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Teologia Sistemática 4

Pneumatologia

Prof. Cláudio de Carvalho


FATESB – Janeiro/2019
Neste estudo, vamos buscar entender a doutrina do
Espírito Santo à luz do ensino claro e
uniforme das Escrituras, com humildade e dependência
do mesmo Espírito,
“procurando cuidadosamente manter a unidade do
Espírito no vínculo da paz” – Ef. 4.3
Abordaremos a natureza do Espírito Santo, as etapas
do seu ministério na Bíblia, o batismo no Espírito Santo
e a sua obra na vida cristã, e também o dons espirituais
Vamos também discutir um pouco sobre:
• A importância da doutrina do Espírito Santo
• Dificuldades na compreensão do Espírito Santo
• A natureza do Espírito Santo
(a divindade e a personalidade do Espírito Santo)
• Implicações da doutrina do Espírito Santo
Nos estudos antigos de Teologia Sistemática não era
comum ter um capítulo específico para o estudo do
Espírito Santo, que era normalmente feito em conjunto
com o estudo da Trindade.
O século XX presenciou um aumento notável no
interesse do estudo do Espírito Santo e dos dons
espirituais.
Esse aumento foi especificamente por causa do
crescimento dos movimentos pentecostal e carismático
nas igrejas.
Pentecostal refere-se a qualquer denominação ou grupo
que tem sua origem histórica no reavivamento pentecostal
que ocorrido em 1901.
Os pentecostais sustentam que:
a)O batismo no Espírito Santo é um evento subsequente à
conversão;
b)O batismo no Espírito Santo torna-se evidente pelo sinal
de falar em língua;
c)Todos os dons espirituais mencionados no Novo
Testamento devem ser buscados e usados nos dias de
hoje.
O termo carismático se refere a quaisquer grupos ou pessoas
que tem origem histórica no movimento de renovação
carismática dos anos 1960 e 1970 .
Procuram praticar todos os dons espirituais mencionados no
Novo Testamento (incluindo profecia, cura, milagres, línguas ,
interpretação e discernimento de espíritos) ;
Permitem perspectivas diferentes sobre se o batismo no
Espírito Santo é subsequente à conversão e se línguas é ou
não um sinal do batismo no Espírito Santo;
Os carismáticos geralmente não formam novas
denominações, mas veem-se como força de renovação em
igrejas protestantes ou católicas.
Quem é o Espírito Santo?
Por que devemos estudar o Espírito Santo?
Que são dons espirituais?
Quantos dons existem?
Alguns dons cessaram?
Devemos buscar os dons espirituais?
Em que momento o crente é batizado no Espírito
Santo?
Motivos para o estudo do Espírito Santo
• Ele é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal para o
que crê;
• Em geral pensamos no pai como alguém transcendente
e bem longe;
• O filho parece muito distante na história. Traz Deus mais
próximo, mas é incognoscível;
• O Espírito Santo é ativo na vida dos que creem;
• Ele é a pessoa da Trindade por meio de quem toda a
Divindade Triúna atua em nós.
A obra do pai foi a mais notável no período do Antigo
Testamento;
O filho no período que começa nos evangelhos e
termina na ascensão;
O Espírito Santo vem ocupando a cena desde o tempo
do Pentecostes;
É por meio do Espírito Santo que experimentamos
Deus, Deus se torna tangível para nós através da sua
obra.
A dificuldade para a compreensão do Espírito Santo está no
fato de que:
• Temos na Bíblia menos revelações explicitas a respeito do
Espírito Santo do que os outros membros da Trindade;
• Não há discussões sistemáticas a respeito do Espírito
Santo;
• A única discussão ampla é o discurso de Jesus em Jo. 14-16
• Deus é pai, Jesus é Filho e o Espírito é intangível e difícil de
visualizar;
• Terminologia infeliz da versão King James (Holy Ghost) –
Fantasma Santo.
Principais nomes dados ao Espírito Santo nas Escrituras:
• Espírito de Deus (Rm 8.9),
• Espírito de Cristo (Rm 8.9),
• Espírito do Senhor (2Co 3.17),
• Consolador, Conselheiro (Jo 14.16),
• Espírito Santo (1Co 6.19)

O Espírito Santo é identificado como


• Espírito de Deus, o Espírito de Cristo (Rm 8.9,14; Gl 4.6);
• o próprio Cristo (2Co 3.17).
• O Espírito é um só (1Co 12.13; Ef 2.18; 4.4).
O Espírito Santo recebe vários títulos.

• É o “Espírito da verdade” (Jo. 14.17; 15.26; 16.13), que


revela a verdade em Cristo e guia os discípulos a toda a
verdade.
• É o “Espírito de santidade” (Rm 1.4), que santifica os
chamados de Deus.
• É o “Espírito da vida” (Rm 8.2), que dá vida espiritual e
liberta da lei do pecado e da morte.
• É o “Espírito de adoção” (Rm 8.15), que capacita o crente
a se dirigir a Deus como Pai.
• É o “Espírito da graça” (Hb 10.29), que está graciosamente
agindo na salvação trazida por Cristo.
• É o “Espírito da glória” (1Pe 4.14), que garante a glória por
vir dos filhos de Deus.
• É o “Espírito eterno” (Hb 9.14), que mediou o sacrifício de
Cristo no tempo e na história.
O Espírito Santo tem também vários símbolos,
representando as suas várias operações.
Por ser intangível, invisível e imaterial, os símbolos nos
ajudam a compreender suas ações. Ele é representado pelo:
• “fôlego da vida” (Ez 37.5),
• “fogo” que purifica (Mt 3.11,12; Lc 3.16),
• “água viva” (Jo 7.37-39),
• “pomba” que desce sobre Jesus (Lc 3.22; Jo 1.32),
• “selo” de Deus nos salvos (Ef 1.13,14; 4.30),
• “óleo” divino derramado sobre os escolhidos de Deus
(1Sm 16.12,13; Lc 4.18; 1Jo 2.20,27).
O Espírito Santo não é mera energia ou poder impessoal; ele
é um ser pessoal.
Destacamos quatro fatos que evidenciam a sua
pessoalidade, portanto tem as propriedades básicas de uma
pessoa.
• inteligência (1Co 2.10-12),
• consciência própria, de si mesmo como sendo distinto de
outros seres (Jo 16,13,14),
• autodeterminação (1Co 12.11),
• consciência moral (Gl 5.16,17).
O Espírito Santo age como uma pessoa.
• Ele fala (At 13.2; Ap 2.7),
• ensina (Jo 14.26),
• convence (Jo 16.8-11),
• intercede (Rm 8.26),
• dá testemunho de Jesus (Jo 15.26);
• guia os crentes (At 8.14,29),
• dirige os missionários na obra (At. 16.6,7),
• constitui pastores nas igrejas (At 20.28),
• distribui dons (1Co 12.7-12).
O Espírito Santo pode ser atingido como uma pessoa.
• Ele pode ser atingido pela mentira dos homens (At 5.3,4),
• ser insultado (Hb 10.29),
• blasfemado (Mt 12.31,32),
• entristecido (Ef 4.30).

Ele não poderia ser afetado por estas coisas se não fosse de
natureza pessoal.
O Espírito Santo é chamado de “Paracleto” (Jo 14.16).
O nome parácleto, dado ao Espírito Santo, significa
ajudador, advogado, consolador, conselheiro.
Indica função própria de uma pessoa, capaz de ajudar outras
(Jo 14.26; 1Jo 2.1).
Além disto, ele é “outro Parácleto”, que veio para ocupar o
lugar de Jesus na terra e continuar a obra da redenção.
Sua função, portanto, requer que ele seja um ser pessoal,
como Jesus.
O Espírito Santo é um ser pessoal divino, a terceira pessoa da
Trindade. Os três fatos seguintes evidenciam a sua divindade.
1. Ele é chamado Deus.
O apóstolo Pedro disse a Ananias que ele mentiu ao Espírito
Santo, e que essa mentira foi feita a Deus:
“Ananias, por que Satanás encheu o teu coração, para que
mentisses ao Espírito Santo?... Não mentistes aos homens,
mas a Deus” (At 5.3,4).
O Espírito Santo é apresentado aqui como sendo Deus,
contra quem Ananias havia pecado.
2. O Espírito Santo possui os atributos de Deus.
As qualidades inseparáveis de Deus - os atributos divinos -
são também qualidades atribuídas ao Espírito Santo.
É dito que ele é
 eterno (Hb 9.14),
 onisciente (SI 139.1-6; ICo 2.10,11),
 onipresente (SI 139.7),
 onipotente (Gn 1.2; Lc 1.35).

Esses atributos evidenciam sua divindade.


3. as obras de Deus são atribuídas ao Espírito Santo.
A Bíblia atribui ao Espírito Santo:
 a criação do mundo (Gn 1.2; Jó 33.4),
 a regeneração (Tt 3.5),
 a justificação e a santificação (ICo 6.11),
 a ressurreição (Rm8.11),

Mensagens dadas por Deus no Antigo Testamento aparecem


como sendo do Espírito Santo no Novo Testamento (Is 6.8,9
comp. At 28.25,26; Jr 31.33,34 comp. Hb 10.15,16).
Concluímos que o Espírito Santo é Deus invisível, presente
conosco e em nós, com quem nos relacionamos em nome de
Cristo.
Nossa subordinação ao Senhor Jesus há de ser expressa
numa relação pessoal consciente nossa com o Espírito Santo.
Sendo divino, o Espírito Santo deve merecer de nós a mesma
honra e reverência que dispensamos ao Pai e ao Filho.
Ele não é inferior ao Pai e ao Filho em sua natureza essencial.
O Espírito Santo se revela atuando em toda a história
bíblica, de Gênesis ao Apocalipse.

Sua atuação pode ser vista sob três etapas: no Antigo


Testamento, nos Evangelhos, e em Atos e Epístolas.

Cada etapa representa um modo especial da atuação do


Espírito de Deus na história relatada na Bíblia, abrangendo a
criação, a providência e a redenção.
Na criação.
Quando a terra ainda era “sem forma e vazia... O Espírito de
Deus pairava sobre a face das águas” (Gn 1.2).
A ideia é que ele estava gerando as coisas e estabelecendo
ordem no caos (Jó 26.13).

Na história de Israel.
Conferindo poderes especiais a certas pessoas para realização
de obras específicas. (Ex 31.2-5 – artífices construtores do
tabernáculo) e (Jz 11.29,32; 14.6 – Juízes libertadores de Israel)
Na revelação.
O Espírito dava aos profetas o conhecimento da vontade e
dos desígnios de Deus, bem como o poder para comunicarem
a mensagem divina.
A verdadeira profecia resultava da ação do Espírito de Deus
sobre os profetas (cf. Nm 11.25; Ez 2.2; 8.3; 11.1,24).

No caráter de pessoas.
O Espírito atuava também na vida moral e espiritual das
pessoas que ele escolhia para andarem com ele, instruindo e
mudando o seu modo de viver (SI 51.11; Ne 9.20).
O salmista orava:
“Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu
Deus. Que o teu bom Espírito me guie por caminho
plano” (SI 143.10).

Alguns resistiram o Espírito de Deus, como disse Isaías:


“Mas eles se rebelaram e entristeceram o seu santo
Espírito” (Is 63.10).
O Espírito agiria no Messias.
O profeta dizia:
“O Espírito do Senhor repousará sobre ele [Messias], o
espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de
conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de
temor do Senhor” (Is 11.2).
Deus afirmou na profecia:
“pus o meu Espírito sobre ele” (Is42.1).
E o futuro Messias então diria:

“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o


Senhor me ungiu me para levar boas noticias aos
pobres...” (Is 61.1).

Esta promessa de Deus de ungir o Messias com o seu Espírito


cumpriu-se plenamente na vida de Jesus, conforme o
registro dos Evangelhos, quando lhe entregaram o livro do
Profeta Isaías no templo. (cf. Lc 4.18).
O Espírito seria derramado sobre todos.
O profeta Isaías fala de um estado de calamidade do povo de
Deus que vai durar “até que se derrame sobre nós o
Espírito lá do alto” (Is 32.15).

Deus mesmo promete: “derramarei o meu Espírito sobre a


tua posteridade” (Is 44.3b).
Através do profeta Ezequiel, Deus diz: “nem deles
esconderei mais o rosto, pois derramarei o meu Espírito
sobre a casa de Israel” (Ez 39.29).
A profecia mais conhecia neste sentido é a de Joel: “Depois
disso, derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas;...
até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu
Espírito naqueles dias” (J1 2.28,29).
Promessa cumprida no dia de Pentecostes (At 2)

Estas duas promessas - que o Espírito ungiria o Messias e


que seria derramamento sobre todos - cumpriram-se no
Novo Testamento, e representam, respectivamente, a
segunda e a terceira etapas do ministério do Espírito na
revelação bíblica.
A descrição da segunda etapa do ministério do Espírito
Santo está nos Evangelhos.

Ele atuou de forma especial na vida de Jesus Cristo:


• Ele gerou Jesus (Lc 1.35),
• Desceu sobre ele no batismo (Jo 1.32,33),
• Guiou Jesus ao deserto para ser tentado (Mt 4.1; Lc 4.1),
• Capacitou o Mestre para ensinar, pregar e realizar obras
poderosas (Lc 4.18; At 10.38; Mt 12.27,28).
Além disto, somos informados por outras partes da Bíblia que
o Espírito Santo guiou Jesus na morte (Hb 9.14), ressuscitou-o
(Rm 8.11) e capacitou o Senhor para dar mandamentos
depois da ressurreição (At 1.2).
Nessa época, o Espírito Santo atuava também na vida e no
ministério de João Batista (Lc 1.15) e nos discípulos de Jesus
(Jo 14.17; Jo 3.5,7).

O Espírito não estava restrito ao Filho de Deus. Ele


continuava com suas operações gerais no mundo, como no
Antigo Testamento.
O cumprimento da segunda promessa acerca do Espírito, isto
é, que ele seria derramando sobre todo o povo de Deus, inicia
é a terceira etapa do ministério do Espírito divino.

Essa promessa cumpriu-se, historicamente, no dia de


Pentecostes.

Nessa fase do seu ministério, o Espírito Santo atua de modo


especial na vida das pessoas, aplicando nelas a grande
salvação preparada por Cristo.
O cumprimento da promessa.
A promessa do derramamento do Espírito de Deus, feita
pelos profetas no Antigo Testamento, foi repetida por João
Batista (Mt 3.11) e assegurada por Jesus aos seus discípulos
(Lc 24.49; At 1.4,5).
O cumprimento histórico da promessa se deu em quatro
ocasiões, conforme o livro de Atos:
1. Em Jerusalém
Sobre os judeus (At 2.1-4,16-21). No dia de Pentecostes, isto
é, cinquenta dias após a Páscoa, realizava-se em Jerusalém
a festa religiosa dos judeus, para comemorar a colheita das
primícias dos frutos.
Foi uma ocasião propícia para o derramamento do Espírito,
porque ali estavam judeus e prosélitos de várias partes da
terra, e também porque naquele dia seria feita a primeira
colheita dos frutos do Reino a partir da obra consumada
do Messias.

O derramamento fez-se acompanhar de sinais auriculares,


que autenticavam a sua ocorrência: “um ruído como que de
um vento impetuoso (...), línguas como que de fogo”
distribuídas sobre cada um deles; “todos ficaram cheios do
Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas”.
2. Em Samaria
Sobre os samaritanos (Atos 8.14-17). Em Samaria o Espírito
foi derramado sobre os crentes samaritanos.
O Espírito veio sobre eles depois que foram batizados nas
águas, e aconteceu mediante a imposição das mãos dos
apóstolos.
Sinais miraculosos não são mencionados, mas certamente
houve, pois Simão viu que “o Espírito era dado com a
imposição das mãos dos apóstolos” (8.18), e quis comprar
com dinheiro “este poder, para que a pessoa sobre quem eu
puser as mãos receba o Espírito Santo” (v. 19).
3. Em Cesareia
Sobre os gentios (At 10.44-46). Na casa de Cornélio, o
Espírito Santo desceu ’’Enquanto Pedro ainda estava
falando”, e veio “sobre todos os que ouviam a mensagem”.
Isto aconteceu no momento quando creram, antes do
batismo nas águas, sem a imposição de mãos.

Houve sinais miraculosos, pois os judeus que estavam com


Pedro “ficaram admirados de que o dom do Espírito fosse
derramado até sobre os gentios, pois os ouviam falando em
línguas e exaltando a Deus”.
4. Em Éfeso
Sobre discípulos de João Batista (Atos 19.26).
O fenômeno se repetiu sobre um grupo que se considerava
discípulos de João Batista.
Provavelmente aquelas pessoas não conheciam o evangelho
de Cristo, pois nem tinham ouvido falar do Espírito Santo,
coisa que o próprio João Batista havia pregado.
Quando ouviram falar de Jesus, foram batizados nesse
nome.
Com a imposição das mãos do apóstolo Paulo, eles
receberam o Espírito Santo, falaram em línguas e
profetizaram
Essa diversidade no derramamento do Espírito Santo, isto é,
sobre os judeus, samaritanos, gentios, e discípulos de João
Batista, foi necessária para convencer os judeus de que a
promessa não era somente para eles, e sim para “toda a
carne”, “sobre todos os povos” (J1 2.28, NVI), “para tantos
quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39).
Foi necessária também para comprovar o fato de que a igreja
de Cristo não seria constituída somente de judeus, mas de
pessoas de todas as raças e nações da terra.
A dádiva do Espírito para todos, comprovada com sinais,
favoreceu a aceitação dos gentios na igreja cristã (At 11.17,18).
Primeiramente vamos definir o que é Pentecostes:

É uma das celebrações mais importantes do calendário


cristão e, comemora a descida do Espírito Santo.
O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo
de Páscoa, e ocorre no sétimo dia depois da celebração
da Ascensão de Jesus.
(ele ficou quarenta dias, após Sua ressurreição, dando os
últimos ensinamentos a seus discípulos.)
Se somados os três dias em que ficou na sepultura, são
quarenta e três dias.
E para os cinquenta dias que se completam da Páscoa até o
último dia da grande festa de Pentecostes, sobram sete dias.
Foram estes os dias em que os discípulos permaneceram no
cenáculo até a descida do Espírito Santo no dia de
Pentecostes.
Por esta razão o dia de Pentecostes é, às vezes, considerado o
dia do nascimento da igreja cristã.
Pentecostes é histórica e simbolicamente ligado ao festival
judaico da colheita (Shavuot), que comemora a entrega
dos Dez Mandamentos no Monte Sinai cinquenta dias depois
do Êxodo.
O Pentecostes – festa do antigo calendário bíblico, referida
com vários títulos:
Festa da Colheita ou Sega (no hebraico: hag haqasir). Por se
tratar de uma colheita de grãos (trigo e cevada), essa festa
ganhou esse nome.
Festa das Semanas (no hebraico: hag xabu'ot). A razão
desse nome está no período de tempo entre a Páscoa e esta
festa, que é de sete semanas.
Esta festa acontece cinquenta dias depois da Páscoa, com a
colheita da cevada, e o encerramento acontece com a
colheita do trigo.
Dia das Primícias dos Frutos (no hebraico: yom habikurim).
Era a entrega de uma oferta voluntária dos primeiros frutos
da terra colhidos naquela sega.
A oferta das primícias acontecia em cada uma das três
tradicionais festas do calendário bíblico.
Na primeira (Páscoa) entregava-se uma ovelha nascida
naquele ano;
na segunda (Colheita ou Semanas) entregava-se uma porção
dos primeiros grãos colhidos;
e na terceira festa (Tabernáculos ou Cabanas) o povo oferecia
os primeiros frutos da colheita de frutas, como uva, tâmara, e
especialmente figo.
Festa de Pentecostes (novo nome dado à festa)
Nos séculos III-I a.C., os gregos assumiram o controle do
mundo, impondo sua língua, que se tornou muito popular
entre os judeus.
Os nomes hebraicos (hag haqasir e hag xabu'ot) perderam as
suas atualidades e foram substituído pela
denominação Pentecostes, cujo significado é «cinquenta
dias depois (da Páscoa)».
Como o Império Grego passou a ter hegemonia em 331 a.C.,
é provável que o nome Pentecostes tenha ganhado
popularidade a partir desse período.
Despois dessas definições, vamos, agora, tratar do foco do
nosso estudo, cujo entendimento tem havido divergência e
até divisão. Consideremos duas nomenclaturas:
 Batismo no Espírito Santo
 Plenitude no Espírito Santo

Precisamos nos esforçar para entendermos o significado


bíblico do batismo no Espírito Santo e, mais que isto, devemos
ser tolerantes e amorosos para com aqueles que pensam de
modo diferente de nós, para que possamos
“guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).
O relato bíblico do batismo no Espírito.
Como que os escritores bíblicos entenderam o fenômeno do
Pentecostes?
João Batista disse que o batismo no Espírito Santo era uma
obra que Jesus iria realizar naqueles que cressem.
“Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
Jesus mesmo confirmou que ele iria batizar os discípulos com
o Espírito Santo, e que esse batismo era o cumprimento da
promessa do derramamento do Espírito.
“Não saiam de Jerusalém...” (At 1.4,5).
Pedro interpretou o acontecimento do Pentecostes como o
cumprimento da promessa e, também, como o batismo no
Espírito Santo. Disse ele:
“isto é o que foi predito pelo profeta Joel. [...]. Exaltado à
direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo
prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem” (At
2.16, 33).
Foi Jesus quem deu cumprimento a essa promessa. Mais tarde,
referindo-se ao que aconteceu no Pentecostes, Pedro disse:
“Então lembrei-me do que o Senhor tinha dito: João batizou
com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo”
(At 11.16).
Já vimos que esse batismo ou derramamento do Espírito no
evento do Pentecoste e nos subsequentes, ocorreu:

• para os cristãos judeus (em Jerusalém),


• para os cristãos samaritanos (em Samaria)
• e também para os cristãos gentílicos (em Cesaréia e
Éfeso).

Assim cumpriu-se a profecia de que o Espírito seria


derramado “sobre todos os povos” (J1 2.28).
Porém, o que significa o batismo no Espírito Santo para
aqueles que não participaram dos eventos ocorridos em
Atos?

Existe alguma experiência para eles, ou para nós, que se


possa chamar de batismo no Espírito Santo?

O que significa o batismo no Espírito Santo após o


Pentecostes?
Atualmente, há três modos básicos de entender o batismo
no Espirito Santo:

 uma interpretação na linha pentecostal,


 uma visão mais histórica,
 uma mais tradicional e comum entre muitas igrejas
históricas.
Interpretação pentecostal.
Nessa perspectiva, o batismo no Espírito Santo é um
recebimento especial do Espírito Santo pelo crente, após a
conversão, quando ele fica cheio do Espírito e de poder
espiritual.
É distinto daquele recebimento inicial, que acontece com
todos, na conversão.
Nesta interpretação, o batismo é chamado, às vezes, de
“segunda bênção”, por ser uma experiência distinta da
conversão e do recebimento inicial do Espírito, que seria a
“primeira bênção”.
Para alguns dessa linha pentecostal, a prova de que o
indivíduo foi batizado no Espírito Santo é o falar em línguas
desconhecidas.
Tomam como base as experiências ocorridas no livro de Atos,
quer dizer, em Jerusalém, em Cesareia e em Éfeso (e
possivelmente também em Samaria).
Outros, que também entendem que o batismo no Espírito
Santo é um recebimento especial, após a conversão,
defendem que o falar em línguas desconhecidas não é a prova
do batismo, embora também possa ocorrer.
Afirmam que o falar em línguas é um dom do Espírito,
conforme o ensino do apóstolo Paulo.
Assim, só os que têm esse o dom é que podem falar (I Co
12.30), enquanto que o batismo é para todos.
Alguns dizem que as línguas faladas no batismo são diferentes
daquelas dos dons espirituais.
Esta distinção é feita pela comparação entre as línguas de
Atos e as de I Coríntios.
Dizem que aquelas são sinais do batismo, e estas são dons do
Espírito.
Batismo histórico coletivo.
Alguns entendem o batismo no Espírito Santo como o evento
histórico e coletivo ocorrido no livro de Atos, quando a
promessa do derramamento do Espírito foi cumprida (At
2.16,33; 11.16), e não uma experiência individual de cada
cristão.
Seria um fenômeno que não se repete, assim como a
crucificação de Cristo, que ocorreu uma só vez na história,
permanecendo apenas os seus efeitos nas pessoas que se
unem ao Senhor.
Assim também o Espírito uma vez derramado sobre a igreja
permanece nela e se estende a todos aqueles que se unem ao
corpo de Cristo (ICo 12.13).
O termo “batismo no Espírito”, então, não seria muito
apropriado para referir-se a experiências individuais; ele se
aplica a uma experiência coletiva, histórica, e só por extensão
é que se pode aplicar aos crentes individualmente.
Não se pode negar que o batismo no Espírito Santo tem um
aspecto histórico e coletivo, já cumprido, sem necessidade de
repetição (At 2.16ss; Mt 3.11; At 1.4,5).
Por outro lado, ele também tem um sentido individual e
permanente (At 2.39).

A promessa já se cumpriu na história de modo


inquestionável, e o Espírito permanece no mundo,
especialmente na igreja.

Todos aqueles que se convertem a Cristo recebem o mesmo


Espírito e participam dos seus efeitos poderosos (Rm 8.6-9;
ICo 6.11; Tt 3.5; IPe 1.2).
Interpretação tradicional.
Uma posição mais comum e tradicional afirma que o batismo
no Espírito Santo é o recebimento do Espírito pelo crente
quando ele crê no Senhor Jesus Cristo como seu único e
suficiente Salvador.
Neste momento, lhe é dado “o Espírito Santo da promessa”,
que representa o selo divino nele e a garantia da sua
participação nos benefícios da redenção em Cristo (Ef 1.13,14;
4.30).
A “promessa” é identificada pelo apóstolo Pedro como sendo
a dádiva do Espírito a todos os que são chamados por Deus (At
2.38,39)
Dentro desse entendimento, John Stott argumenta que o
“batismo” no Espírito Santo é idêntico ao “dom” do Espírito
Santo, que ocorre em Atos 2.38, que é uma das bênçãos
diferentes da nova aliança e, também, uma bênção universal
para os membros da aliança, por ser uma bênção inicial.
Ele também afirma que a linguagem empregada por Paulo
para descrever a experiência cristã com o Espírito Santo, como
“estar no Espírito”, “ter o Espírito”, “viver pelo Espírito”, e “ser
guiado pelo Espírito”, é aplicada nas cartas do apóstolo a
todos os cristãos, indistintamente, até mesmo para os recém-
convertidos, a partir do momento em que se tornam cristãos.
Billy Graham segue este mesmo pensamento ao dizer que
“a finalidade do batismo no Espírito Santo é fazer o novo crente
adentrar no corpo de Cristo.
Não há intervalo de tempo entre a regeneração e o batismo no
Espírito Santo.
No momento em que recebemos Jesus Cristo como Senhor e
Salvador recebemos também o Espírito Santo”.
É claramente afirmado no Novo Testamento que, depois do
Pentecostes, todo aquele que se converte a Jesus Cristo tem o
Espírito Santo habitando nele (I Co 6.19; Rm 8.9a; 2Tm 1.14).
Que o crente convertido está “selado em Cristo com o Espírito
Santo da promessa”, que é a garantia de que pertence a Cristo
e a Deus e de que vai herdar a salvação futura (Ef 1.13,14;
4.30; 2Co 1.22; 5.5; Rm 8.9b,14).
A Bíblia também afirma que “em um só corpo todos nós
fomos batizados em um único Espírito [...]. E a todos nós foi
dado beber de um único Espírito” (ICo 12.13).
Embora para os cristãos em Jerusalém e em Samaria tenha
decorrido um tempo entre a conversão e o recebimento
visível do Espírito; em outros lugares de Atos, como na casa
de Cornélio (At 10.44; 11.17) e em Éfeso (At 19.6), o
recebimento visível do Espírito ocorreu quando creram.
O intervalo entre a conversão e o recebimento do Espírito, no
caso de alguns dos primeiros cristãos, certamente se deve ao
fato da transição entre a segunda etapa do ministério do
Espírito (atuava por meio de Cristo) e a terceira etapa (sem a
presença pessoal de Cristo).
O que é normativo é o ensino geral do Novo Testamento,
segundo o qual o recebimento do Espírito é quando a pessoa
crê em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor (Rm 8.8,9; I
Co 12.13; Ef 1.13).
Qual a relação entre o batismo no Espírito Santo e a vida cheia
do Espírito ou a plenitude no Espírito?
Aqui também há divergência entre o entendimento
pentecostal e outros. Vamos examinar a questão.
A plenitude do Espírito é o mesmo que ser ou estar cheio do
Espírito Santo; mas não é a mesma coisa de ser batizado no
Espírito.
Temos vários exemplos dessa plenitude no Novo Testamento
(At 2.4; 4.8,31; 6.3,5; 11.24; Ef 5.18).
Significa atuação plena do Espírito Santo na vida do cristão,
dando entendimento espiritual, direção, santidade, poder para
realizar toda a vontade de Deus.
Mas estar cheio do Espírito não significa que a pessoa já
chegou à maturidade cristã!

Um novo convertido pode estar cheio do Espírito para viver


segundo a vontade de Deus num primeiro estágio da sua vida
espiritual, mas ele ainda terá que crescer muito no
conhecimento, no desenvolvimento do seu caráter e na sua
capacidade de servir a Deus.

Isto porque a plenitude do Espírito está relacionada com a


necessidade de cada crente em sua situação concreta.
John Stott observa que os textos do Novo Testamento que
falam de pessoas que são “enchidas” ou “cheias” do Espírito
Santo podem ser divididos em três grupos principais:
Primeiro, fica implícito que ser “cheio” ou “enchido” do
Espírito era uma característica normal de cada cristão
dedicado.
É o caso dos sete homens em Atos (At 6.3,5), Barnabé (At
11.24) e os recém-convertidos de Antioquia (At 13.52).
Segundo, a expressão indica uma capacitação para um
ministério ou cargo especial.
Foi o caso de João Batista (Lc 1.15-17) e das palavras de
Ananias a Paulo (At 9.17).
Terceiro, há ocasiões em que a plenitude do Espírito foi
concedida para equipar não tanto para um cargo vitalício
(como apóstolo ou profeta, por exemplo), mas para uma
tarefa imediata, especialmente numa emergência.
Foi o que aconteceu com:
• Zacarias, antes de profetizar (Lc 1.5-8, 41,67),
• o grupo de cristãos em Jerusalém, em face da
perseguição (At 4.8,31) e
• Estevão, antes de ser martirizado (7.55; 13.9).
Como já vimos, alguns não veem diferença entre o batismo
e a plenitude do Espírito (posição defendida por Horton,
Lloyd-Jones, e muitos outros).

Entretanto, de acordo com o conceito que temos de batismo


e plenitude, podemos apontar quatro aspectos que
distinguem um do outro:
1. A plenitude ou enchimento do Espírito é algo que deve
ocorrer durante a vida cristã (Ef 5.18), enquanto que o
batismo no Espírito acontece apenas no início da vida com
Cristo.

2. A experiência da plenitude do Espírito pode e deve repetir-


se ao longo da existência do crente no mundo (At 2.4; 4.31),
mas o batismo é um ato único.
“Quando a plenitude não é conservada, ela se perde. Se foi
perdida, pode ser recuperada”.
3. A vida cheia do Espírito deve ser buscada com diligência
pelo crente (Ef 5.18), enquanto que o batismo não é pedido,
pois é um “dom” de Deus a todos os que creem.
4. Por causa de negligência pessoal, nem todos têm a vida
cheia do Espírito, mas o batismo no Espírito todos os
verdadeiros crentes receberam (ICo 12.13; Ef 1.13,14).
Conforme esse entendimento, a experiência extraordinária
que muitos alegam ter com o Espírito Santo, e que chamam
de batismo no Espírito, se genuína, seria melhor chamar de
plenitude no Espírito, e não batismo.

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