You are on page 1of 93

L e m b r a r

sYlViA pLaTh
*****

NÃO
autorizada
rascunhos& manuscritos
TRADUCIÓNS
álbum de fotos*
*****

*****
*(encontrados
num lixão de
Cachambi,rj)
*****
2006
2

não autorizada

vítimas

(in)versões

& leituras

& tropeços

& lusitanismos

&tc
 
 
3
40 GRAUS DE FEBRE 
 
Pura? Que vem a ser isso? 
As línguas do inferno 
São baças, baças como as tríplices 
 
Línguas do apático, gordo Cérbero 
Que arqueja junto à entrada. Incapaz 
De lamber limpamente 
 
O febril tendão, o pecado, o pecado. 
Crepita a chama. 
O indelével aroma 
 
De espevitada vela! 
Amor, amor, escassa a fumaça 
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo 
 
Que uma das bandas venha a prender‐se na roda. 
A amarela e morosa fumaça 
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto 
 
Mas rolará em redor do globo 
A asfixiar o idoso e o humilde, 
O frágil 
 
E delicado bebê no seu berço, 
A lívida orquídea 
Suspensa do seu jardim suspenso no ar, 
 
Diabólico leopardo! 
A radiação faz que ela embranqueça 
E a extingue em uma hora. 
 
Engordurar os corpos dos adúlteros 
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê‐los. 
O pecado. O pecado. 
 
Querido, a noite inteira 
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva. 
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso. 
 
Três dias. Três noites. 
água de limão, canja 
4
Aguada, enjoa‐me. 
 
Sou por demais pura para ti ou para alguém. 
Teu corpo 
Magoa‐me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna – 
 
Minha cabeça uma lua 
De papel japonês, minha pele de ouro laminado 
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa. 
 
Não te assombra meu coração. E minha luz. 
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia 
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros. 
 
Creio que vou subir, 
Creio que posso ir bem alto – 
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu 
 
Sou uma virgem pura 
De acetileno 
Acompanhada de rosas, 
 
De beijos, de querubins, 
Do que venham a ser essas coisas rosadas. 
Não tu, nem ele 
 
Não ele, nem ele 
(Eu toda a dissolver‐me, anágua de puta velha) – 
Ao Paraíso. 
 
PAPOULAS DE JULHO 
 
Papoulas pequeninas, pequeninas chamas do inferno, 
Vocês não fazem nada de mal? 
 
Bruxuleiam. Não posso pegá‐las. 
Ponho as mãos entre as chamas. Sem queimar. 
 
E me exaure olhá‐las 
Bruxuleando, vermelho vivo e rugoso como mucosa de uma boca. 
 
Uma boca em hemorragia. 
Babados hemorrágicos! 
 
5
Há fumaças impalpáveis para mim. 
Onde os teus narcóticos, tuas nauseantes cápsulas? 
 
Ai se eu sangrasse ou dormisse! – 
Se minha boca desposasse uma ferida assim! 
 
Ou seus extratos levitassem a mim nessa cápsula de vidro, 
Entorpecendo e aquietando. 
 
Mas sem cor. Sem cor. 
(20/7/1962) 
 
PAPOULAS DE JULHO 
 
Ó papoulinhas, pequenas flamas do inferno, 
Então não fazem mal? 
 
Vocês vibram. É impossível tocá‐las. 
Eu ponho as mãos entre as flamas. Nada me queima. 
 
E me fatiga ficar a olhá‐las 
Assim vibrantes, enrugadas e rubras, como a pele de uma boca. 
 
Uma boca sangrando. 
Pequenas franjas sangrentas! 
 
Há vapores que não posso tocar. 
Onde estão os narcóticos, as repugnantes cápsulas? 
 
Se eu pudesse sangrar, ou dormir! 
Se minha boca pudesse unir‐se a tal ferida! 
 
Ou que seus licores filtrem‐se em mim, nessa cápsula de vidro, 
Entorpecendo e apaziguando. 
Mas sem cor. Sem cor alguma. 
 
OVELHA NA CERRAÇÃO
 
Os morros desaparecem na brancura. 
Pessoas ou estrelas 
Tristes me olham, desapontadas comigo. 
 
O trem deixa uma linha de sopros. 
O lento 
6
Cavalo cor de ferrugem. 
 
Cascos, dolorosos guizos – 
Toda manhã a 
Manhã esteve escura, 
 
Uma flor esquecida. 
Meus ossos gozam de uma calma, os campos 
Longe derretem meu coração. 
 
Tudo ameaça 
deixar‐me ir por um céu 
sem estrelas e órfão, uma água espessa. 
 
OVELHA NA NÉVOA
 
Os morros derrapam em brancura. 
Gente ou estrelas 
Me encaram com tristeza, eu as desaponto. 
 
O trem deixa uma linha de alento. 
Ó lento 
Cavalo ferrugento. 
 
Cascos, sinos dolentes – 
A manhã inteira a 
Manhã enegrecendo, 
 
Restou uma flor. 
Meus ossos se aquietam, os campos 
Distantes fundem meu coração. 
 
Eles ameaçam 
Deixar que eu passe para um céu 
Sem astro, sem pai, um charco. 
(2/7/1962 a 28/1/1963) 
 
A CHEGADA DA CAIXA DE ABELHAS 
 
Encomendei esta caixa de madeira 
Clara, exata, quase um fardo para carregar. 
Eu diria que é o ataúde de um anão ou 
De um bebê quadrado 
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa. 
7
 
Está trancada, é perigosa. 
Tenho de passar a noite com ela e 
Não consigo me afastar. 
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro. 
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída. 
 
Espio pela grade. 
Está escuro, escuro. 
Enxame de mãos africanas 
Mínimas, encolhidas para exportação, 
Negro em negro, escalando com fúria. 
 
Como deixá‐las sair? 
É o barulho que mais me apavora, 
As sílabas ininteligíveis. 
São como uma turba romana, 
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas! 
 
Escuto esse latim furioso. 
Não sou um César. 
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos. 
Podem ser devolvidos. 
Podem morrer, não preciso alimentá‐los, sou a dona. 
 
Me pergunto se têm fome. 
Me pergunto se me esqueceriam 
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore. 
Há laburnos, colunatas louras, 
Anáguas de cereja. 
 
Poderiam imediatamente ignorar‐me. 
No meu vestido lunar e véu funerário 
Não sou uma fonte de mel. 
Por que então recorrer a mim? 
Amanhã serei Deus, o generoso – vou libertá‐los. 
 
A caixa é apenas temporária. 
 
PALAVRAS 
 
Golpes 
De machado que fazem soar a madeira, 
e os ecos! 
8
Ecos partem 
Do centro como cavalos. 
 
A seiva 
Jorra como lágrimas, como a 
água lutando 
Para repor seu espelho 
Sobre a rocha 
 
Que cai e rola, 
Crânio branco 
Comido por ervas daninhas. 
Anos depois as encontro 
Na estrada – 
 
Palavras secas e sem rumo, 
Infatigável bater de cascos. 
Enquanto 
Do fundo do poço estrelas fixas 
Governam uma vida. 
 
ARIEL
 
Estagnação no breu. 
Então o azul mana insubstancial 
Do pico e das distâncias. 
 
Leoa dos céus, 
Como nos tornamos uma, 
Pino dos calcanhares e joelhos! – A ruga 
 
Se desmancha e se apaga, irmã do 
Arco castanho 
Do pescoço que não posso estreitar, 
 
Bagas de olho 
Crioulo atiram anzóis 
Turvos – 
 
Bocados negros de sangue doce, 
Sombras. 
Alguma coisa mais 
 
Me arrasta pelo ar – 
9
Coxas, cabelos 
Escamas de meus calcanhares. 
 
Branca 
Godiva, eu me descasco – 
Mãos mortas, privações mortas. 
 
E agora 
Me convulsiono em trigo, cintilância de mares. 
O choro da criança 
 
Derrete na parede. 
E eu 
Sou a flecha, 
 
O orvalho que voa 
Suicida, num só impulso 
Dentro do vermelho 
 
Olho, caldeirão da manhã. 
(27/10/1962) 
 
ARIEL
 
Estancamento no escuro 
E então o fluir azul e insubstancial 
De montanha e distância. 
 
Leoa do Senhor 
Como nos unimos 
Eixo de calcanhares e joelhos!... O sulco 
 
Afunda e passa, irmão 
Do arco tenso 
Do pescoço que não consigo dobrar. 
 
Sementes 
De olhos negros lançam escuros 
Anzóis... 
 
Negro, doce sangue na boca, 
Sombra, 
Um outro vôo 
 
10
Me arrasta pelo ar... 
Coxas, pêlos; 
Escamas e calcanhares. 
 
Branca 
Godiva, descasco 
Mãos mortas, asperezas mortas. 
 
E então 
Ondulo como trigo, um brilho de mares. 
O grito da criança 
 
Escorre pela parede. 
E eu 
Sou a flecha, 
O orvalho que voa, 
Suicida, unido com o impulso 
Dentro do olho 
 
Vermelho, caldeirão da manhã. 
 
OUTONO DE Rà
 
O verão envelhece, mãe impiedosa. 
Os insetos vão escassos, esquálidos. 
Em nossos lares palustres nós apenas 
Coaxamos e definhamos. 
 
As manhas se dissipam em sonolência. 
O sol brilha pachorrento 
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós. 
O charco nos repugna. 
 
A geada cobre até aranhas. Obviamente 
O deus da plenitude 
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia 
Lamentavelmente. 
 
COLHER AMORAS
 
Ninguém nas veredas e nada, nada além das amoras, 
Amoras de ambos os lados, embora mais à direita 
Uma aléia de amoras descendo em curva e um mar 
Se alçando lá no fim. Amoras 
11
Grandes como o meu polegar e a silenciar como olhos 
De ébano nas sebes, gordas 
De sumo azul‐vermelho. O sumo esbanja entre meus dedos. 
Eu não pedira esta fraternidade de sangue: – elas na certa me amam. 
E se acomodam em meu jarro, achatando‐se os lados. 
 
No alto, as gralhas negras, revoada cacofonica 
– Pedaços de papel queimado girando num céu a pleno. 
É delas a única voz protestando, protestando... 
Acho que o mar não aparecera. 
As campinas altas e verdes resplandecem como acesas por dentro. 
Chego a um arbusto cheio de amoras tão maduras que o arbusto é de moscas 
Pendentes, suas barrigas verde‐azuladas e os vitrais das asas numa tela chinesa. 
A festa de mel das amoras alvoroçou‐as. Elas acreditam no céu. 
Uma curva mais: amoras e arbustos terminam. 
 
Tudo o que vem agora é o mar. 
De entre dois morros uma súbita brisa se afunila em direção a mim 
E me esbofeteia a face. 
Esses montes são muito verdes e doces para quem provou sal. 
Entre eles, sigo a trilha das ovelhas. Numa última curva 
Alcanço a face norte dos montes, cor de laranja e rocha 
E a face olha para nada, nada exceto um grande espaço 
De luzes brancas metálicas; nada exceto um ruído de ferramentas sobre a prata, 
Os golpes e golpes contra um metal intratável. 
 
COLHENDO AMORAS  
  
Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras, 
amoras dos dois lados, embora mais à direita, 
uma aléia de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar 
algures, lá ao longe, arfando. Amoras 
tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos 
negros nas sebes, repletas 
de um suco azul‐vermelho. Este desperdiça‐se nos meus dedos. 
Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar‐me. 
Comprimem‐se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados. 
 
Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros, 
pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso. 
A sua voz é a única que está a protestar, a protestar. 
Julgo que o mar não vai mesmo aparecer. 
Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro. 
Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas, 
12
suspendendo os seus abdomens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um 
biombo chinês. 
O festim de mel das bagas surpreendeu‐as; julgam‐se no paraíso. 
Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam. 
 
A única coisa que vem a seguir é o mar. 
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito, 
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto. 
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal. 
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva‐me 
até à face norte das colinas, e a face é urna rocha alaranjada 
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão 
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives 
 
O PARQUE DO CASARÃO 
 
As fontes secaram; é o fim das rosas. 
Incenso de morte. Teu dia chega. 
São pequenos Buda as peras gordas. 
Uma névoa azul arrastando o lago. 
 
Caminhas em plena era de peixes, 
Pelos presunçosos séculos do porco – 
Cabeça, dedão do pé e da mão 
Assomam aos poucos da sombra. A História 
 
Cria floreios quebrados, 
Essas coroas de acanto, 
E a gralha se paramenta. 
Herdas a hera branca, uma asa de abelha, 
 
Dois suicidas, os lobos de família, 
Horas de vazio. Alguns astros árduos 
Já amarelaram os céus. 
A aranha em seu próprio fio 
 
Atravessa o lago. Os vermes 
Deixam seus tugúrios habituais. 
Convergem, convergem os passarinhos 
Auspiciando um difícil nascer. 
 
(1959) 
 
 
13
 
EU SOU VERTICAL 
 
Mas não que não quisesse ser horizontal. 
Não sou árvore com minha raiz no solo 
Sugando minerais e amor materno 
Para, a cada março, refulgir em folha, 
Nem sou a beleza de um canteiro 
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor, 
Desconhecendo que me despétalo em breve. 
Comparados a mim, uma árvore é imortal 
E um pendão nada alto, embora mais assombroso, 
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro. 
 
À luz infinitesimal das estrelas, 
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes. 
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota. 
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente 
Com elas quando estou dormindo – 
Os pensamentos esmaecem. 
É mais natural para mim deitar. 
Céu e eu então animamos a prosa, 
Hei de servir no dia em que deitar afinal: 
E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem. 
(28/3/1961) 
 
ÚLTIMAS PALAVRAS 
 
Não quero um simples caixão, quero um sarcófago 
Com rajas de tigre e um rosto em relevo, 
Redondo como a lua, para fitar o alto. 
Quero estar de olhos neles quando eles chegarem 
Furando a mudez de minerais e raízes. 
Estou a vê‐los – caras de astros remotos, pálidas. 
Agora não são nada, não são sequer bebês. 
Eu os concebo sem pai nem mãe como os primeiros deuses. 
Certamente indagarão se fui importante. 
Como fruta me cristalizo e conservo meus dias! 
Meu espelho está se embaçando – 
Uns poucos alentos e ele nada reflete. 
As flores e as faces ficam brancas de pano. 
 
Não creio no espírito. Foge como vapor 
Em sonhos, pelo furo da boca e dos olhos. Não o detenho. 
14
Nem voltará um dia. É o contrário das coisas. 
Elas duram, o lustrozinho íntimo delas 
Ainda morno de tanto manuseio. Titilando quase. 
Quando as solas dos meus pés resfriarem, 
O olho azul da minha turquesa me confortará. 
Deixem comigo minhas caçarolas de cobre, deixem meus potes de rouge 
Florirem em volta como flores da noite de bom perfume. 
Embrulhar‐me‐ão com bandagens e deporão meu coração 
Aos meus pés em lindo pacote. 
Eu não reconhecerei eu mesma. Tudo será turvo, 
E o resplendor dessas coisinhas, mais doce que a face de Istar. 
(21/10/1961) 
 
ESPELHO 
 
Sou prata e exato. Eu não prejulgo. 
O que vejo engulo de imediato 
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto. 
Não sou cruel, tão somente veraz – 
O olho de um deusinho, de quatro cantos. 
O tempo todo reflito sobre a parede em frente. 
É rosa, com manchas. Fitei‐a tanto 
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila. 
Faces e escuridão insistem em nos separar. 
 
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim, 
Buscando em domínios meus o que realmente é. 
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua. 
Vejo suas costas e as reflito fielmente. 
Ela me paga em choro e agitação de mãos. 
Sou importante para ela. Ela vai e vem. 
A cada manhã sua face reveza com a escuridão. 
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha 
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo. 
(23/10/1961) 
 
ÁRVORE 
 
Para Ruth Fainlight 
 
Fui ao fundo – ela diz. Sei pela minha raiz mestra: 
É o que temias. 
Eu não temo: já estive lá. 
 
15
É o mar o que em mim escutas, 
E seus desassossegos? 
Ou a voz do nada, não era essa tua loucura? 
 
O amor é sombra larga. 
Como mentes e em seu encalço choras 
Ouça: estes são os seus cascos: disparou como cavalo. 
 
Noite afora galoparei assim, impetuosamente, 
Até tua cabeça virar pedra e o travesseiro a relva, 
Ecoando, ecoando. 
 
Ou devo te mostrar o som dos venenos? 
É a chuva agora, aquietando. 
E este é seu fruto: metálico como arsênico. 
 
Sofri as atrocidades dos poentes. 
Escorchados à raiz 
Meus filamentos rubros secam e estendem dedos de arame. 
 
Agora me desfaço em pedaços que voam como paus. 
Uma ventania dessa violência 
Não suporta nada ao redor: preciso gritar. 
 
A lua também não tem pena: me arrastaria 
Cruelmente, mirrando‐me. 
Sua radiância me lesa. Ou quem sabe se a captei. 
 
Deixo que se vá. Deixo que se vá 
Diminuída e chocha como se após cirurgia radical. 
Como teus maus sonhos me possuem e obsedam. 
 
Um grito mora em mim. 
À noite, ele se afoita, 
Procurando com suas presas algo para amar. 
 
Essa coisa preta me aterroriza 
Dormitando em mim 
O dia inteiro sinto seu retorcer fofo, suas felpas, sua malignidade. 
 
As nuvens passam e se dispersam. 
São aquelas as faces do amor, aquelas pálidas irremediáveis? 
Para isso é que meu coração se turba? 
 
16
Não sou capaz de outro conhecer. 
O que é isto, este rosto 
Tão criminoso em sua sufocação de galhos? – 
A insídia de seus ácidos beija. 
É o que petrifica o querer. São falhas isoladas e tardonhas 
Que matam e matam e matam. 
(19/4/1962) 
 
EVENTO 
 
Como os elementos se solidificam! – 
O luar, este penhasco de giz 
Em cuja fenda deitamos 
 
Sem trocar um olhar. Ouço um pio de coruja 
Vindo de seu índigo frio. 
Vogais intoleráveis assaltam meu coração. 
 
O bebê no berço branco se mexe e ofega, 
Abre a boca agora, pedindo. 
O rostinho talhado em madeira vermelha de dor. 
 
Aí surgem estrelas – inextirpáveis, duras. 
Um toque: arde e aflige. 
Não posso ver teus olhos. 
 
Onde a flor da maçã cristaliza a noite 
Eu me perco em voltas, 
Uma trilha de velhas culpas, funda e amarga. 
 
Aqui o amor não pode chegar. 
Uma negra lacuna se entreabre. 
No beiço em frente 
 
Uma alma branquinha está acenando, um verme branquinho. 
Meus membros também me abandonaram. 
Quem nos espedaçou? 
 
O breu agora se funde. Mutilados nos tocamos. 
 
(21/5/1962) 
 
 
 
17
 
OS MENSAGEIROS 
 
A palavra de lesma na chapa de folha? 
Minha é que não é. Não a aceite. 
 
Ácido acético em lata lacrada? 
Não o aceite. Genuíno é que não é. 
 
Um anel de ouro com o sol dentro? 
Mentiras. Mentiras e dor. 
 
Geada numa folha, o imaculado 
Caldeirão, proseando e frigindo 
 
De si para si no topo de cada um 
Dos nove Alpes negros. 
 
Um turtuveio nos espelhos, 
O mar espedaçando o seu, cinza – 
 
Amor, amor, estação minha. 
(4/11/1962) 
 
TALIDOMIDA 
 
Ó semi‐lua – 
 
Semi‐cérebro, luminosidade – 
Negro, mascarado de branco, 
 
Suas escuras 
Amputações se arrastam e arrepiam – 
 
Aranhoso, nocivo. 
Que luva 
 
Que algo de couro 
Protegeu 
 
Me dessa sombra – 
Os indeléveis botões, 
 
Calombos nas omoplatas, 
18
Faces que 
 
Desembocam em ser, arrancando 
O lacerado 
 
Âmnio‐sangue de ausências. 
Custa‐me uma noite de marcenaria 
 
Um espaço para esta minha prenda, 
Um amor 
 
De dois olhos úmidos e berreiro. 
Baba branca 
 
De indiferença! 
Os frutos escuros rodam e caem. 
 
O vidro se esfacela. 
A imagem 
 
Escapole e aborta como gotas de mercúrio. 
(8/2/1962) 
 
CANÇÃO DE MARIA 
 
O cordeiro dominical frige em sua gordura. 
A gordura 
Sacrifica sua opacidade... 
 
Uma janela, ouro santo. 
O fogo a faz preciosa, 
O mesmo fogo 
 
Que derrete os heréticos de sebo 
E despoja os judeus. 
Suas grossas mortalhas flutuam 
 
Sobre a cicatriz da Polônia e a devastada 
Germânia. 
Eles não morrem. 
 
Pássaros grisalhos obsedam meu coração, 
Cinza‐boca, cinza de olho. 
Eles pousam. No alto 
19
 
Precipício 
Que evacuou um homem no espaço 
Os fornos resplendiam como céus, incandescentes. 
 
É um coração. 
Este holocausto em que me movo, 
Ó filho dourado que o mundo matará e comerá. 
(19/11/1962) 
 
CRIA 
 
Seu olho claro é a coisa mais linda que existe. 
Quero enchê‐lo de cor e patinhos, 
O zoológico do recém 
 
Em cujos nomes meditas – 
Anêmona de abril, flor de cacto, 
Pequeno 
 
Talo sem ruga, 
Poça em que imagens 
Teriam de ser grandiosas e clássicas 
 
Não esse agitado 
Retorcer de mãos, esse teto 
Escuro sem estrela alguma. 
(28/1/1963) 
 
PALAVRAS 
 
Achas 
Após seus baques a madeira range, 
Ecoando! 
Ecos em viagem 
Fora do centro como águas. 
 
A seiva 
Brota como lágrimas, como 
água na refrega 
Para repor seu espelho 
Sobre a pedra 
 
Que tomba e rola, 
20
Um crânio branco, 
Comido por verdes daninhos. 
Depois de anos eu 
Com eles me deparo na estrada – 
 
Palavras secas, à solta, 
o infatigável bater de cascos, 
Enquanto 
Do fundo do poço, fixas estrelas 
Governam uma vida. 
(1/2/1963) 
 
LINDE 
 
A mulher está perfeita. 
Seu corpo 
 
Morto ostenta o sorriso do consumado, 
A ilusão de uma necessidade grega 
 
Flui pelas dobras de sua toga, 
Seus pés 
 
Nus parecem dizer: 
Ficamos por aqui, acabou. 
 
Cada criança morta enrodilhada, uma serpente branca. 
Uma para cada pequena 
 
Leiteira, agora vazia. 
Ela cingiu‐as 
 
A seu corpo como pétalas 
De rosa que fecha quando o jardim 
 
Estupora e os odores sangram 
Pelas fauces fundas e doces da flor da noite. 
 
A lua não tem de quê se entristecer 
Velando, embuçada em osso. 
 
Ela não se altera mais com coisas do tipo. 
Seus negrumes crepitam e arrastam. 
(5/2/1963) 
21
 
ACHAVA QUE NÃO PODIA SER MAGOADA 
 
Achava que não podia ser magoada; 
achava que com certeza era 
imune ao sofrimento – 
imune às dores do espírito 
ou à agonia. 
 
Meu mundo tinha o calor do sol de abril 
Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro. 
Minha alma em êxtase, ainda assim 
conheceu a dor suave e aguda que só o prazer 
pode conter. 
 
Minha alma planava sobre as gaivotas 
que, ofegantes, tão alto se lançando, 
lá no topo pareciam roçar suas asas 
farfalhantes no teto azul 
do céu. 
 
(Como é frágil o coração humano – 
um latejar, um frêmito – 
um frágil, luzente instrumento 
de cristal que chora 
ou canta.) 
 
Então de súbito meu mundo escureceu 
E as trevas encobriram minha alegria. 
Restou uma ausência triste e doída 
Onde mãos sem cuidado tocaram 
e destruíram 
 
minha teia prateada de felicidade. 
As mãos estacaram, atônitas. 
Mãos que me amavam, choraram ao ver 
os destroços do meu firma‐ 
mento. 
 
(Como é frágil o coração humano – 
espelhado poço de pensamentos. 
Tão profundo e trêmulo instrumento 
de vidro, que canta 
ou chora.) 
22
 
BONDADE 
 
A Bondade baila em meu lar. 
Dona Bondade, quanta beleza! 
As pedras azul‐escarlates de seus anéis 
Espargem‐se nas janelas, os espelhos 
Transbordam de alegria. 
 
O que é mais puro que o choro de um filho? 
O choro de um coelho pode ter mais ardor 
Mas ele não tem alma. 
O açúcar cura tudo, diz a Bondade. 
Açúcar um fluido necessário, 
 
Seus cristais um pequeno cataplasma. 
Ó Bondade, bondade 
Colando os cacos com doçura! 
Minhas sedas japonesas, desesperadas borboletas, 
Alfinetadas a qualquer minuto, anestesiadas. 
 
E lá vem você, com uma xícara de chá 
Envolta em fumaça. 
O fluxo sanguíneo é poesia, 
Impossível estancá‐lo. 
Você me confia dois filhos, duas flores. 
 
PARALÍTICO 
 
Acontece. Será que continua? – 
Minha mente uma pedra, 
Sem dedos para segurar, sem língua, 
Meu deus o pulmão de aço 
 
Que me ama, bombeia 
Dois sacos de poeira 
Para dentro e para fora 
Não vai 
 
Me deixar piorar enquanto 
Lá fora o dia desliza, eterno tique‐taque. 
A noite traz violetas, 
Tapetes de olhos, 
 
23
Luzes, 
Vozes de veludo 
Anônimas: – Tudo bem? 
O peito duro, inatingível. 
Ovo choco, deitado 
Todo 
Em todo um mundo que não posso tocar 
No branco e tenso 
 
Tambor do meu leito 
Fotos vêm me visitar – 
Minha mulher, morta e imóvel, estola anos 20 
A boca repleta de pérolas 
 
Duas meninas 
Imóveis como ela, sussurram: – Somos suas filhas 
lágrimas tranqüilas 
Encobrem meus lábios, 
Olhos, nariz e Ouvidos, 
Celofane claro 
Que não posso quebrar 
Em minhas costas nuas. 
 
Sorrio, um Buda, todas 
As necessidades, desejos 
Caem em mim como anéis 
Abraçando suas luzes. 
 
A garra 
Da magnólia 
Por seu próprio aroma entorpecida 
Não pede nada da vida. 
 
METÁFORAS 
 
Sou um enigma em nove sílabas, 
Um elefante, casa pesada, 
Um melão solto sobre dois brotos. 
oh fruta rubra, marfim, bons troncos! 
Esse pão que cresce fermentando. 
Dinheiro novo na bolsa cheia. 
Eu sou meio, palco, vaca prenha. 
Comi um saco de maçãs verdes, 
Tomei o trem do qual não se desce. 
24
 
O ENFORCADO 
 
Pelas raízes do meu cabelo algum deus se apoderou de mim. 
Fervi em seus volts azuis como um profeta do deserto. 
 
As noites caíram longe dos olhos como uma pálpebra de lagarto: 
Um mundo de simples dias brancos numa órbita sem sombras. 
 
APREENSÕES 
 
Existe este muro branco, acima do qual o céu se faz – 
Infinito, verde, todo intocável. 
Anjos nadam ali, a as estrelas, em indiferença também. 
Eles são meu meio. O sol se esvai neste muro, sangrando suas luzes. 
 
Um muro cinza agora, arranhado a sangrento. 
Não há como escapar da mente? 
Passos atrás de mim espiralam poço adentro. 
Não há árvores nem aces neste mundo, 
Só existe um azedume. 
 
Este muro vermelho recua continuamente: 
Um punho vermelho, abrindo a fechando, 
Dois sacos de papel cinza – 
É disco que eu sou feita, disco a de um terror 
De rodar sob crazes a uma chuva de pietás. 
 
Num muro negro, pássaros inidentificáveis 
Giram suas cabeças a gritam. 
Não se fala de imortalidade entre eles! 
Frios brancos nos alcançam: 
Movem‐se com pressa. 
 
ASILO DE VELHAS 
 
Fendidas em negro, feito besouros, 
Frágeis como cerâmica antiga 
Que um sopro faria em pedaços, 
As velhas se arrrastam aqui 
Para o sol nas rochas ou 
Se escoram contra o muro 
Cujas pedras guardam algum calor. 
 
25
Agulhas tecem num ave‐adunco 
Contraponto a suas vozes: 
Filhos, filhas, filhas a filhos, 
Distantes a frios como fotos, 
Netos que ninguém conhece. 
A idade gasta o melhor pano negro 
Vermelho‐ferrugem ou verde como liquens. 
 
Ao grito‐da‐conga os velhos fantasmas juntam‐se 
Para enxotá‐las da relva. 
De camas em fileiras como caixões 
As senhoras de touca riem. 
E a Morte, aquele abutre de cabeça branca. 
Estaca em halls onde o pavio da vela 
Encurta quando respiram. 
 
PARA UM ÓRFÃO DE PAI 
 
Você terá clareza de uma ausência, agora, 
Crescendo ao seu lado, como uma árvore, 
Uma árvore da morte, sem cor, um eucalipto australiano 
Desfolhado, castrado pelo relâmpago – uma ilusão, 
E um céu como um traseiro de porco, uma total falta de atenção. 
 
Mas justo agora você está mudo, 
E amo sua ignorância, 
O seu espelho cego. Olho 
E não vejo rosto senão o meu, e você acha engraçado. 
É bom para mim 
 
Fazer você puxar meu nariz, um degrau de escada. 
Um dia você pode tocar o que é errado 
Os crânios pequenos, as colinas azuis assoladas, o divinorrível silêncio. 
Até então seus sorrisos são dinheiro achado. 
 
CONTUSÃO 
 
A cor invade o lugar, púrpura baça. 
O resto do corpo está todo pálido, 
Cor de pérola. 
 
Numa fenda de rocha 
O mar suga obsessivamente, 
Uma cavidade o âmago de todo o mar. 
26
 
Do tamanho de uma mosca, 
A marca do destino 
Rasteja muro abaixo. 
 
O coração se fecha. 
O mar reflui, 
Os espelhos são cobertos. 
 
A LUA E O TEIXO 
 
Esta é a luz da razão, fria e planetária. 
As árvores da razão são negras. A luz é azul. 
As ervas descarregam as suas mágoas nos meus pés como se eu fosse Deus, 
Picando os meus tornozelos e murmurando a sua humildade. 
Esfumadas, inebriantes neblinas habitam este lugar 
Separado da minha casa por uma fieira de lápides. 
Só não consigo ver para onde se vai. 
 
A lua não é nenhuma porta. É um rosto em seu pleno direito, 
Branco como os nós dos dedos e terrivelmente transtornado. 
Arrasta o mar atrás de si como um delito obscuro; silenciosa 
Com a boca em O num esgar de total desespero. Vivo aqui. 
Duas vezes aos domingos, os sinos assustam o céu – 
Oito línguas enormes a afirmar a Ressurreição. 
No final, fazem soar os seus nomes sobriamente. 
 
O teixo aponta para o alto. Tem forma gótica. 
Os olhos seguem‐no e encontram a lua. 
A lua é a minha mãe. Ela não é doce como Maria. 
As suas roupas azuis libertam pequenos morcegos e corujas. 
Como eu gostaria de acreditar na ternura – 
O rosto da efígie, dulcificado pelas velas, 
A desviar para mim, em particular, os seus olhos ternos. 
 
Caí muito longe. As nuvens a florescer 
Azuis e místicas sobre a face das estrelas. 
Dentro da igreja, os santos vão ficar todos azuis, 
A pairar com seus pés delicados sobre os bancos frios, 
De mãos e rostos rígidos pela santidade. 
A lua não vê nada disto. É calva e selvagem. 
E a mensagem do teixo é a escuridão – escuridão e silêncio. 

 
27
 

EDGE  

The woman is perfected. 
Her dead 
 
Body wears the smile of accomplishment, 
The illusion of  a Greek  necessity 
 
Flows in the scrolls of her toga, 
Her bare 
 
Feet seem to be saying: 
We have come so far, it is over. 
 
Each dead child coiled, a white serpent, 
One at each little 
 
Pitcher of milk, now empty. 
She has folded 
 
Them back into her body as petals 
Of a rose close when the garden 
 
Stiffens and odors bleed 
From the sweet, deep throats of the night flower. 
 
The moon has nothing to be sad about, 
Staring from her hood of bone. 
 
She is used to this sort of thing. 
Her blacks crackle and drag. 

LIMITE  

A mulher está perfeita. 
Seu corpo 
 
Morto enverga o sorriso de completude, 
A ilusão de necessidade 
 
Grega voga pelos veios da sua toga, 
Seus pés 
 
28
Nus parecem dizer: 
Já caminhamos tanto, acabou. 
 
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca, 
Uma para cada pequena 
 
Tigela de leite vazia. 
Ela recolheu‐as todas 
 
Em seu corpo, como pétalas 
Da rosa que se encerra, quando o jardim 
 
Enrija e aromas sangram 
Da fenda doce, funda, da flor noturna. 
 
A lua não tem porque estar triste 
Espectadora de touca 
 
De osso; ela está acostumada. 
Suas crateras trincam, fissura. 

MAD GIRLʹS LOVE SONG  

I shut my eyes and all the world drops dead;  
I lift my lids and all is born again.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
The stars go waltzing out in blue and red,  
And arbitrary blackness gallops in:  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I dreamed that you bewitched me into bed  
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
God topples from the sky, hellʹs fires fade:  
Exit seraphim and Satanʹs men:  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I dreamed that you bewitched me into bed  
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
God topples from the sky, hellʹs fires fade:  
Exit seraphim and Satanʹs men:  
29
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I fancied youʹd return the way you said,  
But I grow old and I forget your name.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
I should have loved a thunderbird instead;  
At least when spring comes they roar back again.  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
(I think I made you up inside my head.) 

CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro 
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer 
(Acho que te criei no interior da minha mente) 
 
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, 
Entra a galope a arbitrária escuridão: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. 
 
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, 
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. 
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: 
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. 
 
Imaginei que voltarias  como prometeste 
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. 
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão 
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: 
(Acho que te criei no interior de minha mente.) 

MIRROR  

I am silver and exact. I have no preconceptions. 
Whatever I see I swallow immediately 
Just as it is, unmisted by love or dislike. 
I am not cruel, just truthful ‐ 
The eye of a little god, four cournered. 
30
Most of the time I meditate on the opposite wall. 
It is pink, with speckles. I have looked at it so long 
I think it is a part of my heart. But it flickers. 
Faces and darkness separate us over and over. 
 
Now I am a lake. A woman bends over me, 
Searching my reaches for what she really is. 
Then she turns to those liars, the candles or the moon. 
I see her back, and reflect it faithfully. 
She rewards me with tears and an agitation of hands 
I am important to her. She comes and goes. 
Each morning it is her face that replaces the darkness. 
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman 
Rises toward her day after day, like a terrible fish. 

ESPELHO

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos. 
Tudo o que vejo engulo imediatamente 
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão. 
Não sou cruel, apenas  verdadeiro ‐ 
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos. 
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente. 
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo, 
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila. 
Rostos e escuridão nos separam toda hora. 
 
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim, 
Buscando na minha superfície o que ela realmente é. 
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua. 
Vejo suas costas, e as reflito fielmente. 
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos. 
Sou importante para ela. Ela vem e vai. 
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. 
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha 
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível. 

MUSHROOMS  

Overnight, very  
Whitely, discreetly,  
Very quietly  
 
Our toes, our noses  
Take hold on the loam,  
31
Acquire the air.  
 
Nobody sees us,  
Stops us, betrays us;  
The small grains make room.  
 
Soft fists insist on  
Heaving the needles,  
The leafy bedding,  
 
Even the paving.  
Our hammers, our rams,  
Earless and eyeless,  
 
Perfectly voiceless,  
Widen the crannies,  
Shoulder through holes. We  
 
Diet on water,  
On crumbs of shadow,  
Bland‐mannered, asking  
 
Little or nothing.  
So many of us!  
So many of us!  
 
We are shelves, we are  
Tables, we are meek,  
We are edible,  
 
Nudgers and shovers  
In spite of ourselves.  
Our kind multiplies:  
 
We shall by morning  
Inherit the earth.  
Our footʹs in the door. 

COGUMELOS 

Varando a noite, com 
Brandura, brancura, 
Silêncio absoluto, 
 
Do artelho aos narizes 
32
Tomamos posse da argila 
E do ar adquirido. 
 
Ninguém nos avista, 
Nos detém, nos agride; 
Evadem‐se os grãozinhos. 
 
Punhos suaves insistem 
Em brandir agulhas, 
O recheio folhudo, 
 
Até o calçamento. 
Nossos martelos, marretas, 
Sem olhos e ouvidos, 
 
De voz nem um fio 
Alargam as gretas, 
Ombro abrindo fendas. Nós 
 
Vivemos a pão e água, 
Migalhas de sombra, 
Com modos afáveis, 
 
Inquirindo pouco ou nada. 
São tantos de nós! 
São tantos de nós! 
 
Somos estantes,  somos 
Mesas, somos humildes, 
Somos comestíveis, 
 
Aos trancos e arranques 
Apesar de nós mesmos 
Nossa espécie se expande: 
 
Pela manhã, havemos 
De herdar o planeta. 
E nosso pé porta adentro. 
 
RESOLVE 
 
Day of mist: day of tarnish 
 
with hands 
33
unserviceable, I wait 
for the milk van 
 
the one‐eared cat 
laps its gray paw 
 
and the coal fire burns 
 
outside, the little hedge leaves are 
become quite yellow 
a milk‐film blurs 
the empty bottles on the windowsill 
 
no glory descends 
 
two water drops poise 
on the arched green 
stem of my neighborʹs rose bush 
 
o bent bow of thorns 
 
the cat unsheathes its claws 
the world turns 
 
today 
today I will not 
disenchant my twelve black‐gowned examiners 
or bunch my fist 
in the windʹs sneer. 
 
DECISÃO 
 
Dia nublado: dia cinzento 
 
fico 
de mãos bobas 
esperando o leiteiro 
 
o gato de uma orelha 
lambe a pata cinza 
 
e ardem brasas em chamas 
 
lá fora, vão ficando amarelinhas 
34
as folhas da trepadeira 
uma fina fita de leite 
embaça garrafas vazias na janela 
 
nenhuma glória provém 
 
duas gotas se equilibram 
numa verde envergada 
haste da roseira na casa ao lado 
 
ó se arca de espinhos 
 
o gato afia as garras 
o mundo gira 
 
hoje 
hoje não irei 
desiludir meus doze engalanados examinadores 
nem cerrarei meu punho 
na ironia do vento. 

SHEEP IN FOG  

The hills step off into whiteness. 
People or stars 
Regard me sadly, I disappoint them. 
 
The train leaves a line of breath. 
O slow 
Horse the color of rust, 
 
Hooves, dolorous bells ‐ 
All morning the 
Morning has been blackening, 
 
A flower left out. 
My bones hold a stillness, the far 
Fields melt my heart. 
 
They threaten 
To let me through to a heaven 
Starless and fatherless, a dark water. 

 
35
OVELHA NA BRUMA

As colinas somem na brancura. 
Estrelas ou pessoas 
Olham‐me tristes, vexadas comigo. 
 
O trem lega uma linha de sopros. 
O tardio 
Cavalo de cor enferrujada, 
 
Cascos, dolentes guizos ‐ 
Toda manhã 
A Manhã ficou escura. 
 
Essa flor perdida. 
Meus ossos fruem duma calma, os campos 
Distantes derretem meu coração. 
 
Ameaçam 
Deixar‐me seguir pelo céu 
Órfão e sem estrelas, água turva. 

THE MUNICH MANNEQUINS  

Perfection is terrible, it cannot have children. 
Cold as snow breath, it tamps the womb 
 
Where the yew trees blow like hydras, 
The tree of life and the tree of life 
 
Unloosing their moons, month after month, to no purpouse. 
The blood flood is the flood of love, 
 
The absolute sacrifice. 
It means: no more idols but me, 
 
Me and you. 
So, in their sulfur loveliness, in their smiles 
 
These mannequins lean tonight 
In Munich, morgue between Paris and Rome, 
 
Naked and bald in their furs, 
Orange lollies on silver sticks, 
 
36
Intolerable, without minds. 
The snow drops its pieces of darkness, 
 
Nobody’s about. In the hotels 
Hands will be opening doors and setting 
 
Down shoes for a polish of carbon 
Into which broad toes will go tomorrow. 
 
O the domesticity of these windows, 
The baby lace, the green‐leaved confectionery, 
 
The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz. 
And the black phones on hooks 
 
Glittering 
Glittering and digesting 
 
Voicelessness. The snow has no voice 

OS MANNEQUINS DE MUNIQUE 

A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. 
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero 
 
Onde os teixos inflam como hidras, 
A árvore da vida e a árvore da vida. 
 
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. 
O jorro de sangue é o jorro do amor, 
 
O sacrifício absoluto. 
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu 
 
Eu e você. 
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos 
 
Esses manequins se inclinam esta noite 
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, 
 
Nus e carecas em seus casacos de pele, 
Pirulitos de laranja com hastes de prata 
 
Insuportáveis, sem cérebro. 
A neve pinga seus pedaços de escuridão. 
37
 
Ninguém por perto. Nos hotéis 
Mãos vão abrir portas e deixar 
 
Sapatos no chão para uma mão de graxa 
Onde dedos largos vão entrar amanhã. 
Ah, essas domésticas janelas, 
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, 
 
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. 
E nos ganchos, os telefones pretos 
 
Cintilando 
Cintilando e digerindo 
 
A mudez. A neve não tem voz. 
 
OS MANEQUINS DE MUNIQUE
 
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. 
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero 

Onde os teixos inflam como hidras, 
A árvore da vida e a árvore da vida. 

Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. 
O jorro de sangue é o jorro do amor, 

O sacrifício absoluto. 
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu 

Eu e você. 
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos 

Esses manequins se inclinam esta noite 
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, 

Nus e carecas em seus casacos de pele, 
Pirulitos de laranja com hastes de prata 

Insuportáveis, sem cérebro. 
A neve pinga seus pedaços de escuridão. 

Ninguém por perto. Nos hotéis 
Mãos vão abrir portas e deixar 
38
Sapatos no chão para uma mão de graxa 
Onde dedos largos vão entrar amanhã. 

Ah, essas domésticas janelas, 
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, 

Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. 
E nos ganchos, os telefones pretos 

Cintilando 
Cintilando e digerindo 

A mudez. A neve não tem voz. 

WORDS  

Axes  
After whose stroke the wood rings,  
And the echoes!  
Echoes traveling  
Off from the center like horses.  
 
The sap  
Wells like tears, like the  
Water striving  
To re‐establish its mirror  
Over the rock  
 
That drops and turns,  
A white skull,  
Eaten by weedy greens.  
Years later I  
Encounter them on the road‐‐‐  
 
Words dry and riderless,  
The indefatigable hoof‐taps.  
While  
From the bottom of the pool, fixed stars  
Govern a life.  

 
39
PALAVRAS  

Golpes, 
De machado na madeira, 
E os ecos! 
Ecos que partem 
A galope. 
 
A seiva 
Jorra como pranto, como 
Água lutando 
Para repor seu espelho 
sobre a rocha 
 
Que cai e rola, 
Crânio branco 
Comido pelas ervas. 
Anos depois, na estrada, 
Encontro 
 
Essas palavras secas e sem rédeas, 
Bater de cascos incansável. 
Enquanto 
Do fundo do poço, estrelas fixas 
Decidem uma vida. 
 
AS FONTES ESTÃO SECAS...  

As fontes estão secas e as rosas acabaram. 
Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se. 
As pêras engordam como pequenos budas.  
Uma névoa azul prolonga o lago.  
 
Moves‐te através da era dos peixes, 
dos presumidos séculos do porco...  
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos 
saem nítidos da sombra. A História  
 
alimenta estas caneluras quebradas, 
estas coroas de acantos,  
e o corvo vem arranjar as suas vestes.  
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.  
 
Dois suicidas, os lobos da família, 
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas  
40
já iluminam os céus.  
A aranha na sua própria teia  
 
atravessa o lago. Os vermes 
abandonam as suas casas habituais.  
As pequenas aves convergem, convergem  
com as suas dádivas para um difícil nascimento.  

AUGE  

A mulher está perfeita. 
Morto, 

Seu corpo mostra um sorriso de satisfação, 
A ilusão de uma necessidade grega 

Flui pelas dobras de sua toga, 
Nus, seus pés 

Parecem nos dizer: 
Fomos tão longe, é o fim. 

Cada criança morta, uma serpente branca, 
Em volta de cada 

Vasilha de leite, agora vazia. 
Ela abraçou 

Todas em seu seio como pétalas 
De uma rosa que se fecha quando o jardim 

Se espessa e odores sangram 
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna. 

A lua não tem nada que estar triste, 
Espiando tudo de seu capuz de osso. 

Ela já está acostumada a isso. 
Seu lado negro avança e draga. 

 
 
 
 
 
 
41
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro 
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer 
(Acho que te criei no interior da minha mente)  
 
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, 
Entra a galope a arbitrária escuridão: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.  
 
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, 
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para 
a insanidade.  
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo 
do inferno: 
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:  

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.  
Imaginei que voltarias como prometeste 
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. 
(Acho que te criei no interior de minha mente)  
 
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão 
Pelo menos, com a primavera, retornam com 
estrondo  
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: 
(Acho que te criei no interior de minha mente)  

LORELEI

Não existe nenhuma noite para nos afogarmos: 
lua cheia, um rio correndo 
negro sob um suave reflexo de espelho,  
 
névoas azuis da água gotejando 
de malha para malha como redes de pesca 
embora os pescadores durmam,  
 
torres sólidas do castelo 
multiplicando‐se num espelho 
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam  
 
em minha direção, perturbando o rosto 
42
da quietude. Do nadir 
erguem os seus membros plenos  
 
de opulência, cabelos mais pesados 
que o mármore esculpido. Cantam 
um mundo mais cheio e límpido  
 
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção 
traz uma carga demasiado pesada 
para ser escutada pelas espirais do ouvido,  
 
aqui, num país onde um sensato 
senhor governa equilibradamente. 
Ao serem perturbadas pela harmonia  
 
que existem além da ordem deste mundo, 
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas 
nos recifes em declive do pesadelo,  
 
prometendo um abrigo certo; 
de dia, estendem‐se para além dos limites 
da inércia, das saliências  
 
que existem também nas altas janelas. Pior 
ainda que esta canção de enlouquecer 
é o vosso silêncio. Na origem  
 
do apelo do vosso coração gelado 
‐ a embriaguez das grandes profundezas. 
Ó rio, como vejo serem arrastadas  
 
lá no fundo do teu curso de prata, 
aquelas grandes deusas da paz. 
Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo.  

OUTONO DE Rà 

O verão envelhece, mãe impiedosa. 
Os insetos vão escassos, esquálidos. 
Em nossos lares palustres nós apenas 
Coaxamos e definhamos. 

As manhas se dissipam em sonolência. 
O sol brilha pachorrento 
43
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós. 
O charco nos repugna. 

A geada cobre até aranhas. Obviamente 
O deus da plenitude 
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia 
Lamentavelmente. 

VENTO QUENTE  

Lamento cego no vento, dias lunares de inverno, 
Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe, 
Longo toque noturno. 
Discreta vem a noite branca, 

Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor 
Da vida pedregosa, 
Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição. 

Profunda em sono suspira a alma angustiada, 

Profundo o vento em árvores destruídas, 
E a figura de lamento da mãe 
Vagueia pela floresta solitária 

Desse luto silente; noites 
Repletas de lágrimas, de anjos de fogo. 
Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança.  

OVELHAS NA NÉVOA
  
As colinas penetram na brancura. 
Homens ou estrelas 
olham‐me com tristeza, desiludo‐os. 
 
O comboio deixa um rastro do seu alento. 
Oh vagaroso 
cavalo da cor da ferrugem, 
 
Cascos, dolorosos sinos... 
Toda a manhã 
a manhã obscureceu 
 
uma flor abandonada. 
Os meus ossos absorvem a quietude, longínquos 
campos enternecem o meu coração. 
44
 
Ameaçam 
levar‐me para um céu 
sem estrelas e sem pai: uma água negra. 
 
PAPOILAS EM JULHO
 
Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais, 
sois inofensivas? 
 
Estremeceis. Não posso tocar‐vos. 
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada queima. 
 
E fico exausta quando vos vejo 
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da boca. 
 
Uma boca há pouco ensangüentada. 
Pequenas orlas de sangue! 
 
Há nela um fumo que não consigo tocar. 
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas? 
 
Se eu pudesse esvair‐me em sangue ou dormir!... 
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida! 
 
Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de vidro, 
trazendo‐me a acalmia e o silêncio. 
 
Mas sem cor. Sem nenhuma cor. 

EDGE  

The woman is perfected. 
Her dead 
 
Body wears the smile of accomplishment, 
The illusion of  a Greek  necessity 
 
Flows in the scrolls of her toga, 
Her bare 
 
Feet seem to be saying: 
We have come so far, it is over. 
 
Each dead child coiled, a white serpent, 
45
One at each little 
 
Pitcher of milk, now empty. 
She has folded 
 
Them back into her body as petals 
Of a rose close when the garden 
 
Stiffens and odors bleed 
From the sweet, deep throats of the night flower. 
 
The moon has nothing to be sad about, 
Staring from her hood of bone. 
 
She is used to this sort of thing. 
Her blacks crackle and drag. 

LIMITE  

A mulher está perfeita. 
Seu corpo 
 
Morto enverga o sorriso de completude, 
A ilusão de necessidade 
 
Grega voga pelos veios da sua toga, 
Seus pés 
 
Nus parecem dizer: 
Já caminhamos tanto, acabou. 
 
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca, 
Uma para cada pequena 
 
Tigela de leite vazia. 
Ela recolheu‐as todas 
 
Em seu corpo, como pétalas 
Da rosa que se encerra, quando o jardim 
 
Enrija e aromas sangram 
Da fenda doce, funda, da flor noturna. 
 
A lua não tem porque estar triste 
Espectadora de touca 
46
 
De osso; ela está acostumada. 
Suas crateras trincam, fissura. 

MAD GIRLʹS LOVE SONG  

I shut my eyes and all the world drops dead;  
I lift my lids and all is born again.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
The stars go waltzing out in blue and red,  
And arbitrary blackness gallops in:  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I dreamed that you bewitched me into bed  
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
God topples from the sky, hellʹs fires fade:  
Exit seraphim and Satanʹs men:  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I dreamed that you bewitched me into bed  
And sung me moon‐struck, kissed me quite insane.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
God topples from the sky, hellʹs fires fade:  
Exit seraphim and Satanʹs men:  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
 
I fancied youʹd return the way you said,  
But I grow old and I forget your name.  
(I think I made you up inside my head.)  
 
I should have loved a thunderbird instead;  
At least when spring comes they roar back again.  
I shut my eyes and all the world drops dead.  
(I think I made you up inside my head.) 

CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA 

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro 
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer 
(Acho que te criei no interior da minha mente) 
 
47
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, 
Entra a galope a arbitrária escuridão: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. 
 
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, 
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para a insanidade. 
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo do inferno: 
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. 
 
Imaginei que voltarias  como prometeste 
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. 
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão 
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: 
(Acho que te criei no interior de minha mente.) 

MIRROR  

I am silver and exact. I have no preconceptions. 
Whatever I see I swallow immediately 
Just as it is, unmisted by love or dislike. 
I am not cruel, just truthful ‐ 
The eye of a little god, four cournered. 
Most of the time I meditate on the opposite wall. 
It is pink, with speckles. I have looked at it so long 
I think it is a part of my heart. But it flickers. 
Faces and darkness separate us over and over. 
 
Now I am a lake. A woman bends over me, 
Searching my reaches for what she really is. 
Then she turns to those liars, the candles or the moon. 
I see her back, and reflect it faithfully. 
She rewards me with tears and an agitation of hands 
I am important to her. She comes and goes. 
Each morning it is her face that replaces the darkness. 
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman 
Rises toward her day after day, like a terrible fish. 

 
48
 

ESPELHO

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos. 
Tudo o que vejo engulo imediatamente 
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão. 
Não sou cruel, apenas  verdadeiro ‐ 
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos. 
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente. 
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo, 
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila. 
Rostos e escuridão nos separam toda hora. 
 
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim, 
Buscando na minha superfície o que ela realmente é. 
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua. 
Vejo suas costas, e as reflito fielmente. 
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos. 
Sou importante para ela. Ela vem e vai. 
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão. 
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha 
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível. 

MUSHROOMS  

Overnight, very  
Whitely, discreetly,  
Very quietly  
 
Our toes, our noses  
Take hold on the loam,  
Acquire the air.  
 
Nobody sees us,  
Stops us, betrays us;  
The small grains make room.  
 
Soft fists insist on  
Heaving the needles,  
The leafy bedding,  
 
Even the paving.  
Our hammers, our rams,  
Earless and eyeless,  
49
 
Perfectly voiceless,  
Widen the crannies,  
Shoulder through holes. We  
 
Diet on water,  
On crumbs of shadow,  
Bland‐mannered, asking  
 
Little or nothing.  
So many of us!  
So many of us!  
 
We are shelves, we are  
Tables, we are meek,  
We are edible,  
 
Nudgers and shovers  
In spite of ourselves.  
Our kind multiplies:  
 
We shall by morning  
Inherit the earth.  
Our footʹs in the door. 

COGUMELOS 

Varando a noite, com 
Brandura, brancura, 
Silêncio absoluto, 
 
Do artelho aos narizes 
Tomamos posse da argila 
E do ar adquirido. 
 
Ninguém nos avista, 
Nos detém, nos agride; 
Evadem‐se os grãozinhos. 
 
Punhos suaves insistem 
Em brandir agulhas, 
O recheio folhudo, 
 
Até o calçamento. 
Nossos martelos, marretas, 
50
Sem olhos e ouvidos, 
 
De voz nem um fio 
Alargam as gretas, 
Ombro abrindo fendas. Nós 
 
Vivemos a pão e água, 
Migalhas de sombra, 
Com modos afáveis, 
 
Inquirindo pouco ou nada. 
São tantos de nós! 
São tantos de nós! 
 
Somos estantes,  somos 
Mesas, somos humildes, 
Somos comestíveis, 
 
Aos trancos e arranques 
Apesar de nós mesmos 
Nossa espécie se expande: 
 
Pela manhã, havemos 
De herdar o planeta. 
E nosso pé porta adentro. 
 
RESOLVE 
 
Day of mist: day of tarnish 
 
with hands 
unserviceable, I wait 
for the milk van 
 
the one‐eared cat 
laps its gray paw 
 
and the coal fire burns 
 
outside, the little hedge leaves are 
become quite yellow 
a milk‐film blurs 
the empty bottles on the windowsill 
 
51
no glory descends 
 
two water drops poise 
on the arched green 
stem of my neighborʹs rose bush 
 
o bent bow of thorns 
 
the cat unsheathes its claws 
the world turns 
 
today 
today I will not 
disenchant my twelve black‐gowned examiners 
or bunch my fist 
in the windʹs sneer. 
 
DECISÃO 
 
Dia nublado: dia cinzento 
 
fico 
de mãos bobas 
esperando o leiteiro 
 
o gato de uma orelha 
lambe a pata cinza 
 
e ardem brasas em chamas 
 
lá fora, vão ficando amarelinhas 
as folhas da trepadeira 
uma fina fita de leite 
embaça garrafas vazias na janela 
 
nenhuma glória provém 
 
duas gotas se equilibram 
numa verde envergada 
haste da roseira na casa ao lado 
 
ó se arca de espinhos 
 
o gato afia as garras 
52
o mundo gira 
 
hoje 
hoje não irei 
desiludir meus doze engalanados examinadores 
nem cerrarei meu punho 
na ironia do vento. 

SHEEP IN FOG  

The hills step off into whiteness. 
People or stars 
Regard me sadly, I disappoint them. 
 
The train leaves a line of breath. 
O slow 
Horse the color of rust, 
 
Hooves, dolorous bells ‐ 
All morning the 
Morning has been blackening, 
 
A flower left out. 
My bones hold a stillness, the far 
Fields melt my heart. 
 
They threaten 
To let me through to a heaven 
Starless and fatherless, a dark water. 

OVELHA NA BRUMA 

As colinas somem na brancura. 
Estrelas ou pessoas 
Olham‐me tristes, vexadas comigo. 
 
O trem lega uma linha de sopros. 
O tardio 
Cavalo de cor enferrujada, 
 
Cascos, dolentes guizos ‐ 
Toda manhã 
A Manhã ficou escura. 
 
Essa flor perdida. 
53
Meus ossos fruem duma calma, os campos 
Distantes derretem meu coração. 
 
Ameaçam 
Deixar‐me seguir pelo céu 
Órfão e sem estrelas, água turva. 

THE MUNICH MANNEQUINS  

Perfection is terrible, it cannot have children. 
Cold as snow breath, it tamps the womb 
 
Where the yew trees blow like hydras, 
The tree of life and the tree of life 
 
Unloosing their moons, month after month, to no purpouse. 
The blood flood is the flood of love, 
 
The absolute sacrifice. 
It means: no more idols but me, 
 
Me and you. 
So, in their sulfur loveliness, in their smiles 
 
These mannequins lean tonight 
In Munich, morgue between Paris and Rome, 
 
Naked and bald in their furs, 
Orange lollies on silver sticks, 
 
Intolerable, without minds. 
The snow drops its pieces of darkness, 
 
Nobody’s about. In the hotels 
Hands will be opening doors and setting 
 
Down shoes for a polish of carbon 
Into which broad toes will go tomorrow. 
 
O the domesticity of these windows, 
The baby lace, the green‐leaved confectionery, 
 
The thick Germans slumbering in their bottomless Stolz. 
And the black phones on hooks 
 
54
Glittering 
Glittering and digesting 
 
Voicelessness. The snow has no voice 

OS MANNEQUINS DE MUNIQUE  

A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. 
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero 
 
Onde os teixos inflam como hidras, 
A árvore da vida e a árvore da vida. 
 
Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. 
O jorro de sangue é o jorro do amor, 
 
O sacrifício absoluto. 
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu 
 
Eu e você. 
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos 
 
Esses manequins se inclinam esta noite 
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, 
 
Nus e carecas em seus casacos de pele, 
Pirulitos de laranja com hastes de prata 
 
Insuportáveis, sem cérebro. 
A neve pinga seus pedaços de escuridão. 
 
Ninguém por perto. Nos hotéis 
Mãos vão abrir portas e deixar 
 
Sapatos no chão para uma mão de graxa 
Onde dedos largos vão entrar amanhã. 
Ah, essas domésticas janelas, 
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, 
 
Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. 
E nos ganchos, os telefones pretos 
 
Cintilando 
Cintilando e digerindo 
 
55
A mudez. A neve não tem voz. 
 
OS MANEQUINS DE MUNIQUE  
 
A perfeição é horrível, ela não pode ter filhos. 
Fria como o hálito da neve, ela tapa o útero 

Onde os teixos inflam como hidras, 
A árvore da vida e a árvore da vida. 

Desprendendo suas luas, mês após mês, sem nenhum objetivo. 
O jorro de sangue é o jorro do amor, 

O sacrifício absoluto. 
Quer dizer: mais nenhum ídolo, só eu 

Eu e você. 
Assim, com sua beleza sulfúrica, com seus sorrisos 

Esses manequins se inclinam esta noite 
Em Munique, necrotério entre Roma e Paris, 

Nus e carecas em seus casacos de pele, 
Pirulitos de laranja com hastes de prata 

Insuportáveis, sem cérebro. 
A neve pinga seus pedaços de escuridão. 

Ninguém por perto. Nos hotéis 
Mãos vão abrir portas e deixar 

Sapatos no chão para uma mão de graxa 
Onde dedos largos vão entrar amanhã. 

Ah, essas domésticas janelas, 
As rendinhas de bebê, as folhas verdes de confeito, 

Os alemães dormindo, espessos, no seu insondável desprezo. 
E nos ganchos, os telefones pretos 

Cintilando 
Cintilando e digerindo 

A mudez. A neve não tem voz. 

 
56
 

WORDS  

Axes  
After whose stroke the wood rings,  
And the echoes!  
Echoes traveling  
Off from the center like horses.  
 
The sap  
Wells like tears, like the  
Water striving  
To re‐establish its mirror  
Over the rock  
 
That drops and turns,  
A white skull,  
Eaten by weedy greens.  
Years later I  
Encounter them on the road‐‐‐  
 
Words dry and riderless,  
The indefatigable hoof‐taps.  
While  
From the bottom of the pool, fixed stars  
Govern a life.  

PALAVRAS 

Golpes, 
De machado na madeira, 
E os ecos! 
Ecos que partem 
A galope. 
 
A seiva 
Jorra como pranto, como 
Água lutando 
Para repor seu espelho 
sobre a rocha 
 
Que cai e rola, 
Crânio branco 
Comido pelas ervas. 
57
Anos depois, na estrada, 
Encontro 
 
Essas palavras secas e sem rédeas, 
Bater de cascos incansável. 
Enquanto 
Do fundo do poço, estrelas fixas 
Decidem uma vida. 
 
AS FONTES ESTÃO SECAS...  

As fontes estão secas e as rosas acabaram. 
Incenso da morte. O teu dia aproxima‐se. 
As pêras engordam como pequenos budas.  
Uma névoa azul prolonga o lago.  
 
Moves‐te através da era dos peixes, 
dos presumidos séculos do porco...  
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos 
saem nítidos da sombra. A História  
 
alimenta estas caneluras quebradas, 
estas coroas de acantos,  
e o corvo vem arranjar as suas vestes.  
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.  
 
Dois suicidas, os lobos da família, 
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas  
já iluminam os céus.  
A aranha na sua própria teia  
 
atravessa o lago. Os vermes 
abandonam as suas casas habituais.  
As pequenas aves convergem, convergem  
com as suas dádivas para um difícil nascimento.  

AUGE  

A mulher está perfeita. 
Morto, 

Seu corpo mostra um sorriso de satisfação, 
A ilusão de uma necessidade grega 
58
Flui pelas dobras de sua toga, 
Nus, seus pés 

Parecem nos dizer: 
Fomos tão longe, é o fim. 

Cada criança morta, uma serpente branca, 
Em volta de cada 

Vasilha de leite, agora vazia. 
Ela abraçou 

Todas em seu seio como pétalas 
De uma rosa que se fecha quando o jardim 

Se espessa e odores sangram 
Da garganta profunda e doce de uma flor noturna. 

A lua não tem nada que estar triste, 
Espiando tudo de seu capuz de osso. 

Ela já está acostumada a isso. 
Seu lado negro avança e draga. 

CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA  

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro 
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer 
(Acho que te criei no interior da minha mente)  
 
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, 
Entra a galope a arbitrária escuridão: 
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.  
 
Enfeitiçaste‐me, em sonhos, para a cama, 
Cantaste‐me para a loucura; beijaste‐me para 
a insanidade.  
(Acho que te criei no interior de minha mente) 
 
Tomba Deus das alturas; abranda‐se o fogo 
do inferno: 
Retiram‐se os serafins e os homens de Satã:  

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.  
Imaginei que voltarias como prometeste 
Envelheço, porém, e esqueço‐me do teu nome. 
59
(Acho que te criei no interior de minha mente)  
 
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão 
Pelo menos, com a primavera, retornam com 
estrondo  
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: 
(Acho que te criei no interior de minha mente)  
 
CONTUSÃO  

A cor invade o lugar, púrpura baça. 
O resto do corpo está todo pálido, 
Cor de pérola. 

Numa fenda de rocha 
O mar suga obsessivamente, 
Uma cavidade o âmago de todo o mar. 

Do tamanho de uma mosca, 
A marca do destino 
Rasteja muro abaixo. 

O coração se fecha. 
O mar reflui, 
Os espelhos são cobertos. 

LORELEI  

Não existe nenhuma noite para nos afogarmos: 
lua cheia, um rio correndo 
negro sob um suave reflexo de espelho,  
 
névoas azuis da água gotejando 
de malha para malha como redes de pesca 
embora os pescadores durmam,  
 
torres sólidas do castelo 
multiplicando‐se num espelho 
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam  
 
em minha direção, perturbando o rosto 
da quietude. Do nadir 
erguem os seus membros plenos  
 
de opulência, cabelos mais pesados 
60
que o mármore esculpido. Cantam 
um mundo mais cheio e límpido  
 
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção 
traz uma carga demasiado pesada 
para ser escutada pelas espirais do ouvido,  
 
aqui, num país onde um sensato 
senhor governa equilibradamente. 
Ao serem perturbadas pela harmonia  
 
que existem além da ordem deste mundo, 
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas 
nos recifes em declive do pesadelo,  
 
prometendo um abrigo certo; 
de dia, estendem‐se para além dos limites 
da inércia, das saliências  
 
que existem também nas altas janelas. Pior 
ainda que esta canção de enlouquecer 
é o vosso silêncio. Na origem  
 
do apelo do vosso coração gelado 
‐ a embriaguez das grandes profundezas. 
Ó rio, como vejo serem arrastadas  
 
lá no fundo do teu curso de prata, 
aquelas grandes deusas da paz. 
Pedra, pedra, leva‐me lá para baixo.  

VENTO QUENTE  

Lamento cego no vento, dias lunares de inverno, 
Infância, os passos se perdem discretos em negra sebe, 
Longo toque noturno. 
Discreta vem a noite branca, 

Transforma em sonhos purpúreos tormento e dor 
Da vida pedregosa, 
Para que nunca o espinho deixe o corpo em decomposição. 

Profunda em sono suspira a alma angustiada, 
61
Profundo o vento em árvores destruídas, 
E a figura de lamento da mãe 
Vagueia pela floresta solitária 

Desse luto silente; noites 
Repletas de lágrimas, de anjos de fogo. 
Prateado, espatifa‐se contra a parede nua um esqueleto de criança. 
62
BIBLIOGRAFIA EM PORTUGUÊS

SYLVIA PLATH – POEMAS (ILUMINURAS 1991) TRAD. RODRIGO GARCIA LOPES E MAURÍCIO ARRUDA
PELA ÁGUA (CROSSING THE WATER) (PAISAGEM, S/D)
O TERNO TANTO FAZ QUANTO TANTO FEZ (THE IT DOESN’T MATTER SUIT) (ROCCO)
ZÉ SUSTO E A BÍBLIA DOS SONHOS (JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS) (PAISAGEM)
A REDOMA DE CRISTAL (THE BELL JAR) (ARTENOVA, 1971) - TRAD. MARIA LUÍZA NOGUEIRA
A REDOMA DE VIDRO (THE BELL JAR) (GLOBO, 1992) - TRAD. LYA LUFT
A CAMPANULA DE VIDRO (THE BELL JAR) (ASSÍRIO E ALVIM)
QUINGUMBO - NOVA POESIA NORTE-AMERICANA – ORG. KERRY SHAWN KEYS (ESCRITA, 1980)
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA NORTE-AMERICANA (SEL. E TRAD. JORGE WANDERLEY)
(CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 1992)
NOVOS ESTUDOS CEBRAP 15 POEMAS (CEBRAP, 1990) - TRAD. VINICIUS DANTAS
LETRAS EM TRADUZÍO – ANTOLOGIA – (PUC-RIO, 1994)
AMARGA FAMA - UMA BIOGRAFIA DE SYLVIA PLATH (ROCCO, 1992) - TRAD. LYA LUFT

BIBLIOGRAFIA EM INGLÊS
THE COLOSSUS & OTHER POEMS (1960)
ARIEL (1965)
CROSSING THE WATER (1971)
WINTER TREES (1971)
THE COLLECTED POEMS OF SYLVIA PLATH (1981)
*VENCEDOR DO PRÊMIO PULITZER*
SELECTED POEMS (1985)
EVERYMAN (1998)
ARIEL: THE RESTORED EDITION (2004)
THE BELL JAR (1963) *BY VICTORIA LUCAS*
THE BELL JAR (1967) *BY SYLVIA PLATH*
LETTERS HOME (1975)
JOHNNY PANIC AND THE BIBLE OF DREAMS (1977)
THE JOURNALS OF SYLVIA PLATH (1982)
THE MAGIC MIRROR (1989) *PLATH'S SMITH SENIOR THESIS*
THE UNABRIDGED JOURNALS OF SYLVIA PLATH (2000)
THE BED BOOK (1976)
THE IT-DOESN'T-MATTER-SUIT (1996)
COLLECTED CHILDREN'S STORIES (UK, 2001)
MRS. CHERRY'S KITCHEN (2001)
A WINTER SHIP (1960)
THREE WOMEN, A MONOLOGUE FOR THREE VOICES (1968)
UNCOLLECTED POEMS (1965)
WREATH FOR A BRIDAL (1970)
THE SURGEON AT 2 A.M. & OTHER POEMS (1971)
CRYSTAL GAZER (1971)
FIESTA MELONS (1971)
LYONNESSE (1971)
MILLION DOLLAR MONTH (1971)
CHILD (1971)
PURSUIT (1974)
TWO POEMS (1980) TWO UNCOLLECTED POEMS (1980)
DIALOGUE OVER A OUIJA BOARD (1981)
ABOVE THE OXBOW (1985)
A DAY IN JUNE: PROSE (1981)
THE GREEN ROCK: PROSE (1982)
AMONG THE NARCISSI: BROADSIDE (1971)

LIVROS SOBRE SYLVIA PLATH.


A CLOSER LOOK AT ARIEL BY NANCY HUNTER-STEINER
A DISTURBANCE OF MIRRORS BY PAMELA ANNAS
A REVOLUTION IN TASTE BY LOUIS SIMPSON
ARIEL ASCENDING EDITED BY PAUL ALEXANDER
ARIEL'S GIFT BY ERICA WAGNER
BITTER FAME BY ANNE STEVENSON
CHAPTERS IN A MYTHOLOGY BY JUDITH KROLL
CRITICAL ESSAYS ON SYLVIA PLATH EDITED BY LINDA WAGNER MARTIN
DOUBLE-CONSCIOUSNESS AND THE PROTEAN SELF IN SP'S ARIEL BY SANDRA LIM
GREAT WRITERS: SYLVIA PLATH BY PETER K. STEINBERG
63
HER HUSBAND: HUGHES AND PLATH -- A MARRIAGE BY DIANE MIDDLEBROOK
KEEPERS OF THE FLAME BY IAN HAMILTON
MY LIFE A LOADED GUN BY PAULA BENNETT
NEW VIEWS ON THE POETRY EDITED BY GARY LANE
OUT OF THE CRADLE ENDLESSLY ROCKING: MOTHERHOOD IN SYLVIA PLATHS WORKS BY NEPHIE
CHRISTODOULIDES
PASSIONATE LIVES BY JOHN TYTELL
PLATH'S INCARNATIONS BY LYNDA BUNDZTEN
PROTEAN POETIC: THE POETRY OF SYLVIA PLATH BY MARY LYNN BROE
REFLECTIONS ON THE BELL JAR BY PAT MACHPHERSON
REVISING LIFE: THE ARIEL POEMS BY SUSAN VAN DYNE
ROUGH MAGIC BY PAUL ALEXANDER
SUISONG BY LYNNE SALOP
SYLVIA AND TED BY EMMA TENNANT
SYLVIA PLATH BY SUSAN BASSNETT
SYLVIA PLATH BY ELISABETH BROFEN
SYLVIA PLATH BY ROBYN MARSACK
SYLVIA PLATH & TED HUGHES BY MARGARET DICKIE-UROFF
SYLVIA PLATH AND THE THEATRE OF MOURNING BY CHRISTINA BRITZOLAKIS
SYLVIA PLATH, REVISED BY CAROLINE KING BARNARD HALL
SYLVIA PLATH: A BIOGRAPHY BY LINDA WAGNER-MARTIN
SYLVIA PLATH: A CRITICAL STUDY BY TIM KENDALL
SYLVIA PLATH: A LITERARY LIFE BY LINDA WAGNER-MARTIN
SYLVIA PLATH: A REFERENCE GUIDE, 1973-1988 BY SHERYL MEYERING
SYLVIA PLATH: AN ANALYTICAL BIBLIOGRAPHY BY STEPHAN TABOR
SYLVIA PLATH: HER LIFE AND WORK BY EILEEN AIRD
SYLVIA PLATH: KILLING THE ANGEL IN THE HOUSE BY ELAINE CONNELL
SYLVIA PLATH: METHOD & MADNESS BY EDWARD BUTSCHER
SYLVIA PLATH: MODERN CRITICAL VIEWS BY HAL BLOOM
SYLVIA PLATH: POETRY AND EXISTENCE BY DAVID HOLBROOK
SYLVIA PLATH: THE FEAR & FURY OF HER MUSE BY PASHUPATI JHA
SYLVIA PLATH: THE JOURNEY TOWARDS ARIEL BY JANICE MARKEY
SYLVIA PLATH: THE POETICS OF BEEKEEPING BY FREDERICKE HABERKAMPE
SYLVIA PLATH: THE POETRY OF INITIATION BY JOHN ROSENBLATT
SYLVIA PLATH: THE SHAPING OF SHADOWS BY AL STRANGEWAYS
SYLVIA PLATH: THE WOMAN & THE WORK BY EDWARD BUTSCHER
SYLVIA PLATH: THE WOUND & THE CURE FOR WORDS BY STEVEN AXELROD
SYLVIA PLATH: VOICES IN POETRY BY LYNN CAMPBELL
THE ART OF SYLVIA PLATH: A SYMPOSIUM EDITED BY CHARLES NEWMAN
THE BELL JAR: A NOVEL OF THE FIFTIES BY LINDA WAGNER-MARTIN
THE BELL JAR: CLIFFS NOTES BY MR. CLIFF NOTES
THE CONFESSIONAL POETS BY ROBERT PHILLIPS
THE DEATH AND LIFE OF SYLVIA PLATH BY RONALD HAYMAN
THE FADING SMILE BY PETER DAVISON
THE HAUNTING OF SYLVIA PLATH BY JACQUELINE ROSE
THE OTHER ARIEL BY LYNDA K BUNDTZEN
THE OTHER SYLVIA PLATH BY TRACY BRAIN
THE POET SPEAKS EDITED BY PETER ORR
THE POETRY OF SYLVIA PLATH: ICON CRITICAL GUIDES BY BRENNAN
THE POETRY OF SYLVIA PLATH: A STUDY OF THEMES BY INGRID MELANDER
THE SAVAGE GOD BY A. ALVAREZ
THE SILENT WOMAN BY JANET MALCOLM
THEME & VERSION: PLATH AND RONSARD EDITED BY ANTHONY RUDOLF
TYS POEMS OF SYLVIA PLATH BY TEACH YOURSELF LITERATURE GUIDES
VOICES & VISIONS EDITED BY HELEN VENDLER
WINTERING BY KATE MOSES
WRITING BACK: SP & COLD WAR POLITICS BY ROBIN PEEL
YORK NOTES ON THE SELECTED WORKS BY YORK
SYLVIA PLATH: A DRAMATIC PORTRAIT BY BARRY KYLE
SLEEPING WITH SYLVIA PLATH BY ROBERT NOVAK
64

Voces, blogues, traducións


SOÑOS SALVACIÓN @ “Sensación de ser un fraude”. Resultoume familiar esa sensación.
Lera nalgures algo semellante ultimamente. Si, claro, Sylvia Plath: “Acúsome de hipócrita,
de facerme pasar por mellor do que son e de ser, no fondo, un verdadeiro desastre”. Eu, ás
veces, tamén me sinto así, profesionalmente sobre todo. Parece que teño respostas a todas
as preguntas e o único que controlo son os medios para atopalas.

O PAXARO GASEADO @ O libro de Sylvia Plath, que rescatei o venres dos andeis, está
agora enriba da miña almofada. “Ted colocou o tubo de goma do baño no mecheiro de gas
da cociña e suxeitou o outro extremo á caixa de cartón. Eu fun incapaz de mirar e choraba
e choraba. O sufrimento é tiránico. Eu sentía a urxencia desesperada de quitarmos de
enriba o paxariño enfermo, especialmente entristecida polo seu valor e o seu bo carácter.
Finalmente mirei. Ted sacárao demasiado pronto da caixa e tíñao boca arriba na man,
abrindo e pechando o pico lastimosamente e axitando as patas. Cinco minutos despois
tróuxomo, sereno, perfecto e fermoso na morte”. Erguínme, preparei o meu primeiro té do
día e, líquida na humidade de detrás das ventás, vin a Sylvia Plath abrir a chave do gas,
meter a cabeza no forno da cociña e morrer fermosa ós meus pés. Sentinme enferma.

CLUB DE POETAS SUICIDAS @ A poeta Ana Romaní ofrecerá hoxe no clube de jazz
Dado Dadá de Compostela un recital baixo o título "Catro poetas suicidas. Intervención
poética contra a levidade". O acto, que conta coa producción do Laboratorio de
Indagacións Poéticas, achegará ó público os poemas de Marina Tsvietaieva, Florbela
Espanca, Sylvia Plath e Anne Sexton, combinadas con narracións sobre os últimos intres
das súas vidas. Este espectáculo mestura así a poesía e a técnica de contacontos e naceu
dunha proposta do actor e contacontos Carlos Blanco. Seguno Romaní, esta iniciativa
pretende facer chegar a palabra "espida completamente" ó público e crear "unha sensación
de impacto, de conmoción", ó tempo que fai pensar.

NENO

O teu ollo claro é a única beleza absoluta.


Quero encher de cor e patos,
O zoo das novidades
Cuxos nomes ti meditas
A neve de abril, a pipa india,
A pequena
Órbita sen enruga,
Chea de imaxes
Debería ser grande e permanente
Non estas problemáticas
Mans enchoupadas, este escuro
Teito sen estrela
Trad. Claudia Castro
65

MaTeRiAl
rEcIcLáVeL
ReCoRtEs  &  eTc. 
rEcOlHiDoS
NuM lIxÃo
dE
CA CH AM BI
66

Manuscritos
& Rascunhos

Sylvia Plath

“S T I N G S”

© 1982 The Sylvia Plath Collection do Smith College


67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79

Meu álbum de
fotos da musa
imortal e
inesquecível
apaixonada de
toda a minha
vida sem a qual
não poderia
sobreviver ao
holocausto que
foi o seu
suicídio naquele
dia fatídico de
tanto de tanto de
mil novecentos e
tanto: minha
eterna musa
sylvia plath eu
te amo e declaro
de todo o meu
coração ser
impossível viver
sem ti.
Adeus mundo
ingrato!
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
O Fã de Sylvia Plath que ajuntou estes dispersos sou eu: Salomão Rovedo (1942), formação cultural
em São Luis (MA), residente no Rio de Janeiro.

Sou escritor e participei de vários movimentos poéticos nas décadas 60/70/80, tempos do
mimeógrafo, das bancas na Cinelândia, das manifestações em teatros, bares e espaços públicos.

Tenho textos publicados em: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo-CS, Rio de
Janeiro, 1975; Tributo (Poesia)-Ed. do Autor, Rio de Janeiro, 1980; 12 Poetas Alternativos
(Antologia), Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1981; Chuva Fina (Antologia),
org. Leila Míccolis/Tanussi Cardoso-Trotte, Rio de Janeiro, 1982; Folguedos (Poesia/Folclore),
c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed.dos AA, Rio de Janeiro, 1983; Erótica (Poesia), c/Xilogravuras
de Marcelo Soares-Ed. dos AA, Rio de Janeiro, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia)-Ed. do Autor,
Rio de Janeiro, 1987.

Alguns inéditos que estou tentando publicar em e-books: Liriana (Contos), O Breve Reinado das
Donzelas (Contos), Estrela Ambulante (Contos), O Pacto dos Meninos da Rua Bela (Contos), Ventre
das Águas (Romance), Poesia de Cordel - O Poeta é Sua Essência (Ensaios), O Cometa de Halley e
Outros Ensaios (Artigos Publicados em Jornais), (Poesia): Pobres Cantares, 20 Poemas Pornôs e 1
Canção Ejaculada, Glosas Escabrosas (Xilogravura de Marcelo Soares), Blues Azuis & Boleros
Imperfeitos, Ventre das Águas, Amaricanto, Viola Baudelaireana e Outras Violas, Templo das
Afrodites, Amor a São Luís e Ódio, Anjos Pornôs, Macunaíma (Em Cordel). Outras coisinhas que fiz:
publiquei folhetos de cordel com o pseudo de Sá de João Pessoa; editei o jornalzinho de poesia
Poe/r/ta; colaborei esparsamente em: Poema Convidado(USA), La Bicicleta(Chile),
Poetica(Uruguai), Alén(Espanha), Jaque(Espanha), Ajedrez 2000(Espanha), O Imparcial(MA), Jornal
do Dia(MA), Jornal do Povo(MA), A Toca do (Meu) Poeta (PB), Jornal de Debates(RJ), Opinião(RJ), O
Galo(RN), Jornal do País(RJ), DO Leitura(SP), Diário de Corumbá(MS) – e outras ovelhas desgarradas,
principalmente pela Internet.

Tenho também e-books disponíveis gratuitamente no site: www.dominiopublico.gov.br Endereço:


Rua Basílio de Brito, 28/605-Cachambi-20785-000-Rio de Janeiro Rio de Janeiro Brasil - Tel: +55 21
2201-2604 Foto: Priscila Rovedo

 
 
Este trabalho está registrado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Compartilhamento pela
mesma licença 2.5 Brazil. Para ver uma cópia desta licença, visite
http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/br/ ou envie uma carta para Creative Commons, 559
Nathan Abbott Way, Stanford, California 94305, USA.

SEM VALOR COMERCIAL – USO CULTURAL E SENTIMENTAL APENAS

You might also like