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José Saramago

O Ano da Morte de Ricardo Reis


SÍNTESE DA UNIDADE

Encontros – 12.o ano ▪ Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães


José Saramago | O Ano da Morte de Ricardo Reis

Friso cronológico
IDADE Séc. XV-XVI Séc. XVII Séc. XIX Séc. XX LITERATURA
MÉDIA RENASCIMENTO BARROCO ROMANTISMO REALISMO MODERNISMO CONTEMPORÂNEA

José Saramago (1922-2010)


O Ano da Morte de Ricardo Reis
1984
José Saramago | O Ano da Morte de Ricardo Reis

Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e


os acontecimentos políticos

Deambulação geográfica e viagem literária

Personagens mais relevantes

Representações do amor

Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário


Verde e Fernando Pessoa

Linguagem, estilo e estrutura

Em síntese
Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os
acontecimentos políticos

Espaço da cidade

LISBOA

Espaço físico
• Baixa
• Rossio
• Alto de Santa Catarina
• Hotel Bragança
• Tejo
Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os
acontecimentos políticos

Cidade retrógrada, oprimida, miserável


Ex.: bodo do Século
Espaço da
cidade Espaço-alvo de propaganda política
Ex.: espetáculo da Marinha, comício político

Espaço em que se movimentam as forças do poder


Ex.: PVDE – Victor

LISBOA Palco da tentativa de revolução comunista


Ex.: grupo de revoltosos em que se encontra Daniel
Espaço
Cidade pitoresca, onde se movimentam as classes
social
populares
Ex.: criados de hotel (Lídia, Salvador, Ramon)
velhos do jardim, vizinhas bisbilhoteiras
padeiro, leiteiro, ardina, taxista

Palco de acontecimentos socioculturais


Ex.: passagem de ano, festejos de Carnaval
Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os
acontecimentos políticos

Tempo histórico
e acontecimentos políticos

• Ditadura de Salazar
Leitura de • Guerra Civil Espanhola Manipulação
jornais • Expansão nazi na Alemanha da imprensa
• Ascensão de Mussolini na Itália
• Guerra da Etiópia

Leitores
• Ricardo Reis
• Velhos do jardim do Alto de Santa Catarina
Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os
acontecimentos políticos

A guerra civil espanhola agita Portugal. À luta


Salazar forjaaderem
Panorama
antifascista em Portugal
históricomilharesdoa exaltação
ano de 1936Marinheiros,
de pessoas.
nacionalista:
militantes cria a “mocidade
da Organização portuguesa”,
Revolucionária da Armada
Acópia
“paz”
(ORA), da juventude
em
fundada Espanha nazi,
convém
por comunistas,e nelaaofaz inscrever
1935, de os
Governo
em
Salazar.
sublevam-se“Este ano trágico [1936]
estudantes;
Mas imita os “camisas
as forças
em Lisboa, negras”
reacionárias
prendem ossão italianos
oficiais,
e institui a “Legião
democraticamente
apoderam-se de doisPortuguesa”,
vencidas
navios de pela força
Frente
guerra na intenção de
semilitarizada,
Popular,
juntarem
é o verdadeiro
queàsque se propõe
agrupa
tropas os colaborar
defensores
republicanas da numa
espanholas.
cruzadaos anticomunista, defender
liberdade
Quando
aquilo
protagonista do livro.”
enavios
da emancipação
que chama
saem do dossão bombardeados;
Tejo
“o património espiritual da
trabalhadores,
os revoltosos ganha
são presos as eeleições
deportadosgeraispara
e tem
o campo-
anação” doe Tarrafal
maioria
prisão apoiar o(Cabo
Estado
no Parlamento. Corporativo.
O regime
Verde), Pelas a receber
que português
começa
ruas
teme
os das cidades,
SARAMAGO,
influências
primeiros presos a políticos.
“Mocidade”
José vitória
desta desfila
(2002). OeAno em
da Morte
permite de Ricardo
em
Reis. Porto: Público Comunicação Social, SA [sobrecapa].
território[…]
parada. Força de
nacional legionários fascistas,
a conspiração que prepara“Osa
MORASHASHI, M. (2002). “História-História(s) –
Viriatos”
guerra seguem
civildade
O Ano
para
Espanha.
Morte
Espanha, vão apoiar as
de Ricardo Reis, de José Saramago”, in Atas do VI
tropas de Franco:
Congressomorrem 6000. de Ciências Sociais, Vol. 2.
Luso-Afro-Brasileiro
Porto: FLUP, p. 281 [com supressões].
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Deambulação geográfica e viagem literária

Deambulação Brasil → Portugal


• Lisboa
geográfica • Lisboa → Fátima

Cemitério
Baixa
dos
Rossio
Prazeres • Rua do Alecrim
• Rua dos Sapateiros
• Terreiro do Paço
• Praça Luís de
Alto de Camões
Santa • …
Catarina
Deambulação geográfica e viagem literária

Deambulação Viagem
geográfica literária

Diálogos entre Fernando Pessoa e


Ricardo Reis sobre a obra pessoana
Evocação da obra de Ricardo Reis
Intertextualidade com Fernando Pessoa,
Camões, Cesário Verde…
Valor simbólico das estátuas de Eça de
Queirós, Camões, Adamastor
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Personagens mais relevantes

Ricardo Reis Heterónimo de Fernando Pessoa que se


autonomiza, tornando-se uma figura
independente no romance, mas mantendo
as características do heterónimo pessoano
(contemplativo e distante).
O contacto com o mundo faz-se através da
leitura de jornais – incapaz de compreender
cabalmente o tempo histórico e os
acontecimentos políticos, Reis revela-se um
espectador da realidade ditatorial
implantada no seu país (“Sábio é o que se
contenta com o espetáculo do mundo”).
Personagens mais relevantes

Fernando Motor dos acontecimentos (a sua morte


Pessoa desencadeia a ação).
Personagem histórica, mas com natureza
fantasmagórica (que participa na ação depois
de morta), dialogando com Ricardo Reis sobre a
sua vida e conduta.
Tece comentários irónicos sobre o contexto
social e a postura de Ricardo Reis relativa à vida.

Valor simbólico: “tutor de uma língua e de uma poética,


resposta da modernidade portuguesa ao mito secular
camoniano, como a querer provar que, da glória passada
ao tempo presente, Portugal deixou acesa a aura de um
discurso modelar para sempre relido”
SILVA, Teresa (1999). “Do labirinto textual ou da escrita como lugar de
memória”, Colóquio Letras, n.os 150-151, p. 169.
Personagens mais relevantes

Lídia Personagem autêntica, real, verdadeira, que se


distingue de outras personagens do romance.
Mulher do povo, criada de hotel, humilde,
torna-se amante de Ricardo Reis, vivendo de
forma completa a sua feminilidade – cede
completamente ao prazer do gozo do amor.

Consciente, lúcida e crítica, questiona o


contexto social e político que a rodeia e rejeita
os códigos sociais.

≠ Musa etérea e distante


das odes de Ricardo Reis

Inversão de dados preexistentes na literatura
Marcenda Jovem pertencente à alta sociedade, com a mão
esquerda paralisada; oprimida pelo pai, assume
uma atitude passiva perante o mundo,
política e afetivamente.
Encara o não comprometimento amoroso como
menos doloroso – prefere não se entregar ao
gozo do amor.
Nome que apresenta semelhanças com
marcescível (que murcha) e que aponta para o
carácter etéreo da personagem (“são palavras
doutro mundo, doutro lugar, femininos mas de
raça gerúndia”).

Invenção do romancista
Pontos comuns com as musas etéreas e
Voltar
distantes das odes de Ricardo Reis
Representações do amor

Ricardo Reis
Duas experiências
afetivas, dois caminhos

Ricardo Reis / Lídia Ricardo Reis / Marcenda


Representações do amor

Ricardo Reis / Lídia


Relação carnal, marcada pelo
envolvimento físico:
• Lídia apaixona-se por Ricardo Reis,
provocando nele um duplo efeito
de atração e de menosprezo;
• Lídia sofre por amor, consciente de que a relação
não tem futuro, devido a preconceitos sociais /
diferença de classes sociais (doutor vs. criada);
• Lídia engravida.
COMPROMETIMENTO AMOROSO
“Enlacemos as mãos”
Ricardo Reis / Marcenda
Envolvimento poético-afetivo / misto
de atração espiritual e física:
• Marcenda exerce sobre Ricardo Reis
um efeito de fascínio, devido à sua
fragilidade (mão paralisada); inexperiente mas desejosa
de conhecer o amor, Marcenda aproxima-se de
Ricardo Reis;
• A relação assume contornos predominantemente
platónicos/espirituais (é consumada por dois beijos);
• Ricardo Reis pede Marcenda em casamento, mas
esta recusa a proposta.
DESCOMPROMETIMENTO AMOROSO
Voltar
“Desenlacemos as mãos”
Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões,
Cesário Verde e Fernando Pessoa

Intertextualidade

“todos os caminhos Cesário Fernando


portugueses Verde Pessoa
vão dar a Camões”

Outras referências
Luís de intertextuais
Camões
Intertextualidade

José Início
A frase
Em daemblemática
O Ano narrativa:
da Morte“Aqui doRicardo
de romance,
o mar Reis,
acaba
tanto
o eprivilégio
anoterra
Saramago, principia”
epigráfico
das da cena
referências primeira –cabe,
intertextuais “Aquiéoclaro,
mar acaba
ao
e Inversão
a terra principia”
complexo pessoano
do sentido […]
[…],
docomo
mas anaépica
intertexto variante chave
camoniana
camoniano
leitor de Luís
de(“Onde
ouro da
também anarrativa
comparece – “Aqui,
na
terra se acaba e oonde
inversão doocomeça”
mar mar se verso
célebre –
de Camões acabou e III
a terra espera.”
do Canto
Os Lusíadas,– “[…] […]–que
aquiIII),
Canto /marca
onde adeterra
remete vez ase a
para
mudança
acaba e o do
mudança mardeolhar para a– terra.
começa”
perspetiva que
(viagem É sintomático
ilustra
dede forma
regresso,
que o romance
magistral umapara
virada abraavisão
certa com
terrauma
de viagem
Portugal
– ano de 1936, de retorno
enquanto
a Portugal,
cais de partida a de eRicardo Reis,
um projeto
ditadura de por mares agora
expansionista
Salazar) que
longamente
alimentou navegados […], a bordo
fantasmaticamente a glóriado Highland
Brigade, ummuito
portuguesa vaportempo
inglês da Malade
depois Real Britânica,
já ter sido
Intertextualidade
o que desfaz como com o episódio
definitivamente do Adamastor
a possibilidade de
reconhecido falacioso. […] A proposta de
(estátua
evocaçãododas Adamastor)
naus gloriosas deooutrora.
Saramago, num tempo em que país se
esforçava por
Referência recordar
a figuras o delíriodeda grandeza,
da poesia
SILVA, Teresa (1999). “Do labirinto textual ou da
tinha
Camões de(ex.:
escrita como
forjar-se nos antípodas dessa imagem.
lugarNatércia)
de memória”, Colóquio Letras,
n.os 150-151, p. 255 [com supressões].
Intertextualidade

José Saramago, Deambulação pela cidade de Lisboa


leitor de
Descrição minuciosa e pormenorizada da
Cesário Verde
cidade enquanto espaço físico e social –
Lisboa oprimida e miserável
José Saramago, Poesia do ortónimo
leitor de Ex.: “O poeta é um fingidor”
Fernando
Pessoa Odes de Ricardo Reis
Ex.: “Sereno e vendo a vida à distância …”
“A palidez do dia é levemente dourada”
Referência a figuras clássicas da poesia de Reis
Ex.: “Lídias, Neeras e Cloes”
Referência a estéticas da poesia pessoana
Ex.: paulismo, intersecionismo
Intertextualidade

Outras The god of the labyrinth


referências A referência ao escritor fictício Herbert Quain (recuperado de
intertextuais um conto da obra Ficções, de Jorge Luis Borges) congrega o
universo da heteronímia pessoana e da própria ideia de
FUNÇÃO DAS ALUSÕES
ficção. A intercalação entre a realidade que Ricardo Reis lê nos
jornais,INTERTEXTUAIS
no ano 1936, e a recuperação da história policial de
Borges simbolizam este aspeto labiríntico da fragmentação do
Em geral, recriam ironicamente e
sujeito poético. Temos, portanto, um jogo de espelhos, que
reflete em tom de paródia,
uma personagem inventada,passagens
num tempo histórico
(1935/1936), que lê umde
conhecidas livrotextos
de um escritor
da fictício, que surge
numa obra real.
literatura portuguesa e da
Jornais da época: O Século, Diário de Notícias…
literatura de tradição oral (ex.:
Cantigas, provérbios e ditos
provérbios populares
e ditos populares).
Afirmações históricas famosas

Bíblia
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. I • Chegada de Ricardo Reis a Lisboa no Highland Brigade


• Deambulação de táxi pela cidade
• Alojamento no Hotel Bragança
• Ricardo Reis vê Marcenda na sala de jantar do hotel
• Leitura de jornais: notícias nacionais (comemorações nas colónias) e
internacionais (avanço do fascismo)

Cap. II • Deambulação pelas ruas da cidade: mudanças arquitetónicas


• Leitura de jornais: forma como foi noticiada a morte de Fernando Pessoa
• Ida de elétrico ao Cemitério dos Prazeres e regresso de táxi
• Primeiro encontro com Lídia, a criada do hotel
• Leitura do jornal: demissão do governo espanhol; emergência da
ditadura de Mussolini em Itália

Cap. III • Segundo encontro com Lídia


• Último dia do ano de 1935
• Passeio pelas ruas da cidade: passagem pelas estátuas de Eça de Queirós
e de Camões
• Visão de uma cidade vigiada, oprimida e em ruína
• O bodo do Século: degradação social e autoridade policial
• Festejos de Ano Novo a que Ricardo Reis assiste na rua
• Ricardo Reis regressa ao Hotel Bragança; ao jantar, pensa em Marcenda
• Primeiro encontro com Fernando Pessoa
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. IV • Publicação pelos jornais de notícias nacionais e estrangeiras: anúncio da


afirmação da força do Estado Português aquando da futura derrocada
dos grandes Estados
• Segundo encontro com Fernando Pessoa: diálogo existencial
• Ricardo Reis elogia a beleza de Lídia (primeira noite juntos)
• Preconceitos de Ricardo Reis face à diferença de classe social

Cap. V • Ida de Ricardo Reis ao teatro


• Primeira conversa com Marcenda, no final do espetáculo
• Deambulação e observação do rio Tejo: presença militar naval
• Terceiro encontro com Fernando Pessoa: crítica de Pessoa ao
envolvimento de Ricardo Reis com Lídia devido às diferenças sociais
• Lídia e Ricardo Reis voltam a passar a noite juntos

Cap. VI • Leitura de jornais: avanço do nazismo na Alemanha; demissão do


governo francês; instabilidade política em Espanha
• Conversa com Marcenda na sala de estar do hotel: situação de saúde da
jovem
• Troca de ideias políticas com o Dr. Sampaio, pai de Marcenda
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. VII • Referência aos antecedentes da Guerra Civil Espanhola e ao estado


caótico da Europa; política expansionista e militarista alemã; Portugal
favorecido pelas colónias
• Preparação de golpe militar pelo general Franco
• Refugiados de Espanha começam a chegar a Lisboa
• Festejo do Carnaval

Cap. VIII • Doença de Ricardo Reis; Lídia assume o papel de enfermeira


• Ricardo Reis recebe uma contrafé
• Marcenda tem conhecimento da contrafé pelo pai
• Quarto encontro com Fernando Pessoa no Alto de Santa Catarina:
diálogo sobre Lídia e Marcenda
• Marcenda e Ricardo Reis encontram-se no mesmo local
• Acontecimentos históricos: oficiais do exército japonês querem declarar
guerra à Rússia

Cap. IX • Ida à polícia a propósito da contrafé: clima de medo e repressão


• Interrogatório policial
• Impotência de Ricardo Reis face à situação
• Aluguer de casa no Alto de Santa Catarina
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. X • Comunicação da decisão de permanência em Portugal


• Quinto encontro com Fernando Pessoa na nova casa de Ricardo Reis

Cap. XI • Visita de Lídia à casa do Alto de Santa Catarina: amor sensual


• Lídia anuncia que irá visitar Ricardo Reis às sextas-feiras, dia de folga,
para estar com ele e fazer
• limpeza à casa
• Leitura da imprensa: títulos de carácter nacional e internacional
• Marcenda visita Ricardo Reis na sua casa
• Beijo entre Ricardo Reis e Marcenda: atração física e espiritual

Cap. XII • Ricardo Reis escreve uma carta a Marcenda


• Ricardo Reis começa a dar consultas, em substituição de um médico, na
Praça Luís de Camões e escreve nova carta a Marcenda, dando conta
disso
• Aclamação de Hitler na Alemanha
• Sofrimento dos portugueses: fome e privação
• Festejo da Páscoa: bodo geral pelo país oferecido pelo Governo
• Receção de carta de Marcenda
• Deambulação de elétrico até ao cemitério
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. XIII • Sexto encontro com Fernando Pessoa: conversa sobre o amor, a situação
do país e a obra Mensagem
• Visão enaltecida de Salazar, o ditador português, e propaganda política
em jornais estrangeiros
• Marcenda visita Ricardo Reis no consultório; o médico pede a jovem em
casamento, mas esta rejeita-o

Cap. XIV • Marcenda despede-se por carta


• Ricardo Reis vai a Fátima com a expectativa de encontrar Marcenda

Cap. XV • Propaganda do regime ditatorial português


• Diálogo com Lídia sobre o seu irmão Daniel
• Sétimo encontro com Fernando Pessoa
• Simulacro de ataque aéreo na capital

Cap. XVI • Notícias dos jornais: revoluções na Europa; sofrimento dos portugueses –
fome e privação
• Lídia revela a Ricardo Reis a sua gravidez
• Oitavo encontro com Fernando Pessoa
Linguagem, estilo e estrutura – A ESTRUTURA DA OBRA

Cap. XVII • Participação de Victor num filme de propaganda política, de Lopes


Ribeiro
• Instabilidade política pela Europa
• Golpe militar em Espanha

Cap. XVIII • Ricardo Reis escuta as notícias pela rádio


• Ricardo Reis vê comício político de exaltação ao Estado Novo

Cap. XIX • Revolta dos


Marinheiros (8 de
setembro de 1936)
• Cruzamento da
História com a
ficção: Daniel,
irmão de Lídia
participa na revolta
• Ricardo Reis parte
com Fernando
Pessoa
Linguagem, estilo e estrutura – O TOM ORALIZANTE E A PONTUAÇÃO

Tom oralizante
Diálogo entre personagens
• Visível, “É mulher, Bravo, vejo que você se cansou de
sobretudo, nos idealidades femininas incorpóreas, trocou a
diálogos das Lídia etérea por uma Lídia de encher as mãos,
personagens, e que eu bem a vi lá no hotel, e agora está aqui à
nos comentários espera doutra dama, feito D. João nessa sua
do narrador. idade, duas em tão pouco tempo, parabéns,
• Marcado pela para mil e três já não lhe falta tudo, Obrigado,
presença do pelo que vou aprendendo os mortos ainda são
piores que os velhos, se lhes dá para falar
registo informal
perdem o tento na língua”.
(popular), ao
nível do léxico e
da sintaxe Discurso do narrador
(construção “Este aqui sou eu, dirão depois em casa à querida
frásica). esposa e os da frente enchem o papo de ar, não
os mordeu o gato raivoso mas têm aquele
mesmo ar esparvoado”.
Linguagem, estilo e estrutura – A PONTUAÇÃO | A REPRODUÇÃO DO DISCURSO NO DISCURSO

Pontuação Reprodução do
discurso no discurso
• Supressão de quase todos os • Uso peculiar do discurso
sinais de pontuação, à direto – não seguimento das
exceção da vírgula e do convenções associadas à
ponto final. formatação gráfica do
• Intencionalidade do uso da discurso direto; marcação do
pontuação: incumbir o leitor discurso direto com inicial
da tarefa de pontuar os maiúscula (início de fala) e
textos. vírgula (fim de fala).

“Já Lídia não saiu, dócil voltou atrás e veio explicar, foi sol de
pouca dura o bote fulminante, Meu irmão está na marinha,
Qual marinha, A marinha de guerra, é marinheiro do
Afonso de Albuquerque, É mais velho ou mais novo do que
tu, Fez vinte e três anos, chama-se Daniel, Também não sei
o teu apelido, O nome da minha família é Martins”.
Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Antítese
Comparação
Enumeração
Ironia

Metáfora

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Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Antítese
Oposição entre o significado de duas ou mais palavras ou
expressões, com a finalidade de destacar o contraste
entre ideias.
Com as antíteses “mar”/ “terra” e
“Aqui o mar acaba “acaba”/ “principia” realça-se a
localização geográfica de Portugal e
e a terra principia.” estabelece-se uma relação de
intertextualidade com a epopeia
camoniana, por meio da subversão
(“Aqui onde a terra se acaba e o mar
começa”).

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Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Comparação
Relação de analogia entre dois termos com o objetivo de
assinalar as suas diferenças ou semelhanças, recorrendo
a uma palavra ou expressão comparativa.

“um vulto que parece Com esta comparação


ruína de castelo” sugere-se o clima de
opressão vivido na cidade
de Lisboa.

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Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Enumeração
Apresentação ou listagem sucessiva de elementos
relacionados entre si e, geralmente, da mesma classe
gramatical, de forma a intensificar uma ideia.

“tudo isto é ilusão, Com esta enumeração


quimera, miragem descreve-se Lisboa de
criada pela movediça forma negativa,
cortina das águas que sugerindo-se a opressão
vivida no país.
descem do céu fechado.”

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Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Ironia
expressão em que se sugerem ideias ou sentimentos
contrários ou diferentes do que se diz. A interpretação
correta da ironia depende do contexto e do
entendimento do interlocutor.

“o nosso [Estado], afirmará A ironia é o recurso


a sua extraordinária força utilizado pelo
e a inteligência refletida dos narrador para criticar
o regime salazarista.
homens que o dirigem”

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Linguagem, estilo e estrutura – RECURSOS EXPRESSIVOS

Metáfora
Utilização de um termo para designar algo diferente
daquilo que designa habitualmente, a partir de
elementos que são comuns a esse termo e ao que ele
refere.

“tudo isto é ilusão, Esta metáfora remete


quimera, miragem para as condições
criada pela movediça climatéricas,
cortina das águas que acentuando o
desconforto trazido
descem do céu fechado.” pela chuva.

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Em síntese

José Saramago | O Ano da Morte de Ricardo Reis


 Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo
histórico e os acontecimentos políticos
 Deambulação geográfica e viagem literária
 Representações do amor
 Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões,
Cesário Verde e Fernando Pessoa
 Linguagem, estilo e estrutura:
– a estrutura da obra
– o tom oralizante e a pontuação
– recursos expressivos: antítese, comparação, enumeração,
ironia e metáfora
– reprodução do discurso no discurso

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