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DROGAS

Maconha
Revista Super Interessante
•Coleção para Saber Mais
•Autor: Denis Russo Burgierman
•Volume: 04
•Editora Abril, 2002
Sumário
•Introdução
•Com vocês, a Maconha
•Declarada a guerra
•Faz mal ou não faz mal?
•A proibição tem seus efeitos
•Um uso legítimo
•Geopolítica maconheira
•E agora?
Maconheiro
Segundo o Dicionário Aurélio, registra-se como:
1. Vendedor de maconha;

2. Indivíduo viciado em fumar maconha.


Efeitos Biológicos:
• Memória de curto prazo prejudicada (afeta o Hipocampo
- difícil registrar o passar do tempo;
• Foca-se exclusivamente no presente (os sentidos ficam
mais aguçados – não que funcionem melhor), sem
ocupar o cérebro com o passado;
• Dificuldade em manter uma linha de raciocínio,
vantagem – ficam mais propensos à associação livre de
idéias, sensação de aumento da criatividade e, uma
tendência a encontrar conexões engraçadas por isso ri
tanto, provocando uma falsa ironia às autoridades;
Introdução
• Financia o crime; • Abala a confiança da
• Torna a vida mais população nas
perigosa; autoridades;
• Provoca cisões • Causa danos à saúde;
familiares;
• Tira o sono de pais;
• Rachas nas sociedades;
• Gera brigas;
• Estimula a corrupção
• Incompreensão;
policial;
• Destrói vidas.
Até aí, está quase todo mundo de acordo;

A questão complica num segundo momento da


discussão:

Afinal, o que é que causa esse problema todo?

É O USO DA MACONHA OU É A PROIBIÇÃO DA


DROGA E A CONSEQÜENTE MARGINALIZAÇÃO DE
TODOS QUE ENCOSTAM NELA?
Não temos resposta, apenas dados
contestáveis e inconclusivos sobre:
• Efeitos na saúde; • O resultado das
• Razões históricas da diferentes políticas
proibição; públicas já
• Os usos ancestrais da experimentadas para
Cannabis; lidar com a questão.
• Seu potencial econômico;

... Há ainda quem acha que o assunto nem deveria ser discutido.
Essas pessoas pertencem geralmente a dois grupos:
Primeiro grupo:
Pessoas que acham errado que os outros se droguem
onde, para elas, alterar o funcionamento do cérebro é
abusar da natureza, contrariando os fundamentos da
vida;
O ser humano simplesmente não tem o direito de fazer
isso.

Segundo grupo:
Formado por pessoas que pensam que proibir a
maconha ou qualquer outra droga é uma interferência
indevida do Estado na vida privada ou na economia;

Para eles, não há nem por que estender a discussão;

A proibição é ilegítima, pronto, acabou.


Vivemos em um mundo real, o mundo dos traficantes, dos
interesses econômicos, do serviço público que funciona
melhor para uns do que para outros, das leis que nem
sempre são seguidas, das pessoas que nem sempre são
felizes.

E, temos que pensar numa política pública que funcione no


mundo real.

... Por isso ambos os grupos possuem o mesmo direito de


pensar e defender suas idéias.
... Se começarmos a pensar a sério nesse assunto e

tomarmos decisões informadas e conscientes – em vez de

ficarmos presos àqueles nobres porém irreais valores

fundamentais -, talvez possamos diminuir, e muito os

danos, as mortes, os gastos e o sofrimento provocados

pela maconha.

Não é esse o objetivo de todos?


Com vocês, a Maconha
• Cannabis sativa (Carl Von Linné, 1735);
• Forma arbustiva;
• Cresce nas condições mais adversas – do deserto
asiático à floresta tropical;
• Chega a 4 ou 5 metros de altura em poucos meses;
• Cannabis indica (Jean-Baptiste Lamarck,
aproximadamente em 1800) – variedade asiática de
porte mais baixo;
• Apresenta os dois sexos – macho e fêmea, podendo
apresentar os dois sexos em uma mesma planta;
A flor do macho produz o pólen que fecunda a fêmea, a flor
da fêmea se enche de sementes que garantirão a geração
seguinte, aí ela morre;

Quando não é fecundada, economiza a energia que


gastaria fabricando sementes e, com essa energia extra,
excreta grande quantidade de uma resina pegajosa
composta de algumas dezenas de substâncias diferentes;

A principal substância é chamada de


delta-9-tetrahidrocanabinol, o THC que serve de filtro
solar para a planta.
Como a planta é originária de desertos, ela se cobre dessa
resina para esconder-se dos danosos raios do sol;

Há THC na planta inteira, da semente ao caule;

A flor da fêmea é o órgão que possui a maior concentração


de THC;

A maconha, a droga, é essa flor;

Além da propriedade de proteção solar, possui outra – a de


grudar em algumas moléculas (receptores de
canabinóides) das paredes dos neurônios de animais,
inclusive do homem;
Quando ocorre a ligação, o receptor opera sutis mudanças
químicas dentro da célula provocando efeitos sensíveis no
raciocínio e na percepção;

O cérebro humano possui um receptor feito especialmente


para ligar-se ao THC;

Em 1992, o pesquisador israelense Ralph Mechoulam


descobre a razão pela qual temos o tal recptor – ligar-se a
outra molécula, batizada por ele de Anandamida (ananda,
em sânscrito = “felicidade”) – controle de dor, percepção do
tempo, sensação de fome e associada ao humor;

O cérebro humano produz uma substância (Anandamida)


com efeitos iguais aos do THC, em doses minúsculas.
Histórico
• Iniciou seus dias na Ásia Central – Himalaia, segundo
relatório da ONU de 1999;

• Talvez a Cannabis jamais tivesse saído daquela região


remota se não fosse por outra espécie que habitava o
mesmo lugar: Homo sapiens sapiens;

• sativa em Latim = cultivada, porque desde que a


memória alcança, o homem planta e tira proveito da
Cannabis;
... Tirar proveito!!!
Que proveito?
• Sementes muito nutritivas alimentando homens e
animais por milênios;
• Caule rico em fibras resistentes – produção de tecidos e
papéis – conhecidas como fibras de “cânhamo”, outro
nome da planta;
• O THC exerceu importante papel nas origens da
medicina e da religião de muitos povos, graças aos
efeitos farmacológicos e psicoativos;
• Nômades da Ásia Central há dez milênios atrás já
carregavam sementes de maconha a cada
deslocamento;
• A semente onde cai germina, não precisando ser
semeada por mãos humanas;
Primeiro registro concreto são marcas de corda impressas
em cacos de vaso de barro na atual Taiwan há 12000
anos;
O “Pen Ts’ao Ching, a 1ª Farmacopéia conhecida no
mundo é atribuída ao imperador chinês da época
2737 a.C. que recomenda a maconha contra dores
menstruais, reumatismo, prisão de ventre e malária;
Na Índia a erva é parte integrante da medicina ayurvédica,
utilizada no tratamento de dezenas de males, inclusive
diarréia, insolação e falta de apetite;
A região de Bengala na Índia recebeu este nome por causa
da Cannabis – Bengala vem de bhang la, “terra da
maconha”
Para o Hinduísmo, maconha é a comida favorita do deus

Shiva, que, por isso, vive o tempo todo “chapado”;

Tomar bhang – bebida com alto poder psicoativo – feita a

partir das folhas e flores trituradas da CannabisI – seria

uma forma de entrar em comunhão com Shiva;

Para a tradição Mahayana, uma das principais correntes

do Budismo, Buda passou seis anos comendo apenas uma

semente de maconha por dia;


A maconha foi largamente utilizada pela humanidade tendo
significativa importância econômica;
As pinturas dos gênios da arte eram feitas em telas de
cânhamo;
A embarcação de Cristóvão Colombo em 1496, havia 80
toneladas da planta contando o velame, as cordas e as
roupas, provavelmente trazendo as primeiras sementes
para a América;
O primeiro baseado das América foi provavelmente fumado
no Nordeste brasileiro no século XVI por um escravo
angolano;
A primeira lei do mundo moderno proibindo a maconha no
Egito partiu de Napoleão em função do comércio da planta
entre russos, franceses e ingleses;
Além de tecidos, mais de 80% do papel vinha da
Cannabis, inclusive a primeira versão da Declaração de
Independência dos E.U.A.;
Da semente extrai-se óleo para fabricação de tintas;
Dezenas de remédios nas farmácias continham o cânhamo
entre os ingredientes;
George Washington e Thomas Jefferson, dois dos pais
fundadores da nação americana, plantavam maconha;
Ainda quando começou o século XX, portanto, a relação

entre o Homo sapiens sapiens e a Cannabis sativa era de

relativa paz;

A planta representava a principal cultura agrícola do

planeta;

Difícil acreditar que a situação estivesse prestes a mudar

tão radicalmente.
Declarada a Guerra

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