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TOMADA DE POSIÇÂO FACE Á APLICAÇÂO DO NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO

Exma. Sra.

Presidente do Conselho Pedagógico do

Agrupamento Vertical de Escolas Barbosa du Bocage

Os professores do Agrupamento de Escolas Barbosa du Bocage abaixo-assinados, continuam a


declarar a sua mais veemente discordância face ao Modelo de Avaliação de Desempenho
introduzido pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008.

Consideram que a Avaliação de Desempenho é um dispositivo extremamente importante para


garantir a eficácia das escolas e a qualidade das suas práticas e que, por isso mesmo, deve resultar
de uma ampla e séria discussão, não podendo estar sustentada em arbitrariedades, desconfiança e
vazio de conteúdo.

Consideram, ainda, que o Modelo de Avaliação regulamentado pelo Decreto Regulamentar n.º
2/2008 não assegura a justiça, a imparcialidade e o rigor, nem valoriza, de facto, o desempenho dos
docentes. Os critérios que nortearam o primeiro Concurso de Acesso a Professor Titular geraram
uma divisão artificial e gratuita entre "professores titulares" e "professores", valorizando, por
exemplo, apenas a ocupação de cargos nos últimos sete anos, independentemente de qualquer
avaliação da sua competência pedagógica, científica ou técnica. Nesta "lotaria" ficaram de fora
muitos professores com currículos altamente qualificados, com anos de trabalho dedicado ao
serviço da educação e ao trabalho nas escolas, tendo gerado injustiças aviltantes que ainda não
foram esquecidas.

Corremos o risco de, com este modelo de avaliação dos docentes, se repetirem os mesmos erros:
a ausência de rigor, a predominância da quantidade sobre a qualidade, o que se fez sobre o modo
como se fez.

A sua apressada implementação tem, por outro lado, desviado as funções dos professores para
tarefas burocráticas de elaboração e reformulação de documentos legais, criação de fichas de
avaliação extremamente complexas na sua concepção e operacionalização, em detrimento das
funções didáctico/pedagógicas. Estes documentos têm sido o resultado de um trabalho puramente
técnico por parte dos professores e não um trabalho pedagógico consistentemente estruturado.

As escolas são, neste momento, cenário de professores afogados em burocracia, instabilidade,


ansiedade e insegurança, situação inconciliável com o verdadeiro propósito da docência, com
práticas eficazes e reflexivas.

Não é legítimo que a avaliação de desempenho dos professores e a sua progressão na carreira se
subordine a parâmetros como o sucesso dos alunos e o abandono escolar, desprezando-se, assim,
variáveis inerentes à realidade social, económica, cultural e familiar dos alunos que escapam ao
controlo e à responsabilidade do professor e que são fortemente condicionadoras do sucesso
educativo. O Conselho Científico para a Avaliação de Professores, no documento "Princípios
Orientadores sobre a Organização do Processo de avaliação do Desempenho Docente" (pág. 11),
refere: "No contexto de complexidade do processo de aprendizagem, não é possível determinar e
aferir com rigor até que ponto a acção de um determinado docente foi exclusivamente responsável
pelos resultados obtidos, conforme a literatura científica consensualmente refere".

A imputação de responsabilidade individual ao docente pela avaliação dos seus alunos configura,
ainda, uma violação grosseira do previsto na legislação em vigor quanto à decisão da avaliação final
do aluno, a qual é da competência do Conselho de Turma sob proposta do(s) professor(es) de cada
área curricular disciplinar e não disciplinar.

Os docentes deste agrupamento de escolas rejeitam, também, um modelo que impõe uma
avaliação entre pares, parcial e perigosa, criadora de um péssimo ambiente na escola e de tensões
desnecessárias, que prejudicam dinâmicas de trabalho colaborativo, verdadeiramente eficientes na
promoção do sucesso educativo dos alunos. A formação que o Ministério da Educação tem vindo,
recentemente, a proporcionar aos avaliadores, para além de não abranger uma parte significativa
dos mesmos, é manifestamente insuficiente e não tem respondido às questões de natureza prática e
de trabalho no terreno. A avaliação entre pares, numa perspectiva de formação contínua, é
demasiado recente para ser, irreflectidamente, posta em prática. Maria Palmira Alves, do
Departamento de Currículo e Tecnologia Educativa da Universidade do Minho, tem dado alguns
contributos nesta área e salienta 1: "[ ... ] Um outro efeito perverso deste sistema de avaliação será a
obrigação de uma ,avaliação formal e obrigatória pelos pares, pois esta dificilmente será construtiva
num contexto em que a colegialidade, a entreajuda e a prossecução de objectivos partilhados
deveriam primar. A avaliação sistemática entre pares poderá trazer, em si mesma, a semente do
conflito e da divisão. Por outro lado, o desconhecimento do "modelo de leitura do avaliador", ou
seja, da inexistência de um quadro teórico que sustente as tomadas de decisão poderá constituir-se,
também, num constrangimento a esta avaliação. "

O horário de trabalho imposto pelo Ministério da Educação é demasiado escasso para responder
às inúmeras tarefas e funções que são atribuídas ou solicitadas aos docentes. Onze tempos de
trabalho individual não são suficientes para a planificação de aulas, a análise das estratégias mais
adequadas, a criação de recursos diversificados e inovadores, a elaboração de recursos para os
apoios educativos e para os alunos que exigem um ensino diferenciado, a preparação de
instrumentos de avaliação diagnóstica, formativa e sumativa, a correcção destes e de muitos outros
trabalhos por eles desenvolvidos, a reflexão sobre os resultados, a reformulação de
estratégias/actividades, havendo casos de professores com cem e mais alunos e com vários
currículos. Para além destas funções, há ainda a participação nas reuniões dos órgãos de gestão
intermédia, a elaboração de projectos, planos de actividades e planos de acção, relatórios variados,
dinamização/ participação em actividades extracurriculares e de intervenção na comunidade
educativa.

Com que legitimidade impõe o Ministério da Educação aos professores uma avaliação que lhes
vai consumir o tempo e a alma com reuniões, papéis e mais papéis?

E os avaliadores? Além de serem professores, com toda a exigência inerente à função, e de


serem avaliados como os seus pares, terão que "fabricar" tempo para pôr de pé uma estrutura
avaliativa megalómana que o Ministério da Educação criou e que ele próprio não é capaz de
sustentar. Tem sido prova disto, o constante "faz e desfaz", muitas vezes à revelia da própria
legislação em vigor, num clima caótico de desinformação.

O regime de cotas impõe uma manipulação dos resultados da avaliação, gerando nas escolas
situações de profunda injustiça e parcialidade, devido aos "acertos" impostos pela existência de
percentagens máximas para atribuição das menções qualitativas de Excelente e Muito Bom,
estipuladas pelo Despacho n.º 20131/2008, e que reflectem claramente o objectivo economicista
que subjaz a este Modelo de Avaliação.

Enquanto todas as limitações, arbitrariedades, incoerências e injustiças que enformam este


modelo de avaliação não forem corrigidas, e, ainda que, no presente ano lectivo, o modelo se
encontre em regime de experimentação, os professores signatários deste documento, por não lhe
reconhecerem qualquer efeito positivo sobre a qualidade da educação e do seu desempenho
profissional, por não ter, ainda, havido debate suficiente, análise criteriosa dos documentos e
formação eficaz, solicitam a suspensão de toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação
por ele preconizada.

1 Artigo A Página da Educação - [htlp://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=-6200]. Capturado


no dia 26/ 10/ 2008.

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