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Falência e Recuperação de

Empresas
JANAÍNA MUNIZ DA SILVA
1. A tutela jurídica do Empresário em crise e a
aplicabilidade da Lei 11.101/05
• 1.1 A contingência da empresa em crise e a concepção do instituto da Recuperação de empresas como
solução legal para superação da crise econômico-financeira do empresário.

• 1.2 Pressupostos legais da Lei. Normativa precedente. Objeto da norma:


- art. 47 LRF (“A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica.”
- Substitui o Decreto-lei 7661-1945.
- Consolida uma proposta de Direito Falimentar prevenir crises, recuperar empresas em crise, liquidar as
não recuperáveis; punir os culpados.

1.3 A falência como última ratio para extirpar do mercado a empresa economicamente inviável
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
2.1 Conceito e fundamentos
Consiste numa série de atos praticados sob supervisão judicial, destinados
a reestruturar e manter em funcionamento a empresa em dificuldades
financeiras temporárias. (Fábio Ulhoa Coelho)

- Isto porque a repercussão da crise no âmbito social não poderia ser


deixada a “ermo” pelo Estado
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
2.2 Requisitos à apresentação do pleito e condições para o seu deferimento

2.2.1 Campo de incidência


Empresários e Sociedades Empresárias.
- Excluídos: Estatais, Instituições financeiras ou equiparadas*

2.2.2 Obrigações não- exigíveis


A título gratuito (Ex. doações)
Fiança de mero favor, prestadas no âmbito do mesmo grupo empresarial
Despesas judiciais contraídas pelo credor para tomar parte da ação judicial

2.2.3 Créditos abrangidos e excluídos da Recuperação:


Abrangidos: todos os existentes à data do pedido, mesmo que não vencidos.
Excluídos: Fiscais – proprietários – arrendamentos – reserva de domínio.
ESTATÍSTICAS

Aumento de 44.8 % em 2016

2015 – 1287 pedidos


2016 – 1886 pedidos
2. O instituto da Recuperação Judicial e
seus desdobramentos
• 2.2.4 Peticionamento inicial e processamento da recuperação

Inicia-se com a apresentação de requerimento pelo devedor, na forma dos


arts. 319 NCPC e art. 51 da LRF, acompanhado dos documentos que
comprovam que a crise da empresa é circunstancial. Com o deferimento dá-
se oficialmente início ao processo com a adoção, pelo magistrado, das
medidas essenciais à viabilização das negociações do devedor
(hipossuficiente) com os seus credores:
Quem pode pedir recuperação?
• Art. 48.
Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada
em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial
com base no plano especial de recuperação;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação
dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Foro
• Onde a empresa tiver o maior número de bens
Petição inicial – Recuperação
• Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:
• I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e
das razões da crise econômico-financeira;
• II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios
sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com
estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de:
• a) balanço patrimonial;
• b) demonstração de resultados acumulados;
• c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
• d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
• III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por
obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a
• natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o
regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada
transação pendente;
• IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções,
salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de
competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
• V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
• VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores
do devedor;
• VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais
aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou
em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
• VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio
ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
• IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este
figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos
respectivos valores demandados.
• § 1o Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares,
na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do
administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado.
• § 2o Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as
microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e
escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica.
• § 3o O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que
se referem os §§ 1o e 2o deste artigo ou de cópia destes.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
2.3 O processamento da Recuperação, as consequências legais do deferimento e as
etapas que lhe sucedem:

a) suspensão da prescrição, ações e execuções em face do devedor (180 dias)


b) prevenção da jurisdição – “Juízo Universal"
c) Constituição de administrador judicial
d) habilitação de credores (abertura de prazo para a habilitação e impugnações)
e) Apresentação e análise do plano de Recuperação.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos

• 2.4 Dos sujeitos envolvidos na Recuperação e as deliberações que lhes competem:


2.4.1 o papel do Administrador judicial e da Assembleia Geral de credores

2.4.1.1 Administrador judicial


(art. 31 LRF)

“Síndico da coisa comum”, assume o papel de fiscalizar o devedor em recuperação e


administrar a massa falida. Escolhido pelo juiz entre pessoas* de idoneidade moral e
financeira, dotadas de confiabilidade e imparcialidade.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
• 2.4.2 Credores

Atuarão na RJ durante as fases administrativas e judiciais da demanda, isolada ou


coletivamente através da Assembleia Geral ou Comissão de Credores (quando
opinarão sobre a viabilidade do plano de recuperação judicial).

Verificação de créditos: composta por uma fase administrativa obrigatória


(habilitação) e contenciosa eventual (impugnação à relação de credores)

Obs: a doutrina e jurisprudência vêm admitindo a impugnação retardatária sob o


argumento de que a RELAÇÃO DE CREDORES não pode ter efeito constitutivo de
crédito, formando coisa julgada sem decisão judicial.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
• Do Plano de recuperação judicial
Conteúdo do plano:
- Laudo de avaliação econômico-financeira
- Demonstração de viabilidade econômica
- Discriminação dos meios de recuperação:

Sua aprovação importará na novação das dívidas do devedor-empresário. A não


aprovação, por sua vez, implica na convolação da RJ em Falência.
Após apresentado abre-se prazo de 30 dias para apresentação de impugnações
Alternativas previstas em lei para proposta
de Recuperação (art. 50)
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros:
• I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas;
• II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou
cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;
• III – alteração do controle societário;
• IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos
administrativos;
• V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder de veto em
relação às matérias que o plano especificar;
• VI – aumento de capital social;
• VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios
empregados;
• VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou convenção
coletiva;
• IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria
ou de terceiro;
• X – constituição de sociedade de credores;
• XI – venda parcial dos bens;
• XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo
como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se
inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
• XIII – usufruto da empresa;
• XIV – administração compartilhada;
• XV – emissão de valores mobiliários;
• XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor.
• § 1o Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou sua
substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da
respectiva garantia.
• § 2o Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada como
parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor
titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de
recuperação judicial.
Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de
recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação
de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei.
Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput deste
artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo único, desta
Lei, contar-se-á da publicação deste o prazo para as objeções.

Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o


juiz convocará a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano de
recuperação.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
• 2.5 Prazos na Recuperação Judicial à luz do Novo CPC
- a nova contagem dos prazos processuais em dias úteis:

a) Impugnação após a apresentação do quadro de credores (processo de


conhecimento)
b) Prazos de natureza processual

- o tratamento legal do stay period (automatic stay) e do prazo para


apresentação do plano à luz da jurisprudência do STJ – decisão da 4ª Turma, em
10/04/2018 (prazos em dias corridos).
• Primeiros 30 dias após o deferimento da recuperação, deverão ser pagos os
últimos 3 meses de salário dos empregados, e no primeiro ano após a
recuperação, deverão ser honrados os créditos trabalhistas:

Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um)
ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes
de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.
Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias
para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos
créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao
pedido de recuperação judicial.
2. O instituto da Recuperação Judicial e seus
desdobramentos
• 2.6 Execução e encerramento da Recuperação Judicial
Concedida a Recuperação por sentença, a empresa recuperanda ficará sob
supervisão judicial pelo prazo de dois anos. Constatado o cumprimento de todos
os compromissos avençados no plano, o juiz poderá encerrar a R.J. (mesmo que
ainda existam obrigações com prazo ainda em curso).

• 2.7 A hipótese do não êxito e a convolação da Recuperação em Falência.


Não sendo o plano apresentado no prazo legal, sendo rejeitado pela AGC, ou
descumpridos os compromissos arbitrados no plano, a recuperação judicial do
devedor será convolada em Falência.
3. Disposições comuns à Recuperação e à à Falência e as
particularidades do instituto

Disposições gerais
(arts. 5° e 6° da LRF)

Disposições relativas à verificação e habilitação de créditos (arts. 7° ao 20°)

Disposições relativas ao Administrador Judicial e ao Comitê de Credores

Disposições relativas à Assembleia Geral de Credores


REFERÊNCIAS
Bibliografia Básica
• BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falências: Lei 11.101/2005, comentada artigo
por artigo. 13ªed. rev. atual. Ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2018.
• DONIZETTI, Eupídio. Curso didático de Direito Processual Civil. 20ª Ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2017.
• TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional da Empresa. Rio de Janeiro. Forense. São Paulo. Método. 2013
• TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. Falências e Recuperação de Empresas. 9ª edição revista e
atualizada. São Paulo: Editora Saraiva. 2018, v. 2.
Bibliografia Complementar
• CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa. 8 ed.São Paulo, Saraiva, Renovar, 2017.
• COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 20ª Ed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2017, v. 1.
• DA SILVA, Regina Beatriz Tavares. Código Civil Comentado. 8ª Edição revista e atualizada. Ed. Saraiva. 2010
• FAZZIO JUNIOR, Waldo. Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2015.
• FORGIONI, Paula A. A evolução do direito comercial brasileiro: da mercancia ao mercado. São Paulo: RT, 2009.
• FRANCO, Vera Helena; SZTAJN, Rachel. Manual de direito comercial. São Paulo: RT. 2005.
• GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil. Volume único. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho – 2ª
Edição. São Paulo. 2018
• GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa. 4. ed. São Paulo: RT, 2012.
• FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de direito comercial. 26ª São Paulo: Malheiros, 2003. Vol.1
• NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 1.
• RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa: Lei nº 10.406/2002. Rio de Janeiro: Forense,
• REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1.
• SILVA, Américo Luiz Martins da. Registro Público da atividade empresarial. Rio de Janeiro, Forense, 2002
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