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A FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO DO DANO MORAL

(Artigo elaborado em fevereiro/2004 e revisado em outubro/2006)

Euler Paulo de Moura Jansen*

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO 1 CONCEITOS


INTRODUTÓRIOS. 1.1 Dano moral. 1.2 Dano moral
indireto. 1.3 Desnecessidade de demonstração. 1.4
Efetividade ou pequeno melindre – a indústria do dano
moral. 1.5 Indenização: o pretium dolores – efeito
compensatório. 1.6 O esquecido efeito preventivo. 1.7 O
efeito punitivo da indenização. a) Teoria do desestímulo.
b) Críticas e suas avaliação. 2 FIXAÇÃO DO VALOR
DA INDENIZAÇÃO. 2.1 Estágios de fixação e sistemas
de aferição. 2.2 Modelos aplicados no Brasil. 2.3 Projeto
de Lei 7.224/2002: um horizonte. 2.4 Elementos para
análise. a) Intensidade do dano. b) Repercussão da ofensa.
c) Grau de culpa (latu sensu) do ofensor. d) Posição sócio-
econômica do ofendido. e) Retratação ou tentativa do
ofensor para minimizar o dano. f) Situação econômica do
ofensor. g) Aplicação de pena ou desestímulo. 3 FORMA
DE APRECIAÇÃO NA DECISÃO JUDICIAL. 4
CONCLUSÕES 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INTRODUÇÃO

O tema Dano Moral há muito vem sendo objeto das mais controvertidas discussões. Já
passamos por questionamentos sobre sua existência genérica, sobre sua autonomia em relação
ao dano material, sobre a necessidade de provar-se o dano moral, a legitimação ativa para
requerer a sua indenização e a possibilidade das pessoas jurídicas sofrerem-no, entre outros
questionamentos.
Há, entretanto, um senso comum: a fixação do valor da indenização por dano moral se
constitui num problema no qual devemos nos debruçar, porquanto indubitavelmente
inestimáveis os bens morais objetos da análise.
Os legisladores e julgadores vêm utilizando vários parâmetros de fixação da
indenização por dano moral, sendo certo que os pontos de vista divergem, como não poderia
deixar de ser, dada a contundente subjetividade do instituto. O ponto pacífico é apenas estar
tal valor atrelado ao proporcional e razoável arbítrio dos juízes. Será, entretanto, que há
prudência deixar sem escalas ou, ao menos, elementos positivamente delineados para a sua
quantificação?
Esse é o ponto principal deste breve estudo, mas, para isso, precisamos trazer algumas
noções do instituto do dano moral, seus problemas e os patamares trilhados, e o árduo
caminho que a fixação da indenização trilhou no mundo e no nosso país. Em seguida, além de

* Juiz de Direito em Bayeux/PB, Professor de Direito Processual Penal e Técnica de elaboração de Decisões
Cíveis da ESMA-PB, Professor dos Módulos de Princípios do Processo Penal e Sentença Criminal da FESMIP-
PB, Especialista, lato sensu, em Direito Processual Civil pela PUC-RS e em Gestão Jurisdicional de Meios e de
Fins pela UNIPÊ-PB.
2

averiguar quais poderiam ser os elementos que compõem o dano moral e a forma da sua
análise na sentença cível.
Por fim, faremos uma conclusão crítica do passado, do presente e do futuro da fixação
do quantum compensatório do dano moral.

1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Para mergulhar no tema central deste estudo, a quantificação do dano moral, são
necessárias algumas noções preliminares, que permitirão ligeira intimidade com o instituto do
Dano Moral - tão debatido nestes últimos trinta anos e, desde o advento da Constituição
Federal de 1988, tão colocado em prática nas cortes pátrias. Ousamos até dizer que foi tal
instituto jurídico o que mais acentuadamente se difundiu desde o nascimento dessa Carta
Magna.

1.1 Dano moral

Incontáveis são as noções e definições de dano moral que permeiam a doutrina


jurídica. Há algum tempo, contentavam-se os autores com uma definição genérica, simples
negação do patrimônio físico, econômico ou patrimonial da pessoa. Dentre essas, podemos
citar:
dano moral é aquele que, direta ou indiretamente, a pessoa física ou jurídica, bem assim, a
coletividade, sofre no aspecto não econômico dos seus bens jurídicos1;
O dano moral vem a ser a lesão de interesse não patrimonial de pessoa física ou jurídica2.

Outros, de forma mais corajosa e expositiva, chegam a dizer quais os patrimônios


morais que podem ser objeto do dano moral:
dano moral é todo prejuízo ao patrimônio ideal da pessoa, insuscetível de avaliação
econômica, e seu elemento característico é a dor, física ou moral, propriamente dita, sendo,
pois, exemplos, "as ofensas à honra, ao decoro, à paz interior de cada qual, (...), à
integridade corporal"3;
o dano moral é aquele que afeta a paz interior de uma pessoa, atingindo-lhe o sentimento, o
decoro, o ego, a honra, enfim, tudo o que não tem valor econômico, mas que lhe causa dor e
sofrimento. É, pois, a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo4.

A conceituação que realmente nos satisfez – e pela quantidade de vezes que é citada
em artigos e doutrinas parece tender à unanimidade – é a de CARLOS ALBERTO BITTAR:
Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos de
sua personalidade, em razão de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a
moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimentos, vexames, dores,
enfim, sentimentos e sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados
materiais, que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial do lesado5.

1
LIMONGI FRANÇA, Rubens. Reparação do dano moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 77, v. 631, p.
31, mai. 1988.
2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1993. p.66.
3
SILVA, Wilson Melo da. O Dano Moral e a sua Reparação. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 01-02
4
NUNES, Luiz Antônio Rizzato; CALDEIRA, Mirella D’Angelo. O dano moral e sua interpretação
jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 1
5
BITTAR, Carlos Alberto. Danos morais: critérios para a sua fixação. Boletim IOB no 15/93, repertório de
jurisprudência.
3

Assim, observa-se que o dano moral é aquele que deriva de qualquer sensação
psíquica desagradável experimentada pela pessoa, ainda que derive de dor física.

1.2 Dano moral indireto

O conceito de dano moral indireto é bastante simples: é o dano moral que deriva de
um dano patrimonial. Ou seja, o ato lesivo não atinge diretamente o bem moral do lesado,
atinge bem patrimonial seu e, de forma mediata, algum bem moral é atingido.
Lesão a um interesse tendente à satisfação ou ao gozo de bens jurídicos patrimoniais que
produz menoscabo de um bem extrapatrimonial, ou melhor, provoca prejuízo a qualquer
interesse não patrimonial, devido a ofensa a um bem patrimonial da vítima 6.

1.3 Desnecessidade de demonstração

O dano moral, a rigor, não existe no plano material. Assim, como se constatar a sua
ocorrência? Veja-se que não basta a afirmação da vítima de ter sido violada moralmente,
atingida em bens como honra, imagem, bom nome, tradição, personalidade, entre outros.
Deve ser possível da análise do fato efetivamente ocorrido, ou comprovado, se presuma a
ocorrência de um gravame àqueles bens morais.

1.4 Efetividade ou pequeno melindre – A “indústria” do dano moral

Importante que se tenha em mente que existem pequenas sensações negativas de


natureza moral que não chegam a se constituir dano moral. É necessário que haja alguma
relevância nela. Veja-se, a respeito, a opinião de Clóvis Beviláqua: “Se o interesse moral
justifica a ação para defendê-lo ou restaurá-lo, é claro que tal interesse é indenizável”7.
O dano moral deve ser efetivo e claro, não podendo ser considerado como tal uma
pequena contrariedade à qual estamos todos sujeitos no dia-a-dia das grandes cidades, como
uma pequena colisão de automóveis que não gerou qualquer ferimento ou dor física.
De sorte que o mero incômodo, o enfado e desconforto de algumas circunstâncias que o
homem médio tem de suportar em razão do cotidiano não servem para a concessão de
indenizações, ainda que o ofendido seja alguém em que a suscetibilidade aflore com
facilidade8.

Também, devem ser olhados com acuidade alguns “danos” em que o próprio pseudo-
lesado se coloca na situação de risco, pois, por exemplo, muitas vezes, o pagamento de uma
conta posterior à data de vencimento enseja o recebimento de uma carta de cobrança quando
da adimplência, embora a epístola fora expedida em período no qual ainda havia o débito ou
momentos plausíveis após.
Muito se questiona hoje sobre o que se denomina “Indústria dos Danos Morais”,
quando pequenas desventuras do cotidiano ensejam nos melindrosos detentores daquela
objetividade psíquica “quase-lesada” a esperança de se locupletar, sendo indenizado por

6
DINIZ, Maria Helena. Dano moral indireto. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998.
7
BEVILÁQUA, Clovis. Código Civil, I, p. 256 apud SANTINI, José Raffaelli. A reparação autônoma do dano
moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 86, v. 739, p. 156-67, mai. 1997.
8
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil : responsabilidade civil e a sua interpretação doutrinária e
jurisprudencial. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 1381.
4

danos morais que na realidade não ocorreram. Ainda, integram esse pérfido instituto os que
maliciosamente, em legítimo abuso de direito, se colocam em situação de risco e de criação
ou majoração daquele dano moral.

1.5 Indenização: o “preço” da dor – efeito compensatório

A séria dificuldade, impossibilidade para alguns, da estipulação de um pretium doloris


era o maior entrave para o reconhecimento do dano moral, há algum tempo.
Genericamente, não é equivocado o termo “indenização por dano moral”, mas a
mesma sorte não existe para a “reparação do dano moral”. A palavra “reparação” está mais
vinculada ao pleno retorno do bem atingido ao status quo ante o que não ocorre com o dano
moral.
Note-se que o vocábulo “compensação” do dano moral deixa clara a idéia que o dano
sempre existirá, pois pertence ao passado e esse não pode ser apagado, entretanto permite-se
ao lesado experimentar sensações positivas, como as diversas espécies de conforto, viagens,
livros, atendimento psiquiátrico ou psicológico, ou, até mesmo, algum tempo ausente do
trabalho para fazer uma “higiene mental” sem que o seu patrimônio responda por isso ou
sejam prejudicadas as obrigações assumidas.
Compreenda-se: não é a intenção avaliar a dor ou, pior, pagar um preço pela dor de um
pai que experimentou a tristeza de ver seu filho partir para a eternidade por conta de alguém
que dirigia seu automóvel de forma imprudente. Isso é, sem dúvida, uma idéia repugnante.
Tão somente é o escopo da compensação tentar fazer que aquela pobre alma tenha outras
alegrias, ausentar-se do trabalho para viajar, visitar parentes distantes, adquirir bens de
consumo que proporcionem pequenos prazeres, como ouvir uma música de um cantor querido
com tranqüilidade.
O dinheiro, metal que alguns por despeito chama de vil, permite, em última análise, a
geração de tais contentamentos.
A reparação do dano moral não visa reparar no sentido literal a dor, pois esta não tem
preço. Como ressaltou Giorgi, a dor, a alegria, a vida, a liberdade, a honra, ou a beleza são
de valor inestimáveis. Isso não impede, porém, que seja aquilatado um valor
compensatório, que amenize aquele dano moral a que São João apóstolo chamava de ‘danos
da alma’9.

Atentando que o objeto dessas breves reflexões é a prolação de sentença que observe
as informações ora transferidas, salientamos que o pagamento deve ser feito de uma única
vez, e não em prestações, e em moeda corrente, não indexada pelo salário mínimo ou outro
índice. Ainda, a correção monetária e os juros de mora devem incidir apenas a partir do
momento da prolação do decisum que os fixou, pois se entende que o magistrado levou em
consideração elementos atuais. Assim, não há contrariedade com a Súmula 43 do Superior
Tribunal de Justiça, que determina como termo inicial dos consectários da condenação a data
do evento, para os casos de dívidas decorrentes de ato ilícito.
A satisfação de um dano moral deve ser paga de uma só vez, de imediato10.
DANO MORAL. Fixação de indenização com vinculação a salário mínimo. Vedação

9
SANTINI, José Raffaelli. A reparação autônoma do dano moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 86, v.
739, p. 156-67, mai. 1997. p.
10
STJ - REsp 58519 / DF – 1ª. T. – Rel. Min. César Asfor Rocha - J. 20/03/1995 – Pub. na RSTJ 076/257 – V.
U.
5

Constitucional. Art. 7º, IV, da Carta Magna 11.


O valor certo fixado, na sentença exeqüenda, quanto ao dano moral, tem seu termo a quo
para o cômputo dos consectários (juros e correção monetária), a partir da prolação do título
exeqüendo (sentença) que estabeleceu aquele valor líquido - precedentes do STJ12.

1.6 O esquecido efeito preventivo

A maior parte dos estudiosos do tema não se refere ao efeito preventivo ou didático da
indenização, mas é perceptível e inteligível com o resultado da simples existência de
indenização do ofensor ao ofendido moralmente. Aquele, diante do desfalque econômico que
sofreu, tenderá a tomar mais cuidados em situações semelhantes.
O sentido didático existente no dever de indenizar repousa, igualmente, na idéia da
construção do homem moral, que seja capaz de entender através do recurso da
obrigatoriedade da reparação, a função apaziguadora na ordem social. Afinal, seria
impossível imaginar que uma pessoa fosse continuamente obrigada a indenizar prejuízos
causados a terceiros, em virtude da prática incessante de atos ilícitos, e não adotasse
posturas preventivas e responsáveis no sentido de evitar a perda contínua de seus valores
patrimoniais, bem como os abalos psicológicos decorrentes desses fatos13.
a causa que permite o estabelecimento de determinado quantum é a necessidade e a
proporcionalidade entre o mal e aquilo que pode aplacá-lo, e o efeito será a prevenção, a
repressão e o desestímulo14 (grifo nosso).

Por não aumentar o valor da indenização, ser um efeito sem repercussão externa – só
age na psique e não, obviamente, no patrimônio, do ofensor –, tal efeito não é quase
consagrado na jurisprudência e na doutrina, apesar de sua inarredável importância psicológica
e filosófica.

1.7 O efeito punitivo da indenização

O efeito punitivo da indenização é mais difundido, mas não menos questionado. A


grande tendência da atualidade é de expressar no binômio compensação e punição todos os
efeitos buscados com o arbitramento da indenização por dano moral.
a) Teoria do desestímulo
Essa teoria, ou esse efeito, pede a inserção, no total da indenização, de quantia
destinada a uma pena, uma punição para o agente, como acréscimo ao valor obtido pelo
simples critério de compensação.
O valor a ser aumentado na indenização mostra claramente o caráter punitivo da
sanção pecuniária, visando o desestímulo do lesante à reiteração de atos da mesma natureza
danosa.
b) Críticas e sua avaliação

11
STF - RE 225488 / PR – 1ª. T. – Rel. Min. Moreira Alves - J. 11/04/2000 – Pub. No DJU de 16-06-00, p. 39
– V. U.
12
STJ - REsp 146861 / MA – 3ª. T. – Rel. Min. Waldemar Zveiter - J. 18/06/1998 – Pub. na RSTJ 112/184 – V.
U.
13
REIS, Clayton. Os novos rumos da indenização do dano moral. Rio de Janeiro : Forense, 2002.
14
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: responsabilidade civil e a sua interpretação doutrinária e
jurisprudencial. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 1397.
6

A maior crítica que se faz à aplicação da teoria do desestímulo é que ela propiciaria
um enriquecimento ilícito, vez que não haveria causa para o enriquecimento do ofendido, vez
que, teoricamente, o valor arbitrado a título compensatório já amortizaria a dor moral à qual
fora ele submetido.
Não negamos ser um bom argumento, mas é combatido na quase totalidade da
doutrina. Perante a jurisprudência houve uma manifestação contrária no IX Encontro de
Tribunais de Alçada do Brasil, realizado em 29 e 30.08.1997, em São Paulo, onde foi
aprovado, em tom de prudência para que não houvesse excessos, o entendimento que “à
indenização por danos morais deve dar-se caráter exclusivamente compensatório”.
De forma magnífica, OSNY CLARO DE OLIVEIRA JUNIOR abordou o tema:
O que é salutar que se evite no âmbito das indenizações por danos morais, mormente diante
da sua saudável proliferação, é o enriquecimento desmedido e desproporcional em relação
às características e à dimensão da lesão em si mesma, é à (SIC) condição do lesado, mas
não qualquer enriquecimento.
Neste sentido, desmedido e indevido seria o acréscimo de um valor indenizatório que levasse à
vítima a saltar de um patamar sócio-econômico para outro mais elevado, tornando reme-
diado quem era pobre, rico quem era apenas remediado, e milionário, quem era apenas rico.
Assim, mesmo para quem recebe um salário mínimo mensal ou milhares deles como paga
de seu trabalho, o recebimento de um real que seja, e apenas um real, importa em
substancial e efetivo enriquecimento ilícito, porque o valor acresceu ao que normal e
ordinariamente é percebido pelo beneficiado, de modo que o que o enriquece é o acréscimo
em si, e não o seu montante, isoladamente15.
Alguns defendem que também não cabe a inserção de punição no valor do dano moral,
porquanto, haveria incompatibilidade com o ordenamento pátrio, pois teria feições penais e
não meramente civis, e, ademais, já estaria inserido o efeito punitivo quando da simples
indenização compensatória.
A utilização de ambos os argumentos de forma simultânea é, no mínimo, insensata,
pois ou não se admite na legislação brasileira tal efeito ou se admite e vê-se o efeito punitivo
mesclado ao compensatório, mas nunca da forma proposta.
Por fim, trazem que tal efeito não teria sido autorizado pela Constituição Federal, no
seu art. 5º, X.
Entretanto, quando se refere a segurança de “o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação” não prevê que essa decorrência seja
exatamente a extensão do dano. Nada impede que tal decorrência acrescente o que se acha
justo como indenização e insira o efeito punitivo ora defendido.

2 FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO

Mesmo com a inequívoca permissibilidade constitucional da indenização por dano


moral e, mesmo sabendo ser esta constituída por valores distintos que satisfazem à teoria da
compensação e à teoria do desestímulo, ainda resta um árduo caminho pela frente. Afinal,
como se faz a análise do valor indenizatório, quais os sistemas para sua aferição e os
elementos que devem ajudar nessa dosagem?

15
Danos morais: Judiciário pune adequadamente quem ofende honra alheia. Disponível em:
<http://conjur.uol.com.br/textos/11912/>. Acesso em: 05 out. 2003.
7

2.1 Estágios de fixação e sistemas de aferição

Podemos identificar a existência de três estágios de fixação pecuniária do dano moral,


na história do instituto: num primeiro momento, os tribunais franceses entendiam como
satisfatória uma condenação apenas formal, de valor equivalente a um único franco, do
ofensor; ou seja, valorizava-se o aspecto moral da condenação, sobre qual das partes tinha
razão na querela e o simples reconhecimento disto pelo Estado-juiz reanimaria o ânimo do
ofendido; em seguida, compreendeu-se que a indenização não deveria ser tão irrisória, mas
também não deveria constituir-se em locupletamento sem causa por parte do lesante; em
seguida, o estágio no qual nos encontramos, há a exacerbação da condenação, sobrepondo-se
o caráter punitivo da indenização, como se observa nas punitive damages do direito norte-
americano.
A maioria dos autores não considera que o momento no Brasil já seja similar ao do
punite damages dos Estados Unidos da América, entretanto, atribuem a diferença apenas no
aspecto da natureza, afinal, já se compreende perante o nosso direito, ademais, quando se
permite ao decisum judicial a função de criar o direito, posto que é sempre de maior mutabi-
lidade e adequação aos direitos reclamados pela sociedade do que a próprio direito positivo.
Os sistemas de aferição do valor indenizatório do dano moral para aplicação no caso
concreto são apenas dois: tarifário e aberto.
No tarifário, quantum indenizatório se encontra predeterminado, cabendo ao
magistrado apenas a verificação da existência do dano moral e, em seguida, a obediência aos
limites fixados para cada situação. Em termos simples, há a tentativa de se estabelecer limites
para cada tipo de objetividade jurídica tutelada, em termos similares ao seguinte: perda de um
braço, entre esse e aquele valor; e sempre um valor fixo ou uma faixa de valores para outros
danos, como: perda de um ente querido; inserção de nome em órgão de restrição de crédito;
etc.
No segundo sistema, o aberto, atribui-se poderes ao magistrado para estabelecer o
valor da indenização, numa avaliação subjetiva e correspondente à possível satisfação da
lesão experimentada pelo ofendido. Esse é o sistema utilizado no nosso país.

2.2 Modelos aplicados no Brasil

Mesmo sendo adotado no nosso país o sistema aberto de aferição do valor da


indenização, muitos foram os elementos que, historicamente, incidiram sobre aquela fixação.
As primeiras orientações a respeito foram dadas pelo Código Brasileiro de
Telecomunicações (Lei n. 4.117, de 27.8.1962), reconhecido como nosso primeiro diploma
legal a estabelecer alguns parâmetros para a quantificação do dano moral, ao determinar que
se fixasse a indenização entre 5 e 100 salários mínimos, conforme as circunstâncias do ato
lesivo e o grau de culpa do lesante, apesar dos dispositivos que se referiam a isso serem
revogados pelo Decreto-Lei n. 236, de 28 de fevereiro de 1967.
Em seguida, a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250, de 9.2.1967) aumentou o teto das
indenizações para 200 salários mínimos. Por muito tempo, esse critério serviu de norte para o
arbitramento das indenizações em geral. O art. 53, em especial os incs. I e II, dessa norma
tratou da questão da fixação, trazendo elementos que deveriam ser apreciados pelos
magistrados e que são utilizados como parâmetros da atual jurisprudência na fixação:
I - a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e repercussão da ofensa
e a posição social e política do ofendido;
8

II - A intensidade do dolo ou o grau da culpa do responsável, sua situação econômica e sua


condenação anterior em ação criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdade
de manifestação do pensamento e informação.
A simples estipulação de um teto, ou mesmo de uma faixa de valor, não torna o
sistema tarifário, pois não houve a estipulação de valor por bem moral atingido.
Várias outras normas aplicáveis no nosso território fazem menção à avaliação do dano
moral: a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98, art. 103) estipula o valor de 3.000
exemplares; a Lei 6.453 (dispõe sobre danos nucleares, art. 9º) estabelece 1.500,000 ORTN;
Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei 7.565/86, art. 257) marca, em caso de morte, 3500
OTN e, em caso de extravio, 150 OTN; além de vários mandamentos no antigo Código Civil
(arts. 1.531, 1.538, 1.541, 1.547, parágrafo único, e 1.550).
O CC/2002 consagrou a indenizabilidade do ato ilícito que gera dano moral (art. 186),
a proporcionalidade à extensão do dano e à culpa do agente (art. 944).

2.3 Projeto de Lei 7.124/2002: um horizonte

O Projeto de Lei 7.124/200216 tenta definir vários fatores que permanecem em aberto
quanto à indenização por dano moral. Preocupa-se em definir dano moral, dizer quais são os
bens a que ele se refere (“o nome, a honra, a fama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a
respeitabilidade, a liberdade de ação, a auto-estima e o respeito próprio”), o prazo
prescricional do dano, cumulação com danos materiais e necessidade de especificação pelo
magistrado dos valores a serem arbitrados para cada um deles, entre outros.
Na parte que toca o nosso trabalho, o referido projeto aborda dois aspectos:
inicialmente, tenta estabelecer critérios para aferição da natureza do dano moral,
caracterizando-o como leve, médio e grave; daí, estabelece limites que vão até R$ 20.000,00,
de R$ 20.000,00 até R$ 90.000,00 e, por fim, de R$ 90.000,00 até o teto de 180.000,00.
Art. 7º - (omissis)
§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juiz fixará a indenização a ser paga, a cada um dos
ofendidos, em um dos seguintes níveis:
I – ofensa de natureza leve: até R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
II – ofensa de natureza média: de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$ 90.000,00 (noventa
mil reais);
III – ofensa de natureza grave: de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) a R$ 180.000,00 (cento
e oitenta mil reais).

Note-se que não se confunde esse nivelamento com o sistema tarifário, pois não há
valor para os bens morais lesados. Apenas, subjetivamente estabelecida pelo magistrado a
gravidade do dano moral praticado, nos mesmos moldes, há a necessidade que ele obedeça
aos parâmetros, ou à faixa de valores, que correspondam àquela gravidade do dano.
Não concordamos com o estabelecimento de tais patamares, pois entendemos que vão
de encontro à Teoria da Ilimitação da Responsabilidade e, ademais, como reza a
jurisprudência e a doutrina, cada caso é um caso, devendo ser analisado individualmente, sem
limites, sejam máximos ou mínimos, desde que aplicados com prudência e razoabilidade.
Ponto de fato interessante é que no artigo 7º, caput e §§ 2º a 4º, são estabelecidos
elementos que devem ser considerados quando da fixação do valor da indenização:
Art. 7º Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico tutelado, os reflexos
pessoais e sociais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física ou psicológica,

16
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=64880> Acesso em: 12 out. 2003.
9

assim como a extensão e duração dos efeitos da ofensa.


(...)
§ 2º Na fixação do valor da indenização, o juiz levará em conta, ainda, a situação social,
política e econômica das pessoas envolvidas, as condições em que ocorreu a ofensa ou o
prejuízo moral, a intensidade do sofrimento ou humilhação, o grau de dolo ou culpa, a
existência de retratação espontânea, o esforço efetivo para minimizar a ofensa ou lesão e o
perdão, tácito ou expresso.
§ 3º A capacidade financeira do causador do dano, por si só, não autoriza a fixação da
indenização em valor que propicie o enriquecimento sem causa, ou desproporcional, da
vítima ou de terceiro interessado.
§ 4º Na reincidência, ou diante da indiferença do ofensor, o juiz poderá elevar ao triplo o
valor da indenização.
Não podemos deixar de denotar a grande alegria que foi “encontrar” o referido projeto
de lei, pois ele enumera os elementos que, há algum tempo, a doutrina e a jurisprudência vêm
defendendo como elementos que o magistrado deve analisar para aferição do quantum, os
quais, já adotávamos na nossa profissão.

2.4 Elementos para análise

Sem dúvida, gera na sociedade uma maior segurança jurídica e facilita a função dos
magistrados se forem estabelecidos os elementos que serão analisados para a dosimetria da
indenização.
Trazemos, os que devem influenciar o arbítrio judicial, desnudando as suas facetas.
a) Intensidade do dano - Esse elemento é obviamente, ao lado do “valor do
desestímulo”, o que mais deve influir na dosimetria. Nele deve ser observado qual o bem
moral tutelado, os reflexos pessoais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física
ou psicológica, bem como a extensão e duração dos efeitos da ofensa.
b) Repercussão da ofensa - Traz os reflexos sociais da ação, o fato de ter uma ofensa,
calúnia ou algo que motive uma humilhação para o ofendido, ter alcançado um maior um
menor número de pessoas, na família, nas comunidades onde esse convive ou freqüenta, e em
que grau.
c) Grau de culpa (latu sensu) do ofensor - Esse é um elemento que já faz parte da
dosimetria há algum tempo, sendo aceito pela jurisprudência, doutrina e, inclusive, abonada
pela novel legislação (art. 944, parágrafo único, CC). Devem ser observados pelo intérprete os
vários graus de querer do dano (dolo) ou os graus de culpa (stricto sensu), grave, leve ou
levíssima, quando não houver a intenção de realizar o evento danoso, mas ele ocorre por
negligência, imperícia ou imprudência.
d) Posição sócio-econômica do ofendido - A posição social do lesado é elemento que
inequivocamente deve o intérprete ponderar. Isso se justifica por ter algumas pessoas maior
ligação com a sociedade onde atua. Veja-se que o dano efetivado numa pessoa de destaque
social, dentre os vários níveis que esse pode espelhar, deve ser considerado mais grave que o
praticado contra um desconhecido. Algumas pessoas, um padre, pastor, líderes comunitários,
vereadores, promotores e juízes são pontos de referência para a comunidade e a lesão à moral
desses tem uma contundência maior.
Com relação à posição econômica do ofendido, sabemos ser tema polêmico, mas é
derivado do conceito aristotélico de justiça, que seria tratar igual os iguais e desigual os
desiguais, na medida de suas desigualdades.
Como já visto, o dinheiro na indenização de dano moral é empregado para gerar um
equivalente de sensações positivas, para reequilibrar o “nível moral” do ofendido, abalado
10

após o dano.
Tenha-se em mente que, se uma pessoa que ganha apenas um salário mínimo
mensalmente, obtiver uma indenização de 200 salários mínimos, será o mesmo que dar para
ela o produto de duzentos meses, mais de quinze anos de seu árduo trabalho, para utilizar
como bem entender, seja em viagens, ou simplesmente, higiene mental. Uma pessoa que
percebe mensalmente quarenta salários mínimos é obviamente mais difícil de se satisfazer, o
mesmo valor de condenação não implicará para ela em mais que cinco meses afastado de suas
obrigações laborais.
e) Retratação ou tentativa do ofensor de minimizar o dano - Tais elementos podem
indicar um arrependimento que tornaria menos necessária ou até inócua a aplicação do
aspecto punitivo da indenização por dano moral.
f) Situação econômica do ofensor - Alguns falam em situação sócio-politico-
econômica do ofensor, mas não vemos sustentação no argumento para mantê-los. Deve,
entretanto, ser considerado o grau econômico do ofensor, para .
Interessante que esse elemento entra am apoio do conteúdo geral do caráter punitivo
da indenização do dano moral, pois mesmo se forem pequenos os demais elementos, a
indenização por dano moral deve ser eficazmente sentida pelo ofensor, para que se façam
presentes as funções preventiva e punitiva da infração.
Uma farmácia, mercearia ou pequeno estabelecimento comercial condenado a uma
indenização de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) levará alguns meses para se restabelecer
financeiramente. Durante todos esses meses as referidas funções punitiva e preventiva se
farão presentes na mente dos que o gerenciam. Entretanto, condenar um grande banco ou
empresa de telecomunicações nesse mesmo valor não servirá para prevenir nem desestimular,
pois sequer será notada.
g) Aplicação de pena ou desestímulo - Já devidamente debatida, a aplicação da pena
ou desestímulo deve sempre se fazer sentir, porém, com maior contundência nos casos de
dano morais derivados de relações de consumo e com força aumentada exponencialmente, em
caso de reiteração da conduta lesiva.

3 FORMA DE APRECIAÇÃO NA DECISÃO JUDICIAL

Mesmo sabendo os elementos necessários, sabendo o que deve levar em consideração,


o magistrado, por vezes, não sabe como trazer a sua análise aos autos.
Na nossa experiência como magistrado, onde sempre temos que ler sentenças de
colegas em fase de execução ou na leitura acórdãos de vários do tribunais pátrios, vimos
várias formas de fixação do dano moral.
Há aqueles que simplesmente dizem: “verificado o dano moral, fixo em tal valor”; ou,
no máximo, “atento aos critérios (ou elementos) x, y, x, que segundo a jurisprudência devem
influenciar no prudente arbitramento desse valor, fixo o dano moral no presente caso em tal
valor”.
Não entendemos como correta tais análises. Fazendo uma correlação com outra
importante dosimetria do sistema jurídico nacional, a dosimetria da pena pede que as
circunstâncias legalmente determinadas (art. 59 do Código Penal), apesar da análise subjetiva,
não sejam vistas de forma lacônica o, apenas, sejam realmente trazidos os motivos de
valoração do magistrado.
As circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CP são da discricionária apreciação do
magistrado, que, ao fixar a duração da pena, não está obrigado a analisar exaustivamente
11

cada uma delas, bastando fixar-se nas decisivas para a dosagem – no caso bem explícitas
pelas instâncias ordinárias17.
Evidencia-se ilegalidade na dosimetria da pena quando insuficientemente fundamentada a
exacerbação da pena-base pela sentença (...) sob os singelos argumentos de ‘motivos
egoísticos’; ‘conduta censurável’ e ‘conseqüências de monta’18.
Como exemplo, trago a seguinte fixação, uma espécie de modelo que utilizamos
sempre, com as devidas alterações caso a caso,
Para o valor da indenização pelo dano moral devem ser analisados vários elementos: a
intensidade do dano foi pequena, afinal, a família do autor ficou privado de energia
elétrica somente por sete horas, além do constrangimento de ter a sua energia cortada
quando da adimplência e ainda procurar a Loja de Serviço da promovida para valer-se de
seus direitos; a repercussão do dano foi razoável, porquanto ficaram cientes de uma
inadimplência inexistentes alguns vizinhos do autor; a condição sócio-econômica do
ofendido é mediana, porquanto aposentado e, de forma interessante, da própria empresa
promovida; o grau de culpa do ofensor foi levíssimo, pois, pelos dados que tinha,
imaginou estar agindo licitamente ao efetuar o corte; as condições financeiras do ofensor
são excelentes, pois trata-se de empresa de inegável relevância.
Levando em consideração os elementos acima e um valor de desestímulo da prática de atos
semelhantes, fixo o valor do quantum indenizatório em R$ 2.000,00 (dois mil reais)”.
Os Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório demandam exatamente uma análise
ligeiramente mais acurada, como essa, para que possam as partes exercer os seus direitos a
recursos, já cientes qual ponto ou pontos não foram bem apreciados pelo magistrado e que
levou a uma maior ou menor valoração.
Trata-se, obviamente, de uma sugestão de análise, sem imposição, mas que cremos
trazer segurança e, talvez, conformação às partes envolvidas, que têm uma perfeita noção dos
elementos que foram utilizados na dosagem do valor da condenação por dano moral.

4 CONCLUSÕES

O dano moral é real e se deduz de qualquer sofrimento ou desconforto moral relevantes,


que atinja a pessoa natural ou jurídica, por conta da conduta de um agente.
Ele também é indenizável e, apesar do dinheiro não apagar ou pagar a dor, proporciona
ao lesado experimentar sensações construtivas, positivas e até mesmo prazerosas,
diametralmente opostas às que constituíram o dano moral, na tentativa de re-equilibrar o seu
estado moral. Essa indenização deve ser paga em moeda corrente e de uma única vez, com os
consectários da condenação incidentes apenas a partir da data do decisum condenatório.
A condenação em dano moral visa a três efeitos: o compensatório, obtido com o valor
que se entende justo à simples compensação do dano moral, nos termos citados supra; o
preventivo, atuante no íntimo psicológico do agente, que “se educa” a não mais repetir os atos
da mesma natureza lesiva; e o punitivo ou de desestímulo, correlato ao instituto norte-
americano punitive demages, que se constitui em verdadeira penalidade pecuniária para inibir
novos atos danosos pelo agente.
Os métodos de fixação do valor indenizatório podem ser dois, o aberto e o fechado.
Neste último, também chamado de tarifário, o juiz está a atrelado a valores legais ou faixas de
valores definidas para o bem moral atingido. No primeiro, deriva do próprio arbítrio do
magistrado tal fixação, desde que permeado de razoabilidade e prudência.

17
STF – RT 641/397-8.
18
STJ – EERESP 124077/TO – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJ 21/10/2002, pg. 0381 – j. 10.09.2002.
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Na legislação e jurisprudência pátria fervilham as orientações aos magistrados para


fixação e até encontra-se em tramitação um projeto de lei que define elementos explícitos para
a referida dosimetria, que, sejamos justos, parecem extraídos com apurada coerência da
moderna jurisprudência e doutrina. São eles: intensidade do dano (envolvendo a análise do
bem moral tutelado, os reflexos pessoais da ação ou omissão, a possibilidade de superação
física ou psicológica, bem como a extensão e duração dos efeitos da ofensa); a repercussão
social da ofensa; o grau de culpa do ofensor; a posição sócio-econômica do ofendido; a
retratação espontânea do ofensor ou a sua tentativa para minorar o dano moral; a situação
econômica do ofensor; e, por fim, a aplicação de um valor a título de desestímulo.
O Princípio da Necessidade de Fundamentação das Decisões Judiciais, ao lado dos
Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório pedem seja tais elementos que nortearam a
decisão judicial a respeito do quantum não apenas exposto, mas realmente fundamentados.
Não que haja imperiosa necessidade de esgotar todos eles, mas breve fundamentação daqueles
que influíram na fixação do quantum indenizatório, como meio de gerar segurança jurídica
nos envolvidos com o processo.
O dano moral, sua existência, e a fixação do seu quantum não são apenas promessas ou
algo que apenas a evoluída doutrina se preocupe ou caracterize como “problema”. Estão eles
presentes no nosso dia-a-dia e, sem dúvida, caracterizam-se como um passo na direção de um
estágio pleno de direitos do cidadão.

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