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PATERNIDADE: REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS RELACIONADAS À
INFERTILIDADE CONJUGAL / MASCULINA

WASHINGTON RAMOS
Introduç
ão
No final da década de 70, nasceu o primeiro “bebê de proveta”: Experiência bem sucedida com uso de fertilização in vitro (FIV). No Brasil isto foi reproduzido em
1984. De lá pra cá muito se caminhou. Os avanços na área de saúde sexual e reprodutiva são inegáveis. O presente trata do (dês)cuidar da saúde do homem na
sociedade, da determinação do direito à saúde sexual e reprodutiva do gênero masculino e, das dificuldades de acesso de homens das classes sociais menos
favorecidas aos serviços de reprodução assistida. Apesar das mudanças patrocinadas pela modernidade nas questões relacionadas à assistência à saúde (custo,
acesso às tecnologias e aos serviços, da redução do tempo ou da quantidade de medicamentos utilizados) que refletem e impactam no modo e na qualidade de
vida das pessoas, questões como a medicalização do processo da reprodução humana e à própria preocupação com a saúde do homem (do gênero masculino),
emergiram desta nova realidade. Como a sociedade se ajusta à tal realidade? De que forma se refere ao “produto das novas formas de concepções
medicalizadas” filhos? Que representações sociais se explicitam da infertilidade masculina ou mista em relação à paternidade? O processo de engravidar com uso
de técnicas é pouco acessível: porque é caro, porque é complexo e porque há poucos serviços públicos disponíveis. Por não haver no Rio de Janeiro serviço
público que ofereça técnicas de alta complexidade como injeção intracitoplasmática de espermatozóide ou fertilização in vitro, como método de concepção
assistida, por ser alto o preço dos medicamentos e dos procedimentos utilizados do tratamento, inviabilizando o acesso a esta tecnologia para a maior parcela da
sociedade. A experiência de tentativas frustradas de gravidez marca profundamente o casal, desgastando, angustiando e causando sofrimento para todos os
envolvidos. Podendo levar à anulação de todas as outras razões da existência de um indivíduo, ou até, ao fim da relação devido ao desgaste causado pela
cobrança de uma gravidez. O que é para um homem que tem problema de infertilidade viver essa situação, em uma sociedade sexista que valoriza a reprodução
e é machista? O que significa para eles, ser pai? Em que medidas estão presentes conceitos como: gênero; machismo; paternidades; sexualidades e questões
relacionadas ao campo da família, quando o querer não é sinônimo de poder se tornar “pai de família”?
A reprodução humana vista como “mercadoria” transforma quem vivencia esta experiência em meros “clientes” de um sistema capitalista excludente, que
distingue pela capacidade financeira. Os homens têm uma dificuldade ímpar de expor suas fraquezas, eles crescem estimulados a contar vantagens e méritos,
acreditando serem os melhores só por serem homens. A infertilidade (é uma espécie de atestado de incapacidade com relação à paternidade) uma afronta ao
senso comum. O reduzido envolvimento de homens com os cuidados de saúde, quer seja referente ao autocuidado ou à busca de cuidados especializados se deve
aos modelos de masculinidade. qualquer que seja a faixa etária, a classe social, a situação econômica ou o lugar de moradia. As causas parecem não ser apenas
relacionadas à disponibilidade de tempo (dos homens) ou a predisposição maior para se cuidar (das mulheres), muitos outros aspectos precisam ser
considerados, evitando uma resposta simplista. O trabalho e o desempenho sexual funcionam como as principais referências para a construção do modelo
masculino de comportamento dos homens e a dificuldade para expor a incapacidade nestes aspectos se reflete na presença de homens com problemas
relacionados à dificuldade ou à incapacidade de reproduzir, que deixam de procurar auxílio, sugerindo que a responsabilidade pela busca por atendimento fique a
cargo da mulher, foco maior da propedêutica e da “culpa social” da infertilidade. Há um senso comum ou um consenso quanto a uma responsabilização no

Obje
to
as representações sociais relacionadas à infertilidade humana masculina a partir do ponto de vista de homens que buscaram ou que estão buscando assistência
para seus problemas relacionados com fertilidade. Como os homens que passam pela experiência da infertilidade conjugal se vêem? Como eles imaginam ser a
expectativa social em relação a um homem infértil? Como eles se representam frente a uma sociedade sexista que valoriza questões relacionadas ao gênero, as
sexualidades, a virilidade, a masculinidade e na qual ainda se identifica um forte viés machista? Há alguma identificação entre suas expectativas e frustrações
referentes à paternidade e/ou outros conceitos presentes no senso comum? Como isto interfere em suas relações pessoais e sociais? Como vivem sua
sexualidade, sua masculinidade e sua virilidade? Há relações entre estes aspectos e a representação social de paternidade?

Objeti
vos
Descrever as representações sociais dos homens em relação à situação vivencial de infertilidade conjugal cuja origem seja masculina ou dupla; Analisar os
reflexos das representações sociais da infertilidade conjugal cuja origem seja masculina ou dupla nos conceitos como: Paternidade, masculinidade, virilidade e
sexualidade; Discutir as expectativas dos homens que vivem a infertilidade face às possíveis alternativas de cuidados.

Méto
do
a “Análise de Conteúdo” de Bardin, para captar outros aspetos na interação sujeito – objeto, utilizarei a observação assistemática. Para alcançar, nos discursos
dos sujeitos, os elementos necessários ao desvelar das subjetividades dos entrevistados e, observar traços do “senso comum” e do “inconsciente coletivo” que
se façam presentes nos discursos alcançando as “Representações Sociais”.
Apesar das vantagens determinadas pelo domínio de novas técnicas, há pontos negativos, gerados por questões que suscitam aspectos éticos, legais e até
religiosos. O potencial da reprodução assistida tem se mostrado ilimitado, porém, um dos desafios do século XXI é tornar estas técnicas mais accessíveis. Porque
os serviços de atendimento em reprodução humana assistida são, em sua maioria, particulares ou estão relacionados com serviços ou atendimentos de caráter
particular? É Preciso responder também por que a Enfermagem está marginal a estas questões? Quanto aos gêneros, apesar das conquistas tecnológicas na área
de saúde reprodutiva, e dos avanços nas questões relacionadas ao dualismo homem / mulher, nas sociedades sexistas ainda está bem definido o papel
“esperado” para homens e mulheres. Com o cuidado de não se reduzir o tema ao natural ou ao biológico, é preciso se discutir melhor estas questões, já que a
evolução social não resolveu todos os problemas nem deu conta de todas as questões ligadas à paternidade, à sexualidades e às questões de disputa de poder e
de espaço dos gêneros. A imagem do “masculino” que uma sociedade sexista determina para os homens é, de machismo e de virilidade muitas vezes tão
mutiladora para o homem como a imagem da feminilidade para a mulher, porém, não encontram um equivalente masculino para a preocupação com o corpo e a
saúde feminina, apesar das conquistas e da queda de tabus e preconceitos dado os avanços determinados, inclusive pelo movimento feminista, ainda há
questões de disputas entre os gêneros e percebemos um forte viés de “machismo” na relação homem-mulher nas sociedades, havendo motivos para inaugurar
um debate sobre este interessante campo de reflexão: a relação dos homens com as questões de saúde e as relações de gêneros, sexualidades e
masculinidades, tomando como base o modo pelo qual estas questões são representadas pelos homens e os reflexos derivados destas representações na saúde
masculina, do casal, da mulher e da família. Pesquisar reprodução humana pautando no campo de saúde da população masculina, quando há tantos outros
problemas mais prementes, poderia parecer inoportuno sem os pressupostos já aqui apresentados. É importante se considerar que a valoração das questões que
atormentam a humanidade ou um simples indivíduo para relativizar a afirmação de que essa (des)importância do assunto só existe para quem está afastado
dele. É necessário que se mergulhe um pouco mais na questão do gênero. Novas formulações teórico-conceituais relacionadas ao machismo, à virilidade, à
infertilidade e à paternidade, suas correlações entre si e destas com as construções de conceitos e de representações de família, de maternidade, de homem, de
mulher e de vida doméstica. A cultura que definimos como machista foi e está sendo perpetuada por fatores diversos que, talvez, já não se sustentem na
organização social da atualidade, (ruptura de núcleo central da representação social) determinando pressões para mudanças e produzindo tensões sociais. Há um

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