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Motor de elásticos

Prof. Luiz Ferraz Netto


leobarretos@uol.com.br

Introdução
Uma roda com raios de elástico gira quando está próxima de uma lâmpada incandescente.

No âmbito do ensino de ciências exatas a curiosidade deve ser despertada. É ela uma enorme motivação
para que os princípios de física, química e biologia sejam absorvidos. Sob essa proposta, temos sempre
procurado desenvolver projetos que estimulem a imaginação, fazendo da ciência uma aventura na qual os
resultados excedam às expectativas, e não um mero aprendizado obrigatório. Esse motor elástico que
apresentamos é mais que uma sugestão --- é um desafio!

Material
Par de bastidores para costura, puxador de gaveta, 32 ganchos pequenos, 16 elásticos de escritório,
arame de 6 cm de comprimento, tira de latão ou alumínio de 40cm (comprimento) por 1cm (largura) por
1,5mm (espessura), toco de madeira, soquete, lâmpada 110V/100W, cordão de força, broca de 3mm,
parafusos e chave de fenda.

Montagem
Os bastidores para bordados, muito conhecidos das costureiras, são dois aros de madeira dos quais um,
encaixa direitinho dentro do outro, formando um aro único. As bordadeiras colocam o tecido esticado entre
eles, formando algo parecido com um estreito tamborim. Eles são facilmente encontrados em lojas de
armarinho. Obtenha um par que tenha diâmetro externo aproximadamente 32 cm, figura 3a.

O puxador de gavetas (armários,


guarda-roupas etc), pode ser de borracha ou de madeira (esférico), com diâmetro de uns 3,5 cm. Em lojas
especializadas em marcenaria esses puxadores podem ser encontrados com facilidade (figura 3b).

Os ganchos devem ser bem pequenos (figura 3c). O suporte de latão (que servirá de mancal para nosso
motor) pode ser confeccionado com uma lâmina de 1,5 mm de espessura, 1cm de largura e 40 cm de
comprimento, dobrada e furada com broca de 3mm (figura 3d).

Um toco de madeira de (12x10x5)cm, bem lixado e envernizado servirá de base para o motor (figura 3e).

O soquete da lâmpada pode ser fixado diretamente na haste suporte (que também serve de mancal), mas
cuide para que as partes metálicas do soquete não toquem a haste(figura 3j). Reserve uma lâmpada
incandescente de 110V/100W, bulbo transparente (figura 3f).
Inicie a montagem dividindo,
geometricamente, o par de bastidores em 16 partes iguais (faça um furinho de 1mm em cada marca de
divisão, bem no meio da largura dos bastidores). Rosqueie um gancho em cada um desses furinhos. O
conjunto ficará como se ilustra na figura 3g.

Fure o puxador de borracha ou madeira pelo seu centro, de lado a lado (acompanhe o furo original de
fábrica). Preencha esse centro do tarugo de madeira (se ficar muito largo) e espete o eixo de arame de
diâmetro 2mm e comprimento 6 cm. À volta dessa esfera, dividida em 16 partes, faça furinhos de 1mm e
atarraxe os ganchos, como se ilustra na figura 3h.

Prenda os elásticos nos ganchos do par de bastidores e da esfera central, em perfeita correspondência,
conforme mostra a figura 3i.

A lâmina, já dobrada em forma de U, deverá ter 5 furos de 3mm: 2 para passar o eixo da roda, 2 para
aparafusar na base de madeira e 1 para fixar o soquete da lâmpada, conforme figura 3j.

Finalmente, coloque a roda em seus mancais, rosqueie a lâmpada (atente para que a lâmpada fique a 1 ou
1,5 cm dos elásticos). Observe atentamente se a roda está bem equilibrada sem mostrar tendência de
parar sempre no mesmo lugar. Se isso ocorrer aperte os elásticos do lado oposto passando uma volta
sobre os ganchos.

Ligue o plugue do cordão de força na tomada da rede elétrica domiciliar (110V)


e aprecie sua roda girar lentamente.

Como funciona?
O 'segredo' (um conotativo impróprio quando se trata de ciência) está numa propriedade química da
borracha (um elastômero de cadeia longa) que constitui os raios da roda de nosso motor e nas forças que
agem na roda (forças de origem elástica, seu peso e reação de apoio).

Quando se estica uma tira de borracha, rapidamente, ela esquenta. O trabalho das forças foi utilizado,
parte na deformação da borracha e parte na variação de sua energia interna. A borracha é substância
macromolecular, amorfa quando não tensionada, com grande número de ligações entre as moléculas. A
entropia da substância decresce quando ela é esticada (como mostra a termodinâmica), e por isso sua
elasticidade é de natureza cinética. Esse arranjo peculiar, a nível de molécula, dá à borracha um
comportamento anômalo --- ela encolhe quando aquecida, aumentando com isso a sua constante elástica.

Isso significa na prática que, para sustentar um determinado peso, ela se deforma (estica) menos quando
aquecida que quando fria. Ilustramos na figura [1] uma experiência básica, para elucidar tudo isso.

Prenda uma das extremidades de um elástico em um suporte e, na outra


extremidade um porta-pesos com massa total de 300 g.

Anote a deformação do elástico na régua que defronta o ponteiro. A seguir, aproxime do elástico o bulbo de
uma lâmpada incandescente (de 100 ou 150 W), acesa ou o jato quente de um secador de cabelo.

Repare que o ponteiro que indica a deformação sobe, deixando patente que, para equilibrar um peso
quando quente, a deformação da tira de borracha é menor --- a constante elástica da borracha aumenta
com o aquecimento.

Se as duas extremidades da tira de borracha estiverem presas, impedindo-a de encolher, as forças de


tração nos apoios aumentam, durante o aquecimento da tira. Isso é que permite explicar a rotação da roda.

Vejamos: com todos os elásticos à mesma temperatura (a ambiente), as forças no aro da roda são radiais,
centrípetas e todas de mesma intensidade. Essa distribuição de forças no aro tem resultante nula e
momento resultante nulo, em relação ao eixo.

Desse modo, com a roda bem balanceada, o centro de gravidade da


roda (CG), ponto de aplicação de seu peso, coincide com o centro de suspensão; o momento do peso em
relação ao eixo é nulo e a roda não pode girar, conforme mostra a figura [2](a).

Como a lâmpada aquece apenas um, dois ou três "raios" mais intensamente, a tendência deles é encolher.
Como estão presos pelas extremidades, as forças de tração no aro aumentam.
Isso faz com que esse arco do aro se aproxime mais do centro, o que traz, como conseqüência, um
deslocamento do centro de gravidade da roda para o lado oposto, em relação ao eixo. Nessa nova
situação, indicada na figura [2](b), o momento do peso da roda (torque) em relação ao eixo deixa de ser
nulo (agora há braço de alavanca), a roda gira tendendo a levar o centro de gravidade abaixo do centro de
suspensão.

Assim, com essa pequena rotação, novos elásticos defrontarão a lâmpada, enquanto os anteriores esfriam
... e tudo reinicia.

Como a roda tem poucos raios (só 16 elásticos, nesse modelo didático), podem ocorrer momentos em que
o movimento cessa, para logo em seguida reiniciar.

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