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A Crítica da Faculdade de Julgar

A faculdade da imaginação e a faculdade


do sentir
Estética III

1
Kant desenvolve os princípios do idealismo
Alemão nas três Críticas que se inserem no
espírito da Época das Luzes.

É sobretudo a partir da leitura de D.Hume e


de Rousseau que Kant partilha das dúvidas
acerca das ambições da razão.

Kant inicia deste modo uma crítica ao poder


da razão em geral discutindo da possibilidade
ou não da metafísica em geral. (C.R.P., 1ª ed.
1781):

As três perguntas fundamentais são:


Que podemos saber? Que devemos fazer?
Que nos é lícito esperar?
2
Fiquemos pela primeira pergunta: O que
podemos saber?
-A questão do conhecimento é fundamental, pois é no
aprofundamento das interrogações deste domínio e também
da metafísica que a CRP trata que Kant desenvolve mais
tarde na CFJ os problemas de índole estética, a saber:
-O juízo de gosto cuja teoria desemboca no juízo teleológico,
no terreno da metafísica*, (*Por vezes caracterizam-na
como a tentativa de identificar as primeiras causas, em
particular deus ou o motor imóvel; por vezes a geral ciência
do ser enquanto ser.) e demonstra a vontade de Kant em
entender a natureza humana.
-Kant dispõe-se a organizar de uma forma coerente as questões
discutidas sobretudo pelos autores ingleses. E nesse sentido
que Kant dá expressão filosófica a temas como o génio
artístico, ou a originalidade. A estética não é o ponto de
partida, mas é fundamental para a compreensão do novo
homem. 3
Faculdades Principais

Faculdades

Sensibilidade Entendimento Razão

Faculdade da imaginação
Faculdade do sentir
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ESTÉTICA TRANSCENDENTAL

SENSIBILIDADE

Externa Interna

ESPAÇO TEMPO
Forma A priori Forma A priori

Conhecimento dos fenómenos


SÍNTESE

Elemento Elemento
Formal Material

DAQUI RESULTA: A INTUIÇÃO FENOMÉNICA


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Analítica Transcendental
O Entendimento: introduz unidade, nexo e relação no caos das intuições
fenoménicas. É a faculdade das regras. Aplicação das categorias às
intuições. (dedução/ julgar)
ENTENDIMENTO

CATEGORIAS INTUIÇÔES
FORMAS A PRIORI FENOMÈNICAS

CATEGORIAS

Quantidade Modalidade Qualidade Relação

O conhecimento científico resulta da síntese das intuições fenoménicas e das


categorias, mas a dedução destas é transcendental, pois em nada deve à
experiência.
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DIALÉTICA TRANSCENDENTAL: Uso transcendental da
razão. A Razão contém os princípios para conhecer algo
absolutamente a priori. A razão é o lugar da aparência.Tem
tendência a ultrapassar o uso das categorias, actuando sobre
as ideias.
IDEIAS

COSMOLÓGICA PSICOLÓGICA TEOLÓGICA

Experiência Experiência
Unidade
Externa Interna

IDEIAS:PRINCÍPIOS UNIFICADORES/ REGULADORES DA RAZÃO; IDEIAS


TRANSCENDENTAIS/ HIPÓTESES
FORMAS A PRIORI.
RAZÃO PURA/ TEÓRICA: Princípios a priori do conhecimento.O ideal da razão
pura é DEUS.
RAZÃO PRÁTICA: Princípios a priori da acção.
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Conclusão:
• Para Kant o que é que no conhecimento
pertence ao sujeito e o que é que pertence ao
objecto?
• Na produção do conhecimento/ Idealismo
Transcendental, existe um elemento formal
(externo/mundo) e um elemento material
(interno/ sujeito).
• O conhecimento resulta da síntese de ambos.
• Como tal nunca poderemos saber como são as
coisas em si mesmas, independentemente do
sujeito.
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Introdução à CFJ
. Reflectir sobre a faculdade de julgar/ é uma
estética permite a Kant estabelecer a mediação
entre a natureza (CRPura) e a liberdade
(CRPrática) onde estabelece os postulados da
imortalidade e da liberdade.
A faculdade de julgar é entendida como uma
faculdade que se situa entre o entendimento e
a razão. O prazer e o desprazer que lhe
característico está situado entre a faculdade de
conhecer e a de desejar.
Em que consiste o uso da faculdade de julgar?9
Em subsumir o particular no geral. A faculdade de
julgar reflexiva deve permitir o acesso ao geral,
sendo dado o particular e o seu princípio é a
originalidade.

Faculdade de julgar

subjectiva objectiva

estética teleológica

metafísica

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Porque é que os juízos estéticos
são subjectivos?
• São juízos que se referem aos sentimentos
que temos perante certos objectos, e não
devido às características dos objectos. (Ex.
canto do rouxinol).
• Os juízos estéticos não produzem
conhecimento (Baumgarten colocava-os
como fazendo parte de um conhecimento
inferior) e portanto dizem apenas respeito
à satisfação ou insatisfação na percepção
do objecto. 11
JUÍZOS DE GOSTO
• Para Kant a estética tem uma particular importância.
Porquê?
• Porque a metafísica e a ética ficam incompletas sem
a estética. Só um ser racional pode experimentar a
beleza, e sem esta experiência a sua racionalidade
fica incompleta.
• A experiência estética permite-nos afirmar o nosso
ponto de vista. Somos criadores na medida em
observamos e legislamos sobre a natureza. Contudo
por momentos, ficamos fora deste ponto de vista para
experimentarmos a harmonia das nossas faculdades
e os objectos sobre a qual elas incidem. 12
• O juízo de gosto é um juízo sintético a priori da classe dos
juízos reflexivos: se está dado o especial é preciso
submergir o geral. Este é o tema de fundo da CFJ: os
juízos reflexivos.
• Antinomia do juízo de gosto:
1. Juízo:
sujeito -----objecto Ex. Todos os homens são
Mortais
S cópula P
2. O juízo de gosto entra em conflito consigo mesmo: não pode
ser ao mesmo tempo estético (experiência, subjectividade) e
juízo, pois o juízo reclama a concordância universal. É juízo pois
enuncia algo acerca de um objecto. Mas não se trata de um
determinante ou lógico, como por exemplo, se eu tiver um
conceito de triângulo, isto é um triângulo. (conceito e
objecto singular)
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Como é isto possível?
• 1. Quando algo é belo esse sentimento
expresso em juízo, baseia-se na intuição.
• 2. Ninguém pode ajuizar da beleza de alguma
coisa sem a ter experienciado primeiro. É uma
experiência em primeira mão.
• 3. Sendo assim não posso criar regras ou
quaisquer princípios para o juízo estético. O
PRAZER é a condição da experiência estética.
• 4. Mais, não posso colocar (a priori) um
conceito e depois inferir o que é belo (§ 32,
14
CFJ)
Kandinsky, Linha transversal, 1929

1)Objecto de arte- percepção 2)conceito--> objecto de arte ->juízo


imediata |
BELO
15
• A experiência é que dá direito ao juízo estético,
• Qualquer coisa que altera a experiência
modifica o significado estético.

16
Heartfield – Cruz Suástica
O juízo estético é livre de
conceitos; e o belo não é um
conceito
• 1ª Antinomia: O Juízo de gosto não se baseia
em conceitos.
• Será o juízo estético uma forma de juízo, já que
não se baseia em conceitos?
• Na realidade quando digo que uma coisa me
agrada procuro fundamentar o meu agrado
apontando as características do objecto.
• A procura de fundamentação, de razões
exprime o carácter universal da racionalidade.
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• Os outros porque são racionais devem sentir
exactamente o mesmo agrado que eu.
• 2ª Antinomia: “O juízo de gosto não se baseia em
conceitos; pois de outro modo…
não poderia haver discórdia nesta matéria”.
Bases sintéticas a priori do gosto:
O juízo de gosto fundamenta-se no prazer e não no
conceito. Este prazer funciona como postulado.
O juízo de gosto contém um deve: os outros
devem sentir como eu, caso não aconteça, ou
eu, ou os outros estão errados. Procurando
razões para os nossos juízos, tal significa que
satisfazemos as condições de universalidade e
necessidade: estas são sintéticas a priori.

18
Que tipo de racionalidade é inerente à
contemplação?

O sonhador acima do
19
Nevoeiro, Friedrich
A resposta está no uso da imaginação.
O que ela faz?

Intuição
conceito
fenoménica

dado

A imaginação esquematiza: fornece a um conceito a sua


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Imagem sensível.
• A imaginação transforma as intuições fenoménicas em
dados. Desde que a nossa experiência tenha um conteúdo.
• Esta sintetiza a intuição e o conceito.
• Os dados correspondem ao que ocorre sempre que é
possível atribuir à experiência um conteúdo de
representação.
• Ex: Homem na janela. Conceito de homem integrado num
novo contexto: janela.
• A esta forma da imaginação chama-se livre agir da
imaginação.
Q
É isto que caracteriza o juízo estético.
• A faculdade de julgar na experiência estética é reflexiva,
isto é, reporta a representação ao sujeito e ao seu
sentimento. O prazer resulta do facto do exercício da
imaginação ser diferente neste caso, pois o entendimento
não legisla e a imaginação não esquematiza.

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O conceito de homem está
presente na minha percepção
mas é um conteúdo novo que a
integra.
A imaginação opera em liberdade,
pois ou os conceitos são
indeterminados ou não são
aplicados.
QUE TIPO DE PRAZER ? Não é o
prazer do agradável, nem o prazer
provocado pelo bem. O prazer é
desinteressado, daí a pretensão
da universalidade. Pois supõem
que a reacção dos outros deveria
ser semelhante à nossa. Este
dever é diferente pois no juízo
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moral a finalidade é o importante.
• Podem-se dar dois casos diferentes:
• A) Efectua-se uma síntese imaginativa de um
padrão (marcas constituem um padrão),
estamos perante um conceito indeterminado.

Teste Rorschach, 1921 23


• B) Síntese implícita no caso de se ver um desenho. O
conceito funciona como pretexto de leitura.

A síntese imaginativa não é aplicada ao objecto, uma vez que eu tenho a


permissão imaginativa para a ver desse modo. Isto prende-se com o
entendimento da imaginação artística 24
(…)“As faculdades de conhecimento, que através desta
representação são postas em jogo, estão com isto
num livre jogo porque nenhum conceito determinado
as limita a uma regra particular de conhecimento.
Portanto o estado do ânimo nesta representação tem
que ser o do sentimento do jogo livre das faculdades
de representação numa representação dada para um
conhecimento geral. (…)
(…) A comunicabilidade universal subjectiva do modo de
representação num juízo de gosto, visto que ele
deve ocorrer sem pressupor um conceito
determinado, não pode ser outra coisa senão o
estado de ânimo no jogo livre da faculdade da
imaginação e do entendimento (na medida em que
concordam entre si, como é requerido para um
conhecimento geral ) enquanto somos conscientes de
que esta relação subjectiva própria do conhecimento
25
geral tem de valer também para todos e
consequentemente ser universalmente comunicável,
como o é cada conhecimento determinado, que pois
sempre se baseia naquela relação como condição
subjectiva.” (…) KFJ, §9.
Outro tema importante é a noção de Sensus
communis/ senso comum:
Embora Kant tenha valorizado mais a arte que a
natureza e a música menos que as outras artes, como
por exemplo a poesia, vamos utilizar o exemplo de
uma melodia para falar deste tema.
Quando ouvimos música consigo detectar uma
unidade que não me é dada como tal. Os diferentes
sons são ouvidos como relacionados entre si:
organizados.
26
Posso até repetir e
trautear
a melodia. PORQUÊ?

E donde deriva a
satisfação, o prazer,
dos Simpsons???

E a crispação do
Capitão Haddock
perante a voz de
Madame Castafiore? 27
• Deriva da ideia indeterminada de unidade.
Só os seres com imaginação (uma faculdade
racional) são capazes de ouvir a unidade
musical. Através da minha experiência percebo
a organização como objectiva. É esta
experiência da unidade que origina prazer e
que tem a ver com o exercício da razão.
Por sua vez o prazer que sinto em relação à
música é derivado do senso comum dado que
todos são seres racionais e portanto trata-se de
uma experiência comum a todos.
Como é que a experiência da unidade está
ligada ao prazer que sinto? 28
• Quando oiço música.
• A) O fundamento da minha experiência é
gerado pela compatibilidade entre o que oiço e
a faculdade da imaginação que distribui as
intuições fenoménicas e as relaciona com o
entendimento.
• B) Ao experimentar a unidade sinto também
uma harmonia entre as minhas faculdades e o
objecto em que são aplicadas (faculdade de
ânimo/ sentir)
• Conclusão: O sentimento de harmonia entre
mim e o mundo é a origem do prazer e o
fundamento da universalidade. 29

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