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Bem aventurados os mansos

(Mateus 5:1-10)
por: Leandro Tarrataca

Em Mateus 5 vimos que a perspectiva de Jesus a respeito daqueles que sofrem, daqueles
que choram é contrária à daqueles que não conhecem o Evangelho. Porque Jesus diz que
aquele que chora é bem aventurado, é mais do que feliz, porque eles receberão o consolo de
Deus.
“1Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram-se
os seus discípulos, 2e ele se pôs a ensiná-los, dizendo: 3Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus. 4Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. 6Bem-
aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos. 7Bem-aventurados
os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os limpos de
coração, porque eles verão a Deus. 9Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus.”
Quero chamar sua atenção para o versículo 5: “Bem aventurados os mansos, porque
herdarão a terra.” Você gostaria de ser chamado de manso? João manso, Maria mansa,
Pedro manso, Joana mansa... Você gostaria disso? É interessante como as palavras tomam
significados distintos nos mais diversos grupos culturais. A palavra ‘manso’ na nossa
língua, pelo menos no sentido coloquial da palavra, não é uma das descrições mais
louváveis da terra; a maioria das pessoas que conheço não gostaria de ser chamadas de
mansas; porque na nossa língua a palavra ‘manso’ traz a idéia de subserviência. Você se
torna tão submisso, chega a ponto de ser ineficaz, você é reduzido a um tolo ou, em
português bem claro, você é tratado como um verdadeiro imbecil. Hoje para a maioria das
pessoas é esse o significado da palavra ‘manso’. Conheci uma senhora muito simpática que
me ajudou bastante e ao referir-se ao próprio filho dizia: ‘Aquele é um manso, fazem dele o
que querem, gato e sapato’. Ninguém quer carregar tal estigma.
Quero lembrá-lo que o Novo Testamento foi escrito em grego e a palavra usada aqui é
‘praos’, uma das grandes palavras da língua grega para se referir a um princípio ético.
O sábio Aristóteles fixou um método para definir a virtude. Ele dizia que a virtude está
sempre entre dois extremos: o excesso e a deficiência. Entre um e outro encontra-se a
virtude. Um exemplo: você pode ter alguém que seja um esbanjador na sua família, gasta
dinheiro com uma facilidade enorme, gasta o que tem e o que não tem. Mas ao mesmo
tempo você pode ter um parente avarento, uma pessoa que tem recursos mas não gasta de
jeito nenhum. Temos então dois extremos: um esbanjador e outro avarento. E o ponto de
equilíbrio seria a generosidade, alguém que saiba gerenciar seus recursos. Muitas pessoas
se tornam famosas por sua mania de ostentar, esbanjar comprando objetos importados,
carros, jóias e outras por sua avareza. Mas raramente alguém se torna famoso por sua
generosidade.
O milionário Goldberg Getty chegou ao ponto de mandar instalar um telefone público na
sua casa para garantir que caso um visitante precisasse fazer uma ligação, não usasse o seu
telefone particular. Quando alguém então perguntasse se poderia usar o telefone, ele
indicaria imediatamente o telefone público. Isso é o que podemos chamar de desequilíbrio.
Na mente de Aristóteles é um estado de equilíbrio entre a pessoa irascível e a pessoa
indiferente. Do ponto de vista bíblico manso é aquele que consegue confiar em Deus, é
aquele que não precisa tomar a vingança nas suas próprias mãos porque ele confia no
Senhor. O que acontece é que o nosso Senhor Jesus considera como base de bênçãos aquilo
que o mundo despreza. O mundo considera a mansidão o predicado de alguém fraco, uma
pessoa sem personalidade, um covarde. Chamar alguém de manso é ofensa em nossa
sociedade. Mas Jesus não pensa assim, ele diz que o manso é bem aventurado porque ele
herdará a terra.
É evidente que o conceito de Jesus a respeito de mansidão é um contraste com o conceito
do mundo. O Dr. Dwight Pentecost em seu livro sobre o Sermão do Monte diz o seguinte:
“Para se ter uma idéia do que a Bíblia considera mansidão veja-se a vida de Moisés. No
capítulo 12 de Números o Espírito de Deus testifica que ‘era o varão Moisés mui manso,
mais do que todos os homens que havia sobre a terra’. Quando a Palavra de Deus retrata um
homem manso ela apresenta-nos alguém a quem jamais atribuiríamos o caráter de
mansidão. Mas Deus encontrou a mansidão exemplificada na vida de Moisés, a quem
associamos como um homem intrépido, ousado. No capítulo 5 de Êxodo, Moisés que
outrora fugira da presença de Faraó, retorna para apresentar-se ante o poderosíssimo
monarca. Em Êxodo 5:1 foram Moisés e Arão a Faraó e disseram: ‘Assim diz o Senhor de
Israel, deixa ir o meu povo’.”
Moisés não temia estar diante do Faraó, não tinha medo de dar ordens àquele governante.
Moisés era um homem bravo, determinado, destemido. Mas Moisés, a partir da perspectiva
de Deus, era um homem manso. Como isso é possível? Nós podemos entender a partir do
momento que percebemos que Moisés é alguém que depende de Deus, ele não confia em
suas próprias habilidades. Quando você observa Êxodo 3:11
“Então Moisés disse a Deus: Quem sou eu, para que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de
Israel?”
você percebe que Moisés se sente incapaz para tamanha responsabilidade. Ele não confia
em seus talentos, não confia em si mesmo. Sem rodeios, sem meias palavras ele diz: ‘Deus,
eu não tenho condições’. Essa é a característica de alguém manso, de alguém que confia em
Deus para resolver as situações. Alguém que não quer resolver os problemas no grito, na
força, mas sim na dependência de Deus.
O apóstolo Paulo escrevendo aos filipenses 3:3,4 diz:
“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em
Cristo Jesus, e não confiamos na carne. Se bem que eu poderia até confiar na carne. Se
algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu.”
Paulo disse que aquilo que ele podia fazer, ou seja, confiar na carne, era inútil, não servia
para absolutamente nada. Confiar em si mesmo não resolveria sua situação. Lutar com suas
próprias forças não resolveria seus problemas. Paulo reconhecia que precisava confiar em
Deus, exatamente o que Moisés estava fazendo.
Em quem você confia? No que você confia para resolver as situações mais difíceis da sua
vida? Você confia em si mesmo? Se você confia em si mesmo, você não tem essa virtude
que é ser manso. Se você confia em Deus a despeito de tudo que acontece dentro do seu
coração, então você é de fato bem aventurado.

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