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DIREITO PENAL III – 4.

° ano
Prof. João Paulo Martinelli

INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe
impedimento que não seja casamento anterior:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser
intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento,
anule o casamento.

São duas as condutas incriminadas: a) induzir a vítima a erro essencial para


contrair casamento; b) ocultar impedimento que não seja casamento anterior.
Erro essencial é aquele previsto no art. 1.557 do Código Civil:

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal;

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e


transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência;

IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.

Trata-se, pois, de norma penal em branco, pois depende do direito civil o


preenchimento das elementares do crime.

Impedimento para o casamento é hipótese prevista no art. 1.521 do Código Civil:

Art. 1.521. Não podem casar:

I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

II - os afins em linha reta;

III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;


V - o adotado com o filho do adotante;

VI - as pessoas casadas;

VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o
seu consorte.

É fundamental que a vítima não tenha conhecimento do erro essencial ou do


impedimento para a configuração crime. O meio empregado pelo agente deve ser hábil
para enganar, capaz de provocar o erro.
No Código Civil anterior, o defloramento da mulher poderia ser considerado erro
essencial, o que não acontece mais. Por isso, é hipótese de abolitio criminis.
No caso dos impedimentos para o casamento, se o agente era casado, há o crime
específico de bigamia, previsto no art. 235.
A ação penal é privada, só pode ser intentada pela vítima enganada. O trânsito em
julgado da sentença que anulou o casamento é condição de procedibilidade para a ação
penal. Ou seja, enquanto o casamento não for anulado, não pode o agente iniciar a ação
penal. Não confundir a condição de procedibilidade com a existência de crime.

CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO

Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a
nulidade absoluta:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Pratica o delito aquele que contrai casamento ciente da existência de impedimento


absoluto. Se ambos os cônjuges tinham o conhecimento, há co-autoria.
As causas de nulidade do casamento são os impedimentos dirimentes absolutos,
previstos no art. 1.521 do CP.
A diferença entre este crime e o anterior é o modo de agir. No art. 236 o agente
induz a vítima a erro, enquanto no art. 237 o sujeito ativo simplesmente omite o
impedimento para o casamento. Por isso a pena é mais branda.
Se o impedimento for o casamento anterior, o crime é de bigamia.

SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO

Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento:

Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Este delito ocorre quando o agente proclama-se autoridade para a celebração de
casamento. Deve haver demonstração inequívoca desta falsa atribuição. A conduta
incriminada está em atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento.
Por exemplo, o escrivão, que não possui autoridade para celebrar casamento, se
faz passar por juiz de paz.

“Simulação de casamento – Envolvimento também, na denúncia, da noiva – Jovem que,


entretanto, foi iludida pelo co-réu que se dizia solteiro e que conseguiu ‘juiz de paz’ para casá-los –
Gravidez daquela a essa época – Farsa só descoberta quando estava tudo pronto para o consórcio –
Coação irresistível caracterizada na espécie – Absolvição da co-ré mantida – Condenação, porém, dos
demais – Apelação provida” (TACRIM-SP – AC – Rel. Xavier Homrich – RT 448/382).

SIMULAÇÃO DE CASAMENTO

Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa:

Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

Conforme Hungria, simular casamento é figurar como contraente do matrimônio


numa farsa que resulte para outro contraente a convicção de que está casando seriamente.
É necessário que uma das partes esteja em erro. A simulação de casamento deve
ocorrer por meio de engano.

“Noiva enganada que pouco antes da cerimônia falsa vem a descobrir a fraude – Vindo a nubente
enganada a tomar conhecimento da falsidade do casamento, ainda que pouco tempo antes da cerimônia,
não há falar no delito do CP” (TACRIM-SP – AC – Rel. Xavier Homrich – JUTACRIM 34/425).

Se o agente simula casamento com a finalidade de manter relações sexuais com a


vítima, incorre no crime de posse sexual ou atentado ao pudor mediante fraude.

REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE

Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Consiste o crime em provocar, no registro civil, a inscrição de registro inexistente.


A falsidade, material ou ideológica, integra o crime. Portanto, há absorção da falsidade.

“Registro de nascimento inexistente – A gravidade do crime está em ofender a fé pública e atentar


não contra a família e contra o próprio indivíduo, mas, sobretudo, contra a boa ordem da Administração
Pública. O registro civil é de real importância, não apenas para a pessoa humana que vive em sociedade,
mas, principalmente, para o Estado que encontra no registro público o senso demográfico de toda a
Nação” (TJSP – AC – Rel. Arruda Sampaio – RT 281/99).

“Registro de nascimento inexistente – Acusado que assim age por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias – Co-ré que simulava uma gravidez e meses após convence do nascimento de gêmeos
enviando-lhe fotografia destes – Crianças que teriam nascido durante sua ausência da cidade – Se o réu
cometeu o crime por erro plenamente justificado, supondo uma situação de fato que, se existisse, tornaria a
ação legítima, está isento de pena” (TJSP – AC – Rel. Gonçalves Santana – RT 381/152).

Concurso de normas: falsidade ideológica.

“Promover um segundo registro de nascimento, alterando dados constantes do registro anterior,


constitui delito de falsificação ideológica e não o previsto no art. 241 do CP” (TJSP – Rev. – Rel. Dinio
Garcia – RT 334/90)

PARTO SUPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE


AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO

Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-
nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:

Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:

Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.

O crime consiste em quatro formas de conduta:


a) Dar parto alheio como próprio, no qual a mulher atribui a si a maternidade de
filho alheio;
b) Registrar no registro civil, como sendo seu, filho de outra pessoa;
c) Ocultar o neonato, com a supressão de direitos inerentes ao seu estado civil;
d) Substituir os recém-nascidos, modificando direitos inerentes a estes.

A eventual falsidade ideológica é absorvida pelo art. 242, de acordo com o


princípio da especialidade da norma.
Há entendimento jurisprudencial no sentido de conceder o perdão judicial àquele
que pratica o crime com a finalidade de preservar a criança. Por exemplo, casal que
registra, como seu, criança abandonada, para garantir seus direitos.

“Crime contra o estado de filiação – ocorrência. Réus que agiram por motivo de nobraze –
Artigo 242, parágrafo único do Código Penal. Recurso parcialmente provido para reconhecer a prática de
delito e conceder o perdão judicial” (TJSP – AC 129.264-3).

“É de ser reconhecido o motivo de nobreza, a que alude o parágrafo único do art. 242 do CP, à
ré, expulsa do lar, grávida de meses e ao desamparo, que preferiu gerar o filho, ao invés de recorrer a
processo abortivo, que seria mais deletério, entregando-o, quando de seu nascimento, aos cuidados de
quem melhor pudesse criá-lo” (TJSP – AC – Rel. Camargo Sampaio – RT 525/334).

SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO

Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio,
ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado
civil:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Neste crime, o agente deixa o menor em asilo não lhe revelando a filiação ou
atribuindo-lhe filiação falsa. Se o abandono se der em local diverso, pode configurar o
crime de abandono de incapaz ou abandono de recém-nascido.
A intenção do agente consiste em prejudicar direito inerente ao estado civil do
filho. Se o abandono não tiver esse fim, também ocorrem as modalidades previstas nos
arts. 133 e 134.

“Não caracterização – Avó que entrega neta ao Juizado de Menores, dizendo que a mesma era
desconhecida e fora deixada em sua casa – Ação despida de dolo específico, pois não teve como escopo
prejudicar direitos relativos ao estado civil, tudo indicando que agira em razão de dificuldades
econômicas – Ocorre que o delito em questão exige para sua configuração o dolo específico. Portanto, o
delito em questão somente poderá ser reconhecido se o elemento subjetivo tiver um fim específico,
mencionado no próprio artigo. No caso em exame, em momento algum ficou demonstrado que a intenção
da ré, ao ocultar a origem da criança entregue, tivesse por escopo prejudicar direitos relacionados ao
estado civil. Ao contrário, tudo indica que a entrega foi feita em razão de dificuldades econômicas e a
ocultação por receio do não recebimento da infante” (TJSP – AC – Rel. Camargo Aranha – RT 542/341).

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