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APOSTILA 1 – DIREITO PENAL

JOÃO PAULO ORSINI MARTINELLI

ESTUPRO:

Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça:

Pena - reclusão, de seis a dez anos.

1) Tipicidade objetiva:

Constranger é forçar, compelir. É forçar a vítima a agir contrariamente à sua


liberdade sexual.
Conjunção carnal é a cópula vaginal. Qualquer outra forma de coito constituirá
atentado violento ao pudor.
A violência ou a grave ameaça são os meios de constranger a vítima. A violência
exigida pelo tipo é a coação física. A grave ameaça, por outro lado, é a violência moral,
consistente na intimidação, na ameaça de um mal grave e sério, capaz de impor medo à
vítima (Bitencourt).
Não é necessário que se esgote toda a capacidade de resistência da vítima, a ponto
de colocar em risco a própria vida para se reconhecer a violência ou grave ameaça. Quer
dizer, não é necessário que a vítima esteja totalmente dominada física ou mentalmente.

“Não configura o crime de estupro a ameaça do acusado de prolatar as suas relações íntimas
com a vítima aos familiares desta e aos seus colegas para denegrir-lhe a honra” (TJSP – AC – Rel.
Adalberto Spagnuolo – RT 490/306).

“Sendo complacente o hímen da vítima, o exame médico-legal não vai positivar a realização da
conjunção carnal. Mas outras provas poderão comprovar tal fato” (TJRJ – AC – Rel. Raphael Cirigliano
Filho – RT 588/363).

“Conjunção carnal – Para que se configure, não é necessária a introdução total do membro,
quando se configura o coito vulvar, com o afastamento dos lábios e atrito com os órgãos externos” (TJDF
– AC – Rel. Helládio Monteiro – RT 220/189).

“A ameaça para configurar o estupro deve se referir a determinado dano material ou moral
considerável, capaz de inibir a vontade da vítima” (TJSP – AC – Rel. Weiss de Andrade – RT 501/282).

“A conjunção carnal deve ser obtida mediante violência ou grave ameaça. Em qualquer caso
exige-se o franco, positivo e militante dissenso da vítima. Não há estupro sem que tenha havido violência
(física ou moral) grave, exercida de modo a impossibilitar a resistência da vítima” (TJSP – AC – Rel.
Márcio Bártoli – RT 180/346).

“Aceitando a vítima sair em companhia do réu logo depois da prática do ato sexual e dele se
despedindo de forma carinhosa, com beijo na face, tais circunstâncias evidenciam a inexistência do crime
de estupro” (TJGO – AC – Rel. Juarez Azevedo – RT 712/437).
2) Tipicidade subjetiva:

O dolo é a vontade e a consciência de constranger a vítima, contra sua vontade, à


prática de conjunção carnal.

3) Sujeitos do crime:

Sujeito ativo: é o homem, mas a mulher pode ser partícipe.

“Em sendo o crime de estupro catalogado como sendo crime próprio, pois pressupõe no autor
uma particular condição ou qualidade pessoal, nada impede a mulher seja partícipe desse delito contra a
liberdade sexual” (TJMT – HC – Rel. Mário Ateyeh – RT 704/369).

Sujeito passivo: é a mulher, somente. Não importa sua situação, se é virgem, se é


prostituta, se é esposa. Qualquer mulher pode ser sujeito passivo.
Quando o marido força a mulher à conjunção carnal não está no exercício regular
de direito. Incorre no crime de estupro.

4) Consumação e tentativa:

O crime é consumado com a penetração peniana na vagina. Não há necessidade


da relação sexual chegar ao final. É admissível a tentativa.

“Se o agente manifesta por palavras inequívocas a intenção de manter relação sexual, mediante
violência, com a pessoa da vítima, caracterizado está o crime de estupro, na forma tentada” (TJDF – Ap.
– Rel. Lécio Resende – RT 752/639).

“Caracteriza-se o crime de estupro na forma tentada quando o agente, em lugar ermo e distante,
constrange a vítima à prática do ato sexual, iniciando a execução de seu intento interrompido diante da
reação eficaz desta, ainda quando não tenha chegado a haver contatos íntimos” (TJGO – AC – Rel. Pedro
Correia – RT 720/494).

5) Presunção de violência:

A violência é presumida quando a vítima é menor de 14 anos, alienada ou débil


mental, de acordo com o art. 224.

“O fato de a vítima de estupro ser menor de 14 anos não pode constituir agravante, por ser
elemento da figura criminosa” (TJMT – AC – Rel. Rui Dias – RT 673/353).

A jurisprudência majoritária entende que o consentimento da vítima menor de 14


anos é irrelevante para a descaracterização da violência presumida.

6) Formas qualificadas:

Quando resultar lesão corporal grave ou morte da vítima, de acordo com o art.
223, a pena a ser aplicada aumenta-se para 8 a 12 anos e 12 a 25 anos, respectivamente.

7) Causas de aumento de pena (art. 226):


A pena é aumentada da quarta parte se o crime é cometido com o concurso de
duas ou mais pessoas ou se o agente é ascendente, pai adotivo, padrasto, irmão, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade
sobre ela.
O inciso III, relativo ao homem casado, foi revogado pelo Lei 11.106/2005.

8) Concurso de crimes:

É possível o concurso do estupro com outros crimes sexuais, mesmo que a vítima
seja a mesma.

“Embora do mesmo gênero, os crimes de estupro e atentado violento ao pudor (CP, arts. 213 e
214) não são da mesma espécie, o que afasta a continuidade e corporifica o concurso material” (STJ –
Rel. Edson Vidigal – REsp. 221.634).

Atenção: se os atos de atentado violento ao pudor fazem parte da execução do


estupro, aqueles são absorvidos por este crime.

“O delito de atentado violento ao pudor somente é absorvido pelo de estupro quando certos atos
iniciais e atentatórios são praticados até o fim visado, que é a cópula vaginal” (TACRIM-SP – AC – Rel.
Camargo Aranha – JUTACRIM 51/271).

Se, em momentos seguidos, a mesma vítima for violentada várias vezes, pode ou
não haver o crime continuado. A jurisprudência diverge, não havendo posição pacífica
nem mesmo dentro do mesmo tribunal. Por exemplo, o TJSP ainda se divide quanto à
essa possibilidade.

9) Crime hediondo:

De acordo com a Lei 8.072/90, o estupro é crime hediondo. O entendimento


majoritário inclina-se para a hediondez do estupro tanto na forma simples quanto na
forma qualificada. No entanto, o STJ já decidiu várias vezes que é hediondo apenas o
estupro qualificado.
Quanto ao estupro com violência presumida, há entendimento de que NÃO é
crime hediondo, por não estar expressamente prevista na Lei 8.072/90 (entendimento
majoritário).

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