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A EMERGÊNCIA DE UMA NOVA ORDEM

Carlos Henrique Machado

A EMERGÊNCIA DE UMA NOVA ORDEM

ÍNDICE

Prefácio,
Introdução
Unidade 1. Um desastre muito mais que monetário
Unidade 2. O “X” da questão, multiplicar a geração de bolhas e colapsos
Unidade 3. A consolidação de um modelo
Unidade 4. Interlúdio filosófico
Unidade 5. O realinhamento da aldeia global
Unidade 6. Diferentes políticas diferentes economias
Unidade 7. Velhos e novos imperialismos
Unidade 8. Paradoxos do liberalismo
Unidade 9. Novas possibilidades de vida
PREFÁCIO

Em Outubro de 2007, ao preparar uma apresentação que iria ser feita para o
“board” do Banco pelo qual tenho trabalhado ao longo dos últimos 28 anos, a
respeito das perspectivas de negócios em 2008 nos diversos segmentos da
economia no qual participavam nossos principais clientes - grandes grupos
Brasileiros e estrangeiros que tinham crescido, sobremaneira, nos últimos sete
anos, percebera que alguma coisa não ia bem no “Reino da Dinamarca”. Ao
comparar a quantidade de ativos financeiros em circulação ao redor do globo
com a quantidade de dólares gerados pelo PIB global, vi que o “capital
fictício” era aproximadamente 3,5 vezes maior do que tudo que era produzido
em Main Street. Chegara, finalmente, a conclusão de que o nível da
“alavancagem” mundial não era sustentável. Tínhamos tido a oportunidade
de participar de diversas “operações financeiras” envolvendo algumas das
principais empresas brasileiras no auge da liquidez mundial. As “ofertas
hostis” para compra de empresas estrangeiras se multiplicavam, e algumas
delas lograram êxito. A maior delas até aqueles dias tinha sido a aquisição da
mineradora Canadense Inco, no final de 2006, pela Cia Vale do Rio Doce, por
US$ 18 bilhões, que aquela época ainda não tinha alterado seu nome para
Vale. Concluída a aquisição, no início de 2008 a Vale iria anunciar o interesse
de adquirir uma outra grande mineradora global, dessa vez a Anglo-Africana
Xtrata, pela “bagatela” de US$ 50 bilhões. Já tinha obtido da maioria dos
bancos que participaram da operação da Inco o “compromisso” para uma nova
“Aquisiton Facility”, “empréstimo” ponte utilizado para financiar as
aquisições de empresas, geralmente com vencimento em dois anos, cujo
pagamento é efetuado a partir da emissão de nova dívida por parte da
empresa adquirente, por intermédio de ações, debêntures, “bonds” e demais
operações de crédito de longo prazo que visavam alongar o perfil do seu
endividamento. Tais operações se multiplicavam no mercado face a fartura de
liquidez dos bancos e a necessidade de aplicar esses recursos em novos ativos.
Como a empresa Brasileira figurava entre as mais cobiçadas pelos bancos
internacionais e domésticos, dado o seu vigoroso crescimento e ao fato ter se
tornado a maior produtora de minério de ferro mundial e a segunda maior
mineradora diversificada do mundo, não faltariam recursos para mais essa
empreitada. Como forma de levantar parte dos recursos para aquisição a Vale
anuncia então uma oferta pública de ações. Em Agosto de 2008 a empresa
concluiu o processo, levantando R$ 19,43 bilhões, resultado abaixo da
expectativa inicial, uma vez que um “crise financeira” de proporções
indeterminadas já se anunciava. Na sequência os acionistas da Xtrata
conseguem inviabilizar a “oferta hostil” da empresa brasileira e o negócio não
se concretiza. Aí veio crise. Conversei depois diversas vezes com os executivos
da maior mineradora do mundo sobre os desdobramentos desse processo e de
como tinha “respirado aliviado” pelo seu insucesso. Assumir ou financiar uma
dívida daquela proporção naquele momento poderia ter sido por demais
arriscado, uma vez que “take-out” do novo empréstimo ponte” poderia não
ter sido tão tranquilo como foi o da Inco. Além disso, comemorava o fato da
Cia. ter entrado na crise como um caixa robusto depois do IPO, o que muito
contribuiu para a forma como a empresa passou pelos dois anos que se
seguiram a “quebra” do Lehman Brothers, em 15 de Setembro de 2008, marco
divisório de duas eras.

O que veio na sequência já foi demasiadamente comentado e analisado pelos


“especialistas”. Parece ser um consenso a conclusão da excessiva
alavancagem da economia mundial durante os anos que antecederam a crise,
grande parte dela gerada pela desregulação do mercado de crédito
responsável pelo surgimento de “operações” financeiras que eram capaz de
multiplicar a base dos ativos financeiros ilimitadamente. Os reflexos do
“estouro” da bolha de crédito foram imediatos, lançando o mundo numa
“crise financeira” de enorme proporções. Multiplicavam os prognósticos sobre
os anos que se seguiriam e sobre o impacto da crise nas economias locais,
cada vez mais interconectadas. O risco de uma “crise sistêmica” parecia
inevitável. Bancos com problema de liquidez e solvência, retração do crédito
global com impactos direto nas empresas e no crescimento econômico,
recessão, desemprego e redução dos investimentos. A crise de 1929 volta aos
fóruns de discussão e a comparação parecia inevitável. A grande diferença
dessa crise, contudo, era a constatação de que o seu epicentro estava nos
países ricos. O modelo que tinha gerado esse desequilíbrio tinha sido
“inventado” no “norte” e suas consequências haveria de arrastar todo o resto
do mundo, diziam os “especialistas. As autoridades monetárias do “bloco
central”(EUA e União Europeia) agiram com rapidez para tentar evitar a
profunda recessão do início do século XX. Tinham aprendido a lição nas
“cartilhas” monetarista sobre a necessidade de manter a oferta de moeda,
evitando assim o colapso. Dólares foram “despejados de helicópteros”, pelo
FED, BCE e pelo Banco Central da Inglaterra, na tentativa de garantir a
liquidez mundial. Se a crise tinha culpados, esses pareciam ser as
“complicadas” estruturas financeiras, chamadas derivativos, que se tornaram
as “estrelas” do “ciclo virtuoso” de crescimento mundial, garantindo a
liquidez necessária para promover o “milagre da multiplicação” dos recursos
em circulação. De “heróis” a “vilões”. Antes da deflagração desses eventos,
tinha tido a oportunidade de conversar com o ex-ministro da economia,
Gustavo Franco, em um evento patrocinado pelo Banco, que o tinha sido
convidado para atuar como palestrante e aproveitei para perguntar sobre o
“enigma” da dívida pública norte-americana. Como era possível sustentar uma
dívida em crescente e em contínua elevação e de onde viriam os recursos para
a continuar financiando? A resposta do economista foi simples. “Da ciranda
financeira gerada pelos crescentes lucros dos “short-sellers”(Hedge Funds,
Bancos de Investimentos e demais especuladores do mercado financeiro), que
a retroalimentavam a partir da “montanha” de capital fictício em circulação.

O clima de nervosismo que tomou conta do “mercado financeiro” após a


“eclosão” da crise, no final de 2007, contrastava com o sentimento que tinha
se apoderado do “mercado” a partir do início do século XXI. Em um mundo
cada vez mais interconectado através das transformações tecnológicas que
permitiram a constituição de uma “aldeia global” conectada através de uma
“grande rede”, encurtaram-se as distâncias e alterou-se o conceito do tempo.
Num espaço virtual de contínua circulação de bits e bites as economias
mundiais experimentaram um período de prosperidade onde a fartura de
“liquidez” permitia a realização de maciços investimentos a partir da
facilidade como que o “capital” passara a circular de um lado a outro do
mundo numa velocidade impressionante. O capital circulante suportava
transações diversas que iam do financiamento das operações de fusões e
aquisições dos grandes grupos empresariais a parcerias públicas/privadas que
viabilizavam investimentos em diversos projetos de infra estrutura,
construções de portos, ferrovias e empreendimentos de geração e transmissão
de energia. Grandes grupos empresariais se internacionalizavam expandindo-
se, cada vez mais, para além de suas fronteiras e não faltava capital para
financiar suas estratégias de crescimento, representados por investimentos
em títulos e papéis da dívida pública e privada emitidos por empresas e
governos. Paralelamente, as instituições financeiras e investidores espalhado
pelos quatro cantos buscavam multiplicar o capital em circulação através de
investimentos que, muitas vezes, não guardavam relação com os projetos em
curso na “economia real”. Assim os índices financeiros negociados em “bolsa”
e em “balcão” assumiam uma importância crucial para a retroalimentação da
ciranda financeira, quer fosse funcionando como proteção para as oscilações
dos preços dos ativos em circulação ou como forma de rentabilizar o capital
através de posições de investimentos que especulavam a variação do preço do
ativo no curto prazo e “engordavam” o lucro dos portfolios das carteiras
geridas por “assets managers” que concentravam trilhões de dólares. A
necessidade de remunerar essa capital em circulação empurrava os
investidores a mercados diversos e o resultado disso podia ser sentido a partir
da forte demanda verificada quando das operações de emissão de dívida ou de
ações. Novas emissões se multiplicavam em uma proporção impressionante e a
demanda dos investidores era surpreendentemente alta. Quando a mineradora
Vale foi a mercado refinanciar o empréstimo de US$ 18 bilhões através da
emissão de debêntures, eurobônus e operações de crédito bilaterais ou
sindicalizadas com diversas instituições financeiras, a forte demanda por esses
títulos permitiu que a empresa refinanciasse o valor total da dívida assumida
junto aos bancos bem antes do prazo por eles estipulado para o “take-out” do
“empréstimo ponte” utilizado para adquirir a mineradora canadense de
níquel. IPO’s se sucediam nas diversas bolsas de valores ao redor do planeta e
qualquer projeto, aquela altura, parecia ser viável, face ao grande volume de
capital em circulação e disposto a assumir riscos cada vez maiores com vistas
a propiciar sua remuneração.

Tudo estaria perfeito se não fosse a constatação de um desequilíbrio entre o


volume de ativos financeiros em circulação e a quantidade de riqueza gerada
globalmente pelas economias mundiais. Essa desproporção denunciava que o
nível de alavancagem dos devedores tinha ultrapassado um limite seguro.
Afinal, vivíamos na era da desregulação do capital e da crença no mercado
como entidade capaz de corrigir as distorções geradas no processo das trocas
globais. Na prática o que se assistia, no entanto, era a paulatina
desvinculação das transações de “Wall Street” e “Main Street”,
principalmente nos países do bloco central.
“Nos anos recentes, já nos voltávamos para Wall Street como um
todo para aconselhar-nos sobre como administrar o complexo
sistema da nossa economia. E agora – a quem havemos de recorrer?
(Joseph Stiglitz - O mundo em queda livre)

A reação em relação ao “estouro” da bolha gerada por uma excessiva


alavancagem do sistema financeiro mundial, não se deu de forma uníssona.
Isso porque, embora as economias mundiais estivessem interconectadas em
uma grande rede, havia uma diferença na forma como era administrado o
“complexo sistema” econômico pelos diferentes países que o compunham.
Logo de saída, falou-se na inevitabilidade de um contágio sistêmico e de
como, mais cedo ou mais tarde, todas as economias locais sofreriam as
consequências da crise financeira que tomou conta dos EUA e na União
Europeia. Porém o que se seguiu a esses eventos parece ter surpreendido,
pelo menos aqueles que insistiam em afirmar ser impossível existir um
“decoupling” a essa “altura do campeonato”, em um mundo cada vez mais
interconectado. Enquanto os governos e as autoridades monetárias dos países
responsáveis pela geração da crise correram para garantir a liquidez do
sistema financeiro através da injeção de recursos nas suas principais
instituições financeiras, visando garantir sua capacidade de honrar os
compromissos assumidos junto ao mercado, as ações nos países ditos
“emergentes”, eram dominadas pela tônica de garantir o crescimento de suas
economias, uma vez que ele tinha sido o responsável pelo novo patamar de
desenvolvimento alcançado ao longo da última década. Se os impactos da
crise não deixaram de ser sentidos por tais economias, principalmente nos
dois anos que se seguiram a quebra do Lehman Brothers, o dinamismo do
crescimento apresentado pelos países “emergentes”, liderados pela “grande
locomotiva” chamada China, propiciou a saída rápida da crise antes que
pudesse se falar em uma “recessão” global. O motivo das diferentes reações
por parte do bloco de países chamados aqui “bloco central” e bloco
“emergente” não é de difícil explicação, mas requer uma análise que recue
no tempo e tente avaliar a dinâmica de constituição de um modelo que
caracterizou toda uma era.

Nas páginas a seguir tentaremos mapear esse processo a partir dos rastro
deixado pelos eventos que marcaram a consolidação do modelo de produção
que se afirmou como hegemônico numa era que ficou conhecida como
“modernidade”, a partir da constatação de que estamos vivendo em um limiar
entre duas eras. A falta do distanciamento histórico dificulta a leitura dos
eventos quando no exato instante do seu curso. Daí ser arriscado prever
qualquer desdobramento sem incorrer em reduções, antecipações temerárias
ou mesmo errôneas considerações. Contudo a certeza de que estamos
experimentando um reordenamento do centro de gravidade da economia
mundial nos direcionou no passeio pelos eventos responsáveis pela ascensão
de um grupo de países que passaram a gerir o sistema econômico global,
ditando as regras que deveriam ser aceitas e seguidas pelos demais “agentes”,
que em última instância se limitavam a figurar como coadjuvantes desse
processo. A emergência de uma nova ordem, portanto, conta um pouco da
história do alinhamento da formação do corpo da sociedade moderna, a partir
de um olhar que privilegia o novo papel das economias que sofreram, ao longo
dos últimos seis séculos, as consequências da empreitada dos países do bloco
central, responsáveis por ditar o ritmo das transformações que se espalharam
pelo mundo durante esse período. “Ex-colônias”, “países pobres” e
“subdesenvolvidos”, “países da periferia”, “países emergentes” – as
expressões se multiplicaram para tentar definir um grupo de agentes vistos
através do olhar etnocêntrico dos criadores e gestores do modelo de
civilização que se afirmou a partir do século XV. Agentes que no máximo eram
tidos como fundamentais para atender os interesses dos países que se
alinharam em torno de um projeto de construção de um novo mundo, que
expandiu suas fronteiras ao mais remoto canto do planeta e transmitiu suas
práticas econômicas, cultura, ciência, tecnologia e sistema político ao resto
da população mundial de forma irresistível. Esse processo, porém, não se deu
de forma tranquila e indolor e sim através da uma longa história de
sofrimento e dominação de grande parte do mundo civilizado e deixou uma
“alta conta” no que diz respeito ao exclusão de uma parcela majoritária dos
habitantes do planeta aos benefícios produzidos por esse modelo de
desenvolvimento.

Se a virada do milênio trouxe um novo século onde a preocupação sobre a


possibilidade de um grande “bug” que colocasse em risco os sistemas de
computadores espalhados por todo o planeta, ela trouxe consigo, também,
marcas que apontam a passagem para um “tipo” de sociedade onde as
informações digitalizadas em bits e bites assumem, definitivamente, um papel
que irá revolucionar as formas de “estar junto” e “entrar em conflito”. No
rastro dessas transformações misturam-se a história de uma civilização que se
caracterizou pela alta capacidade inventiva com que passou a lidar com os
“problemas” inerentes ao confronto do indivíduo dito, por si mesmo, humano
e a natureza interna e exterior ao longo do processo de sua inserção na
realidade que o cerca. Os reflexos dessa capacidade podem ser acompanhados
a partir das conquistas que se seguiram a afirmação da civilização da razão,
que esquadrinhou a realidade em suas fórmulas e leituras do movimento
impessoal do mundo ao redor de si. Os impactos desse “desenvolvimento”
também podem ser verificados, sob um ponto de vista de consequências nem
sempre “positivas”, no que diz respeita a sua sobrevivência sobre o planeta
que habita. A opção de abordagem dos temas que se seguirão a essas palavras
introdutórias passa pela eleição de um dos impactos mais visíveis desse
modelo de desenvolvimento que é a concentração de riqueza nas mãos de
uma pequena minoria que nega a maioria dos indivíduos o direito de
compartilhar os avanços produzidos pela civilização nesses últimos seiscentos
anos. Se a era moderna foi capaz de alcançar um estágio de
“desenvolvimento” sem precedentes num curto espaço de tempo, no que diz
respeito a melhoria das condições de vida do indivíduo sobre a esfera
terrestre, ela não foi capaz de distribuir esses benefícios em escala
planetária. A emergência de uma nova ordem traz a esperança de que o atual
estágio da civilização produzida pelos “seres da linguagem” possa promover os
ajustes necessários a estender os benefícios alcançados a grupos de pessoas e
países que ficaram de “fora do jogo” por muito tempo. Nesse sentido,
estabelecer um limiar entre duas eras funcionaria como um ponto de inflexão
que carrega a esperança de transformações que abarque não só o
desenvolvimento dos sofisticados processos de interação entre homem e
natureza na geração de benefícios palpáveis, mas que coloque os benefícios
gerados a serviço da enorme população que se acumulou nas bordas dos céus,
dos mares e dos continentes, que beira a casa dos sete bilhões de habitantes
desse planeta chamado terra.

O processo de interação dos indivíduos nas tramas produtoras da civilização


ao longo dos embates de forças diversas que se sucederam e desembocaram
es formas distintas de organização, equilibraram interesses que foram
estratificados na cristalização dos corpos sociais. Trafegar por essas estruturas
requer, de saída, um roteiro e marcadores que viabilize a navegação por
caminhos crivado de atalhos, curvas, saltos e descontinuidades. Assim
escolhemos um roteiro econômico e selecionamos alguns marcadores para
facilitar essa tarefa. As escolhas refletidas nesse livro advêm de uma
trajetória particular e trazem elementos que coexistiram ao logo dela e foram
embalados por uma busca que nunca se propôs a fornecer respostas mas se
constituía em formular perguntas silenciosas. Esse método não preserva a
imparcialidade da linha argumentativa construída ao longo da análise de
alguns eventos, propositalmente e porque faz algum tempo que aprendi o
perigo que pode representar certas “neutralidades” para a tarefa de um
“cartógrafo” das ciências humanas. Contudo o pudor da imprecisão ou o
temor de que as palavras possam levar o leitor para muito longe do objetivo
inicial da argumentação está presente no excesso de “aspas” que se
multiplicam no texto. Elas talvez sejam uma tentativa de apropriação parcial
de certos significados que as expressões passam a carregar quando
“extirpadas” das bocas que tantas vezes já a disseram, mas que a revestem,
ao mesmo tempo, de uma multidão de significados não ditos ou apenas
intuídos no ato de repeti-las sistematicamente. O fato de sempre ter
trabalhado em uma instituição financeira e de nos últimos dez anos ter extado
exposto diretamente as tramas do mercado financeiro, embora tenha
facilitado a tarefa de discorrer sobre determinados assuntos, trouxe um
dúvida que acompanhou todo a feitura do texto, sobre o quão
“excessivamente” técnico estava sendo quando da escolha de manter
determinadas terminologias de “mercado”, “jargões” sobremaneira comuns às
“pessoas de mercado” mas nem sempre são tão usuais fora desse círculo.
Contudo, com a crise financeira que acometeu o mundo em 2008, alguns
temas tornaram-se mais “familiares” ao grande público que vive distante dos
“derivativos” e das operações de “aquisições alavancadas”, uma vez que ela
trouxe consequências que afetaram a vida cotidiana dos “consumidores” ao
redor do mundo. Mesmo tocando em alguns temas não tão próximos ao dia-a-
dia das “pessoas” de fora do mercado financeiro, a abordagem construída com
a “Emergência de uma nova ordem”, servirá, no mínimo como uma “bússola”
para o leitor que pretenda ter acesso a um panorama geral do processo
constitutivo desse “modelo” de civilização que ficou conhecido como
“modernidade” a partir de temas relacionados a sua consolidação na forma de
um sistema econômico, sistema de pensamento e sistema político,
representados pelo Capitalismo, Racionalismo e pela Democracia, no desfiar
de uma trama que pode levar as linhas a universos distantes daqueles que
preenchem o “senso comum”. Não houve como me furtar, também, de uma
reflexão filosófica sobre esse processo de consolidação e sobre a possibilidade
de se pensar numa nova “era” como o resultado dessas combinações que
passei a chamar de “sobremodernidade”. Embora ela tenha sido concentrada
na unidade intitulada de “Interlúdio filosófico”, atravessa todo o texto da
mesma forma e com o mesmo vigor das linhas de fuga que nos remetem a
universos sempre em branco, onde os significados ainda não se formaram e o
sentido como um acontecimento insiste em se insinuar.

Bem vindos a “emergência de uma nova ordem.

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