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SER JUSTO OU PARECER JUSTO?

Profa. Alcemira Maria Fávero


(Graduada em Filosofia e Pedagogia pela UPF, mestre em Educação pela UFRGS)
E-mail: mira@nuep.org.br
João era um garoto simpático, alegre, do tipo que todos conhece. Certa manhã
dirigiu-se ao supermercado para comprar um ovo de Páscoa de 500g. Saudou todos como
de costume. Seguiu em direção ao caixa 4, cumprimentou a moça dizendo:

João entregou à moça R$ 50,00 e ela lhe devolveu R$ 51,45 de troco. João conferiu
o troco e colocou-o no bolso.
Ao sair pela porta, sorria satisfeito. Pensava:
Ao sair pela porta sorria satisfeito. Pensava:
Perto de sua casa encontrou Perto de sua casa encontrou Ana Paula, vizinha e colega
Ana, quem podendo levar vantagem para seu proveito não o fará, sabendo que não sofrerá nenhuma
punição?
Vou lhe contar uma história que vem lá da Grécia Antiga. É a história de Giges.
Giges era um pastor de ovelhas Certa vez sobreveio uma enorme tempestade, e um terremoto abriu
uma fenda na terra. Giges, por curiosidade, foi ver e encontrou um cadáver, retirou do cadáver um anel de
ouro e pôs no seu dedo.
Certo dia, reunido com os seus companheiros de ofício, aconteceu uma coisa bem estranha. O anel de
Giges virou com o engaste para a palma da mão e no mesmo instante ele ficou invisível e, ao virar o anel para
fora, tornou-se novamente visível.
Giges de posse desse poder, matou o rei e tomou-lhe o trono.
Podemos ver nessa história, Ana, que ninguém é justo por sua própria escolha, ou por pensar que a
justiça lhe convenha pessoalmente, mas por necessidade, pois sempre que uma pessoa julga poder cometer
uma injustiça impunemente, a comete. Se pudéssemos ficar invisível não iríamos usufruir desse poder? Se
uma pessoa de posse desse Talismã não cometesse injustiça alguma, seria considerado o mais miserável dos
idiotas.
Posso até dizer que parecer justo traz mais felicidade às pessoas. Existe por acaso maior perfeição na
injustiça do que parecer justo sem o ser?

Meu caro colega! Ouvi uma vez alguém contando que o filósofo Sócrates, diante de argumentos
semelhantes a esses, julgou-se incapaz de defender a justiça considerando a situação naquele momento, mas
mesmo assim não pôde renunciar a defendê-la. Sinto-me mais ou menos como Sócrates; não sei bem o
que dizer-te, mas com certeza eu não consigo ver felicidade na injustiça, pois isso seria admitir que minha
felicidade dependeria sempre da infelicidade de outro. Também não acredito que a justiça seja algo imposto
ou que venha de fora, com são as leis. Para mim, a virtude justiça é algo que está dentro da pessoa, uma
amiga íntima da alma, uma partitura musical de toda harmônica. Ninguém, João, pode ensinar a seu justo,
mas podemos refletir sobre nossos atos e a partir deles praticar a justiça. Não vejo a menor diferença entre a
atitude de um assaltante e o seu comportamento hoje. Tchau João!

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