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Brasília, 3 de outubro de 2007.

Prezados alunos,

Em virtude de haver recebido um sem-número de emails, não há como


respondê-los individualmente. Em alguns casos cheguei até a fazê-lo, mas depois vi a
impossibilidade de proceder dessa forma.
Preliminarmente, alerto que não fui procurado por nenhum dos cursos em que
ministrei aulas para, pessoalmente, tirar dúvidas e instruir recursos. Achei até bom, pois
realmente seria impossível tornar-me onipresente e atender a todos como merecem.
Em razão do exposto, elaborei este arrazoado com fundamentos para recursos
em Controle Externo. Tive o cuidado de não redigir o texto dos recursos, apenas instruí-los
com os fundamentos. Explico: as bancas detestam ver recursos pasteurizados. Aquele
formulário encaminhado pelo candidato em que ele só insere o nome e a matrícula é
olhado “torto” pela banca. Os elementos estão aqui, mas cada um escreva o seu recurso. É
melhor para vocês, afinal recurso ainda é prova.
Como há vários gabaritos, não me refiro ao número da questão. Faço a
indicação reproduzindo as primeiras palavras do enunciado.
Vamos lá. Primeiro trato da prova de analista, depois da de técnico.

Grande abraço e sorte a todos,


Francisco Chaves
FUNDAMENTOS PARA RECURSOS À PROVA DE ANALISTA DO TCU APLICADA EM 29/9/2007

Na prova para ACE vejo possibilidade de recurso apenas em uma questão, a


seguinte:
“Todas as manifestações das cortes de contas têm valor e força
coercitiva...”

Nada mais errado. Em algumas oportunidades, por determinação


constitucional, os tribunais de contas manifestam-se sem exercer coerção.
Há os pareceres sobre as contas do governo de território e sobre as contas
prestadas pelo chefe do Poder Executivo. Ambos denominados “pareceres prévios” pela
Constituição. Há também um “pronunciamento conclusivo” a ser exarado pelo TCU em
decorrência de provocação da comissão mista do art. 166, § 1º, da Constituição Federal, ou
pelos tribunais de contas respectivos, quando provocados pelas comissões congêneres dos
Legislativos estaduais, municipais ou do Distrito Federal.
Art. 33. (...)
(...)
§ 2o As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso
Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União.
(...)
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido
com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República,
mediante parecer prévio, que deverá ser elaborado em sessenta dias a
contar de seu recebimento;
(...)
Art. 72. A comissão mista permanente a que se refere o art. 166, § 1o,
diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de
investimentos não programados ou de subsídios não aprovados, poderá
solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco
dias, preste os esclarecimentos necessários.
§ 1o Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes,
a comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a
matéria, no prazo de trinta dias.
§ 2o Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a comissão, se julgar que o
gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública,
proporá ao Congresso Nacional sua sustação.

Os “pareceres prévios” são peças opinativas e não vinculam ou exercem


qualquer forma de coerção em relação ao seu destinatário: o órgão do Poder Legislativo
competente (na União, o Congresso Nacional). O Legislativo federal e os estaduais não
estão vinculados às conclusões dos “pareceres prévios” para julgar as contas do chefe do
Executivo, e os Legislativos municipais podem fazer prevalecer suas vontades se houver
rejeição do “parecer prévio” por dois terços de seus membros.
O pronunciamento conclusivo do TCU no caso do § 2º do art. 73 é também
uma peça informativa à comissão mista, que “se julgar que o gasto possa causar dano
irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua
sustação”. Ora, nada mais claro que a comissão mista faz o uso que lhe aprouver da
informação contida no pronunciamento conclusivo emitido pelo Tribunal. O juízo de valor
é da comissão. Obviamente, a emissão do pronunciamento conclusivo do TCU – que se dá
por meio de parecer – não esgota as possibilidades de atuação da Corte de Contas, mas,
especificamente em relação ao comando constitucional citado, o Tribunal somente emite
sua opinião sobre a despesa não autorizada e suas conseqüências.
Há mais uma hipótese em que também inexiste coerção em manifestação do
Tribunal: quando são feitas recomendações em auditorias de natureza operacional. As
recomendações não são de obediência obrigatória, porque versam sobre matéria incluída
nos limites da ação discricionária do administrador.
Diante dos argumentos apresentados, o gabarito da questão deve ser alterado
para ERRADO.
FUNDAMENTOS PARA RECURSOS À PROVA DE TÉCNICO DO TCU APLICADA EM 29/9/2007

Na prova para TCE há duas questões contra as quais vislumbro possibilidade


de sucesso em recursos.

1ª questão: “É competência do TCU apreciar as contas prestadas anualmente pelo


presidente da República, bem como fiscalizar a aplicação...”
Acredito piamente em um erro na digitação do gabarito. O enunciado traz
vários erros.
O primeiro erro é dizer que ao TCU compete “fiscalizar a aplicação dos
recursos tributários correspondentes ao fundo de participação dos estados, arrecadados
pela União e transferidos aos demais entes da Federação”. Se o recurso é o do estado,
mesmo que esteja dentro da arrecadação de um tributo federal, compete a ele fiscalizar a
sua aplicação. Se o estado repassa a outros entes, será uma transferência voluntária.
Continua cabendo ao estado fiscalizar a aplicação.
Quanto à matéria, o Regimento Interno do TCU é bem claro:
Art. 253. O Tribunal fiscalizará, na forma estabelecida em ato normativo:
I – a entrega das parcelas devidas aos estados, ao Distrito Federal e aos
municípios à conta dos recursos dos fundos de participação a que alude
o parágrafo único do art. 161 da Constituição Federal;
II – a aplicação dos recursos dos fundos constitucionais do Norte, Nordeste
e Centro-Oeste administrados por instituições federais;
III – a aplicação dos recursos transferidos ao Distrito Federal com base no
inciso XIV do art. 21 da Constituição Federal;
IV – o cálculo, a entrega e a aplicação, conforme o caso, de quaisquer
recursos repassados pela União por determinação legal a estado, ao Distrito
Federal ou a município, consoante dispuser a legislação específica.

O segundo erro é mais evidente: “transferidos aos demais entes da


Federação, incluindo-se os territórios”. Território não é ente federado!
Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal (...)
(...)
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

Quanto à possibilidade de o TCU poder “bloquear as parcelas desses fundos e


suspender a transferência de quaisquer outros recursos federais”, não me dei ao trabalho de
fazer pesquisa na legislação, mas a afirmação é tal sorte absurda diante de qualquer
realidade que me assalta o medo de que isso esteja escrito em algum lugar. Sinceramente,
nunca ouvi falar nisso e não acredito que seja possível. Todavia, se alguém souber que há
um normativo legal prevendo essa possibilidade, peço que, pelo amor de Deus, me
informe.
Consoante as razões expendidas, não há como considerar correta a assertiva,
razão pela qual o gabarito da questão dever ser modificado para ERRADO.

2ª questão: “Considere que o TCU, ao examinar a legalidade de determinado ato de


concessão de aposentadoria...”
O enunciado fala em o TCU anular o ato por ilegalidade.
De início, lembro que um ato de aposentação, apesar de sua produção se
esgotar em um momento determinado no tempo, produz efeitos continuados no futuro.
Exceto por seus próprios atos de administração, o TCU não anula ou
revoga ato de nenhum jurisdicionado.
Quanto à revogação, é lógico, porquanto o órgão de fiscalização não pode se
imiscuir no âmbito de discricionariedade do administrador. Revogar é ato discricionário,
informado pela conveniência e oportunidade da autoridade competente para a revogação.
No que tange à anulação, basta ler o Texto Constitucional:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido
com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...)
IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências
necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
X – sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a
decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
(...)

Isto é, se o ato for ilegal e tiver que ser anulado, o TCU assinará prazo para
que a autoridade administrativa competente proceda à anulação. Se não for obedecida, a
Corte susta o ato (se o ato já não tiver esgotado seus efeitos, claro) e comunica ao Senado
Federal e à Câmara dos Deputados. A Lei Orgânica e o Regimento Interno do TCU
prevêem, ainda, a aplicação de multa ao responsável.
Aliás, matéria próxima foi objeto, inclusive, de uma questão da prova de
analista de controle externo deste ano, cujo enunciado é reproduzido a seguir:
O Tribunal de Contas da União (TCU) aprecia a legalidade do ato
concessivo de aposentadoria e, encontrando-se este em conformidade com a
lei, procede a seu registro. Essa apreciação é competência exclusiva do
TCU e visa ordenar o registro do ato, o que torna definitiva a aposentadoria,
nos termos da lei. Entretanto, se, na apreciação do ato, detectar-se
ilegalidade, não compete ao TCU cancelar o pagamento da
aposentadoria, inclusive para respeitar o princípio da segregação.

Segundo o gabarito preliminar divulgado pelo Cespe, o enunciado acima foi


considerado CERTO. Como o TCU não pode nem mesmo cancelar o pagamento da
aposentadoria, corolário que não pode ir ainda mais além e anular o ato.
Na questão objeto do recurso, poder-se-ia estar diante de três situações:
a) o TCU está no exercício de fiscalização genérica de atos e contratos;
b) o TCU está no exercício da competência constitucional de apreciar para
fins de registro do ato concessório; ou
c) o TCU está anulando um ato de sua própria lavra, como órgão
administrativo.
Para a hipótese “a”, se fosse caso de anulação, o TCU não poderia ter anulado
o ato. Conforme visto, caberia a ele, assinar prazo para que o órgão anulasse o ato (art. 71,
IX, CF). Caso não fosse atendido, sustaria o ato (art. 71, X, CF).
A Súmula Vinculante nº 3 obriga a concessão do contraditório e da ampla
defesa à espécie:
Súmula Vinculante nº 3:
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma e pensão.

O ato de aposentação inquinado foi descoberto em um processo de fiscalização


do TCU e não se trata da exceção prevista na súmula, pois não se está procedendo ao
registro do ato. Sendo assim, o contraditório e a ampla defesa devem ser garantidos ao
aposentado.
Na hipótese “b”, se fosse caso de anulação, o TCU negaria o registro ao ato
(art. 260, § 1º, RITCU), mas também não poderia anulá-lo. Além de o órgão produtor do
ato estar obrigado a cessar qualquer pagamento dos proventos no prazo de quinze dias, sob
pena de responsabilização solidária (art. 262, caput, RITCU), o TCU, novamente,
assinaria prazo para que o órgão anulasse o ato (art. 71, IX, CF). Caso não fosse atendido,
sustaria os atos de pagamento dos proventos de aposentadoria (art. 71, X, CF), pois são
esses os efeitos do ato de aposentação ilegal que se prolongam no tempo.
Art. 260. (...)
§ 1º O Tribunal determinará ou recusará o registro dos atos de que trata
este artigo, conforme os considere legais ou ilegais.
(...)
Art. 262. Quando o ato de concessão de aposentadoria, reforma ou
pensão for considerado ilegal, o órgão de origem fará cessar o
pagamento dos proventos ou benefícios no prazo de quinze dias,
contados da ciência da decisão do Tribunal, sob pena de
responsabilidade solidária da autoridade administrativa omissa.
§ 1º Caso não seja suspenso o pagamento, ou havendo indício de
procedimento culposo ou doloso na concessão de benefício sem
fundamento legal, o Tribunal determinará a instauração ou a conversão do
processo em tomada de contas especial, para apurar responsabilidades e
promover o ressarcimento das despesas irregularmente efetuadas.
§ 2º Recusado o registro do ato, por ser considerado ilegal, a autoridade
administrativa responsável poderá emitir novo ato, se for o caso, escoimado
das irregularidades verificadas.
(...)

Na situação “c”, o TCU realmente anularia o ato que foi produzido por ele,
desde que tenha violado a ordem jurídica e que não fosse passível de convalidação.
Todavia, nesse caso, antes deveria garantir o contraditório e a ampla defesa ao beneficiário
do ato de aposentação: o aposentado, pela aplicação direta da Súmula Vinculante nº 3.
Súmula Vinculante nº 3:
Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma e pensão.

Pode parecer estranho, mas a Súmula Vinculante nº 3 é clara quando fala em


“processos perante o Tribunal de Contas”. A anulação do ato de aposentação tem que ser
objeto de um processo administrativo interno. Portanto, é um feito que tramita na Corte.
Como na hipótese não incidiria a exceção prevista na súmula, pois não seria o registro
inicial, o contraditório e a ampla defesa devem ser garantidos ao aposentado.
Considerando que não há nenhuma hipótese em que o enunciado possa
enquadrar-se no ordenamento jurídico, o gabarito da questão deve ser alterado para
ERRADO.

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