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Conflitos contemporâneos

O organismo Parque Augusta, a inspeção imobiliária e o direito a cidade


O organismo Parque Augusta
Denominados pelos integrantes como: “exemplo de espaço vivo e organicamente gerado” o Parque Augusta, localizado
num terreno de 24.000 metros quadrados entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, possui uma área
que abriga um bosque tombado formado por mais de 700 árvores, a última área verde preservada na região central da
maior cidade do hemisfério sul do planeta. A briga por um projeto de parque vivo e público ganhou força após a grande
movimentação ocorrida na cidade depois de junho de 2013, com grande influencia das manifestações realizadas na cidade
a partir do mesmo mês, manifestações estas que deram um novo significado ao centro da metrópole, o qual se tornou a
palco das reivindicações, dando força aos protagonistas jovens a tomarem atitudes em relação aos encaminhamentos e
desenvolvimentos da metrópole.
 O grupo que leva o projeto adiante organiza-se de forma horizontal e autogestionário, onde as
decisões acerca do que será realizado são tomadas em assembleias abertas e grupos de
trabalhos colaborativos, seu sentido público se mostram claramente através dos dizeres
encontrados no “Quem somos nós” do movimento. “Vivo porque é como se ele nos conduzisse a todos, chamando em sua ajuda
os mais diversos esforços e atores. Aqui as mais diversas concepções
políticas e existenciais convivem no espaço público; aqui a noção de
PÚBLICO, coisa pública, é também condição para que a Pluralidade possa
criar raízes e ser respeitada. Orgânico porque nasce naturalmente, sem
decreto, sem adubo, sem inseminação politiqueira, sem agrotóxicas
negociatas… vem antes mesmo da lei, num processo protagonizado
diretamente pelos cidadãos, apresenta-se, pacífica e democraticamente
enquanto Parque e depois a normatização vem consagrá-lo.”

O parque, que se mostrou uma área verde muito maior do que a imaginada, passou a ser o
palco de muitos ativistas que tem a intenção de melhorar a qualidade de vida no centro da
cidade, mantendo o parque ao invés de investir na construção de mais uma moradia privada
de alto custo para os que ai residirão. Sendo assim, a partir de julho, os jovens passaram a
ocupar o espaço, e ativa-lo com produções culturais, artísticas e ambientais, o parque
enfim, passou a ter mais vida, e seu espaço passou a ser utilizado por todos que tinham
interesse em compartilhar um ambiente agradável, e verde no meio da cidade cinzenta.
O Conflito
• Engavetado desde 2007 o projeto de Lei Parque Augusta e a sanção por parte do prefeito Fernando Haddad
aconteceu no dia 23 de dezembro, com sua publicação no diário oficial no dia seguinte

• Alegação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, juntamente com a prefeitura de São Paulo comunicando a falta
de dinheiro para a realização do parque, o fato do terreno não ser da prefeitura e de necessitar de um processo de
expropriação do mesmo encareceria demais o projeto.

• Após pesquisa realizada pelos integrantes do movimento junto ao cartório de registro de imóveis descobriu-se que a
alegada transferência de título foi rejeitada pelas autoridades avaliadoras competentes, justamente com base no
direito de preferência assegurado ao poder executivo municipal. Do ponto de vista jurídico, com a sanção da lei
345/2006, fica caracterizada a utilização do direito de preferência por parte da prefeitura e extinta a propriedade
do terreno, restando aos antigos proprietários apenas a posse do mesmo, que se extinguirá na conclusão do
processo de desapropriação. Posse esta que impede o detentor de qualquer negociação envolvendo a área.

• A solução proposta pela construtora interessada na área era a de erguer duas torres e manter a área de
preservação do bosque, área essa tombada pelo patrimônio histórico. Tal proposta foi negada pelos integrantes do

movimento, que alegam querer um parque vivo, público e orgânico.


Principais Objetivos e reivindicações
 Abertura imediata do portão e garantia de acesso ao terreno de interesse público, fechado por ação

unilateral dos atuais proprietários

 Realizar a transferência da propriedade dos lotes que formam o Parque, tanto a área do estacionamento

quanto o bosque, para a Prefeitura do Município de São Paulo, garantindo a existência do parque público em

sua totalidade territorial e sem empreendimentos privados

 Considerar o valor venal para qualquer possibilidade de aquisição

 Desenvolver e aplicar um projeto para a gestão do parque integralmente baseado na participação popular

 Pesquisar e propor alternativas de financiamento das atividades e manutenção do parque, alternativas

para gestão sustentável dos recursos físicos e financeiros, possibilitando uma autogestão efetiva e não

pautada pelo mercado imobiliário

 Garantia da integridade física dos espaços verdes existentes na cidade


Trazendo o debate para o campo da Ciências sociais
Dentro da perspectiva de espaço e lugar e a própria relação entre cidadão e cidade é possível encontrar
em diversas publicações do organismo Parque Augusta a presença da cultura juvenil nos espaços públicos
da cidade, são esses territórios que informam as práticas cotidianas, seus valores e suas estéticas. De
modo a demonstrar que a metrópole é ao mesmo tempo do consumo simbólico e suporte da expressão do
imaginário e da visão de mundo de quem a ocupa.
As mudanças do século XX traz ao capital econômico um significado cada vez mais marcante, e com a
globalização, as dinâmicas antes conhecidas como: a demográfica urbana, ambiental, social e econômica
passam por drásticas alterações; padrões antes desconhecidos passam a ser aceitos. Ainda com
influencia do ajuste fiscal e do aumento populacional, a população da cidade sente na pele os novos
rumos que a metrópole toma. A leis, os direitos, a economia da metrópole voltam-se não para um bem
comum, mas a um bem capital, a sua proliferação, idealizando o Primeiro Mundo deixam de promover
uma qualidade de vida que atinja a todos os moradores. Os benefícios das politicas publicas ao invés de
serem distribuídos igualmente são voltados para uma classe especifica.
Sociologia do cotidiano: vadiar sociológico
 O trilhar sociológico das rotas do cotidiano não obedece a uma lógica de “demonstração”, mas antes a uma lógica
de “descoberta”, na qual a realidade social se insinua, conjectura e indicia, através de uma percepção descontínua
e saltitada de um olhar que a Sociologia do Cotidiano exercita no seu vadiar sociológico. Essa sociologia do
quotidiano se opõe a sociologia que privilegia os fatos e causalidades e os compostos da repercussão das “causas
estruturais” ao conceber a vida quotidiana como uma trama de condutas diversas sobre “ser e estar”, de modo
que coloca a si mesma o desafio de revelar a vivência social através da conjuntura da rotina.
Tanto Bauman como José Machado Pais, colocam questões pontuais para a
construção sobre o momento que vivemos agora. A condição imposta sobre a
concepção do tempo-espaço atual e a implicações desses na sociedade requer uma
análise que utiliza-se da sociologia do quotidiano, pois através disso é possível
considerar as vivencias sociais sobre a conjuntura da rotina.

A partir dessa questão pode-se colocar em discussão o direito a cidade. É comum


ouvir dos gestores públicos, geralmente um discurso completamente separado da
prática, esses gestores, deixam de lado um elemento de grande importância ao direito
à cidade, ou seja, as pessoas que fazem a cidade no seu cotidiano. Não apenas as que
atravessam a cidade da zona sul ao norte para vender sua força de trabalho num
chão de fábrica ou as que fazem o trajeto da zona leste a oeste na intenção de catar
materiais recicláveis e, ainda, aquelas que passam o dia pelo centro, indo de uma
agência de emprego a outra. Mas também aquelas que se sentam lado a lado afim de
discutir os problemas enfrentados na cidade, buscando a criação de soluções, tomado
para as nossas próprias mãos, fazendo um movimento político e social,
diferentemente das realizações dos parlamentos e dos gabinetes. Isso nada mais é do
que a releitura de nós mesmos, tendo o entendimento de que a mudança é obra de
todos e todas que vivem nas cidades, de modo a aplicar a sociologia do cotidiano a
nossas vidas, para que assim possamos lidar melhor com a nova condição do tempo-
espaço que somos sujeitados a vivenciar hoje.

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