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Não sou e nunca foi um fã ardoroso das teorias.Sou um homem da
palavra e entendo que a poesia, em que pese também uma certa aversão de minha parte por
definições de todo tipo,é a arte da palavra
O professor, o ensaísta e o poeta estão aqui a falar sobre e não de
dentro do objeto em questão.Este esforço racional encontra sua validade se o situarmos na
esfera de uma interpretação criativa.
Os estudos de estética de recepção indubitavelmente representam
um considerável avanço para a contextualização da legitimidade e repercussão das
mesmas.Apontam para uma contextualização da obra e,definitivamente,contribuem para a
compreensão do porquê da aceitação e repercussão desta ou daquela obra em questão.
O problema reside no fato de que corre-se o risco de abandonar
nesta referida análise o que é propriamente literário em detrimento de estruturas modelares
aprioristicamente estabelecidas,a despeito de toda flexibilidade possível.O que é
especificamente,o objeto próprio em questão,o literário parece ficar muitas vezes em
segundo plano.
Deparei-me com tal poema muito por acaso quando estava a folhear uma
antologia de poetas brasileiros.O vagar silencioso por aqueles versos e inebriado estava
pela justeza e concisão de duas estrofes que me remetiam á estranheza tão familiar na
percepção do belo.Poeta admirado por ninguém menos do que Carlos Drummond de
Andrade,na minha opinião,tão perfeito quanto o mesmo.
O estudioso agora desacelera o passo e mergulha na obra durante anos
procurando traçar possíveis configurações.Nenhum destes dois discursos comporta a força
e a visceralidade da poesia.Não há , na manisfestação poética, a intermediação
racionalizante do sujeiro que percebe o objeto..A aparência na aparência é aqui ritualizada
no plano trágico.Uma mentira grandiosamente verdadeira.,a própria coisa que nos arrebata
de forma singular e tão somente.O ver aqui é nebuloso, há como que uma profusão de
formas e contornos literalmente imprecisos.As conexões nervosas confluídas no olho
chacoalhado em todo e qualquer topos.Um falar de dentro da coisa como o fêz Heidegger
em filosofia.
O interpretar ,quer queiramos ou não, pressupõe algo oculto.Vejo muitas leituras
interessantes que buscam traçar no texto aquilo que emerge ficcionalmente como tal e vai
de encontro a essência mesma da produção artística que é sempre ficcional.Ao invés do
oculto que pressuporia algo a ser revelado,o emergir de uma nova ficção.Todavia,mesmo
esta tentativa de resgate em nível de inscrição primitiva não nos afeta tão radicalmente
quanto á leitura envolvente de um poema.As palavras estão ressentidas,elas já foram
sempre suficientemente feridas antes de encontrar a sua vacuidade.nos textos que remetem
a um saber..
Ser chacoalhado ao invés de perceber,eis então uma diferença fundamental entre os
gêneros.Roçamos este nada através da fala poética,este nada, esta morte talvez....