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2008
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
2008
FRANCINE BEZERRA DOS SANTOS
BANCA EXAMINADORA
Abaixo os puristas
Manuel Bandeira
RESUMO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................9
2 A TELEVISÃO..............................................................................................11
3 O QUE É JORNALISMO..............................................................................16
4 HISTÓRIA DO CQC.....................................................................................22
5 O GÊNERO JORNALISMO TELEVISIVO: CQC..........................................27
6 INDÚSTRIA CULTURAL E O CQC..............................................................36
7 O PROGRAMA DO DIA 22 DE SETEMBRO DE 2008................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................42
ANEXOS.........................................................................................................44
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1. INTRODUÇÃO
2. A TELEVISÃO
Existirá uma massa? Será ela definida por grau de escolaridade, como supõe
a distribuição dos programas em faixas horárias, de modo que os mais
perigosos e complicados – pelo erotismo, pela veemência do discurso
político, pelo grau de abstração -ficam fora do alcance dos trabalhadores em
geral, que dormem mais cedo? A resposta é não. A experiência de quatro
séculos de imprensa mostra que o público pode ignorar métodos e fatos,
pode ser crédulo e de boa fé, mas não é tolo. E, se fosse, não teria o menor
sentido pensar em democracia, isto é, em dar-lhe o poder, em última e
decisiva instância. (LAGE, 1999, p. 44).
3. O QUE É JORNALISMO
4. HISTÓRIA DO CQC
José Marques de Melo, tem uma coleção de livros que leva o seu nome,
dentre eles A opinião no jornalismo brasileiro, obra bastante reconhecida no campo
jornalístico brasileiro. O estudo dessa obra nos foi importante para reconhecer o
CQC também como uma categoria do jornalismo.
Segundo Melo, (1994, p.12) “[...] o jornalismo se articula necessariamente
com os veículos que tornam públicas suas mensagens, sem que isso signifique dizer
que todas as mensagens ali contidas são de natureza jornalística”. Para Melo,
(1994, p. 13). “[...] o jornalismo atém-se ao real, exercendo um papel da orientação
racional”
Melo ainda afirma que: (1994, p.14) “A chave para apreender a identidade de
seu objeto ele a encontrou na conjugação das quatro características exigidas como
parâmetros da “totalidade jornalística”: periodicidade, universalidade, atualidade e
difusão”. Quatro elementos que o CQC dispõe, principalmente no quadro Proteste já,
entendendo que, para Melo, universalidade é (1994, p. 16). “[...] uma sintonia com
os desejos e as reações da coletividade”. Melo cita também Fraser Bondque que dá
outras quatro características principais para o jornalismo ao dizer que “O jornalismo
tem quatro razões de ser fundamentais: informar, interpretar, orientar, entreter [...]”
(1994, p. 27 apud MELO). Entreter é a principal característica do CQC, mas não
deixa a desejar nas outras.
O CQC é diferente de outros tipos de jornalismo, mas Melo afirma que: (1994,
p. 15) “[...] cada processo jornalístico tem suas próprias peculiaridades, variando de
acordo com a estrutura sócio-cultural em que se localiza [..]”
Melo conta que (1994, p.20) “ [...] fica evidente a natureza eminentemente
política que o jornalismo assume desde o seu nascimento como processo social”.
Nessa situação, o Proteste já se enquadra como jornalismo pois, tem um processo
social e político muito forte, independente da narrativa humorística que ele utiliza.
Segundo Melo: (1994, p. 24) “Cada processo jornalístico tem sua dimensão
ideológica própria, independente do artifício narrativo utilizado”. Melo ainda afirma
que (1994, p. 26) “[...] predominam essas duas características no jornalismo – o
informativo e o opinativo – contemporaneamente elas convivem com categorias
27
(1994, p. 35) “[...] como figuras representativas Tom Wolfe, Gay Talese, Truman
Capote”.
Melo explica que: (1994, p.35) “São jornalistas-escritores que registram as
ocorrências do real, mantendo fiéis à veracidade, mas utilizando a sensibilidade aos
recursos do relato ficcional”. Melo continua dizendo que: (1994, p. 35) “O interesse
[...] por essas produções jornalísticas está menos na informação em si, [...] do que
nos ingredientes de estilo a que recorrem os seus redatores, [...] em suma,
divertindo, entretendo, agradando”.
O CQC tem um estilo próprio que diverte, traz entretenimento e agrada, visto
as suas repercussões na mídia e o IBOPE, que veio crescendo.
Melo esclarece que (1994, p. 37-38) “[...] a mensagem jornalística vem
experimentando mutações significativas [...]”. Segundo Melo, (1994) a instituição
jornalística se adapta em função das alterações culturais com que se defronta em
cada país ou em cada universo geocultural”. Rafael Bastos, em entrevista para o
nosso projeto (PPM), afirmou que apesar do programa ter formato argentino, ele tem
uma “pegada brasileira”.
Muito se questiona se o CQC é ou não um programa jornalístico. Melo lança a
pergunta: (1994, p. 38) “O que são gêneros jornalísticos? [...] esse tipo de resposta é
buscada quase que exclusivamente pelos estudiosos europeus e latino-americanos”
Segundo Gargurevich gêneros jornalísticos são (1994, p. 39, apud MELO)
“formas que busca o jornalista para se expressar”. Seu traço definido está portanto
no “estilo”, no manejo da língua: são “formas jornalístico-literárias” porque seu
objetivo é o “relato da informação e não necessariamente o prazer estético”.
Na obra de Melo podemos encontrar que (1994, p.39) “[...] as diferenças entre
os gêneros surgem da correspondência dos textos que os jornalistas escrevem em
relação às inclinações e aos gostos do público”. Segundo Martin Vivaldi pressupõe o
uso de (1994, p.39, apud MELO) “todos os recursos expressivos e vitais, próprios e
adequados para expressar a variadíssima gama do acontecer diário”
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[...] a concepção de gênero é muito útil para introduzir os alunos mais cedo
nos estudos de televisão. Define-se gênero como um conjunto de espécies
que apresentam certo número de caracteres comuns convencionalmente
estabelecidos. A própria palavra gênero significa simplesmente ordem,
quanto aos gêneros na comunicação os gêneros são sistemas de regras aos
quais se faz referência. Barbosa Filho define os gêneros da área de
comunicação como unidades de informação.
(MASTERMAN, LEN apud ARONCHI, 2004, p. 31)
da seguinte maneira: “[...] que a realidade consiste em várias coisas isoladas, que
representam uma unidade de forma e substância. A substância é o material de que a
coisa se compõe, ao passo que a forma são as características peculiares da coisa”.
Ou seja, a “forma” é a característica que ajuda a definir o gênero, e o formato
é simplesmente as características gerais de um programa de televisão. Segundo
Aronchi, ele demonstra formato e gênero da seguinte maneira: “Formato: as
características gerais de um programa de televisão. A forma geral de um programa
de TV. Os aspectos de um programa de TV”. (2004, p. 45).
“Formato está sempre associado a um gênero, assim como gênero está
diretamente ligado a uma categoria”. (2004, p. 46).
Figura 5: Localização dos formatos nos gêneros.“Em um gênero pode haver vários
formatos de programa” (2004, p.47)
[...] 18% gênero esportivo, 14% religioso, filmes e variedades 13% cada
um, séries e telejornalismo empatavam em 8%, programas de debate
5%, entrevista 4%., entretenimento 3%, novelas 2%. No total, a
programação da Rede Bandeirantes dedicava 65% à categoria
entretenimento, 17% à categoria informação e 17% a outros.
(ARONCHI, 2004, p.90).
Categoria Gênero
Auditório, Colunismo social, Culinário,
Desenho animado, Docudrama,
Esportivo, Filme, Game show
(competição), Humorístico, Infantil,
Entretenimento Interativo, Musical, Novela, Quiz show
(perguntas e respostas), Reality show
(tv-realidade), Revista, Série, Série
brasileira, Sitcom (comédia de
situações), Talk show, Teledramaturgia
(ficção), Variedades, Western
(faroeste)
Informação Debate, Documentário, Entrevista,
Telejornal
Educação Educativo, Instrutivo
Publicidade Chamada, Filme comercial, Político,
Sorteio, Telecompra
Outros Especial, Eventos, Religioso
Tabela 1: Categorias e seus respectivos gêneros televisivos, segundo Aronchi.
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O livro mostra os dois lados, os que são a favor da Indústria Cultural e os que
não são. Adorno acredita que a Indústria Cultural imbeciliza as pessoas, mas um
pensador canadense chamado Mcluhan acredita exatamente o contrário, ele
pensava que a TV era um meio positivo, um meio possibilitador da revelação e não
da alienação. Nesse momento Teixeira Coelho esclarece que Mcluhan está dizendo
que a participação é uma complementação e mais nada, ou seja a audiência.
Está certo que a Indústria Cultural aliena de alguma maneira. Ela dirige-se ao
consumidor ao invés de colocar-se a sua disposição. Isso é demonstrado ao nosso
redor. Teixeira Coelho cita em seu livro um pensador chamado Dwight MacDonald
que fala na existência de três formas de manifestação cultural: superior, média e de
massa. No caso, a cultura de massa seria uma cultura inferior. A cultura média é
designada também pela expressão midcult, que remete ao universo dos pequenos –
burgueses, e a cultura de massa é chamada de masscult, pois para ele não se
trataria nem de uma cultura nem de massa. Cultura superior são todos os produtos
ditos eruditos.
A Indústria Cultural aliena, quando nos deixamos levar por produtos
fúteis, mas que nos dão prazer. Em nosso objeto de estudo, que é o programa CQC,
e o nosso recorte no quadro Proteste já, o que queremos por meio deste trabalho é
provar que existe sim no meio desse entretenimento e alienação, jornalismo sério,
que queira esclarecer. A Indústria Cultural pode muitas vezes imbecilizar, mas não
somos escravos da Indústria Cultural, pois “podemos” escolher o que queremos ver
ou ter, a Indústria Cultural nada mais é do que fazer nossas vontades e prazeres e
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também de duplo sentido, totalmente voltado para o humor. As perguntas são mais
para provocação mesmo, com tom de brincadeira. Por fim, vem o quadro Proteste já,
que demonstra ser o mais jornalístico. No entanto, não é sério, nesse quadro
também há duplo sentido.
Na análise do programa, podemos identificar que em todos os quadros, até
mesmo nos comentários dos apresentadores, a linguagem que eles usam para com
o público é de duplo sentido. Há sempre algo por trás de cada comentário e é esse
algo que instiga as pessoas.
Como já havia informado, Aronchi também definiu que estavam surgindo
gêneros novos e que para definir um programa era necessário achar a sua essência,
da produção ao público-alvo e também que estão surgindo novos gêneros que se
misturam, entre eles, entretenimento, jornalismo e humor. Na análise feita do
programa CQC do dia 22 de setembro de 2008 podemos também perceber que o
programa contém quadros de entretenimento, jornalismo e humor e que todos os
quadros, até mesmo aqueles mais fúteis, tem uma coisa em comum, a linguagem
que todos usam, o modo como falam e o que sempre tentam esperar que aconteça,
ou seja, em todos os quadros, o modo como eles falam, e eu estou incluindo os
apresentadores também, é uma linguagem ao mesmo tempo ácida, incomoda para
quem está recebendo a pergunta. É como se a todo momento eles tivessem
fazendo piadas “tirando sarro” às vezes mais sério e às vezes só por diversão. O pai
da psicanálise, Freud, dizia que ninguém se contenta em fazer um chiste para si.
Marcelo Tas diz que uma piada precisa é composta minimamente de dois
interlocutores: o que fala e o que escuta.
Segundo John Deely : “A linguagem como rede objetiva é parte de um todo
maior de relações objetivas. A rede lingüística se alimenta da estrutura da
experiência como um todo e é transformado por ela em sua irredutibilidade ao
ambiente físico” (apud BONINI, 2008, p. 38).
Marcelo Tas, em entrevista fornecida ao portal Imprensa, diz que “[...] é um gênero
muito difícil, porque se pode cair no engraçadinho, no fútil. É um fio de navalha”.
Reafirmando o que já foi dito, Aronchi, em suas próprias palavras diz
que: “[...] é importante ressaltar que os gêneros modificam-se, fundem-se e se
diversificam constantemente [...] podendo mesclar-se e fundir-se com as de outros
gêneros, originando novas matrizes genéricas”. (Aronchi, 2004 p. 162).
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No livro, Vencendo com a sua voz, do Dr. Morton Cooper, ele afirma que os
programas de entrevistas não são os únicos que mostram o estilo de diálogo na
comunicação. Até mesmo os apresentadores de noticiários mudaram do antigo
estilo formal, do tipo “noticiário pesado” para o estilo mais atual, o “noticiário leve”.
Cooper diz ser o método “curto e grosso” que os ouvintes parecem gostar. O CQC
não é um programa só de entrevista, no entanto, é “curto e grosso” em suas
reportagens, mas de uma maneira mais cômica e irônica e é nesse ponto que o
programa CQC inova, no humor irônico. Para um maior esclarecimento, humor é
literal e ingênuo enquanto que a ironia é sarcástico e requer do ouvinte/receptor
algum conhecimento adicional. O gênero “outros” se define para o CQC como um
programa jornalístico com humor irônico.
Para finalizar quero deixar claro, que neste trabalho de pesquisa não
estamos criando ou definindo um gênero, existe apenas uma análise do programa
e dos livros estudados. Trata-se de uma conclusão de tudo que já foi lido e no
qual acreditamos que o programa CQC mais se encaixa no gênero.
A Indústria cultural é um daqueles objetos de estudo que se dão a conhecer
para as ciências humanas antes por suas qualidades indicativas, ou aspectos
exteriores, do que por sua constituição interior, estrutural. E um desses traços
indicativos é exatamente o da ética posta em prática por essa indústria. 40
( COELHO,1980, p. 08).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COOPER, Morton. Vencendo com sua voz: 5 minutos por dia para uma voz
vencedora. São Paulo: Manole, 1990.
Patrícia: Então, o Adorno fala da Indústria cultural, ele acredita que a Indústria
Cultural imbeciliza, aliena as pessoas, como você vê o CQC nisso, pois o CQC
mostra o entretenimento mas também esclarece?
Rafinha: Olha eu acredito que o Adorno não diga exatamente isso, ele não
pode ser tão geral assim, existem certas coisas da cultura de massa que realmente
imbeciliza e outras coisas que não imbecilizam. Acho que em qualquer lugar existem
livros que imbecilizam também e existem livros que trazem cultura. Acho que não dá
pra ser tão radical assim, que a televisão tem um papel muito importante,
esclarecendo a população, através do jornalismo, através da comédia, através do
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quer que seja, eu acho que é isso que a gente faz na Band, e é isso que a gente “tá”
fazendo com o CQC.
Patrícia: No quadro Proteste já, tem algum quadro que você gostou mais, que
você achou que aquilo era mesmo o que significava o Proteste já?
Rafinha: Acho que todos aqueles Proteste que já tiveram a resposta positiva,
que no final tiveram suas resoluções e que a gente mostrou que o problema foi
resolvido, são sempre muito bacanas.
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