Professional Documents
Culture Documents
INTRODUÇÃO
O tema Dano Moral há muito vem sendo objeto das mais controvertidas discussões. Já
passamos por questionamentos sobre sua existência genérica, sobre sua autonomia em relação
ao dano material, sobre a necessidade de provar-se o dano moral, a legitimação ativa para
requerer a sua indenização e a possibilidade das pessoas jurídicas sofrerem-no, entre outros
questionamentos.
Há, entretanto, um senso comum: a fixação do valor da indenização por dano moral se
constitui num problema no qual devemos nos debruçar, porquanto indubitavelmente
inestimáveis os bens morais objetos da análise.
Os legisladores e julgadores vêm utilizando vários parâmetros de fixação da
indenização por dano moral, sendo certo que os pontos de vista divergem, como não poderia
deixar de ser, dada a contundente subjetividade do instituto. O ponto pacífico é apenas estar
tal valor atrelado ao proporcional e razoável arbítrio dos juízes. Será, entretanto, que há
prudência deixar sem escalas ou, ao menos, elementos positivamente delineados para a sua
quantificação?
Esse é o ponto principal deste breve estudo, mas, para isso, precisamos trazer algumas
noções do instituto do dano moral, seus problemas e os patamares trilhados, e o árduo
caminho que a fixação da indenização trilhou no mundo e no nosso país. Em seguida, além de
* Juiz de Direito em Bayeux/PB, Professor de Direito Processual Penal e Técnica de elaboração de Decisões
Cíveis da ESMA-PB, Professor dos Módulos de Princípios do Processo Penal e Sentença Criminal da FESMIP-
PB, Especialista, lato sensu, em Direito Processual Civil pela PUC-RS e em Gestão Jurisdicional de Meios e de
Fins pela UNIPÊ-PB.
2
averiguar quais poderiam ser os elementos que compõem o dano moral e a forma da sua
análise na sentença cível.
Por fim, faremos uma conclusão crítica do passado, do presente e do futuro da fixação
do quantum compensatório do dano moral.
1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
Para mergulhar no tema central deste estudo, a quantificação do dano moral, são
necessárias algumas noções preliminares, que permitirão ligeira intimidade com o instituto do
Dano Moral - tão debatido nestes últimos trinta anos e, desde o advento da Constituição
Federal de 1988, tão colocado em prática nas cortes pátrias. Ousamos até dizer que foi tal
instituto jurídico o que mais acentuadamente se difundiu desde o nascimento dessa Carta
Magna.
A conceituação que realmente nos satisfez – e pela quantidade de vezes que é citada
em artigos e doutrinas parece tender à unanimidade – é a de CARLOS ALBERTO BITTAR:
Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos de
sua personalidade, em razão de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a
moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimentos, vexames, dores,
enfim, sentimentos e sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados
materiais, que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial do lesado5.
1
LIMONGI FRANÇA, Rubens. Reparação do dano moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 77, v. 631, p.
31, mai. 1988.
2
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1993. p.66.
3
SILVA, Wilson Melo da. O Dano Moral e a sua Reparação. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 01-02
4
NUNES, Luiz Antônio Rizzato; CALDEIRA, Mirella D’Angelo. O dano moral e sua interpretação
jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 1
5
BITTAR, Carlos Alberto. Danos morais: critérios para a sua fixação. Boletim IOB no 15/93, repertório de
jurisprudência.
3
Assim, observa-se que o dano moral é aquele que deriva de qualquer sensação
psíquica desagradável experimentada pela pessoa, ainda que derive de dor física.
O conceito de dano moral indireto é bastante simples: é o dano moral que deriva de
um dano patrimonial. Ou seja, o ato lesivo não atinge diretamente o bem moral do lesado,
atinge bem patrimonial seu e, de forma mediata, algum bem moral é atingido.
Lesão a um interesse tendente à satisfação ou ao gozo de bens jurídicos patrimoniais que
produz menoscabo de um bem extrapatrimonial, ou melhor, provoca prejuízo a qualquer
interesse não patrimonial, devido a ofensa a um bem patrimonial da vítima 6.
O dano moral, a rigor, não existe no plano material. Assim, como se constatar a sua
ocorrência? Veja-se que não basta a afirmação da vítima de ter sido violada moralmente,
atingida em bens como honra, imagem, bom nome, tradição, personalidade, entre outros.
Deve ser possível da análise do fato efetivamente ocorrido, ou comprovado, se presuma a
ocorrência de um gravame àqueles bens morais.
Também, devem ser olhados com acuidade alguns “danos” em que o próprio pseudo-
lesado se coloca na situação de risco, pois, por exemplo, muitas vezes, o pagamento de uma
conta posterior à data de vencimento enseja o recebimento de uma carta de cobrança quando
da adimplência, embora a epístola fora expedida em período no qual ainda havia o débito ou
momentos plausíveis após.
Muito se questiona hoje sobre o que se denomina “Indústria dos Danos Morais”,
quando pequenas desventuras do cotidiano ensejam nos melindrosos detentores daquela
objetividade psíquica “quase-lesada” a esperança de se locupletar, sendo indenizado por
6
DINIZ, Maria Helena. Dano moral indireto. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998.
7
BEVILÁQUA, Clovis. Código Civil, I, p. 256 apud SANTINI, José Raffaelli. A reparação autônoma do dano
moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 86, v. 739, p. 156-67, mai. 1997.
8
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil : responsabilidade civil e a sua interpretação doutrinária e
jurisprudencial. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 1381.
4
danos morais que na realidade não ocorreram. Ainda, integram esse pérfido instituto os que
maliciosamente, em legítimo abuso de direito, se colocam em situação de risco e de criação
ou majoração daquele dano moral.
Atentando que o objeto dessas breves reflexões é a prolação de sentença que observe
as informações ora transferidas, salientamos que o pagamento deve ser feito de uma única
vez, e não em prestações, e em moeda corrente, não indexada pelo salário mínimo ou outro
índice. Ainda, a correção monetária e os juros de mora devem incidir apenas a partir do
momento da prolação do decisum que os fixou, pois se entende que o magistrado levou em
consideração elementos atuais. Assim, não há contrariedade com a Súmula 43 do Superior
Tribunal de Justiça, que determina como termo inicial dos consectários da condenação a data
do evento, para os casos de dívidas decorrentes de ato ilícito.
A satisfação de um dano moral deve ser paga de uma só vez, de imediato10.
DANO MORAL. Fixação de indenização com vinculação a salário mínimo. Vedação
9
SANTINI, José Raffaelli. A reparação autônoma do dano moral. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 86, v.
739, p. 156-67, mai. 1997. p.
10
STJ - REsp 58519 / DF – 1ª. T. – Rel. Min. César Asfor Rocha - J. 20/03/1995 – Pub. na RSTJ 076/257 – V.
U.
5
A maior parte dos estudiosos do tema não se refere ao efeito preventivo ou didático da
indenização, mas é perceptível e inteligível com o resultado da simples existência de
indenização do ofensor ao ofendido moralmente. Aquele, diante do desfalque econômico que
sofreu, tenderá a tomar mais cuidados em situações semelhantes.
O sentido didático existente no dever de indenizar repousa, igualmente, na idéia da
construção do homem moral, que seja capaz de entender através do recurso da
obrigatoriedade da reparação, a função apaziguadora na ordem social. Afinal, seria
impossível imaginar que uma pessoa fosse continuamente obrigada a indenizar prejuízos
causados a terceiros, em virtude da prática incessante de atos ilícitos, e não adotasse
posturas preventivas e responsáveis no sentido de evitar a perda contínua de seus valores
patrimoniais, bem como os abalos psicológicos decorrentes desses fatos13.
a causa que permite o estabelecimento de determinado quantum é a necessidade e a
proporcionalidade entre o mal e aquilo que pode aplacá-lo, e o efeito será a prevenção, a
repressão e o desestímulo14 (grifo nosso).
Por não aumentar o valor da indenização, ser um efeito sem repercussão externa – só
age na psique e não, obviamente, no patrimônio, do ofensor –, tal efeito não é quase
consagrado na jurisprudência e na doutrina, apesar de sua inarredável importância psicológica
e filosófica.
11
STF - RE 225488 / PR – 1ª. T. – Rel. Min. Moreira Alves - J. 11/04/2000 – Pub. No DJU de 16-06-00, p. 39
– V. U.
12
STJ - REsp 146861 / MA – 3ª. T. – Rel. Min. Waldemar Zveiter - J. 18/06/1998 – Pub. na RSTJ 112/184 – V.
U.
13
REIS, Clayton. Os novos rumos da indenização do dano moral. Rio de Janeiro : Forense, 2002.
14
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: responsabilidade civil e a sua interpretação doutrinária e
jurisprudencial. 5. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 1397.
6
A maior crítica que se faz à aplicação da teoria do desestímulo é que ela propiciaria
um enriquecimento ilícito, vez que não haveria causa para o enriquecimento do ofendido, vez
que, teoricamente, o valor arbitrado a título compensatório já amortizaria a dor moral à qual
fora ele submetido.
Não negamos ser um bom argumento, mas é combatido na quase totalidade da
doutrina. Perante a jurisprudência houve uma manifestação contrária no IX Encontro de
Tribunais de Alçada do Brasil, realizado em 29 e 30.08.1997, em São Paulo, onde foi
aprovado, em tom de prudência para que não houvesse excessos, o entendimento que “à
indenização por danos morais deve dar-se caráter exclusivamente compensatório”.
De forma magnífica, OSNY CLARO DE OLIVEIRA JUNIOR abordou o tema:
O que é salutar que se evite no âmbito das indenizações por danos morais, mormente diante
da sua saudável proliferação, é o enriquecimento desmedido e desproporcional em relação
às características e à dimensão da lesão em si mesma, é à (SIC) condição do lesado, mas
não qualquer enriquecimento.
Neste sentido, desmedido e indevido seria o acréscimo de um valor indenizatório que levasse à
vítima a saltar de um patamar sócio-econômico para outro mais elevado, tornando reme-
diado quem era pobre, rico quem era apenas remediado, e milionário, quem era apenas rico.
Assim, mesmo para quem recebe um salário mínimo mensal ou milhares deles como paga
de seu trabalho, o recebimento de um real que seja, e apenas um real, importa em
substancial e efetivo enriquecimento ilícito, porque o valor acresceu ao que normal e
ordinariamente é percebido pelo beneficiado, de modo que o que o enriquece é o acréscimo
em si, e não o seu montante, isoladamente15.
Alguns defendem que também não cabe a inserção de punição no valor do dano moral,
porquanto, haveria incompatibilidade com o ordenamento pátrio, pois teria feições penais e
não meramente civis, e, ademais, já estaria inserido o efeito punitivo quando da simples
indenização compensatória.
A utilização de ambos os argumentos de forma simultânea é, no mínimo, insensata,
pois ou não se admite na legislação brasileira tal efeito ou se admite e vê-se o efeito punitivo
mesclado ao compensatório, mas nunca da forma proposta.
Por fim, trazem que tal efeito não teria sido autorizado pela Constituição Federal, no
seu art. 5º, X.
Entretanto, quando se refere a segurança de “o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação” não prevê que essa decorrência seja
exatamente a extensão do dano. Nada impede que tal decorrência acrescente o que se acha
justo como indenização e insira o efeito punitivo ora defendido.
15
Danos morais: Judiciário pune adequadamente quem ofende honra alheia. Disponível em:
<http://conjur.uol.com.br/textos/11912/>. Acesso em: 05 out. 2003.
7
O Projeto de Lei 7.124/200216 tenta definir vários fatores que permanecem em aberto
quanto à indenização por dano moral. Preocupa-se em definir dano moral, dizer quais são os
bens a que ele se refere (“o nome, a honra, a fama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a
respeitabilidade, a liberdade de ação, a auto-estima e o respeito próprio”), o prazo
prescricional do dano, cumulação com danos materiais e necessidade de especificação pelo
magistrado dos valores a serem arbitrados para cada um deles, entre outros.
Na parte que toca o nosso trabalho, o referido projeto aborda dois aspectos:
inicialmente, tenta estabelecer critérios para aferição da natureza do dano moral,
caracterizando-o como leve, médio e grave; daí, estabelece limites que vão até R$ 20.000,00,
de R$ 20.000,00 até R$ 90.000,00 e, por fim, de R$ 90.000,00 até o teto de 180.000,00.
Art. 7º - (omissis)
§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juiz fixará a indenização a ser paga, a cada um dos
ofendidos, em um dos seguintes níveis:
I – ofensa de natureza leve: até R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
II – ofensa de natureza média: de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$ 90.000,00 (noventa
mil reais);
III – ofensa de natureza grave: de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) a R$ 180.000,00 (cento
e oitenta mil reais).
Note-se que não se confunde esse nivelamento com o sistema tarifário, pois não há
valor para os bens morais lesados. Apenas, subjetivamente estabelecida pelo magistrado a
gravidade do dano moral praticado, nos mesmos moldes, há a necessidade que ele obedeça
aos parâmetros, ou à faixa de valores, que correspondam àquela gravidade do dano.
Não concordamos com o estabelecimento de tais patamares, pois entendemos que vão
de encontro à Teoria da Ilimitação da Responsabilidade e, ademais, como reza a
jurisprudência e a doutrina, cada caso é um caso, devendo ser analisado individualmente, sem
limites, sejam máximos ou mínimos, desde que aplicados com prudência e razoabilidade.
Ponto de fato interessante é que no artigo 7º, caput e §§ 2º a 4º, são estabelecidos
elementos que devem ser considerados quando da fixação do valor da indenização:
Art. 7º Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico tutelado, os reflexos
pessoais e sociais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física ou psicológica,
16
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=64880> Acesso em: 12 out. 2003.
9
Sem dúvida, gera na sociedade uma maior segurança jurídica e facilita a função dos
magistrados se forem estabelecidos os elementos que serão analisados para a dosimetria da
indenização.
Trazemos, os que devem influenciar o arbítrio judicial, desnudando as suas facetas.
a) Intensidade do dano - Esse elemento é obviamente, ao lado do “valor do
desestímulo”, o que mais deve influir na dosimetria. Nele deve ser observado qual o bem
moral tutelado, os reflexos pessoais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física
ou psicológica, bem como a extensão e duração dos efeitos da ofensa.
b) Repercussão da ofensa - Traz os reflexos sociais da ação, o fato de ter uma ofensa,
calúnia ou algo que motive uma humilhação para o ofendido, ter alcançado um maior um
menor número de pessoas, na família, nas comunidades onde esse convive ou freqüenta, e em
que grau.
c) Grau de culpa (latu sensu) do ofensor - Esse é um elemento que já faz parte da
dosimetria há algum tempo, sendo aceito pela jurisprudência, doutrina e, inclusive, abonada
pela novel legislação (art. 944, parágrafo único, CC). Devem ser observados pelo intérprete os
vários graus de querer do dano (dolo) ou os graus de culpa (stricto sensu), grave, leve ou
levíssima, quando não houver a intenção de realizar o evento danoso, mas ele ocorre por
negligência, imperícia ou imprudência.
d) Posição sócio-econômica do ofendido - A posição social do lesado é elemento que
inequivocamente deve o intérprete ponderar. Isso se justifica por ter algumas pessoas maior
ligação com a sociedade onde atua. Veja-se que o dano efetivado numa pessoa de destaque
social, dentre os vários níveis que esse pode espelhar, deve ser considerado mais grave que o
praticado contra um desconhecido. Algumas pessoas, um padre, pastor, líderes comunitários,
vereadores, promotores e juízes são pontos de referência para a comunidade e a lesão à moral
desses tem uma contundência maior.
Com relação à posição econômica do ofendido, sabemos ser tema polêmico, mas é
derivado do conceito aristotélico de justiça, que seria tratar igual os iguais e desigual os
desiguais, na medida de suas desigualdades.
Como já visto, o dinheiro na indenização de dano moral é empregado para gerar um
equivalente de sensações positivas, para reequilibrar o “nível moral” do ofendido, abalado
10
após o dano.
Tenha-se em mente que, se uma pessoa que ganha apenas um salário mínimo
mensalmente, obtiver uma indenização de 200 salários mínimos, será o mesmo que dar para
ela o produto de duzentos meses, mais de quinze anos de seu árduo trabalho, para utilizar
como bem entender, seja em viagens, ou simplesmente, higiene mental. Uma pessoa que
percebe mensalmente quarenta salários mínimos é obviamente mais difícil de se satisfazer, o
mesmo valor de condenação não implicará para ela em mais que cinco meses afastado de suas
obrigações laborais.
e) Retratação ou tentativa do ofensor de minimizar o dano - Tais elementos podem
indicar um arrependimento que tornaria menos necessária ou até inócua a aplicação do
aspecto punitivo da indenização por dano moral.
f) Situação econômica do ofensor - Alguns falam em situação sócio-politico-
econômica do ofensor, mas não vemos sustentação no argumento para mantê-los. Deve,
entretanto, ser considerado o grau econômico do ofensor, para .
Interessante que esse elemento entra am apoio do conteúdo geral do caráter punitivo
da indenização do dano moral, pois mesmo se forem pequenos os demais elementos, a
indenização por dano moral deve ser eficazmente sentida pelo ofensor, para que se façam
presentes as funções preventiva e punitiva da infração.
Uma farmácia, mercearia ou pequeno estabelecimento comercial condenado a uma
indenização de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) levará alguns meses para se restabelecer
financeiramente. Durante todos esses meses as referidas funções punitiva e preventiva se
farão presentes na mente dos que o gerenciam. Entretanto, condenar um grande banco ou
empresa de telecomunicações nesse mesmo valor não servirá para prevenir nem desestimular,
pois sequer será notada.
g) Aplicação de pena ou desestímulo - Já devidamente debatida, a aplicação da pena
ou desestímulo deve sempre se fazer sentir, porém, com maior contundência nos casos de
dano morais derivados de relações de consumo e com força aumentada exponencialmente, em
caso de reiteração da conduta lesiva.
cada uma delas, bastando fixar-se nas decisivas para a dosagem – no caso bem explícitas
pelas instâncias ordinárias17.
Evidencia-se ilegalidade na dosimetria da pena quando insuficientemente fundamentada a
exacerbação da pena-base pela sentença (...) sob os singelos argumentos de ‘motivos
egoísticos’; ‘conduta censurável’ e ‘conseqüências de monta’18.
Como exemplo, trago a seguinte fixação, uma espécie de modelo que utilizamos
sempre, com as devidas alterações caso a caso,
Para o valor da indenização pelo dano moral devem ser analisados vários elementos: a
intensidade do dano foi pequena, afinal, a família do autor ficou privado de energia
elétrica somente por sete horas, além do constrangimento de ter a sua energia cortada
quando da adimplência e ainda procurar a Loja de Serviço da promovida para valer-se de
seus direitos; a repercussão do dano foi razoável, porquanto ficaram cientes de uma
inadimplência inexistentes alguns vizinhos do autor; a condição sócio-econômica do
ofendido é mediana, porquanto aposentado e, de forma interessante, da própria empresa
promovida; o grau de culpa do ofensor foi levíssimo, pois, pelos dados que tinha,
imaginou estar agindo licitamente ao efetuar o corte; as condições financeiras do ofensor
são excelentes, pois trata-se de empresa de inegável relevância.
Levando em consideração os elementos acima e um valor de desestímulo da prática de atos
semelhantes, fixo o valor do quantum indenizatório em R$ 2.000,00 (dois mil reais)”.
Os Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório demandam exatamente uma análise
ligeiramente mais acurada, como essa, para que possam as partes exercer os seus direitos a
recursos, já cientes qual ponto ou pontos não foram bem apreciados pelo magistrado e que
levou a uma maior ou menor valoração.
Trata-se, obviamente, de uma sugestão de análise, sem imposição, mas que cremos
trazer segurança e, talvez, conformação às partes envolvidas, que têm uma perfeita noção dos
elementos que foram utilizados na dosagem do valor da condenação por dano moral.
4 CONCLUSÕES
17
STF – RT 641/397-8.
18
STJ – EERESP 124077/TO – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJ 21/10/2002, pg. 0381 – j. 10.09.2002.
12
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, José Wellington Medeiros de. O dano moral e sua avaliação. Disponível na
Internet: <http://www.imag-df.org.br/omagistrado/numero2/Dano1.doc>. Acesso em 01 out.
2003.
BITTAR, Carlos Alberto. Danos morais: critérios para a sua fixação. Boletim IOB no 15/93,
repertório de jurisprudência.
BRASIL. Constituição federal, código civil, código de processo civil / organizador Yussef
Said Cahali – 5. ed. rev. atual. e ampl. Coleção RT-mini-códigos – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais , 2003.
DEDA, Artur Oscar Oliveira. Dano moral (Reparação). Enciclopédia Saraiva do Direito.
(coord. Professor Rubens Limongi França). v. 22. p. 279-92. São Paulo: Saraiva, 1979.
DINIZ, Maria Helena. Indenização por dano moral. A problemática jurídica da fixação do
quantum. Revista Jurídica Consulex. Brasília: Editora Consulex, v. 3, p. 30, mar/97.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das obrigações: parte especial. volume 6, tomo II :
responsabilidade civil. Coleção Sinopses Jurídicas. São Paulo : Saraiva, 2001.
LIMONGI FRANÇA, Rubens. Reparação do dano moral. Revista dos Tribunais, São Paulo,
a. 77, v. 631, p. 29-37, mai. 1988.
OLIVEIRA JUNIOR, Osny Claro de. Danos morais: Judiciário pune adequadamente quem
ofende a honra alheia. Disponível em: <http://conjur.uol.com.br/textos/11912/>. Acesso em:
05 out. 2003.
QUEIROGA, Antônio Elias de. Responsabilidade civil e o novo Código Civil. Rio de Janeiro
: Renovar, 2003.
REIS, Clayton. Os novos rumos da indenização do dano moral. Rio de Janeiro : Forense,
2002.
SANTINI, José Raffaelli. A reparação autônoma do dano moral. Revista dos Tribunais, São
Paulo, a. 86, v. 739, p. 156-67, mai. 1997.
SILVA, Antônio Cassemiro da. A fixação do quantum indenizatório nas ações por danos
morais. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=670>. Acesso em: 05 out. 2003.
SILVA, Wilson Mello da. O dano moral e sua reparação. Tese. Belo Horizonte: Faculdade
de Direito da UFMG, 1949.
VITAL, Marina Soares. Indenização por dano moral decorrente de acidente de trânsito:
parâmetros para a fixação do quantum devido. Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002.
Disponível em: <http://www1.jus.com.br/ doutrina/texto.asp?id=3458>. Acesso em: 05 out.
2003.
ZANETTI, Robson. Danos morais: Justiça deve considerar bem lesado para fixar valores.
Disponível na Internet: <http://conjur.uol.com.br/textos/14260/>. Acesso em 01 out. 2003.