You are on page 1of 42

1

Capítulo І

1. Um Breve Histórico sobre o Direito do Menor

Vem do passado às inúmeras discussões sobre a responsabilidade do menor,


abrangendo todo sistema jurídico. Todo ato praticado pelo homem que fosse
considerado contrário ao julgamento feito pela sociedade, não poderia ser atribuída
a ele essa responsabilidade de modo pessoal, antes que ele tivesse alcançado um
determinado desenvolvimento social e mental. Entretanto, até que os menores
tivessem garantido o reconhecimento dos seus direitos fundamentais, passavam
por incontáveis sacrifícios e por muitas vezes tiveram que pagar com a própria vida.
Todo tema que tem como foco principal à criança e o adolescente envolve bastante
sensibilidade quando se iniciam na vida delituosa que é tão deflagrada nos dias de
hoje, mas mesmo assim o que vemos é o crescente aumento das estatísticas atuais.

Todo o ocidente sofreu uma enorme influência do Direito Romano, já que se


mantinha a noção de que o poder do pai era o que mantinha ordem na família.
Porém, com o passar dos tempos, esse poder absoluto que emanava do pai, que
poderia abandonar os filhos, maltratar, vender e até mesmo matar, foi diminuindo.
Mesmo assim, o Direito Romano tomou a decisão de se adiantar e criar uma forma
específica através de uma legislação penal direcionada para os menores, onde foi
criada uma distinção, dividindo os seres humanos em púberes e impúberes. Para os
considerados impúberes o discernimento era reservado ao juiz, que tinha a
obrigação de determinar penas bem mais leves. A obrigação de reparar o dano
causado está entre as formas de sanções que foi extraída da Lei das XII Tábuas,
onde a pena de morte era proibida1.

1
MEIRA, Silvio A. B. A Lei das XII Tábuas. Fonte do Direito Público e Privado. 3. ed. Rio de Janeiro: ed.
Forense.
2

Tábua Segunda: Dos julgamentos e dos furtos.

“Se ainda não atingiu a purbedade, que seja fustigado com varas, a critério do
pretor, e que indenize o dano”.

Tábua Sétima: Dos delitos.

“Se o autor do dano é impúbere, que seja fustigado a critério do pretor e


indenize o prejuízo em dobro”.

Os interpretes das Leis na idade média, acolheram uma legislação que tinha
como determinação impossibilitar que os adultos não fossem punidos por atos
delituosos que foram praticados quando ainda eram crianças.

O Direito Romano preestabeleceu suas diretrizes cronológicas de


responsabilidade o que foi seguido de forma fiel pelo Direito Canônico.

A primeira manifestação internacional de grande importância para a garantia


dos direitos dos menores em 1924 foi a Declaração de Genebra, que depois ganhou
força com a Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada em 1959 pela
Organização das Nações Unidas, no qual ficaram dispostos onze princípios onde a
criança e o adolescente eram considerados imaturos mentalmente e fisicamente,
necessitando assim de proteção legal. O ano de 1979 ficou conhecido como o ano
internacional da criança, ano em que a ONU constituiu uma comissão que anunciou
o texto da Convenção dos Direitos da Criança, e no ano de 1989 obrigou os países
que assinaram a convenção a se adequarem às normas internacionais.

A Lei 8069 de 13 de julho de 1990, foi consagrada como uma das mais
modernas legislações menoristas do mundo, conhecido como ECA, ou seja, Estatuto
da Criança e do Adolescente, que este ano atingiu a sua maior idade, uma vez que
completou 18 anos.
3

O estatuto é um conjunto de normas do ordenamento jurídico brasileiro que


foi criado com o intuito de garantir e proteger a integridade da criança e do
adolescente. Ele representa um grande avanço no direito, já que deixou exposto o
princípio de proteção integral e prioridade absoluta à criança e o adolescente, o que
já era previsto pela Constituição Federal de 19882.

A legislação de proteção à infância e juventude que se origina da raiz


constitucional, nunca pode ser esquecido que no momento em que tratamos dos
aspectos dessa legislação, onde se segue o princípio de proteger de forma integral à
criança e o adolescente, observando à condição especial uma vez que se tratam de
pessoas em fase de desenvolvimento. O meio acadêmico de uma forma deplorável
não costuma dar a devida atenção à legislação menorista. O tema é sempre
abordado pelo meio acadêmico como uma mera atividade opcional ou apenas tem
alguns de seus aspectos tratados junto com outras disciplinas.

Com relação à legislação anterior, conhecida como Código de Menores de


1979, o Estatuto da Criança e do Adolescente introduziu mudanças bastante
significativas, no qual elas passaram a ser consideradas cidadãos, com direitos
sociais e pessoais garantidos, dando aos governos municipais a elaborar
especialmente para esse segmento a implementação de política pública
consideráveis. As normas internacionais são respeitadas pelo Estatuto que também
resgata juridicamente a cidadania e a atenção necessárias a todas as crianças e
adolescentes.
É inegável que o ECA é uma grande arma de defesa dos direitos da infância e
da adolescência.

2
A Constituição Federal da República , em seu art. 227, caput, estabelece que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
4

No Brasil existiam duas categorias de crianças e adolescentes. Para uma, os


filhos socialmente incluídos e integrados era denominado como criança e
adolescente. Já para a outra categoria, os filhos dos pobres e excluídos eram
genericamente denominados como menores, eram considerados crianças e
adolescentes de segunda classe.
Para eles, se aplicava a lei antiga, com fundamento no direito penal dos
menores e na situação irregular formulada pela doutrina. Os menores eram objeto
de tutela do Estado, que era a espécie de tratamento definido pela doutrina e por
uma política que variava o seu atendimento entre o seu assistencialismo e a total
discriminação, com o objetivo de isolar da sociedade esses menores3.

Nos dias atuais é assegurada a criança e ao adolescente com respaldo no


artigo 227 do texto da Carta Constitucional de 1988 uma série de direitos, deixando
claro que é dever da sociedade e do Estado assegurar com absoluta prioridade o
direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, entre outras. Partindo
do principio descrito pelo artigo 98 do ECA, as medidas de proteção serão utilizadas
sempre que for violado os direitos nele contido, seja por ação ou omissão, não
importando que seja da sociedade ou do Estado, por falta da presença dos pais ou
responsáveis ou abusos cometidos por eles.

A doutrina de proteção integral encontra embasamento na legislação


menorista, que reconhece a criança e o adolescente como indivíduos portadores de
necessidades especiais, que estão em plena fase de desenvolvimento de seu
caráter, de sua formação física e psíquica, por esses motivos são merecedores de
uma atenção mais profunda e especial proveniente do Estado, da sociedade e dos
seus pais ou responsáveis.

3
Essas eram as mesmas expressões contidas no 2º Código de Menores ao tentar explicar a situação irregular.
5

A prática constante dessa conduta de acompanhamento, seja por parte do


Estado, da sociedade, dos pais ou dos responsáveis, é de extrema importância para
que essa criança ou adolescente possa se sentir protegido e amparado, até mesmo
para que essa medida possa ajudar na formação do caráter desses menores, o que
é fundamental, para que ele não se transforme em um jovem que possa a vir a
cometer atos de delinqüência, comprometendo assim toda a sua infância e
juventude. A prevenção é e sempre será a melhor medida para assegurar a
integridade física e social da criança e do adolescente.

1.1 A Função das Medidas Sócio-Educativas

As medidas sócio-educativas aplicadas como forma de reprimir os atos de


infração praticados por menores tem por objetivo alertar o infrator sobre a conduta
anti-social por ele praticada e visa a sua reeducação para a vida em sociedade. Se
ele enquanto jovem, deixar de ser o causador de uma alarmante realidade para ser
o agente transformador dela, uma vez que teve a oportunidade de passar por
momentos que lhe proporcionaram a cidadania, o objetivo da medida sócio-
educativa estará cumprida. Os liames com a sociedade e a família aqui presente
estarão rompidos.

No Brasil no começo do século XIX e o mundo inteiro foi atingido pela


problemática do menor infrator por conseqüência do crescente desenvolvimento,
onde as mulheres passaram a ocupar uma parcela importante da sociedade,
passando a ser responsável pelo sustento de suas famílias, tendo que para isso
deixar seus filhos desprovidos da presença materna e expostos a todo tipo de
situações.

Muitas legislações foram criadas e aplicadas no Brasil, cada qual em


determinada época, que com o passar do tempo foram demonstrando-se sem
eficácia, uma vez que a criminalidade entre os jovens foi crescendo de forma
descontrolada. Os menores infratores não são punidos com penas fixas.
6

Como o juiz até hoje possui o direito ao discernimento, a discricionariedade


atribuída a ele, torna difícil a eficácia da aplicação das medidas sócio-educativas.

O ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecido pela Lei 8069/90,


surgiu com enormes mudanças para o menor, visando uma aproximação desse
menor com a realidade social que se vive no Brasil, já que a criminalidade entre os
menores vem crescendo de forma absurda. O Diploma, na opinião de juizes
promotores da infância e da juventude, abrange critérios bem mais rígidos de
punição e de medidas que buscam recuperar menores que ainda estão em
condições de recuperação.

Os jovens sem oportunidades, sem projetos, envolvidos com o crime, não se


recuperam se não houver a mínima possibilidade de restauração. Os adolescentes
quando voltam para o convívio em sociedade se mostram um cidadão muito pior,
agindo com mais violência e muito anti-social. Diante disso podemos observar o
quanto é excepcional a medida, que não muito distante, vem sido aplicada de forma
intensa, já que é crescente a periculosidade dos infratores4.

Até o momento não existe uma opinião equânime na doutrina no que diz
respeito as possíveis causas que levam o menor a cometer atos infracionais. O que
ocorre são meramente suposições de cunho social no que tange os desvios de
conduta que deságuam no repudio da sociedade.

“A família foi colocada como a grande orquestradora da marginalidade, eis


que os pais ou responsáveis são considerados como causadores da situação
irregular de seus filhos ou pupilos, seja ela concebida como carência de meios
indispensáveis à subsistência, abandono material e até mesmo a prática de infração
pena5l”.

4
VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. São Paulo: LTr, 1999, p. 96.
5
PAULA, Paulo Afonso Ganido de. Menores, Direito e Justiças: Apontamento para um Novo Direito das
Crianças e Adolescentes. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais.
7

“Verifica-se no texto legal que o Estado não pode ser responsabilizado por
nada, somente aparecendo depois de instalada qualquer hipótese que configure
situação irregular, fazendo-se presente unicamente através de seu poder coercitivo,
que o autoriza a intervir, amena ou drasticamente na vida do menor ou de sua
família 6“.

Podemos afirmar que, para que seja combatida a delinqüência que já existe
em nossa sociedade a segregação na verdade ao contrario do que se pensa não
recupera, e sim, degenera ainda mais esses jovens. De certa forma não reflete
nenhuma eficácia, e sim, desespero, reincidência e revolta. De fato isso não é o que
se espera para os jovens de nossa sociedade.

No que tange à punição dos menores infratores, notadamente não é mais


uma questão de cunho exclusivamente político-social, mas sim jurídico, já que a
violência entre os menores tem crescido de forma assustadora, chegando até a ser
comparado aos adultos no que diz respeito as suas atitudes delituosas.

A preocupação dos legisladores é vista como uma forma exagerada no que se


refere à elaboração de medidas sócio-educativas para se recuperar tais menores, já
que as medidas são explicadas com base em que o menor é ainda um indivíduo que
se encontra em fase de produção de sua personalidade, que os delitos cometidos
por esse menor é decorrente de algum motivo todavia desconhecido, podendo ser
recuperado e recolocado no futuro em uma sociedade mais justa, com o intuito de
que esse menor não venha mais a cometer qualquer ato de delinqüência.

Alguns legisladores entendem que os sistemas aplicados juntamente com a


repressão aos imputáveis são rigorosos demais e que em grande parte das vezes na

6
PAULA, Paulo Afonso Ganido de. Menores, Direito e Justiça: Apontamentos para um novo Direito das
Crianças e Adolescentes. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
8

verdade não atingem os seus objetivos que é a recuperação desses menores.


Dessa forma os adolescentes que são submetidos aos tratamentos a que dispõe o
ECA teria a sua personalidade que ainda não está formada em deformada já que os
procedimentos adotados são inconsistentes e não possuem propostas que de fato
atendam ao propósito de recuperar esses menores.

Não podemos nos esquecer que a violência entre os menores vem


crescendo de forma alarmante nos últimos tempos tornando a legislação menorista7
vigente defasada por conseqüência da grave prática de delitos como homicídio e
estupros, o que não possui significado econômico, derrubando por terra a tese de
que as condições subumanas a que as crianças e adolescentes são submetidos,
são as principais causas e os motivos que levam esses jovens a cometer os atos de
delinqüência. Não é só no Brasil que o índice de menores infratores que pertencem
à classe média e alta vem crescendo, mas também em grande parte dos países
desenvolvidos.

Na verdade não existe um conhecimento real das causas do aumento da


marginalidade entre os jovens, o que se sabe é que são amplas e não se restringem
tão somente à fome ou ao descaso social. Ocorre ainda por conseqüência das más
companhias, formação de bandos, embriaguez, prostituição, drogas, opção sexual,
orientação religiosa ou moral e uma vontade voltada para a prática de crimes, se
enquadram como as principais delas.
O que fica latente é que as políticas básicas de saúde, educação e segurança
encontram-se muito distante das necessidades de grande parte das famílias
brasileiras, que desde muito cedo se deparam com essa realidade, sentindo-se
desprotegidos e desiguais.

A jurisprudência e a doutrina divergem muito no que tange a prática dos atos


infracionais cometidos por menores. A busca pelo nivelamento entre o adolescente

7
CAVALLIERI, Alyrio. Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 54-
56.
9

e a pessoa maior de dezoito anos vem crescendo muito, com base no argumento de
que a legislação atual é complacente e por conseqüência disso só contribui para que
cresça ainda mais o desvirtuamento social desses menores. O que se busca dizer
com isso é que na verdade não existe menor infrator vítima da pobreza, da falta de
oportunidade de estudo, de trabalho ou do abandono, e sim produtos que se
encontram em constante exposição de carência moral e que se entregam ao crime
por vontade e iniciativa própria, uma vez que se entende que o jovem de hoje já
possui um certo discernimento do que é prejudicial para o seu desenvolvimento e
convívio em sociedade, sendo capaz de saber fazer a distinção entre o que é lícito
ou ilícito de forma plena.

A conduta delituosa praticada pelo infrator, na verdade não é nada mais do


que um ato infracional descrito como tipo ou contravenção penal, e sua
nomenclatura se ajusta aos inimputáveis. O que ocorre na maioria das vezes, é que
esses menores praticam atos que não condiz com a sua verdadeira situação legal
de incapacidade, no momento em que surge a delinqüência juvenil, que para alguns
doutrinadores que compartilham de opiniões diferentes, demonstram causas
diversas. Alguns vêem o fato como conseqüência do claro abandono ao qual o
menor se encontra exposto, outros entendem de forma diferente, eles acreditam que
os atos infracionais cometidos pelos menores, nada mais são do que uma escolha
do modo de viver, e não são raras as vezes que eles são estimulados pelos próprios
pais, optando pelo caminho de se entregar aos atos de delinqüência.

Porém, de outro lado encontramos alguns doutrinadores que defendem que


os adolescentes são marginalizados, vítimas de uma sociedade onde a
desigualdade impera, que não possuem renda que seja capaz de suprir suas
necessidades básicas como saúde, educação, lazer, habitação, entre outros, e que
tomado por uma vontade muito grande de experimentar o que não tem a
oportunidade de ter, envereda pelo caminho da marginalidade.
Para esses o caminho é a ressocialização, entretanto, não como forma de
punição, e sim a reinserção desse jovem na sociedade da qual foi repudiado8.

8
AMARAL E SILVA, Antônio Fernando do. Estatuto da Criança e do Adolescente. Comentado. 5. ed. Ver. Emp.
São Paulo: Editora Malheiros, 2002.
10

“Os que preconizam a redução do limite, sob a justificativa da criminalidade


crescente, que a cada dia recruta maior número de menores, não consideram a
circunstância de que o menor, por ser ainda incompleto, é naturalmente anti-social à
medida que não é socializado ou instruído. O reajustamento do processo de
formação do caráter deve ser cometido à educação, não à pena criminal. De resto,
com a legislação de menores recentemente editada, dispõe o Estado dos
instrumentos necessários ao afastamento do jovem delinqüente, menor de 18 anos,
do convívio social, sem sua necessária submissão ao tratamento do delinqüente
adulto, expondo-o à contaminação carcerária9”.

"Então, para o adolescente autor de ato infracional a proposta é de que, no


contexto da proteção integral, receba ele medidas sócio-educativas (portanto, não
punitivas), tendentes a interferir no seu processo de desenvolvimento objetivando
melhor compreensão da realidade e efetiva integração social10".

As medidas sócio-educativas dispostas na legislação atual necessitam passar


urgentemente por uma análise profunda para que seja comprovada a sua eficácia e
também para que se possa checar se o adolescente infrator esta passando por um
processo de ressocialização da forma correta ou estão lhe dando os subsídios
necessários para que ele não volte a delinqüir.

O direito do menor na verdade é decorrente do famoso direito penal,


necessariamente opressor, em conseqüência da sua omissão, com o passar do
tempo está se tornando uma forma de recuperação, entretanto esse tipo de política
ainda é muito pouco utilizado, até porque vem recebendo inúmeras criticas e não
demonstra resultados positivos. Um dos maiores problemas encontrados na relação

Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 72.
10

CURY, Munir (coord.); SILVA, Antônio Fernando do Amaral e (coord.); MENDEZ, Emílio García (coord.).
Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 3ª ed., 2ª tiragem. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 313.
11

com o menor infrator está na ausência de estabelecimentos que sirva para contribuir
na correção, recuperação e formação da personalidade desses menores.

Não podemos atribuir as medidas sócio-educativas o caráter punitivo, mesmo


que para alguns doutrinadores a coloque em um enfoque penalista, pois o que se
busca na verdade é a mesma coisa, qual seja, a conduta definida como crime ou
contravenção penal.

“... O juiz fará a aplicação das medidas segundo a sua adaptação ao caso
concreto, atendendo aos motivos e circunstâncias do fato, condições do menor e
antecedentes. A liberdade, assim, do magistrado é a mais ampla possível, de sorte
que se faça uma perfeita individualização do tratamento. O menor que revelar
periculosidade será internado até que mediante parecer técnico do órgão
administrativo competente e o pronunciamento do Ministério Público, seja decretado
pelo juiz a cessação da periculosidade, assim, este é um traço marcante no
tratamento de menores. Toda vez que o juiz verifique a existência da periculosidade,
ele determinará a defesa social, fica com a obrigação de determinar a internação.
Contudo, ao administrar as medidas sócio-educativas, o Juiz da Infância e da
Juventude não se aterá apenas às circunstâncias e a gravidade do delito, mas
sobretudo, às condições pessoais do adolescente, sua personalidade, suas
referências familiares e sociais, bem como a sua capacidade de cumpri-la11”.

Capítulo ІІ

2. A eficácia das medidas sócio-educativas

11
PAULA, Paulo Afonso Ganido de. Menores, Direito e Justiças: Apontamentos para um novo Direito das
crianças e adolescentes. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais.
12

Na Lei 8069 de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente, em seu artigo 112 encontram-se estabelecidas às medidas sócio-
educativas. Essas medidas não perdem o caráter de proteção mesmo que voltadas
para situações onde se verifica o comportamento do adolescente e não da criança,
já que são exclusivamente aplicadas para atos praticados a partir dos doze anos de
idade.

É necessário dizer que a medida sócio-educativa não possui caráter de pena,


uma vez que não se trata de uma punição12. E entre outras medidas nele contidas,
está a que busca recuperar e reintegrar esses adolescentes na sociedade afim de
transformá-los em adultos melhores.

A fundamentação nessa espécie de medida está estabelecida no artigo 112


do Estatuto da Criança e do Adolescente. As medidas aplicadas no mencionado
artigo devem ser aplicadas nos casos de menor gravidade, que forem cometidos
sem violência contra qualquer pessoa, ou grave ameaça que envolvam adolescentes
que não tenham antecedentes, sendo estas:

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

І – advertência;

ІІ – obrigação de reparar o dano;

ІІІ – prestação de serviços à comunidade;

ІV – liberdade assistida;

V – inserção em regime de semiliberdade;


12
Mas o STJ já decidiu que “As medidas sócio-educativas perdem a razão de ser com o decurso do tempo.
Conseqüentemente, a fortiori, tratando-se de menores, é de ser aplicado o instituto da prescrição”.(Recurso
Especial n° 241477/SP, 5ª Turma do STJ, Rel. Min. Felix Fischer. J. 08.06.2000, Pub. DJU 14.08.2000 p. 191)
13

VІ – internação em estabelecimento educacional;

VІI – qualquer uma das previstas no art. 101, І a VІ.

2.1 Da Advertência

A advertência descrita no inciso І é uma forma de mostrar ao adolescente o


equívoco do seu ato e as conseqüências negativas que podem surgir de práticas
semelhantes realizadas de forma continuada.

Esta medida pode ser uma das mais tradicionais do Direito do Menor, porque
constava no primeiro Código de Menores de 1979, no artigo 14 , І, com a
nomenclatura de “Medidas de Assistência e Proteção”.

No Estatuto vigente, o ECA, mais precisamente em seu artigo 115, encontra-


se disciplinada como a primeira das medidas aplicáveis ao menor infrator que
comete atos considerados de pequena gravidade, entre os quais estão: vadiagem,
pequenos furtos, agressões leves. Deve-se ressaltar que para que seja realizada a
sua aplicação, é necessário que se comprove a materialidade e os indícios de sua
autoria, como disposto no artigo 114, parágrafo único do Estatuto.

Artigo 115, ECA.

“A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo


e assinatura13”.
Artigo 114, parágrafo único, ECA.

“A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da


materialidade e indícios suficientes da autoria14”.

13
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 115, da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
14

ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 114, da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
14

Na verdade a aplicação da medida de advertência é a mais adequada, uma


vez que o juiz deve fazer um exame minucioso dos fatos para que seja apurada a
sua gravidade. De outra forma, a diminuição por conseqüência da advertência é
necessária para que seja dada credibilidade à medida, isto é, para que o infrator
tenha conhecimento do seu caráter repressivo, a fim de que seja alcançado o seu
objetivo final que é a reeducação.

Essa medida, busca principalmente de uma forma singela e tem como


principio básico, o de repreender o menor pelos atos de infração por ele praticado
por impulsos próprios da idade.

2.2 Da Obrigação de Reparar o Dano

O tema possui como primeira impressão, é que se fala respeito de algo que
não é juridicamente admissível, ou seja, no caso de se tratar de incapaz que pratica
um ato que cause dano patrimonial, ele não poderá ser responsabilizado civilmente,
conforme descrição estabelecida pelo Código Civil de 2002, em seus artigos 3°, І e
4°, І.

Artigo 3°do Código Civil

“São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida


civil”:

І- “os menores de dezesseis anos”

Artigo 4° do Código Civil

“São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer”.

І- “os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos”


15

Na obrigação de reparar o dano, fica claro pressupor que a infração é


compatível com a espécie, uma vez que nem toda infração deixa um dano a ser
reparado. Nos atos infracionais que causam danos patrimoniais, o juiz deve fazer
uso da medida sócio-educativa contida no artigo 116 do ECA.

Artigo 116, ECA.

“Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade


poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima15”.

Quando não houver a possibilidade de reparo do dano, uma outra forma de


ressarcimento de ser encontrada para que o prejuízo seja compensado.
Preferencialmente a hipótese de reparação como forma de medida sócio-educativa
deve ser aplicada se o infrator através do seu trabalho conseguir efetuá-la, no caso
de reincidência na prática, recair sobre seus responsáveis.

A questão de quem irá suportar a reparação dos prejuízos causados pelo


menor infrator é um fator relevante, conforme disposto no artigo 928 do Código Civil
de 2002.

“O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele


responsáveis não tiverem a obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes16”.

No mesmo diploma legal, está definido no artigo 5º que a maioridade cessa


aos 18 anos completos. Então se entende que um adolescente que tenha menos de
16 anos, que venha a ser considerado responsável por um ato e por conseqüência

15
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 116 da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
16

Código Civil. Artigo 928. Ed. Saraiva Ano de 2002.


16

seja obrigado a reparar o dano que tenha causado, a responsabilidade de


ressarcimento do dano recairá exclusivamente sobre seus pais ou responsáveis,
isso só não ocorrerá caso o adolescente possua patrimônio que possa suportar essa
responsabilidade.

Caso o adolescente tenha cometido ato infracional entre 16 anos e 18 anos,


ele será responsável solidariamente com seus pais ou responsáveis no que tange a
reparação dos atos ilícitos por ele praticados. Isso define a interpretação do artigo
932, І do Código Civil de 2002.

Artigo 932 do Código Civil.

“São também responsáveis pela reparação civil17”.

Artigo 932, І, do Código Civil.

“Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia18”.

A medida tem por objetivo mostrar aos jovens as conseqüências do ato ilícito
que cometeu, fazendo com que a finalidade para a qual ela foi criada seja
alcançada, ou seja, ela visa sempre a ressocialização.

Por fim, devemos dizer que muitas vezes por conta da condição econômica
do infrator isso acaba resultando em impedimento para que o mesmo constitua um
patrono, inviabilizando a aplicação da medida, neste caso, a mesma deverá ser
substituída por outra que seja adequada e que atenda ao mesmo propósito, que é a
sua aplicação na Justiça da Infância e da Juventude, realizados sempre com muita

17
Código Civil. Artigo 932, caput. Ed. Saraiva. Ano 2002.
18

Código Civil. Artigo 932, І. Ed. Saraiva. Ano 2002.


17

cautela para que o adolescente não seja exposto à humilhação pública,


principalmente nos casos onde se tenha que realizar reparos em prédios ou
monumentos que tenham sido danificados por pichação.

2.3 Da Prestação de Serviço à Comunidade

A prestação de serviços a comunidade está descrita no inciso ІІІ sem deixar


qualquer dúvida, é uma das medidas de maior eficácia. A condição do infrator é
levada em conta para que seja fixados o período e as horas semanais, como
também a gravidade da infração, criando-se uma proporção. O prazo máximo desse
período é de seis meses, em um regime de oito horas semanais, sem que essa
medida não cause nenhum prejuízo aos outros direitos desse infrator, como por
exemplo à educação.

Por conta do seu caráter dúbio, essa medida é bastante aplicada nos casos
dos adolescentes infratores, ou seja, da mesma forma que serve para trabalhos
comunitários, também desperta nesses jovens o prazer de estar ajudando de forma
humanitária as pessoas envolvidas. Dessa forma a ressocialização passa a ser
apenas uma maneira de realizar o trabalho, deixando de ser apenas uma finalidade
primária. Essa medida quando aplicada aos menores infratores de classe média,
alcança excelentes resultados, já que os coloca diante de uma realidade nua e crua,
da qual nunca haviam participado.

Essa medida faz com que esses jovens repensem sobre seus atos de
infração, diminuindo assim a sua provável reincidência. Nestes casos a
ressocialização é visível e ocorre com grande freqüência. Já que isolar esses jovens
da sociedade raramente recupera e o trabalho realizado para a sociedade é
favorável edificante para ambos.
A prestação de serviços comunitários não pode exceder a um período de seis
meses, funcionando de forma conjunta com as entidades de assistência, hospitais,
escolas e outros estabelecimentos, como também atendem a programas
comunitários e governamentais, como dispõe o artigo 117 do ECA.
18

Artigo 117 do ECA.

“A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas


gratuitas de interesse geral, por período não excedente há seis meses, junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas, bem como programas comunitários ou
governamentais19”.

A medida de prestação de serviços à comunidade é uma alternativa que


antecede a medida de internação, uma vez que a aplicação da mesma só deve
ocorrer em caráter excepcional.

2.4 Da Liberdade Assistida

Para a aplicação da liberdade assistida, descrita no inciso ІV restringem tanto


os direitos quanto a liberdade, não é uma medida para isolar os menores infratores,
porém, assume uma postura semelhante.

O período para a internação do jovem será de seis meses no mínimo, esse


prazo será fixado pelo juiz, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou
substituída por outra medida, sendo que para tal, seja ouvido o orientador, o
Ministério Público e o defensor20.

O infrator deverá comparecer mensalmente diante do orientador para que


assine a sua freqüência. A medida é destinada aos infratores que a princípio são
passíveis de recuperação em meio livre, que ainda estão no início do seu processo
de marginalização.

19
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 117 da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
20
ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069, de 13 de Julho de 1990. Seção V. Da Liberdade
Assistida. Artigo 118, § 2°.
19

Para a solução do enfrentamento da criminalidade infanto-juvenil entre as


mais diversas maneiras apresentadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a
medida sócio-educativa da Liberdade Assistida é a que aparece como a mais
importante e gratificante de todas as medidas, e foi apontada de forma unânime
pelos especialistas estudiosos da matéria. Porque mesmo sob o controle sistemático
do juizado e da comunidade o adolescente fica possibilitado de cumprir a medida
junto à família.

A medida disciplinada no artigo 118 do ECA, determina que o infrator será


dirigido a uma capacitada para realizar o acompanhamento do seu caso, com o
objetivo de auxiliá-lo e orientá-lo. Quando o juiz fixar essa medida, também irá
determinar o cumprimento de regras que sejam compatíveis com o andamento
social do jovem, entre as quais podemos encontrar: não se envolver em novos atos
de infração, não andar em más companhias, não andar armado, não freqüentar
certos locais, retomar os estudos, obedecer aos pais, recolher-se cedo à habitação,
entre outros.

Será feito a cada três meses um relatório sobre o comportamento do infrator,


descrevendo o seu relacionamento familiar e social. É notório que a medida tem
como principio vigiar, orientar e tratar o menor infrator, com o objetivo de reprimir a
sua reincidência e alcançar a sua recuperação.

2.5 Do Regime de Semiliberdade

No caso da semiliberdade disposta no inciso V, esta pode ser aplicada como


regime de transição posterior a uma internação ou como medida autônoma. Sendo
que são obrigatórias a escolarização e profissionalização do infrator21. Esse regime

21
ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069, de 13 de Julho de 1990. Seção VI. Do Regime de
Semiliberdade. Artigo 120, caput.
20

pode ser aplicado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto,
possibilitando a atividades externas, independentes da autorização judicial.

Na definição de Liberati22, veja-se: “por semiliberdade, como regime e política


de atendimento, atende-se àquela medida sócio-educativa destinada a adolescentes
infratores que trabalham e estudam durante o dia e a noite recolhem-se a uma
entidade especializada”.

São dois os tipos de semiliberdade: tratamento tutelar determinado pela


autoridade judicial desde o inicio, a partir da aplicação do devido processo legal;
progressão de medida, como beneficio o adolescente internato passa para a
semiliberdade.

A semiliberdade representa um tratamento tutelar feito, em grande parte das


vezes, no meio aberto, o que oferece, de fato, a realização de atividades externas,
entre as quais está, poder freqüentar a escola, relações de emprego, entre outros.

No processo de transição do meio fechado para o meio aberto à ocorrência


da medida de semiliberdade é observada. A liberdade assistida dessa forma
apresenta elevados índices de satisfação, de forma notável em virtude dos serviços
de assistência prestada pelas equipes de assistentes sociais, psicólogos,
nutricionistas e recreadores que observam de perto todo esse processo. A
escolarização e a profissionalização do menor é obrigatória, não cabendo a medida,
prazo determinado, aplicando-se no que der, as disposições no que se refere à
internação.

O que se pode dizer de fato é que a aplicação dessa medida é difícil. Não
existem locais adequados para que seja feita a sua execução, que acabam sendo
realizados em estabelecimentos destinados à internação. A execução das medidas

22
LIBERATI, Wilson Donizete. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 5. ed. São Paulo: Editora
Malheiros, 2000.
21

de internação se tornam prioritárias, uma vez que, o número desses


estabelecimentos é bem reduzido.

2.6 Da Internação

A medida de internação mencionada no inciso VІ, constitui-se de uma das


mais complexas das medidas sócio-educativas a serem aplicadas. Mesmo que o
Diploma de forma objetiva preveja os casos para a sua utilização, o juiz usará do
seu discernimento para fazer uso de sua aplicação. Ela é uma medida que se
orienta para sua aplicação pela excepcionalidade e brevidade, conforme disposto no
artigo 227, V, da Constituição Federal de 1988.

A medida de internação prevista no artigo 121 do ECA, busca como garantia a


segurança pessoal do infrator, uma vez que a sua conduta expõe esse ao perigo, e a
manutenção da ordem pública. Um exemplo de uma conduta que expõem esse
infrator diretamente ao perigo, é aquela que causa grande clamor popular, causa
revolta e repúdio na população. São as infrações tidas como graves, entre as quais
está o latrocínio e o estupro que terminam com a morte da vítima.

A população fica insegura e sem tranqüilidade diante das infrações graves


cometidas pelo infrator. A medida não comporta prazo determinado, a liberdade será
compulsória aos vinte e um anos de idade, em nenhuma hipótese o período máximo
de internação excederá a três anos, em qualquer hipótese a desinternação será
precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Publico e ainda será permitida
a realização de atividades externas, salvo expressa determinação judicial23.

Nos casos de grande clamor a possibilidade de represálias vindas por parte


da população deve ser levada em consideração. Do mesmo modo nos casos de
infratores que continuam a cometer os atos de infração, a sua liberdade pode gerar
novos atos de infração, sem esquecer que tais atos podem colocar a sua própria
segurança em perigo.

23
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 121, caput e § 1°e seg. da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
22

Quanto à ordem pública, da mesma forma podem ser argüidos elementos


para que seja requerida a sua internação. Porém por força do artigo 108, em seu
parágrafo único, do ECA e do artigo 93, inciso ІX, da Constituição Federal de 1988,
ainda que de forma sumária a decisão que determinar a internação deverá ser
fundamentada. A eficácia da cadeia para os jovens infratores é um dos maiores
problemas enfrentados pelo direito menorista.

Diante desse fato é que surge uma outra discussão sobre a redução da
maioridade penal. A redução da maioridade penal é defendida porque as
estatísticas de marginalidade vem crescendo de forma assustadora. Entretanto na
contramão dessa discussão surge a opinião dos que entendem a justiça dos
menores, aplicada de forma adequada, visando à responsabilidade penal como
forma de solucionar o problema com os menores infratores.

O melhor seria que o menor pudesse continuar sobre os cuidados de seus


pais, no convívio com sua família legitima ou substituta, visando sempre evitar o seu
internamento, que deve acontecer só em último caso, quando se tratar de menor
que não tenha família ou tenha cometido ato de infração.

O prazo máximo para essa medida é de 45 dias, e pode ainda ser reduzido
diante das necessidades do caso. Não há nenhuma definição legal específica que
determina quem pode requerer a internação. Entretanto não teria a autoridade
policial o interesse de pedir a internação, uma vez que o procedimento é de entregar
o adolescente aos pais ou responsáveis, ou encaminhá-lo diretamente ao Ministério
Público, onde a internação é requerida ordinariamente.

Se a decisão for a de aplicar a medida de internação ou semiliberdade à


intimação deverá sempre ser feita ao defensor, e ao infrator, caso isso seja possível.
Não sendo possível tal ação, os pais ou responsáveis devem ser comunicados. Nas
outras medidas a intimação deve ser feita exclusivamente na pessoa do defensor.
23

Se a intimação do infrator for realizada, o interesse de recorrer deve ser


questionado. Desta forma o defensor deverá ser intimado para que assim o ato seja
formalizado. Não existindo especificação da lei, todas as figuras típicas delituosas
ficam por ele amparada.

A noção de culpabilidade não tem a sua aplicação por ela embasada, uma
vez que a culpabilidade é própria do crime. A princípio, é de se ressaltar que uma
vez que não esta em pauta o interesse da parte lesada, mas sim buscar a proteção
desse infrator, nesse caso não há em se falar em no que tange os atos infracionais a
aplicação do instituto da representação criminal.

A autoridade policial no instante que toma conhecimento da prática do ato


infracional , deve agir de ofício, não importa se exista uma outra condição. Do
mesmo modo que o lesado fizer uma comunicação de ocorrência, mesmo que a lei
penal exija a representação, que será irrelevante uma retratação posterior, já que
não existe representação no registro de ocorrência.

Se um ato tipificado como crime ou contravenção é cometido por um


adolescente portador de enfermidade psíquica ou manifesta seu comportamento de
modo que caracterize risco para si, sendo que esta conduta seja passível de
proteção que deve ser feita pela medida sócio-educativa24. Como o objetivo não é
atuar com um juízo de censura para que se aplique a sanção, a imputabilidade nem
a consciência da ilicitude do ato não importam nesse caso.

A culpabilidade penal não esta sendo tratada aqui, já que sua estrutura,
compreende a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e a inexigibilidade
de conduta diversa, da mesma forma não se podem levar em consideração os
aspectos como insanidade mental para que seja afastada a possibilidade de se
aplicar à medida sócio-educativa.

24
ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069, de 13 de
Julho de 1990. Seção I. Disposições Gerais. Artigo 112, § 3°.
24

A tipificação é ato anterior no que diz respeito à ilicitude da conduta, e


conseqüentemente, quando se faz uma análise da prática do ato infracional , não
entram no mérito as considerações no que tange a conduta da ilicitude.

De outra forma a Constituição Federal, em seu artigo 228, e o Estatuto da


Criança e do Adolescente em seu artigo 104, dizem ser penalmente inimputável o
menor de doze anos25, com a presunção de que em caráter absoluto não são
capazes de distinguir os atos ilícitos dos lícitos, se comportando de modo adequado.
Já que não são capazes de fazer tal distinção, da mesma forma também não devem
ser considerados aptos a compreender que uma conduta ilícita é recepcionada por
um tipo penal. Caso o adolescente seja considerado inapto por não poder fazer uma
distinção entre o que é certo e o que é errado, mas atuou de forma ilícita, mesmo
que subjetivamente, é recomendada que seja aplicado a ele a medida sócio-
educativa.

Quando um adolescente tem sua conduta ligada a um ato de defesa, as


conseqüências dessa ação podem gerar um trauma nesse adolescente, podendo
ser necessário, a respeito disso, aplicar uma das medidas sócio-educativas. A
medida aplicada neste caso será a de liberdade assistida. Para que seja feita a
execução das medidas deve-se escolher um orientador, de preferência que esteja
entre os profissionais ou agentes de serviços estatais de assistência social ou
conselhos tutelares.

O orientador além de seguir as atribuições legais, também deve prestar


compromisso, que se encontra disposto no artigo 119 do Estatuto da Criança e do
Adolescente:

І - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes


orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de
auxílio e assistência social;

25
Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. Capítulo VII. Da Família, da Criança, do
Adolescente e do Idoso. Artigo 228.
25

ІІ - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente,


promovendo, inclusive, sua matrícula;

ІІІ - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua


inserção no mercado de trabalho;

ІV - apresentar relatório do caso.

Havendo outras iniciativas mais benéficas, tais atribuições não serão motivo
de impedimento. No momento em que o Juiz ou o membro do Conselho Tutelar
aplicar a medida, o parâmetro traçado deve ler em consideração o fortalecimento do
vínculo familiar e comunitário. Dessa forma a medida a ser aplicada deve, no que for
mais benéfico, manter, por exemplo, a criança ou adolescente junto a sua família26.

A medida de internação cuja aplicação se aplica pela excepcionalidade e


brevidade, como disposto no artigo 227, inc. v, da CF/88, o que também se lê no
artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente. A medida de internação
comporta hipóteses legais de aplicação, quais sejam as previstas no artigo 112 do
mencionado estatuto. Conforme previsto no artigo 122 do estatuto.

A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

І – tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a


pessoa;

ІІ - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

ІІІ – por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente


imposta.

26
VALTER, Keniji Ishida, Estatuto da Criança e do Adolescente. Doutrina e Jurisprudência. 9ª ed. p. 151. São
Paulo. Editora Atlas. Ano 2008.
26

Como pode ser observada, tal medida só podem ser aplicadas nos casos
mais graves. Deve-se levar em consideração, como já foi mencionado, a simples
ameaça e a violência considerada leve contra a pessoa não encontram abrigo no
inciso І. Já no inciso ІІ, deve-se observar que não basta que se cometa infrações
várias vezes. Não se pode tirar do inciso ІІІ a lição de que ao se descumprir uma
medida observada como branda, realizada por ato de pouca gravidade, ao final,
termine na internação.

A medida sócio-educativa de internação é de fato a continuação do sistema


penal juvenil que só deve ser utilizada nos casos mais graves, entre os quais
encontramos o homicídio, a extorsão mediante seqüestro, o roubo, o latrocínio, entre
outros. Ela consiste na privação da liberdade que se sujeita aos princípios de
brevidade, como dispõe o Estatuto27.

A sociedade não pode continuar a disposição dos delitos cada vez mais
graves e violentos de adolescentes extremamente frios. Porém, a medida de
internação não é uma forma cruel de punir os infratores que se encontram em pleno
desenvolvimento psicológico e social.

Na verdade a medida pode ser considerada leve, uma vez que possui prazo
máximo de três anos, podendo sofrer progressão ou até mesmo ser revogada a
qualquer tempo, desde que os relatórios apresentados pelo centro de internação
tenham parecer favorável para que ocorra a reinserção do menor na sociedade e na
família.

A internação é a ultima medida a ser aplicada, somente é usada em casos


extremos, onde os infratores demonstram perigo concreto à sociedade, ou são
delinqüentes reincidentes. Pelo simples fato de se tratar de menores, não podemos
esquecer que são criminosos e apresenta perigo real a sociedade.

27
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 121, caput, da Lei 8069 de 13 de julho de 1990.
27

A ressocialização é o objetivo da medida, repelindo totalmente qualquer forma


de punição, observados os critérios de idade e gravidade da infração o adolescente
será encaminhado para cumprir- lá em local exclusivo.

Entretanto, um ato que é usado como forma de defesa podem causar


conseqüências que geram traumas nos adolescentes, por esse motivo pode ser
necessário se fazer uso da aplicação de uma das medidas descritas no artigo 101
do ECA., a título de medidas sócio-educativas.

As medidas de proteção descritas pelo Estatuto, mencionado no artigo 98 do


Estatuto, possui uma nomenclatura no mínimo duvidosa no que diz respeito à
natureza das “medidas de proteção”.

Isso ocorre porque não podemos observar na prática a aplicação dessas


medidas que tem sua especificidade descrita no artigo 101 do ECA, quais sejam:

І- encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de


responsabilidade;

ІІ- orientação, apoio e acompanhamento temporários;

ІІІ- matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;
ІV- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, a criança
e ao adolescente;

V- requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;
28

VІ- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VІІ- abrigo em entidade;

VІІІ- colocação em família substituta.

A aplicação das medidas mencionadas no referido artigo é vista como


imprópria, diferentes das descritas no artigo 112 do ECA que são específicas e
próprias, porém podem ser feitas de forma cumulativa e combinada, sendo que para
cada caso não existe um número máximo de medidas a serem aplicadas.

Muitos pensam que a medida sócio-educativa é condicionada a maior idade


civil, o que não é verdade, uma vez que essa tese surgiu com o novo Código Civil
em seu artigo 5° que estabelece que a menor idade cessa aos 18 anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil28.

Então é importante fazer uma diferenciação entre a idade em que a infração


foi cometida e a idade em que as medidas devem ser aplicadas. A aplicação da
medida sócio-educativa somente existe para ato infracional cometidos por pessoa de
12 a 18 anos de idade, já que a partir dos 18 anos, existe o crime e a contravenção,
que estão sujeitos à disciplina penal.

A aplicação das medidas sócio-educativas podem ser estendida até aos 21


anos de idade29. O fato é que o estatuto não tem sua aplicação estabelecida pela

28
Código Civil, 2007. 13ª edição. Artigo 5° da Legislação.
29

“O fato de o menor infrator ter atingido a imputabilidade penal no curso da representação não impede que a ele
se apliquem as normas contidas no ECA (artigo 2°, parágrafo único e 104, parágrafo único), pois o que importa é
que na data do fato o jovem era inimputável”. (Apelação Cível n° 70003138815, 7ª Câmara Cível do TJRS,
Bento Gonçalves, Rel. Des. José Carlos Teixeira Giorgis. J. 06.03.2002).
29

maior idade, mas sim aos 21 anos de idade. Como pode ser observado no parágrafo
único do artigo 2° da Lei 8069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente30.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este


Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Para que uma medida seja aplicada é necessário que se faça uma verificação
para saber qual a mais adequada, entretanto pode o julgador levar em consideração
o estudo social, o qual pode ser determinado de ofício ou através de requerimento
das partes.

Todavia, a Jurisprudência se manifesta da seguinte forma acerca do assunto:

“Se o objetivo da lei é a proteção da criança e do adolescente com a


aplicação de medidas sócio-educativas tendentes a permitir a sua remissão dos
maus atos e de procedimento irregular que possa impedir seu desenvolvimento e
integração na sociedade, o que deve ser analisado é a sua conduta, sob o aspecto
da sua adequação social e da sua conformação com os hábitos e costumes
tradicionalmente aceitos. Em outras palavras, não se exige que o menor tenha
praticado um crime para, só então, aplicar-lhe medida sócio-educativa. Se assim for,
a medida perderá esse caráter de proteção social e educativa, para transmudar-se
em verdadeira pena31”.

O Ministério Público poderá tomar quatro medidas diferentes, as quais:

a) Solicitar o arquivamento do feito à autoridade judiciária;

30

Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8069 de 13 de julho de 1990.


31
Tribunal de Justiça de São Paulo. C. Esp. Ap. 24.0020-0 – Relator: Yussef Cahali – j. 23.03.95.
30

b) Conceder remissão;

c) Representar ou

d) Solicitar diligências à autoridade policial.

Porém antes de optar por tomar qualquer das medidas acima descrita, deverá
o Ministério Público ouvir o adolescente, seus pais ou seu responsável, já que esse
é um direito do adolescente que se encontra estabelecido no artigo 108, inciso V, do
Estatuto da Criança e do Adolescente.

Então, podemos chegar à conclusão, que o aumento do tempo de internação,


a redução da imputabilidade e o rigor das punições, por muitas vezes extremamente
excessivas, na verdade, não contribuem para a recuperação desses jovens. Para
que haja uma diminuição na delinqüência juvenil, é preciso que se tenha um
tratamento adequado com a prevenção, visando sempre como principal objetivo
reintegrar esses jovens para o convívio em sociedade, sem que sofram qualquer
tipo de preconceito ou discriminação, que possam fazer com que esses jovens por
conseqüência do tratamento dado a eles, voltem a delinqüir.

3. Da Dinâmica de Aplicação das Medidas Sócio-educativas

Pode chegar ao conhecimento da autoridade à prática de ato infracional pelas


mesmas formas que se toma conhecimento de um crime praticado, o que ocorre
através de “notitia criminis” ou flagrante, e de ofício.

A popular queixa refere-se à primeira hipótese. A queixa é o ato pelo qual se


da conhecimento a autoridade policial do crime ou da prática do ato infracional,
31

devemos guardar tal nomenclatura tão somente a peça que inicia a ação penal
privada. Na verdade se materializa com o boletim de ocorrência, pois, refere-se à
comunicação da ocorrência.

O flagrante correspondente à segunda hipótese, ocorre da mesma forma que


no processo criminal. Sempre nasce a pergunta se é possível a flagrância à luz da
legislação especial, a resposta é sim, já que ela é um estado que liga um individuo a
um fato, seja ele crime ou ato infracional, seja o indivíduo inimputável ou não. O que
na verdade não existe é a prisão em flagrante. O que ocorre é que o adolescente
não esta sujeito à prisão e sim a apreensão, o que pode ocorrer de ordem judicial ou
estado de flagrância.

A terceira hipótese acontece quando é mencionada a atividade infracional em


investigação criminal, ou mesmo em outro ato infracional que esteja em apuração
que envolva a ação de imputáveis. O ato do procedimento é a instauração do relato
de investigações, na primeira e na terceira hipótese, que representa o inquérito
policial. No caso de ocorrer situação diversa, e apreensão.

A princípio, é necessário que se esclareça que haverá primazia no


encaminhamento do caso que envolver a criança e do adolescente pela repartição
policial especializada.

O alto de apreensão deve ser lavrado, a partir desse instante duas


possibilidades se apresentam. A primeira não é considerada uma infração grave e a
repercussão social não foi gerada, apresentando-se aos pais ou responsável,
independente de vontade própria ou pela informação da autoridade policial. Nesse
caso, a entrega do menor aos pais ou responsáveis deverá ser determinada pela
autoridade policial mediante compromisso de fazer a sua apresentação ao
Ministério Público imediatamente, no dia seguinte ou assim que for possível.
32

As cópias do auto de apreensão e do boletim de ocorrência, sem que haja


perda de tempo, devem ser remetidas ao órgão do Ministério Público.

No caso da segunda hipótese, os pais ou o responsável não se apresentam,


ou a infração ou ocorreu grande repercussão social. A criança ou o adolescente, no
primeiro caso deve ser encaminhada para o abrigo e no segundo caso deve ocorrer
a internação provisória.

A medida de internação provisória visa garantir a segurança pessoal do


infrator para que ele não fique exposto ao perigo, e a manutenção da ordem pública
para os casos que envolvam grande clamor e comoção social.

Se um ato individual do autor for tipificado como crime ou contravenção deve-


se verificar se realmente houve a existência da conduta delituosa, para
posteriormente aplicar a medida sócio-educativa. É necessário que se conheça o
quanto antes à conduta atípica ou alguma forma de excludente que transforme em
desnecessária a proteção do menor infrator, sendo assim não haverá motivo algum
para dar prosseguimento ao feito, dessa forma, através de um pedido fundamentado
requerer o arquivamento do mesmo.

No caso de não acontecer o arquivamento, sendo admitida a autoria da


infração, e observando as conseqüências e circunstâncias dos fatos, no que se
refere ao contexto social, a participação do agente no fato e a sua personalidade,
poderá ser concedida a ele a remissão. Ela é um instituto que faz oposição a
propositura ou o prosseguimento de processo judicial de aplicação de medida sócio-
educativa, ou o que determinará a sua extinção. Ainda poderá ser concedida em
conjunto com uma das medidas dos artigos 101 ou 112 do ECA, com exceção da
semiliberdade e internação. O Ministério Público poderá conceder a remissão ao
33

adolescente na fase pré-processual, não significa que possa aplicar a medida sócio-
educativa, já que se trata de função exclusiva do magistrado32.

A súmula 108 do STJ, estabelece que: “A aplicação de medidas sócio-


educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é da competência
exclusiva do juiz”. Existe também a seguinte decisão que envolve o assunto:

“A remissão concedida ao adolescente pelo Ministério Público, não comporta


alteração, notificação ou acolhimento em parte pelo Magistrado, nem mesmo para a
inclusão de medidas sócio-educativa mais branda, porque a legislação menorista
conferiu ao Ministério Público a titularidade da concessão da remissão. Se a
autoridade judiciária discordar da sua concessão ou modalidade, deverá proceder
na forma do artigo 181, § 2° do ECA33”.

Capítulo ІІІ

4. Os Principais Pontos do Estatuto

Quando se trata de proteger as garantias dos direitos individuais, coletivos, e


da liberdade fundamental das crianças e dos adolescentes, os avanços nos termo
de norma mesmo que políticos-constitucionais são bem significativos, porque prevê
primeiramente os instrumentos necessários para sua realização, como os Fundos da
Criança, os Conselhos de Direitos, os Conselhos Tutelares, e ainda para as
autoridades que descumprem o Estatuto da Criança e do Adolescente, seja por ação
ou por omissão, responderão uma ação civil pública de responsabilidade.

Uma grande parcela de população não conhece o ECA, como também é


desconhecido por inúmeros operadores do direito, o que na verdade se trata de um

32
Apelação Cível n° 70005488622, 7ª Câmara Cível do TJRS, Santa Cruz do Sul, Rel. Des. José Carlos Teixeira
Giorgis. J. 12.03.2003, maioria dos votos.
33
Apelação Cível n° 70003329976, 8ª Câmara Cível do TJRS, Canoas, Rel. Des. Rui Portanova. Redator p/
Acórdão Des. José Ataídes Siqueira Trindade. J. 28.02.2002.
34

fato lamentável que configura em um entrave para que ocorra as modificações


necessárias no instrumento legal, bem como suas garantias.

Entre tais mudanças podemos destacar a efetiva participação da sociedade


na recuperação de menores infratores. Podemos observar um certo distanciamento
entre a efetividade e as normas. É claro que a sociedade não será transformada
pelo simples fato de se criar uma lei ou mesmo até mesmo para garantir
determinados direitos. Para aqueles que demandam o direito, a lei é como
instrumento e uma alternativa na perspectiva de regular e superar algumas
situações conflitantes. No próprio ECA encontramos várias contradições, entre elas
uma que encontra respaldo nas medidas sócio-educativas que de encontro a noção
de pena, que não se vê na prática.

O artigo 122 do estatuto que define a internação em estabelecimento


educacional como medida sócio-educativa, que na verdade, jamais é colocada em
prática, já que no Brasil não encontramos condições concretas para que isso seja
realizado, o que resulta em medidas cada vez mais repressivas no que tange a
juventude.

A criança é vista pela doutrina como um ser que necessita de proteção


integral dotados de direitos que devem ser considerados e postos em prática.
Partindo do princípio de que os direitos das crianças foi reconhecido pela ONU, é
assegurado pela lei que sejam satisfeitas todas as necessidades das pessoas
menores de idade, envolvendo todos os seus aspectos gerais, entre os quais
podemos citar a saúde, a educação, a profissionalização, entre outros.

4.1 A Proteção Integral e seus Instrumentos

Trata-se de uma doutrina de proteção que é vista como a concepção que é


sustentadora da normativa internacional no diz respeito aos direitos da criança e do
adolescente no Brasil. O município é considerado a melhor instância para que esses
direitos sejam entendidos, com previsão inclusive de alguns instrumentos para
conduzir e definir esse tipo de política, como descrito a baixo:
35

Os Conselhos de Direitos:

Artigo 88, ІІ, da Lei 8069/90 do ECA

“Criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da


criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos
os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizações
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais34”.

A criação e organização do Conselho Municipal de Direitos é o primeiro passo


para a aplicação de uma política adequada no que diz respeito à infância.

Os Conselhos Tutelares:

O Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,


contido no artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ele está vinculado
ao poder Executivo Municipal, pois se trata de um órgão criado por Lei Municipal. O
Conselho também pode deliberar sobre as medias de proteção contidas dos incisos
І a VІІ do artigo 101 do ECA, isto porque a aplicação de tais medidas não é
exclusivamente judicial. Excluindo-se nesse caso somente a medida de colocação
do menor em família substituta.

Para que cada criança e adolescente seja atingida de fato pelos direitos , a
norma determina a criação de conselhos tutelares, que são órgãos que retiram dos
juizados da infância e da juventude às funções de assistentes sociais que envolvem
esses jovens. O Conselho Tutelar busca soluções para os casos que envolvem

34
ECA. Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 88, ІІ, da Lei 8069 de 13 julho de 1990.
36

violação dos direitos das crianças e dos adolescentes, encaminhando estes casos
para o Ministério Público, desenvolvendo trabalhos dentro da comunidade e junto
com as famílias.

O Estatuto da Criança e do Adolescente define a competência do Conselho


Tutelar, e isso é uma das formas de envolver a comunidade buscando soluções para
os seus próprios problemas, quando estes envolverem menores.

O Conselho tem como finalidade garantir, zelar e oferecer as crianças e aos


adolescentes o acesso aos direitos, uma vez que os conselheiros, em um número de
cinco, que foram eleitos pela população da comunidade, com mandato de três anos
e são legalmente credenciados, possuindo autoridade moral para que o Estatuto da
Criança e do Adolescente seja usado de acordo com os dispositivos legais.

As suas decisões estão à margem da ordem judicial, já que é um órgão


autônomo, os as deliberações são realizadas de acordo com as necessidades da
criança e do adolescente, não quer dizer que não esteja sob a fiscalização do
Conselho Municipal, da Autoridade Judiciária, do Ministério Público e entidades civis
que venham a desenvolver trabalhos nessa área.
Devera ser apresentada ao conselho tutelar a criança ou adolescente que
praticar ato infracional . Mediante termo de responsabilidade a criança ou o
adolescente será encaminhado aos seus pais ou responsáveis, sendo essa a
primeira medida a ser tomada. A permanência do menor junta da sua família é de
extrema importância, já que pressupõe que ele irá encontrar apoio e incentivo.

Entretanto, se a convivência com a família não for harmoniosa, e esta


condição é comprovada pela equipe de estudo interprofissional da justiça da infância
e da juventude, depois de verificada a condição, em laudo circunstanciado e
apreciado pelo Conselho Tutelar ou pelo Magistrado, o jovem será entregue a
entidade de assistência.

A medida que optar pela entrega do jovem a uma entidade de assistência


será realizada em caráter excepcional e de forma provisória, até que seja feita a
37

colocação desse jovem em uma família substituta, o que não será resultado de
privação da liberdade.

O acompanhamento temporário, a orientação e o apoio são procedimentos


necessários para que ocorra o reexame do caso. O artigo 101 do ECA, em seus
incisos ІІІ e ІV apóiam a inclusão do menor na escola e de sua família em
programas comunitários sustentando que o processo é uma forma de se
reestruturarem socialmente.

É previsto ainda pelo estatuto a possibilidade de se requisitar o tratamento


médico, psicológico ou psiquiátrico, seja em regime hospitalar ou ambulatorial, como
também realizar a inclusão em programa oficial de auxilio a alcoólatras e
dependentes químicos. Para que aconteça a reeducação social e a aplicação das
medidas, é necessário que se apresente o menor aos órgãos competentes para que
seja feita uma avaliação.

5. Dos Recursos

Podemos observar que existem muitas semelhanças entre o estatuto e o


processo penal e como conseqüência pode haver equívocos. Como exemplo, existe
a expressa determinação legal que determina que o Código de Processo Civil como
um parâmetro para disciplinar os recursos na legislação especial. Vale ressaltar que
estes recursos são julgados por turmas criminais.

Um outro ponto que merece destaque é que o prazo para todos os recursos é
de dez dias, nesse prazo não entra o agravo de instrumento e os embargos de
declaração.

O princípio da complementaridade não de aplica ao sistema recursal do


Estatuto da Criança e do Adolescente, onde segundo o qual podem ser oferecidas
38

as razões em momento posterior ao da interposição do recurso. Com relação a isso,


consta da emenda de julgado do TJMG:

“Recurso – Apelação – Razões Recursais – Sua Não Apresentação no Prazo


Lega – Não Conhecimento – No Processo Civil, tanto a petição de recurso, quanto
as suas razões, devem ser apresentadas no prazo recursal, sob pena de não
conhecimento. Mesmo nos feitos atinentes á Justiça da Infância e da Juventude, a
petição do recurso deve vir acompanhada das razões do inconformismo. Não
apresentadas com a petição de recurso as respectivas razões recursais, e nem
mesmo no decêndio legal (ECA, art. 198, ІІ), do recurso não se conhece. (Apelação
Cível n°1.0000.00.223.585-1/00, 4ª Câmara Cível do TJMG, Sete Lagoas, Rel. Des.
Hyparco Immes. J. 16.05.2002, decisão unânime35”.

Conclusão

Os jovens que praticam os atos infracionais, sofrem as reprimendas das


medidas sócio-educativas aplicadas para alertar o infrator sobre sua conduta anti-
social e reeducá-lo para a vida em sociedade. O jovem deixa de ser o causador da
realidade assustadora e passa a ser o responsável pela mudança dela, uma vez que
teve a oportunidade de se deparar com inúmeras situações que lhe foi
proporcionado à cidadania, assim o objetivo a que se destina a medida estará sendo
alcançado.
As crianças e adolescentes que não participam da possibilidade de
restauração, não fazem de projetos, não tem oportunidades e ficam expostos a
realidade da prática de crimes, que nos dias atuais são considerados verdadeiras
“faculdades”, não conseguem se recuperar. Sua volta para o convívio em família e a

35
Recurso de Apelação N° 1.0000.00.223.585.-1/00, Câmara Cível do TJMG, Sete Lagoas, Rel. Des. Hyparco
Immes. J. 16.05.2002, decisão unânime.
39

vida em sociedade é muito mais difícil, pois ele volta muito pior, cometendo cada vez
mais atos de violência e totalmente anti-social.
A sociedade observa o jovem infrator de forma evidente, em virtude disso,
critica suas ações inconseqüentes. Não podemos negar que grande parte desses
jovens são de fato aprendizes de marginais perigosos, com a indiscutível tendência
voltada para o crime, porém uma parte considerável deles, sofrem com o descaso,
abandono social que tem o seu início na família, que por muitas vezes é constituída
por pais inconseqüentes, irresponsáveis, que fazem uso de drogas e álcool, estão
desempregados, incapazes de oferecer o mínimo de condições básicas para a
criação e educação de seus filhos.
As famílias brasileiras não encontram nenhum tipo de apoio básico das
políticas sociais que envolvem a saúde, educação, segurança, e em conseqüência
disso as crianças e os adolescentes acabam tendo que se deparar com essa dura
realidade desde de pequenos, sentindo-se desprotegidos e sofrendo com essa
desigualdade. Esses jovens são totalmente desprovidos de sonhos, já que estão
acostumados a conviver com “nada”, passando a viver nas ruas com todo tipo de de
situação e acabando por se envolver com pessoas mais velhas que acaba iniciando
essas crianças e adolescente no mundo do crime.

Vale ressaltar ainda que o diploma menorista contemplou o procedimento


para apuração das infrações administrativas nos artigos 194 a 197, da Lei n°
8.069/90. Os legitimados para a causa foram o Ministério Público, o Conselho
Tutelar ou qualquer serventuário efetivo ou voluntário credenciado pelo respectivo
Juízo da Infância e Juventude, como dispõe o artigo 194, caput, do ECA. Para a
movimentação do Poder Judiciário, os legitimados para a causa deverão interpor a
denominada representação, ou instaurá-lo via do auto de infração lavrado por quem
de Direito como disposto no artigo 194, §§1° e 2°, do ECA.
De toda forma, a prevenção continua sendo a melhor medida, e para que isso
aconteça é necessário à participação efetiva do Estado para que sejam garantidos
os direitos constitucionais que devem partir das políticas assistencialistas para que
haja o desenvolvimento de toda a sociedade.
Mesmo diante de tantas dificuldades para aplicar as medidas, não existe até o
momento qualquer reforma do ECA, hoje existe apenas um projeto de lei proposto
40

pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia, instalada pelo Senado para


ampliar os tipos de situações consideradas criminosas e a pena para quem comete
crime de pedofilia na Internet. Tais situações eram previstas, como simples
armazenamento de fotos.
O ECA é uma grande arma de defesa dos direitos desses jovens, um modelo
de legislação que é seguido por alguns países, que para ter a sua eficácia
comprovada, deve ser amplamente divulgado e colocado como matéria obrigatória
nas escolas, para que desde cedo as crianças e os adolescentes tomem
conhecimento dos seus direitos, e ainda deveria receber a importância que merece
no meio acadêmico, deixando de ser uma matéria optativa.
A criança bem tratada, que tenha condições dignas de vida, pode se tornar
um adulto melhor, e isso é dever do Estado, da sociedade e da família.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL E SILVA, Antônio Fernando do. Estatuto da Criança e do Adolescente


Comentado. 5. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2002.

D’AGOSTINI, Sandra Mári Córdova. Adolescente em Conflito com a Lei e a


Realidade. PR. Ed. Juruá, 2003.

FRANCO, Alberto Silva. Leis Penais Especiais e sua Interpretação


Jurisprudencial, 6a. ed. pág. 406.

FUNDAÇÃO CASA, Governo do Estado de São Paulo, setembro. 2006. Disponível


em <http://www.casa.sp.gov.br/site/paraleitura.php?cod=452> Acesso em: 01 abril,
2008.
41

GOMIDE, Paula Inez Cunha. Menor Infrator: A Caminho de um Novo Tempo. PR.
2. ed. Juruá, 1998.

ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e


Jurisprudência. 9ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

LEI 8069/1990. ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente

LIBERAT, Wilson Donizete. Comentários ao Estatuto da Criança e do


Adolescente. 5. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2000.

MEIRA, Silvio A. A Lei das XII Tábuas – Fonte do Direito Público e Privado. ed. 3.
Rio de Janeiro: ed. Forense.

O POVO na TV. Crime: Aumenta o Número de Menores Bandidos. Revista Veja.


Rio de Janeiro. 16, agosto, 2000. Edição 1.662.

ORDEM dos ADVOGADOS do BRASIL - Secção de São Paulo. Disponível em:


<http://www.oabsp.org.br/noticias/2006/11/16/3931/> Acesso em: 01 abril, 2008.

PASCUIM, Luiz Eduardo. Menor Idade Penal. PR. Ed. Juruá, 2007

PAULA, Paulo Afonso Ganido de. Menores, Direito e Justiças: Apontamento para
um Novo Direito das Crianças e Adolescentes. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais.

PRATES, Flavio Cruz Marina. Adolescente Infrator. PR. 1°ed. Ed. Juruá, 2001.

PRATES, Flávio Cruz. Adolescente Infrator. A Prestação de Serviços à


Comunidade. PR. 1°ed. Ed. Juruá, 2002.

REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2001.


42

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – Parte Geral. v. I. 34ª ed. São Paulo: Saraiva,
2007.

You might also like