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Jornal Virtual Nó Cego

N.º 37, Fevereiro 2007


Informativo do Pequeno Museu da Tecelagem

http://br.geocities.com/museudatecelagem/

Nó Cego Entrevista

Nó Cego: Hoje apresentamos a entrevista com o Professor e Tecelão René


Scholz de Curitiba que acaba de chegar do estado do Tocantins onde foi a
trabalho. Sr. René, o que o senhor foi fazer lá?
Rene: Fui ensinar a tecer mas, como tenho como premissa que ensina aprende
muito mais, na realidade fui trocar. Troquei ensinamentos e experiências. Fui na
cidade se São Salvador de Tocantins, que fica no sul daquele estado. Lá há uma
cooperativa denominada de Atelier Nossa Senhora Auxiliadora, que produz
Paramentos Litúrgicos. As cooperadas são garotas adolescentes que estão
produzindo belíssimas obras tendo como base a técnica dos repassos. Este local
faz parte de uma organização não governamental, religiosa, chamada “Operação
Mato Grosso”. Eles me acharam na Internet e me convidaram para ir até lá.

Nó Cego: Nos explique melhor sobre essa ONG.


Rene: Vou relator conforme está no Folder distribuído por eles, assim, não cometo
enganos – “Desde 2004, a Associação Artesãos Dom Bosco” procura auxiliar
jovens artesãos formados nas várias escolas profissionais da “Operação Mato
Grosso”, movimento de voluntários italianos e brasileiros, operante no Brasil há
quase quarenta anos, por iniciativa do Padre italiano Hugo de Cenzi, salesiano.
A formação religiosa, humana e profissional, são seus objetivos primários ,
acolhendo adolescentes em condições humildes nas suas estruturas, visando
sensibilizá-los às necessidades dos mais pobres, dos últimos, dos necessitados.
Esses jovens artesãos, hoje, através do trabalho e da educação recebida,
procuram ter uma vida honrada, assumindo compromissos sérios dentro das
próprias comunidades, tais como a catequese, a animação de jovens ( o “Oratório
Dom Bosco”) , o atendimento aos idosos.
Essa Associação representa cinco realidades diferentes, cada uma
destacando-se pelas próprias peculiaridades artísticas, mantendo todas os
mesmos objetivos sociais e educativos:
- Cada Associado é um livre artesãos, cabendo à Associação divulgar e promover
os produtos e projetos realizados, procurando satisfazer os clientes em termos de
qualidade, originalidade e atendimento.
- Qualquer lucro ou superávit da Associação é totalmente destinado em obras
sociais (água potável, construção de casas, escolas ou igrejas em comunidades
carentes, cestas básicas, incentivos agrícolas, ajuda sanitária) a serem realizadas
nas regiões próximas dos atelieres.
Essa característica faz da Associação Artesãos Dom Bosco um meio para
alcançar dois objetivos: promover a formação de novos artesãos e sensibilizar os
clientes, que através da aquisição dos produtos, estarão também “abrindo o
próprio coração” ajudando a melhorar as situações de pobreza e dificuldade que
muita gente sofre”.

Nó Cego: E está funcionando? O que o Sr. viu por lá?


Rene: Vi que está funcionando e muito bem. Vi dezenas de adolescentes e suas
famílias sendo beneficiadas por todo esse trabalho. Estive em 4 locais ( Missões).
A primeira e onde ministrei o curso foi o Atelier Nª SªAuxiliadora. Lá existe uma
oficina totalmente estruturada, onde as meninas produzem os para mentos
litúrgicos. Elas vieram ali da região e principalmente de uma outra missão, distante
uns 30 km dali, numa localidade chamada Retiro. Nesta, há uma escola com umas
60 meninas que recebem educação básica e profissional em Tecelagem Artesanal.
Ali há uma preciosidade- os tecidos feitos com repassos. Elas trabalham com esta
técnica produzindo e mantendo modos tradicionais de produção de tecidos.
Conheci também em São Salvador o colégio dos meninos. Ali são também
aproximadamente 70 adolescentes que têm como atividade básica técnicas
agrícolas. Fiquei feliz por ali estar, como eu mesmo tive oportunidade de lhes
dizer, pois vi uma escola que trabalha na prevenção quanto à situações de risco.
Como eu trabalho com adolescentes que já cometeram atos infracionais e estão
internados por isso, muito me alegra que existam mais e mais trabalhos como
estes que tive oportunidade de presenciar lá.
Estive por último, na cidade de Paraná, onde há o Atelier São Francisco que
produz Vitrais e peças de vidros fundidos, sob orientação do Matheo e da Milena,
dois artistas italianos que trocaram o conforto da Itália pelo sertão do Brasil.

Nó Cego: Como foi o curso?


René: Me parece que foi ótimo. Procurei mostrar a técnica de repasso de uma
forma inteligível às meninas. Para isso utilizei teares de papel. Ali fizemos os
tecidos como se víssemos os pontos num microscópio. Mostrei também outras
possibilidades da tecelagem, através de vídeos, livros, Cd’s . Levei dois Cd’s do
Engº Áquila Klippel, lá de Florianópolis (www.tecelagemanual.com.br), sobre os
quais fiz minha abordagem no curso. Trabalhei também com dinâmicas de grupo e
entrosamento, além de produção de bolsas, mochilas, tapeçarias, etc.

Nó Cego: Valeu a Pena?


René: Menos pelo dinheiro do que pela possibilidade de conhecer pessoas,
lugares e eu mesmo. Quando cheguei lá, fui à noite na missa do Padre Ticiano e
ele disse algo muito apropriado à minha condição naquele momento. Eu estava
um tanto apreensivo pois tinha sido alertado pela Coordenadora da Cooperativa, a
Sabrina, que as meninas já tinham experiência. E isso às vezes é um fator
complicante em cursos assim, pois os alunos exigem mais do professor. O Padre
disse aos seus fieis e a mim: “ Para se ir adiante como pessoa e descobrir nossos
potenciais devemos não ter medo de mergulhar em águas profundas...” Isso calou
fundo em meu coração e tive a certeza que Deus é quem tinha me levado lá.
Assim me tranqüilizei e o curso saiu excelente, pelo menos no meu entendimento.
Há um dizer que afirma:
Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e,
ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um ...
... porém, se dois homens vêm andando por uma estrada cada um carregando
uma idéia, e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora
com duas..."
Assim retornei de lá, com a sensação de quem teve aulas fui eu.

Nó Cego: Mudando de assunto, como surgiu o Museu da Tecelagem e


porque pequeno já que a gente pode gastar dias para ver tudo que há nele?
René: Sou Professor formado pela Faculdade de Artes do Paraná e quando
estava no primeiro ano estivemos em visita ao Museu Paranaense (isso em 1997)
e lá havia um tear de pedal. Olhei aquilo e disse ao professor: - Este tear está
montado errado! – Com essa observação consegui um estágio que durou dois
anos naquela instituição, restaurando e organizando o acervo têxtil. Mais tarde
trabalhei também no Museu de Artes e Antropologia de Paranaguá, um órgão da
Universidade Federal do Paraná. Ali fiz a mesma função. Assim, me ficou a idéia
inicial. Mais tarde, um amigo que esteve na Espanha me contou de um Museu
Têxtil e da Indumentária de Barcelona e disse que lá existiam muitos museus
particulares específicos de diversas áreas. Mais uma vez a idéia cresceu. Na
continuação conheci Hélio Leites e seu Museu do Botão. Este artista daqui do
Paraná, carrega seu museu num jaleco. Ali ele conta a história desta importante
peça do vestuário – o botão. Hoje no museu há um link em homenagem a o Hélio
(http://groups.msn.com/handweavers/associaodosbotonicos.msnw). Quando
descobri a Internet e suas possibilidades pensei em construir um site de
tecelagem. Estive em Florianópolis visitando o Áquila Klippel, que já havia criado o
seu belo site. Ele me deu dicas e na volta fiquei remoendo tudo aquilo. Certo dia
de 2002, me veio a palavra “Pequeno”. Se a colocasse antes de “Museu”, poderia
criar naquele dia mesmo o Museu, que seria virtual, mas de alcance mundial.
Assim fiz e aí está o nosso Pequeno Museu da Tecelagem. “Nosso” porque ele é
público, aberto e pretende continuar assim enquanto minhas condições financeiras
permitirem. Por isso até hoje não é um “Museu.com”. Ele está hospedado em
portais gratuitos. E cada vez está crescendo mais. Somos hoje perto de 200
pessoas envolvidas ou inscritas no museu. Temos vários departamentos: MSN,
Yahoo, Snype, Youtube, Gmail e Grpos.com.

Nó Cego: E o jornal? Como surgiu, o Sr. é Jornalista?


René: Desde os 12 anos de idade faço jornais ou estou envolvido com eles. Minha
família é de jornalistas. Mas meu destino me trouxe para a Tecelagem Artesanal,
já que esta atividade está em minha família há 4 gerações conhecidas. Assim, uso
o jornal para divulgar as atividades do Museu e as pesquisas que surgem todo dia
nele. O “Nó cego” não é propriamente um jornal, é um informativo, e-zine, revista
eletrônica, etc. Um amigo me disse que esse nome não seria apropriado pois o
“nó cego” é um nó impróprio e ruim. Mas como nome acho que serve pois é
incomum.
Nó Cego: E sua produção Artística? Como é?
René - Sou um artista muito curioso. Procuro experimentar as diversas
possibilidades da Arte. Desenho, pintura, escultura, tapeçaria e até um poço de
Música. Isso me é possível pois trabalho numa escola em que possuo uma sala de
Artes e turmas com poucos alunos. Então faço dali meu Atelier. É pesquisa e
trabalho. Todo dia produzo muito. Em tecelagem ali sou limitado pelo fator
segurança. Meus alunos estão “presos” e o fio pode ser usado para a confecção
de estoques, “teresas”(cordas para fuga) ou “garrotes” que servem para
estrangulamento. Assim me limito ao tear de cartelas e a confecção de pulseiras, e
os tecidos de papel. Voltando à produção, não tenho exposto muito meu trabalho.
Os divulgo na Internet. Já minha produção de Tecidos, que faço em companhia de
minha esposa Dorotéia Werner, vendo na Feira do Largo da Ordem, aos domingos
aqui em Curitiba. Isso desde 1985.

Nó Cego: O Sr. recebeu influências de artistas em sua trajetória, quem são


eles?
René: A primeira pessoa que me fez a cabeça e que me fez experimentar a
tecelagem foi minha Bisavó – a Mãe Pai-Chico. Depois minha mãe Zélia Scholz
que até hoje é Artista e Arte-educadora. Tive a felicidade de nascer em sua casa e,
principalmente, de ter aproveitado seus ensinamentos. Margarete Depner, tecelã
húngara residente aqui em Curitiba. Ela vendeu um grande tear à minha mãe no
qual aprendi a tecer grandes peças e a usar retalhos de tecido em minhas
produções. Hoje em dia estou escrevendo uma monografia apresentando a
biografia dela. Estou na fase de coleta de dados. Outro artista que me influenciou
muito foi o Marcelo Scholz, meu irmão. Ele me ajudou muito na hora da decisão :
Vou ser artista ou vou ser operário. Na faculdade posso citar Mazé Mendes, Lirdi
Jorge. Já os amigos tecelões: O Gerbas, o Júlio Telles e a Cristina de Piraquara, o
Jerson Rodarte, o equatoriano Pancho, o uruguaia Cecília Pintos (tear egípio), o
Rodrigo lá de Penedo e sua tapeçaria Finlandesa. O áquila, o Paulo Bustamante
da Oficina dos Fios, o Gustavo Serpa da Seda, etc. Tem muit gente envolvida
comigo. Me desculpem aqueles que não foram lembrados aqui.

Nó Cego: O Sr. tem algo a dizer além de tudo que falamos aqui?
René: Quero agradecer a todos os leitores e amigos, aos sócios do museu pela
ajuda nesta empreitada. Gostaria da participação de todos no envio de
informações, de fotos, links, histórias, tudo que tiver relação com esta nobre arte.
Um abraço. Se alguém tiver interesse em manter contato com a Assdociação de
Artesãos Dom Bosco pode ligar para 63 3396 1153, e falar com Sabrina, isto em
S. Salvador de Tocantins.
Para falar comigo o endereço é scholzrene@hotmail.com e fone 41 3262
1055. Estou sempre disposto a dividir meus conhecimentos com quem precisar
deles.

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