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menos sete. Sacramentadas. Esses lados, essas faces, não são simples traços de
estilo, certamente nem convicções quanto às formas, são algo além disso: o
homem Drummond, o corpo além do poeta e, como todos os demais corpos,
susceptível às passagens, mudanças e afetos do tempo. Sua passagem nos
recoloca, nos reescreve e, no poeta mineiro, haveria de fazê-lo admitir uma derrota
diante de suas consumições eróticas. Nos conflitos entre as dores, a morte e a vida,
o sexo aparece como peça atraente, extrapolação da vida em direção ao fim sem
que necessite ser, de fato, o fim. É dessa forma que melhor se compreende a
conversão do comedido mineiro em militante póstumo da sacanagem.
Mario de Andrade costumava dizer que a culpa era toda da timidez. Faz todo
sentido. Mas é igualmente coerente acreditar que as mudanças de comportamento
que viu observar - naqueles anos de 1950, os comerciais já expunham muito mais
pedaços de pele que na época dos bondes, nos anos 20, quando um tornozelo de
fora era o auge do erotismo público - somadas ao avanço da idade, tenham feito
nosso poeta alargar as brechas para o erotismo que já cultivava desde sempre.
Mas, apesar disso, fato é que Drummond preferiu-se, num pedido compreendido e
atendido, morto à época da publicação do livro. Morto quando admitisse que a
pornografia venceu. Melhor assim que deixar-se entrever à frente de todos seus
acessos delirantes por contornos passantes em bondes, camas ou moitas, de coxas,
pernas e peitos femininos, sempre femininos. Sobre dores do ser, sobre a política e
sobre as palavras, estaria a glória de um convulsivo orgasmo. É assim que no livro,
escrito em meado dos anos setenta, Drummond rende-se a produção de poemas
que vão do erótico ao pornográfico, passando pelo completo despudor; versos mil
valentes onde ato sexual não eleva nem rebaixa, mas sim, aceita exultante a
condição simples, o exposto cru, bastante cru, de ser humano. Animal sem meias
palavras: ato, suor, lugar, sêmen, gemido, mamilos, modo. Uma pequena amostra
dessas poéticas paixões carnais estão aqui nesta pequena seleção de cinco poemas
de puro gozo retirados d´O Amor Natural.
Sugar e ser sugado pelo amor
A língua lambe
Adorando.