You are on page 1of 8

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

UNIDADES DE APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA EM FORMA DE


PÁGINAS ELETRÔNICAS

ESTUDANTE: LEONARDO BARICHELLO


ORIENTADOR: MARCELO FIRER

UNICAMP, ABRIL DE 2003.

RESUMO

A proposta desse projeto é desenvolver um ambiente de


ensino/aprendizagem de matemática baseado nas teorias e metodologias
utilizadas no ensino de matemática por descoberta orientada, que sirva de
complemento ao ensino tradicional, utilizando a matéria-prima fornecida pelo
Proyecto Descartes, e implementação deste em ambiente escolar real objetivando
detectar possíveis aperfeiçoamentos e testar sua eficiência como instrumento de
melhoria no processo de aprendizagem de matemática.
INTRODUÇÃO

A grandeza do impacto da informática e da internet na educação é senso


comum, partilhado por educadores e leigos, pesquisadores e professores,
programadores e pedagogos, formadores de opinião e formuladores de políticas
públicas. A necessidade de se incorporar recursos de informática à educação é
fortemente realçada em diversos documentos oficiais do sistema de educação no
Brasil, inclusive nos Parâmetros Curriculares Nacionais ([5]).
Se todos concordam sobre a evidência do impacto, ainda se tateia sobre a
natureza deste e, mais ainda, sobre como direcionar este impacto para alcançar
ganhos significativos que transcendam a pirotecnia tecnológica. Conforme
sintetizado por José A. Valente ([9]), o título de “informática na educação” é
aplicado a conceitos substancialmente distintos:
 A alfabetização em informática que costuma ocorrer em escolas através
de cursos de informática, em horários específicos, e tem o objetivo de
ensinar o uso de computadores.
 A incorporação de ferramentas de informática ao trabalho desenvolvido
nas escolas: uso de processadores de texto para elaboração de
trabalhos escolares, da internet para busca de informações, de planilhas
para construção de gráficos, etc...
 O uso de computador para a transmissão de informações (Computer
Aided Instruction), através de tutoriais, programas de demonstração,
exercício-e-prática, avaliação do aprendizado, jogos educacionais e
simulação.
 O computador como instrumento de enriquecimento dos ambientes de
aprendizagem (a linguagem Logo e o programa Cabrí Geomètré são
exemplos marcantes).

Diversas abordagens vislumbram a informática e seus recursos como uma


possibilidade de se transformar em uma verdadeira “máquina de ensinar”. Trata-
se de uma perspectiva que enxerga os recursos de informáticas como uma
educação alternativa, podendo substituir o professor em diversas atividades. Os
resultados obtidos através desta abordagem são questionados, geralmente
restritos a atividades de treinamento e repetição.
Contrastando com a visão alternativa, a utilização do computador como
recurso complementar, enfatizando a criação do conhecimento, impõem uma
série de desafios, seja no que se refere à formação de professores, seja na
compreensão necessária dos processos de aprendizagem.

Na área específica da educação/ensino da matemática, uma das iniciativas


mais notáveis é o Proyecto Descartes1. Desenvolvido pelo Ministério da Educação
da Espanha, o projeto desenvolveu ferramentas computacionais para a confecção
de unidades didáticas no formato de páginas eletrônicas que incluem Applets em
Java que dão um certo dinamismo às páginas, “permitindo ao aluno investigar
propriedades, relacionar e adquirir conceitos, sugerir e comprovar hipóteses, fazer
deduções” ([4]).
Utilizando estas ferramentas foram elaboradas mais de cem páginas
eletrônicas, abordando todo o conteúdo matemático do currículo escolar da
Espanha, desde assuntos como estudo de polígonos, porcentagem, frações, até
limites e derivadas de funções reais. Cada uma destas páginas aborda algum
conteúdo matemático específico, expondo os conceitos de forma tradicional
(síntese no computador de páginas de livros) e agregando a estes os applets
dinâmicos que possibilitam a verificação dos conceitos expostos. Assim, na
unidade didática que trata de “Polígonos Regulares e Círculos”, encontramos o
seguinte trecho:

1
Proyecto Decartes, Centro Nacional de Información e Comunicación Educativa, Ministerio de
Educación Cultura e Deporte, Espanha, http://www.cnice.mecd.es/Descartes/descartes.htm .
Podemos observar que a atividade é introduzida na seguinte seqüência: 1)
Descrição da atividade a ser realizada (variação do número de lados do polígono);
2) Descrição do fenômeno a ser observado (confusão do polígono com o círculo);
3) Orientação detalhada de procedimento (mudança de eixo e de escala) para
constatação de conceito desejado (a confusão de polígono com círculo é apenas
aparente, conceito de limite subjacente). Este formato de apresentação se repete
em praticamente todas as demais unidades, sofrendo pequenas alterações não
significativas em alguns casos.
Essa apresentação de conteúdo é similar a que podemos encontrar em
livros didáticos, na realidade o applet poderia ser substituído por uma seqüência
de figuras impressas em uma página. Se utilizadas como unidades didáticas pelos
alunos, não constituem uma inovação propriamente dita, ficando restrita a
condição de reforço, de repetição do conteúdo visto.
Porém, esta limitação é reconhecida pelos autores que assumem que o
objetivo do projeto é apenas fornecer matéria-prima pronta para modificação por
professores ou instituições. Estes modificariam as unidades ao seu bel-prazer,
podendo gerar novas unidades que tenham outras abordagens pedagógicas,
objetivos e utilizações. Podemos inclusive encontrar na própria página do
Proyecto Descartes alguns exemplos de experiências neste sentido 2. Segundo os
próprios autores, é devido a esse objetivo-manifesto que foram utilizadas as
técnicas computacionais que o foram, por serem estas de simples manipulação.

OBJETIVOS

Este projeto tem o objetivo de encarar o desafio de aproveitar o conteúdo


de unidades didáticas do Proyecto Descartes para a criação de um ambiente de
aprendizagem que sirva de apoio e complemento às atividades tradicionais dos
professores.
De modo geral, queremos encarar os conteúdos e conceitos matemáticos
como problemas a ser resolvidos, criando o que se chama de “roteiro de
descoberta orientada” ([2]), tentando incorporar diversas propostas metodológicas
já desenvolvidas que esmiúçam a estrutura de atividades investigativas ([**],[**]).
Isto será feito através da elaboração de páginas eletrônicas que abordem de
2
http://www.cnice.mecd.es/Descartes/experiencias/memoria2000.htm
maneira investigativa conteúdos matemáticos selecionados, transformando a
matéria prima do Proyecto Descartes em um ambiente de aprendizagem
diferenciado deste.
Também pretendemos estudar propostas práticas de utilização destas em
ambiente escolar, seja em aulas regulares, seja em atividades extra-sala, dando
ênfase ao papel do professor como mediador, no sentido amplo do termo ([3]).

METODOLOGIA E CRONOGRAMA

Este projeto será desenvolvido de forma integrada ao Projeto de Ensino


Público “Feira de Matemática” (PFM), que está sendo implementado em duas
escolas públicas em Santa Bárbara D’Oeste (SP)3. Sob esse ponto de vista, o
trabalho desenvolvido servirá como apoio às atividades do projeto maior, ao
mesmo tempo em que utiliza a estrutura e ambiente deste como um “laboratório”
de experimentação.

Podemos dividir o projeto em três etapas básicas: elaboração de unidades


didáticas, experimentação em ambiente escolar e implementação de melhorias e
divulgação.

Primeira Etapa: Elaboração das unidades didáticas em forma de páginas


eletrônicas. Seguiremos os parâmetros e orientações metodológicas referentes a
ensino/aprendizagem de matemática através de resolução de problemas ([8]) e
mais especificamente sobre atividades de descoberta orientada ([2]). Sob este
ponto de vista, as atividades devem ser compatíveis com o tipo de atividades que
estão sendo desenvolvidas nas escolas no âmbito do PFM, no sentido de
possibilitar grande grau de autonomia por parte do aluno. No entanto, as
atividades se estruturarão em torno de conteúdos matemáticos clássicos, e não
de temas elaborados para permitir a exploração de conteúdos diversos de modo
articulado como é feito no PFM4. A escolha dos conteúdos será feita levando em
consideração os projetos em desenvolvimento no PFM.

3
Projeto financiado pela FAPESP, projeto nº 01/10888-1, que está sendo desenvolvido nas Escolas
Estaduais de Primeiro e Segundo Grau Monsenhor Nicopelli e Alcheste de Godoy Andia em Santa
Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo.
4
Exemplo de atividade implementada no projeto Feira de Matemática encontra-se no Anexo 1.
Sob o ponto de vista de programação substituiremos a tecnologia de
Applets Java pela tecnologia Flash. Os principais motivos para esta mudança são
a facilidade oferecida pela tecnologia Flash para a implementação de interfaces
gráficas e o domínio pleno desta por parte do estudante. Esta opção é justificável
se considerarmos que ambas as tecnologias em questão tem eficiência e
universalidade equivalentes e geram arquivos de tamanho comparáveis.

Segunda Etapa: Avaliação destas propostas em ambiente escolar real e a


busca de caminhos efetivos para sua utilização por parte de professores, dentro
do contexto e limitações existentes no sistema público de ensino. Devemos
começar com a orientação e discussão com os professores envolvidos, seja
aproveitando os encontros e reuniões rotineiros do projeto-mãe, seja mantendo
uma oficina de discussão no ambiente de aprendizagem à distância que está
sendo utilizado para suporte e acompanhamento do projeto-mãe (TelEduc5).
O acompanhamento da implementação contará com os seguintes
instrumentos: a) Observação das atividades em sala de aula, incluindo aspectos
qualitativos e na medida do possível também a quantificação de alguns
parâmetros relevantes (tempo de envolvimento com as diversas partes das
atividades, dedicação aos diversos tipos de exigências e possibilidades abertas
pelas atividades: lúdicas, interativas, reflexivas, discussão, etc) b) Entrevista com
os professores e parte dos alunos; c) Questionário de avaliação com os alunos.

Terceira etapa: Utilizar as conclusões obtidas na segunda etapa para o


aperfeiçoamento das unidades didáticas. Após a implementação destas
melhorias, avaliaremos a viabilidade de ampliar o projeto (em termos de
quantidade de unidades didáticas) e a divulgação do mesmo em rede aberta.

AVALIAÇÃO

Apesar de termos a intenção de criar um produto final de ampla divulgação


(as unidades didáticas na forma de páginas eletrônicas são de fácil difusão na
Internet), isto não é visto como um instrumento isolado, mas como parte integral
de uma metodologia de trabalho mais ampla.

5
http://teleduc.nied.unicamp.br/~teleduc/pagina_inicial/cursos_all.php?&tipo_curso=A
Os caminhos desenvolvidos para sua implementação, o modo como o
professor introduz as unidades didáticas e como os alunos as utilizam fazem parte
da experiência. Dessa forma, o presente projeto pode ser inserido também na
linha de pesquisa-ação ([1]) e as atividades de acompanhamento previstas nas
duas últimas etapas de implementação interagem entre si ciclicamente e
constituem metodologia de avaliação usual na linha de pesquisa-ação.
Além das ferramentas de avaliação já descritas, pretendemos introduzir nas
unidades didáticas pequenos enxertos que extrapolem tanto os conteúdos já
abordados/ensinados em sala de aula, como os conteúdos e conceitos que sejam
tratados no âmbito do PFM. O objetivo destes enxertos é tentar isolar o papel das
unidades didáticas eletrônicas no processo de aprendizagem de modo a permitir a
utilização de teste de aprendizagem.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

[1] Corey, Stephen M.; Action Research To Improve School Practices, Bureau
of Publications, Teachers College, Columbia University, Nova York, 1953.

[2] Ernest, P.; The philosophy of mathematics education. London: The Falmer
Press, 1991.

[3] Feuerstein, R. & Feuerstein, S. (1991). Mediated Learning Experience: A


Theoretical Review, in : Feuerstein, R. Klein, P.S. & Tannenbaum, A.
Mediated Learning Experience London: Freund Publishing House (pp.213-
240)

[4] http://www.cnice.mecd.es/Descartes/descartes.htm

[5] Parâmetros Curriculares Nacionais, Terceiro e Quarto Ciclo do Ensino


Fundamental.

[6] Paulo, Abrantes

[7] Pontes, João

[8] Polya, George; A Arte de Resolver Problemas, Ed. Zahar, XXXXX


[9] Valente, José A.; Informática na Educação no Brasil: Análise e Contextualização
Histórica, em “O computador na Sociedade do Conhecimento”, (J. A. Valente,
organizador) , Unicamp/Nied 1999, pg. 1-28.

You might also like