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HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Delba Teixeira Rodrigues Barros


Departamento de Psicologia - UFMG

Compreender a situação da orientação profissional na atualidade requer um breve


resgate de sua história.
Essa história poderia começar a ser contada junto com a história dos grandes
pensadores da humanidade, pois chama a atenção que muito antes que filósofos, psicólogos e
educadores se detivessem sobre a questão da escolha da profissão, muitos já haviam
percebido que era necessário se encontrar um meio diferente do acaso para essa escolha. No
entanto, como argumenta Carvalho (1995) a realidade social era de tal forma estratificada que
na prática não havia liberdade de escolha, e conseqüentemente, não havia mobilidade social.
Para o homem comum as ocupações raramente eram escolhidas, e quando o eram as
alternativas eram poucas (Martins, 1978).
A Revolução Industrial, ampliada no século XIX, impôs a multiplicação de novos e
específicos postos de trabalho. Para que os trabalhadores pudessem desempenhar essas
novas funções, surgiram novos cursos e especializações aumentando as possibilidades de
escolha ocupacional, principalmente para os iniciantes nesse mercado de trabalho. A exigência
do aumento da eficiência industrial a fim de atender à demanda da sociedade atribuiu aos
jovens uma complexidade cada vez mais crescente na hora de escolher sua ocupação.
Rosas (2000) atribui a Edouard Charton a primeira tentativa concreta de fornecer
informação profissional. Esse engenheiro francês, com a finalidade de ajudar as pessoas a se
decidirem quanto à profissão, coletou o depoimento de vários profissionais e organizou o
Dicionário de Profissões (Dictionnaire des Professions), cuja 1ª edição data de 1842.
Entre o século XIX e o início do séc. XX, outras obras autobiográficas e de auto-ajuda
foram escritas para pais e jovens tratando da questão da escolha da profissão. No entanto o
surgimento da Orientação Profissional, como uma prática com propostas de fundamentação
teórica e técnicas próprias, se deu no início do século XX. Educadores e psicólogos foram os
especialistas que se incumbiram da neófita ocupação.
Gemelli (1963) afirma que o primeiro centro de orientação profissional foi criado em 1902
em Mônaco da Baviera, por iniciativa conjunta de trabalhadores e de autoridades, de indústrias
e de professores. Relata ainda, o surgimento de vários centros pela Europa, com as funções de
informação e orientação profissional: Itália, 1903; Holanda, em 1907; Suíça, 1908; Inglaterra,
1908.

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Frank Parsons tem particular importância na história que aqui traçamos. Americano da
cidade de Boston, Parsons trabalhou como engenheiro civil, professor de matemática, história
e francês. Posteriormente graduou-se também em direito, e além da função de advogado
exerceu ainda as de escritor e político. A partir de 1892 (Rosas, 2000) passou atuar como
professor da Boston University.
A instabilidade de sua própria trajetória profissional levou-o a refletir sobre as
dificuldades de muitos jovens em se definir profissionalmente. Dessas reflexões nasceu o livro
Choosing a Vocation, publicado em 1909, ano seguinte ao seu falecimento. Nessa obra
considerada por muitos a primeira obra escrita especificamente sobre orientação profissional,
Parsons definia três passos fundamentais na ajuda à seleção de uma ocupação adequada: “1)
analisando o homem, isto é, a pessoa lucrando ao se compreender e seu orientador lucrando
ao compreendê-la; 2) estudando as ocupações, isto é, compreendendo as exigências e as
vantagens de uma ocupação; e 3) orientando o homem sobre a ocupação, isto é, relacionando
os requisitos da ocupação às características da pessoa” (Super e Bohn Júnior, 1975). Esse
tripé da Orientação Profissional esboçado por Parsons ainda pode ser considerado
fundamental no trabalho dos orientadores profissionais, embora requeira maior reflexão em
relação aos pressupostos subjacentes a cada um de seus sustentáculos.
Em 1907 Frank Parsons organizou o Vocational Bureau of Boston, cujas atividades
marcam a criação formal do movimento de orientação vocacional: o Vocational Guidance.
Embora iniciado nos EUA, o alcance desse movimento logo ultrapassou as fronteiras
americanas.
A visão de Parsons contribuiu para uma vinculação estreita entre orientação profissional
e educação, que posteriormente mais desenvolvida e difundida, passou a ser conhecida como
orientação educacional, e a fazer parte dos currículos escolares.
Na visão de Carvalho (1995) a partir de 1909 a orientação profissional foi se
desenvolvendo em duas modalidades: uma vinculada à psicologia do trabalho e a outra, à
orientação educacional. Embora houvesse diferença de objetivos nessas duas modalidades, os
métodos empregados eram os mesmos: técnicas psicométricas e informação ocupacional.
O grande desenvolvimento dos testes de inteligência, aptidão, habilidades, interesse e
personalidade que se observou durante a primeira e a segunda guerras mundiais, influenciou
fortemente a prática da orientação profissional (Sparta, 2003). Esse período, que compreende
as décadas de 20 e 30, caracteriza-se por uma orientação profissional como um processo
fortemente diretivo, em que o orientador fazia diagnósticos e prognósticos do orientando, com
base nos quais indicava-lhe as profissões adequadas.

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Rosas (2000) afirma que na década de 20 Institutos de Orientação Profissional


floresciam nos principais centros intelectuais do mundo. Mira y López é outro importante nome
na história da OP. Trabalhando na Espanha ao lado de outros profissionais de destaque, Mira y
López projetou internacionalmente os trabalhos desenvolvidos em seu país, cujo primeiro
Instituto de Orientação Profissional foi fundado em Barcelona em 1919. Sua importância será
tratada mais adiante ao se abordar a história da OP no Brasil.
No período acima apontado e, na opinião de Rosas (2000), até o final dos anos 60, a
orientação profissional e a seleção de pessoal caminharam quase sempre juntas. Neste
momento a OP caracterizava-se como atividade vinculada à indústria e à ordem sócio-
econômica vigente, regida pelo princípio de se encontrar o homem certo para o lugar certo “the
right man in the right place”. Seu sustentáculo era, então, o ajustamento do homem à ocupação
visando a excelência da eficiência industrial (Lassance e Sparta, 2003).
Na mesma época na Europa a influência da psicanálise na teoria e na prática da
orientação educacional mostrava reflexos também na orientação profissional. No entanto, foi a
partir do trabalho do psicólogo Carl Rogers, Couseling and Psychoterapy: new concepts in
practice, publicado em 1942, que se observou uma transformação nas práticas da orientação
profissional. Sua abordagem não-diretiva e centralizada no cliente influenciou a postura dos
orientadores que passaram a valorizar a participação do orientando no processo de
intervenção. Substituiu-se a posição de encontrar um diagnóstico e dar conselhos por uma
postura de auxílio ao autoconhecimento e a uma tomada consciente de posições e escolhas.
Com o surgimento, a partir da década de 50, de diversas teorias sobre a escolha
profissional, as mudanças iniciadas com os trabalhos de Rogers continuaram. O livro
Ocupational Choice, de 1951, do economista Ginzberg e colaboradores (um psiquiatra, um
sociólogo e um psicólogo), apresentou a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional, de
acordo com a qual a escolha vocacional é um processo evolutivo que ocorre entre os últimos
anos da infância e os primeiros anos da idade adulta (Sparta, 2003).
Em 1953, Donald Super publica sua Teoria do Desenvolvimento Vocacional, que define
a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice,
através de diferentes estágios e da realização de diversas tarefas evolutivas. Os estágios por
ele propostos são: crescimento, exploratório, fixação, manutenção e declínio.
John Holland publica em 1959 sua Teoria Tipológica, segundo a qual os interesses são
o reflexo da personalidade do indivíduo. Holland descreve seis tipos de personalidade que
determinam a direção da escolha profissional: realista, intelectual, social, convencional,
empreendedor e artístico. (Martins, 1978)

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De acordo com Sparta (2003) e Melo-Silva (2001), no contexto internacional as teorias


de Super e Holland aparecem como as mais pesquisadas e utilizadas em processos de
intervenção na atualidade.
O marco da Orientação Profissional no Brasil é a criação do Serviço de Seleção e
Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em 1924. A
iniciativa foi do engenheiro suíço, naturalizado brasileiro, Roberto Mange, convidado para
lecionar na Escola Politécnica de São Paulo. Também são suas iniciativas o Instituto de
Organização Racional do Trabalho (IDORT) e o Serviço de Seleção, Orientação e Formação
de Aprendizes da Estrada de Ferro Sorocabana, no início da década de 30. Em torno de 1934,
Mange criou o Centro Ferroviário de Ensino e de Seleção, Orientação e Formação de
Aprendizes (CFESP) que exerceu influência em várias organizações de estradas de ferro no
país.
Ainda em São Paulo, Lourenço Filho, no início da década de 30, instituiu o primeiro
serviço público de orientação profissional no Serviço de Educação do Estado de São Paulo,
que mais tarde teve prosseguimento no Instituto de Educação da USP.
Ulisses Pernambucano criou em 1925 o Instituto de Psicologia, na cidade do Recife. A
partir de 1929 esse instituto passou a ser denominado Instituto de Seleção e Orientação
Profissional, embora de acordo com Rosas (2000), os trabalhos desse instituto nunca tenham
assumido as características do Guidance Movement.
Emílio Mira y López, psiquiatra espanhol, a quem já nos referimos, então radicado no
Brasil, ministrou de outubro de 1945 a outubro de 1946, o curso Seleção, Orientação e
Readaptação Profissional destinado aos interessados em ampliar seus conhecimentos em
seleção e orientação profissional.
Em 1947 foi inaugurado na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, o Instituto de
Seleção e Orientação Profissional, o ISOP. Seus objetivos eram o desenvolvimento de
métodos e técnicas da Psicologia aplicada ao Trabalho e à Educação; o atendimento ao
público, através dos serviços de seleção e orientação; e a formação de novos especialistas. A
partir de 1948 o ISOP passou a oferecer cursos de formação em Seleção e Orientação
Profissional, e no ano seguinte, a publicar a Revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica. Esse
Instituto foi referência para o desenvolvimento da psicologia no Brasil, e não apenas na seleção
e orientação profissional.
A convite de uma equipe de profissionais de Belo Horizonte, no ano de 1949, Mira y
López foi à cidade ajudar na criação do Serviço de Orientação e Seleção Profissional, o SOSP.
Com uma atuação marcante desde sua fundação, tornou-se referência na OP tanto para
profissionais, quanto para a população que buscava esse tipo de serviço, sendo que de sua
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extensa lista de clientes, constam nomes de destaque no cenário mineiro e nacional. Sua
importância no desenvolvimento da educação em Minas Gerais foi acentuada quando serviu de
berço aos dois primeiros cursos de psicologia do estado (Barros, 1999).
Dessa história da OP, também faz parte o estado da Bahia, com a criação do IDOV,
Instituto de Orientação Vocacional, na Universidade da Bahia durante a gestão de Isaías Alves
(Rapold, 2003).
Até a década de 60 o modelo psicométrico, internacionalmente predominante, foi o
ponto comum em todas as iniciativas de trabalho de orientação profissional no Brasil.
A criação dos cursos de graduação em psicologia no Brasil, com a promulgação da Lei
4.119 de 27 de agosto de 1962, exerceu importante influência nos trabalhos de OP que eram
desenvolvidos no país, particularmente por sua vinculação à Psicologia Clínica e por sua
transferência para consultórios particulares.
Reforçando essa tendência de vinculação com a Psicologia Clínica, em fevereiro de
1975, o Instituto de Psicologia da USP, trouxe na categoria de professor convidado, o argentino
Rodolfo Bohoslavsky. Psicólogo de marcada influência da psicanálise kleiniana, havia
publicado em 1971, a obra Orientação Vocacional. A Estratégia Clínica, em que apresenta uma
fundamentação teórica sólida e consistente para a nova proposta de OP que defendia.
A obra de Bohoslavsky, tragicamente interrompida por sua morte precoce em 1977, é
considerada divisor de águas na Orientação Profissional. A modalidade clínica desenvolvida
em oposição ao que ele chamava de modalidade estatística encontrou eco especialmente no
trabalho que vinha sendo realizado por Maria Margarida de Carvalho na USP. Embora o
trabalho por ela realizado fosse feito em grupo, o casamento de suas idéias teóricas com a
prática desenvolvida na USP levou ao convite para que Bohoslavsky passasse a lecionar no
Brasil. Lamentavelmente, o problema cardíaco que o levou à morte transformou-se em
impedimento para sua contratação.
Há um segundo livro organizado por Bohoslavsky, Orientação Vocacional: Teoria,
Técnica e Ideologia, no qual as questões sociais, políticas e econômicas, que também
sobredeterminam a escolha, são o tema central. Essa obra teve uma única edição no Brasil,
em 1983, e infelizmente não foi mais reeditada. Dessa forma sua mais conhecida e importante
obra, a Estratégia Clínica, tornou-se leitura obrigatória para todos os que se dedicam ao
trabalho em OP. A entrevista clínica passa a ser o principal instrumento do processo de OP, e
apesar de aceitar a utilização de testes, a modalidade clínica insiste em seu papel instrumental,
e adverte que os mesmos nunca poderão substituir a função do psicólogo.
Assistimos assim a uma mudança radical na forma como a OP passa a ser concebida e
trabalhada no Brasil: do modelo psicométrico para o modelo clínico. Evidentemente nem todos
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os profissionais aderiram ao novo modelo, mas o impacto que este causou na prática da
grande maioria é inegável.
A produção da década de 80 em temas relacionados a OP foi particularmente pouco
significativa no país (Carvalho, 1995; Soares, 1999). Tal fato não significa que não houvesse
trabalhos expressivos na área, mas a grande maioria era desenvolvida sem compromisso com
a publicação, e conseqüentemente sem o desenvolvimento de um modelo, ou modelos, de OP
próprios ao Brasil. Celso Ferretti e Selma Pimenta constituem exceção nesse período, embora
os trabalhos de ambos se circunscrevam no âmbito da educação e se constituam em críticas
às teorias psicológicas de escolha profissional (Sparta, 2003).
Melo-Silva (2001) argumenta que a desproporção dos títulos de publicações da área de
OP em relação a outras áreas da psicologia pode ser compreendida como uma desvalorização
da área.
A realização em novembro de 1993 do I Simpósio Brasileiro de Orientação
Vocacional/Ocupacional em Porto Alegre marcou a mudança no rumo tímido que a OP vinha
tomando no país. Nesse evento foi fundada a Associação Brasileira de Orientadores
Profissionais, a ABOP, no intuito de congregar vários profissionais de diferentes lugares que
experimentavam o mesmo sentimento de solidão em relação à orientação profissional.
Firmada no compromisso de desenvolver, integrar e valorizar a OP no Brasil, a ABOP
vem se empenhando nessa causa promovendo simpósios bienais e publicando a Revista da
ABOP, cujo número mais recente foi lançado no VI Simpósio da ABOP, em Florianópolis, em
setembro do corrente ano, agora sob a denominação de Revista Brasileira de Orientação
Profissional.
Reconhecendo que a prática da OP no Brasil tem se dado em um contexto
multidisciplinar, a ABOP tem como uma de suas finalidades “gerar e consolidar a discussão e a
prática de Orientação num âmbito inter disciplinar, respeitando as identidades inter
disciplinares e sustentando a mais ampla liberdade de pensamento e expressão, desde que
dentro de paradigmas ideológicos que garantam o engrandecimento individual e social.” (Melo-
Silva et al, 2003).
De forma coerente com o exposto acima, podem associar-se à ABOP todos os
profissionais, de formação universitária, cujo exercício profissional esteja ligado a OP. Lisboa
(2002) em recente levantamento afirma que, apesar de seu caráter inter-disciplinar, a grande
maioria dos afiliados a ABOP é de psicólogos, seguida por pedagogos. Ainda assim
economistas, sociólogos e administradores de empresa têm participado dos vários eventos que
a ABOP vem realizando em todo o país. Esse fato demonstra que o refletir e pesquisar sobre o

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trabalho, seu significado e sua interação com o homem, tem sido tema pertinente a várias e
diferentes áreas do conhecimento.
Frente à demanda pelos serviços de Orientação Profissional no Brasil, as iniciativas
existentes são modestas. A falta de uma política pública de OP no país, como as existentes na
França, Alemanha e Canadá, deixa a área à mercê de iniciativas isoladas, e torna a formação
de profissionais competentes, limitada. Há um movimento no sentido de transformar a OP em
área de especialização, em nível de pós-graduação, para garantir uma formação teórica e
prática mais sólida àqueles que se enveredam por seus caminhos. Nesse sentido há alguns
cursos de Pós-Graduação acontecendo no país, alguns deles vinculados às universidades e
outros a instituições particulares. Ainda assim , o exercício da Orientação Profissional não é
“fiscalizado” por nenhum órgão específico.
No intuito de fortalecer seu papel na sociedade brasileira, e de participar das discussões
das questões relativas à Orientação Vocacional/Profissional que acontecem em todo o mundo,
a ABOP participa da IAEVG – Internacional Association for Educational and Vocational
Guidance. Essa associação, fundada em 1951, é mais conhecida no Brasil por sua
nomenclatura francesa, AIOSP – Association Internationale d’Orientation Scolaire et
Professionnelle.
A AIOSP representa indivíduos e associações nacionais e regionais preocupados com a
orientação educacional e vocacional/profissional em todos os continentes. Seus objetivos são
definidos na Declaração de Missão da AIOSP, aprovada por Assembléia Geral, realizada na
Suécia, em 1995, como sendo:
• auxiliar estudantes e adultos a compreender e apreciar a si mesmos;
• auxiliar estudantes e adultos a relacionar-se efetivamente com outras pessoas;
• auxiliar estudantes e adultos a desenvolver planos de formação apropriados em
orientação educacional e vocacional;
• auxiliar estudantes e adultos a explorar alternativas de carreira e
• auxiliar pessoas de todas as idades a lidar e interagir com sucesso na sociedade
e no mercado de trabalho.
Sua missão inclui:
• defender que todos os cidadãos que necessitam e querem orientação e
aconselhamento educacional e vocacional têm o direito a receber esse
aconselhamento de um profissional competente e credenciado, e
• requerer que governos intensifiquem, facilitem ou fundem agências, instituições
ou escritórios com responsabilidade de desenvolvimento e manutenção de
políticas norteadoras da provisão da orientação educacional e vocacional e da
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formação para os profissionais que a exercem, bem como de métodos e materiais


apropriados e efetivos para a orientação. (Jenschke, 2003)
Para fazer cumprir sua missão de forma ética e responsável por profissionais de todo o
mundo, a AIOSP, com o objetivo de estimular o autodesenvolvimento de seus membros,
publicou suas Normas Éticas, igualmente aprovadas na Suécia em 1995. Outras, e mais
completas, informações sobre a AIOSP podem ser obtidas em sua homepage: www.aievg.org.
Em parceria com o Human Resource Development of Canada – HRDC, a AIOSP desenvolveu
uma versão internacional do Counsellor Resource Centre – CRC, que é um centro de apoio
aos orientadores, em quatro idiomas (inglês, francês, espanhol e italiano) disponível no site
http://crccanada.org (Jenschke, 2003).
Seguindo a linha do re-despertar e da re-valorização da OP encontramos vários
trabalhos acadêmicos sobre o tema realizadas nas instituições de ensino do país. Trabalhos de
conclusão de curso, Monografias de cursos de Especialização, Dissertações de Mestrado e
Teses de Doutorado vêm se somando à produção de Laboratórios e Institutos vinculados a
universidades ou não por todo o Brasil. À riqueza dessa produção teórico-prática, acrescenta-
se a diversidade de fundamentação teórica dos trabalhos. Há pesquisas e publicações
fundamentadas na psicanálise, na teoria sistêmica, na comportamental, na gestalt, na
psicologia analítica jungiana, na abordagem sócio-histórica; considerando-se apenas os
trabalhos desenvolvidos sob a ótica de teorias psicológicas.
No âmbito da psicologia, a OP tem encontrado campo de desenvolvimento na clínica, na
educação e na social. Nas publicações dos últimos anos encontramos vários autores que
aproximam o processo de OP ao da psicoterapia breve, cujo foco é a escolha profissional.
Essa posição não é unânime e há quem considere que essa postura acaba por subestimar o
caráter pedagógico da OP, restringindo sua prática aos psicólogos e limitando seu alcance de
intervenção (Sparta, 2003).
No campo da educação e da psicopedagogia também encontra-se produções
relacionadas à OP, embora em menor número, ou talvez, menor divulgação.
No entender de Melo-Silva (2001) o aumento do número de publicações em nosso país
voltadas à questão da escolha da profissão aponta a ampliação das possibilidades de atuação
neste campo de atividades.
O levantamento mais recente a que se tem acesso sobre os serviços de Orientação
Vocacional/Profissional no Brasil foi feito por Melo-Silva e publicado em 2001, e aborda os
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Observa-se a predominância da psicanálise como referencial teórico, e a constatação de que
as teorias psicológicas ainda sustentam essa prática no país. As idéias de Bohoslavsky e de
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alguns outros argentinos de destaque mostram a importância da psicanálise daquele país em


nossa realidade. A referência básica na aplicação de técnicas é Soares-Lucchiari. Os serviços
desenvolvidos nas faculdades são os que apresentam maiores possibilidades de divulgação,
em contraposição aos de instituições particulares. Constata-se ainda que embora o referencial
teórico mude, os eixos temáticos são parecidos: o autoconhecimento; a informação sobre as
profissões e o mundo do trabalho.
O uso de técnicas em processos de OP atualmente varia ampla e largamente. Há um
movimento acentuado de desenvolvimento de novas técnicas com publicações sobre sua
utilização e a edição de seu material. Exemplo desse fato foi o VI Simpósio da ABOP, que
brindou o público com vários lançamentos de técnicas, frutos do trabalho recente de pesquisa
individual ou de grupos de pesquisadores. Várias outras técnicas foram apresentadas na
qualidade de pesquisas em fase de desenvolvimento e conclusão. No caso dos testes
projetivos, dois deles vêm sendo estudados mais sistematicamente: o Teste Projetivo Ômega e
o BBT-Br. A bibliografia sobre essa produção pode ser encontrada no que de mais recente tem
sido publicado na área (Levenfus e Soares, 2002; Melo-Silva et al., 2003).
O incentivo à produção de novas técnicas de diagnóstico e intervenção está em acordo
com o objetivo de desenvolvimento e consolidação da Orientação Profissional como área
científica, cuja produção esteja em consonância com o contexto brasileiro.
Alguns exemplos de serviços de Orientação Profissional/Vocacional voltados para a
pesquisa em OP podem ser citados:
• Instituto do Ser – Psicologia e Psicopedagogia - SP
• LABOR – Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional -
USP
• LIOP – Laboratório de Informação e Orientação Profissional – UFSC
• NACE – Orientação Vocacional e Redação - SP
• SOP – Serviço de Orientação Profissional – UFRGS
• SOP – Serviço de Orientação Profissional – Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeirão Preto- USP
É certo que há muitos outros trabalhos em OP sendo realizados de forma séria e
comprometida com o desenvolvimento da área por todo o país, mas na impossibilidade de citar
todos escolhemos os que mais têm publicado suas pesquisas e resultados.

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O resgate da história da Orientação Vocacional/Profissional no Brasil permite-nos


compreender melhor sua situação na atualidade, sua repercussão e seu alcance. Tal
compreensão certamente terá reflexos em uma perspectiva de posicionamento crítico em
nosso trabalho de orientadores profissionais.

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