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MOÇÃO

A avaliação do desempenho profissional dos docentes pode constituir-se como uma


prática fundamental para melhorar a qualidade do seu trabalho. E é unânime a
convicção dos educadores e professores deste agrupamento sobre a importância da
avaliação para a melhoria das suas práticas profissionais e do serviço que as
escolas prestam.

Porém, e apesar de se realizarem internamente esforços significativos no sentido da


criação das condições de aplicação do Dec Regulamentar nº 2/2008 de 10 de
Janeiro e nele previstas, nomeadamente através da elaboração e aprovação pelo
conselho pedagógico de instrumentos de registo (Artº 6º), assim como de processos
de reformulação do seu projecto educativo, em curso, outros factos se impuseram,
conduzindo à necessidade de uma reflexão conjunta e alargada dos docentes deste
agrupamento e à tomada de um posição colectiva e pública.

A nível interno, subsistem preocupações, dúvidas e incertezas, que indiciam


acrescentar dificuldades às já existentes na aplicação do estipulado no Dec-
Regulamentar acima referido e que vêm exercendo uma influência claramente
negativa, especialmente ao nível das relações interpessoais e do clima de confiança
e colaboração entre todos os profissionais deste agrupamento. Externamente, têm
os educadores e professores deste agrupamento vindo a assumir posições públicas
de contestação deste modelo de avaliação, integrando-se em iniciativas e
manifestações de âmbito local, regional e nacional.

Assim, e no exercício de direitos e deveres profissionais, tal como estão definidos no


Estatuto dos Educadores e Professores dos Ensinos Básico e Secundário, tal como
definido no Dec.-Lei nº 15/07 de 19 de Janeiro, bem como dos direitos e deveres de
cidadania consignados na Constituição da República Portuguesa, decidiu-se tornar
público o seguinte:

1- O processo de aplicação do actual modelo de avaliação de desempenho dos


docentes vem-se revelando incoerente e injusto, em diferentes aspectos,
nomeadamente:
• Ao estabelecer quotas, para acesso a qualificações de “Muito Bom” e
“Excelente” determina que o mérito depende de critérios apriorísticos de
natureza administrativa;
• Ao estabelecer quotas diferenciadas para avaliadores e avaliados,
compromete o princípio da imparcialidade, em relação aos avaliadores,
colocando-os numa posição de parte interessada nos efeitos da avaliação
ao nível da escola/agrupamento a que pertence;
• Ao atribuir o papel de avaliador aos professores titulares, confirmam-se
situações de injustiça presentes no processo de concurso para
professores titulares, ao se considerar para esse efeito, apenas os últimos
sete anos de desempenho profissional dos concorrentes. Em
consequência, verificam-se situações de avaliadores com formação
científico-pedagógica e académica de nível inferior aos avaliados. Também
em resultado deste processo concursal se verificam situações em que os
avaliadores pertencem a grupos disciplinares diferentes, provocando
situações de evidente absurdo e embaraço;
• A dependência da avaliação em função de resultados escolares e
abandono, independentemente dos modos como se operacionalizará tal
relação, indicia a indesejável tendência para o aprofundamento do
facilitismo e da manipulação estatística de resultados;
• A imputação de responsabilidade individual a cada docente pela avaliação
dos seus alunos, contraria o princípio que tem orientado o processo de
avaliação de que a avaliação final do aluno é da competência do Conselho
de Turma, assim como parece desvalorizar o papel dos departamentos e
do conselho pedagógico que deverão assumir responsabilidades
partilhadas quanto a orientações e acompanhamento da acção profissional
de cada docente;

2- Ao se insistir na aplicação do presente modelo, contribuir-se-á para o


aprofundamento do clima de instabilidade e mau-estar já existentes, com
efeitos agora imprevisíveis, mas que poderão afectar negativamente e de
modo significativo a qualidade das aprendizagens dos alunos e das relações
entre os professores, as famílias e as comunidades em que as escolas se
inserem. Tal situação decorre de um conjunto de factores, nomeadamente:

• Da crescente componente de trabalho de natureza administrativa no


quotidiano dos professores, em parte decorrente dos processos de
aplicação, em simultâneo, do novo estatuto do aluno, da legislação
recente sobre o ensino especial, mas também sobre o novo modelo de
gestão e administração das escolas, mobilizando tempo, energias e
recursos, resultando em consequência num menor investimento no
trabalho essencialmente pedagógico de planificação, realização e
avaliação das actividades lectivas;
• Da menor capacidade física, mental e psicológica que daí resulta para
ouvir os outros, muito em especial os alunos, tarefa e disponibilidade
absolutamente fundamentais para a qualidade das aprendizagens e da
existência de um clima de estabilidade e confiança imprescindíveis
para que a escola possa prosseguir a sua função socializadora e
efectivamente construtora da coesão social;
• Do não reconhecimento, por parte de avaliadores e avaliados sobre os
sentidos positivos de relação existentes entre as práticas de avaliação,
tal como estão concebidas e planificadas e os seus efeitos no
desenvolvimento profissional dos docentes e da qualidade das
aprendizagens dos alunos. Ao invés, sobrepõe-se o entendimento de
que o actual modelo assume essencialmente uma função reguladora
na progressão na carreira docente tal como está definida, a uma escala
nacional, sobrepondo-se critérios e orientações de natureza político-
financeira à custa de uma provável degradação da qualidade da escola
pública e do serviço que ela presta;
• O actual modelo, vem-se revelando como factor de promoção da
competitividade e do individualismo entre os docentes, inibindo e outras
vezes claramente contrariando o desenvolvimento de práticas
cooperativas e colaborativas, absolutamente necessárias para fazer
face à crescente complexidade das tarefas e funções que
quotidianamente são chamados a desempenhar;
• A avaliação que se propõe desvaloriza a sua função formativa, pois ao
sobrevalorizar os procedimentos de natureza administrativa, através do
preenchimento de formulários e do reforço de hierarquias presentes na
estrutura organizativa das escolas, contraria a necessidade de
afirmação de uma verdadeira cultura de avaliação e prestação de
contas, fundadas em práticas reflexivas e críticas, associadas a
práticas profissionais de maior participação e implicação dos
educadores e professores no seu próprio desenvolvimento profissional.

Os educadores e professores deste agrupamento reunidos em assembleia geral


manifestam a sua solidariedade para com a tomada de posição de muitas escolas e
agrupamentos deste país, reconhece a não aplicabilidade deste modelo, e a
consequente necessidade da sua alteração, que se paute por evidentes critérios de
justiça, transparência e aplicabilidade.

Assim e enquanto não forem corrigidas todas as arbitrariedades, limitações,


incoerências e injustiças que este Modelo de Avaliação contém, os professores do
Agrupamento de Escolas Fragata do Tejo – Moita, reunidos em Reunião Geral de
Professores, por não reconhecerem qualquer efeito positivo sobre a qualidade da
educação e no desempenho profissional decidiram-se pela suspensão de toda e

qualquer iniciativa relacionada com a Avaliação consignada neste Modelo.

Mais afirmam a sua disponibilidade, quer na perspectiva do esclarecimento junto da


comunidade educativa sobre as razões desta tomada de posição e de uma avaliação
crítica do actual modelo, assim como no sentido da colaboração e construção de
alternativas.
Em nome da nossa dignidade profissional e da defesa da qualidade da escola
pública.

Moita, 21 Novembro de 2008

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