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sYlViA pLaTh
*****
NÃO
autorizada
rascunhos& manuscritos
TRADUCIÓNS
álbum de fotos*
*****
*****
*(encontrados
num lixão de
Cachambi,rj)
*****
2006
2
não autorizada
vítimas
(in)versões
& leituras
& tropeços
& lusitanismos
&tc
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40 GRAUS DE FEBRE
Pura? Que vem a ser isso?
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices
Línguas do apático, gordo Cérbero
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente
O febril tendão, o pecado, o pecado.
Crepita a chama.
O indelével aroma
De espevitada vela!
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo
Que uma das bandas venha a prender‐se na roda.
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto
Mas rolará em redor do globo
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil
E delicado bebê no seu berço,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,
Diabólico leopardo!
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.
Engordurar os corpos dos adúlteros
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê‐los.
O pecado. O pecado.
Querido, a noite inteira
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.
Três dias. Três noites.
água de limão, canja
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Aguada, enjoa‐me.
Sou por demais pura para ti ou para alguém.
Teu corpo
Magoa‐me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna –
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.
Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.
Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto –
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,
De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele
Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver‐me, anágua de puta velha) –
Ao Paraíso.
PAPOULAS DE JULHO
Papoulas pequeninas, pequeninas chamas do inferno,
Vocês não fazem nada de mal?
Bruxuleiam. Não posso pegá‐las.
Ponho as mãos entre as chamas. Sem queimar.
E me exaure olhá‐las
Bruxuleando, vermelho vivo e rugoso como mucosa de uma boca.
Uma boca em hemorragia.
Babados hemorrágicos!
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Há fumaças impalpáveis para mim.
Onde os teus narcóticos, tuas nauseantes cápsulas?
Ai se eu sangrasse ou dormisse! –
Se minha boca desposasse uma ferida assim!
Ou seus extratos levitassem a mim nessa cápsula de vidro,
Entorpecendo e aquietando.
Mas sem cor. Sem cor.
(20/7/1962)
PAPOULAS DE JULHO
Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno,
Então não fazem mal?
Vocês vibram. É impossível tocá‐las.
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima.
E me fatiga ficar a olhá‐las
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca.
Uma boca sangrando.
Pequenas franjas sangrentas!
Há vapores que não posso tocar.
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas?
Se eu pudesse sangrar, ou dormir!
Se minha boca pudesse unir‐se a tal ferida!
Ou que seus licores filtrem‐se em mim, nessa cápsula de vidro,
Entorpecendo e apaziguando.
Mas sem cor. Sem cor alguma.
OVELHA NA CERRAÇÃO
Os morros desaparecem na brancura.
Pessoas ou estrelas
Tristes me olham, desapontadas comigo.
O trem deixa uma linha de sopros.
O lento
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Cavalo cor de ferrugem.
Cascos, dolorosos guizos –
Toda manhã a
Manhã esteve escura,
Uma flor esquecida.
Meus ossos gozam de uma calma, os campos
Longe derretem meu coração.
Tudo ameaça
deixar‐me ir por um céu
sem estrelas e órfão, uma água espessa.
OVELHA NA NÉVOA
Os morros derrapam em brancura.
Gente ou estrelas
Me encaram com tristeza, eu as desaponto.
O trem deixa uma linha de alento.
Ó lento
Cavalo ferrugento.
Cascos, sinos dolentes –
A manhã inteira a
Manhã enegrecendo,
Restou uma flor.
Meus ossos se aquietam, os campos
Distantes fundem meu coração.
Eles ameaçam
Deixar que eu passe para um céu
Sem astro, sem pai, um charco.
(2/7/1962 a 28/1/1963)
A CHEGADA DA CAIXA DE ABELHAS
Encomendei esta caixa de madeira
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é o ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa.
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Está trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída.
Espio pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.
Como deixá‐las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!
Escuto esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá‐los, sou a dona.
Me pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cereja.
Poderiam imediatamente ignorar‐me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá‐los.
A caixa é apenas temporária.
PALAVRAS
Golpes
De machado que fazem soar a madeira,
e os ecos!
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Ecos partem
Do centro como cavalos.
A seiva
Jorra como lágrimas, como a
água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido por ervas daninhas.
Anos depois as encontro
Na estrada –
Palavras secas e sem rumo,
Infatigável bater de cascos.
Enquanto
Do fundo do poço estrelas fixas
Governam uma vida.
ARIEL
Estagnação no breu.
Então o azul mana insubstancial
Do pico e das distâncias.
Leoa dos céus,
Como nos tornamos uma,
Pino dos calcanhares e joelhos! – A ruga
Se desmancha e se apaga, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso estreitar,
Bagas de olho
Crioulo atiram anzóis
Turvos –
Bocados negros de sangue doce,
Sombras.
Alguma coisa mais
Me arrasta pelo ar –
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Coxas, cabelos
Escamas de meus calcanhares.
Branca
Godiva, eu me descasco –
Mãos mortas, privações mortas.
E agora
Me convulsiono em trigo, cintilância de mares.
O choro da criança
Derrete na parede.
E eu
Sou a flecha,
O orvalho que voa
Suicida, num só impulso
Dentro do vermelho
Olho, caldeirão da manhã.
(27/10/1962)
ARIEL
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
Leoa do Senhor
Como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco
Afunda e passa, irmão
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
De olhos negros lançam escuros
Anzóis...
Negro, doce sangue na boca,
Sombra,
Um outro vôo
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Me arrasta pelo ar...
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca
Godiva, descasco
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
O grito da criança
Escorre pela parede.
E eu
Sou a flecha,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho
Vermelho, caldeirão da manhã.
OUTONO DE RÃ
O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
COLHER AMORAS
Ninguém nas veredas e nada, nada além das amoras,
Amoras de ambos os lados, embora mais à direita
Uma aléia de amoras descendo em curva e um mar
Se alçando lá no fim. Amoras
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Grandes como o meu polegar e a silenciar como olhos
De ébano nas sebes, gordas
De sumo azul‐vermelho. O sumo esbanja entre meus dedos.
Eu não pedira esta fraternidade de sangue: – elas na certa me amam.
E se acomodam em meu jarro, achatando‐se os lados.
No alto, as gralhas negras, revoada cacofonica
– Pedaços de papel queimado girando num céu a pleno.
É delas a única voz protestando, protestando...
Acho que o mar não aparecera.
As campinas altas e verdes resplandecem como acesas por dentro.
Chego a um arbusto cheio de amoras tão maduras que o arbusto é de moscas
Pendentes, suas barrigas verde‐azuladas e os vitrais das asas numa tela chinesa.
A festa de mel das amoras alvoroçou‐as. Elas acreditam no céu.
Uma curva mais: amoras e arbustos terminam.
Tudo o que vem agora é o mar.
De entre dois morros uma súbita brisa se afunila em direção a mim
E me esbofeteia a face.
Esses montes são muito verdes e doces para quem provou sal.
Entre eles, sigo a trilha das ovelhas. Numa última curva
Alcanço a face norte dos montes, cor de laranja e rocha
E a face olha para nada, nada exceto um grande espaço
De luzes brancas metálicas; nada exceto um ruído de ferramentas sobre a prata,
Os golpes e golpes contra um metal intratável.
COLHENDO AMORAS
Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras,
amoras dos dois lados, embora mais à direita,
uma aléia de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar
algures, lá ao longe, arfando. Amoras
tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos
negros nas sebes, repletas
de um suco azul‐vermelho. Este desperdiça‐se nos meus dedos.
Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar‐me.
Comprimem‐se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados.
Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros,
pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso.
A sua voz é a única que está a protestar, a protestar.
Julgo que o mar não vai mesmo aparecer.
Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro.
Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas,
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suspendendo os seus abdomens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um
biombo chinês.
O festim de mel das bagas surpreendeu‐as; julgam‐se no paraíso.
Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam.
A única coisa que vem a seguir é o mar.
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito,
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto.
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal.
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva‐me
até à face norte das colinas, e a face é urna rocha alaranjada
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives
O PARQUE DO CASARÃO
As fontes secaram; é o fim das rosas.
Incenso de morte. Teu dia chega.
São pequenos Buda as peras gordas.
Uma névoa azul arrastando o lago.
Caminhas em plena era de peixes,
Pelos presunçosos séculos do porco –
Cabeça, dedão do pé e da mão
Assomam aos poucos da sombra. A História
Cria floreios quebrados,
Essas coroas de acanto,
E a gralha se paramenta.
Herdas a hera branca, uma asa de abelha,
Dois suicidas, os lobos de família,
Horas de vazio. Alguns astros árduos
Já amarelaram os céus.
A aranha em seu próprio fio
Atravessa o lago. Os vermes
Deixam seus tugúrios habituais.
Convergem, convergem os passarinhos
Auspiciando um difícil nascer.
(1959)
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EU SOU VERTICAL
Mas não que não quisesse ser horizontal.
Não sou árvore com minha raiz no solo
Sugando minerais e amor materno
Para, a cada março, refulgir em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
Desconhecendo que me despétalo em breve.
Comparados a mim, uma árvore é imortal
E um pendão nada alto, embora mais assombroso,
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.
À luz infinitesimal das estrelas,
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
Com elas quando estou dormindo –
Os pensamentos esmaecem.
É mais natural para mim deitar.
Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal:
E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem.
(28/3/1961)
ÚLTIMAS PALAVRAS
Não quero um simples caixão, quero um sarcófago
Com rajas de tigre e um rosto em relevo,
Redondo como a lua, para fitar o alto.
Quero estar de olhos neles quando eles chegarem
Furando a mudez de minerais e raízes.
Estou a vê‐los – caras de astros remotos, pálidas.
Agora não são nada, não são sequer bebês.
Eu os concebo sem pai nem mãe como os primeiros deuses.
Certamente indagarão se fui importante.
Como fruta me cristalizo e conservo meus dias!
Meu espelho está se embaçando –
Uns poucos alentos e ele nada reflete.
As flores e as faces ficam brancas de pano.
Não creio no espírito. Foge como vapor
Em sonhos, pelo furo da boca e dos olhos. Não o detenho.
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Nem voltará um dia. É o contrário das coisas.
Elas duram, o lustrozinho íntimo delas
Ainda morno de tanto manuseio. Titilando quase.
Quando as solas dos meus pés resfriarem,
O olho azul da minha turquesa me confortará.
Deixem comigo minhas caçarolas de cobre, deixem meus potes de rouge
Florirem em volta como flores da noite de bom perfume.
Embrulhar‐me‐ão com bandagens e deporão meu coração
Aos meus pés em lindo pacote.
Eu não reconhecerei eu mesma. Tudo será turvo,
E o resplendor dessas coisinhas, mais doce que a face de Istar.
(21/10/1961)
ESPELHO
Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz –
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei‐a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
(23/10/1961)
ÁRVORE
Para Ruth Fainlight
Fui ao fundo – ela diz. Sei pela minha raiz mestra:
É o que temias.
Eu não temo: já estive lá.
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É o mar o que em mim escutas,
E seus desassossegos?
Ou a voz do nada, não era essa tua loucura?
O amor é sombra larga.
Como mentes e em seu encalço choras
Ouça: estes são os seus cascos: disparou como cavalo.
Noite afora galoparei assim, impetuosamente,
Até tua cabeça virar pedra e o travesseiro a relva,
Ecoando, ecoando.
Ou devo te mostrar o som dos venenos?
É a chuva agora, aquietando.
E este é seu fruto: metálico como arsênico.
Sofri as atrocidades dos poentes.
Escorchados à raiz
Meus filamentos rubros secam e estendem dedos de arame.
Agora me desfaço em pedaços que voam como paus.
Uma ventania dessa violência
Não suporta nada ao redor: preciso gritar.
A lua também não tem pena: me arrastaria
Cruelmente, mirrando‐me.
Sua radiância me lesa. Ou quem sabe se a captei.
Deixo que se vá. Deixo que se vá
Diminuída e chocha como se após cirurgia radical.
Como teus maus sonhos me possuem e obsedam.
Um grito mora em mim.
À noite, ele se afoita,
Procurando com suas presas algo para amar.
Essa coisa preta me aterroriza
Dormitando em mim
O dia inteiro sinto seu retorcer fofo, suas felpas, sua malignidade.
As nuvens passam e se dispersam.
São aquelas as faces do amor, aquelas pálidas irremediáveis?
Para isso é que meu coração se turba?
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Não sou capaz de outro conhecer.
O que é isto, este rosto
Tão criminoso em sua sufocação de galhos? –
A insídia de seus ácidos beija.
É o que petrifica o querer. São falhas isoladas e tardonhas
Que matam e matam e matam.
(19/4/1962)
EVENTO
Como os elementos se solidificam! –
O luar, este penhasco de giz
Em cuja fenda deitamos
Sem trocar um olhar. Ouço um pio de coruja
Vindo de seu índigo frio.
Vogais intoleráveis assaltam meu coração.
O bebê no berço branco se mexe e ofega,
Abre a boca agora, pedindo.
O rostinho talhado em madeira vermelha de dor.
Aí surgem estrelas – inextirpáveis, duras.
Um toque: arde e aflige.
Não posso ver teus olhos.
Onde a flor da maçã cristaliza a noite
Eu me perco em voltas,
Uma trilha de velhas culpas, funda e amarga.
Aqui o amor não pode chegar.
Uma negra lacuna se entreabre.
No beiço em frente
Uma alma branquinha está acenando, um verme branquinho.
Meus membros também me abandonaram.
Quem nos espedaçou?
O breu agora se funde. Mutilados nos tocamos.
(21/5/1962)
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OS MENSAGEIROS
A palavra de lesma na chapa de folha?
Minha é que não é. Não a aceite.
Ácido acético em lata lacrada?
Não o aceite. Genuíno é que não é.
Um anel de ouro com o sol dentro?
Mentiras. Mentiras e dor.
Geada numa folha, o imaculado
Caldeirão, proseando e frigindo
De si para si no topo de cada um
Dos nove Alpes negros.
Um turtuveio nos espelhos,
O mar espedaçando o seu, cinza –
Amor, amor, estação minha.
(4/11/1962)
TALIDOMIDA
Ó semi‐lua –
Semi‐cérebro, luminosidade –
Negro, mascarado de branco,
Suas escuras
Amputações se arrastam e arrepiam –
Aranhoso, nocivo.
Que luva
Que algo de couro
Protegeu
Me dessa sombra –
Os indeléveis botões,
Calombos nas omoplatas,
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Faces que
Desembocam em ser, arrancando
O lacerado
Âmnio‐sangue de ausências.
Custa‐me uma noite de marcenaria
Um espaço para esta minha prenda,
Um amor
De dois olhos úmidos e berreiro.
Baba branca
De indiferença!
Os frutos escuros rodam e caem.
O vidro se esfacela.
A imagem
Escapole e aborta como gotas de mercúrio.
(8/2/1962)
CANÇÃO DE MARIA
O cordeiro dominical frige em sua gordura.
A gordura
Sacrifica sua opacidade...
Uma janela, ouro santo.
O fogo a faz preciosa,
O mesmo fogo
Que derrete os heréticos de sebo
E despoja os judeus.
Suas grossas mortalhas flutuam
Sobre a cicatriz da Polônia e a devastada
Germânia.
Eles não morrem.
Pássaros grisalhos obsedam meu coração,
Cinza‐boca, cinza de olho.
Eles pousam. No alto
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Precipício
Que evacuou um homem no espaço
Os fornos resplendiam como céus, incandescentes.
É um coração.
Este holocausto em que me movo,
Ó filho dourado que o mundo matará e comerá.
(19/11/1962)
CRIA
Seu olho claro é a coisa mais linda que existe.
Quero enchê‐lo de cor e patinhos,
O zoológico do recém
Em cujos nomes meditas –
Anêmona de abril, flor de cacto,
Pequeno
Talo sem ruga,
Poça em que imagens
Teriam de ser grandiosas e clássicas
Não esse agitado
Retorcer de mãos, esse teto
Escuro sem estrela alguma.
(28/1/1963)
PALAVRAS
Achas
Após seus baques a madeira range,
Ecoando!
Ecos em viagem
Fora do centro como águas.
A seiva
Brota como lágrimas, como
água na refrega
Para repor seu espelho
Sobre a pedra
Que tomba e rola,
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Um crânio branco,
Comido por verdes daninhos.
Depois de anos eu
Com eles me deparo na estrada –
Palavras secas, à solta,
o infatigável bater de cascos,
Enquanto
Do fundo do poço, fixas estrelas
Governam uma vida.
(1/2/1963)
LINDE
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto ostenta o sorriso do consumado,
A ilusão de uma necessidade grega
Flui pelas dobras de sua toga,
Seus pés
Nus parecem dizer:
Ficamos por aqui, acabou.
Cada criança morta enrodilhada, uma serpente branca.
Uma para cada pequena
Leiteira, agora vazia.
Ela cingiu‐as
A seu corpo como pétalas
De rosa que fecha quando o jardim
Estupora e os odores sangram
Pelas fauces fundas e doces da flor da noite.
A lua não tem de quê se entristecer
Velando, embuçada em osso.
Ela não se altera mais com coisas do tipo.
Seus negrumes crepitam e arrastam.
(5/2/1963)
21
ACHAVA QUE NÃO PODIA SER MAGOADA
Achava que não podia ser magoada;
achava que com certeza era
imune ao sofrimento –
imune às dores do espírito
ou à agonia.
Meu mundo tinha o calor do sol de abril
Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.
Minha alma em êxtase, ainda assim
conheceu a dor suave e aguda que só o prazer
pode conter.
Minha alma planava sobre as gaivotas
que, ofegantes, tão alto se lançando,
lá no topo pareciam roçar suas asas
farfalhantes no teto azul
do céu.
(Como é frágil o coração humano –
um latejar, um frêmito –
um frágil, luzente instrumento
de cristal que chora
ou canta.)
Então de súbito meu mundo escureceu
E as trevas encobriram minha alegria.
Restou uma ausência triste e doída
Onde mãos sem cuidado tocaram
e destruíram
minha teia prateada de felicidade.
As mãos estacaram, atônitas.
Mãos que me amavam, choraram ao ver
os destroços do meu firma‐
mento.
(Como é frágil o coração humano –
espelhado poço de pensamentos.
Tão profundo e trêmulo instrumento
de vidro, que canta
ou chora.)
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BONDADE
A Bondade baila em meu lar.
Dona Bondade, quanta beleza!
As pedras azul‐escarlates de seus anéis
Espargem‐se nas janelas, os espelhos
Transbordam de alegria.
O que é mais puro que o choro de um filho?
O choro de um coelho pode ter mais ardor
Mas ele não tem alma.
O açúcar cura tudo, diz a Bondade.
Açúcar um fluido necessário,
Seus cristais um pequeno cataplasma.
Ó Bondade, bondade
Colando os cacos com doçura!
Minhas sedas japonesas, desesperadas borboletas,
Alfinetadas a qualquer minuto, anestesiadas.
E lá vem você, com uma xícara de chá
Envolta em fumaça.
O fluxo sanguíneo é poesia,
Impossível estancá‐lo.
Você me confia dois filhos, duas flores.
PARALÍTICO
Acontece. Será que continua? –
Minha mente uma pedra,
Sem dedos para segurar, sem língua,
Meu deus o pulmão de aço
Que me ama, bombeia
Dois sacos de poeira
Para dentro e para fora
Não vai
Me deixar piorar enquanto
Lá fora o dia desliza, eterno tique‐taque.
A noite traz violetas,
Tapetes de olhos,
23
Luzes,
Vozes de veludo
Anônimas: – Tudo bem?
O peito duro, inatingível.
Ovo choco, deitado
Todo
Em todo um mundo que não posso tocar
No branco e tenso
Tambor do meu leito
Fotos vêm me visitar –
Minha mulher, morta e imóvel, estola anos 20
A boca repleta de pérolas
Duas meninas
Imóveis como ela, sussurram: – Somos suas filhas
lágrimas tranqüilas
Encobrem meus lábios,
Olhos, nariz e Ouvidos,
Celofane claro
Que não posso quebrar
Em minhas costas nuas.
Sorrio, um Buda, todas
As necessidades, desejos
Caem em mim como anéis
Abraçando suas luzes.
A garra
Da magnólia
Por seu próprio aroma entorpecida
Não pede nada da vida.
METÁFORAS
Sou um enigma em nove sílabas,
Um elefante, casa pesada,
Um melão solto sobre dois brotos.
oh fruta rubra, marfim, bons troncos!
Esse pão que cresce fermentando.
Dinheiro novo na bolsa cheia.
Eu sou meio, palco, vaca prenha.
Comi um saco de maçãs verdes,
Tomei o trem do qual não se desce.
24
O ENFORCADO
Pelas raízes do meu cabelo algum deus se apoderou de mim.
Fervi em seus volts azuis como um profeta do deserto.
As noites caíram longe dos olhos como uma pálpebra de lagarto:
Um mundo de simples dias brancos numa órbita sem sombras.
APREENSÕES
Existe este muro branco, acima do qual o céu se faz –
Infinito, verde, todo intocável.
Anjos nadam ali, a as estrelas, em indiferença também.
Eles são meu meio. O sol se esvai neste muro, sangrando suas luzes.
Um muro cinza agora, arranhado a sangrento.
Não há como escapar da mente?
Passos atrás de mim espiralam poço adentro.
Não há árvores nem aces neste mundo,
Só existe um azedume.
Este muro vermelho recua continuamente:
Um punho vermelho, abrindo a fechando,
Dois sacos de papel cinza –
É disco que eu sou feita, disco a de um terror
De rodar sob crazes a uma chuva de pietás.
Num muro negro, pássaros inidentificáveis
Giram suas cabeças a gritam.
Não se fala de imortalidade entre eles!
Frios brancos nos alcançam:
Movem‐se com pressa.
ASILO DE VELHAS
Fendidas em negro, feito besouros,
Frágeis como cerâmica antiga
Que um sopro faria em pedaços,
As velhas se arrrastam aqui
Para o sol nas rochas ou
Se escoram contra o muro
Cujas pedras guardam algum calor.
25
Agulhas tecem num ave‐adunco
Contraponto a suas vozes:
Filhos, filhas, filhas a filhos,
Distantes a frios como fotos,
Netos que ninguém conhece.
A idade gasta o melhor pano negro
Vermelho‐ferrugem ou verde como liquens.
Ao grito‐da‐conga os velhos fantasmas juntam‐se
Para enxotá‐las da relva.
De camas em fileiras como caixões
As senhoras de touca riem.
E a Morte, aquele abutre de cabeça branca.
Estaca em halls onde o pavio da vela
Encurta quando respiram.
PARA UM ÓRFÃO DE PAI
Você terá clareza de uma ausência, agora,
Crescendo ao seu lado, como uma árvore,
Uma árvore da morte, sem cor, um eucalipto australiano
Desfolhado, castrado pelo relâmpago – uma ilusão,
E um céu como um traseiro de porco, uma total falta de atenção.
Mas justo agora você está mudo,
E amo sua ignorância,
O seu espelho cego. Olho
E não vejo rosto senão o meu, e você acha engraçado.
É bom para mim
Fazer você puxar meu nariz, um degrau de escada.
Um dia você pode tocar o que é errado
Os crânios pequenos, as colinas azuis assoladas, o divinorrível silêncio.
Até então seus sorrisos são dinheiro achado.
CONTUSÃO
A cor invade o lugar, púrpura baça.
O resto do corpo está todo pálido,
Cor de pérola.
Numa fenda de rocha
O mar suga obsessivamente,
Uma cavidade o âmago de todo o mar.
26
Do tamanho de uma mosca,
A marca do destino
Rasteja muro abaixo.
O coração se fecha.
O mar reflui,
Os espelhos são cobertos.
A LUA E O TEIXO
Esta é a luz da razão, fria e planetária.
As árvores da razão são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam as suas mágoas nos meus pés como se eu fosse Deus,
Picando os meus tornozelos e murmurando a sua humildade.
Esfumadas, inebriantes neblinas habitam este lugar
Separado da minha casa por uma fieira de lápides.
Só não consigo ver para onde se vai.
A lua não é nenhuma porta. É um rosto em seu pleno direito,
Branco como os nós dos dedos e terrivelmente transtornado.
Arrasta o mar atrás de si como um delito obscuro; silenciosa
Com a boca em O num esgar de total desespero. Vivo aqui.
Duas vezes aos domingos, os sinos assustam o céu –
Oito línguas enormes a afirmar a Ressurreição.
No final, fazem soar os seus nomes sobriamente.
O teixo aponta para o alto. Tem forma gótica.
Os olhos seguem‐no e encontram a lua.
A lua é a minha mãe. Ela não é doce como Maria.
As suas roupas azuis libertam pequenos morcegos e corujas.
Como eu gostaria de acreditar na ternura –
O rosto da efígie, dulcificado pelas velas,
A desviar para mim, em particular, os seus olhos ternos.
Caí muito longe. As nuvens a florescer
Azuis e místicas sobre a face das estrelas.
Dentro da igreja, os santos vão ficar todos azuis,
A pairar com seus pés delicados sobre os bancos frios,
De mãos e rostos rígidos pela santidade.
A lua não vê nada disto. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é a escuridão – escuridão e silêncio.
27
EDGE
The woman is perfected.
Her dead
Body wears the smile of accomplishment,
The illusion of a Greek necessity
Flows in the scrolls of her toga,
Her bare
Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
One at each little
Pitcher of milk, now empty.
She has folded
Them back into her body as petals
Of a rose close when the garden
Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.
The moon has nothing to be sad about,
Staring from her hood of bone.
She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
LIMITE
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés
28
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu‐as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.
MAD GIRLʹS LOVE SONG
I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)
The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hellʹs fires fade:
Exit seraphim and Satanʹs men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hellʹs fires fade:
Exit seraphim and Satanʹs men:
29
I shut my eyes and all the world drops dead.
I fancied youʹd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)
I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama,
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno:
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
MIRROR
I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, just truthful ‐
The eye of a little god, four cournered.
30
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
ESPELHO
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro ‐
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
MUSHROOMS
Overnight, very
Whitely, discreetly,
Very quietly
Our toes, our noses
Take hold on the loam,
31
Acquire the air.
Nobody sees us,
Stops us, betrays us;
The small grains make room.
Soft fists insist on
Heaving the needles,
The leafy bedding,
Even the paving.
Our hammers, our rams,
Earless and eyeless,
Perfectly voiceless,
Widen the crannies,
Shoulder through holes. We
Diet on water,
On crumbs of shadow,
Bland‐mannered, asking
Little or nothing.
So many of us!
So many of us!
We are shelves, we are
Tables, we are meek,
We are edible,
Nudgers and shovers
In spite of ourselves.
Our kind multiplies:
We shall by morning
Inherit the earth.
Our footʹs in the door.
COGUMELOS
Varando a noite, com
Brandura, brancura,
Silêncio absoluto,
Do artelho aos narizes
32
Tomamos posse da argila
E do ar adquirido.
Ninguém nos avista,
Nos detém, nos agride;
Evadem‐se os grãozinhos.
Punhos suaves insistem
Em brandir agulhas,
O recheio folhudo,
Até o calçamento.
Nossos martelos, marretas,
Sem olhos e ouvidos,
De voz nem um fio
Alargam as gretas,
Ombro abrindo fendas. Nós
Vivemos a pão e água,
Migalhas de sombra,
Com modos afáveis,
Inquirindo pouco ou nada.
São tantos de nós!
São tantos de nós!
Somos estantes, somos
Mesas, somos humildes,
Somos comestíveis,
Aos trancos e arranques
Apesar de nós mesmos
Nossa espécie se expande:
Pela manhã, havemos
De herdar o planeta.
E nosso pé porta adentro.
RESOLVE
Day of mist: day of tarnish
with hands
33
unserviceable, I wait
for the milk van
the one‐eared cat
laps its gray paw
and the coal fire burns
outside, the little hedge leaves are
become quite yellow
a milk‐film blurs
the empty bottles on the windowsill
no glory descends
two water drops poise
on the arched green
stem of my neighborʹs rose bush
o bent bow of thorns
the cat unsheathes its claws
the world turns
today
today I will not
disenchant my twelve black‐gowned examiners
or bunch my fist
in the windʹs sneer.
DECISÃO
Dia nublado: dia cinzento
fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro
o gato de uma orelha
lambe a pata cinza
e ardem brasas em chamas
lá fora, vão ficando amarelinhas
34
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela
nenhuma glória provém
duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado
ó se arca de espinhos
o gato afia as garras
o mundo gira
hoje
hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.
SHEEP IN FOG
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the color of rust,
Hooves, dolorous bells ‐
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stillness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
35
OVELHA NA BRUMA
As colinas somem na brancura.
Estrelas ou pessoas
Olham‐me tristes, vexadas comigo.
O trem lega uma linha de sopros.
O tardio
Cavalo de cor enferrujada,
Cascos, dolentes guizos ‐
Toda manhã
A Manhã ficou escura.
Essa flor perdida.
Meus ossos fruem duma calma, os campos
Distantes derretem meu coração.
Ameaçam
Deixar‐me seguir pelo céu
Órfão e sem estrelas, água turva.
THE MUNICH MANNEQUINS
Perfection is terrible, it cannot have children.
Cold as snow breath, it tamps the womb
Where the yew trees blow like hydras,
The tree of life and the tree of life
Unloosing their moons, month after month, to no purpouse.
The blood flood is the flood of love,
The absolute sacrifice.
It means: no more idols but me,
Me and you.
So, in their sulfur loveliness, in their smiles
These mannequins lean tonight
In Munich, morgue between Paris and Rome,
Naked and bald in their furs,
Orange lollies on silver sticks,
36
Intolerable, without minds.
The snow drops its pieces of darkness,
Nobody’s about. In the hotels
Hands will be opening doors and setting
Down shoes for a polish of carbon
Into which broad toes will go tomorrow.
O the domesticity of these windows,
The baby lace, the green‐leaved confectionery,
The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz.
And the black phones on hooks
Glittering
Glittering and digesting
Voicelessness. The snow has no voice
OS MANNEQUINS DE MUNIQUE
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.
37
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez. A neve não tem voz.
OS MANEQUINS DE MUNIQUE
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
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Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez. A neve não tem voz.
WORDS
Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echoes!
Echoes traveling
Off from the center like horses.
The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re‐establish its mirror
Over the rock
That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens.
Years later I
Encounter them on the road‐‐‐
Words dry and riderless,
The indefatigable hoof‐taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.
39
PALAVRAS
Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
AS FONTES ESTÃO SECAS...
As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.
Moves‐te através da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História
alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.
Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
40
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia
atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.
AUGE
A mulher está perfeita.
Morto,
Seu corpo mostra um sorriso de satisfação,
A ilusão de uma necessidade grega
Flui pelas dobras de sua toga,
Nus, seus pés
Parecem nos dizer:
Fomos tão longe, é o fim.
Cada criança morta, uma serpente branca,
Em volta de cada
Vasilha de leite, agora vazia.
Ela abraçou
Todas em seu seio como pétalas
De uma rosa que se fecha quando o jardim
Se espessa e odores sangram
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna.
A lua não tem nada que estar triste,
Espiando tudo de seu capuz de osso.
Ela já está acostumada a isso.
Seu lado negro avança e draga.
41
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama,
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para
a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo
do inferno:
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)
LORELEI
Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando‐se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
42
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem‐se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
‐ a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo.
OUTONO DE RÃ
O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
43
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
VENTO QUENTE
Lamento cego no vento, dias lunares de inverno,
Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe,
Longo toque noturno.
Discreta vem a noite branca,
Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor
Da vida pedregosa,
Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição.
Profunda em sono suspira a alma angustiada,
Profundo o vento em árvores destruídas,
E a figura de lamento da mãe
Vagueia pela floresta solitária
Desse luto silente; noites
Repletas de lágrimas, de anjos de fogo.
Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança.
OVELHAS NA NÉVOA
As colinas penetram na brancura.
Homens ou estrelas
olham‐me com tristeza, desiludo‐os.
O comboio deixa um rastro do seu alento.
Oh vagaroso
cavalo da cor da ferrugem,
Cascos, dolorosos sinos...
Toda a manhã
a manhã obscureceu
uma flor abandonada.
Os meus ossos absorvem a quietude, longínquos
campos enternecem o meu coração.
44
Ameaçam
levar‐me para um céu
sem estrelas e sem pai: uma água negra.
PAPOILAS EM JULHO
Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?
Estremeceis. Não posso tocar‐vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada queima.
E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da boca.
Uma boca há pouco ensangüentada.
Pequenas orlas de sangue!
Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?
Se eu pudesse esvair‐me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!
Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de vidro,
trazendo‐me a acalmia e o silêncio.
Mas sem cor. Sem nenhuma cor.
EDGE
The woman is perfected.
Her dead
Body wears the smile of accomplishment,
The illusion of a Greek necessity
Flows in the scrolls of her toga,
Her bare
Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
45
One at each little
Pitcher of milk, now empty.
She has folded
Them back into her body as petals
Of a rose close when the garden
Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.
The moon has nothing to be sad about,
Staring from her hood of bone.
She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
LIMITE
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu‐as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
46
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.
MAD GIRLʹS LOVE SONG
I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)
The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hellʹs fires fade:
Exit seraphim and Satanʹs men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hellʹs fires fade:
Exit seraphim and Satanʹs men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I fancied youʹd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)
I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
47
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama,
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno:
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
MIRROR
I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, just truthful ‐
The eye of a little god, four cournered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
48
ESPELHO
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro ‐
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
MUSHROOMS
Overnight, very
Whitely, discreetly,
Very quietly
Our toes, our noses
Take hold on the loam,
Acquire the air.
Nobody sees us,
Stops us, betrays us;
The small grains make room.
Soft fists insist on
Heaving the needles,
The leafy bedding,
Even the paving.
Our hammers, our rams,
Earless and eyeless,
49
Perfectly voiceless,
Widen the crannies,
Shoulder through holes. We
Diet on water,
On crumbs of shadow,
Bland‐mannered, asking
Little or nothing.
So many of us!
So many of us!
We are shelves, we are
Tables, we are meek,
We are edible,
Nudgers and shovers
In spite of ourselves.
Our kind multiplies:
We shall by morning
Inherit the earth.
Our footʹs in the door.
COGUMELOS
Varando a noite, com
Brandura, brancura,
Silêncio absoluto,
Do artelho aos narizes
Tomamos posse da argila
E do ar adquirido.
Ninguém nos avista,
Nos detém, nos agride;
Evadem‐se os grãozinhos.
Punhos suaves insistem
Em brandir agulhas,
O recheio folhudo,
Até o calçamento.
Nossos martelos, marretas,
50
Sem olhos e ouvidos,
De voz nem um fio
Alargam as gretas,
Ombro abrindo fendas. Nós
Vivemos a pão e água,
Migalhas de sombra,
Com modos afáveis,
Inquirindo pouco ou nada.
São tantos de nós!
São tantos de nós!
Somos estantes, somos
Mesas, somos humildes,
Somos comestíveis,
Aos trancos e arranques
Apesar de nós mesmos
Nossa espécie se expande:
Pela manhã, havemos
De herdar o planeta.
E nosso pé porta adentro.
RESOLVE
Day of mist: day of tarnish
with hands
unserviceable, I wait
for the milk van
the one‐eared cat
laps its gray paw
and the coal fire burns
outside, the little hedge leaves are
become quite yellow
a milk‐film blurs
the empty bottles on the windowsill
51
no glory descends
two water drops poise
on the arched green
stem of my neighborʹs rose bush
o bent bow of thorns
the cat unsheathes its claws
the world turns
today
today I will not
disenchant my twelve black‐gowned examiners
or bunch my fist
in the windʹs sneer.
DECISÃO
Dia nublado: dia cinzento
fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro
o gato de uma orelha
lambe a pata cinza
e ardem brasas em chamas
lá fora, vão ficando amarelinhas
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela
nenhuma glória provém
duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado
ó se arca de espinhos
o gato afia as garras
52
o mundo gira
hoje
hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.
SHEEP IN FOG
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the color of rust,
Hooves, dolorous bells ‐
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stillness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
OVELHA NA BRUMA
As colinas somem na brancura.
Estrelas ou pessoas
Olham‐me tristes, vexadas comigo.
O trem lega uma linha de sopros.
O tardio
Cavalo de cor enferrujada,
Cascos, dolentes guizos ‐
Toda manhã
A Manhã ficou escura.
Essa flor perdida.
53
Meus ossos fruem duma calma, os campos
Distantes derretem meu coração.
Ameaçam
Deixar‐me seguir pelo céu
Órfão e sem estrelas, água turva.
THE MUNICH MANNEQUINS
Perfection is terrible, it cannot have children.
Cold as snow breath, it tamps the womb
Where the yew trees blow like hydras,
The tree of life and the tree of life
Unloosing their moons, month after month, to no purpouse.
The blood flood is the flood of love,
The absolute sacrifice.
It means: no more idols but me,
Me and you.
So, in their sulfur loveliness, in their smiles
These mannequins lean tonight
In Munich, morgue between Paris and Rome,
Naked and bald in their furs,
Orange lollies on silver sticks,
Intolerable, without minds.
The snow drops its pieces of darkness,
Nobody’s about. In the hotels
Hands will be opening doors and setting
Down shoes for a polish of carbon
Into which broad toes will go tomorrow.
O the domesticity of these windows,
The baby lace, the green‐leaved confectionery,
The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz.
And the black phones on hooks
54
Glittering
Glittering and digesting
Voicelessness. The snow has no voice
OS MANNEQUINS DE MUNIQUE
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
55
A mudez. A neve não tem voz.
OS MANEQUINS DE MUNIQUE
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos.
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero
Onde os teixos inflam como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida.
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo.
O jorro de sangue é o jorro do amor,
O sacrifício absoluto.
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu
Eu e você.
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos
Esses manequins se inclinam esta noite
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris,
Nus e carecas em seus casacos de pele,
Pirulitos de laranja com hastes de prata
Insuportáveis, sem cérebro.
A neve pinga seus pedaços de escuridão.
Ninguém por perto. Nos hotéis
Mãos vão abrir portas e deixar
Sapatos no chão para uma mão de graxa
Onde dedos largos vão entrar amanhã.
Ah, essas domésticas janelas,
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito,
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo.
E nos ganchos, os telefones pretos
Cintilando
Cintilando e digerindo
A mudez. A neve não tem voz.
56
WORDS
Axes
After whose stroke the wood rings,
And the echoes!
Echoes traveling
Off from the center like horses.
The sap
Wells like tears, like the
Water striving
To re‐establish its mirror
Over the rock
That drops and turns,
A white skull,
Eaten by weedy greens.
Years later I
Encounter them on the road‐‐‐
Words dry and riderless,
The indefatigable hoof‐taps.
While
From the bottom of the pool, fixed stars
Govern a life.
PALAVRAS
Golpes,
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
57
Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
AS FONTES ESTÃO SECAS...
As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.
Moves‐te através da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História
alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.
Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia
atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.
AUGE
A mulher está perfeita.
Morto,
Seu corpo mostra um sorriso de satisfação,
A ilusão de uma necessidade grega
58
Flui pelas dobras de sua toga,
Nus, seus pés
Parecem nos dizer:
Fomos tão longe, é o fim.
Cada criança morta, uma serpente branca,
Em volta de cada
Vasilha de leite, agora vazia.
Ela abraçou
Todas em seu seio como pétalas
De uma rosa que se fecha quando o jardim
Se espessa e odores sangram
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna.
A lua não tem nada que estar triste,
Espiando tudo de seu capuz de osso.
Ela já está acostumada a isso.
Seu lado negro avança e draga.
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama,
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para
a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo
do inferno:
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome.
59
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)
CONTUSÃO
A cor invade o lugar, púrpura baça.
O resto do corpo está todo pálido,
Cor de pérola.
Numa fenda de rocha
O mar suga obsessivamente,
Uma cavidade o âmago de todo o mar.
Do tamanho de uma mosca,
A marca do destino
Rasteja muro abaixo.
O coração se fecha.
O mar reflui,
Os espelhos são cobertos.
LORELEI
Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando‐se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
60
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem‐se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
‐ a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo.
VENTO QUENTE
Lamento cego no vento, dias lunares de inverno,
Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe,
Longo toque noturno.
Discreta vem a noite branca,
Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor
Da vida pedregosa,
Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição.
Profunda em sono suspira a alma angustiada,
61
Profundo o vento em árvores destruídas,
E a figura de lamento da mãe
Vagueia pela floresta solitária
Desse luto silente; noites
Repletas de lágrimas, de anjos de fogo.
Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança.
62
BIBLIOGRAFIA EM PORTUGUÊS
SYLVIA PLATH – POEMAS (ILUMINURAS 1991) TRAD. RODRIGO GARCIA LOPES E MAURÍCIO ARRUDA
PELA ÁGUA (CROSSING THE WATER) (PAISAGEM, S/D)
O TERNO TANTO FAZ QUANTO TANTO FEZ (THE IT DOESN’T MATTER SUIT) (ROCCO)
ZÉ SUSTO E A BÍBLIA DOS SONHOS (JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS) (PAISAGEM)
A REDOMA DE CRISTAL (THE BELL JAR) (ARTENOVA, 1971) - TRAD. MARIA LUÍZA NOGUEIRA
A REDOMA DE VIDRO (THE BELL JAR) (GLOBO, 1992) - TRAD. LYA LUFT
A CAMPANULA DE VIDRO (THE BELL JAR) (ASSÍRIO E ALVIM)
QUINGUMBO - NOVA POESIA NORTE-AMERICANA – ORG. KERRY SHAWN KEYS (ESCRITA, 1980)
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA NORTE-AMERICANA (SEL. E TRAD. JORGE WANDERLEY)
(CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 1992)
NOVOS ESTUDOS CEBRAP 15 POEMAS (CEBRAP, 1990) - TRAD. VINICIUS DANTAS
LETRAS EM TRADUZÍO – ANTOLOGIA – (PUC-RIO, 1994)
AMARGA FAMA - UMA BIOGRAFIA DE SYLVIA PLATH (ROCCO, 1992) - TRAD. LYA LUFT
BIBLIOGRAFIA EM INGLÊS
THE COLOSSUS & OTHER POEMS (1960)
ARIEL (1965)
CROSSING THE WATER (1971)
WINTER TREES (1971)
THE COLLECTED POEMS OF SYLVIA PLATH (1981)
*VENCEDOR DO PRÊMIO PULITZER*
SELECTED POEMS (1985)
EVERYMAN (1998)
ARIEL: THE RESTORED EDITION (2004)
THE BELL JAR (1963) *BY VICTORIA LUCAS*
THE BELL JAR (1967) *BY SYLVIA PLATH*
LETTERS HOME (1975)
JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS (1977)
THE JOURNALS OF SYLVIA PLATH (1982)
THE MAGIC MIRROR (1989) *PLATH'S SMITH SENIOR THESIS*
THE UNABRIDGED JOURNALS OF SYLVIA PLATH (2000)
THE BED BOOK (1976)
THE IT-DOESN'T-MATTER-SUIT (1996)
COLLECTED CHILDREN'S STORIES (UK, 2001)
MRS. CHERRY'S KITCHEN (2001)
A WINTER SHIP (1960)
THREE WOMEN, A MONOLOGUE FOR THREE VOICES (1968)
UNCOLLECTED POEMS (1965)
WREATH FOR A BRIDAL (1970)
THE SURGEON AT 2 A.M. & OTHER POEMS (1971)
CRYSTAL GAZER (1971)
FIESTA MELONS (1971)
LYONNESSE (1971)
MILLION DOLLAR MONTH (1971)
CHILD (1971)
PURSUIT (1974)
TWO POEMS (1980) TWO UNCOLLECTED POEMS (1980)
DIALOGUE OVER A OUIJA BOARD (1981)
ABOVE THE OXBOW (1985)
A DAY IN JUNE: PROSE (1981)
THE GREEN ROCK: PROSE (1982)
AMONG THE NARCISSI: BROADSIDE (1971)
O PAXARO GASEADO @ O libro de Sylvia Plath, que rescatei o venres dos andeis, está
agora enriba da miña almofada. “Ted colocou o tubo de goma do baño no mecheiro de gas
da cociña e suxeitou o outro extremo á caixa de cartón. Eu fun incapaz de mirar e choraba
e choraba. O sufrimento é tiránico. Eu sentía a urxencia desesperada de quitarmos de
enriba o paxariño enfermo, especialmente entristecida polo seu valor e o seu bo carácter.
Finalmente mirei. Ted sacárao demasiado pronto da caixa e tíñao boca arriba na man,
abrindo e pechando o pico lastimosamente e axitando as patas. Cinco minutos despois
tróuxomo, sereno, perfecto e fermoso na morte”. Erguínme, preparei o meu primeiro té do
día e, líquida na humidade de detrás das ventás, vin a Sylvia Plath abrir a chave do gas,
meter a cabeza no forno da cociña e morrer fermosa ós meus pés. Sentinme enferma.
CLUB DE POETAS SUICIDAS @ A poeta Ana Romaní ofrecerá hoxe no clube de jazz
Dado Dadá de Compostela un recital baixo o título "Catro poetas suicidas. Intervención
poética contra a levidade". O acto, que conta coa producción do Laboratorio de
Indagacións Poéticas, achegará ó público os poemas de Marina Tsvietaieva, Florbela
Espanca, Sylvia Plath e Anne Sexton, combinadas con narracións sobre os últimos intres
das súas vidas. Este espectáculo mestura así a poesía e a técnica de contacontos e naceu
dunha proposta do actor e contacontos Carlos Blanco. Seguno Romaní, esta iniciativa
pretende facer chegar a palabra "espida completamente" ó público e crear "unha sensación
de impacto, de conmoción", ó tempo que fai pensar.
NENO
MaTeRiAl
rEcIcLáVeL
ReCoRtEs & eTc.
rEcOlHiDoS
NuM lIxÃo
dE
CA CH AM BI
66
Manuscritos
& Rascunhos
Sylvia Plath
“S T I N G S”
Meu álbum de
fotos da musa
imortal e
inesquecível
apaixonada de
toda a minha
vida sem a qual
não poderia
sobreviver ao
holocausto que
foi o seu
suicídio naquele
dia fatídico de
tanto de tanto de
mil novecentos e
tanto: minha
eterna musa
sylvia plath eu
te amo e declaro
de todo o meu
coração ser
impossível viver
sem ti.
Adeus mundo
ingrato!
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
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O Fã de Sylvia Plath que ajuntou estes dispersos sou eu: Salomão Rovedo (1942), formação cultural
em São Luis (MA), residente no Rio de Janeiro.
Sou escritor e participei de vários movimentos poéticos nas décadas 60/70/80, tempos do
mimeógrafo, das bancas na Cinelândia, das manifestações em teatros, bares e espaços públicos.
Tenho textos publicados em: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo-CS, Rio de
Janeiro, 1975; Tributo (Poesia)-Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1980; 12 Poetas Alternativos
(Antologia), Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1981; Chuva Fina (Antologia),
org. Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1982; Folguedos (Poesia/Folclore),
c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed.dos AA, Rio de Janeiro, 1983; Erótica (Poesia), c/Xilogravuras
de Marcelo Soares-Ed. dos AA, Rio de Janeiro, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia)-Ed. do Autor,
Rio de Janeiro, 1987.
Alguns inéditos que estou tentando publicar em e-books: Liriana (Contos), O Breve Reinado das
Donzelas (Contos), Estrela Ambulante (Contos), O Pacto dos Meninos da Rua Bela (Contos), Ventre
das Águas (Romance), Poesia de Cordel - O Poeta é Sua Essência (Ensaios), O Cometa de Halley e
Outros Ensaios (Artigos Publicados em Jornais), (Poesia): Pobres Cantares, 20 Poemas Pornôs e 1
Canção Ejaculada, Glosas Escabrosas (Xilogravura de Marcelo Soares), Blues Azuis & Boleros
Imperfeitos, Ventre das Águas, Amaricanto, Viola Baudelaireana e Outras Violas, Templo das
Afrodites, Amor a São Luís e Ódio, Anjos Pornôs, Macunaíma (Em Cordel). Outras coisinhas que fiz:
publiquei folhetos de cordel com o pseudo de Sá de João Pessoa; editei o jornalzinho de poesia
Poe/r/ta; colaborei esparsamente em: Poema Convidado(USA), La Bicicleta(Chile),
Poetica(Uruguai), Alén(Espanha), Jaque(Espanha), Ajedrez 2000(Espanha), O Imparcial(MA), Jornal
do Dia(MA), Jornal do Povo(MA), A Toca do (Meu) Poeta (PB), Jornal de Debates(RJ), Opinião(RJ), O
Galo(RN), Jornal do País(RJ), DO Leitura(SP), Diário de Corumbá(MS) – e outras ovelhas desgarradas,
principalmente pela Internet.
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