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Armando Luís Lino Lopes

armandolllopes@gmail.com

Para :
Directora Regional da DREN - Dr.ª Margarida Moreira - dren@dren.min-edu.pt

Com conhecimento:
- Dr.ª Fátima Pais – DREN - dren@dren.min-edu.pt
- Ex.ª. Sr.ª Ministra da Educação - Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues gme@me.gov.pt

Assunto: Formação Magalhães

No passado dia 15 de Setembro de 2008, pelas 10:36 horas foi enviado um e-mail para a minha escola
cujo assunto era “Formação Magalhães”. Através do mesmo eram convocados os Coordenadores TIC para uma
sessão de trabalho a decorrer no Porto, nos dias 16 e 17 de Setembro, com início às 09:30 horas.
Obviamente que fiquei incrédulo, mas não surpreendido com tal situação. Durante a tarde liguei para a DREN e
falei com a Dr.ª Fátima Pais que me explicou algumas das razões de tão apertado prazo. Questionei a
obrigatoriedade de assistir a tal formação sendo informado que se tratava de uma convocatória e não de um
convite, pelo que, era mesmo obrigado a ir. Tive a oportunidade de exprimir à Dr.ª Fátima Pais a minha
indignação e que a iria expor por escrito, o que faço a partir deste momento.
Em primeiro lugar considero um grave erro de gestão e um sinal evidente de má planificação a realização
desta formação, exactamente na primeira semana de aulas.
O Ministério da Educação tem consciência que quando são enviados computadores para as escolas com
novos sistemas operativos, novos programas, novas aplicações, é necessário realizar formação a professores,
funcionários e alunos. Esta tarefa cabe ultimamente aos Coordenadores TIC. Permitir aos alunos do 1.º ciclo
aceder a um produto desta magnitude é louvável, no entanto foi esquecido que teria que ser dada formação aos
Professores destes alunos e também aos Pais e Encarregados de Educação, no sentido de salvaguardar a segurança
das crianças. Pensar na formação de quem teria, e terá que assumir estas responsabilidades, deveria ter sido uma
das primeiras preocupações. Não foi. É certo que o Magalhães só foi apresentado ao País no final de Julho, ainda
assim, não há razões para que esta formação se viesse apenas a realizar a uma semana de começarem a ser
distribuídos os computadores nas escolas. Como se pôde ver em larga escala na comunicação social, o Magalhães
começou de facto a ser distribuído no dia 23 de Setembro. Como se podem interpretar então as palavras dos
responsáveis da Microsoft e da JP Sá Couto, que afirmaram, perante nós, no dia 16 de Setembro, que aquela
versão do Magalhães ainda não era definitiva? Assim, e partindo do princípio que no prazo de uma semana foi
possível preparar a versão final, estivemos a trabalhar com computadores que neste momento já se encontram
desactualizados.
Convém neste ponto acrescentar ainda, aquilo que se veio a saber apenas na sessão de encerramento da
formação: os Coordenadores TIC vão ter acesso a um “Magalhães”. Esta foi uma das perguntas que desde o início
da formação foi colocada por vários Coordenadores TIC a vários elementos do Ministério da Educação, da Intel,
da JP Sá Couto. A resposta teria obviamente que ser positiva. Por mais boa vontade que os Coordenadores TIC
possuam, como se poderiam preparar, para de uma forma séria e eficiente, formar e esclarecer Professores e Pais e
Encarregados de Educação? O contacto com o computador durante algumas horas nestes dois dias não é de
forma nenhuma suficiente para conhecer as potencialidades e limitações do equipamento.
Ainda relativamente à formação propriamente dita não posso deixar de referir a desadequada e
inexplicável actividade que decorreu na manhã do dia 17 de Setembro. Em grupos, os Coordenadores TIC
escreveram canções ao Magalhães, criaram músicas originais, adaptaram músicas tradicionais ou populares e
representaram em palco, alguns puderam dar a conhecer os seus dotes vocais, outros, deram a conhecer a razão de
não serem cantores. Esta actividade é daquelas coisas que caso eu não estivesse presente, jamais acreditaria.
Mesmo que os destinatários fossem os Professores do 1.º ciclo, que tantas vezes encantam os alunos através de
canções, que assim aprendem de uma forma mais fácil e divertida, a actividade era desadequada. Sendo para
Coordenadores TIC, que estavam ali para conhecer o computador e com a missão de o dar a conhecer aos outros,
a actividade deixa de ser desadequada para ser absurda. Não estou a colocar aqui em causa, de maneira nenhuma, a
qualidade, simpatia e extremo interesse de algumas das intervenções das Professoras/Formadoras. O que é certo é
que elas não sabiam que não seríamos nós, pelo menos a maior parte de nós, que iríamos trabalhar nas salas de
aula com os alunos do 1.º ciclo. Aliás, o próprio intérprete ficou admirado quando nessa manhã lhe tentámos
explicar a situação. Chegou mesmo a perguntar:
- Então vocês são todos Professores?
A justificação dada no final da formação pelos responsáveis do Ministério da Educação foi que se tratou de uma
actividade de socialização. Não me parece que os Professores sejam uma classe que precise de actividades desta
natureza para se socializarem, além do mais, as actividades de socialização devem decorrer no início da formação e
não no final.
Em segundo lugar, convocar os Professores com menos de 24 horas de antecedência e em pleno tempo
de aulas é uma falta de respeito para com o trabalho dos mesmos. Pelo menos para mim, foi. O Ministério da
Educação sabe que os Coordenadores TIC também têm turmas, não são meros técnicos informáticos que se
encontram na escola disponíveis para resolver os problemas que vão surgindo. Neste aspecto apenas posso relatar
o meu caso. Além de Coordenador TIC dou aulas a três turmas do ensino profissional, duas de 10.ºano e uma de
12.º ano. Como bom profissional que sou, planeio as minhas aulas com uma considerável antecedência. Esta
convocatória veio alterar a calendarização/planificação da minha turma de 12.º ano. Além disto, foi necessário,
procurar a toda a pressa um Professor do Conselho de Turma que estivesse disponível para me substituir. Não
poderia deixar o plano de aula com nenhum dos Professores do meu Grupo Disciplinar, pois nenhum estava
disponível, e eram estes os únicos que possuíam competências científicas para o cumprir. Assim, o único
Professor disponível do Conselho de Turma, não me deu a certeza de chegar a tempo à aula e garantir assim que
os alunos não ficavam sem aulas. Também ele tinha sido convocado para uma reunião de Encarregados de
Educação e não podia, nem queria faltar.
Não me posso alongar mais, estou neste momento a reformular o Plano TIC do meu Agrupamento de
Escolas no sentido de incorporar no mesmo acções de formação para os Professores e Sessões de Esclarecimento
para Pais e Encarregados de Educação. Apesar de ainda não saber muito bem quando é que terei condições para
as concretizar, com certeza que o farei. Como disse, e muito bem a Dr.ª Fátima Pais, apesar dos condicionalismos,
do imenso trabalho e da cada vez maior exigência que se lhes exige, os Professores são excelentes profissionais e
nunca deixam o seu trabalho por fazer.
Gostava que o Ministério da Educação olhasse para este testemunho não apenas como uma reclamação
mas também como uma crítica construtiva e que possa ajudar a planear melhor algumas acções futuras. É um
desabafo de um Professor que o é, não por obrigação, nem por falta de oportunidades. Sou Professor por gosto, e
estar na escola a trabalhar com os meus alunos é aquilo que mais gosto de fazer. Quando sou obrigado a largar de
repente o meu trabalho, para participar numa formação onde considero que, e estou a pesar bem as palavras que
escrevo, nada aprendi, fico extremamente aborrecido e indignado. Até à data considerava que os dias mais inúteis
da minha vida tinham sido aqueles que passei na inspecção militar. Estes 2 dias de formação “Magalhães” ocupam
agora tão distinto lugar.

Armando Luís Lino Lopes


Coordenador TIC
Agrupamento de Escolas Território Educativo de Coura
Paredes de Coura

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