem refletida e paciente geralmente fará
milagres numa situação dessas.
P. "Se estes princípios são tão claramente ensinados na
Escritura, como é que eles não me foram ensinados no seminário?"
R. Esta é uma pergunta difícil de responder. É fácil um
seminário começar a treinar homens que correspondam àquilo que as
igrejas estão procurando, em vez de se ater rigorosamente ao esquema
bíblico. A tradição é uma força poderosa, e seminários, assim como
indivíduos, podem sucumbir às pressões e conformar-se. No curso da
história da igreja, são os seminários que são reformados pelo
avivamento espiritual das igrejas, e não vice-versa. Muitos seminários
estão se movendo decididamente em direção a uma renovada ênfase
sobre estes princípios bíblicos. P. "Eu concordo com o fato de que
aquilo que o Sr. apresentou está de acordo com as Escrituras, mas
exige enorme motivação para que uma comunidade comece a se
mover nesta direção. Como se pode providenciá-la?" R. A motivação
pode vir de três fontes: uma consciência da desesperada situação da
igreja de hoje; a sede que os indivíduos têm por um ministério
excitante e que lhes seja um desafio; e a convicção que nos é dada
pelas Escrituras, de que Deus agirá assim como Ele disse.
Experimente um pouco de cada uma dessas três fontes.
P. "Como o Sr. recomenda que comecemos um Culto do Corpo
Vivo?"
R. Em primeiro lugar, não tente tomar emprestadas algumas
técnicas de liderança, esperando então que o culto funcione. Um Culto
do Corpo Vivo precisa surgir a partir da profunda convicção de uma
comunidade, de que ela tem uma responsabilidade perante o Senhor
de "levar as cargas um do outro". Precisa-se ajudar os membros a ver
a necessidade de se compartilhar, da honestidade e da aceitação
mútua. Quando eles estiverem convictos disso, está na hora de tentar
um Culto do Corpo Vivo. Mantenha o culto dentro da maior
simplicidade possível, e sobretudo não o super-organize nem tente
manipulá-lo.
P. "O Sr. não tem medo de que os exibicionistas tirem vantagem
de um culto desses para tocar em assuntos sujos ou escandalosos?"
R. Apesar da abertura dos Cultos do Corpo Vivo na PBC, isto
nunca aconteceu em mais de ano e meio de funcionamento. Se
acontecesse, os líderes o receberiam como uma oportunidade de
ensinar a congregação o que requerem certos tipos de problemas no
que diz respeito ao compartilhar, pedindo talvez à pessoa envolvida
que se encontre depois com um pastor ou com um presbítero. Se isto
for feito com amabilidade, um momento embaraçoso se transformará
numa experiência de enorme valor instrutivo. P. "Não seria
imprudente compartilhar seus segredos mais íntimos com outras
pessoas? Não é preferível guardá-los inteiramente para si?"
R. Não, não é melhor guardá-los para si. Os cristãos são
explicitamente instruídos a levar os fardos uns dos outros, e são para
isso equipados com diversos dons espirituais. Naturalmente é bom
verificar se aqueles com quem sé compartilha são de confiança, e sem
dúvida segredos profundos e obscuros não deveriam ser ventilados em
público; mas nenhum cristão deveria se ver forçado a se debater
sozinho, lutando com algum hábito terrível ou com uma situação
opressiva. Ele está se despojando a si mesmo da ajuda do resto do
corpo, se ele não compartilha com alguém.
P."Que dons espirituais eu deveria ter para ser um pastor?" R.
Naturalmente você deveria ter o dom de pastor-mestre. Isto é básico.
Ele se manifesta numa compaixão em relação aos necessitados e numa
capacidade de ensinar as Escrituras, de tal maneira que as pessoas se
vejam libertadas pela verdade. Outros dons também são úteis, como:
dons de sabedoria e de conhecimento, discernimento, profecia, revelar
misericórdia, e o dom da fé.
P. "Deveriam todos os nossos professores de Escola Dominical
ter o dom de ensinar?"
R. Sem dúvida alguma! Professores de Escola Dominical não
deveriam ser escolhidos porque estão dispostos, ou porque não há
outros que o façam. Eles deveriam ter alguma habilidade em
aperfeiçoar a vida espiritual dos outros, através do ensino, antes de
serem confiados a unia classe. Já que a vida dos jovens é moldada
pelo ensino, este ministério é importante demais para que seja
confiado a pessoas não qualificadas.
P. "O que fazer quando uma comunidade for tão pequena a
ponto de não ter professores qualificados para a Escola Dominical?"
R. Neste caso seria muito melhor que as crianças fossem
ensinadas em casa pelos pais. Além disso, a Escritura ensina à igreja
que ela deve rogar ao Senhor da seara que mande trabalhadores
para a sua seara (Mateus 9:38). Com este método, já preenchemos
muitas vagas em nossa Escola Dominical.
P. "Está errado fazer-se um convite durante um culto?"
R. Não é que esteja errado, mas antes é impróprio. Há ocasiões
em que é muito apropriado, se for feito com cortesia e sinceridade,
sem apelo emocional indevido. Mas em geral, se isso for uma prática
constante, a tendência é que a igreja seja enfraquecida, pois então se
tira tempo do trabalho de se equipar os santos para o trabalho do
ministério. O primeiro, de qualquer maneira, tem pouco tempo à
disposição no culto costumeiro e é com certeza um assunto muito
mais importante, se é que a comunidade tem uma essência
basicamente cristã.
P. "Quanto tempo é necessário para que uma comunidade
comece a funcionar com base nos princípios de Efésios 4?"
R. Isto depende inteiramente da comunidade e de seu pastor ou
pastores. Provavelmente leva mais tempo do que se poderia imaginar
de início, pois os cristãos muitas vezes precisam de muito tempo e
reflexão para aceitarem novas abordagens. Mas se mesmo uns poucos
captarem a idéia e começarem a exercer seus dons espirituais no
«poder da ressurreição, será uma faísca que acenderá outras e aos
poucos ocorrerá uma mudança acentuada. Lembre-se de que é
necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e, sim, deve
ser brando para com todos, apto para instruir, paciente (II Timóteo
2:24).
P. "Existe alguma palavra de encorajamento que se possa dizer a
um pastor, que está começando agora a pôr em ação os princípios que
o Sr. expôs?"
R. Sim. Aqui está: Pastoreai o rebanho de Deus que há entre
vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer;
nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como
dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos
modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar,
recebereis a imarcescível coroa da glória (I Pedro 5:2, 4).
Prezado leitor,
Se este livro o ajudou, escreva à Editora Mundo Cristão, pois ela tem
interesse em saber sua opinião a respeito dele.
Fique a par de suas publicações solicitando uma lista de preços,
inteiramente grátis, pela Caixa Postal 21.257,04698 - São Paulo, SP.