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III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA PARA OS


TRABALHADORES DE EMBARCAÇÕES EM ATIVIDADES DE
EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO OFFSHORE COMO
INSTRUMENTO DE GESTÃO PARA O LICENCIAMENTO
AMBIENTAL

Aldo de Brito Magalhães (UFF) - abm59@terra.com.br


Fernando B. Mainier (UFF) - mainier@nitnet.com.br

RESUMO
Este estudo focaliza a educação ambiental para os trabalhadores de embarcações como um
instrumento de gestão para o licenciamento ambiental nas atividades de exploração e produção de
petróleo offshore da PETROBRAS desenvolvidas na Bacia de Campos, Rio de Janeiro, onde há
necessidade da implantação de ferramentas voltadas para o treinamento dos trabalhadores destas
atividades. É proposta a incorporação dos conceitos de Educação Ambiental, visando potencializar a
prática da gestão ambiental nos trabalhadores, através de uma metodologia participativa e novas
formas de pensar e agir em relação ao meio ambiente. A implantação deste novo projeto visa atender
às demandas legais atualmente existentes e melhorar a gestão do processo de treinamento dos
trabalhadores, no âmbito do licenciamento ambiental.
Palavras chaves: Educação ambiental, petróleo, meio ambiente.

ABSTRACT
This study presents a workers training as a tool for the environmental licensing of the impact
operations at offshore petroleum exploration process. This work shows a pilot training for the workers
on the Environment Education, in the aim of launching a behavior change on activities related to ducts
and sub sea equipments, realized on the Campos Basin, Rio de Janeiro, Brazil. The pilot project was
validated by the target group - the trained workers - in a participatory methodology, in order to check
if the training processes affect upon their behavior changes on the petroleum exploration and
production underwater activities, supported by vessels. This project is being realized to attend the legal
requirements at the environmental licensing process, by the increasing of the training management
process.
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006

Key-words: Environment education, petroleum, environment.


1. INTRODUÇÃO

A questão ambiental é, atualmente, um dos temas considerados estratégicos nos


compromissos e tratados internacionais promovidos por agências intergovernamentais. Num
mercado globalizado, a sobrevivência das empresas está vinculada ao acompanhamento das
tendências mundiais, à medida que as considerações ambientais devem influenciar a
preferência dos consumidores, o funcionamento dos mercados e a dinâmica da concorrência
internacional, em diversos setores.
No âmbito da opinião pública, a partir dos anos 70, ocorreu um rápido e generalizado
interesse pelo meio ambiente, provavelmente, fruto da disseminação das recomendações da
Conferência de Estocolmo e dos impactos de grandes acidentes que ocorreram em várias
partes do mundo, deixando um rastro de mortes e de contaminações ambientais como Three
Mile Island, Tchernobyl, Seveso, Bhopal e Exxon Valdez.
Segundo Molle Jr (apud IBAMA 2002, p.126), cita que a Agenda 21 relata que “a
degradação do meio ambiente marinho pode resultar de várias fontes, tais como, as de origem
terrestre, que contribuem com 70% da poluição marinha, as atividades de transporte marítimo
e a descarga no mar, com 10% cada uma”. No seu item “17.20, mostra que a poluição
marinha também é provocada pelo transporte e pelas atividades marítimas, onde cerca de 600
mil toneladas de petróleo são despejadas no mar, anualmente, em decorrência de operações
normais de transporte marítimo, acidentes e descargas ilegais. No que diz respeito às
atividades de extração de petróleo e gás em alto mar, atualmente existem normas
internacionais e convenções regionais para a fiscalização das descargas de navios e
plataformas. A natureza e a extensão dos impactos sobre o meio ambiente decorrentes das
atividades de exploração e produção de petróleo em alto mar representam, geralmente, uma
proporção muito pequena da poluição marinha” (Brasil, 2004). Estima-se que as principais
fontes de óleo que atingem o mar são as descargas oriundas diretamente dos resíduos urbanos
(37%), as operações com navios tanques (33%), os acidentes com navios-tanque (12%), a
descarga do óleo presente na atmosfera (9%), as exudações naturais (7%) e a atividade de
exploração e produção de petróleo através de plataformas marítimas (2%), conforme
apresentado, a seguir, na figura 1.
Segundo o IBAMA (2002) ocorreram 21 incidentes com petróleo e derivados de 1992
a 2001, totalizando mais de 12.500 m3 de óleo vazado, conforme apresentado, a seguir, na
Tabela 1.
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Por outro lado, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,


realizada em Tbilisi (Geórgia, URSS), em 1977, constituiu-se um ponto de partida do
programa internacional de Educação Ambiental, definindo seus objetivos e características,
assim como as estratégias pertinentes no plano nacional e internacional. A declaração sobre
Educação Ambiental, produzida nesse encontro, é um “documento técnico que apresenta as
finalidades, objetivos, princípios orientadores e estratégias para o desenvolvimento da EA e
elegia o treinamento de pessoal, o desenvolvimento de materiais educativos, a pesquisa de
novos métodos, o processamento de dados e a disseminação de informações, como o mais
urgente dentro das estratégias de desenvolvimento”.

Figura 1 - Fonte de poluição dos oceanos por óleo

Tabela 1 - Vazamentos de petróleo e derivados, segundo o IBAMA (2002)


3
Número e volume (m ) de vazamentos de petróleo e derivados, segundo o IBAMA (2002)
sem identificação setor de transportes Petrobras Total
Período
ocorrências volume ocorrências volume ocorrências volume ocorrências volume
1992 1 10,0 1 10,0
1993 0 0,0
1994 1 2.700,0 1 2.700,0
1995 0 0,0
1996 0 0,0
1997 3 2.802,0 3 2.802,0
1998 1 1.500,0 1 1.500,0
1999 4 7,0 4 7,0
2000 3 84,0 8 5.412,3 11 5.496,3
2001 0 0,0
Total 2 2.710,0 3 84,0 16 9.721,3 21 12.515,3

Em 12 de fevereiro de 1998, o Presidente da República e o Ministro do Meio


Ambiente, assinaram a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), que estabeleceu as sanções
penais e administrativas, regulamentando a Constituição.
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Em 27 de abril de 1999, o Presidente da República assina a Lei 9.795, que institui a


Política Nacional de Educação Ambiental, onde a promoção da Educação Ambiental é
colocada pela primeira vez como obrigação legal – de responsabilidade de todos os setores da
sociedade, do ensino formal e do informal – e são definidos seus conceitos, seus objetivos,
princípios e estratégias. Em seu Art. 3º, a lei dispõe que como parte do processo educativo
mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo no Inciso V: “às empresas,
entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à
capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de
trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente”. Esta lei
foi regulamentada por meio do Decreto 4.281, de 2002.
Com base no Decreto, o Ministério do Meio Ambiente passou a ser o Órgão Gestor
responsável pela coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). A lei
prevê a assessoria através do Comitê Assessor ao Órgão Gestor, no qual o Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) faz parte. Cabe ao
IBAMA, entidade integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), dentro da
Política Nacional de Educação Ambiental exigir às empresas que desenvolvem atividades
potencialmente poluidoras a implantarem programas para os trabalhadores que visem
capacitá-los a entender o processo produtivo no qual estão inseridos e qual o impacto de suas
atividades para o meio ambiente.
Sendo este processo parte integrante do licenciamento ambiental para as empresas de
petróleo, estas vêm buscando formas de atender as solicitações do órgão ambiental sem,
contudo, criarem um modelo de gestão eficaz que permita a otimização dos recursos
empregados e uma avaliação crítica.
Devido à dinâmica crescente para realizar operações com a utilização de embarcações
contratadas para prestarem serviços na Bacia de Campos em atividades de movimentação,
lançamento de dutos, movimentação de árvores de natal, âncoras e outros equipamentos
submarinos, as empresas através do contrato com a PETROBRAS, passaram a ter que atender
as exigências legais diretas solicitadas pelo órgão ambiental.
Dentro do planejamento estratégico da empresa e com a entrada de novos
empreendimentos a demanda por embarcações deste tipo tende a aumentar. Vale ressaltar
que, a PETROBRAS como empresa certificada, e respeitando sua política ambiental
(intenções e princípios gerais em relação ao seu desempenho ambiental), vem influenciando
as empresas a utilizarem um modelo de gestão que atenda a todos os requisitos legais que
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impactam as atividades por elas exercidas e influenciando estas a agirem de maneira pró-ativa
nas questões ambientais.
A NBR ISO 14001 (ABNT, 2004), no item competência, treinamento e
conscientização recomendam que as organizações requeiram dos seus prestadores de serviço
demonstração de que seus empregados possuam o requisito competência e/ou treinamento
apropriado.
Ainda dentro do escopo da norma, a empresa deve identificar seus aspectos e impactos
significativos ou não ao meio ambiente, onde a organização possa controlar e influenciar
dentro dos seus serviços, atividades ou produtos. São considerados aspectos ambientais
elementos das atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com
o meio ambiente, os impactos são qualquer modificação no meio ambiente, adversa ou
benéfica, que resulte, no todo ou em parte dos aspectos ambientais da organização.
Para as operações realizadas foram identificados alguns dos principais aspectos e impactos
conforme mostra, a seguir, o quadro 1.

Quadro 1 - Principais aspectos e impactos das atividades das embarcações


ASPECTOS IMPACTOS
Assentamento ou abandono de Alteração da forma da camada superficial do fundo
dutos e outros equipamentos marinho;
offshore. Perda ou o deslocamento da fauna de fundo;
Relocação dos peixes que nadam junto ao fundo.
Descarte da água de lavagem de Alterações nas características físico-químicas da água.
duto.
Desalgamento de duto e o Contaminação da água do mar.
descarte da água aditivada com o
corante fluoresceína.
Movimentação das embarcações, Fuga dos animais que se movem na massa de água;
dutos e outros equipamentos. Abalroamento de cetáceos.
Geração de efluentes sanitários. Alteração das características físico-químicas da água
do mar.
Movimentação de âncoras. Alterações no fundo, além de causar a perda e
relocação de organismos bentônicos.
Vazamento de óleo diesel durante Poluição do mar.
as operações de transferência e/ou
recebimento.

As atividades atualmente realizadas têm em média duração de 7 a 15 dias e são


constantes, já que as operações das embarcações são custosas e precisam ser bem planejadas
evitando, assim, perdas de tempo face ao alto custo destas embarcações.
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É importante assinalar que toda vez que uma empresa pretende fazer qualquer
movimentação no mar é necessária uma anuência do órgão ambiental, para realização desta
operação, o qual concede a anuência para sua realização, desde que todas as “condicionantes”
prévias tenham sido atendidas. Uma destas condicionantes é o treinamento ambiental dos
trabalhadores envolvidos, que embora seja um requisito legal, necessita de aprovação prévia
do IBAMA.
Dentro deste contexto de licenciamento o órgão ambiental passou a exigir que os
projetos voltados para estas embarcações fossem aplicados por operação, levando a uma
demanda crescente de treinamentos que impactam através de custos, disponibilidades das
embarcações, re-treinamento de mão-de-obra, etc. todas as Unidades de Negócio que operam
na Bacia de Campos em atividades similares. Devido à dinâmica das operações e a
diversidade da escala de trabalho dos tripulantes destas embarcações, a PETROBRAS dentro
da sua política de gestão passou a elaborar um projeto de caráter continuado que atendesse a
todas as necessidades, sejam elas operacionais, legais, ambientais ou de difícil logística.
Em 2004 teve então início a elaboração do Projeto de Treinamento dos Trabalhadores
(PTAT), que após consolidação interna, organizou a criação de um grupo de contratação
específico para cadastro de empresas reconhecidas na área de treinamento e finalmente,
validação do projeto junto ao Escritório de Licenciamento das Atividades de Petróleo e
Nuclear (ELPN/IBAMA) através de Parecer Técnico.
As principais empresas que necessitam de treinamento ambiental para os trabalhadores
que atuam com grandes embarcações de serviço em operações offshore são:
• tipo LSV (Laying Support Vessel) utilizado no lançamento de linhas flexíveis;
• tipo DSV (Diving Support Vessel) atuando em diversos tipos de mergulhos
submarinos;
• tipo RSV (Remote Operation Vehicle Support Vessel) utilizado em inspeções
submarinas com robôs.

As figuras 2 a 4, a seguir, mostram vistas desses tipos de embarcações.


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Figura 2 – Embarcação para lançamento de linhas flexíveis (LSV)

Figura 3 - Embarcação utilizada em mergulhos submarinos (DSV)


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Figura 4 – Embarcação utilizada em inspeções submarinas com robôs (RSV)

2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA OS TRABALHADORES EM EMBARCAÇÕES


DE SERVIÇO.

Segundo Chiavenato (1997), a “Educação é toda influência que o ser humano recebe
do ambiente social, durante toda a sua existência, no sentido de adaptar-se às normas e valores
sociais vigentes e aceitos. O ser humano, todavia, recebe essas influências, assimila-as de
acordo com suas inclinações e predisposições e enriquece ou modifica seu comportamento
dentro dos seus próprios padrões pessoais”.
Existem vários tipos de educação, dentro da educação profissional onde se destaca o
treinamento como sendo a educação profissional que adapta o homem para um cargo ou
função. Ainda com relação ao treinamento, a promoção do ensino, a conscientização e
indiretamente, a Educação Ambiental aplicada, a Agenda 21, em seu capítulo 36.12 (Brasil,
2003), diz textualmente:

O treinamento é um dos instrumentos mais importantes para desenvolver


recursos humanos e facilita a transição para um mundo mais sustentável. Ele
deve ser dirigido a profissões determinadas e visar preencher lacunas no
conhecimento e nas habilidades que ajudarão os indivíduos a achar emprego
e a participar de atividades de meio ambiente e desenvolvimento. Ao mesmo
tempo, os programas de treinamento devem promover uma consciência
maior das questões de meio ambiente e desenvolvimento como um processo
de aprendizagem de duas mãos (AGENDA 21, Cap 36.12).

Dessa forma o treinamento é considerado como a educação profissional que se propõe


a preparar o homem adequadamente através de um programa preestabelecido. Visa de
maneira organizada fornecer conhecimentos específicos, mudança de atitudes e desenvolver
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habilidades. É o meio que possibilita a aprendizagem, orientando as experiências de


aprendizagem de forma positiva, visando reforçar as atividades que foram planejadas.
Para Chiavenato (1997), o conteúdo do treinamento pode envolver quatro tipos de
mudança de comportamento, a saber:
• transmissão de informações: o elemento essencial em muitos programas de
treinamento é o conteúdo;
• desenvolvimento de habilidades: habilidades, destrezas e conhecimentos
diretamente relacionados com o desempenho do cargo ou ocupações futuras. Este
treinamento é voltado para tarefas e operações a serem executadas;
• desenvolvimento ou modificação de atitudes: geralmente mudanças de atitudes
negativas para atitudes mais favoráveis entre os trabalhadores gerando aumento de
motivação. Pode envolver aquisição de novos hábitos e atitudes;
• desenvolvimento de conceitos: o treinamento pode ser conduzido no sentido de
elevar o nível de abstração e conceptualização de idéias e de filosofias, seja para
facilitar a aplicação de conceitos na prática administrativa.

O treinamento tem como principais objetivos preparar o pessoal para execução


imediata das diversas tarefas peculiares à organização. Proporcionar oportunidades para o
contínuo desenvolvimento pessoal, não apenas em seus cargos atuais, mas também para
outras funções para a qual a pessoa pode ser considerada. O treinamento também procura
mudar a atitude das pessoas, com várias finalidades, entre as quais criar um clima mais
satisfatório entre empregados, aumentando a motivação, de modo, a torná-los mais receptivos
as técnicas de supervisão e gerência.
A metodologia apresentada para desenvolver o projeto contou com aulas expositivas
sob forma de palestras, abordando o conteúdo programático proposto. As palestras foram
ministradas com recursos em Power Point com textos, ilustrações, figuras, esquemas e fotos
filmes. Nas aulas, como recurso de sensibilização, foi utilizada a técnica de pergunta-resposta,
que induz os participantes a chegarem, por si mesmos, às conclusões sobre os temas tratados.
Foram utilizadas dinâmicas de grupos para apresentação dos impactos negativos gerados pelas
operações das embarcações. O curso teve como material de apoio a distribuição de apostilas,
em formas de cartilha em linguagem acessível, com ilustrações recursos gráficos, com a
legislação aplicável, além da bibliografia. A apostila visa possibilitar também a realização de
consultas posteriores e fixação dos temas tratados no treinamento de Educação Ambiental
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para os trabalhadores.
O conteúdo programático do treinamento aborda a localização e sensibilidade da área
da Bacia de Campos, que é um tema relevante dentro do programa, tendo em vista as
condições bastante peculiares dos ecossistemas da Bacia de Campos, dentre as quais se
destacam a grande diversidade de habitat e a alta produtividade primária de suas águas que
dispõem de grande quantidade de nutrientes no meio, favorecendo, provavelmente, a
ocorrência de:
• importantes recursos pesqueiros;
• grande número de comunidades pesqueiras;
• deslocamento para a região de aves migrantes;
• rotas de animais que possuem mecanismos de orientação migratória, tais como, os
cetáceos e os quelônios.

Outra parte do treinamento apresenta a legislação aplicável às atividades


desenvolvidas pelas embarcações englobando a legislação para o processo de licenciamento
ambiental, tendo em vista, que o IBAMA, exige a elaboração e implementação de Planos e
Projetos, dentre os quais, o Projeto de Treinamento Ambiental de Trabalhadores. O curso
também abordou aspectos das Constituição Federal do Brasil, principalmente o artigo 225,
além das convenções internacionais como a MARPOL 73/78 e normas sobre derramamento
de óleo (BRASIL, 2002). Foram abordados também os impactos decorrentes das atividades
realizadas e a medidas mitigadoras, destacando-se as medidas emergenciais de controle a
serem adotadas.
Na parte de gerenciamento de resíduos e efluentes foram apresentadas noções gerais
sobre a gestão de resíduos e efluentes nas embarcações. A gestão de energia e recursos
naturais renováveis, também foi abordado no curso, reforçando a reutilização e o processo de
reciclagem.
O curso apresentou os procedimentos de comunicação de incidentes de derrame de
óleo a bordo das embarcações que possam ocorrer em decorrência das operações realizadas.
Enfatiza, ainda, a importância dos procedimentos de comunicação externa de incidentes a US-
SUB (Unidade de Serviços Submarinos – PETROBRAS), para acionamento imediato de sua
estrutura de resposta, que integra o Plano de Emergência Individual (PEI), o qual conta com
equipamentos específicos, embarcações de apoio e pessoal treinado em combate a
derramamentos acidentais.
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3. AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

Embora os conceitos de educação ambiental tenham mais de vinte anos, ainda se têm
dificuldades em caracterizar o papel da Educação Ambiental, com base nos princípios básicos
do seu papel que é transformar, conscientizar, emancipar e exercer a cidadania em educação e
para o ambientalismo.
Segundo Loureiro (2004, pág. 20) existe uma dificuldade principalmente quanto a
compreensão de como a Educação Ambiental se insere na reprodução da sociedade
contemporânea ou na produção de novos patamares societários ao se partir do pressuposto que
cabe a educação “plantar sementes” que naturalmente farão com que todos mudem e,
conseqüentemente, a sociedade. Para Loureiro é preciso definir as premissas que
fundamentam uma tendência crítica que enfatiza a Educação Ambiental como uma visão
paradigmática diferenciada da e na educação. Dentro desta premissa podemos entender os
diferentes “modelos” que hoje são encontrados em projetos, programas e treinamentos.
Neste contexto é importante destacar o papel dos educadores ambientais, destacando
sua responsabilidade social sem que ele seja apenas um produtor e transmissor de informações
e conhecimentos de valores “ecologicamente corretos”.
A forma de transmitir a Educação Ambiental e seus objetivos é outro fator que precisa
ser entendido, para não tornarmos a Educação Ambiental uma disciplina sem idéias. A
Educação Ambiental se realiza não só para transmitir informações e conscientização das
pessoas, ela está voltada para ser realizada com o outro. Como diz Loureiro: A Educação
Ambiental promove a conscientização e esta se dá na relação entre o “eu” e o “outro”, pela
prática social reflexiva e fundamentada teoricamente.
A promoção deste conhecimento na educação ambiental passa pelo enfrentamento das
incertezas na qual o século XXI está inserido. Na visão de Morin (2004, pág.76) a educação
deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas, nas ciências da
evolução biológica e nas ciências históricas. Para o autor é preciso aprender a complexidade
da crise planetária que marca o século, mostrando que todos os seres humanos, confrontados
de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum.
“É necessário aprender a estar aqui no planeta”. Isso significa aprender a viver. Focaliza os
meios instrumentais1 que, se não forem contextualizados e relacionados às esferas culturais,

1
Instrumentalismo: Doutrina de John Dewey, filósofo e educador americano (1859 – 1952), que constitui uma
variedade do pragmatismo, e cujo traço característico é a admissão de que toda teoria é um instrumento para a
ação e para a transformação da experiência.
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política, econômica, se tornam insuficientes sob o ponto de vista de uma educação que gere
caminhos emancipatórios.
Dentro do contexto hoje globalizado as críticas ao modelo educacional atualmente
usado deve diferir do que se propõe a Educação Ambiental que não tem como problema
central o como fazer ou o fazer por fazer e sim contextualizar o agir.

4. MODELO DE GESTÃO PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Visando, atingir na visão ambiental e empresarial, os objetivos de uma melhor


adequação ao Licenciamento Ambiental e tendo como foco a Educação Ambiental, objeto
deste trabalho, o modelo de gestão incorpora novas ações e etapas que contemplem as
dinâmicas voltadas para uma racionalidade ambiental que se mostre eficaz dada à
epistemologia ambiental baseada nos seguintes pontos:

• a capacitação de dinamizadores2 e apoio à gestão ambiental nas embarcações, por


meio da realização de treinamentos específicos para tal fim, objetivando a difusão
e a manutenção dos conhecimentos sobre o meio ambiente e das conseqüências
das intervenções antrópicas sobre o mesmo, visando promover mudanças
concretas de comportamentos e atitudes nas relações do trabalhador com o meio
onde atua, natural ou não;
• a escolha dos dinamizadores, considerando critérios de disposição voluntária para
ser o elo com os facilitadores3 nas embarcações;
• a contratação de profissionais especializados para sensibilização e capacitação
ambiental dos dinamizadores, incluindo não só a capacitação individual dos
mesmos, como a integração do grupo, para que se estabeleça uma afinidade de
objetivos e de metodologia de atuação;
• o planejamento do treinamento, com duração compatível com os objetivos de
aperfeiçoamento e atualização dos dinamizadores no conteúdo programático
definido;

2
Dinamizadores: pessoas que ocupam cargos em atividades relacionadas a SMS (Segurança, Meio Ambiente e
Saúde), comunicação, treinamento e ou outras atividades, e que tenham familiaridade com a função de
operacionalizar as atividades propostas pelo projeto.
3
Facilitadores: pessoas da embarcação identificadas como líderes para atuar no treinamento.
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• a apresentação dos conteúdos aos dinamizadores em módulos, durante um período


de um ano; planejamento dos módulos iniciando-se pela sensibilização e
preparação dos dinamizadores, onde eles participariam da construção do conteúdo
do treinamento e, os módulos subseqüentes abordando os temas pertinentes ao
treinamento ambiental, a serem transmitidos às equipes das embarcações; apoio
aos dinamizadores nas ações criadas para repasse e construção coletiva de
conhecimentos, nas embarcações;
• atividades complementares que também visem à sensibilização e conscientização
dos trabalhadores em geral, assim como daqueles já treinados, objetivando, além
disso, a manutenção e atualização dos conhecimentos adquiridos sobre as questões
ambientais;
• a promoção de eventos, em datas significativas (Dia do Meio Ambiente, Semana
de SMS, SISPAT entre outros), com a realização de palestras dirigidas a temas de
maior significância para o público alvo;
• a apresentação de peças teatrais por grupos especializados em temas ambientais;
• a apresentações e discussões críticas de vídeos ambientais;
• a realização de encontros ambientais com a exposição, pelos trabalhadores, de
melhorias obtidas na área de meio ambiente, sejam tecnológicas, procedimentais e
outras;
• trabalhar pedagogicamente a razão e emoção dos educandos, visando sua
motivação para esta nova realidade do projeto;
• envolvimento da alta e média liderança no processo de treinamento, mostrando o
comprometimento com as ações a serem implantadas pelos dinamizadores;
• criação de rede Educação Ambiental continuada para o segmento de exploração e
Produção de Petróleo, objetivando a troca de experiências e banco de dados para
consultas de resultados e metodologias para Educação Ambiental do trabalhador;
• inclusão de estudos de casos das atividades desenvolvidas propiciando o debate de
todos e visando a divulgação e melhoria dos procedimentos e cuidados ambientais.

A nova proposta de treinamento contempla uma carga horária para os tripulantes das
embarcações de 08 horas anuais. Esta carga horária pode ser distribuída durante o ano de
exercício do treinamento. O treinamento será orientado pelo dinamizador que após o curso de
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formação de 40 horas. O dinamizador estará continuamente envolvido em cursos de formação


ou atualização, dependendo das carências diagnosticadas.
Os dinamizadores serão trabalhadores que após o curso de formação proposto terão
como papel fundamental construir uma percepção critica por parte dos trabalhadores sobre as
questões socioambientais, potencializando os cuidados com o meio ambiente, saúde
ocupacional e a segurança do trabalho, não só no seu local de trabalho, mas também onde
residem. Este processo só terá sucesso se acontecer através do instrumento da Educação
Ambiental para os trabalhadores.
A proposta construída hoje contempla um curso de formação de 48 horas com
acompanhamento mensal em reuniões com os grupos envolvidos.
Segundo, o IBAMA (2005, na série Educação Ambiental, Pensando e Praticando
pág.29) existe a necessidade da força de trabalho envolvida no processo de implementação
estar consciente dos riscos ambientais decorrentes da atividade e preparada para lidar com
emergências que porventura surjam, sendo necessário assim, a inclusão da Educação
Ambiental “buscando a melhoria e o controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como
sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente”, conforme prevê o inciso V
no artigo 3º da Lei 9.795/99.
O IBAMA recomenda que o projeto esteja estruturado a partir de três componentes,
sendo que a componente III explicita o escopo deste trabalho conforme citado abaixo:
Componente III – capacitação continuada dos trabalhadores envolvidos com a
implantação e implementação do empreendimento.
Dentro da componente III está previsto o desenvolvimento da capacidade dos
trabalhadores para avaliarem as implicações dos danos e riscos ambientais e tecnológicos na
esfera da saúde e segurança do trabalho e as conseqüências para a população afetada.
As ações de capacitação devem indicar:
• o sujeito da ação educativa;
• o caráter da ação (curso, oficina, pesquisa-ação/participante, diagnóstico
socioambiental etc.);
• duração em horas;
• o(s) objetivo(s) de aprendizagem, conteúdo(s), o número de horas e temática
abordada;
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• concepção metodológica (modo de conceber e organizar o processo de


ensino/aprendizagem), os procedimentos metodológicos (métodos e técnicas
específicas) e o modo de execução (intensivo ou processual);
• a distribuição temporal dos conteúdos.

O projeto de Educação Ambiental deve procurar incluir temas geradores que servem
como eixos articuladores entre as temáticas e disciplinas, e devem ser definidos pela
capacidade coletiva e convicção de que todos podem aprender em comunhão, de que todos
sabem algo que é válido e de que cabe ao sujeito individual construir o conhecimento e
ressignificar o que aprendeu segundo Loureiro (2004).
Fica evidente que os temas devam refletir os problemas que fazem parte da atividade
fim, sem afastamento da realidade ambiental do momento, ou seja, do específico para o global
e que permita também a reformulação dos valores e comportamentos dos envolvidos no
projeto. Com esta visão não se pode esquecer que os envolvidos devem reconhecer os
problemas existentes para então buscarem, também, a solução para os problemas existentes
em suas atividades, soluções estas que passam por ações que devem se traduzir em escolhas e
atitudes. Outro desafio que deve envolver a Educação Ambiental é a ética, a construção de
uma nova ética, que tenha responsabilidade para com o “outro”. “O posicionamento ético é o
que visa ao bem comum (Loureiro, 2004)”.
Os educadores têm o papel fundamental a partir do momento em que conhecem a
dimensão da crise ambiental que estão inseridos possam apontar aos envolvidos à construção
de alternativas teóricas e práticas, pois, segundo Mainier (1996), é importante formar a
cidadania ambiental, que deve lutar pela realização dos direitos ambientais com base na ação
política organizada, de tal forma, que o homem comum possa entender e participar dessa
ação, pois o mundo foi feito para ele.

4. CONCLUSÕES

Diante da visão da Educação Ambiental na gestão de Licenciamento Ambiental,


conclui-se que:
• o novo modelo proposto neste trabalho com foco em uma Educação Ambiental
renovadora pode ser considerado como uma alternativa para o treinamento
ambiental dos trabalhadores do segmento de exploração e produção de petróleo,
despertando nestes, um maior envolvimento com as questões ambientais;
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006

• a proposta apresentada permitirá que seja referência para outros projetos que
devem ser implantados e, por sua vez melhorados, com o objetivo de atender aos
pressupostos da lei;
• o projeto permite também uma adequação do sistema de gestão da empresa para o
licenciamento ambiental, que uma vez implantado será acompanhado dentro do
sistema de gestão.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS- ABNT. NBR-ISO 14001: 2004,


Sistemas de Gestão Ambiental Especificação e diretrizes para uso. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, 2003. Agenda 21 – Capítulo 17 – Proteção dos


Oceanos, de Todos os Tipos de Mares – Inclusive Mares Fechados e Semifechados – e das
Zonas Costeiras, e Proteção, Uso Racional e Desenvolvimento de Seus Recursos Vivos”
Ministério de Meio Ambiente, Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/se/agen21/ Acesso
em 25.10.04).

______. Especificações e Normas Técnicas para Elaboração de Cartas de Sensibilidade


Ambiental para Derramamentos de Óleo. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de
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Qualidade Ambiental, Projeto de Gestão Integrada dos Ambientes Costeiro e Marinho, 2002.

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INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS


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Paulo: Ed. Cortez, 2004.

MAINIER, F.B, Contaminações industriais no meio ambiente: uma visão crítica, Anais: 2º
Seminário Fluminense de Engenharia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, setembro,
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da resolução CONAMA 293 – Um modelo a ser adotado. 2004. Dissertação (Mestrado em
Gestão Ambiental), Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal
Fluminense, 2004.

MORIN, Edgar Os Sete Saberes necessários a Educação do Futuro. 9ª Edição São Paulo: Ed.
Cortez, 2004.

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