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Introdução e objetivos
A “Campanha Saúde da Mulher” foi uma oficina realizada na República Maria Maria, através
do projeto de extensão “Práticas Educativas na Atenção à Saúde de Mulheres” do
CENEX/UFMG, que tratou de assuntos relacionados à saúde feminina. O projeto desenvolve
um trabalho educativo na referida moradia desde 2001, junto a mulheres com trajetória de
vida nas ruas.
A República Maria Maria é um equipamento da Secretaria Municipal de Assistência Social da
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), fundada em julho de 2000. É uma instituição
caracterizada como moradia provisória que acolhe mulheres com trajetória de vida nas ruas e
seus filhos. A instituição é mantida pela prefeitura e dirigida por um grupo de profissionais
autônomos através do Programa para a População de Rua. Além do caráter de moradia, tem
como proposta a reinserção das mulheres na sociedade por diferentes formas: regulamentação
da documentação pessoal, encaminhamento para emprego ou ocupações, cursos
profissionalizantes, ou seja, meios que possibilitem a sua subsistência, culminando com uma
saída definitiva das ruas. A permanência das mulheres na moradia é variada, algumas ficam
por vários meses, poucas estão lá há mais de um ano, a maioria, contudo, permanece por
pouco tempo, até encontrar algum outro espaço, companheiro, atividade ou mesmo, decide
voltar para as ruas.
As mulheres, de modo geral, encontra-se desempregadas, sem nenhum tipo de renda e passam
o dia vagando pelas ruas ou na própria moradia. Aquelas que têm família, quase sempre,
desconhecem seu paradeiro e as que conhecem, via de regra, não são bem-vindas sequer para
reverem os filhos (quando os tem). Sofrem com essa situação e evitam falar sobre o assunto.
O grau de instrução é variado: algumas são analfabetas, poucas possuem o ensino
fundamental completo, a maioria deixou os estudos após a quarta série.
Boa parte das mulheres tem demonstrado um saber próprio, oriundo das experiências de vida
e parte daquelas que não demonstram esse saber, é devido ao fato de serem portadoras de
algum tipo de sofrimento mental. A espontaneidade e receptividade estão sempre presentes,
apesar das dificuldades cotidianas enfrentadas.
A história pregressa de vida nas ruas fez com que essas mulheres se acostumassem às
péssimas condições de higiene e a uma alimentação constituída por aquilo que lhes era
possível adquirir. Justifica-se assim, a necessidade de um trabalho educativo, de longo prazo,
junto a essa população.
Segundo o Censo de População de Rua de Belo Horizonte (1998), considera-se como
população de rua:
o segmento da população de baixa renda, de idade adulta que, por
contingência temporária ou permanente, pernoita em logradouros
públicos, tais como praças, calçadas, marquises, baixios de viadutos, em
galpões, lotes vagos, prédios abandonados e albergues públicos. O
conceito abrange ainda crianças e adolescentes, desde que em companhia
das respectivas famílias”.
Além das mulheres estarem vulneráveis a diversos problemas de saúde, o Censo (Belo
Horizonte, 1998) aponta que parte das moradoras de rua são acometidas por sofrimento
mental o que, de acordo com Costa e Tundis (1992) dificulta a estruturação simbólica e
realização na vida social. Pudemos verificar essa realidade na República, ao conhecermos as
histórias de vida de algumas das mulheres que, impossibilitadas para o trabalho, foram
vítimas do abandono familiar, em suas palavras, “jogadas na rua”. A maioria delas quando
acolhida pela instituição, não tinha documentação, nem referências, vivendo verdadeiramente
à margem da sociedade. Comumente relatam situações nas quais são tratadas com desprezo e
hostilidade, estando sujeitas a outras sanções sociais.
Assim, o projeto “Práticas Educativas na Atenção à Saúde de Mulheres” tem sido realizado
pelas acadêmicas de enfermagem desde abril de 2001, através de ações educativas e a cada
ano (ou semestre), reformulamos a temática e as estratégias a serem desenvolvidas de acordo
com a demanda apresentada. Atualmente, o projeto conta com duas bolsistas do
CENEX/UFMG e uma aluna voluntária.
Desse modo, em 2005, sentimos a necessidade de voltarmos nossa atenção para os aspectos
da saúde da mulher, tendo em vista as dúvidas freqüentemente apresentadas por estas. Optou-
se por realizar uma oficina educativa, utilizando-se metodologia participativa. Os temas
trabalhados nessa oficina foram escolhidos pelas próprias moradoras da República através de
conversas individuais e de um levantamento conjunto com as mesmas, confirmando aqueles
de maior interesse e levantando novas dúvidas.
Os objetivos da campanha foram:
Levantar os conhecimentos das participantes relacionados a anatomia e fisiologia feminina;
Discutir a importância da prevenção de afecções tipicamente femininas para a manutenção da
saúde;
Estimular a valorização da feminilidade e sensibilizar as participantes em relação ao auto-
cuidado e à autonomia sobre seu corpo;
Discutir os assuntos adequando-os ao contexto de vida das participantes: a realidade de vida
nas ruas;
Debater sobre algumas patologias do sistema reprodutor feminino;
Metodologia
Resultados e discussão:
A oficina foi estruturada, a partir dos interesses das mulheres, juntamente com a orientadora
do projeto. Os encontros foram planejados de acordo com cronograma flexível dos temas
levantados, tais como: anatomia feminina e menstruação; fisiologia e cuidados com as
mamas; gravidez e fisiologia do parto; controle reprodutivo; câncer de útero; doenças
sexualmente transmissíveis e AIDS; climatério e menopausa.
A seguir, descrevemos de forma sucinta alguns dos encontros realizados e seus resultados:
Entendendo a menstruação
Este encontro teve por objetivos: levantar o conhecimento das participantes relacionado ao
tema; discutir a fisiologia da fase menstrual; debater o significado da menstruação no
contexto de vida das participantes; enfatizar a importância da higiene durante o período
menstrual (tendo em vista a realidade de vida nas ruas).
Pudemos observar que algumas moradoras conheciam sobre o assunto e respondiam
corretamente às questões propostas. Para as mulheres, as estratégias utilizadas foram
facilitadoras no processo de ensino-aprendizagem, principalmente pela visualização e
representação de um útero (feito com uma cabaça pintada e papel celofane) e o seu
funcionamento durante o ciclo menstrual. De modo geral, o interesse e a mobilização da
maioria ficou evidente, pela fisionomia de surpresa e satisfação ao apresentarmos os recursos
(útero e anexos) e as figuras (álbum seriado), o que reforça a importância da utilização destes
no processo educativo.
Prevenindo a Gravidez
Este encontro teve por objetivos: sensibilizar as participantes em relação à autonomia sobre
seu corpo; levantar o conhecimento das mulheres em relação aos métodos contraceptivos;
levantar as dificuldades das mulheres em relação aos métodos contraceptivos; discutir as
vantagens e desvantagens dos diferentes métodos acessíveis às moradoras.
Nesta ação educativa contamos com uma participação intensa das mulheres que se mostraram
a vontade para expor suas dúvidas e tecer comentários. Elas demonstraram um conhecimento
próprio sobre o tema, mas pudemos clarear as diferentes formas de ação, vantagens e
desvantagens dos vários métodos contraceptivos, sua acessibilidade e importância: “Eu vou
procurar lá no Centro de Saúde, pra ver se eu posso colocar DIU” (fala de uma moradora).
As estratégias utilizadas (teatro de fantoches e exposição acessível a elas dos objetos usados
no controle reprodutivo) foram essenciais para a facilitação da aprendizagem.
Conclusões:
Referências bibliográficas