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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____

VARA JUDICIAL DA COMARCA DE ITAPECERICA DA SERRA - SP

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,


por meio do Promotor de Justiça do Meio Ambiente e Habitaçã o e
Urbanismo de Itapecerica da Serra, no uso de suas atribuiçõ es
constitucionais, com fundamento no art. 129, incs. II e III, da
Constituiçã o Federal, nas Leis Federais n.º 7.347/85 e n.º 6.766/79, e
no art. 295, inciso X, da Lei Estadual n.º 734/93, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR, pelo procedimento ordiná rio, em
face de

1 – ESPÓLIO DE TOMI KAGOHARA,


representado pela inventariante AMÉLIA IOSHIRO KAGOHARA,
brasileira, viú va, comerciante, RG nº. 8.657.951-4 – SSP/SP, CPF/MF
nº. 352.488.826-72, residente e domiciliada na Rodovia Jose Simõ es
Louro Junior, n.º 15.150, Bairro Crispim, Itapecerica da Serra;

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2 – MUNICÍPIO DE ITAPECERICA DA SERRA,
representado pelo seu atual prefeito municipal,

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir


expostos:

1 – DOS FATOS

Segundo apurou-se no Inquérito Civil n.º 45/10


desta Promotoria de Justiça da Habitaçã o e Urbanismo (autos em
anexo), no imó vel situado na Estrada do Jararaú , pró ximo ao n.º 1.000,
Bairro Jardim Idemori, o qual pertence ao espó lio de Tomi Kagohara,
inú meras famílias invadiram o local, construindo barracos (cerca de 27
moradias) e ali se instalaram.

O proprietá rio da á rea, ao invés de tomar conta


de sua propriedade, nada fez, ou seja, nã o impediu a referida invasã o, o
que evidencia que feriu a funçã o social da propriedade, já que esta está
inserida em á rea de preservaçã o permanente, pró xima a curso d’á gua e
de morro (laudo da Secretaria do Meio Ambiente a fls. 218/224).

Ademais, para piorar a situaçã o, a


Municipalidade, ao invés de tomar conduta contrá ria a tais invasõ es à
época, incentivou indiretamente tal açã o ilícita dos ocupantes, ao
oficializar rua dentro da propriedade e oficializar praça esportiva

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também dentro da propriedade (vide Decreto Municipal n.º 2.029/08 –
fls. 43).

Com isso, o Município desapropriou a á rea


indiretamente, já que tornou sua parte da gleba, oficializando rua e
praça esportiva dentro de uma propriedade particular!

Contudo, o local em espeque localiza-se em


á rea de risco, com ocorrência de desabamentos. Cuida-se de ocupaçã o
em á rea particular e municipal.

No final do ano passado e no decorrer deste


ano, a Municipalidade elaborou vistoria no local e identificou as á reas
de risco, bem como o perigo de desabamentos, porém até a presente
data nada ou muito pouco foi feito para aliviar a situaçã o das famílias
que ali construíram suas casas.

Frise-se que a fls. 06 há informaçã o da


Prefeitura de que o local está em situaçã o de risco.

Ademais, a Defesa Civil apontou que no local


houve 02 deslizamentos e 04 mortes em dezembro do ano
passado, bem como há 27 moradias e estas foram construídas nas
encostas do morro (fls. 41 e 50/71). Além disso, a Defesa Civil
comunicou o Prefeito Municipal à quela época, conforme se verifica
pela destinaçã o da correspondência.

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Outrossim, apontando a gravidade da situaçã o,
o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnoló gicas) asseverou a fls. 73:

“As chuvas que atingiram o Estado de São


Paulo na quinta-feira (3) provocaram diversos deslizamentos na
Grande São Paulo, entre os quais os que atingiram o município de
Itapecerica da Serra, em área localizada na Estrada do Jararaú,
próximo ao número 1000, no Jardim dos Reis, vitimando três
crianças e uma adolescente que estavam em casa, por volta das
16:00, quando a moradia foi atingida por um deslizamento de
terra. Além deste deslizamento, outros foram deflagrados pela
chuva no mesmo bairro, atingindo parcialmente ou destruindo
outras moradias, sem causar vítimas.

Segundo a análise dos condicionantes


geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno,
etc.) e do nível de intervenção no local, verifica-se que a área
analisada apresenta alta potencialidade para o desenvolvimento
de processos de escorregamentos e solapamento de margem de
córrego. As evidências de instabilidade (trincas no solo, degraus de
abatimento de taludes, trincas em moradias, árvores ou postes
inclinados, cicatrizes de escorregamento, feições erosivas,
proximidade da moradia em relação às encostas e à margem de
córregos) são expressivas e estão presentes em grande número e

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magnitude, indicando uma situação de alto grau de risco de
escorregamento e solapamento de margem de córrego.

Esta análise justifica a interdição total de 28


moradias (sendo que três já se encontram completamente
destruídas por deslizamentos e uma parcialmente destruída) e a
interdição parcial de uma moradia.”

Ademais, basta verificarmos as fotos juntadas


à s fls. 31/38, 113 e 121 para comprovarmos o que o IPT assevera com
muita propriedade o acima exposto e indicando a gravidade da
situaçã o.

Deixo assente, ainda, que a Secretaria do Meio


Ambiente e o Instituto de Criminalística, apó s vistorias no local,
constataram degradaçã o ambiental na á rea, que se situa em á rea de
preservaçã o permanente (fls. 218/224 e 105/108, respectivamente).

2 – DA RESPONSABILIDADE PELA ELIMINAÇÃO DE RISCO DO


MUNICÍPIO DE ITAPECERICA DA SERRA E DO PROPRIETÁRIO

Alguns comentá rios merecem ser feitos a


respeito da responsabilidade pela eliminaçã o do risco.

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O direito à segurança, consagrado na
Constituiçã o Federal em seu art. 6º, tem como funçã o bá sica a proteçã o
do direito à vida, pois garante a sua inviolabilidade. Esta segurança,
além do sentido de prevençã o do crime, exprime-se em uma
expectativa de incolumidade física necessá ria para o pleno
desenvolvimento das funçõ es urbanas típicas: habitar, recrear, circular
e trabalhar.

A Constituiçã o Estadual também atende ao


princípio a segurança quando observa:

“Art. 180 – No estabelecimento de diretrizes e


normas relativas ao desenvolvimento urbano, o Estado e os Municípios
assegurarão:
(...)

VI – a restrição à utilização de áreas de riscos


geológicos.”

Assim, a legislaçã o impõ e ao Poder Pú blico


Municipal uma conduta eficaz e ativa, no sentido de eliminaçã o do
risco.

Mas, tal conduta nã o se contenta com a mera


intimaçã o. Nã o crê na eliminaçã o voluntá ria do risco. É sabedora a
doutrina e a jurisprudência, pela experiência adquirida, de que os

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moradores, no mais das vezes, nã o têm para onde ir, o que faz com que
ali permaneçam. Desta forma, no caso de existir perigo de ruína prevê
a ocorrência de intervençõ es parciais ou totais do imó vel, dando
ciência aos seus proprietá rios e ocupantes. Ademais, enumera as
providências que devem ser tomadas nos casos de descumprimento da
intimaçã o ou interdiçã o, que seriam as multas diá rias e a abertura de
inquérito policial, além das medidas judiciais cabíveis.

Ressalte-se que há a necessidade de


intervençã o direta da Municipalidade nos casos mais graves, como o
objeto do presente feito (no mesmo local, há 11 meses morreram três
crianças e uma adolescente e quatro moradias desabaram e foram
soterradas). Assim, impõ e, para o caso de nã o atendimento da
intimaçã o (em que nã o haja a desocupaçã o voluntá ria), e apó s a
autuaçã o e a multa do morador desobediente, a realização dos
serviços indispensáveis à estabilidade da edificação pelo
Município (que, posteriormente, poderá cobrar em dobro os valores
gastos) e a retirada das famílias do local.

No caso em concreto, é importante que se


saliente que parte da á rea localiza-se em bem pú blico, o que, por si só ,
demanda da Municipalidade uma conduta muito mais rigorosa!

Nesse sentido, cumpre observar o contido na


Carta Magna, a qual estabelece o dever do Poder Pú blico em conservar
o patrimô nio pú blico (art. 23, I) e de defender e preservar o meio

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ambiente (sem distinçã o de espécie: urbano ou natural), bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (art. 225). Tal
bem é objeto da Política Nacional do Meio Ambiente estatuída pela Lei
Federal n.º 6.938/81 que: considera o meio ambiente como patrimô nio
pú blico; pauta-se pela preservaçã o, melhoria e recuperaçã o da
qualidade ambiental, proteçã o da dignidade da vida humana,
manutençã o do equilíbrio ecoló gico e racionalizaçã o do uso do solo
(art. 2º, 4º); vincula o Governo Municipal à s suas diretrizes (art. 5º).

Outrossim, é bom lembrar que a eliminaçã o do


risco nã o se restringe somente à s obras. É necessário proceder à
retirada dos habitantes do local, ou seja, interditar, mesmo que
parcialmente, os imóveis ameaçados.

A interdiçã o nesse caso configura-se como uma


medida preventiva tendo em vista a proteçã o da integridade física dos
habitantes.

Anote-se que a situaçã o de risco nã o se


compadece de vidas humanas, assim, a primeira alternativa
encontrada é: verificado o risco, seja ele derivado de deslizamentos,
desmoronamentos, escorregamentos ou inundaçõ es, a retirada
IMEDIATA das pessoas sob tal situaçã o.

É incontroverso que a manutençã o da


ocupaçã o sem que providências sejam tomadas fatalmente poderá

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causar na morte de moradores do local e este fator é o que impele a
atuaçã o do Ministério Pú blico e que deverá ser ponderado pela
Administraçã o ao ver-se diante de situaçõ es emergenciais como a que
tratamos na presente açã o.

Constatado o risco, nã o cabe ao Administrador


cogitar alternativa outra que nã o o seu imediato afastamento porque a
vida é bem maior e que cabe a todos e principalmente ao Estado-
Administrador proteger.

Ademais, segundo Hely Lopes Meirelles o


nosso sistema jurídico permite à Municipalidade promover a atuaçã o
pela via administrativa: “A fiscalização das construções, principalmente
das obras em execução, é o meio mais eficiente de o Município exercer o
policiamento administrativo das edificações. Verificando irregularidade
nas construções em andamento, a Prefeitura, por seus órgãos e agentes
competentes, deverá notificar o responsável para a sua correção em
prazo viável, e, se desatendida, poderá embargar a obra, mediante a
lavratura do respectivo ‘auto de embargo’, fazendo paralisar os
trabalhos, inclusive com requisição de força policial para o cumprimento
da determinação municipal. Tratando-se de construções concluídas, e
até mesmo habitadas ou com qualquer outro uso, a fiscalização
notificará os ocupantes da irregularidade a ser corrigida e, se
necessário, interditará a sua utilização, mediante o competente
‘auto de interdição’, promovendo a desocupação compulsória se
houver insegurança manifesta, com risco de vida ou saúde para

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seus moradores ou trabalhadores.” (Hely Lopes Meirelles, Direito
Municipal Brasileiro, Ed. Malheiros, 1994, pá g. 356/357, grifo nosso).

Ademais, nunca é dispensá vel que se lembre


que as ocupaçõ es inseridas em á reas de risco – mais, ainda, quando
localizadas em á reas pú blicas municipais – sã o o resultado de uma
deficiente fiscalizaçã o do uso e da ocupaçã o do solo, dever imposto à
Municipalidade.

O controle do uso, do parcelamento e da


ocupaçã o do solo urbano constitui encargo, por excelência, do
Município, conforme previsã o na Constituiçã o Federal, em seu art. 30,
inc. VIII.

Assim, no exercício desse controle urbanístico,


a Municipalidade pode:

1) Aplicar multas a quem efetuar


parcelamento do solo sem prévia aprovaçã o municipal ou em
desacordo com o respectivo plano;

2) Embargar a obra e intimar o infrator


e/ou proprietá rio a regularizá -la;

3) Solicitar auxílio da Polícia Civil ou Militar,


para garantia de atos administrativos;

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4) Fiscalizar trabalhos que alterem o estado
físico de imó veis (inclusive movimentos de terra) e, constatando
infraçõ es à legislaçã o, intimar o infrator a corrigi-las, adotando os
procedimentos fiscais apropriados para impedir que elas prossigam,
dispondo, para isso, do embargo, da interdiçã o, da multa e da força
policial.

Percebe-se, desta feita, que:

A) É dever do Município garantir a


regularidade no uso, no parcelamento e na ocupaçã o do solo, para
assegurar o respeito aos padrõ es urbanísticos e o bem-estar da
populaçã o;

B) Em matéria urbanística e,
particularmente, quanto a habitaçõ es, a Municipalidade dispõ e de
amplíssimos poderes para controle e fiscalizaçã o, inclusive o de aplicar
direta e imediatamente as sançõ es adequadas, sem necessidade de
mandado judicial, o que lhe permite prevenir comportamentos lesivos
de particulares ou, quando menos, atenuar os seus efeitos. (HELY
LOPES MEIRELLES – Direito Administrativo, Ed. Malheiros, pá gs. 123,
129, 144-145).

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O Ministério Pú blico traz, ainda, outros
fundamentos da ilegalidade no caso em testilha, e do dever de evitá -la
(ou de contê-la ou repará -la):

I) Có digo Civil: responsabilidade subjetiva


estatal pela reparaçã o dos prejuízos, com a noçã o de culpa adaptada ao
Direito Pú blico (culpa anô nima), decorrente, no caso concreto, da
negligência do MUNICÍPIO no controle e fiscalizaçã o do uso da
propriedade, parcelamento e ocupaçã o do solo;

II) Art. 37, § 6º, da Constituiçã o Federal –


responsabilidade objetiva estatal – pois tanto o comportamento
omissivo como o comissivo dos seus agentes causa danos a terceiros,
ficando, portanto, os entes políticos obrigados a repará -los,
independentemente de culpa;

III) Art. 30, inc. VIII, da Constituiçã o Federal


– obrigaçã o do Município de promover o adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento
e da ocupaçã o do solo urbano;

IV) Art. 23, incs. II, V, VI e IX, da Constituiçã o


Federal – obrigaçã o do Município de proteger o meio ambiente e
combater a poluiçã o em qualquer de suas formas, preservar a fauna e
flora e a melhoria das condiçõ es habitacionais e de saneamento bá sico;

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V) Art. 225, § 1º, da Constituiçã o Federal –
dever do Município de preservar, proteger e recuperar o meio
ambiente degradado, incluído, por ó bvio, o meio ambiente urbano.

No caso concreto, a responsabilidade do


Município pela ocupaçã o ilegal do solo iguala-se à de seus agentes. Seja
daquele que nã o interditou efetivamente os imó veis, promovendo a
necessá ria remoçã o de seus moradores, seja daquele outro que nã o
disponibilizou recursos suficientes ao cumprimento de seu dever de
eliminaçã o do risco.

Conforme já salientado, o Município, se


fiscalizou a ocupaçã o e a edificaçã o, assim o fez apenas formalmente.
Deste modo, exercita seu poder de polícia sem a menor preocupaçã o
com resultados, consistentes em afastar a hipó tese de constituiçã o de
novo nú cleo habitacional, agravada pela localizaçã o deste em á rea
sujeita a risco.

Se é que agiu, limitou-se, como já dito, a


ineficientes posturas de gabinete, meros cumprimentos de ordens
burocrá ticas, em que nada resultaram de ú til ao impedimento (ou à
repressã o) à ocupaçã o de á reas de risco, à degradaçã o ambiental e dos
padrõ es urbanísticos e sanitá rios. Prova maior e incontestá vel disto é
sua pró pria existência mesmo anos apó s o conhecimento oficial de sua

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instalaçã o e quase um ano apó s ter ocorrido uma tragédia no local, a
qual foi amplamente divulgada nos canais de imprensa.

Há que recordar o ó bvio: a responsabilidade do


Município, por si só , confunde-se com a de seus agentes, o que
dispensa maiores comentá rios.

No dizer do mestre HELY LOPES MEIRELLES,


citado por MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (Direito
Administrativo, 11ª Ediçã o, Editora Atlas, p. 83) a eficiência é dever
imposto à Administraçã o Pú blica, podendo ser tal princípio definido
como “o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições
com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno
princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser
desempenhada com legalidade, exigindo resultados positivos para o
serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da
comunidade e de seus membros”.

Certamente, a persistência do risco, mesmo


com o conhecimento oficial pelo Município demonstra o quã o
ineficiente vem sendo a atuaçã o deste no caso em concreto.

Assim, a responsabilidade do Município de


Itapecerica da Serra está patente, paralela à do espó lio, o qual nã o
cuidou da sua pró pria propriedade, ajuizando a açã o cabível para
retirar as pessoas que invadiram a sua propriedade.

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Igualmente e seguindo esta esteira, a
jurisprudência moderna dominante:

  “AGRAVO DE INSTRUMENTO n.º


246.888.5-4 – SÃO PAULO – EMENTA:
Agravo de Instrumento – Ação Civil Pública –
Desocupação compulsória em áreas de risco
de favela, com a conseqüente remoção das
famílias para local adequado –
Admissibilidade – Risco iminente de
deslizamentos – Vistorias que comprovam o
‘periculum in mora’ – Situação, ademais, de
conhecimento da Administração Municipal –
Responsabilidade desta pela eliminação dos
riscos – Decisão agravada que indeferiu
liminar requerida pelo Ministério Público –
Provimento parcial do recurso, para o
deferimento da medida, no concernente aos
imóveis ou ‘sub-moradias’ que se encontram
em áreas já identificadas e consideradas de
risco máximo com a obrigação de remoção
das famílias para abrigo provisório”.

“No caso, a ação civil pública foi


ajuizada objetivando determinar à Prefeitura

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Municipal e ( ...) que promova o afastamento
do risco de desabamento, deslizamento ou
inundação, detectados nos laudos, mediante a
remoção dos moradores das áreas
consideradas de risco, em sendo necessário, e
alojando as famílias em local adequado, e a
manutenção da efetiva desocupação das áreas
que não podem mais ser ocupadas. Como se
depreende, o que se visa é a defesa dos padrões
urbanísticos ambientais.” (Agravo de
Instrumento n.º 213.091.5/0-00 – TJSP).

3 – DA MEDIDA LIMINAR:

Além do poder geral de cautela que a lei


processual lhe confere, o Có digo de Defesa do Consumidor,
dispensando pedido do autor e excepcionando, desta forma, o princípio
dispositivo, autoriza o Magistrado a antecipar o provimento final,
liminarmente, e a determinar, de imediato, medidas satisfativas ou que
assegurem o resultado prá tico da obrigaçã o a ser cumprida (art. 84, do
CDC).

Esta regra é aplicá vel a qualquer açã o civil


pú blica que tenha por objeto a defesa de interesse difuso, coletivo ou

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individual homogêneo (art. 21 da Lei de Açã o Civil Pú blica, com a
redaçã o dada pelo art. 117, do Có digo de Defesa do Consumidor). E o
Có digo de Processo Civil também alberga a tutela antecipató ria do
provimento principal.

No presente caso, é imperiosa a concessã o da


medida liminar com esse conteú do tutelar preventivo, já que estã o
perfeitamente caracterizados os seus pressupostos, consistentes no
“fumus boni júris” e no “periculum in mora”.

A plausibilidade do direito é manifesta, tendo


em vista o dever do Município e do proprietá rio do local (espó lio) de
afastarem o risco, assim como o fato de tal situaçã o ter se constituído
em decorrência de gritante falha nas fiscalizaçõ es municipal e
particular. Ademais, a comunidade de moradores, que tem o direito
indisponível à existência e segurança de sua integridade física, está
correndo sérios riscos com o advento das chuvas torrenciais e
perió dicas que atingem a cidade, aliá s, ano passado o desastre ocorreu
no mês de dezembro (estamos há quase vinte dias do mês de
dezembro).

Nã o é razoá vel permitir-se que os habitantes


do bem pú blico e particular de terceiro aguardem pela soluçã o
somente com o provimento jurisdicional definitivo, e continuem na
iminência de terem suas vidas ceifadas com a possível ocorrência de
eventual deslizamento ou desabamento.

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4 – DOS PEDIDOS:

O Ministério Pú blico, com fundamento no


acima exposto, formula os seguintes pedidos:

1) Citaçã o dos réus, para responderem ao


presente processo no prazo legal, sob pena de revelia;

2) Concessã o da medida liminar


determinado aos réus que, promovam o afastamento do risco - e em
sendo necessá ria a remoçã o dos moradores expostos aos perigos
derivados, se proceda ao alojamento das famílias em local adequado, -
no prazo de 10 (dez) dias. Isto tudo, sob pena de multa diá ria, que se
sugere seja de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), sem prejuízo da
responsabilizaçã o do agente ou servidor desidioso pelo crime de
desobediência e de periclitaçã o à vida;

3) Sentença condenató ria, julgando-se


procedente a presente açã o para condenar os réus em tornar definitivo
o pedido liminar e, na obrigaçã o de fazer, consistindo no afastamento
do risco, devendo ser tomadas as medidas necessá rias à integral
eliminaçã o do risco no local e recuperaçã o ambiental da á rea, dentro
do prazo de 120 (cento e vinte) dias, sob pena de crime de

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desobediência e multa diá ria cominató ria de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais);

As multas porventura incidentes deverã o ser


atualizadas monetariamente pelos índices oficiais e recolhidas ao
Fundo Estadual de Reparaçã o de Interesses Difusos Lesados (Decreto
Estadual n. 27.070.87; art. 13 da Lei n. 7.347/85), na conta corrente nº
1300074-5, da Agência 0935-1 da Nossa Caixa Nosso Banco (atual
Banco do Brasil), haja vista a natureza da lide e o que dispõ e referida
legislaçã o que trata da tutela metaindividual.

4) Para demonstrar o alegado seja


considerada a documentaçã o anexa à presente açã o como parte
integrante do processo (Inquérito Civil nº 45/10), protestando por
todos os meios de prova em direito admitidos, como depoimento
pessoal, oitiva de testemunhas, perícias técnicas, inspeçõ es, juntadas
de outros documentos e outras permitidas pela lei;

5) Também, desde logo, a dispensa do


pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, à vista do que
dispõ e o artigo 18 da Lei n.º 7.347/85 e o artigo 87, do Có digo de
Defesa do Consumidor, assim como a realizaçã o de suas intimaçõ es e
termos processuais na forma do artigo 236, § 2o , do Có digo de
Processo Civil;

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6) A realizaçã o das intimaçõ es do Ministério
Pú blico, na figura do Promotor de Justiça do Meio Ambiente e
Habitaçã o e Urbanismo, dos atos e termos processuais na forma do art.
236, § 2º, do Có digo de Processo Civil.

Dá -se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem


mil reais), embora inestimá vel por se tratarem de valores humanos,
urbanísticos e ambientais.

Itapecerica da Serra, 08 de novembro de 2.010.

GUSTAVO ALBANO DIAS DA SILVA


1º Promotor de Justiça

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