ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) MAX WEBER (1864-1920) Prof. Dra. Thais Alves Marinho Por que a educação para Émile Durkheim tem uma função moral? Durkheim busca consolidar a sociologia como ciência do conhecimento, e por isso buscou determinar o objeto e um método sociológico. Dentro da concepção positivista a sociologia deve ser uma ciência objetiva, e por isso, ele propões “ver o fato social como coisa”, ou seja, analisar os fatos sociais com objetividade, sem envolver a subjetividade. Para atender a essa proposta, as opiniões pessoais dos sociólogos não devem se misturar às teorias que eles formulam. Em segundo lugar, deve-se partir das coisas para as ideias a fim de se chegar à verdade científica. Em terceiro lugar, os fatos sociais devem constituir o objeto de estudo da sociologia. Por fatos sociais entende-se formas de pensar e de agir que são comuns em meio à sociedade (geral), que são independentes das manifestações individuais (externos) e que se impõe ao indivíduo coercitivamente (coercitivos). As diferentes funções da nova sociedade industrial não estavam reguladas, visto que existiam constantes conflitos entre empresários de setores distintos por causa da concorrência e entre estes e os trabalhadores assalariados devido às lutas por melhores salários. O desenvolvimento econômico e técnico não foi acompanhado por um desenvolvimento moral, e isso gerou segundo Durkheim um estado de anomia. A sociedade industrial passa por uma crise moral, principalmente no setor industrial e comercial. Durkheim ressalta a importância dos fatos morais na integração dos homens à vida social. Moral é tudo o que é fonte de solidariedade, tudo o que força o indivíduo a contar com seu próximo, a regular seus movimentos com base em outra coisa que não os impulsos de seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosa e fortes são estes laços. Durkheim apegado aos princípios positivistas iluministas do século XIX defende que a educação tem uma função moral, que busca através da socialização superar o individualismo crescente nas sociedades industriais ocasionado pela alta divisão do trabalho. Quanto mais individualista em termos de crenças e valores é uma sociedade, mais importante se torna resolver o problema de como preservar uma parte da consciência coletiva, vista como o cimento moral da solidariedade humana. Assim, a educação assume a condição de pedra fundamental de preservação da coesão social, é essencialmente o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. No entanto, devido a crescente diferenciação entre os diversos grupos, castas e classes que compõem a sociedade moderna, a educação adequada é aquela própria ao meio moral que cada um compartilha. Por que a educação para Weber tem uma função de desencantamento? Para Weber os indivíduos são livres pra darem sentido pra suas ações sociais, no entanto, é comum que determinada ordem se estabeleça nos grupos sociais. Essa ordem com frequência passa a dominar as motivações e sentidos individuais dados às ações sociais, até o ponto de existirem relações sociais, ou seja, reciprocidade nos significados dados às ações. Weber analisa que a ordem dominante passou a ser racionalizada e burocratizada, o que alterou radicalmente os modos de educar. Agora a lógica da educação estava em racionalizar, orientar o indivíduo para o lucro, o cálculo de custos e benefícios o que requer profissionais treinados e que visem objetivos, livre de concepções mágicas e de desígnos sobrenaturais, ou seja, desencantado. A educação, a medida que a sociedade se racionaliza, se torna um fator de estratificação social, um meio de distinção e obtenção de honras, poder e dinheiro. No modelo ideal weberiano a educação é portanto socialmente direcionada a três tipos de finalidades: despertar o carisma, preparar o aluno para uma conduta de vida e transmitir conhecimento especializado. Mas que ao invés de qualificar culturalmente como nas sociedades dominadas pelas formas tradicionais, ou despertar o carisma, como nas sociedades dominadas pelo carisma, a educação estava sendo moldada apenas para uma pedagogia do treinamento, com o objetivo de tornar o indivíduo um perito. Ele via, então, que esse modelo de educação impossibilitava o desenvolvimento do talento humano e escraviza o homem a um só jeito de pensar. Para Weber a educação na sociedade moderna passou a ser um pacote de conteúdos e de disposições voltados para o treinamento de indivíduos que tivessem de fato condições de operar as novas funções que surgiram a partir do processo de racionalização e burocratização do Estado, da economia e da própria vida cotidiana, que passa a ser orientada pela lógica do lucro, do cálculo de custos e benefícios e precisa de profissionais treinados para isso. Assim o indivíduo moderno deveria ser livre de concepções mágicas, para a qual não existe mais lugar reservado à obediência que não seja a obediência ao direito racional. Assim, a educação não é mais a preparação que o membro do todo orgânico aprenda sua parte no comportamento harmônico do organismo social, como propôs Durkheim. Não é tampouco vista como possibilidade de emancipação com base na ruptura com a alienação como propôs Marx. Ela passa a ser na medida em que a sociedade se racionaliza, historicamente, um fator de estratificação social, um meio de distinção, de obtenção de honras, de prebendas e poder e de dinheiro. Assim a educação deveria despertar o carisma, preparar o aluno para uma conduta de vida e transmitir conhecimento especializado. Logo a educação deve produzir um homem culto, de acordo com o ideal de cultura de onde está inserido e que implica em prepará-lo para certos tipos de comportamento interior (ou seja, para a reflexividade) e exterior (ou seja, um determinado tipo de comportamento social) que deveria ser voltado a especialização de um cargo para que ocupe uma posição de prestígio material na sociedade. Por que a educação para Marx tem uma função de emancipação? Para Marx a sociedade está organizada a partir de suas bases materiais, ou seja, o que define a organização social é a produção material de bens. Essa produção material de bens, por sua vez, é organizada pelo modo de produção. Marx observa que a lógica que motiva essa produção e organização social, é a luta de classes. Portanto, o motor da história para Marx é a luta de classes, e consequentemente a desigualdade. Ele observa que para garantir a produção material de bens, a sociedade está organizada em infraestrutura (modo de produção=economia) e superestrutura (demais instituições = estado, direito, religião, educação, família, jornalismo), e que a função desta última é garantir que a diferença entre as classes perdure. O principal instrumento utilizado pela superestrutura é a ideologia, ou seja, um sistema de regras, valores, crenças que garante aos indivíduos compreensão de mundo até o limite da conveniência da luta de classes, ou seja, a alienação. Marx entendia que a educação tinha como função a emancipação findando a alienação do trabalho provocada pela divisão do trabalho na fábrica capitalista, superando então a alienação política, econômica e ideológica da classe dominante. Nesse sentido a educação deveria muni-lo de ferramentas que possibilitassem a todos os indivíduos o acesso a todas as posições disponíveis na estrutura social. Logo a educação deveria desenvolver a percepção do conjunto do processo produtivo moderno, contemplando três dimensões: uma educação mental, uma educação física e uma educação tecnológica. Promovendo assim uma educação elementar para o trabalho intelectual, a educação do corpo tal como oferecida nos ginásios esportivos e no treinamento militar e a iniciação das crianças jovens no manejo de instrumentos e das máquinas dos diferentes ramos da indústria, tarefa que deveria ocorrer em concomitância com o trabalho das “crianças “ na fábrica, dos 9 aos 17 anos. O intuito é substituir o indivíduo parcial, “mero fragmento humano que repete sempre uma operação parcial, pelo indivíduo integralmente desenvolvido, para o qual as diferentes funções sociais não passariam de formas diferents e sucessivas de atividade “.