As palavras na poesia remetem sempre ao impossível.Este fazer nos diz de uma transposição.Palavras que se ressentem e que correm de um lado a outro e nada sabem sobre si mesmas.Elas se constituem através mesmo de sua falibilidade.O sentido e o não sentido dão vigor ao caos que se instaura quando algo é enunciado.O caos repleto de insinuações e de movimentos sutis que nos convidam ao mistério da criação. A arte nos remete à idéia de resgate, invariavelmente orientada para o que não é. Não sabemos como falar sobre aquilo de que não temos idéia.Este vazio nos corrói e simultaneamente nos mantém vivos.Respiramos o que não somos quando não mais reconhecemos nossos reflexos no espelho.Este sempre avassalador estado mental nos convida a criar.A impossibilidade introspectiva devassa nossa inconsciência febril.Lá, nas derradeiras conexões nervosas, algo se abre e se manifesta. O que é analisável é meramente discursivo.O que é discursivo acha-se enredado nas parcas conexões das quais somos a mais lamentável das vítimas.O pronome relativo que emerge agora como o maior obstáculo à libertação das neuroses.O pronome relativo que, o legítimo representante de nossa sempre monstruosa repetição compulsiva. Há muito não se pensa com a grandeza de um Heráclito.Passamos apenas de um estado a outro na mornidão de ações previsíveis.Há muitos filósofos atualmente e poucos pensadores. Na língua inglesa não existe correlação direta entre letra e pronúncia. Uma mesma letra pode ser ou não pronunciada.As vogais ainda iludem inúmeros profissionais experientes na área.Os sons das mesmas são diferentes dependendo da palavra a ser pronunciada. O a em laddle não é o mesmo em valve.Somos todos iludidos numa conversa relaxada quando esquecemos de ser o que somos. O esquecimento é uma dádiva que nos foi dada desde dos tempos imemoriais. A criação do mundo sempre foi o que foi.Uma falha naturalmente imperdoável do cosmos, este terrível mal-estar que nos gerou. A poesia não é jamais confiável.Nada neste território é fixo.Após anos de esforços, chega-se à conclusão de que fomos ludibriados por aquele mínimo efeito no verso que não era percebido à época como totalmente inviável.Uma imagem partida que avassaladoramente se interpôs entre o eu e o real.Uma música fatídica que faz com que nos recordemos destes aspectos abjetos de nossa consciência empreendedora.Os erros sorvidos sempre lentamente num dia frio. As imagens remetem ao engano.Nada são além do que não prometem. A metáfora não pode ser entendida apenas como uma comparação.Nem mesmo as metáforas diretas utilizadas nos haikais. A força inerente às imagens está precisamente naquilo que elas ocultam.A explosão das mesmas em seu sobrevir, isto é definitivamente relevante.A mera leitura comparativa remete à idéia de interação discursiva.Somos relacionais por excelência e aí reside aquilo que mina nossa verve trágica e nos impede de penetrar no indizível do verbo. Perceber claramente este engano e abrir o espírito ao incomensurável fluxo de novos olhares projetados no além.Indiferentes a tudo e a todos, assim afetam nossas almas engendrando a força da physis. O termo em questão nos lança a uma vivência radical da verdade do ser no todo manifesto. Physis diz de um brotar, de um vigor que impera perpetuado através do pensamento.Algo brilha e se desvela me permitindo então nomear.Ao nomear já não sei mais nada sobre aquilo que está ali.A possibilidade de um estar no mundo agora vacila no escuro. O fazer poético nos lança de encontro ao que chamaria de inexorável distância entre as palavras e as coisas.O que é passível de designação jamais encontra o seu par neste terreno movediço por excelência. Só nos resta suportar a idéia de estarmos frente a frente com a paisagem desolada percebida como tal.Mesmo o nada nos é familiar.É mister que o homem perceba o nada ou se deixe devassar pelo mesmo.Este necessita ainda de nosso olhar indiferenciado.Morrer significa o penetrar na constância de uma ausência sempre referente a quem.O pronome interrogativo nos empurra para onde jamais talvez possamos estar. Eis agora o que temos em nossas mãos vazias.
Das ausências nas palavras-
O sempre de um esquecimento. Algumas palavras estão fadadas a carregar o peso inexorável dos séculos. O esquecimento é naturalmente o maior inimigo da mente que as oculta. Passados tantos mil anos, alguém em algum lugar há de pronunciar aquele monstro adormecido no interior de todo e qualquer signo. Ela, a tal palavra emergirá para amaldiçoar a náusea de seu tempo. Para que esqueçamos do que quer que seja precisamos literalmente silenciar. Escutar o que não dizem os sentidos no interior do vazio mais profundo. É na ausência que o espírito se liberta e cria. E na criação que o nada pode se manifestar na sua plenitude originária. A palavra originária diz de algo que se procura no fundo das coisas sem fundo. Para além da metafísica temos algo que aponta para um despojamento intrínseco. Este despojamento segue na direção de um cultivar uma campo aberto de infinitas possibilidades. Este movimento se dá no acontecimento mesmo que se desvela roçando a alma à deriva antes de meu nascimento e depois de minha morte. A compulsão primitiva de um querer-dizer simplesmente é. Uma constatação avassaladora que se afasta da premência de um balbúcio.