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Airton Página 1 28/4/2004

Cazuza
Ayrton Mugnaini Jr

(Obra inédita para a Editora Online – BMGV Music Software Net Editora Ltda. – Rua João Moura 861 –

São Paulo . Capital – cep: 05412-022 – (55-11) 883.6055)

** Cazuza **
"Um Pierrô meio bossa-nova e rock and roll"

Índice

Prefácio
Introdução
"Mentiras sinceras me interessam"
Estudo Crítico
"Pra mim é tudo ou nunca mais"
Cronologia
"Eu não tenho data pra comemorar"
As Mortes do Poeta
"Eu vi a cara da morte e ela estava viva"
Discografia
"Meu canto é o que me mantém vivo"
Composições
"Meu fantasma guardando lugar pra amanhã"
Regravações e Originais
"Segredos de liquidificador"

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Músicos
"Agora eu ando muito bem acompanhado"
Filmografia
"Pode seguir o teu brinquedo de star"
Opiniões
"Mesmo meus amigos mais canalhas me dão razão"
Sobre o autor
"Não há perdão para o chato"

Introdução

Como é bom, e como é difícil, viver sem preconceitos. A MPB e o rock


brasileiro passaram por uma boa reformulação nos anos 80, e eu, na qualidade
(ou defeito) de compositor do grupo Língua de Trapo, posso dizer que fiz
parte dela. Mas, como bom (ou mau) paulistano, tive no início uma pequena
torção nasal com relação ao contingente carioca desta nova geração de artistas.
É certo que entre meus heróis de então e sempre estavam Noel Rosa, Mário
Reis, Pixinguinha e muitos outros nascidos do lado "errado" da Via Dutra,
mas no início dos anos 80 a música do Rio feita desde os anos 60 não me
atraía tanto. A malandragem do samba dera lugar aos barquinhos e peixinhos
da bossa-nova, e meu lado roqueiro preferia o Ira!, o Ultraje, coisas mais
"urbanas"; mesmo a sátira da Blitz, Léo Jaime, Asdrúbal e outros me parecia
muito "engraçadinha", não muito profunda, mais para alienada; Eduardo
Dusek era tão bom que "nem parecia carioca", e os Titãs, ainda presos a seus
radinhos e sorvetes, me pareciam "acariocados".
Enfim, o tempo e a idade me ajudaram a me livrar de tais noções
preconcebidas; hoje sei que, no fundo, não existe música carioca ou paulista,
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branca ou negra, nova ou antiga; o que existe é música bem feita ou mal feita,
e humoristicamente correta ou incorreta. E nem precisei de muito tempo ou de
tanta idade assim; em 1985 eu já estava colaborando no Pasquim do Rio como
correspondente paulistano, devorando o Planeta Diário e a Casseta Popular
(incluindo suas colaborações para a paulistaníssima Folha de São Paulo) e
tendo a honra de composições minhas no repertório d'O Espírito da Coisa. E
uma ou outra gravação do rock carioca me despertava o interesse, alguma
coisa do Kid Abelha, muitas faixas (mais tarde LPs inteiros ou quase) de Lulu
Santos. Mas o Barão me parecia um caso à parte, com seu estilo mais próximo
do que me agradava, rock direto, simples e forte, comparável aos melhores
grupos paulistanos, e letras que fugiam do lugar comum. Especialmente
interessante me parecia o cantor, com nome de romance de literatura infantil
(embora, anos depois, eu viesse a saber que era coincidência) e dicção que,
além de fugir dos "ss" e "xx" tão típicos de sua cidade, incluía uma peculiar
prisão de língua que, aliás, não era privilégio dele: como portador de um
defeito similar, acabei tendo um ataque de se-ele-pode-fazer-sucesso-eu-
também-posso e me promovi de compositor para "cantautore".
E desde 1986 assumi uma terceira faceta, a de músico da noite paulistana,
"operário da alegria", usando contrabaixo, violão e guitarra como ferramentas.
A primeira cantora que acompanhei ficou horrorizada com a sugestão de uma
amiga, de que ela cantasse "Só As Mães São Felizes"; já a segunda arrasava ao
cantar "Maior Abandonado". Em 1992, com o samba retornando de seu exílio
das rádios, acompanhei um cantor paulista de MPB que empolgava com "Faz
Parte Do Meu Show", "Codinome Beija-Flor" e, de quebra, "O Poeta Está
Vivo". Paralelamente a isso, toquei num grupo de rock cujo repertório incluía
"Bete Balanço". E meu primeiro LP acabou incluindo uma
paródia/homenagem, "Imunologia".
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Pois bem, a oportunidade de escrever um livro sobre Cazuza foi uma boa
diversão, tanto pelo assunto em si, como por ser mais um desafio para
pesquisador. Afinal, quando iniciei este livro, em 1994, o Brasil ainda era o
país onde menos se ouvia música brasileira, e continua não tendo muita
paciência de preservar sua própria memória. O que acaba sendo mais uma
prova de que Cazuza veio para ficar, já que ele continua sendo cantado,
regravado e reeditado - uma espécie de versão carioca e moderna de Raul
Seixas, compositor e intérprete que uniu a boa literatura ao em princípio
"iletrado" rock and roll e à música popular de sua terra e sua época (para Raul
o baião, para Cazuza a bossa-nova), dois grande compositores e intérpretes
populares que sobrelevaram o brega e descomplicaram o chique, e que
também se tornaram grandes personagens, pessoa e artista independentes um
do outro (e, proporcionalmente ao tempo de carreira, Cazuza igualou-se a
Raul em importância e repercussão).
Mas, como eu ia dizendo, o Brasil tem dificuldades em preservar sua
memória. Mesmo uma biografia curta e recente como a de Cazuza torna-se um
desafio, com muitos dados errôneos ou incompletos e muitos erros e lapsos
aceitos sem discussão. Por exemplo, o Jornal da Tarde transformou a
"agranulocitose" (falta de grânulos que conduzem os glóbulos no sangue) que
levou Cazuza numa "granulofitose" exclusiva (o oposto, excesso de grânulos).
Enfim, aqui está meu livro sobre Cazuza, obviamente sem pretensões de
esgotar o assunto, mas sim de mostrar porque sua obra permanece. Meu ponto
de partida só poderia ter sido o livro Cazuza, do jornalista e dramaturgo
Eduardo Duó; consultei também as entrevistas de Cazuza para as revistas
Bizz, Veja e Manchete, além de livreto da exposição O Tempo Não Pára e de
jornais como Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, Jornal da Tarde. Também me
ajudaram muito a Enciclopédia da Música Brasileira Erudita, Folclórica e
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Popular da Art Editora (Brasil, 1977), The Penguin Encyclopedia Of Popular


Music (Inglaterra, 1990), e The Rolling Stone Illustrated History Of Rock And
Roll (EUA, 1980), não esquecendo o livro Chega De Saudade de Ruy Castro
(Brasil, 1991), Pequena História Da Música Popular - Da Modinha à Lambada
de José Ramos Tinhorão (Brasil, 1991), The Brazilian Sound de Chris
McGowan e Ricardo Pessanha (EUA, 1991), Cartola - Os Tempos Idos de
Marilia T. Barboza da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho (Brasil, 1993).
Afinal, como se sabe, nenhuma cultura é compartimento estanque, e Cazuza
nunca escondeu suas influências estrangeiras, inevitavelmente mais fortes em
sua geração, embora ele acabasse por sobrelevá-las, justamente por ter tido tão
raro quanto benfazejo (há quanto tempo não ouvias esta palavra?) acesso à
MPB com MPB maiúsculos de Cartola, Nelson Cavaquinho, Maysa e Dolores
Duran, que se tornaram parte integrante de seu estilo e ajudaram a mostrar a
todo o Brasil que música carioca não era só cantinho, violão e Corcovado ou
chope, batata frita e jeito de virada.
E tive sorte de contar com pessoas que colaboraram com este livro
diretamente, indiretamente ou mesmo sem perceber (fãs de Cazuza ou não). A
lista tem que começar por João e Lucinha Araújo, literalmente os pais da
criança, e pelo Spacca, grande cartunista e imitador e cazuzófilo sem o qual
este livro é melhor nem pensar, além, é claro, de Ruth Cavalcanti, fã de
primeira hora e batalhadora de sempre; os quatro me deram a honra de
verificar o manuscrito do livro e fazer inúmeras sugestões e corrigendas. E
todo amor que houver nessa vida também para Sylvio Passos, Benê Alves,
Wagner Amorosino, Cristina Azuma, Cal Moreira, Neder Abdalla, Luiz
Tonus, Paulo Cavalcanti, Assis Ângelo, Tom Gomes, René Ferri, Albert
Pavão, José Ramos Tinhorão, Kid Vinil, Língua de Trapo, Espaço Persona,
Mauricio Ruella e Ovelha Negra, Fabian Chacur, Dr. Durval Fernando Tricta,
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Barão Vermelho, João Gordo, Leila Pinheiro, Dilza Mugnaini, Cynthia & Luc
Quoniam, Fernanda Couto, Kiko Vianello, Kie Matsumoto, Adelina Bracco,
Juliana Resende, A.S., Bogô; gravadoras Eldorado, PolyGram e Warner (nos
bons tempos da Cássia Afonso); Márcio e Celso da Rádio Gazeta, 97 FM,
Brasil 2000 FM; lojas Ventania, Faunus, Baratos Afins, Júpiter, Nuvem Nove,
Sweet Jane (watashiwa nani o shimashita ka? Moitido!), Cláudio, Zé Ferreira
e todo mundo da Feira do Bexiga, e pode haver outros nomes, que protejo por
amor, mas não lembro por falha momentânea mesmo.
A.M.J.
abril de 1997

Estudo Crítico

Já faz sete anos que o cidadão Agenor tomou seu trem para as estrelas, após
uma passagem breve porém rica em folclore e peripécias, mas o poeta Cazuza
continua vivo, e o melhor de sua obra ainda faz parte do show de muita gente
boa. Nada mau para um artista popular num país de pouca memória e muitos
rótulos. Além de ser honrosa exceção entre cantores, cuja fama, segundo a
ilustre frase de Tinhorão, "acaba um dia após a morte", Cazuza, embora
surgido como um dos tantos roqueiros dos anos 80, conseguiu transcender o
rótulo de "roqueiro". Nada contra alguém ser roqueiro, claro, mas Cazuza
também era fã de MPB, da qual se tornou ídolo.
Para mim, Cazuza já haveria de ficar na história só por um de seus hits,
"Faz Parte Do Meu Show", uma bossa-nova sem disfarces, embora com sabor
moderno, que se destacou entre os roquinhos e baladonas de 1988 como a
proverbial flor que surge das fendas do asfalto. Façanha esta que considero
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impossível de se exagerar, porque ela mesma já foi um exagero, e até


mereceria um livro para si. Afinal, talvez os anos 80 tenham sido o pior (ou
menos ótimo) período por que passou a MPB, o que valoriza ainda mais esta
poreza (uma entre outras, conforme veremos mais tarde) de Cazuza. Senão,
ouçamos.
Por MPB, entenda-se não somente "Música Popular Brasileira", mas
principalmente - e em princípio - toda a música popular feita no Brasil que não
seja rock. Ou seja, por exemplo, Roberto Carlos, apesar de figura central do
ié-ié-ié, pode ser considerado, em retrospecto, como MPB, por temperar seus
rocks e baladas com sambas, toadas, bossa-novas e até fox-trotes à brasileira
("Amélia" de Ataulfo/Mário Lago; "Ternura Antiga" de Dolores Duran; "Meu
Pequeno Cachoeiro" do conterrâneo Raul Sampaio; suas próprias "João E
Maria" e "Vista A Roupa, Meu Bem"); até "Quero que Vá Tudo Pro Inferno",
com todos seus órgãos elétricos, guitarras idem e rebeldia "infernal", era
sustentada por uma batida de bossa-nova. (Raízes do verdadeiro rock
brasileiro, em oposição ao rock simplesmente feito no Brasil, mesmo que com
qualidade, a partir de modelos estrangeiros.) Mas quando surgiu, no semestre
de 1965, o rótulo MPB designava a fusão de bossa-nova, jazz e velha guarda
(ou seja, o samba tradicional) praticada por artistas como Elis Regina, Edu
Lobo, Jair Rodrigues, Wilson Simonal, Jorge Ben (antes do Jor), o Zimbo
Trio, Nara Leão, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria
Bethania... enfim, todos os que não fossem bossanovistas ou jazzistas
ortodoxos e que não fossem exatamente fãs de ié-ié-ié, que, apesar do nome
abrasileirado, tinha bem nítidas suas origens no "yeah,yeah,yeah" dos Beatles
e, portanto, não combinava com os ideais nacionalistas da MPB. A qual
chegava a promover passeatas contra a guitarra elétrica e a promover festivais
de samba com frases como "Queremos ver os Beatles pelas costas".
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Realmente, nada de muito "politicamente correto", como se diria hoje; para


usar um adjetivo também pouco PC, muitos MPBzeiros mais radicais
aparentavam ser verdadeiros xiitas.
Mas só aparentavam. Uma das comparações mais felizes que já vi na vida é
a de Ruy Castro, que em seu livro Chega De Saudade define a MPB como
"uma espécie de irmã menor do MDB" e que, "não muito por acasso, começou
na mesma época". O MDB, Movimento Democrático Brasileiro, foi criado
pelos militares como uma "Arena do B", para contentar políticos que não
quisessem (ou para os quais não fosse muito conveniente) se filiar ao partido
do governo, a Aliança Renovadora Nacional. Quem votou no período de 1965
a 1982 costumava saber (mas não dizer em voz alta) que escolher entre
candidatos da Arena do MDB era como decidir entre mandioca ou aipim. Se a
Arena era temida como o partido dos milicos, o MDB era um excelente abrigo
para o proverbial cidadão liberal que prega a democracia e o sacrifício mas
cujo maior alívio é não ter que desistir de seus dois carros. Você sabe, aquele
cidadão que diz ser necessário mudar tudo sem mexer em nada, o pequeno
burguês que gosta de tudo diluído, com muitos sonhos e pílulas douradas, que
se considera avô do socialismo só porque seus filhos foram "carapintadas" em
1991, e que pode até achar este livro muito bonito, mas experimente perguntar
a ele sobre este parágrafo e ouvirá as frases imortais, "Deus me ajudou" ou
"Vamos mudar de assunto". (Não é a toa que a maior mudança por que passou
o MDB foi a sigla, para PMDB.)
É claro que, como já dizia o Pasquim, MPB é sempre melhor que MDB.
Radicalismos e estrangeirismos à parte, a primeira fase da MPB, até mais ou
menos 1970, teve muitos ótimos artistas e momentos. Por exemplo, Wilson
Simonal, ao contrário do que aparenta aos olhos de hoje, não foi apenas o
protótipo de garoto-propaganda da Brahma, usando o dedo para reger platéias
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que com ele cantavam "Meu Limão, Meu Limoeiro" num arranjo sacundim-
brega ou para, ao que consta, apontar determinados súditos rebeldes durante a
dinastia dos Médici; melhor é lembrarmos dele por suas interpretações cheias
de balanço e improvisos, embora um tanto "americanizadas" demais, em
gravações como "Garota Moderna" (Evaldo Gouveia/Jair Amorim) ou "Nanã"
(Moacir Santos/Mário Telles). Enfim, escolher os melhores da MPB é questão
de gosto pessoal, e opções não faltam.
Mas, como diz o poeta, há sempre um "mas". A índole pacífica e
versatilidade do brasileiro acabaram, como sói acontecer (gostaram?), caindo
no exagero, e as influências estrangeiras passaram a ser influentes demais. O
rock and roll, surgido nos EUA em 1954 como uma fusão branca de country,
jazz e rhythm & blues, foi bem divulgado - e quase sempre bem aceito - em
todo o mundo. No início, era apenas um ritmo a mais, ao lado do baião, da
polca, do bolero e tantos outros. No Brasil, como em outros países, o rock
pegou pelas mãos e vozes de artistas não-roqueiros: Nora Ney lançou o
primeiro disco, "Rock Around The Clock", em 1955, e o primeiro rock de
compositor brasileiro a chegar ao disco foi "Rock And Roll Em Copacabana",
de Miguel Gustavo (famoso por sambas irônicos como "E Daí? (Proibição
Inútil e Ilegal)", hit com Isaurinha Garcia, marchinhas como "Fanzoca De
Rádio" e "Brigite Bardot" e patriotices como "Pra Frente Brasil"), rock este
lançado por Cauby Peixoto, ele mesmo, professor, em maio de 1957. Apesar
de Juca Chaves cantar já em 1960 que "o rock and roll nesta terra é uma
doença", é bom lembrar que não faltavam antídotos. O hit-parade brasílico,
como o norte-americano, ainda era território livre e democrático, e assim
permaneceu por algum tempo, até daqui a algumas linhas.
Pelas ruas brasileiras de 1964/65 os rádios gemiam, as lojas de discos
bradavam e os passantes assobiavam compactos tão diversos quanto "Garota
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De Ipanema" de Tom/Vinícius, com Pery Ribeiro, "Dominique" da freira


belga Soeur Sourire, "Pau-De-Arara" de Lyra/Vinicius com Ary Toledo,
"Help!" dos Beatles, "La Bamba" com Trini Lopez, "Ti Guarderò Nel Cuore"
com Riz Ortolani (compare esta com "Kid" dos anglo-americanos Pretenders,
de 1980, para ter uma idéia do seu sucesso), "A Taste Of Honey" com Herb
Alpert, "Zorba, O Grego" com Mikis Theodorakis, o folk-rock de protesto
"Eve Of Destruction" com Barry McGuire, "La Mamma" de e com Charles
Aznavour, além de variações européias do twist como "Letkiss" e La Yenka" e
das novidades da Jovem Guarda e da MPB com Elis, Roberto e suas turmas.
Havia discriminações e "igrejinhas", mas era possível escolher de um cardápio
até que bem variado, com o bônus extra de às vezes pular do rádio um Zimbo
Trio ou um Yardbirds. E as tribos rivais da MPB e da Jovem Guarda tentavam
ocasionais aproximações, como quando Silvinha Telles gravava "Não Quero
Ver Você Triste" ou Gil e Caetano perderam o medo das guitarras elétricas e
do rock o suficiente para inaugurar o Tropicalismo.
O engraçado é que, com o tempo, a MPB e o governo sempre trafegaram a
estrada daa democracia em sentidos inversos. O aperto do AI-5 não impediu
que muitos dos melhores astros da MPB, como Chico ou Caetano,
continuassem produzindo com qualidade, ainda que exilados e/ou censurados.
Mas esta mesma censura acabou por atrapalhar e intimidar a fluência de MPB
de qualidade em grande escala, além dos já proverbiais desvios de verbas
(afinal, o Brasil sempre foi um país politicamente corrupto) incluírem uma
descoberta "fenomenal" das gravadoras: para quê gastar dinheiro com
estúdios, fitas ou promoção de artistas brazucas, se era bem mais prático e
econômico recéber uma matriz estrangeira prontinha para lançar? Com tudo
isso, a balança começou a se desequilibrar em favor da música estrangeira - ou
melhor, a pior música estrangeira, de consumo imediato e prazo de validade
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não muito amplo - , e o brasileiro acabava ou caindo fora do Brasil ou


aderindo aos modismos, até gravando em inglês. (Para os adolescentes, a
tragédia era ainda maior, segundo resumiu Cazuza: "A minha geração não
podia falar, então a única maneira que a gente de ir contra aquilo era se
drogando.")
Por volta de 1979/80 a MPB já havia cooptado o rock (ou vice-versa), mas
a "fusion" rock-MPB que as rádios mais tocavam não era a fusão espontânea
ou bem-pensada de um Raul Seixas ou um Tom Zé, mas sim rocks de astros
da MPB ("Eclipse Oculto" de Caetano, "Realce" de Gil), com o rock e a MPB
usando os efeitos de apelo mais fácil um do outro. Do Nordeste, o Sul mal
ouvia Marinês ou Jackson do Pandeiro, preferido diluições sem muita proteína
de Beatles ou Dylan, com muitas guitarras elétricas e uma pitada de sotaque
nordestino, ou seja, rock e MPB feitos para quem não gostava de rock e MPB.
Eram os Ramalhos preparando o terreno para os Maltas. Enquanto isso,
universitários mais radicais faziam o que podiam para se "purgarem" de tanta
imposição cultural ianque - ou melhor, de tanto mau uso e pouco
discernimento de influências estrangeiras. O fim dos anos 70 trouxe o que se
convencionou chamar de "abertura democrática", mas não faltava quem
condenasse os Beatles como "americanos" e achasse Zé Ramalho o máximo -
resquícios do bem-intencionado porém paternalista CPC, Centro Popular de
Cultura, movimento surgido em 1964 por onde Carlos Lyra, Billy Blanco e
outros procuravam conscientizar o povo, reprovando estrangeirismos como
gilete e coca-cola e criticando a "alienaçon", mas não esquecendo os acordes
"estrangeiros" da bossa-nova ou mesmo a balada-rock-doo-wop. Para mim, o
CPC só faltava elogiar o vegetarianismo comendo um big-mac.
Um dos conselhos mais sábios e menos seguidos é "nunca tome o caminho
mais fácil". Cazuza, como já dissemos, pode ter surgido como roqueiro, mas
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foi um dos poucos que tinham plena consciência de que nem tudo era só rock -
nem mesmo o próprio rock, o gênero musical mais aberto a influências
externas, o que ajuda a explicar ter sido ele o genêro mais influente em todo o
mundo. O rock, também como já dissemos, começou sua dominação mundial
em 1955 - mais precisamente em 9 de julho, quando "Rock Around The
Clock", gravada por Bill Haley um ano antes, emplacou o primeiro lugar no
hit-parade norte-americano. Nosso amigo Agenor, portanto, já bebia rock and
roll na mamadeira, não sendo "culpado" por "escolher" o rock anos mais tarde.
E veja só: "Rock Around The Clock" foi gravada em 12 de abril de 1954,
quase exatamente quatro anos antes da chegada de Agenor. Realmente,
Cazuza estava predestinado a ser roqueiro. Só que justamente no mês e ano de
seu nascimento, abril de 1958, foi lançado nada menos que o LP que hoje é
reconhecido como nada menos que o primeiro disco de bossa-nova: Canção
Do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, com músicas de Tom e Vinicius e o
violão ainda anônimo porém já característico de João Gilberto; uma das
faixas, "Chega De Saudade", foi também o primeiro hit de João, alguns meses
mais tarde. (Curioso é que João regravou Lobão mas não Cazuza, embora este
tenha composto em parceria com sua filha, Bebel Gilberto.)
Não é à toa que Cazuza se definiu como "meio bossa-nova, meio rock and
roll". E quando "Faz Parte Do Meu Show" foi lançada, em 1988, estava
completado o ciclo que mencionamos parágrafos atrás, sobre o governo e a
MPB andarem em sentidos opostos: jornais, televisão e discos estavam uma
permissividade só, mas todo e qualquer artista brasileiro (inclusive os grupos
heavy mais radicais que gravavam em inglês) era chamado de MPB.
Pois é, falamos em permissividade, que muita gente confunde com
liberdade; fazer o que se quer não é fazer o que dá na telha. O primeiro Rock
In Rio, em 1985, misturando Kid Abelha, Ivan Lins e Elba Ramalho a alguns
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roqueiros, realizado em janeiro (visando competir frontalmente com o


carnaval, como bem repara Tinhorão), foi o que faltava para que o rock - ou
melhor, algumas de suas características mais óbvias e estereotipáveis -
tomasse conta do Brasil de uma vez. E no ano seguinte veio outro golpe,
vindo, embora indiretamente, de quem menos muita gente esperava: Tom
Jobim, que autorizou um arranjo pop-rock dos menos imaginativos para
"Águas De Março" (cabe aqui outro parêntese de Tinhorão: "Águas De
Março" tem mais que uma ligeira semelhança com a toada folclórica "Águas
Do Céu", portanto "Jobim vendeu o folclore".) Enfim, a década de 80 expirou
com a MPB e o rock tão distintos entre si quanto Coca e Pepsi.
A todo-poderosa Rede Globo de Televisão também não ajudou muito. Foi
ela quem promoveu o último festival de música televisionando de grande
repercussão (malgrado a tentativa da Record em 1992), o "Festival dos
Festivais" em 1985. Apesar de algum ecletismo nas concorrentes, a maioria
era pop-rock, e a emissora, embora não proibisse os sambas, chorinhos e
bossas-novas incluídas entre as concorrentes, cometeu um ato falho ao montar
o palco "como um show de rock", como já admitiam os press-releases do
evento. Pelo menos o "Festival dos Festivais" teve o mérito de revelar
nacionalmente grandes nomes dos anos 80, embora nem todos defendessem
músicas tão boas quanto mereceriam (será que "Escrito Nas Estrelas" ou "Os
Metaleiros Também Amam" motivaram alguém a ouvir outras gravações de
Tetê Espíndola ou do Língua de Trapo?) Uma das poucas boas canções desse
festival foi também, pelo que posso me lembrar, o único sucesso realmente de
MPB e de qualidade desse período, além de "Faz Parte Do Meu Show":
"Verde", do Eduardo Gudin/J.C.Costa Netto, que revelou Leila Pinheiro. E, no
mesmo LP em que incluiu "Verde", Leila também gravou Cazuza, "Todo
Amor Que Houver Nessa Vida".
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Leila é realmente uma cantora sem preconceitos, e os compositores que


gravou são dos mais diversos: Guinga, o francês Erik Satie (1866/1925),
Walter Franco, Bôscoli/Menescal, Chico Buarque. Dos "roqueiros", Leila
favoreceu Cazuza e Renato Russo; como explicou a este que vos escreve, "o
forte em Cazuza e Renato é a poética". Por sinal, Cazuza adorou quando
Renato e o Legião surgiram para o grande público em 1984/5: "Pô, o Renato é
melhor que, eu ele faz a mesma coisa que eu quero fazer... Comecei a sair da
dor-de-cotovelo e resolvi falar do Brasil também."
Mas é impossível falar de Cazuza sem esse seu lado "dor-de-cotovelo",
desbragadamente romântico, a um passo do se-cantar-o-amor-é-ser-brega-
então-eu-sou-brega. A obra de Cazuza mostra um romântico nos dois sentidos
do termo, tanto o amor como temática predominante ("Eu queria fazer uma
música sem o menor espírito crítico, tipo Roberto Carlos, assim, sabe:
'Acorda, meu amor, eu te amo.'") quanto a escola estética do século XIX
caracterizada pelo lirismo e pelo individualismo; o que importa é a visão
pessoal do mundo e das coisas. Até que Cazuza chega perto de Raul Seixas
como um dos compositores que mais falaram na primeira pessoa; "Eu vi a cara
da morte/ e ela estava viva" ("Boas Novas"), "Eu mereço um lugar ao
sol/ganhar pra ser/carente profisional" ("Carente Profissional"), "Meu canto
redime meu lado mau" ("Quando Eu Estiver Cantando"), "Todo mundo tem
um ponto fraco/ Você é o meu, por que não?" ("Ponto Fraco"), "Não me
convidaram pra essa festa pobre/que os homens armaram pra me convencer"
("Brasil"), "Me ame como a um irmão/Mentiras sinceras me interessam"
("Maior Abandonado"), "Pobre de mim que vim do seio da burguesia"
("Burguesia"), "Jogado a seus pés/Eu sou mesmo exagerado" ("Exagerado"),
"Descerebrem-se, celebrem/eu tô aqui pra animar" ("Rock Da
Descerebração"), "Tudo em nome do amor/ Essa é a vida que eu quis" ("Pro
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Dia Nascer Feliz"), "Tomei champagne e cicuta/ com ccomentários


inteligentes/ mais tristes que os de uma puta" ("Só As Mães São Felizes"),
"Gosta de ouvir Lulu Santos/ e acha o Cazuza um anjo" ("A Garota De
Bauru")...
Cazuza deu sua contribuição para tentar limpar não só a MPB, mas também
o rock brasileiro, dos maniqueísmos, cacoetes, primarismos e fórmulas gastas,
tanto na forma quanto na temática. Antes dele. o músico popular só podia
cantar o amor, o protesto (político ou social, velado ou explícito) ou,
raramente, jogos de palavras que no fundo eram apenas suporte para a
melodia, seguindo a estética música-pela-música. Cazuza fugiu da banalidade
chopp-batata-frita e ao mesmo tempo tirou dos roqueiros a vergonha de cantar
eu-te-amo. Os bossanovistas tinham como missão na vida abolir o samba-
canção dos anos 50; Cazuza o recuperou, mas purificado dos exagerados
melodramáticos e "bregas": "Eles, sim, eram exagerados, eu não", afirmou,
"minhas músicas todas têm uma coisa criticando isso."
O samba-canção é uma das maiores influências de Cazuza desde a infância,
quando ele visitava a coleção de discos dos pais, e as regravações de clássicos
do genêro feitas nos anos 70 por Caetano, Bethania e outros ajudaram muito.
Na verdade, o rótulo "samba-canção" já era usado desde os anos 20, para
designar o samba onde o mais importante era a melodia, um samba mais para
ser cantado do que dançado; um dos exemplos mais ilustres (e talvez o mais
antigo) é "Linda Flor (Ai Ioiô)", de Henrique Vogeler/Luiz Peixoto. Foi nos
anos 50 que o samba passou a ser cantado com andamento cada vez mais
lento, dando-lhe semelhança com o bolero, ritmo ideal para expressar fossa,
grande paixão, dor-de-cotovelo. Os grandes mestres deste novo samba-canção
são Lupicínio Rodrigues (1914/1974), Dolores Duran (1930/1959) e Antonio
Maria (1921/1964). Lupicínio deixou "Felicidade ("Felicidade foi-se embora/e
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essa saudade no meu peito ainda mora"), "Ela Disse-Me Assim" ("E o remorso
está me torturando/por ter feito a loucura que fiz") e "Nervos De Aço" ("Você
sabe o que é ter um amor, meu senhor/ter loucura por uma mulher/e depois
encontrar esse amor, meu senhor/nos braços de um outro qualquer"). São de
Dolores "Castigo" ("a gente briga/diz tanta coisa que não quer dizer/briga
pensando que não vai sofrer"), "Fim De Caso" ("Eu desconfio que o nosso
caso/está na hora de acabar/há um adeus em cada gesto/em cada olhar") e
"Ternura Antiga", regravada como dissemos, por Robertão ("vivo só porque te
espero/ai, esta amargura, esta agonia"). Agora, Antonio Maria deve ter sido o
campeão da autopiedade; peça ao garçom um gim com arsênico para ouvir
"Ninguém Me Ama" ("Ninguém me ama, ninguém em quer/ninguém me
chama de meu amor"). "Canção Da Volta" ("Nunca mais vou fazer/o que meu
coração pedir... o coração fala muito e não sabe ajudar") e "Se Eu Morresse
Amanhã" ("não faria falta a ninguém"). Esta escola blues dark de MPB
motivou, além de Cazuza, grandes precursores da bossa-nova como Maysa,
Tito Madi, Jamelão e Agostinho dos Santos; e, com tanto baixo astral, às
vezes é fácil de esquecer que Lupiscínio, Dolores e Antonio Maria também
tiveram momentos leves e alegres como, respectivamente, "Se Acaso Você
Chegasse", "A Noite Do Meu Bem" e "Manhã De Carnaval".
A bossa-nova, música de jovens vivendo todo o otimismo do pós-guerra
nos anos 50, foi totalmente avessa a tais exageros derrotistas, mas seu
otimismo a fez cometer seus próprios exageros, aquela saraivada de
diminutivos e a inflexão vocal apelidada por um crítico de "afônica". Estes são
outros riscos que Cazuza conseguiu evitar. E, por sinal, seu estilo como cantor
no início nada tinha de afônico, pelo contrário, ele gritava ("era para me
defender"). Alguns críticos não gostaram, nem ele próprio, até que por volta
do LP Ideologia resolveu tomar aulas de canto e empostação vocal; "Já que
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estou num palco e as pessoas pagam pra me ver, então eu tenho obrigação de
melhorar". Virou folclore sua autocrítica, quando chegava a impedir que
ouvissem seus discos em sua presença e, se não conseguisse impedir, ficava se
criticando o tempo todo, "errei, desafinei, podia ter feito melhor..." Tanta
autocrítica era contrabalançada quando Cazuza encontrava algum de seus
ídolos cantores, como Ângela Maria ou Elza Soares - consta que, sempre que
encontrava Elza, fosse onde fosse, inclusive na rua, Cazuza não hesitava em se
ajoelhar e lhe beijar os pés. Sim, ele era mesmo exagerado.
E é pena que Cazuza, pelo menos ao que me consta, não tenha conhecido
pessoalmente outro de seus ídolos e seu grande xará, Agenor (nascido
Angenor) de Oliveira, ele mesmo, o Cartola (1908/1980), talvez o melhor
compositor dos morros cariocas, cujas letras emocionadas e melodias quase
sempre avessas a clichês surpreendem até hoje. Tal como Cazuza, Cartola foi
dono de uma inspiração que nem a doença fatal conseguiu abater ou impedir
que ele gravasse quase até o fim da vida (no caso de Cartola, foi um câncer
que ele simplesmente não se preocupou em operar; é pena, quem sabe ele
chegasse a nossos dias, mas enfim...). Após os remorsos e amarguras do
samba-canção e os barquinhos e peixinhos da bossa-nova, experimente os
versos de Cartola, em amostras de 1993 a 1979: "Para ter uma companheira/
até promessas fiz/consegui um grande amor/mas eu não fui feliz/E com raiva
para os céus/os braços levantei/blasfemei" ("Sim"); "A sorrir eu pretendo levar
a vida/Pois chorando/eu vi a mocidade perdida/Finda a tempestade/o sol
nascerá/finda esta saudade/hei de ter outro alguém para amar" ("O Sol
Nascerá"); "Você também me lembra a alvorada/quando chega
iluminando/meu caminho tão sem vida" ("Alvorada"); "Tive, sim/outro grande
amor antes do teu (...) mas comparar com teu amor seria o fim/eu vou
calar/pois não pretendo, amor, te magoar" ("Tive, Sim"); "Vem/tudo é belo
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por onde eu passei/será onde eu passar/Vem/ao meu lado eu sei/vais sorrir,


vais cantar/Não me convence essa tua tristeza/Vem/há um Deus/há uma
natureza" ("Vem"). Não esquecendo, claro, "O Mundo É Um Moinho",
regravada por Cazuza; e podemos lembrar ainda "Ensaboa", lançada em 1975
por Clementina de Jesus e que mereceu um interessante arranjo reggae no
segundo LP de Marisa Monte. É esta, para mim, a distinção entre as letras de
Cartola e as do samba-canção: Cartola blasfema, queixa-se às rosas, reage
contra o sofrimento, em vez de se conformar com ele.
Como todo bom brasileiro, Cazuza não escapou de influências estrangeiras,
mas soube filtrá-las, preferendo a literatura beat dos anos 50 de autores como
Jack Kerouac (de quem Cazuza tomou emprestados os versos "Minha vida que
não me ama, minha amada que não vai me amar: seduzo as duas" na
contracapa do LP Só Se For A Dois e o verso "Só as mães são felizes" para
sua famosa ccomposição deste título, onde Cazuza inclusive cita outro ilustre
poeta beat norte-americano, Allen Ginsberg), a fossa jazzística da cantora
Billie Holiday (1915/1959), a pioneira do blues Bessie Smith (1894?/1937) e o
rock and roll que conheceu melhor ao visitar Londres aos 17 anos, sendo seus
preferidos Janis Joplin (1943/1970, que ele até citou em "A Garota De
Bauru"), os Rolling Stones e o Led Zeppelin. Não é à toa que Cazuza compôs
blues ("Blues Da Piedade") e se notabilizou num grupo de rock, o Barão
Vermelho, opção melhor que as drogas para se enfrentar a repressão brasileira
dos anos 70, como ele mesmo admitiu: "Eu fui salvo pelo rock."
Por falar em rock, Cazuza foi muito comparado a Lou Reed, grande
retratista do submundo, e penso que ele merece outra comparação bem
interessante. Ele é o equivalente brasileiro de outro ilustre letrista e cantor do
rock, Jim Morrison (1943/1971), o famoso vocalista dos norte-americanosThe
Doors. Digo mais: acho que Cazuza superou Morrison em muitos aspectos.
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Antes que você, caro(a) fã dos Doors, exerça sua liberdade de expressão e
escreva para a editora me vilipendiando, vejamos:
1) Ambos eram filhos únicos bem-nascidos. Cazuza, como se sabe, é filho
de João Araújo, diretor artístico de gravadoras, trabalhando em várias desde
1953 ("passei por todas as funções de uma gravadora", diz) até fundar a Som
Livre em 1969, tendo ajudado a revelar Gil, Caetano, Tom Zé, Carlos Lyra,
Ronnie Von e mil outros, e de Lucinha Araújo, cantora bissexta ("minha
carreira é restrita, tipo de dona-de-casa que não tem o que fazer", brinca), com
três LPs gravados (incluindo um tema da novela Sol De Verão, "Tal Qual Eu
Sou", de Vital Lima/Herminio Bello de Carvalho, e que, lançado também em
compacto, inclui no lado-B um belo dueto com Cauby Peixoto em "Falando
De Amor" de Tom Jobim). Jim Morrison, também como se sabe, é filho do
contra-almirante George Steve Morrison. A diferença entre Cazuza e Morrison
é que o mundo demorou para saber do pedigri deste último; o primeiro press-
release dos Doors dá os pais de Jim como "mortos". De fato, não era
conveniente para a imagem de um cantor tão rebelde ter pais tão ilustres. Só
que a atitude de Jim, de fingir ser órfão, está aberta a opiniões diferentes; para
uns é rebeldia, e para outros, nada mais que uma fuga cômoda do problema
que era um roqueiro rebelde ter pais respeitáveis - lembra-se do que falamos
sobre "seguir o caminho mais fácil"? Ao passo que Cazuza não só assumiu
publicamente os pais - afinal, ser bem-nascido não foi culpa dele - como ainda
fez a famosa transição: no começo ele era filho de João e Lucinha Araújo; no
fim, eles passaram a ser pais de Cazuza. Isto é mais do que pode ser dito de
Julian Lennon, Dweezil Zappa, Ataulfo Alves Jr. ou Neusinha Brizola.
2) Ambos soltaram o Édipo, pelo menos em discos. Jim Morrison, você
sabe, fê-lo em "The End": "Papai, sim, filho?, quero matá-lo, mamãe, eu
quero... aaahhhh!!" Cazuza, você também sabe, atacou em "Só as Mães São
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Felizes": "Você (...) nem quis comer a tua mãe". (Ah, sim, ambas também
falam de amigos traídos: "This is the end, my only friend..."; "Você nunca
traiu o teu melhor amigo...") Mas enquanto fica no ar a dúvida sobre as
intenções de Morrison, se ele estava falando ou não a sério (como disse o
crítico Lester Bangs nos anos 70, "a última vez que ouvi "The End", soou
engraçada. (...) a visão de "Rei Lagarto" costumava ser mórbida da maneira
mais óbvia possível, e, portanto, barata."), Cazuza também dá margem a
dúvidas, mas de forma bem mais (intencionalmente) divertida, como chegou a
declarar numa entrevista, ao ser perguntado justamente sobre "Só as Mães São
Felizes" e sua porção edipiana. Além de dizer que faria sexo não só com sua
mãe mas também com seu pai, Cazuza ainda brincou: "Apesar de meu pai e
minha mãe ainda serem bem desejáveis, eles não correm o menor risco
comigo. Eu gosto de broto, pra mim 25 anos já é velho."
3) Ambos trouxeram para o rock letras de estilos até então inéditos no rock:
Cazuza e sua temática de samba-canção, e Jim com suas influências do poeta
francês simbolista, decadente e porra louca Arthur Rimbaud (1854/1891) e do
grande escritor e poeta visionário inglês William Blake (1757/1827). Aliás, o
modo de vida anárquico de malucos como estes pode ser definido como puro
rock and roll "avant la lettre".
4) Ambos se notabilizaram em grupos de rock com muita influência de
rhythm & blues de segunda mão e rock inglês. O Barão Vermelho, não é
segredo algum, sempre adorou os Stones, e os Kinks eram o grupo inglês
preferido de Jim Morrison. E tanto Cazuza quanto Morrison deixaram seus
grupos, mas ambos os brasileiros saíram ganhando, ao passo que Morrison
não teve tempo para uma carreira-solo e os Doors não deram muito certo sem
ele.

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5) Ambos foram eméritos porraloucas, experimentando de tudo em matéria


de sexo, drogas e rock'n'roll. Só que hoje em dia é difícil saber ao certo se a
arrogância de Morrison era ou não a sério ("Eu sou o Rei Lagarto/eu posso
fazer qualquer coisa/posso fazer a terra parar"), ao passo que Cazuza consegue
ser positivo em sua loucura ("eu não posso causar mal nenhum/a não ser a
mim mesmo"). E ambos, infelizmente morreram cedo, Morrison aos 27,
Cazuza aos 32.
A impetuosidade de ambos no amor traduziu-se em música. Morrison
cantou "Alô, eu te amo/você não vai me dizer teu nome?" em "Hello, I Love
You", e Cazuza pediu "Quero alguém pra ter do meu lado... quero alguém/não
sou exigente" em "Eu Quero Alguém". (Curiosamente, já que Cazuza era fã de
velha guarda - e os Doors gostavam de nossa bossa-nova a ponto de usarem
sua batida em "Break On Through", "Light My Fire" e outras -, vale lembrar
que Ismael Silva, por exemplo, já havia usado o mesmo tema em sua "Me
Diga Teu Nome", de 1932: "Tens um olhar que me consome/Por caridade,
meu bem, me diga teu nome".)
6) E nenhum dos dois poderia deixar de fazer alguns escandalozinhos em
pleno palco. Só que os do pobre Morrison foram bem mais descontrolados e
patéticos, como quando ele contou à platéia que ele e uma garota haviam sido
intimidados pela polícia no camarim (tudo bem ser contra a repressão, mas
tem jeito e hora pra tudo, né?), ou melhor ainda, quando ele, caindo de
bêbado, perguntou à casa cheia "You wanna see my cock?" e mostrou seu
pingolim por alguns segundos. Cazuza, além de ocasionalmente mostrar o
traseiro (o que já era quase "de rigueur" em shows de rock nos anos 80), foi
muito mais emocionante ao cuspir na bandeira nacional que lhe atiraram no
palco ao cantar "Brasil". "Fiz de propósito, o cara que me jogou a bandeira era
um ufanista."
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Se o Rei Lagarto podia "fazer tudo", Cazuza também: "É tudo permitido no
palco, depende de seu público gostar, porque se ele não gostar ele te
apedreja... Eu só faço loucuras no palco quando o público está nas minhas
mãos, quando eu sei que posso fazer qualquer coisa que eles vão adorar, como
adoraram eu ter cuspido na bandeira. Foi o meu show mais aplaudido no
Canecão."
Interessante é que, ao contrário do que pareceu para muita gente (inclusive
este que vos escreve), a impunidade de Cazuza por ter cuspido na bandeira
ocorreu pela liberação dos costumes e não em função da doença, que ele já
contraíra, mas só assumiria publicamente quatro meses depois do episódio.
Cazuza teve mais sorte e mais compostura que a maioria dos roqueiros;
embora mais da metade das notícias publicadas a seu respeito fale diretamente
de sua enfermidade, note que esta porcentagem é bem favorável à sua obra -
quase a metade -, ao passo que astros como Madonna, Michael Jackson e Elba
Ramalho, para citarmos apenas três exemplos, têm sido bem mais lembrados
por travessuras extramusicais.
Já se passaram mais de dez anos da divulgação dos primeiros casos da
síndrome de imuno-deficiência (Aids), uma doença realmente zen, que não é
uma doença em si, mas que leva a todas as outras. Cazuza foi uma dentre
outras poucas vítimas do mundo do rock que pipocavam no noticiário
internacional, como o alemão Klaus Nomi e o português António Variações,
até Freddie Mercury (1946/1991), vocalista do grupo inglês Queen, tornar-se o
primeiro superstar do rock a sucumbir à dita. Tanto Freddie quanto Cazuza
sabiam do preconceito que rotulava a Aids como exclusiva de homossexuais
(ambos eram "bi" assumidos) e demoraram para assumir publicamente que
haviam sido vitimados (Freddie, aliás, esperou praticamente até as vésperas de
sua morte, porém ainda o suficiente para mostrar dignidade em lutar contra a
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doença até o fim). Mas, olhando as coisas em perspectiva, a morte de Cazuza,


embora triste, prematura e lamentável, foi natural. Afinal, Cazuza foi um
exemplo de artista que seguiu à risca o existencialismo, viveu-como-quis-e-
morreu-como-quis. Sua Aids foi seu equivalente da tuberculose que levou
Noel Rosa (1910/1937), ou as complicações hepato-pancreáticas que
vitimaram Raul Seixas (1945/1989), ou a infinidade de complicações
digestivas e circulatórias em que culminaram os excessos alimentares e
farmacêuticos de Elvis Presley (1935/1977), sem falar no já citado Jim
Morrison. E para falarmos somente de Brasil, a coragem de Cazuza em
admitir sua Aids era quase inédita, num país em que a culpa pelo que há de
errado é sempre dos outros. Pode reparar: aqui no Brasil, Cazuza é "o único
roqueiro com Aids", do mesmo jeito que, até bem recentemente (quando o
grupo Planet Hemp e outros iniciaram campanha pela liberação da maconha),
Lobão foi "o único drogado", todos os outros ou já experimentaram ou nem
sabem o que é isso. Essa história de "sempre seguir o caminho mais fácil"
implica também em construir desvios e atalhos e promover farta distribuição
de panos quentes ao invés de procurar resolver diretamente os problemas.
O ser humano é reconhecido como o único animal que sabe que um dia vai
morrer, e tem sempre andado às voltas com angústia por seu tempo ser tão
curto, preocupações metafísicas e maneiras de se perpetuar de uma forma ou
de outra. Cazuza, além de ter sido um pouco do "Tutankamon" que disseram
por aí, teve em comum com o roqueiro vanguardista e irreverente norte-
americano Frank Zappa (1940/1993) a consciência de sua já curta vida ser
mais curta ainda e consequente necessidade de deixar mais e mais provas de
sua passagem por este vale de lágrimas (há quanto tempo você não ouvia esta
expressão?); em função dessa mesma urgência, os últimos trabalhos de Zappa
(desde 1983) e Cazuza (Burguesia e Por Aí...), estão, para alguns críticos,
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ligeiramente aquém da excelência que ambos sempre mantiveram. Hoje,


ouvindo-se objetivamente estes dois últimos discos de Cazuza, nota-se bons
momentos comparáveis ao melhor de sua obra ("Quando Eu Estiver
Cantando", "Andróide Sem Par", "Perto Do Fogo") ao lado de músicas até
hoje polêmicas ("Eu Agradeço" assemelha-se um pouco demais a "Blind" dos
Talking Heads, e eu, pelo menos, ainda não consegui entender porque Cazuza
precisou esculhambar a indefesa Janis Joplin em "A Garota De Bauru").
Já bastante debilitado mas ainda com a cabeça a dez mil e com a mesma
fome de bola de sempre, incapaz de simplesmente se entregar à doença,
continuando a gravar e fazer shows até onde fosse possível, chegando a gravar
algumas faixas deitado, Cazuza conseguiu ir tão longe quanto Jimmie Rodgers
(1897/1933), o chamado "Father of Country Music" e primeiro superstar do
gênero, vítima de tuberculose, a qual, contudo, não o impediu de gravar até a
antevéspera de sua morte; a gravadora teve que providenciar uma maca
especial no estúdio para Rodgers repousar entre as tomadas.
Enfim, Cazuza, como todo ser humano, teve suas virtudes e defeitos, mas,
como nem todo ser humano, conseguiu fazer com que as primeiras se
destacassem mais que os segundos. Ele deveria ter gostado das melhores
brincadeiras feitas com ele (como as paródias do cearense Falcão, "eu sei que
a burguesia fede/mas tem dinheiro pra comprar perfume", ou deste que vos
escreve, "imunologia, eu preciso de uma pra viver", sem falar nas grandes
imitações de seu tiete e não menos grande cartunista e imitador Spacca).
Apesar de admitir que era, antes de tudo, um letrista, Cazuza conseguiu
triunfar também como ocasional melodista (tocava um pouco de violão, mas
dizia que preferia compor em parceria, "um disco com material só meu seria
um bode") e intérprete de estilo todo pessoal, mais recitando do que
propriamente cantando, inclusive composições alheias (reparaste como os fãs
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que compareceram a seu enterro cantaram "Vida Louca Vida", hit de Cazuza e
Lobão, composta por este e Bernardo Vilhena?).
Ao lado do Barão, Lobão e outros, Cazuza trouxe maturidade para o rock
carioca, até então lotado de garotinhos e garotinhas perdidos na selva com
chopp e batata frita, sem, contudo, desperdiçar munição histericamente em
cima de presidentes mauricinhos. Ele passou por cima de rótulos e polêmicas
como rock X MPB, elite X povão, refinamento X breguice, engajamento X
alienação, loucura X caretice, vaidade X desleixo, paulistas X cariocas X
baianos (Cazuza foi amigo e/ou parceiro de todos).
Não uma pessoa acima de contrastes, Cazuza se divertia ao contar seus
pequenos desajustamentos com o mundo real. "Não sei cuidar das coisas,
imposto de renda me dá tique nervoso. Tenho que chamar um amigo pra
resolver pra mim, este ano [1985] perdi até o lance da restituição, por não ter
guardado nenhum comprovante. Sou meio dessituado, meio perdido. O carro
morre no meio da rua porque esqueci de pôr gasolina." Lucinha Araújo lembra
outra do filhote, em 1989: "Na realidade, sou eu quem toma conta do dinheiro
dele. Quando ele começou a ganhar dinheiro, em 82, no tempo de Bete
Balanço, chegou um dia me trazendo um cheque todo amassado de Cr$
200,00, para que eu pagasse suas contas de luz e telefone, que não chegavam a
Cr$ 10,00. Fiquei apavorada: vi que ele não tinha a menor noção do valor do
dinheiro. Perguntei-lhe então o que devia fazer com o troco: 'Fica de presente
pra você!' Então me horrorizei: 'Como é que você pode me dar 95% do que
ganha como presente?', perguntei. Em seguida, sugeri que me desse uma
procuração para que eu pudesse cuidar dos seus interesses financeiros. Ele
concordou e parece que valeu." E Pelé iria se deliciar com outra confissão de
Cazuza: "Quando fui votar, não sabia direito como fazer."

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Mas até que Cazuza não se saiu tão mal para um garoto brasileiro típico da
"geração Nova República", espremido entre o milagre econômico dos anos 50
e a repressão das duas décadas seguintes, "uma moçada que cresceu vendo
TV, dividida entre o medo e a ignorância", como admitiu o próprio Cazuza. O
qual, contudo, nasceu com tutano suficiente para não se deixar cooptar por
candidatos à presidência da República ou gravadoras que desejavam lançá-lo
como "ídolo gay" logo que saiu do Barão. Pois é, na ânsia de vender, as
gravadoras costumam se esquecer do que vende.
Filho de artistas, ídolo de muita gente, incluindo outros artistas, Cazuza foi
ele mesmo um artista certo na hora certa. Quatorze anos após seu primeiro
disco, o tempo não pára de mostrar que o melhor de sua obra realmente ficou,
não só para alimentar o eterno debate letra-de-música-é-ou-não-é-poesia, mas
também como uma bela e eficiente crônica do Brasil neste fim-de-século,
sempre com sob uma visão toda pessoal e, melhor ainda, com um senso de
herança e traição bem aplicada ao presente, embora de interesse restrito (ao
menos por enquanto) ao Brasil. E Cazuza aproveitou bem seu pouco tempo
neste planeta, dentro da tradição de um Noel Rosa ou Aluísio de Azevedo.
"Meu canto é o que me mantém vivo"; de fato, enquanto a troposfera
continuar propícia à propagação dos sons ou a poluição não impedir a leitura
dos encartes dos discos com as letras, o poeta Cazuza continuará vivo. É!

Cronologia

1958

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4 de abril - Nasce Agenor de Miranda Araújo Neto, filho único de João


Araújo (nasc. 1935) e de Maria Lúcia Araújo (nasc.1936), no bairro da zona
Sul carioca do Botafogo, na Casa de Saúde São José.
O nome Agenor é homenagem ao avô paterno. "Meu avô morreu dois anos
antes de eu nascer, mas para mim é muito importante, uma figura presente." O
pernanbucano Agenor de Miranda Araújo foi vítima de sífilis aos 28 anos,
vindo a contrair arteriosclerose precoce dez anos depois e vivendo mais vinte
como, segundo a família, um doido alegre. Cazuza ainda há de compor
"Nabucodonosor" em homenagem ao avô ("Nabuco me ensinou/ a ser louco
como eu sou").
O apelido "Cazuza" também é herança nordestina, sendo expressão
pernambucana para "molequinho"; nada a ver, ao contrário das aparências,
com Cazuza, clássico da literatura infanto-juvenil lançado por Viriato Corrêa
em 1937 (e escrito, segundo o próprio Viriato, a partir de histórias de infância
contadas por um senhor de quem ele só conseguiu apurar que atendia pelo
apelido de Cazuza e faleceu, veja só, em Pernanbuco).

1961
Cazuza ganha uma bola de futebol do pai e, para surpresa geral, nem pensa
em sair chutando, driblando e goleando: pega a bola no colo e a nina como se
fosse uma boneca. "Foi a primeira decepção que meu pai teve comigo."

1963
Primeiros "shows" do futuro cantor: Cazuza transforma a mesa de centro da
sala de visitas num palco, faz de uma vassoura seu microfone, dubla discos na
vitrola e faz vibrar a platéia seleta, composta de seus pais.

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1964
Entra para a escola Chapeuzinho Vermelho, e é aí que tem sua primeira
grande decepção ao descobrir que seu nome é Agenor e não Cazuza. E só vai
se conformar ao descobrir que o cantor/compositor Cartola, um de seus ídolos,
também se chama Agenor.
Sempre mimadão, Cazuza tem vergonha (embora mais tarde venha a se
orgulhar) de contar aos amigos que sua mãe é costureira (a transição da classe
média para alta virá com o tempo).

1965
Após a breve primeira fase do "showman", nascem o geógrafo e o escritor.
Cazuza passa horas esquecidas em seu quarto devorando a Enciclopédia Barsa
e estudando mapas-mundi, a ponto de virar consultor geográfico dos colegas
de escola. E descobre o prazer de escrever, redigindo seus primeiros textos.

1966
Após viajar pelo mundo, Cazuza torna-se urbanista, estudando tudo sobre
cidades, planejamento urbano e construção civil, fazendo maquetes e
construindo uma cidade atrás da outra.
Mas, entre a investigação de um mapa ou a construção de uma metrópole,
Cazuza sempre arruma tempo para escrever. Seus pais sempre hão de se
lembrar da máquina de escrever batucando noite adentro. "Eu não poderia
imaginar que eram letras de música e poesias o que ele escrevia", conta João
Araújo.

1967

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A esta altura diretor artístico da gravadora Philips, João Araújo sempre


recebe em casa visitas de grandes nomes da MPB, como Caetano Veloso, Elis
Regina, Jair Rodrigues e Gilberto Gil. Dá para imaginar a emoção de Cazuza
no meio de tanta gente boa; ele jura que ainda vai ser igual a eles.

1968
Cazuza entra para o Santo Inácio, um colégio de padres. Mas a esta hora
sua grande religião é mesmo a música, e seus santos graais são os discos do
pai, especialmente Cartola, Maysa, Lupicínio, Dolores Duran e Nelson
Gonçalves.
Dezembro - O governo militar mostra sua cara com o Ato Institucional (ou
melhor, inconstitucional) nº 5, e a casa de João Araújo acaba se tornando um
grande quartel-general da MPB.

1970
Hei, rei! João Araújo leva Cazuza para visitar Roberto Carlos, gravando no
recém-criado estúdio da Som Livre. "Ele me convidou para ir tomar um
refrigerante com ele numa padaria ali perto", recordará Cazuza, "e eu queria
andar devagarinho para que as pessoas vissem que estava ali, uma criança
orgulhosa por estar do lado dele." Cazuza só reencontrará Roberto
pessoalmente bem mais tarde, já fora do Barão. "Ele precisava do estúdio
onde eu estava gravando, me ligou e disse: 'Ô, meu Barão...' Eu respondi que
não era mais o Barão, mas ele disse que eu vou ser sempre. E ele está certo, eu
vou ser sempre um Barão Vermelho. Ele é o Rei e me elegeu seu Barão."
E o "bunker" dos Araújo recebe novos hóspedes ocasionais: os Novos
Baianos, que transformam o apartamento em, o que mais poderia ser, uma
comunidade hippie. Cazuza se encanta com o espelho retrovisor que Baby
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Consuelo usa na cabeça: "O que eu mais queria na época era um espelho
igualzinho pra mim."
Além de se declarar "comunista convicto", só de pirraça contra Médici,
Cazuza inicia sua vida de bôemio e trava seu primeiro contato com a
maconha. "Fumei meu primeiro baseado, olhei para as estrelas e pensei que a
maconha era o máximo."
Mais divertida é sua expulsão do Colégio Santo Inácio, por ultrapassar o
limite de recuperações e da paciência dos padres, com sua rebeldia (incluindo
uso de maconha nos corredores). Lucinha Araújo resolve levar Cazuza para
uma escola mais liberal, o Anglo-Americano. Bota liberal nisso: "Lá encontrei
a minha verdadeira turma", dirá Cazuza. "Quase todo mundo da minha classe
fumava e cheirava. Era o paraíso."
A paixão de Cazuza pelas drogas - "única maneira de ir contra aquilo tudo",
já que era ditadura e "a gente não podia falar, não podia fazer nada" - o leva a
ser detido várias vezes por posse de maconha. "Geralmente eu ia para a 14ª
Delegacia, em Copacabana, e meu pai ia lá me soltar."

1973
As detenções de Cazuza por porte de drogas já chegam a oito, e o filho
pródigo vive às turras com seus pais. "Eu chegava e, como bom ariano, ao
invés de abrir a porta eu derrubava na porrada. A minha adolescência foi
muito sofrida, tive muitos problemas, mas hoje em dia meus pais são meus
melhores amigos."
Por esta época, Cazuza tem sua iniciação sexual, numa festa de amigos em
Petrópolis. "Foi na minha fase meio pirada. Eu estava 'alto' e a menina me
pegou meio à força. Ela era sapatão... Fui currado", contará Cazuza doze anos

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mais tarde, às gargalhadas. "Depois a gente se namorou, mas aquilo não era o
que ela queria."

1974/75
Até agora, Cazuza não é muito amigo de rock and roll. "O máximo que eu
curtia eram coisas do tipo 'Alone Again (Naturally)' [megahit pop do inglês
Gilbert O'Sullivan], água com açúcar." A coisa muda quando Cazuza vai
passar umas férias em Londres, com um primo ("mais ajuizado"). E Cazuza
volta sem falar inglês, mas com muito rock na cabeça, especialmente os
Stones, Led Zeppelin e Janis Joplin. "Aos 17 anos fui salvo pelo rock."

1976
Como todo garoto vindo de classe média, Cazuza tem que trabalhar ou
estudar bonitinho. E João Araújo o aperta para prestar vestibular, oferecendo
motivação não muito acadêmica: se passar, Cazuza ganha um TL usado (não
um Fusca zero quilômetro, como dirão alguns). Cazuza é aprovado em
Comunicação e ganha o carro.

1977
Após três semanas de aulas na Hélio Alonso, Cazuza abandona a faculdade
- afinal, ele só prometera entrar na faculdade, não fazer o curso todo, e trato é
trato, não é? Muito bem: sempre compreensivo, João Araújo lhe arruma então
um emprego em sua gravadora, a Som Livre, onde Cazuza acaba fazendo um
pouco de tudo: redação de press-releases, assessoria de imprensa, até seleção
de fitas-demo a serem submetidas posteriormente ao diretor artístico.

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1979
Cazuza recebe proposta de promoção na Som Livre, mas acaba recusando
por um motivo muito simples e decisivo: um artigo de jornal dizendo que
somente 20% da humanidade faz o que gosta.
Deixando a Som Livre, escrevendo ainda amadoristicamente, sem
perspectiva alguma, Cazuza resolve sair um pouco do Brasil. E vai para San
Francisco, na Califórnia, onde divide um apartamento com um chinês e estuda
pintura e fotografia. E faz contato com uma de suas grandes influências: a
literatura da "beat generation" os anos 50, pais dos hippies, cujos grandes
nomes são Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
Cazuza só fica oito meses nos EUA. "Eu sempre fui patriota, de gostar de
ser brasileiro, tanto que eu voltei correndo", comentará anos depois. "Sou
daquelas pessoas que têm amor à terra, mesmo na época da ditadura, com
aquele clima tenso, militarismo..."

1980
Sai Do Mesmo Verão, LP de Lucinha Araújo, pela RCA.
Cazuza se enturma com o pessoal do grupo performático Asdrubal Trouxe
O Trombone, que, junto com um agitador cultural chamado Perfeito Fortuna,
pensa em erigir um circo na Praia do Arpoador - o qual acaba realmente sendo
erigido: o Circo Voador.
Cazuza participa da peça Pára-Quedas Do Coração, fazendo uma imitação
humorística do musical A Noviça Rebelde (de Richard Rodgers/Oscar
Hammerstein II), do qual canta hits como a valsa "Edelweiss"; "Canta muito, e
muito bem, foi muito bonito", lembrará Lucinha.

1981
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Sua próxima peça é infantil, e seu papel é sob medida, o de filho mimado; o
elenco inclui Carla Camurati, Bebel Gilberto e Rosane Goffman.
Outubro - O desempenho de Cazuza chama a atenção de Léo Jaime, ele
mesmo cantor de rock and roll. Léo sugere que Cazuza visite os ensaios de um
grupo de amigos seus que procura um vocalista - o Barão Vermelho. E lá vai
Cazuza ver o bairro do Rio Comprido tremer ao som desses garotos que tocam
uma mistura de Stones e Zeppelin no último volume. Cazuza e o Barão se dão
muito bem; inclusive Cazuza mostra suas poesias a alguém pela primeira vez,
compondo cinco músicas com o guitarrista Roberto Frejat (nasc. 1962) logo
na primeira semana., o Barão acaba por chamar a atenção do produtor,
jornalista e agitador Ezequiel Neves (nasc. 1936), que já dera muita força para
grupos como Made In Brazil e resolve fazer o mesmo com o Barão após ouvir
uma fita demo (aliás, antes de Ezequiel, esta fita esteve com Nelson Motta,
que também adorou). E tudo isso sem o conhecimento de João Araújo -
imaginem sua cara: "Um dia, depois que voltei de uma viagem, a Lucinha me
disse 'seu filho vai estrear hoje à noite, num bar chamado Calipso, com um
conjunto chamado Barão Vermelho'. Foi um susto vê-lo naquele show meio
mambembe..."
O trabalho que Ezequiel Neves e Guto Graça Mello (maestro e produtor da
Som Livre) tiveram para convencer João Araújo a aceitar seu filho no Barão
Vermelho e, ainda por cima gravar o grupo na Som Livre foi muito bem
definido pelo próprio João como uma "catequese". "O Ezequiel Neves e o
Guto Graça Mello é que me fizeram ouvir com atenção as músicas do meu
filho. Mas confesso que não foi no primeiro dia que eles conseguiram isso. Foi
só lá pelo terceiro, quarto dia, depois de muita catequese, que decidi ouvir as
fitas que me levavam." E João custou, mas acabou gostando: "Achava um som
meio sujo. Só descobri o talento do Cazuza depois de Exagerado, seu primeiro
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LP solo." Convencer João Araújo a gravar o Barão na sua própria gravadora


também não foi muito fácil: "Como fui filho de dona de ginásio, sei o quanto é
duro ser filho do dono."

1982
E lá está o Barão Vermelho gravando no estúdio da Rua Assunção.
Julho - Chega às rádios "Down Em Mim", composição somente de Cazuza,
única faixa do primeiro compacto do Barão, visando promover o primeiro LP
do grupo.
Agosto - Sai o primeiro LP, Barão Vermelho. Apesar da promoção, dos
elogios da imprensa (na maioria espontâneos, bem entendido) e da presença de
futuros clássicos como "Ponto Fraco" e "Todo Amor Que Houver Nessa
Vida", o disco não vende lá essas coisas. "Foi muito mal gravado", comentará
mais tarde o contrabaixista Dé, "mas tinha as letras do Cazuza, que eram
fortes."
Para muitos, a única distinção imediata do Barão é ter um vocalista filho do
dono da gravadora, que canta berrando e, ainda por cima, tem a língua presa.
Mas o LP já abre com Cazuza berrando "pouco importa que essa gente vai
falar, podem falar mal, eu já tô rouco, louco..."

1983
Mas quem fala muito bem do Barão é Caetano Veloso, de quem chegou a
vez de tietar aquele garotinho cujo pai ele visitava nos longínquos anos 60.
Tendo-lhe chegado aos ouvidos o LP do grupo, Caetano se encanta com
"Todo Amor Que Houver Nessa Vida" e a inclui no show de lançamento de
seu novo LP, Uns. Em troca, o Barão passa a cantar uma música deste LP,
"Eclipse Oculto".
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Janeiro - A RCA lança o LP Tal Qual Eu Sou de Lucinha Araújo.


Agosto - Sai o segundo LP do grupo, cujo título segue o exemplo de seus
grandes ídolos, Stones e Zeppelin: Barão Vermelho 2. A qualidade sonora é
bem melhor que a do primeiro LP, mas as vendagens nem tanto.
Ainda este ano, é a vez de outro grande medalhão da MPB pescar uma
música do Barão: Ney Matogrosso, com "Pro Dia Nascer Feliz". Ney telefona
para Cazuza a fim de lhe pedir permissão para cantar a música: "Aqui é Ney
Matogrosso!" Cazuza, que estava dormindo, responde "E aqui é a Gal Costa!"
e bate o telefone. Naturalmente, tudo acaba se esclarecendo e "Pro Dia Nascer
Feliz" torna-se um dos grandes hits de Ney. "Ele foi nossa fada-madrinha",
resumirá Cazuza mais tarde.
E estréia o filme Bete Balanço, cuja música-tema, composta e interpretada
pelo Barão Vermelho, coloca o grupo de vez na berlinda (gostaram?). De
quebra, o Barão participa do filme.

1984
Agosto - O Barão Vermelho já conhece a consagração, que veio com uma
boa ajuda de shows por todo o Brasil. E nesta data lança seu terceiro LP,
Maior Abandonado, puxado por hits como a faixa-título, "Bete Balanço", "Por
Que A Gente É Assim?" e, de quebra, "Baby Suporte" entra na trilha da
novela Corpo A Corpo.
17 de outubro - O Barão vem a São Paulo estrear seu show Maior
Abandonado, no Radar Tantã, e se hospeda no hotel Brasilton. Após o show, o
grupo dá uma festa no próprio local.
18 de outubro - A cozinha do Barão (Dé e Guto) fica num quarto. Logo de
manhã, batem à porta. Dé acorda, vai atender e... "quando abri estava lá o
próprio delegado [Paulo] Fleury, com uma arma na minha cara e eu nu." E lá
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vai o Barão (exceto Cazuza, que divide um quarto do hotel com Ezequiel
Neves) para a delegacia, onde ficam até as 20h; Cazuza fica indignado por ter
saído "limpo" e exige ser preso também.. "A gente tinha dois shows naquela
noite", continua Dé, "pagamos a fiança e fomos direto para o Juventus lotado".
Isto é, direto mas nem tanto: saem da delegacia distribuindo autógrafos para
uma multidão de fãs. E os shows são um grande sucesso.
19 de outubro - De volta ao Rio, o Barão vê as manchetes: "Barão
Vermelho preso por droga". Frejat: "A polícia achou que ia encontrar de tudo.
E, nada, plantaram lá um pouco de fumo." Consta que o próprio Fleury, ao ver
a repercussão do fato na mídia, disse a Cazuza: "Agora sim, vocês são uma
banda de rock porque vocês dançaram. A Rita Lee passou a vender 400 mil
cópias depois que foi presa." Para Ezequiel Neves, não só o Barão se
beneficiou da promoção: "Era uma armação do Fleury para se promover.
Antes de entrar no hotel ele já estava dando entrevista para as televisões. Eles
tentaram de tudo para pegar o Cazuza, que era o mais escandaloso, a vitrine do
grupo." A bola sete fica para Frejat: "O único que não dançou foi o Cazuza.
Ele ficou puto da vida por não ter dançado."

1985
20 de janeiro - Já que é para o rock tomar conta do Brasil, que seja do
melhor: o Barão abre a última noite do Rock In Rio. Cazuza canta abraçado à
bandeira brasileira - e ela não fará parte de seu show pela última vez.
Maio - "Eu Queria Ter Uma Bomba" sai em compacto e está na trilha da
novela A Gata Comeu.
A esta altura, o Barão Vermelho já é artista do primeiro time, além de se
notabilizar como o primeiro grupo de rock a se apresentar ao vivo em todos os
principais centros urbanos do Brasil. "Foi uma oportunidade de conhecermos
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o Brasil", recorda Frejat, que aproveita para interpretar: "talvez por toda essa
absorção de informações distintas, e por uma interpretação diferenciada,
houve um abismo tão grande entre o que a banda queria fazer e o que o
Cazuza estava pretendendo."
De fato, o Barão quer continuar fazendo rock and roll, ao passo que Cazuza
quer mesclar ao grupo suas influências de samba-canção. "Havia duas forças
de direcionamento artístico", diz Frejat. "Durante um tempo essa fricção fez
coisas produtivas, depois elas tenderam a virar inimigas."
Esta "inimizade" chega a transparecer em entrevistas à imprensa, como ao
Jornal do Brasil, quando Cazuza diz que "todo mundo virou roqueiro, não tem
mais ninguém fazendo samba-canção. Precisamos redimir a música
brasileira". Frejat interrompe o discurso de Cazuza, dizendo que é "papo de
velho dos anos 60", além de desligar o gravador do repórter dizendo "isso não
faz parte da entrevista do Barão Vermelho".
Mais um show no Radar Tantã traz mais emoções, desta vez antes do grupo
subir ao palco. "Eu brigava muito com eles", lembrará Cazuza, "porque o
Frejat é todo certinho, supercareta, e eu , louco do jeito que era, às vezes não
combinava muito, na estréia desse show, tocou a campainha para a entrada e o
Frejat veio me chamar. Eu estava cheirando uma e disse 'Já vou'. Ele ficou
puto, saiu batendo a porta. Eu fui atrás dele e, quando ele saiu, deu um chute
de retro na porta e ela bateu na minha cara, fiquei todo sangrando. Xinguei ele
à beça. Frejat, todo preocupado, me pedia desculpas... Fui para hospital, me
costuraram e o médico disse 'você só não pode abrir a boca'. 'Mas como?! Eu
vou subir ao palco agora!' E o show acabou sendo o máximo!"
As brigas entre Cazuza e o Barão também são o máximo. "O final da época
com o Cazuza foi uma das coisas mais horríveis", recorda Guto. "No ônibus,
de manhã, nas turnês, já estavam todos de mau humor, era uma neurose pura."
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Dé: "Muitas coisas influíram na saída dele. O Frejat queria cantar uma música
e o Cazuza morria de ciúmes." (Aliás, todos no Barão estavam querendo
cantar.) A imprensa não ajuda muito, promovendo o grupo como "Cazuza e o
Barão Vermelho". Nem os vários "amigos", que desde o primeiro disco já
vinham dizendo a Cazuza que só ele prestava no grupo. Cazuza chega a pensar
em sair do Barão e fazer dupla com Frejat; Ezequiel Neves, eterno produtor e
"madrasta" do grupo, é a princípio contra a saída de Cazuza, mas acaba
concordando.
Uma semana antes do início das gravações do quarto LP, Cazuza tem uma
conversa com Ezequiel. Cazuza se sente culpado pela situação e reluta em
deixar o grupo: "Eles casaram, estão comprando casas, têm filhos, como é que
vou deixá-los na miséria?" Ezequiel: "Eles têm força, e você vai cair fora
agora." De modo que, no momento de assinar o contrato para o novo LP,
Ezequiel e Cazuza comparecem para anunciar que Cazuza está fora. Para
Ezequiel, não importa que o Barão esteja no topo do sucesso, com muita grana
entrando: "Não tem mentira no rock and roll."
Agosto - De modo que Cazuza anuncia oficialmente sua saída do Barão
Vermelho, um dia após Maior Abandonado ser agraciado com o Disco de
Ouro.
Por esta época, Cazuza começa a se queixar de ter febre todo fim de tarde.
"Naquela época eu não estava nem aí, nem poderia imaginar que pudesse estar
com Aids, tomava duas aspirinas e caía na noite." Este "não estar nem aí" será
motivo para um de seus raros arrependimentos: "Se nesse começo eu tivesse
ido logo a um médico, hoje estaria muito melhor." Aliás, Cazuza adoece após
voltar de um show no Nordeste e o médico diagnostica uma infecção
bacteriana. "Estava com o organismo fraco, muita noitada", admite Cazuza.

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Novembro - Sai Cazuza, seu primeiro LP-solo, que, apesar de não ter título,
acaba conhecido pela faixa de maior sucesso, "Exagerado". E neste disco não
faltam hits: "Codinome Beija-Flor", "Mal Nenhum" e uma das últimas faixas
vetadas para execução pública pela censura federal, "Só As Mães São
Felizes". Os parceiros nas composições, além do sempre amigo Frejat (único
membro do Barão sinceramente amigo de Cazuza, segundo Lucinha Araújo) -
"Foi só a gente se cruzar no primeiro Chacrinha que tudo voltou como antes" -
incluem Lobão, Leoni (ex-Kid Abelha) e Zé Luiz (saxofonista da banda de
Caetano Veloso).
Ainda em novembro, Cazuza, ao lado de Erasmo Carlos, Lobão, Renato
Russo, Paula "Kid Abelha" Toller, vários Titãs e muitos outros, participa de
"Uma Só Voz", compacto distribuído aos ouvintes da Rádio Cidade FM de
São Paulo.
E ainda em 1985 participa de uma faixa de Fagner, LP sem título do
próprio.
1986
Janeiro - Primeiro show-solo, em Vitória, Espírito Santo.
Ainda este ano, não é por ser filho do dono que Cazuza escapa de
desligamento da Som Livre, que decide parar de trabalhar com um elenco e se
dedicar exclusivamente a trilhas de novelas e seriados. E Cazuza passa o ano
procurando gravadora nova, ou melhor, sendo procurado por elas (uma oferta
que recusa é da Warner, que pretendia lançá-lo como ídolo gay) e
desmentindo os já insistentes boatos de que estaria com Aids. "Ora, hoje em
dia é só alguém ter febre e todo mundo já acha que ele está com Aids. Eu não
vou ter Aids."

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E a SOCINPRO (Sociedade Brasileira de Intérpretes e Produtores


Fonográficos) premia o Barão (ainda com Cazuza) como melhor conjunto de
1985.
Abril - Sai novo LP do guitarrista Celso Blues Boy, com participação de
Cazuza numa faixa.
Maio - Numa entrevista para a Bizz, Ezequiel Neves diz: "Tenho cinqüenta
anos e quero viver quinhentos para ver tudo." Cazuza: "Não quero viver nem
oitenta, se disso depender abdicar de todas as minhas loucuras."

1987
Início - Cazuza volta ao Brasil e consegue abandonar as drogas, a boemia, a
bebida e o cigarro. Além de fazer análise, preocupar-se mais com seu lado
religioso e entrar na alimentação natural. Nada mais de ir dormir quase de
manhã e acordar no meio da tarde.
Março - Sai o segundo LP solo, Só Se For A Dois, pela PolyGram, onde se
destaca "O Nosso Amor A Gente Inventa".
Abril - Continuam as sensações estranhas, desta vez com mais força e
insistência; então Cazuza resolve tirar a cisma e fazer o teste anti-Aids.
Infelizmente, dá positivo. Após ver o resultado no consultório médico, Cazuza
vai a uma praia próxima. "Sentei num banco diante do mar e fiquei apavorado,
pensando" eu vou morrer, eu vou morrer." Chegando em casa, Cazuza tem a
primeira de várias depressões (chegando, em duas destas crises, a jogar vasos,
cristaleiras e garrafas pelo ar), mas os pais lhe dão todo o apoio, internando-o
em clínicas no Rio e depois em Boston. "Eles não saíram do meu lado um
minuto. Minha mãe foi uma leoa, ficava ao lado da minha cama e nem deixava
que as enfermeiras me tocassem. Eu queria sair do hospital, queria acabar logo
com tudo aquilo, mas ela me mandava ficar quieto, e eu ficava." Cazuza só
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não fica quieto o suficiente para compor músicas que entrarão em seu próximo
LP: "Blues da Piedade", "Boas Novas", "Orelha De Eurídice".
Agosto - A ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos) divide
entre Cazuza e Chico Buarque o prêmio de melhor letrista de MPB de 1986.
Outubro/novembro - Cazuza interna-se numa clínica em Boston, nos EUA.
Dezembro - Até agora, só os pais de Cazuza e os amigos mais íntimos,
como Ezequiel e Frejat, sabem de sua doença. Ao voltar da internação, Cazuza
reúne em casa todos os amigos para lhes dar a notícia. "Disse a eles que era
Aids mesmo, que a gente tinha de curtir porque eu não sabia quanto tempo
mais iríamos ficar juntos. Depois dessa reunião me senti melhor." Só que o
grande público e a imprensa ainda não tiveram a confirmação, embora
desconfiem.
Ainda em 1987, Cazuza compõe dois temas de filmes: "Um Trem Para As
Estrelas", em parceria com Gilberto Gil, para o filme homônimo de Cacá
Diegues, e "Brasil", para Rádio Pirata de Lael Rodrigues."Um Trem" acaba
não entrando no filme, mas o próprio Cazuza sim.
1988
Abril - Sai o novo LP-solo, Ideologia.
Junho - Cazuza tem uma conversa com a mãe: "Se algum dia eu morrer,
vocêvai ser uma daquelas mães chatas, vestidas de preto, sempre chorando, ou
vai ser como a Regina Gordilho [vereadora do PDT do Rio, cujo filho foi
morto por PMs]? Lucinha: "Você quer que eu seja como?" Cazuza: "Eu quero
que você tenha a força da Regina Gordilho."
Agosto - Cazuza participa de Cartola - Bate Outra Vez, disco que
homenageia o 80º aniversário de nascimento de um de seus ídolos, o
compositor Cartola.

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17 de agosto - Estréia em São Paulo, no Aeroanta, o show Ideologia. O


diretor é nada menos que sua "fada-madrinha", Ney Matogrosso. "O Ney me
ensinou coisas em Ideologia que eu vou levar por resto da vida. Agora eu fico
com os braços mais quietos, não mexo tanto com as mãos e, se mexo, mexo
com as duas mãos iguais." E todas as mãos da crítica também se mexem
iguais, para aplaudir: Ideologia é considerado o melhor show de 1988.
16 de outubro - Ao terminar a temporada do show Ideologia no Canecão,
durante a música "Brasil", alguém lhe joga uma bandeira e Cazuza não
titubeia em cuspir nela. "Fiz de propósito, o cara era um ufanista."
18 de outubro - Cazuza escreve uma carta sobre o episódio da cusparada na
bandeira, que só será publicada após sua morte, no Jornal O Globo.
Uma semana depois, Ideologia vem a São Paulo, no Palace, e Cazuza
apronta mais uma. "Eu cheguei lá e aquele lugar, você sabe... tinha uma
passando batom, outro bebendo e conversando e a galera de trás, onde o
ingresso é mais barato, estava vibrando. Eu pensei: "Ah, não, esse povo vai
me botar para baixo, não. Eu, sim, vou por eles baixo, e assim eu fico para
cima." Disse para a galera de trás vir para a frente, disse para a burguesia que
jogasse os diamantes verdadeiros ao palco e enfiasse os falsos no c(...)."
Ainda em outubro, Cazuza cai em mais uma depressão ("Nunca entendi o
suicídio, achava uma covardia, ai eu entendi "), e, para levantar-lhe o moral,
Ney Matogrosso resolve lhe apresentar a seita Santo Daime, no Rio.
Experimentando o chá alucinógeno de "ayahuasca", Cazuza faz duas
"viagens" e diz ter encontrado Deus, além de perdoar o pai, "trinta anos
depois, por ter me colocado no mundo". Cazuza gosta muito da experiência,
mas resolve não se converter ao Santo Daime, "nunca suportei essa coisa de
clube que tem nas religiões" - embora leve para casa uma lembrancinha do
Santo Daime: "um litrinho" de chá de "ayahuasca".
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Enquanto isso, "Brasil", na interpretação de Gal Costa, empolga todas as


noites na abertura da novela Vale Tudo.
Dezembro - Marília Gabriela, em seu programa Cara A Cara na TV
Bandeirantes, faz um entrevista com ele, que nega estar com Aids, dizendo ter
sido apenas "uma doença grave". Mais tarde, nos bastidores lhe diz que, como
personalidade pública, ele deveria assumir publicamente sua verdadeira
condição física. "Foi a partir daquele papo com ela que percebi que deveria
contar tudo."
E Cazuza considera 1988 seu melhor ano até agora. "Foi um ano feliz. Acho
que agora, mesmo nos meus momentos de tristeza vai ser diferente. Consegui
dar um clique e descobri uma base de felicidade."

1989
Morre Lael Rodrigues, diretor de Bete Balanço, aos 38 anos.
1º de janeiro - A Rede Globo transmite um especial de início de ano com
Cazuza.
Janeiro - Durante um show da turnê Ideologia no Nordeste, Cazuza não se
conforma com a reação da platéia, chamando-a de "paraíbas" e mostrando-lhe
o traseiro. "Eu precisava provocá-los de alguma forma, não suportava vê-los
olhando para mim daquele jeito." E ainda corta o pé na praia de Maceió.
Após um esforço tão arretado, Cazuza volta a Boston para novos exames
médicos, inclusive o de Imagem por Ressonância Magnética (IMR), para
verificar se o vírus já lhe afetou o cérebro; este dá resultado negativo. Tanto é
que Cazuza aproveita para compor músicas que estarão em seu próximo LP.
Enquanto isso, sai seu LP ao vivo, O Tempo Não Pára.
Fevereiro - Saindo da clínica, Cazuza resolve abrir o jogo. De Nova Iorque,
dá uma entrevista à Folha de S. Paulo, pela qual o mundo fica sabendo não só
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de sua doença, mas também de sua bissexualidade, seus excessos de drogas e


bebidas e suas crises depressivas.
Março - De volta ao Brasil, Cazuza tem febre de 40 graus e passa por nova
internação.
Mas se o corpo fraqueja, o espírito continua firme: logo que sai do hospital,
Cazuza compõe "Quero Ele", para a montagem carioca da peça Querelle,
baseada no romance homônimo de Jean Genet, e começa a gravar novo LP.
4 de fevereiro - Cazuza costuma dizer, meio de brincadeira, meio por
narcisismo: "Tenho dois sonhos na vida: um é ser capa da Manchete, o outro,
capa de Veja." Pois bem, nesta data a Manchete atende metade de seu desejo.
Daqui a dois meses será a vez da segunda metade - mas não exatamente como
ele desejaria.
26 de abril - A Veja desta data traz uma reportagem de capa com Cazuza,
que causa revolta geral, devido à capa, bem mais sensacionalista do que seria
de se esperar, completa com a frase "Cazuza - uma vítima da Aids agoniza em
praça pública". As reações não se fazem tardar:
26 de abril - Cazuza anuncia que "sentiu vontade de vomitar" ao ler a
revista, "Meu filho foi ficando triste, triste, triste, até que acabou com o pulso
e a pressão [quase] a zero", contou Lucinha Araújo. "Nós estávamos em
Petrópolis no domingo (dia 23), quando ele leu a revista, e precisamos trazê-lo
às pressas para o Rio." Neste dia, Cazuza publica nos maiores jornais do país
um anúncio pago intitulado "Veja, a agonia de uma revista".
30 de abril - Cazuza participa do 2º Prêmio Sharp e ganha prêmios de
Melhor Música, "Brasil", e Melhor LP, Ideologia. Cazuza comparece à
cerimônia, no Golden Room do Copacabana Palace, em cadeira de rodas, e
Marília Pêra aproveita para ler o manifesto "Brasil, mostra tua cara!", em

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protesto contra a revista Veja, assinado por Caetano Veloso, Chico Buarque,
Marieta Severo, Nelson Motta e mais de 500 outros artistas e intelectuais.
13 de maio - Uma das defesas de Cazuza mais elegantes vem,
surpreendentemente, da Manchete, notória como revista de sexo, câncer, sexo,
Aids, sexo, Pantanal, sexo, drogas, sexo e rock and roll. Até a partir da capa o
tom da reportagem é positivo: "Tenho força para compor, cantar e amar". "Eu
falo que estou com Aids porque quero mostrar pra essas pessoas que não
devem se desesperar. Eu tenho Aids e continuo trabalhando, produzindo,
compondo. (...) Qualquer pessoa pode morrer amanhã. Basta estar vivo. E eu
não tenho medo de morrer, porque acredito numa outra vida depois dessa. Sou
uma pessoa muito mística e acredito em reencarnação. Acho que nós vivemos
muitas vidas, só que não nos lembramos. Se bem que às vezes eu me lembro,
sim. Tenho a sensação de que já fui um feitor de escravos e um daqueles
cantores negros de blues. Adoro blues, sabe? Acho que ainda vou aprontar
muitas..."
João Araújo aproveita a reportagem para contar um fato pitoresco: "Dia
desses, estava vindo de São Paulo de carro e, na estrada, fui parado por três
guardas. Quando perguntaram o que eu fazia e saiu o nome Som Livre, um
deles me perguntou se eu conhecia o João Araújo. Quando eu disse que era o
próprio, os três olharam admirados e contaram que tinham acabado de ouvir
sobre a morte de Cazuza. Nem é preciso dizer que a multa acabou sendo
aliviada e eu saí dali emocionado: a vida de meu filho hoje desperta a atenção
e a comoção até dos guardas rodoviários..."
Junho - Breve internação no hospital Albert Einstein, em São Paulo. E a
imprensa anuncia que Tavinho Paes está para lançar um livro, Cazuza - Duas
ou Três Coisas Que Sei Sobre Ele, coletânea de suas letras e poemas e com

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título inspirado num filme de Jean-Luc Godard (que dizia "ela" e não "ele). O
livro acabará não saindo.
Agosto - Sai Burguesia, seu único LP duplo. A crítica se divide e as rádios
não se entusiasmam tanto quanto com seus LPs anteriores, mas o disco vende
bem, mesmo sendo duplo.
24 de outubro - Nova viagem a Boston, para novo tratamento com outra
droga, a DDI, pois Cazuza, muito debilitado, já não pode mais tomar o AZT.
Novembro - E Alagoas não para de pegar no pé de Cazuza: estamos em
plena campanha eleitoral para Presidente da República, a primeira desde 1961.
Cazuza declara ser eleitor de Lula ou Brizola ("eu voto sempre no PV e no PT,
de implicância mesmo, acho que o único caminho pro Brasil é um socialismo
centrado na educação e na alimentação do povo"); portanto, imagine sua
surpresa ao ver sua música "Brasil" usada na campanha do candidato do PRN:
a canção toca quase na íntegra e no final aparece a frase "Obrigado, Cazuza.
Fernando Collor de Mello", dando a entender que Cazuza o apóia. É natural
que Collor goste de uma canção que fale de droga, malhada ou não, mas
George Israel e Nilo Romero, parceiros de Cazuza na composição, não
hesitam em entrar na justiça (Cazuza só não entra também por já estar muito
debilitado).
12 de novembro - O Tribunal Superior Eleitoral proibe o PRN de utilizar
"Brasil" na campanha de Collor.

1990
13 de janeiro - "Burguesia", vídeo-clip de Ana Arantes, é premiado no 32º
New York Festival.

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Fevereiro - Devido à sua debilidade física, e tendo parado com AZT, uma
infecção impede que Cazuza se una aos 206 pacientes de Aids que vêm se
tratando com a DDI. E sua pele adquire tonalidade cada vez mais escura.
9 de março - Cazuza volta ao Brasil, de onde não mais pretende sair. Está
um pouco melhor, alimentando-se bem e sem febres.
23 de maio - Infelizmente, uma recaída o leva a ser internado na UTI da
Clínica São Vicente.
Maio - Cazuza volta a passear pelas ruas do Rio, em companhia da mãe, a
enfermeira Márcia de Jesus, uma secretária e amigos como a "madrasta"
Ezequiel Neves, formando uma turma conhecida como "caravana do delírio"
ou "da alegria".
27 de maio - Assiste ao show Estrangeiro de Caetano Veloso.
Junho - A capacidade de trabalho de Cazuza, mesmo doente, continua de
tirar o fôlego; sobraram algumas gravações não aproveitadas no LP Burguesia,
e Cazuza, ouvindo-as, empolga-se a ponto de pedir a mãe a máquina de
escrever (que, infelizmente, não mais consegue usar). E, no começo do mês,
ainda arruma disposição para arrastar a "caravana do delírio" para uma sessão
de compras, no Fashion Mall (shopping center no bairro de São Conrado) e ir
à festa de aniversário de Flora, esposa de Gilberto Gil.
2 de julho - Apesar de cada vez mais debilitado física e neurologicamente (e
confinado a uma cadeira de rodas há um ano e dois meses), Cazuza continua
lúcido e bem disposto, e sai de casa para tomar água de coco na Barra da
Tijuca - seu último passeio.
6 de julho - Cazuza pede um milk-shake de creme e um misto quente, sua
derradeira refeição
7 de julho - Por volta de zero hora, após um demorado banho de banheira,
Cazuza vai dormir. (Quem passa esta noite andando pela casa não é Cazuza,
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como dirão alguns jornais, e sim seu pai, João Araújo.) Às três da manhã,
começa a ter dificuldade em respirar e não volta mais a si. Às 8h30, Cazuza é
finalmente vítima de parada cardíaca, provocada por, como diz o atestado de
óbito, choque séptico, conseqüência de uma agranulocitose decorrente da
Aids. Estão com ele seus pais, a enfermeira Márcia de Jesus e o médico Paulo
Lopes, que chega momentos antes da morte. Compreensivelmente, seus pais
mal conseguem falar. João Araújo: "Eu vi que ele tinha chegado ao fundo do
poço." Lucinha Aráujo: "Foi o doente de Aids que mais expôs sua doença ao
domínio público."
O enterro realiza-se à tarde, no cemitério São João Batista; Cazuza havia
declarado que gostaria de ser cremado e ter suas cinzas atiradas da Pedra do
Arpoador, mas não deixou tal desejo por escrito em cartório. Pesando apenas
38 quilos, seu caixão não é aberto, por ordem dos pais. Mas Cazuza desce à
campa de sua última morada com uma vizinhança das melhores, a poucos
metros de Vicente Celestino (1894/1968), Francisco Alves (1898/1952), Ary
Barroso (1903/1964), Carmem Miranda (1909/1955) e Clara Nunes
(1943/1983). O clima, além de muito emocional, só podia ser de serenata, e os
muitos fãs e amigos presentes ao enterro cantam "Blues Da Piedade", "Vida,
Louca Vida" e, durante a descida do caixão à sepultura, "Faz Parte Do Meu
Show".
26 de agosto - Está quase pronta a estátua em bronze de Cazuza, feita pelo
artísta plástico Jaime Sampaio sob encomenda da prefeitura do Rio, para ser
colocada no Parque Garota de Ipanema, no Arpoador. A estátua deveria ser
inaugurada juntamente com o Espaço Cultural Cazuza - mas nada disto se
concretizará; Cazuza ganhará em 1991 um espaço no Leblon, sem estátua (os
amigos concluem que uma estátua nada tem a ver com Cazuza).
Primavera - Sai o livro Cazuza, do jornalista Eduardo Duó.
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17 de outubro - Show Viva Cazuza na praça da Apoteose, que sairá em


disco em 1992.
24 de novembro - Em São Paulo, a prefeita Luiza Erundina inaugura uma
praça com o nome de Cazuza, no bairro de Pinheiros.
19 de dezembro - Lançamento do songbook de Cazuza pela editora Lumiar;
na festa, Paulo Ricardo canta "Faz Parte Do Meu Show", acompanhado por
Tom Jobim ao piano.
1991
Arthur Muhlenberg promove a exposição itinerante O Tempo Não Pára,
reunindo filmes, fotos e músicas de Cazuza, a partir do arquivo mantido por
Lucinha Araújo. "Sempre guardei tudo que se relacionasse a fatos da vida de
meu filho, Cazuza. Talvez por traço de personalidade ou, quem sabe, segundo
um instinto premonitório do que nos aconteceria mais tarde, colecionei todos
estes objetos durante anos. Ainda tenho, perfumada e engomada, a camisola
que eu mesma bordei para seu batizado. Em nosso álbum de família estão
registradas as festas de aniverário; formaturas escolares; férias, passeios e
brincadeiras; os primeiros desenhos e rabiscos, tentativas infantis de escrever;
os poemas adolescentes, que ainda não mostravam o grande poeta que se
revelaria mais tarde (...) O violão que ele dedilhou tantas vezes e a máquina de
escrever, com seu teclado gasto pelas poesias escritas, estão do mesmo jeito
que ele deixou."
Janeiro - A Empresa de Correios e Telégrafos lança selos postais com
retratos de Cazuza e Raul Seixas.
Maio - Sai o LP Por Aí..., reunindo onze das quatorze faixas que sobraram
do LP Burguesia.

1992
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Janeiro - O cartunista e imitador Spacca estréia seu show-tributo, conhecido


por Rosas Roubadas, Cazuza Ao Vivo e, principalmente, pelo não muito
imaginativo Cazuza Cover, por sugestão de um dono de casa noturna,
eficiente porém apressadinho. Enfim, o show é bem melhor que o nome e fica
um ano em cartaz por várias cidades brasileiras.
Setembro - Sai Viva Cazuza, disco-tributo com gravações do show
homônico de 1990, com músicas de Cazuza interpretadas por Marina, Caetano
Veloso, Paulo Ricardo, Emilio Santiago, Renato Russo, Barão Vermelho e
outros.

1994
3 de março - Gal Costa estréia no Rio novo show, O Sorriso do Gato de
Alice, marcando seu disco homônico, o primeiro de qualidade desde os anos
70. Mas, incapaz de evitar apelações por muito tempo, exibe os seios ao cantar
"Brasil" de Cazuza, causando polêmica sobre o gesto em si e sua forma física
aos 48 anos.
15 de abril - Rara e benvinda oportunidade de se ouvir Lucinha Araújo
interpretando uma música do filho: ela canta "Codinome Beija-Flor" no
programa Clodovil Abre o Jogo.
Agosto - A Sociedade Viva Cazuza inaugura uma Casa de Apoio Pediátrico
para crianças carentes portadoras do HIV.
1995
Agosto - Previsão de lançamento de uma grande coletânea de Cazuza,
dentro de uma série de caixas de quatro CDs da PolyGram, Grandes Nomes. A
caixa de Cazuza é adiada, mas sai um CD/LP simples, Esse Cara.
29 de agosto - A Rede Globo transmite o especial Tributo A Cazuza.
Outubro - Sai a coletânea de quatro CDs de Cazuza.
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O grupo argentino Zimbabwe regrava "Exagerado" em ritmo de reggae (e


em português).
1996
19 de agosto - Mega-show em homenagem ao compositor Antonio Carlos
Gomes, falecido há cem anos, com Alcione, Aprille Millo e outros; o show
está previsto para sair em vídeo e CD, com sua renda a ser revertida para a
Fundação Viva Cazuza e o Grupo Solidariedade e Vida (dedicado a crianças e
vitimas da Aids no Maranhão).
11 de outubro - Morre Renato Russo, vítima da Aids. Lucinha Araújo
comparece à missa de sétimo dia, na Igreja de Nossa Senhora da Paz, em
Ipanema, no Rio, e declara que Renato, pouco antes de falecer, doou sua
coleção de CDs à Fundação Viva Cazuza. Os CDs serão vendidos, e a renda
será revertida para atividades da Fundação.
Outubro - Sai nos EUA e Europa o CD beneficente Red, Hot + Rio.
reunindo vários artistas, incluindo a gravação onde Cazuza e Bebel Gilberto
interpretam "Preciso Dizer Que Te Amo".
30 de outubro - Estréia na Internet a home page de Cazuza
(http://www.cazuza.com.br), por iniciativa e encomenda dos pais de Cazuza.
Ele havia deixado uma pasta com seus escritos onde se lia "Particular, não
mexer, me respeitem". "Resolvemos não respeitar e abrimos", conta Lucinha.
"O resultado me deixou muito emocionada. Recebi mensagens de arrepiar, de
Washington a Austrália." O site traz sua biografia, discografia e todas suas
173 letras (incluindo 17 inéditas e 40 letras e poemas sem música), além de 50
fotos, trechos de vídeos e músicas e arquivos Midi.
Estréia na Globo a telenovela Salsa E Merengue, cuja trilha sonora inclui
"Vida Fácil", do LP Ideologia de Cazuza.

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O falecimento de Cazuza foi praticamente idêntico ao de Noel Rosa, ambos


vítimas de doenças prolongadas e nunca se afastando por muito tempo de suas
famílias. Outra semelhança, mais curiosa, é que, devido à emoção do
momento e à pressa de repórteres, é muito difícil saber como realmente
aconteceram estes eventos; há quase tantas versões quanto órgãos de
imprensa.
O excelente livro Noel Rosa: Uma Biografia, de João Máximo e Carlos
Didier, traz um capítulo dedicado às "várias mortes do poeta", reproduzindo as
notícias publicadas, todas bastante diferentes entre si. Pois bem, seguindo tal
exemplo, aqui estão as "diferentes mortes" de Cazuza - não tão diferentes
assim, mas suficientes para mostrar que, em plena era do fax e da informática,
ainda é possível ocorrer falhas e distorções - inclusive, muitas notícias dizem
que Lucinha Araújo se referia ao filho como "aidético", embora ela nunca
usasse essa palavra, preferindo usar a expressão "doente de Aids". Estudantes
de jornalismo, leiam bem e vejam como não devem proceder:
"Cercado pelo médico Paulo Lopes, pelas três enfermeiras que o
acompanhavam nos últimos meses e por seus pais, Cazuza morreu lúcido e,
como se estivesse prevendo o fim próximo, passou sua última noite acordado
andando pela casa, farejando as lembranças de seus 32 anos de vida. Abalado
pela morte do filho, que com coragem lutou contra a Aids nos últimos cinco
anos, seu pai, João Araújo, diretor da gravadora Som Livre, não conseguiu
relatar a última conversa com o artista. Disse apenas que também percebeu a
morte rondando o filho: "Eu vi que ele tinha chegado ao fundo do poço".
Cazuza, segundo seu relato, estava com 38 quilos, não comia mais nos últimos
três dias e apenas tomou um milk-shake de morango após muita insistência de
sua mãe, Lucinha Aráujo, à meia-noite de anteontem. Morreu como viveu sua
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breve e "louca vida de aidético que mais expôs sua doença ao domínio
público", lembrou sua mãe, durante o velório no cemitério São João Baptista."
(O Estado de São Paulo, 8 de julho de 1990)
"Cazuza morreu, dormindo, às 8h30 da manhã do sábado, aos 32 anos, na
casa dos pais, em Ipanema. Ao seu lado, o médico Paulo Lopes e as três
enfermeiras que o acompanhavam nos últimos meses. Morreu de choque
séptico (infecção generalizada) e granulofitose [sic] segundo o atestado de
óbito assinado pelo médico Paulo Francisco de Almeida Lopes.
Cazuza passou acordado praticamente toda a noite de sexta para sábado.
Sua última refeição foi um milk-shake de morango, que ele tomou após muita
insistência de sua mãe." (...) Segundo o relato de João Araújo, Cazuza estava
pesando 38 quilos e nos últimos três dias não ingeriu nenhum alimento sólido.
"Ele morreu como viveu sua breve e louca vida de aidético que mais espôs sua
doença ao público", disse a mãe, Lucinha, durante o velório do cantor na
capela 2 do cemitério São João Batista, em Botafogo." (Jornal da Tarde, 9 de
julho de 1990)
"O cantor e compositor Cazuza, apelidado de Agenor de Miranda Aráujo
neto, morreu aos 32 anos, às 8h30 de ontem, de parada cardíaca provocada por
insuficiência respiratória e edema pulmonar, segundo informou seu pai, João
Araújo. Cazuza sofria de Aids, diagnosticada em outubro de 1987 (...)
Cazuza morreu na casa dos pais, em Ipanema, zona sul do Rio. Estavam lá
sua mãe, Lucinha Araújo, o pai, a enfermeira Márcia de Jesus e o médico
Paulo Lopes, que chegou momentos antes da morte. Pesava 38 quilos.
Segundo João Araújo, a crise respiratória e pulmonar de Cazuza começou
cerca de 48 horas antes de sua morte. Ele já não comia alimentos sólidos há
três dias. na noite de sexta-feira tomou um milk-shake de creme que preferiu a

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uma laranja lima oferecida pela mãe. Foi sua última refeição." (Folha de S.
Paulo, 8 de julho de 1990)
"(...) A causa oficial da morte foi choque séptico, causado pela Aids, que
Cazuza combatia com bravura desde 1987. (...) Depois de quatro anos lutando
contra sua doença e sofrendo muito, Cazuza cansou de dar murro em ponta de
faca, se desinteressou do planeta Terra. Tomou um milk-shake, fumou um
cigarro, foi dormir e não acordou." (Bizz, agosto de 1990)
"Cazuza morreu ontem em sua casa às 8h30. Seus pais e uma enfermeira
estavam com ele no momento de sua morte. Aos 32 anos terminou a longa
batalha de Cazuza contra a Aids. Pouca antes de morrer ele disse ao pai seu
último desejo." (Notícias Populares, 8 de julho de 1990)
"Cazuza passou sua última semana em casa. (...) Ficou três dias sem comer
e sem fumar, só na base de soro, prostrado na cama. Na sexta-feira seu estado
piorou. No auge da sua pior crise ainda pediu um cigarro. Não foi atendido.
Quando voltou a respirar normalmente, pediu uma pizza, um milk-shake e um
banho. Teve então seus desejos atendidos e adormeceu. Foi a sua última noite
de sono. Cazuza morreu às 8h30 do dia 7 de julho de 1990. A causa mortis
registrada no atestado de óbito foi "choque séptico, conseqüência de uma
agranulocitose decorrente da Aids." (Cazuza, livro de Eduardo Duó, 1990).

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Discografia
Aqui estão, pela ordem: os LPs e compactos de Cazuza com o Barão
Vermelho; os LPs e compactos de Cazuza em carreira-solo; os discos de
outros artistas que têm participação de Cazuza. Detalhes pertinentes a
modificações em reedições, omissões ou erros em créditos e quetais são
mencionados junto a cada disco. Os músicos que gravaram com Cazuza
ganharam um capítulo só para eles. E fizemos o possível para corrigir
eventuais erros nos créditos, bem como dar os nomes completos dos autores
das músicas, muitas vezes abreviados e até mesmo incorretos.

Com o Barão Vermelho:

LPs:
* Barão Vermelho - Som Livre, selo Opus/Columbia, agosto de 1982.
Lado 1: "Posando de Star" (Cazuza)/Down Em Min" (Cazuza)/"Conto de
Fadas"(Cazuza/Mauricio Barros)/Billy Negão" (Guto Goffi/Mauricio
Barros/Cazuza)/"Certo Dia Na Cidade" (Guto Goffi/Mauricio Barros/Cazuza)
Lado 2: "Rock'n Geral" (Cazuza/Frejat)/"Ponto Fraco" (Cazuza/Frejat)/"Por
Aí (Cazuza/Frejat)/"Todo Amor Que Houver Nessa Vida"
(Cazuza/Frejat)/"Bilhetinho Azul" (Cazuza/Frejat)
* Barão Vermelho 2 - Som Livre, selo Opus Columbia, agosto de 1983.
Lado 1: "Menina Mimada" (Mauricio Barros/Cazuza)/"O Que a Gente
Quiser" (Frejat/Naila Skorpio)/"Vem Comigo" (Guto Goffi/Cazuza)/"Bicho
Humano" (Cazuza/Frejat)/"Largado No Mundo" (Cazuza/Frejat) Lado 2:
"Carne de Pescoço" (Cazuza/Frejat)/"Pro Dia Nascer Feliz"
(Cazuza/Frejat)/"Manhã Sem Sonho" (Cazuza/Frejat)/"Carente Profissional"

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(Cazuza/Frejat)/"Blues Do Iniciante" (Frejat/Dé/Guto Goffi/Mauricio


Barros/Cazuza)
Notas: os dois primeiros LPs do Barão foram relançados num único CD em
1994, pela Som Livre.
* Maior Abandonado - Som Livre/Opus Columbia, agosto de 1984.
Lado 1: "Maior Abandonado" (Cazuza/Frejat)/"Baby Suporte"(Mauricio
Barros/Pequinho/Ezequiel Neves/Cazuza)/"Sem
Vergonha"(Cazuza/Frejat)/"Você Se Parece Com Todo Mundo"
(Cazuza/Frejat)/"Milagres" (Frejat/Cazuza/Denise Barroso)/"Não Amo
Ninguém" (Cazuza/Frejat/Ezequiel Neves) Lado 2: "Por Que a Gente é
Assim?" (Cazuza/Frejat/Ezequiel Neves)/"Narciso
(Cazuza/Frejat)/"Nós"Cazuza/Frejat)/"Dolorosa"(Cazuza/Frejat)/"Bete
Balanço"(Cazuza/Frejat)
Notas: O selo Opus /Columbia foi uma "joint-venture" de curta duração
entre a Som Livre e a Columbia/CBS (hoje Sony).
* Barão Vermelho Ao Vivo - Som Livre, 1992
Lado 1: "Maior Abandonado"(Cazuza/Frejat)/"Milagres" (Frejat/Denise
Barroso/Cazuza)/"Subproduto De Rock (Geração De Rock)"
(Cazuza/Frejat)/"Sem-Vergonha" (Cazuza/Frejat)/"Narciso"
(Cazuza/Frejat)/"Todo Amor Que Houver Nessa Vida" (Cazuza/Frejat)/"Baby
Suporte" (Cazuza/Mauricio Barros/Pequinho/Ezequiel Neves) Lado 2: "Bete
Balanço" (Cazuza Frejat)/"Mal Nenhum" (Lobão/Cazuza)/"Down Em Min"
(Cazuza)/Por Que a Gente é Assim" (Cazuza/Frejat/Ezequiel Neves)/"Um Dia
Na Vida" (Mauricio Barros/Cazuza)/"Menina Mimada" (Mauricio
Barros/Cazuza)/"Pro Dia Nascer Feliz" (Cazuza/Frejat)
Notas: O título tão pouco criativo do LP esconde a participação do Barão
Vermelho no festival Rock in Rio 2, nos dias 15 e 20 de janeiro de 1985,
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completa com um "Mal Nenhum" com melodia diferente (composta


praticamente na véspera), canja do saxofonista Zé Luís e o já famoso "merda!"
no meio de "Bete Balanço".
Compactos:
* Down Em Mim" (Cazuza) - Som Livre/Opus-Columbia, julho de 1982
Notas: Compacto promocional para as rádios, com a mesma faixa em
ambos os lados.
* Pro Dia Nascer Feliz"/"Manhã Sem Sonho" (ambas de Cazuza/Frejat)-
RGE, janeiro de 1984
* "Subproduto De Rock" (Geração De Rock)" (Cazuza/Frejat) - junho de
1984
* "Bete Balanço" (Cazuza/Frejat)/"Amor, Amor" (Cazuza/Frejat/George
Israel) - Som Livre, junho de 1984
* "Bete Balanço"/"Maior Abandonado: (ambas de Cazuza/Frejat) -
Opus/Columbia, setembro de 1984
Notas: "Bete Balanço" é uma versão instrumental, ou melhor, o playback
normal com a voz de Cazuza quase totalmente removida.
* "Eu Queria Ter Uma Bomba" (Cazuza)/Por Que a Gente é Assim"
(Cazuza/Frejat/Ezequiel Neves) - Som Livre, maio de 1985
Notas: o lado-A é tema da novela A Gata Comeu.
* "Por Que a Gente é Assim" (Cazuza/Frejat/Ezequiel Neves) -
Opus/Columbia, fevereiro de 1985

Carreira-Solo:

* Cazuza - Som Livre, novembro de 1985

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Lado 1: "Exagerado" (Leoni/Cazuza/Ezequiel Neves)/"Medieval II"


(Rogério Meanda/Cazuza)/"Cúmplice" (Zé Luiz/Cazuza)/"Mal Nenhum"
(Lobão/Cazuza)/"Balada De Um Vagabundo" (Frejat/Wally Salomão) Lado 2:
"Codinome Beija-Flor" (Reinaldo Arias/Cazuza/Ezequiel Neves)/"Desastre
Mental" (Renato Ladeira/Cazuza)/"Boa Vida" (Frejat/Cazuza)/"Só As Mães
São Felizes" (Cazuza/Frejat)/"Rock da Descerebração" (Cazuza/Frejat)
Notas: reeditado em compact-disc em 1992.
* Só Se For a Dois - PolyGram, maio de 1987
Lado 1: "Só Se For A Dois" (Cazuza/Rogério Meanda)/"Ritual"
(Cazuza/Frejat)/"O Nosso Amor A Gente Inventa" (Cazuza/Rogério
Meanda/João Rebouças)/"Culpa De Estimação" (Cazuza/Frejat)/"Solidão Que
Nada"(Cazuza/George Israel/Nilo Romero) Lado 2: "Completamente Blue"
(Cazuza/Rogério Meanda/Nilo Romero/George Israel)/"Vai À Luta
(Cazuza/Rogério Meanda)/"Quarta-Feira" (Cazuza/Zé Luis)/"Heavy Love
(Cazuza/Frejat)/"Lobo Mau Da Ucrânia" (Cazuza/Ezequiel Neves/Rogério
Meanda/Nilo Romero/João Rebouças/Fernando Moraes)/"Balada Do
Esplanada" (música de Cazuza sobre poema de Oswald De Andrade)
* Ideologia - PolyGram, maio de 1988
Lado 1: "Ideologia" (Frejat/Cazuza)/"Boas Novas" (Cazuza)/"O Assassinato
Da Flor" (Cazuza)/"A Orelha De Eurídice" (Cazuza)/"Guerra Civil"
(Ritchie/Cazuza)/ "Brasil" (Cazuza/George Israel/Nilo Romero) Lado 2: "Um
Trem Para As Estrelas" (Cazuza/Gilberto Gil)/"Vida Fácil"
(Cazuza/Frejat)/"Blues Da Piedade" (Cazuza/Frejat)/"Obrigado (Por Ter-se
Mandado)" (Cazuza/Zé Luis)/Minha Flor, Meu Bebê" (Dé/Cazuza)/"Faz Parte
Do Meu Show" (Renato Ladeira/Cazuza)
* O Tempo Não Pára - PolyGram, janeiro de 1989

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Lado : "Vida Louca Vida" (Lobão/Bernardo Vilhena)/"Boas Novas"


(Cazuza)/"Ideologia" (Cazuza/Frejat)/"Todo Amor Que Houver Nessa Vida"
(Cazuza/Frejat)/"Codinome Beija-Flor" (Cazuza/Reinaldo Arias/Ezequiel
Neves) Lado 2: "O Tempo Não Pára" (Cazuza/Arnaldo Brandão)/"Só As Mães
São Felizes" (Cazuza/frejat)/"O Nosso Amor A Gente Inventa (Estória
Romântica)" (Cazuza/Rogério Meanda/João Rebouças)/"Exagerado"
(Cazuza/Leoni/Ezequiel Neves)/"Faz Parte Do Meu Show" (Cazuza/Renato
Ladeira)
Notas: Gravado ao vivo no Canecão, durante duas apresentações do show
Ideologia, uma delas sendo justamente quando ocorreu a cuspida na bandeira.
* Burguesia - PolyGram, agosto de 1989
Lado 1: "Burguesia" (Cazuza/George Israel/Ezequiel
Neves)/"Nabucodonosor" (Cazuza/George Israel)/"Tudo É Amor" (Laura
Finocchiaro/Cazuza)/"Garota De Bauru" (Cazuza/João Rebouças) Lado 2: "Eu
Agradeço" (George Israel/Nilo Romero/Cazuza)/"Eu Quero Alguém" (Renato
Rocketh/Cazuza)/"Babylonest" (Lobão/Ledusha/Cazuza)/"Como Já Dizia
Djavan" (Cazuza/Frejat)/"Perto Do Fogo" (Rita Lee/Cazuza) Lado 3: "Cobaias
De Deus" (Cazuza/Angela Rô Rô)/"Mulher Sem Razão" (Dé/Bebel
Gilberto/Cazuza)/ "Por Quase Um Segundo" (Herbert Viana) /"Filho Único"
(João Rebouças/ Cazuza)/ "Preconceito" (Antonio Maria/Fernando Lobo)/
"Esse Cara" (Caetano Veloso) Lado 4: "Azul E Amarelo"
(Lobão/Cazuza/Cartola)/"Cartão Postal" (Rita Lee/Paulo Coelho)/ Manhatã"
(Leoni/Cazuza)/"Bruma" (Arnaldo Brandão/Cazuza)/ "Quando Eu Estiver
Cantando" (João Rebouças/Cazuza)
Notas: Lançado simultaneamente em compact-disc; os dois LPs couberam
num único CD.
*Por Aí... (PolyGram, maio de 1991)
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Lado 1: "Não Há Perdão Para O Chato" (Arnaldo Antunes/Zaba


Moren/Cazuza)/"Paixão" (João Rebouças/Cazuza)/"Portuga" (Orlando
Moraes/Cazuza)/"Hei Rei" (Cazuza/Frejat)/"Camila, Camila" (Thedy
Corrêa/Sady Homrich/Carlos Stein) Lado 2: "Por Aí..."
(Cazuza/Frejat)/"Andróide Sem Par" (Cazuza/George Israel/Nilo
Romero)/"Cavalos Calados" (Raul Seixas)/"Summertime" (George & Ira
Gershwin/Dubose Heyward))/"Oriental II" (Rogério Meanda/Cazuza)/"O
Brasil Vai Ensinar O Mundo" (Renato Rocketh/Cazuza)
Notas: Sobras do LP Burguesia. Permanecem inéditas ainda outras três
faixas (incluindo "Doralinda", parceria com João Donato e mais tarde lançada
por este), em que a voz de Cazuza está demasiadamente debilitada.
Compactos (Todos promocionais de 12 polegadas, para as rádios, com a
mesma faixa nos dois lados. Muitos têm capas especiais, com fotos ou textos
exclusivos.)
* "Exagerado" (novembro de 1985)
* "O Nosso Amor A Gente Inventa" (março de 1987)
* "Brasil" (outubro de 1987)
* "Ideologia" (abril de 1988)
* "Faz Parte Do Meu Show" (1988)
* "O Tempo Não Pára" (1989)
* "Burguesia" (junho de 1989)
* "Andróide Sem Par" (abril de 1991)
Participações em discos de outro artistas
* Plunct Plact Zuum 2, vários intérpretes (Som Livre, 1984)
Cazuza, ainda membro do Barão, com "Subproduto De Rock"
(Cazuza/Frejat)
* O Trapalhão Na Arca De Noé", vários (Som Livre, 1984)
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Cazuza canta "O Trapalhão Super-Herói" (Alencar Constant Terra "Casinho


Terto"/Francisco dos Santos "Chico" Jr.).
* "Uma Só Voz" (Marcelo Frommer/Toni Bellotto) - Rádio Cidade FM,
novembro de 1985
Compacto flexi-disc distribuído por essa emissora como brinde de fim-de-
ano. Além de Cazuza, dele participam os Titãs (menos Arnaldo Antunes),
Paula Toller, George Israel, Herbert Vianna, Evandro Mesquita, Renato
Russo, Ney Matogrosso, Lobão, Léo Jaime, Zizi Possi, Vinícius Cantuária,
Elba Ramalho, Erasma Carlos, Gilberto Gil e Lulu Santos.
* Fagner, Fagner - CBS, setembro de 1986
Cazuza participa da faixa "Contramão" (Fagner/Belchior).
* Marginal Blues, Celso Blues Boy (PolyGram, abril de 1986)
Cazuza participa da faixa "Marginal" (Celso Blues Boy)
* Um Trem Para as Estrelas, trilha do filme (Globo, setembro de 1987)
* Cartola - Bate Outra Vez, vários intérpretes - Som Livre, agosto de 1988
Cazuza canta na faixa "O Mundo é Um Moinho" (Cartola)
* Melhores Momentos De Chico E Caetano, vários intérpretes (Som Livre,
de 1986)
Cazuza canta na faixa "Luz Negra" (Nelson Cavaquinho/Irahy Barros - só
que na gravação original, de Elizeth Cardoso, o parceiro de Nelson consta
como Amâncio Cardoso)
Coletâneas
* Melhores Momentos De Cazuza E Barão Vermelho - Som Livre, de 1989.
Lado 1: "Exagerado" (Cazuza/Ezequiel Neves/Leoni)/"Pro Dia Nascer
Feliz" (Cazuza/Frejat)/"Bete Balanço" (Cazuza/Frejat)/"Maior Abandonado"
(Cazuza/Frejat)/"Subproduto Do Rock (Geração Do Rock)"
(Cazuza/Frejat)/"Torre De Babel" (Frejat/Guto Goffi/ Ezequiel
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Neves)/"Declare Guerra" (Frejat/Guto Goffi/Ezequiel Neves) Lado 2: "Eclipse


Oculto" (Caetano Veloso)/"Codinome Beija-Flor" (Reinaldo
Arias/Cazuza/Ezequiel Neves)/"Eu Queria Ter Uma Bomba" (Cazuza)/"Todo
Amor Que Tiver Nessa Vida" (Cazuza/Frejat)/"Down Em Mim" (Cazuza)/"Só
As Mães Felizes" (Cazuza/Frejat)/"Mal Nenhum" (Lobão/Cazuza)/"Luz
Negra" (Nelson Cavaquinho/Irahi Barros)
Notas: Bela salada de Cazuza e Barão juntos e separados, incluindo faixas
inéditas ("Eclipse Oculto", ao vivo) e raridades tiradas de compactos e
coletâneas de vários artistas (sobre "Luz Negra", ver Melhores Momentos De
Chico E Caetano).
* Personalidade (PolyGram, 1993)
* Esse Cara (PolyGram, 1995)
* Cazuza (caixa de 4 CDs, 1995)
Composições
Músicas de Cazuza gravadas primeiramente por outros intérpretes, listadas
no seguinte esquema: título da música, parceria com Cazuza quando houver,
nome do intérprete, gravadora e ano de lançamento.
* "Amigos De Bar" (Com Dé/Bebel Gilberto) - Bebel Gilberto (WEA,
1986)
* "Baby Lonest" (com Lobão/Ledusha) - Lobão (RCA, 1986)
* "Companhia" (com Frejat/Ezequiel Neves) - Zizi Possi (PolyGram, 1987)
* "De Quem É O Poder?" (com George Israel) - Kid Abelha (WEA, 1989)
* "Um Dia Na Vida (com Mauricio Barros) - Barão Vermelho (WEA,
1986)
* "Doralinda" (com João Donato) - João Donato
* "Eletricidade" (com Nilo Romero/George Israel) - Kid Abelha (WEA,
1991)
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* "Faz Parte Do Meu Show" (com Renato Ladeira) - Herva Doce


(Continental, 1986)
* "Glória (Junkie e Bacana)" (com Lobão) - Lobão (RCA, 1986)
* "Guerra Civil" - Ritchie (PolyGram, 1987)
* "A Inocência Do Prazer" (com George Israel) - Dulce Quental (Odeon,
1988)
* "Jovem (com Arnaldo do Brandão) - Hanói-Hanói (EMI-Odeon, 1990)
* "Mal Nenhum" (com Lobão) - Lobão (RCA, 1985)
* "Mais Feliz" (Com Dé/Bebel Gilberto) - Bebel Gilberto (WEA, 1986)
* "Maioridade" (com Frejat/Guto Goffi/Denise Barroso) - Barão Vermelho
(WEA, 1986)
* "Malandragem" (com Frejat) - Cássia Eller (PolyGram, 1993)
* "Preciso Dizer Que Te Amo" (com Dé/Bebel Gilberto) - Bebel Gilberto
(WEA, 1986); Marina (PolyGram, 1987)
* "Que O Deus Venha" (com Frejat, sobre poema de Clarice Lispector) -
Barão Vermelho (WEA, 1986), Cássia Eller (PolyGram, 1990)
* "Quero Ele" - para a montagem carioca da peça Querelle, 1988
* "Sem Conexão" Com o Mundo Exterior" (com Frejat) - Sandra de Sá
(Som Livre, 1984)
* "Tapas Na Cara" - Ângela Maria (RGE, 1987)
* "Vingança Boba" (com Sérgio Serra) - Fafá de Belém (Som Livre, 1992)

Regravações e Originais
Esta relação de regravações de músicas de Cazuza pode não ser completa,
mas é uma boa demonstração do sucesso e da repercussão da obra de Cazuza
em diferenças épocas e estilos, antes ou depois de sua morte. O esquema é
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quase o mesmo: título da música, intérprete, gravadora e ano. Os co-autores


estão na discografia de Cazuza.
* "Amor, Amor" - Leila Pinheiro (PolyGram, 1992), Bruno (1994)
* "Bete Balanço" - Lulu Santos (PolyGram, 1992)
* "Bilhetinho Azul" - Olivia Byington (Elenco, 1984)
* "Blues Da Piedade" - Cristina Santos (3M, 1986); Sandra De Sá
(RCA/BMG, 1991 e PolyGram, 1992); Legião Urbana (EMI-Odeon, 1993)
* "Brasil" - Gal Costa (RCA, 1988); Margareth Menezes (Som Livre,
1991); Elenco Viva Cazuza (PolyGram, 1992)
* "Carente Profissional" - Marina (Odeon, 1993)
* "Codinome Beija-Flor" - Simone (CBS, 1988); Emílio Santiago
(PolyGram, 1992); Luiz Melodia (Som Livre/PolyGram, 1991); Ângela Maria
e Cauby Peixoto (RCA/BMG, 1992)
* "Down Em Mim" - Edson Cordeiro (Sony, 1992)
* "De Quem É O Poder?" - Kid Abelha (PolyGram, 1992)
* "Eu Quero Alguém" - Sandra de Sá (RCA/BMG, 1990)
* "Exagerado" - Zimbabwe (PolyGram, 1995)
* "Faz Parte Do Meu Show" - MPB-4 (Som Livre, 1988); Maria Creuza
(Som Livre, 1989), Eliana Pittman (Line, 1992)
* "Ideologia" - Marina (PolyGram, 1992)
* "Mais Tarde" - Leila Pinheiro (PolyGram, 1992)
* "Mal Nenhum" - Madalena (Luz Da Cidade/JHO, 1995)
* "Milagres" - Elza Soares (Som Livre, 1985)
* "Nós" - Bebel Gilberto (WEA, 1986)
* "Perto Do Fogo" - Rita Lee (Odeon, 1990)
* "Ponto Fraco" - Paulo Ricardo (PolyGram, 1992)
* Por Que A Gente É Assim?" - Ney Matogrosso (Barclay, 1984)
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* "Pro Dia Nascer Feliz" - Ney Matogrosso (Ariola, 1983)


* "Quando Eu Estiver Cantando" - Renato Russo (PolyGram, 1992);
Elymar Santos (Odeon, 1993); Renata Arruda (Warner, 1994)
* "Rock Da Descerebração" - Barão Vermelho (WEA, 1988)
* "O Tempo Não Pára" - Simone (CBS, 1988); Hanói Hanói (SBK, 1988)
* "Todo Amor Que Houver Nessa Vida" - Caetano Veloso (PolyGram,
1986 e 1992); Leila Pinheiro (PolyGram, 1986); Gal Costa (RCA, 1985);
Olivia Byington (Elenco, 1984)
* "Tudo É Amor" - Ney Matogrosso (CBS, 1988)

Originais
Agora é a vez das primeiras gravações das músicas que Cazuza gravou mas
não compôs. O esquema é o de sempre: título da música, intérprete original,
gravadora e ano, e os autores constam na discografia de Cazuza.
* "Camila, Camila" - Nenhum de Nós (RCA, 1986)
* "Cartão Postal" - Rita Lee & Tutti-Frutti (Som Livre, 1975)
* "Cavalos Calados" - Raul Seixas (Copacabana, 1988)
* "Eclipse Oculto" - Caetano Veloso (PolyGram, 1983)
* "Esse Cara" - Maria Bethania (PolyGram, 1972); Caetano Veloso e Chico
Buarque (Philips, 1972)
* "Luz Negra" - Elizeth Cardoso (Copacabana, 1966)
* "O Mundo É Um Moinho" - Cartola (Marcus Pereira, 1976)
* "(Por) Quase Um Segundo" - Os Paralamas Do Sucesso (Odeon, 1988)
* "Preconceito" - Nora Ney (Continental, 1953)
* "Quebra" - versão de "Piece Of My Heart", Erma Franklin (Atlantic,
1965), Big Brother & The Holding Company (Columbia, 1968)

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* "Summertime" - lançada no musical Porgy And Bess, 1935. Talvez as


gravações mais influentes tenham sido as de Billie Holiday (Columbia, 1936),
Charlie Spivak (RCA, 1944) e Big Brother & The Holding Company, leia-se
Janis Joplin (Columbia, 1968)
* "Vida, Louca Vida" - Lobão (RCA, 1987)

Músicos
Com o Barão Vermelho
O Barão era: Roberto Frejat, guitarrista; Dé, contrabaixo; Guto Goffi,
baterista; Mauricio Barros, teclados; Cazuza, vocal.
Os convidados especiais nos discos do Barão incluem: The Golden Boys e
o Trio Caminhão, vocais; Leo Gandelman e Zé Luiz Segneri, saxofone; Rique
Pantoja, sintetizadores; Peninha, percussão.
Felizmente, o Barão ainda é, embora a formação tenha mudado bastante,
sempre em torno de Frejat e Guto Goffi.
Peninha acabou se efetivando na percussão, e hoje temos Fernando
Guimarães na segunda guitarra; outro ex-Barão é Dadi (ex-Novos Baianos e A
Cor Do Som) no contrabaixo.

Carreira-Solo
Guitarras: Rogério Meanda (e todos os LPs exceto Burguesia e O Tempo
Não Pára); Paulinho Guitarra (Burguesia e Por Aí); Ricardo Palmeira, Luciano
Mauricio (ambos em o Tempo Nãp Pára, Burguesia e Por Aí); Frejat
(Ideologia), Torquato Mariano.
Violão: Rafael Rabello (Ideologia); Carlinhos Kalunga (Burguesia)

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Contrabaixo: Décio Crispim (Cazuza); Nilo Romero (Só Se For A Dois, O


Tempo Não Pára); Renato Rockett (Burguesia, Por Aí); Lee Marcucci (Por
Aí), Nilo Romero.
Teclados: João Rebouças (todos os LPs exceto Cazuza); Nico Rezende
(Cazuza)
Bandoneon: Ubirajara (Burguesia)
Bateria: Fernando Moraes (Cazuza, Só Se For A Dois), Lobão (faixas de
Ideologia); Cristian Oyens (O Tempo Não Pára); Sergio Della Monica
(Burguesia, Por Aí), Christian Oyens.
Percussão: Armando Marçal (Ideologia); Cidinho (Burguesia)
Saxofone: Raul Mascarenhas (Só Se For A Dois Zé Luis (Ideologia, Só Se
For A Dois, O Tempo Não Pára) Zé Nogueira (Por Aí), Widor Santiago (O
Tempo Não Pára, Burguesia, Por Aí) Zé Carlos (Só Se For A Dois)
Trompete: Bidinho, Don Harris.
Trombone: Serginho do Trombone.
Clarinete: Netinho.
Vocais: Ezequiel Neves; Marisa Fossa; Jussara; Jurema; Solange Rosa;
Nico Rezende; Cazuza; Fernando Moraes; Rogério Meanda; João Rebouças;
Luciano Mauricio.
Cantores convidados: Sandra de Sá (Ideologia, Por Aí); Ângela Chocolate
(Burguesia).

O Barão Vermelho
Não é só por ter sido o grupo de Cazuza que o Barão Vermelho merece
meio capítulo só para ele (e mereceria ainda mais). O rock and roll, como toda
música para dançar, sempre exigiu menos originalidade que eficiência, e esta
o Barão sempre teve de sobra, podendo competir com qualquer outro grupo
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similar do mundo - inclusive outros Barões Vermelhos. (Ah, sim, o fato das
influências Stones/Zeppelin de nosso Barão terem sido base de seu estilo
próprio também não chega exatamente a atrapalhar.)
E não é só o rock que tem mostrado empolgação com a figura do Barão
Vermelho original, ele mesmo, o piloto alemão Barão Mandred Von
Richthofen, famoso por seu avião triplano Fokker Vermelho e que se destacou
na I Guerra por sua perícia não só em manobrar as três asas de seu fokker, mas
também as duas metralhadoras que o acompanhavam nos vôos e com que
chegou a derrubar 80 aviões ingleses e franceses. É bem possível que você já
tenha lembrado das fantasias do cachorro Snoopy combatendo o Barão
Vermelho a bordo de seu avião/casinha, as quais, por sua vez, serviram de
base para a carreira de um grupo pop-rock norte-americano, que emplacou nas
paradas com "Snoopy Versus The Red Baron" e "Return Of The Red Baron".
A primeira, de 1967, fez tanto sucesso que um cover do grupo norte-
americano Hotshots fez ainda mais sucesso em 1973, e uma versão em
português, "Soneca Contra O Barão Vermelho" , foi um dos hits de Ronnie
Von na Jovem Guarda.
Barão Vermelho é um nome de grupo de rock tão bom que nossos amigos
cariocas não foram os primeiros nem os últimos, bastando lembrar o grupo
pop alemão Red Baron e os hard-rockers espanhóis do Baron Rojo. Por sinal,
houve quem não achasse esse nome tão bom assim: o próprio Frejat. "Eu e o
Cazuza ficamos meses tentando mudar o nome", contou ele à Bizz, "no início
eu detestava, mas como não apresentamos nada melhor ficou Barão
Vermelho."
Os músicos que passaram pelo Barão Vermelho já foram mencionados
junto com os que tocaram com Cazuza, e só falta relacionar os LPs do Barão
sem ele: Declare Guerra (1986), Rock'n'Geral (1987), Carnaval (1988), Barão
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Ao Vivo (1989), Na Calada Da Noite (1990), Supermercados da Vida (1992) e


Carne Crua (1994), os dois primeiros pela Som Livre e os seguintes na
Warner. Aliás, é um tanto impróprio falar em "Barão sem Cazuza", já que eles
continuaram gravando e interpretando músicas dele - e, afinal, para citar o
próprio Frejat, "o poeta está vivo".

Filmografia

* Bete Balanço (1983). Direção: Lael Rodrigues. Com o Barão Vermelho,


Deborah Bloch, Lauro Corona, Maria Zilda. Disponível em vídeo-cassete.
* Um Trem Para As Estrelas (1987). Direção: Cacá Diegues. Com Ezequiel
Neves.
* O Tempo Não Pára (1989). Direção: Ana Arantes, João Paulo de
Carvalho e Luiz Gleiser.
Combinação do Show Ideologia e de Uma Prova De Amor, seu especial de
fim-de-ano transmitido pela Rede Globo em 1988. Disponível em vídeo-
cassete.
* Ponto Fraco (198?). Direção: Eduardo Mihich. Com o Barão Vermelho.
Tentativa da Embrafilme (ou seria melhor Embromafilme?) de incentivar a
produção de curta-metragens. Permaneceu inédito para o grande público até a
exposição O Tempo Não Pára em 1991.

Opiniões
"Outro dia mesmo encontrei o bilhete que meu amigo Zeca Jagger (popular
Ezequiel Neves) me apresentava a banda nova, chamando especial atenção
para o letrista.
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O tal grupo, Barão Vermelho, foi uma revelação. Mas o Cazuza que eu já
conhecia das noitadas do Baixo Leblon me surpreendeu muito mais. Era num
poeta pronto, no fio da lâmina, o nosso Lou Reed, enteado de Dolores (de
Amores) Duran.
O Caju Agenor imantou, e soube traduzir uma geração. Não dá pra fugir da
ligação do pessoal com o coletivo que ele estabeleceu. De repente, o
coleguinha de copo deu um tapa na mesa e virou mito. Ele volta ao Baixo
como estátua e faz parte para sempre do show (da esquina) ao ridículo da
vida." (Tárik de Souza, jornalista)
"Eu achei que ele fosse resistir, já que vinha resistindo tanto. Eu rezava por
ele todas as noites. Independente de sua qualidade como poeta, ele deixa uma
imagem de resistência, de luta, de coragem, de amor pela vida. Foi um
rebelde: até contra a morte ele se rebelou." (Roger Moreira, do Ultraje A
Rigor).
"Não me lembro se foi o ano de 83 ou 84. Só sei que ficou gravada na
minha memória a imagem de Cazuza que vi pela primeira vez. Ele trazia a
música "Bete Balanço" para o filme do Lael Rodrigues que produzi com o
Cacá Diniz. Seu sorriso espontâneo, gostoso, cheio de alegria e confiança num
só golpe o preconceito que eu tinha do rock que a garotada fazia. Ouvi a sua
música, me surpreendi gostando dela. Daí, por tabela, me apaixonei pelo
filme. Carreguei para sempre a minha gratidão por Cazuza por este ato de
amor." (Tizuka Yamazaki, cineasta)
"Um de seus méritos foi provar que é possível fazer poesia dentro do rock
nacional. Misturando um pouco do rock dos Rolling Stones, do blues de
B.B.King e da poesia de Noel Rosa." (Kid Vinil, jornalista, cantor, radialista e
apresentador de TV)

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"Ele era uma pessoa muito amorosa. Acho que ele morreu de excesso de
amor. Cazuza vai ser uma estrela maravilhosa no céu." (Regina Casé, atriz)
"Só os loucos contaram / contam e vão contar / a história... as estórias! / Os
loucos são verdadeiros, sinceros / românticos, rebeldes, sérios, palhaços.../
Amam o tudo... o pra sempre / "É preciso muita coragem / pra se ser
"covarde" / Os loucos não morrem / Quando passam, ficam / São Gênios
exageradamente gente / São assim... humanos de intensa luz / São assim...
feito o cumpadi Agenor." (Sandra de Sá, cantora)
"Cazuza foi um dos maiores compositores do rock nacional dessa geração,
além de cronista dessa juventude. Sua música é o retrato de alguém que viveu
no limite, que experimentou a vida em toda sua plenitude, sem barreiras,
preconceitos ou temores." (André Jung, do Ira!)
"Eu estava preparado para tudo. Aprendi tiro ao alvo e quero dar um tiro na
cara de Deus." (Ezequiel Neves, crítico musical, produtor de discos,
compositor e "madrasta" artística de Cazuza)
"A força principal na obra de Cazuza é o pensamento que ele transmite.
Representa com muita intensidade das duas últimas décadas no Brasil. Diante
desse aspecto a sua performance, por ser transitória, é até secindária. Isso
sempre me impressionou na 'persona' Cazuza. Na intimidade era uma criatura
doce e delicada. Muito mais bonita que na atuação incendiária que dedicava
aos seus espectadore. Mas ele tinha muitas reservas com esse lado, por
considerá-lo extremamente frágil. Desse 'pique-esconde' com si mesmo
vinham todos os exageros." (Ney Matogrosso, cantor, diretor e "fada-
madrinha" de Cazuza)
"Drmático, forte, pungente e emocionante. É o mínimo que se pode dizer
desse rebelde Cazuza, de longe - agora eu tenho certeza - o maior poeta de sua
geração. Cazuza é um poetaço embalado num corpo ágil, em cuja cobertura
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mora uma cabeça incrível. A gente sente que sua música lindíssima é
repetitiva, porque ela não é senão a moldura para ilustrar conceitos muito
sérios. Cazuza é o arauto dos seus perigosos tempos. Ele tem um discurso
cheio de fúria e amor. Cazuza na arena do Canecão me lembra um touro
ferido, exangue e, ainda assim, avassalador. Um beijo, menino." (Ronaldo
Bôscoli, compositor e jornalista)
"Acho belíssimo o trabalho de Cazuza; é um poeta extraordinário. Ele
passou por uma via crucis muito pesada." (Cacá Rosset, ator e diretor teatral)
"Todo período conturbado na vida de um país acaba sempre produzindo seu
poeta nacional do momento, cantor das dificuldades de seu tempo e da
esperança possível no futuro. A seu modo, Cazuza foi o rimbaud da desgraça
brasileira desses anos 80, a nossa década perdida. Na melhor tradição de
Fagundes Varela e Sousândrade, ele consumiu o fogo intenso de sua curta
vida no combate à hipocrisia e à violência cotidianas, inaugurando no Brasil
um olhar contemporâneo sobre um novo mode de viver que não espera pela
hist;oria, mas que se impõe pelo desejo, agora. Devorado por sua
incompatibilidade com o horror de seu tempo, Cazuza foi o nosso poeta da
esperança." (Cacá Diegues, cineasta)
"O tempo que foi dado para Cazuza viver não é mais o tempo dos beatniks.
Cazuza é de uma época em que o prazer passou a ser um risco de vida.(...) Só
resta esperar que, ao brincar seriamente com a vida, Cazuza tenha encontrado
os bruxos de Castañeda e lhe tenham dado a fórmula suprema do guerreiro:
uso exato da energia vital, a precisa economia de gestos que prolongará essa
luminosa passagem no interminável ciclo de nascimentos e mortes."
(Fernando Gabeira, jornalista e escritor)
"Cazuza foi um compositor peculiar, coerente com as coisas dele, com seu
modo de agir e pensar. De certa forma, ua maneira ousada de colocar as
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palavras dentro de sua música influenciou muito toda a minha geração."


(Vânia Bastos, cantora)
"Sem dúvida um dos grandes nomes da MPB do nosso final de século,
especialmente como letrista sensível, lúcido, agressivo, consciente, de força
arrebatadora, Cazuza dominou de tal forma os anos oitenta que, quando um
dia quisermos fazer alguma história para reconstituir esta nossa época, seu
nome vai se impor o mais representativo, o mais sincero, o mais da geração,
como homem, não há o que dizer diante da força, da ternura, da garra
demonstradas por ele ao enfrentar uma doença tão cruel quanto a Aids. Sua
vida breve foi uma das maiores contribuições à cultura brasileira do século.
Sua morte lenta, um triste mas belíssimo hino de amor à vida." (Gilberto
Braga, escritor de novelas de TV)
"Eu comecei a conhecer Cazuza melhor passamos a compor juntos; o que
foi até meio inesperado para mim. E me deu bastante prazer. A 1ª música foi
'Amor, Amor', quando Frejat me chamou para uma parceira a três; depois
vieram muitas, a maioria junto comNilo Romero que tocou na banda do
Cazuza muito tempo. Era muito bom o gostinho da efervescência, de pegar
uma letra nova pra musicar, fazer demos em casa; tudo muito rápido e
impulsivo. Eu lembra que pra fazer o tema do filme Rádio Pirata, entregamos
uma música pra ele num dia e no dia seguinte ele trouxe 'Brasil'. A gente ficou
chapado. Alguns dias depois a música estava gravada, a letra nos jornais.
Quando Cazuza ficou doente eu sempre tinha um sonho em que ele ficava
bom andando de bicicleta, é como ele diz numa das últimas músicas que
fizemos: 'Se até ano 2000 o mundo não acabar/E eu estiver vivo na luaou num
bar/Eu sei que sempre vou chorar/Blues é assim, baby, blues é assim' E a
gente sempre vai lembrar um cara especial que passou por aqui." (George
Israel, do Kid Abelha)
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"Tinha profunda admiração pelo que ele fazia. Eu só criticava muito esse
negócio de 'entourage'. essa coisa por eu ser da zona Norte acabava separando
a gente de forma artificial. Não tenho dúvida de que perdemos um de nossos
melhores letristas. Era difícil avaliar o que ele ainda poderia fazer, já que ele
morreu e muito cedo. Eu gostava do conjunto da coragem das atitudes, a
forma de lidar com a doença sem dar moleza." (Aldir Blanc, letrista e cronista)
"Vem, Cazuza, vem cá zugar comigo... Ultimamente a gente só se cruza em
sonho. É a maneira mais fácil, sã? Geralmente em situações cômico/cults.
Num desses nossos encontros no reino de Morfeu, Cazuza e John Lennon
passaram a noite inteira conversando numa língua telepática/simpática, que
todos os deuses compreendiam, inclusive eu. No final, Lennon/Cazuza me
convenceram a fazer poesia só em esperanto porque língua nenhuma 'tava com
nada'; o negócio é som, o verbo divino, a música das esferas... Mas para nós,
terraqueos, só mesmo a esperança contida no esperanto, imagine all the people
e coisa e tal... Quando acordei achei o sonho em si uma verdadeira pérola do
cancioneiro além-túmulo, uma parceria totalmente back to the future! Então
era isso, Cazuza trocando figurinhas poéticas com os heróis que morreram de
overdose pra depois dar uma canja? E agora como é que se diz em
esperanto/telepático: 'O sonho não acabou, deu um cochilo e acordou'?..."
(Rita Lee, cantora, compositora e escritora)
"Era um irmão. Espero que seja lembrado sempre. Não só pela grande
figura que foi, mas também como grande poeta. Era um grande companheiro
de todas as viagens. Acima de tudo, um apaixonado pela vida. Fica a obra
dele."
"As melhores recordações que eu tenho são dos momentos em que a gente
ficava compondo, em que a gente passava às vezes uma tarde inteira mexendo
na letra ou na música até ficou do jeito que a gente queria. Aí, a gente saía de
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noite e de repente se pegava cantando um pro outro a música que a gente


tinha feito de tarde." (Roberto Frejat, guitarrista do Barão Vermelho e
principal parceiro de Cazuza).

Paulistano de 1957, Ayrton Mugnaini Jr. é jornalista, crítico musical,


compositor, pesquisador de música popular em geral, músico e radialista,
dos mais versáteis de sua geração. É colaborador de publicações como
Jornal Da Tarde, Folha Da Tarde, Cruzeiro Do Sul (Sorocaba), O
Pasquim (Rio), Revista Do CD, HV, Som Sertanejo, Bizz, Qualis e,
atualmente, Dynamite, On & Off, Música do Brasil, Rock In
Magazine e outras. E vem ministrando oficinas e palestras sobre
crítica musical desde 1994.
Autoproclamado "músico e compositor em estado crítico", tem
composições gravadas por Kid Vinil, Língua de Trapo, Nasi & Os Irmãos
do Blues e outros. Como intérprete e multiinstrumentista, vem lançando
várias fitas cassete e um LP, todos independentes, desde 1984. É produtor
filiado à
SOCINPRO; além de produzir seus próprios trabalhos, produz para
terceiros, incluindo a co-produção do LP Cantando Com A Platéia de Tom
Zé e Gereba.
Dedicado à pesquisa das origens e evolução da música popular em geral,
possui um acervo de mais de 6 mil discos, do 78 RPM ao CD, e centenas de
fitas de rolo e cassetes, com músicas, jingles, entrevistas e palavra falada de
todos os países, do fim do século 19 ao presente, além de centenas de livros,
revistas, partituras e recortes de jornais, nacionais e estrangeiros. Seus livros
para a Nova Sampa incluem um estudo sobre as origens do rock and roll,
História Do Rock - Os Primeiros 200 Anos, e uma pequena enciclopédia
sertaneja, ora em preparo. É também autor dos textos de contracapas de LPs-
reedições brasileiros como Surfer Girl dos Beach Boys e Um Passo À Frente
do grupo A Bolha, além de press-releases para artistas diversos como
Demônios da Garoa, Dalvan, Renato e Seus Blue Caps e J.J.Jackson.
Co-produz o programa de música e humor Rádio Matraca (nas FMs USP,
97 e Gazeta), desde 1985, e o Digital Session, ao lado de Kid Vinil e
outros (FM Brasil 2000), em 1992 e 1993, além de produzir o programa
Miguel Vaccaro Netto Em Boa Companhia, no ar em todo o Brasil via
Americansat.
E seus outros livros já publicados nesta Biblioteca Musical são dedicados a
Raul Seixas, John Lennon, Janis Joplin, Elvis Presley, Caetano Veloso,
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Roberto Carlos, Queen e Rita Lee.

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